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Inspeções em fachadas com

revestimentos cerâmicos
17/10/2018

Neste artigo apresentamos os principais conceitos que envolvem a análise de fachadas


com revestimentos cerâmicos, bem como as metodologias utilizadas pela equipe da
CEDRO Engenharia para inspeção e avaliação das patologias nestes sistemas.
Após a leitura conheça melhor nossas áreas de atuação (clique aqui) ou solicite um
orçamento para realização de uma inspeção de fachada (clique aqui).

1. INTRODUÇÃO
O estudo de patologias em fachadas com revestimentos cerâmicos é um assunto muito
discutido atualmente, principalmente devido ao grande número de edifícios que
apresentam este tipo de problema, ao alto risco envolvido na queda das placas e a
complexidade das soluções para o problema.
O destacamento do revestimento cerâmico é a principal manifestação patológica que
pode apresentar uma edificação cuja fachada é revestida com este material, devido ao
grande risco à integridade física das pessoas que transitam na região destes edifícios
(EDIS; FLORES-COLEN e BRITO, 2014). Ainda neste assunto, TAN et al. (1994)
afirmam que uma placa cerâmica de 250g destacada do 10º andar de um edifício,
quando atinge o solo tem o mesmo poder destrutivo de um projétil de arma de fogo.
As imagens abaixo ilustram um edifício com o referido problema:
Figura 1 – Fachada com problemas no revestimento cerâmico.
São inúmeros os elementos que podem ocasionar estas manifestações patológicas, mas o
fenômeno está sempre associado à falha na aderência de pelo menos uma das camadas
representadas na Figura 2, que compõe o sistema de vedação, sendo elas: tijolos (ou
blocos), chapisco, emboço, reboco, argamassa colante e placas cerâmicas.
Figura 2 – Camadas do elemento de
vedação
(Fonte: Edgar Mas apud Cavani, notas de aula).
Na Figura 2 observa-se uma analogia entre um sistema de vedação e os elos de uma
corrente, sugerindo que, da mesma forma que a resistência de uma corrente é dada pela
tensão que pode suportar o seu elo mais fraco, a resistência de um elemento de vedação
é determinada pela tensão suportada pela camada menos resistente.

2. IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
A solução para o problema de destacamento somente pode ser determinada após a
elaboração de um diagnóstico preciso.
A precisão do diagnóstico, por sua vez, depende da qualidade das informações
coletadas, através de inspeções, ensaios de campo e ensaios laboratoriais.
A seguir serão apresentadas algumas das etapas necessárias na identificação do
problema.

2.1 INSPEÇÃO VISUAL E TÁTIL


Utilizando uma câmera fotográfica dotada de lente objetiva de longo alcance, todos os
panos da fachada devem ser analisados, para que possível delimitar em quais pontos o
revestimento cerâmico está destacado. O resultado da análise deve ser um mapeamento,
com a indicação dos pontos problemáticos, da seguinte forma:
A análise das imagens também pode indicar a forma de ruptura que está ocorrendo. Nas
figuras abaixo, por exemplo, nota-se que as placas destacadas que ainda não caíram
estão embricadas, ou seja, estão afastadas da parede, formando pontas, como se observa
a seguir:

Figura 3 – Embricamento das placas cerâmicas.


O fenômeno anteriormente descrito indica que pode ter ocorrido a expansão das placas.
O emboço sobre o qual foram aplicadas as placas cerâmicas também deve ser analisado.
No exemplo abaixo são observados alguns problemas:
Figura 4 – Condição do
emboço.
Através do exemplo da Figura 4 é possível constatar que o emboço é bastante irregular,
apresentando importantes depressões, que impossibilitam a aplicação de uma camada de
argamassa colante com espessura contínua e demandando espessuras excessivas de
argamassa para o preenchimento das depressões.
Ao toque, deve-se verificar se a argamassa que compõe o emboço é coesa, ou se é
pulverulenta e se desagrega facilmente quando riscada com um objeto pontiagudo.
A forma de ruptura ilustrada abaixo também demonstra que o emboço não resistiu aos
esforços que o solicitam:

Figura 5 – Ruptura da camada de emboço.


Outros mecanismos de ruptura também são identificados visualmente. Nas fotografias
seguintes está ilustrado um caso em que houve a ruptura da argamassa colante. Nota-se
que durante a aplicação das placas cerâmicas os cordões de argamassa colante não
foram completamente esmagados, reduzindo a área de contato das placas com a
argamassa e consequentemente a resistência da ligação.
Figura 6 – Ruptura da argamassa colante e cordões parcialmente esmagados.
A presença excessiva de engobe no tardoz das peças possibilita a falha na aderência
entre a placa cerâmica e a argamassa colante, assim como o vencimento do tempo em
aberto do adesivo, resultando na impregnação insuficiente de argamassa no tardoz.

Fig
ura 7 – Deficiência na interface da placa cerâmica com a argamassa colante.
As juntas de movimentação horizontais e verticais também são essenciais para o
desempenho adequado do sistema. Abaixo foi colocado um exemplo em que a junta foi
substituída apenas por um rebaixo nas peças cerâmicas na posição da laje de cada
pavimento:
Figura 8 – Detalhe construtivo que não exerce a função de junta.
Os rebaixos anteriormente apresentados não possuem condições de atuar como juntas de
movimentação horizontal, uma vez que são rígidos e não podem absorver qualquer
tensão inserida pela variação dimensional do revestimento.
Encerradas as inspeções visuais é necessário aprofundar as inspeções, conforme exposto
a seguir.

2.2 PERCUSSÃO
Após os exames visuais e táteis devem ser realizados ensaios de percussão, para
determinação das áreas que apresentam som cavo, indicando problemas de aderência do
revestimento cerâmico ao emboço, ou do emboço à base.
O ensaio de percussão é realizado por profissional qualificado com acesso à fachada dos
edifícios geralmente por cordas (cadeirinha ou plataforma elevatória). Durante os
ensaios o profissional aplica golpes ao revestimento com o martelo de mão, anotando os
locais que indicam som cavo com a percussão.
Os resultados devem ser indicados graficamente, como exemplificado abaixo.
No exemplo anterior as regiões indicadas em azul são as que apresentam som cavo.
Após este mapeamento deve ser calculada a porcentagem de áreas comprometidas da
fachada.

2.3 ENSAIOS PARA DETERMINAÇÃO DA EPU DAS PLACAS


Sabe-se que a Expansão Por Umidade (EPU) é um fator extremamente relevante no
diagnóstico dos problemas de destacamento do revestimento cerâmico, motivo pelo qual
estes ensaios devem ser realizados.
As elevadas taxas de expansão por umidade inserem grandes tensões no revestimento e
explicam o embricamento das peças cerâmicas, que se deslocam para fora do plano da
fachada quando as tensões superam a resistência do substrato, da argamassa colante e da
própria cerâmica.
A EPU efetiva máxima recomendável pela NBR 13818 (anexo J) é de 0,6 mm/m.

2.4 ENSAIO DE ARRANCAMENTO


Devem ser realizados ensaios de arrancamento conforme a norma NBR 13755:2017 que
apresenta procedimentos para situações cujas placas cerâmicas ainda estão aderidas e
também para emboços que ficam à mostra após o destacamento das cerâmicas.
As formas possíveis de ruptura estão ilustradas abaixo:
Figura 9 – Formas de ruptura dos corpos de prova (Fonte: NBR 13.755:2017 –
modificado).
O resultado dos arrancamentos deve ser analisado para que seja determinada qual é a
camada menos resistente (o elo mais fraco da corrente) e posteriormente deve-se
verificar se a tensão de ruptura apresenta o valor mínimo exigido pela norma.

2.5 JANELAS DE INSPEÇÃO


Devem ser abertas janelas de inspeção em regiões que sugiram a existência de
problemas nas alvenarias e nas interfaces de elementos estruturais com as alvenarias. Os
cantos de janelas apresentados abaixo são exemplos de regiões que devem ser
inspecionadas:

Figura 10 – Regiões que sugerem a realização de janelas de inspeção.


O desenho abaixo descreve o formato dos cortes que devem ser realizados, com o
intuito de determinar em qual das camadas do revestimento originam-se as fissuras
existentes.
Figura 11 – Orientação para aberutra de janelas
de inspeção (Fonte: Alexandre Tomazeli – notas de aula).
As janelas de inspeção podem indicar diversas situações, por exemplo:

 Se houve ou não a ruptura das alvenarias;


 Se houve a ruptura do emboço na interface alvenaria/estrutura;
 Deficiências na ligação alvenaria/pilar;
 Deficiências no encunhamento;
 Ausência de reforços no emboço na região alvenaria/pilar;
 Se houve a ruptura do emboço nos cantos de janelas;
 Ausência de reforços no emboço na região das janelas;

3. DIAGNÓSTICO, PROGNÓSTICO E
RECUPERAÇÃO
Ao término de todos os levantamentos é possível fechar o diagnóstico, englobando
todos os assuntos estudados e possibilitando ver o problema como um todo, de forma
sistêmica.
O prognóstico é realizado em vista do diagnóstico, determinando-se a evolução
esperada para os problemas existentes e ainda se são reversíveis ou irreversíveis.
Baseado no prognóstico deve-se realizar o projeto de reparo, indicando a recuperação
do que for possível e a reconstrução dos elementos apontados como irrecuperáveis.

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