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A Família na Igreja — Ouvindo os Sermões e Participando das Reuniões de Oração.

© Editora os Puritanos/Clire.
Título do original em inglês: The Family at Church — Listening to Sermons and Attending
Prayer Meetings © 2004, 2008 by Joel R. Beeke.
Traduzido para o português e publicado com autorização da Reformation Heritage Books 2965
Leonard St., NE Grand Rapids, MI 49525, USA.
Traduzido e publicado com permissão do autor.
2ª Edição impressa em Português – agosto 2012 - 1.000 exemplares.
1ª Edição do eBook em Português – novembro 2013.
É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, sem autorização por escrito dos
editores, exceto citações em resenhas.
Tradutora:
Gumercinda Oliveira
Revisor:
Manoel Canuto
Designer:
Heraldo Almeida
ISBN:
978-85-62828-17-1
Sumário

Capa

Folha de Rosto

Créditos

Prefácio à Edição Brasileira

Capítulo I

Ouvindo Os Sermões
A Importância da Pregação
Preparando-se para a Palavra Pregada
Recebendo a Palavra Pregada
Praticando a Palavra Pregada

Capítulo II

Participando das Reuniões de Oração


A Necessidade de Reuniões de Oração
A Sanção Bíblica para Reuniões de Oração
A História das Reuniões de Oração
Os Propósitos das Reuniões de Oração
Implementando Reuniões de Oração
Regras Sugeridas e Modelos Práticos
A Importância das Reuniões de Oração

Mídias

Nossos Livros
Prefácio à Edição Brasileira

Muitos pais de família se queixam de terem criado seus filhos na


Igreja, mas de terem fracassado em seus propósitos, uma vez que eles
se desviaram e não estão mais aos pés do Senhor. Apressadamente
atribuem à soberania de Deus o fato de seus filhos não terem se
convertido e, ao mesmo tempo, dizem que as promessas da Aliança
falharam. Temos que admitir que a conversão de nossos filhos, de
fato, pertence ao Senhor (Jonas 2:9), mas nunca esquecer que somos
responsáveis por nossos pecados de negligência tanto quanto de
incredulidade por supor que as promessas de Deus tenham falhado;
na maioria das vezes somos nós mesmos que falhamos. “De que se
queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados”
(Lm 3:39). Criar os filhos na Igreja, do modo como temos concebido
em nossos dias, está bem longe de ser a forma correta e bíblica. Na
verdade temos falhado tremendamente nesse assunto que é da maior
importância e com resultados desastrosos para a saúde espiritual da
nossa família e da Igreja.
Nesse pequeno, mas extraordinário livro, o Rev. Joel Beeke, na
sabedoria do Espírito, num estilo puritano, apresenta o ensino
contundente das Escrituras sobre a responsabilidade e a forma correta
de, juntamente com nossa família, nos apresentarmos na casa do
Senhor.
Quando, em toda nossa vida, ouvimos algum ensinamento sobre a
forma de como devemos nos preparar para ouvir um sermão? Como
receber a Palavra pregada? Quando foi que recebemos normas
reformadas e bíblicas de como colocar em prática aquilo que ouvimos
do púlpito? Estas respostas nos são dadas pelos Puritanos porque era
assim que eles entendiam a participação da família na Igreja. Fiquei
muito impressionado quando li que eles tinham o hábito de fazer o
Culto Doméstico duas vezes ao dia e quando chegavam da Igreja, no
Dia do Senhor, reuniam a família para discutir com os filhos os pontos
do sermão, tanto pela manhã, como à noite. Como estamos distantes
desta prática cristã! Compreendo as diferenças da vida corrida dos
grandes centros urbanos em nossos dias, mas a nossa omissão e
desleixo não são outra coisa senão pecado. Culpar a Deus pelos nossos
pecados é ofendê-lo.
Na segunda parte do livro temos um incentivo bíblico para oração
comunitária, e o autor cita na introdução do capítulo as magistrais
palavras do grande Puritano fora-de-tempo, Charles Spurgeon: “Nós
jamais veremos muita mudança para melhor em nossas igrejas em
geral, até que a reunião de oração ocupe um lugar mais alto na estima
dos Cristãos”. Não é esse o pecado das nossas Igrejas modernas?
Temos reuniões de oração, admitimos, mas a frequência denuncia que
a oração não ocupa um lugar mais alto na estima dos crentes. É triste
ver apenas alguns perseverarem em oração, e mesmo assim, são
trazidos quase sempre por causa de necessidades prementes de ordem
pessoal.
Ó como precisamos de um avivamento! Quem dera nos fosse
derramado da parte de Deus um “Espírito de graça e de súplicas” e
diligentemente buscássemos ao Senhor em família, por nossos filhos
e por nossa nação! Ó, que o Espírito Santo nos quebrante até
buscarmos o perdão de Deus pelo nosso pecado de negligência, pela
forma descuidada como temos tratado a oração e o culto a Deus.
Mas damos graças a Deus por levantar homens como o Rev. Joel
Beeke para nos alertar, através desse livro, do nosso grave erro que
nos leva à quebra do terceiro mandamento, quando desprezamos ou
tratamos superficialmente o que é feito em nome do Senhor. Ó, que
haja tempo de nos arrependermos e suplicarmos auxílio e graça.

Rev. Josafá Vasconcelos


Igreja Presbiteriana da Herança Reformada
Maio de 2011
Capítulo I

Ouvindo Os Sermões
“vede, pois, como ouvis” {Lucas 8:18}
A Importância da Pregação

João Calvino frequentemente instruiu sua congregação sobre


ouvir corretamente a palavra de Deus. Ele os ensinava como deveriam
vir para o culto público e como ouvir a palavra de Deus pregada.
Calvino desejava que pais e filhos assimilassem a importância da
pregação para desejar a pregação como uma bênção suprema e
participar ativamente no sermão. Calvino dizia que os ouvintes
deviam ter “a prontidão para obedecer completamente e sem
reservas”.1
Calvino acentuava o ouvir da palavra pregada por duas
importantes razões. Primeiro, ele acreditava que poucas pessoas
ouviam bem os sermões. Mais de trinta vezes em seus comentários e
nove vezes em suas Institutas, Calvino referiu-se a quão poucas
pessoas recebem a palavra pregada com fé salvífica. Ele disse: “Se o
mesmo sermão for pregado, digamos, a cem pessoas, vinte o recebem
com pronta obediência de fé, enquanto o restante o julga sem valor,
ou ri, ou ridiculariza ou o aborrece”.2 Se ouvir apropriadamente era
um problema nos dias de Calvino, quanto mais o é hoje, quando os
ministros têm que competir pela atenção de pessoas que são
diariamente bombardeadas de várias formas pela mídia?
Segundo, Calvino destacou o ouvir adequado, por causa do seu alto
respeito pela pregação. Calvino via a pregação como um meio que
Deus usa para outorgar salvação e bênção. Calvino disse que o
Espírito Santo é o ministro interno que utiliza o “ministro externo” da
palavra pregada. O ministro externo “prega a Palavra vocalmente e ela
é recebida pelos ouvidos”, mas o ministro interno “verdadeiramente
comunica a coisa proclamada, que é Cristo”.3 Assim, Deus fala pela
boca dos seus servos pelo seu Espírito: “Onde quer que o evangelho
seja pregado, é como se o próprio Deus viesse para o meio de nós”.4 A
pregação fiel é o meio pelo qual o Espírito faz sua obra salvífica de
iluminar, converter e salvar pecadores. Calvino disse: “Existe... uma
eficácia interior do Espírito Santo quando ele derrama o seu poder
sobre os ouvintes, para que eles possam compreender um discurso
[sermão] pela fé”. 5
Como Calvino, os Puritanos tinham um alto respeito pela
pregação. Como amantes da Palavra de Deus, os Puritanos não se
contentavam com meramente afirmar a infalibilidade, inerrância e
autoridade da Escritura. Eles também liam, investigavam, pregavam,
ouviam e cantavam a Palavra com deleite, buscando o poder aplicador
do Espírito Santo que acompanhou a Palavra. Eles consideravam os
sessenta e seis livros da Escritura sagrada como a biblioteca do
Espírito Santo. Para os Puritanos a Escritura era Deus falando ao seu
povo como um pai fala aos seus filhos. Na pregação Deus dá a Palavra
como verdade e poder. Como verdade, a Escritura pode ser confiável
para hoje e para a eternidade. Como poder, a Escritura é o
instrumento de transformação usado pelo Espírito de Deus para
renovar nossas mentes.
Como protestantes evangélicos do século vinte e um, devemos
combinar nossa defesa da inerrância bíblica com uma demonstração
positiva do poder transformador da Palavra de Deus. Esse poder deve
ser manifestado em nossas vidas, nossos lares, nossas igrejas e
nossas comunidades. Nós devemos mostrar que, embora outros livros
possam nos transformar ou mesmo nos reformar, apenas um livro
pode nos transformar, conformando-nos à imagem de Cristo. Apenas
como “cartas vivas de Cristo” (2 Co. 3.3) podemos esperar vencer a
batalha pela Bíblia em nossos dias. Se gastarmos o máximo da nossa
energia em conhecer e viver as Escrituras, quantas pessoas mais
cairiam sob o domínio do seu poder transformador?
O movimento puritano nos ensina mais sobre cultivar o poder
transformador da Palavra. Os pregadores puritanos explicavam
claramente como a Palavra efetuava transformação pessoal. Eles
ofereciam direção prática sobre como ler e ouvir a Palavra de Deus.6 O
Catecismo Maior de Westminster resume tal informação puritana na
pergunta 160:
“Exige-se dos que ouvem a pregação da Palavra, que eles a acolham com perseverança,
preparação e oração; que comprovem o que ouvem com as Escrituras; recebam a verdade
com fé, amor, mansidão e ânimo pronto, como a Palavra de Deus; que nela meditem e
sobre ela conversem; que a escondam no coração e manifestem os seus frutos em suas
vidas”. 7

Em associação com Lucas 8:18, “vede, pois, como ouvis”, oferecerei


alguns ensinos puritanos junto com as minhas próprias observações
sobre ouvir a Palavra de Deus, dividindo o assunto em três
pensamentos: Como se preparar para a Palavra pregada, como receber
a Palavra pregada e como praticar a Palavra pregada. Enquanto
estudamos cada ponto, devíamos nos perguntar: Estou realmente
ouvindo a Palavra de Deus? Sou um bom ouvinte do evangelho
proclamado ou sou apenas um ouvinte crítico ou descuidado? Percebo,
disse Charles Simeon, que todo sermão “aumenta nossa salvação ou
nossa condenação”?8 Estou ensinando aos meus filhos como serem
bons ouvintes?
__________________
1 Leroy Nixon, John Calvin, Expository Preatcher (Grand Rapids: Eerdmans, 1950, 65.
2 John Calvin, Institutes of the Christian Religian, ed. John J. McNeill, trans. Ford Lewvis Battles
(Philadelphia: Westminster Press, 1960), 3.24.12.

3 John Calvin, Tracts and Treatises, trans. Henry Beveridge (Grand Rapids: Eerdmans, 1958), 1:173.
4 John Calvin, Commentary on the Synoptic Gospels (Edinburgh: Calvin Translation Societyy, 1851), 3:
129).
5 Commentary on Ezekiel, 1:61.
6 Samuel Annesley, “How May We Give Christ a Satisfying Account [of] Why we Attend upon the
Ministry of the Word?,” in Puritan Sermons 1659-1689, Being Morning Exercises at Cripplegate
(Wheaton, Ill.: Richard Owen Roberts, 1981),4:173​198; David Clarkson, “Hearing the Word,” The Works
of David Clarkson (Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1988), 1:428-446; Thomas Manton, “The Life of
Faith in Hearing the Word,” The Complete Works of Thomas Manton (London: James Nisbet, 1873),
15:154-74; Jonathan Edwards, “Profitable Hearers of the Word,” The Works of Jonathan Edwards:
Sermons and Dis​courses 1723-1729, ed. Kenneth P. Minkema (New Haven: Yale, 1997),14:243-77;
Thomas Senior, “How We May Hear the Word with Profit,” in Puritan Sermons, 2:47-57; Thomas
Watson on hearing the Word effectually, A Body of Divinity (Grand Rapids: Sovereign Grace
Publishers, 1972), 377-80; three short pieces by Thomas Boston, The Complete Works of the Late Rev.
Thomas Boston (Wheaton, Ill.: Richard Owen Roberts, 1980), 2:427-454; Thomas Shepard’s
“OfIneffectual Hearing the Word,” The Works of Thomas Shepard (Ligonier, Penn.: Soli Deo Gloria,
1992), 3:363-84.
Várias fontes do século dezenove permanecem na tradição puritana: uma carta de John Newton
intitulada “Hearing Sermons”, The Work of John Newton (Edinburg: Banner of Truth Trust, 1985),
1:218–25; um ensaio de John Elias intitulado: “On Rearing the Gospel”, John Elias intitulado: Life,
Letters and Essays (Edinburgh: Banner of Thuth Trust, 1973) 356–360; e o tratamento mais completo e
útil, Edward Bickersteth, The Christian Hearer (London: Seeleys, 1853).
7 Westminster Confession of Faith (Glasgow: Free Presbyterian Publications, 1997), 253.
8 Charles Simeon, Let Wisdom Judge: University Adresses and Sermon Outlines (Nottingham: Inter-
Varsity Fellowship, 1959, 19.
Preparando-se para a Palavra Pregada

“Exige-se dos que ouvem a pregação da Palavra, que eles a acolham com perseverança,
preparação e oração” (Catecismo Maior, pergunta 160).

Isto envolve várias aplicações práticas:


1. Antes de chegar à casa de Deus para ouvir a sua Palavra,
prepare-se e à sua família com oração. Os Puritanos diziam que nós
devíamos vestir nossos corpos e nossas almas com oração, para
cultuar.
Orar pela conversão dos pecadores, a edificação dos santos e a
glorificação do nome de Deus triúno. Orar pelas crianças,
adolescentes e pelos mais velhos. Orar por ouvidos atentos e corações
que compreendam. Orar por você mesmo, dizendo: “Senhor, quão real
é o perigo de que não ouça bem! Dos quatro tipos de ouvintes na
parábola do semeador, apenas um tipo ouviu corretamente. Ajuda-me,
Senhor, a concentrar-me totalmente na tua Palavra como ela chega a
mim, para que não me aconteça de ouvir a Palavra e, contudo, venha a
perecer. Que a tua Palavra tenha livre curso em meu coração. Que ela
seja acompanhada com luz, poder e graça”. Ore para que você venha à
casa de Deus como um pecador necessitado, limpando o seu coração
das concupiscências da carne e agarrando-se a Cristo pelo poder
purificador do seu sangue. Ore pela presença santificante de Deus em
Cristo, para verdadeira comunhão com Ele de mente e alma.
Ore para que seu pastor receba a unção do Espírito Santo, para que
ele abra a sua boca ousadamente para tornar conhecidos os mistérios
do evangelho (Ef. 6:19). Ore por um derramar do poder convencedor,
vivificador, mortificador e confortador do Espírito Santo para operar
através das ordenanças divinas no cumprimento das suas promessas
(Prov. 1:23).

2. Venha com um apetite sincero pela Palavra. Um bom apetite


promove boa digestão e crescimento. Pedro encorajou o apetite
espiritual, dizendo: “desejai ardentemente, como crianças recém-
nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado
crescimento para salvação” (I Pedro 2:2). Igualmente, Salomão
adverte: “Guarda o pé, quando entrares na casa de Deus; chegar-se
para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos” (Ec. 5:1).
Um bom apetite para com a Palavra significa ter um coração
sensível e educável (“sendo Roboão ainda jovem e indeciso, não lhes
pôde resistir” — 2 Cr. 13.7) que pergunta: “Senhor, que queres que eu
faça?” (Atos 9:6). É tolice esperar uma bênção se você vai para o culto
com um coração endurecido, despreparado ou voltado para o mundo9.
Os Puritanos diziam que a preparação para o culto devia começar
no sábado à tardinha. Exatamente como as pessoas faziam o pão no
sábado à tarde para que ele estivesse quente na manhã do domingo,
assim as pessoas deveriam estudar a Palavra para que os seus
corações estivessem aquecidos para cultuar no domingo. Se você
conhece a passagem que será pregada no Shabat (Dia-do-Senhor),
dispense tempo estudando-a no sábado à noite. Assegure-se de que
você e seus filhos dormiram o suficiente no sábado à noite, então se
levantem cedo no domingo pela manhã, para que se preparem para o
culto sem pressa.

3. Medite sobre a importância da Palavra pregada enquanto entra


na casa de Deus. O alto, santo e trino Deus, do céu e da terra, está se
encontrando com você para falar-lhe diretamente. Thomas Boston
escreveu: “A voz está na terra, (mas) o que fala está no céu” (Atos
10:33).10 Que pensamento inspirador e respeitoso! Desde que o
evangelho é a Palavra de Deus, não a palavra do homem, vá à igreja
procurando Deus. Embora você aprecie profundamente os esforços do
seu pastor para lhe trazer fielmente a Palavra de Deus, ore para que
você não veja “a nenhum homem a não ser Jesus” (MT. 17:8). Os
ministros são apenas embaixadores de Deus, trazendo-lhe a Palavra
de Deus (2 Co. 5:20; Hb. 13:7). Não focalize neles, mas na Palavra de
Deus que eles trazem, lembrando sempre que um dia você prestará
contas diante de Deus e de cada sermão que Ele trouxe para você.
Ensine aos seus filhos que cada sermão conta para a eternidade. A
salvação vem através da fé, e a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus
(Ro. 10:13 – 16). Assim cada sermão é um assunto de vida e morte
(Dt. 32:47; II Co. 2:15-16). O evangelho pregado, ou nos levanta para
o céu ou nos lança abaixo para o inferno. Ele promoverá a nossa
salvação ou agravará nossa condenação. Ele nos atrairá com cordas de
amor ou nos deixará nos laços da descrença. Ele nos abrandará ou nos
endurecerá (Mt. 13:14-15), iluminará ou escurecerá nossos olhos
(Rm. 11:10), abrirá nosso coração para Cristo ou o fechará para Ele.
“Quanto mais perto do céu forem elevados pela pregação do
evangelho, tanto mais para baixo do inferno afundarão se não fizerem
caso dela”, escreveu David Clarkson. 11 “Cuidado, portanto, como a
ouvem!”.
Além disso, lembre-se de que cada shabat12 você está recebendo
alimento e suplementos espirituais para a semana vindoura. Os
Puritanos chamavam o shabat de “o dia da feira da alma”.13 Como os
Puritanos iam ao mercado toda semana para estocar os suprimentos,
assim nós estocamos as nossas mercadorias espirituais para a semana
ouvindo o sermão e depois meditando sobre ele no decorrer da
semana que vem. Tudo isso deve ser reforçado com as devocionais
diárias e a vida Cristã.

4. Lembre-se ao entrar na casa de Deus que você está entrando


num campo de batalha. Muitos inimigos se oporão ao seu ouvir.
Internamente, você pode estar distraído pelos cuidados e ocupações,
pelas concupiscências da carne, coração frio e espírito crítico.
Externamente você pode estar distraído pelo calor ou pelo tempo, pelo
comportamento ou roupa dos outros, ruídos ou pessoas se
movimentando. Satã se opõe à sua atenção à Palavra de Deus com
toda a força, sabendo que se você realmente ouvi-la, ele lhe perderá.
Assim Satã tenta perturbá-lo antes que o sermão comece, procura
distraí-lo durante a pregação e apaga o sermão da sua mente tão logo
ele termina. Como um pássaro arranca as sementes recentemente
semeadas, Satã tenta arrancar a Palavra da sua mente e coração de
modo que ela não consiga criar raízes. Quando você for tentado por
Satanás durante o culto, Samuel Annesley o aconselha a repreendê-lo,
dizendo: “Vai-te, satanás! Não mais te ouvirei. Se outros
negligenciam a salvação, por isso devo fazê-lo? A perda da salvação
deles me isenta da perda da minha? Por meio de Cristo eu te resisto”.
14 Ore repetidamente por força para vencer todos os seus inimigos que
querem impedi-lo de ouvir bem.

5. Finalmente, venha com uma fé que ama e que espera (Sl. 62:1,
5). Seja pronto para ouvir, tardio para falar e determinado, como
Maria, a ponderar a Palavra de Deus em seu coração. Venha
defendendo a promessa de Deus que sua Palavra não retornará para
Ele, vazia (Is. 55:10-11). Venha com o espírito dos Ninivitas, dizendo:
“Quem sabe se voltará Deus, e se arrependerá, e se apartará do furor da
sua ira, de sorte que não pereçamos?” (Jn. 3:9).
Venha com temor reverente a Deus e sua majestade. Venha com
deleite reverente a Deus e sua Palavra (Sl. 119:97, 103). Diga como
Davi no Salmo 119:140, “Puríssima é a tua Palavra; por isso o teu servo
a estima”. Como Davi, ame os testemunhos de Deus “ardentemente”
(v. 167), mais do que o ouro (v. 127) até o ponto onde eles quase o
consome (v. 20). O amor de Davi pela Palavra de Deus era tão
fervoroso que ele meditaria nela “todo o dia” (v.97). Na dependência
do Espírito cultive tal amor pela Palavra de Deus.
__________________
9 Watson, Body of Divinity, 377.
10 Boston, Works, 2:28.
11 Clarkson, Works, 1:430-31.
12 Sábado Cristão
13 Ver James T. Dennison, Jr., The Market Day of the Soul: The Puritan Doctrine of the Sabbath in
England, 1532-1700 (Grand Rapids: Reformation Heritage Books, 2008.
14 Puritan Sermons, 4:187.
Recebendo a Palavra Pregada

O Rei Tiago II da Inglaterra, quando combatia os Puritanos,


enviou uma proclamação a todos os ministros da Igreja da Inglaterra,
exigindo que ela fosse lida para toda a congregação no domingo.
Sabendo que o decreto se opunha ao cristianismo do Novo
Testamento tanto quanto ao estilo puritano de pregação, os Puritanos
detestaram a leitura deste decreto. Um pregador puritano respondeu
dizendo à sua congregação: “Eu devo ler este aviso do rei Tiago II no
templo desta igreja, mas ele não diz que vocês têm de ouvi-lo”. Toda a
congregação saiu da igreja e o ministro leu o decreto para um templo
vazio. O ponto desta história é este: muitas pessoas ouvem os
sermões indiferentemente, como se elas não fossem compelidas a
ouvir a Palavra de Deus; igualmente, muitos pregadores pregam como
se eles estivessem dirigindo-se a bancos vazios ao invés de pessoas
com almas eternas.
A Palavra de Deus deve envolver tanto o ministro quanto o
ouvinte. O crescimento não pode ter lugar se o ouvinte não aproveitar
da Palavra. Essa recepção envolve, como colocaram os teólogos de
Westminster, que “aqueles que ouvem a pregação da Palavra pregada
[deveriam] comprovar nas Escrituras o que eles ouvem, (e) receber a
verdade com fé, amor, mansidão e ânimo pronto, como a Palavra de
Deus” (CM P. 160). Aqui estão alguns caminhos para ouvir
corretamente a Palavra de Deus:

1. Ouvir com uma consciência compreensiva e sensível. A parábola


do semeador (Mt. 13:3-23; Mc. 4:1-20; Lc. 8:4-15) nos apresenta
quatro tipos de ouvintes, os quais, todos ouvem a mesma palavra:
O ouvinte superficial, de coração empedernido. Este ouvinte é como um caminho
endurecido. A semente do semeador, ou a Palavra de Deus, causa pouca impressão neste
coração empedernido. O evangelho não penetra neste ouvinte, e a lei não o assusta. Um
ministro poderia pregar através de todos os dez mandamentos, dirigindo-se às
necessidades e aos pecados das pessoas, mas o ouvinte empedernido dá de ombros. Se um
pastor se dirige à consciência desta pessoa, este coração empedernido transfere a censura
para outros. Ele raramente muda sua vida pela convicção da Palavra de Deus. Ele não
aplica a pregação ao coração.

O ouvinte que se impressiona facilmente, mas é resistente. Algumas sementes caem em solo
rochoso. Uma planta começa a brotar desta semente, mas logo fenece e morre porque
falta–lhe nutrientes suficientes. A planta não pode sobreviver porque não pode enraizar
entre as pedras. Jesus apresenta aqui um ouvinte que, inicialmente, parece ouvir bem a
Palavra. Este ouvinte gostaria de acrescentar religião à sua vida, mas não quer ouvir sobre
um tipo de discipulado radical que envolve autonegação, tomar a sua cruz e seguir a
Cristo. Assim, quando vem a perseguição, este ouvinte falha em viver o evangelho na
prática. Ele quer ser amigo da Palavra, da Igreja e de Deus. Como Israel, este ouvinte não
responde à Palavra de Deus quando desafiado a escolher: “Até quando coxeareis entre dois
pensamentos? Se o Senhor é Deus, seguí-o; se é Baal, seguí-o. Porém o povo nada lhe
respondeu” (1 Reis 18:21). Como ouvintes, nós não podemos ter Deus e o mundo; amizade
com o mundo é inimizade contra Deus. Devemos fazer uma escolha.

O ouvinte distraído, indiferente. Algumas das sementes da Palavra de Deus caem em solo
cheio de espinhos. Como diz Lucas 8:14 “A que caiu entre espinhos são os que ouviram e,
no decorrer dos dias, foram sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida; os seus
frutos não chegam a amadurecer”. Este tipo de ouvinte tenta absorver a Palavra de Deus
com o ouvido, enquanto com o outro pensa sobre negócios, taxas de juros, fundos de
pensão e inflação. Ele serve a Deus apenas parcialmente. A Palavra de Deus é
rapidamente sufocada pelos espinhos.

O ouvinte que compreende, que dá frutos. Algumas das sementes de Deus, caem em solo
rico, fértil. Jesus diz que este ouvinte ouve e compreende a Palavra de Deus (Mt 13:23).
Exatamente como uma semente rapidamente enraíza no solo fértil, assim a Palavra de
Deus implanta-se no coração sedento deste ouvinte. Como uma planta brota, lançando
raízes profundas e mostrando folhas sadias, a Palavra de Deus é integrada profundamente
na vida deste ouvinte, na família, nos negócios, relacionamentos e na conduta. Com a
ajuda do Espírito Santo, este ouvinte aplica o ensino do evangelho, que ele ouve no
domingo, à sua vida no decorrer da semana. Ele crê em seu o coração que, se Jesus
sacrificou tudo por ele, nada é muito difícil de renunciar em grata obediência a Cristo.
Antes de tudo mais, ele busca o reino de Deus (Mt. 6:33). A graça reina em seu coração.
Ele frutifica e produz “a cem, a sessenta e a trinta” (Mt. 13:23).

2. Ouça atentamente a Palavra pregada. Lucas 19:48 descreve as


pessoas que eram muito atentas a Cristo. Traduzido literalmente, o
texto diz “eles penduravam-se nele, ouvindo”. Lídia mostrou um
coração aberto assim quando ela “atendia” ou “aplicava sua mente” às
coisas faladas por Paulo (At. 16:14). Tal atenção envolve afastar os
pensamentos divagantes, o embotamento do pensamento, a
sonolência de mente e o entorpecimento (Mt. 13:25). Ela considerava
o sermão como um assunto de vida ou morte (Dt. 32:47).
Não devemos ouvir sermões apenas como espectadores, mas como
participantes. O pastor não deveria ser a única pessoa trabalhando.
Ouvir bem é trabalho pesado; envolve adorar a Deus continuamente.
Um ouvinte atento responde rapidamente — com arrependimento,
resolução, determinação ou louvor — e Deus é honrado nisto. Como
diz provérbios 18:15; “O coração do sábio adquire o conhecimento, e o
ouvido dos sábios procura o saber”. Os verbos usados aqui referem-se
a ação mental, enérgica.
Muitas pessoas vêm para a igreja esperando ser alimentados de
colherinha. Elas não têm desejo de pensar ou aprender ou crescer.
Elas querem simplesmente ouvir a pregação habitual. Elas não estão
ansiosas para crescer na graça e no conhecimento do Senhor Jesus
Cristo. Tal passividade parece anormal, visto que em outras áreas da
vida, os humanos resistem a serem alimentados de colher. Uma
criança ficaria embaraçada se sua mãe a alimentasse diante dos
amigos. Na escola e no trabalho as pessoas esperam desafios
intelectuais. Na igreja, contudo, algumas pessoas não desejam ser
desafiadas emocionalmente, intelectualmente ou espiritualmente.
Elas preferem tapinhas nas costas ou serem deixadas em paz a serem
convencidas e desafiadas pela Palavra de Deus. Ao invés de ouvir
instrução clara das epístolas de Paulo, tais pessoas preferem ouvir um
pouco mais de uma história bíblica em cada domingo. Jesus não
alimentou de colherinha os seus ouvintes. Numa parábola, Jesus falou
de um juiz injusto. Ele comparou Deus com este juiz, mas não gastou
tempo com uma longa explicação de como Deus não é injusto. Ao
contrário, Jesus desafiou seus ouvintes a usar suas mentes a
trabalharem o difícil ensino desta parábola. Porque Ele esperava dos
seus ouvintes o serem perspicazes e afirmativos, Jesus podia fazer
fortes declarações sem apologia. Por exemplo, em Lucas 14:26, Jesus
disse: ”Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher,
e filhos e irmãos e ainda a sua própria vida, não pode ser meu
discípulo”. Jesus frequentemente deixava a verdade que Ele
proclamava permanecer isolada, sem explicação. Por exemplo, Ele
falou de cortar mãos, arrancar olhos e cortar pés. Ele disse que alguns
dos filhos da escuridão são mais hábeis do que os filhos da luz. Ele
usou metáforas, hipérboles e outras figuras de linguagem. Correndo o
risco de ser mal-entendido ele recusou o alimentar-de-colherinha
aqueles que os estavam seguindo. Jesus disse aos seus ouvintes
“portanto cuidai no que ouvis”. Ele também mandou-nos entender o
que ouvimos. Ele nos desafia a pensar e isso dá trabalho. Isto implica
em esforçarmo-nos com todas as nossas forças espirituais para
compreender o significado da mensagem. Você está atento a Palavra
pregada? Enquanto ouve a Palavra de Deus pergunte a si mesmo:
como Deus quer que eu seja diferente por conta deste sermão? Pergunte
o que Deus quer que você saiba agora e que não sabia antes. Pergunte
que verdades está aprendendo a qual Ele deseja que creia e pergunte
como deseja que você ponha em prática essas verdades. Em cada
sermão que você ouve — mesmo aqueles sermões sobre os temas mais
básicos do evangelho — Deus lhe oferece verdades para crer e para
colocar em prática. Ore por graça para trabalhar enquanto ouve.

3. Ouça com fé submissa. Como diz Tiago 1:21 “acolhei com


mansidão a palavra em vós implantada”. Esta espécie de mansidão
envolve uma enquadramento submisso do coração “um desejo de
ouvir os conselhos e reprovações da palavra”. 15 Através deste tipo de
fé a Palavra é enxertada na alma e produz “o doce fruto da justiça”.16
Fé é a chave para receber proveitosamente a Palavra. Lutero
escreveu: “Fé não é uma realização é um dom. Contudo, ela vem
somente pelo ouvir e estudar a Palavra”. Se o principal elemento na
composição de um remédio está faltando, o remédio não fará efeito.
Assim esteja seguro de não deixar de fora este principal elemento, a
fé, quando você ouve um sermão. Busque graça para crer e aplicar
toda a Palavra (Rm 13:14), juntamente com as promessas, os convites
e as admoestações enquanto eles são expostos.17
“Toda Palavra é objetivo da fé”, escreveu Thomaz Manton. Por isso
nós precisamos de “fé nas histórias para a nossa advertência e
cautela, fé nas doutrinas para aumentar nossa reverência e admiração,
fé nos preceitos para a nossa humilhação, fé nos preceitos para nossa
sujeição, e fé nas promessas para nossa consolação. Todos eles têm
sua aplicação: as histórias para fazer-nos cautelosos e prudentes; as
doutrinas para nos esclarecer com um verdadeiro sentido da natureza
e da vontade de Deus; os preceitos para nos direcionar e provar e
regular nossa obediência; as promessas para nos encorajar e
confortar; as ameaças para nos aterrorizar, para corrermos de novo
para Cristo, para bendizermos a Deus por nosso livramento e para
acrescentar estímulo ao nosso dever.18

4. Ouvir com humildade e sério auto-exame. Eu me examino


humildemente sob a pregação da Palavra de Deus, tremendo pelo seu
impacto (Is 66:2)? Cultivo um espírito submisso e manso, recebendo a
verdade de Deus como um estudante enquanto estou ciente da minha
própria depravação? Eu me examino seriamente sob a pregação
atentando para minha própria instrução ao invés da instrução de
outros? Não devemos responder como Pedro, que disse a Jesus: “E
quanto a este?”. Devemos ouvir a admoestações de Jesus: “... que te
importa? Quanto a ti, segue-me” (João 21:21-22). Quando as marcas
da graça são colocadas diante de nós, devemos perguntar:
Experimento estas marcas? Escuto as verdades de Deus, desejando ser
admoestado ou corrigido onde eu me desviei? Agrado-me de ter a
Palavra de Deus aplicada à minha vida? Oro para que o Espírito possa
aplicar sua Palavra, como coloca Robert Burns, ao meu “negócio e ao
meu âmago”?19
Quando um médico lhe diz como manter sua saúde ou a dos seus
filhos, você não ouve cuidadosamente de modo que possa seguir suas
instruções? Quando o médico espiritual lhe dá direções divinas para a
sua alma, não deveria você ouvir cada parte tão cuidadosamente de
modo que possa seguir as instruções de Deus para a sua vida?
__________________
15 Watson, Body of Divinity, 377
16 Watson, Body of Divinity, 378
17 Ibidem.
18 Thomas Manton, The Life of Faith (Ross-shire, Scotland: Christian focus, 1997), 223-24.
19 The Works of Thomas Halyburton (Londres: Thomas Tegg, 1835), XIV.
Praticando a Palavra Pregada

Os teólogos de Westminster diziam que “Exige-se dos que


ouvem a pregação da Palavra, que eles... nela meditem e sobre ela
conversem; que a escondam no coração e manifestem os seus frutos
em suas vidas” (CM, P. 160). Assim a Palavra compreendida deve
também ser praticada. Aqui estão algumas pistas:

1. Esforce-se para reter e ore pelo que você ouviu. Hebreus 2:1 diz:
“... importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas,
para que delas jamais nos desviemos”. Thomas Watson disse que não
deveríamos deixar os sermões atravessarem nossas mentes como água
através de uma peneira. “Nossas lembranças deveriam ser como a
caixa da arca, onde a lei foi posta”, ele escreveu.20 O conhecido
Puritano Joseph Alleine (1634-1668) disse que uma maneira de
lembrar a Palavra pregada é “vir com seus joelhos para o sermão e vir
do sermão para os seus joelhos”. 21
Muitas pessoas acham que tomar notas ajuda a reter o
ensinamento de um sermão. Uma senhora idosa disseme: “Eu tomo
notas do sermão. Quando dobro meus joelhos na tarde do domingo,
eu ponho as minhas anotações na minha frente, sublinho as coisas
que devo me esforçar para por em prática e depois oro por elas, uma
de cada vez”. Para muitas pessoas tomar notas ajuda-as a recordar os
modos específicos nos quais Deus desafia seus corações. Reconheça,
entretanto, que o tomar notas não é para todo mundo. Para algumas
pessoas, escrever anotações durante o sermão transtorna o modo vivo
de ouvir porque as faz perder o fio do pensamento. Neste caso, tomar
notas faz mais mal do que bem. Faça qualquer coisa que o ajude a
lembrar e ore pelos sermões que você ouve.

2. Familiarize-se com as verdades que você ouviu. O Diretório de


Westminster para o culto público, avisa os pais para empenharem-se
nas “repetições dos sermões, especialmente chamando suas famílias
para um relato do que eles ouviram”.22 Quando você chega em casa de
volta da igreja, fala com seus amados sobre o sermão que ouviram, de
uma maneira edificante e prática. Fale sobre o sermão numa
linguagem que os seus filhos mais novos possam entender. Encorajem
seus filhos a tomarem notas do sermão. Minha esposa e eu treinamos
nossos filhos desde que tinham sete anos, a tomar notas. Após o
último culto cada domingo, nós lemos aquelas notas em família e
conversamos sobre o que entendemos dos sermões. Algumas vezes as
discussões ajudavam nossas crianças mais do que os próprios
sermões. Mesmo quando a conversa não produz o resultado desejado,
continue a tentar esta revisão dos sermões do Domingo. É melhor não
atingir o objetivo do que não tentar fazê-lo. Adicionalmente, falar
com colegas crentes sobre os sermões. A bênção de Deus repousa
sobre tal camaradagem. Malaquias 3:16 diz: “Então, os que temiam ao
Senhor falavam uns aos outros; o Senhor atentava e ouvia; havia um
memorial escrito diante dele para os que temem ao Senhor e para os que
se lembram do seu nome”.
Compartilhe algumas das lições que você está aprendendo da
Palavra de Deus. À medida em que você fala com outros, essas lições
ajudarão os outros ao mesmo tempo em que serão fixadas em sua
própria mente. Provérbios 27:17 diz: “Como o ferro com o ferro se afia,
assim o homem ao seu amigo”.
Não se envolva em frívolas e mundanas conversações após o
sermão. Conversas triviais sobre política, pessoas, esportes, ou novos
acontecimentos é o modo de Satanás enviar seus abutres para
arrancar a boa semente da Palavra. Ao invés disso, fale sobre a Bíblia,
Cristo, a alma e o mundo vindouro como é aplicado no sermão. E
quando falar do sermão evite um espírito critico. Não julgue o sermão
asperamente. Um tal espírito desanima a vida espiritual. Não fale
sobre o que ficou faltando, mas se concentre no que foi dito. Ouça
com um espírito de amor, transformando qualquer desapontamento
sobre a pregação em outra coisa que não crítica.
O mais importante, familiarize-se com o sermão meditando em
particular sobre o que você ouviu em público. Paulo escreveu aos
coríntios “Irmãos venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o
qual recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos,
se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei” (I Co. 15:1-2).
Meditação ajuda-nos a assimilar a verdade e a personalizá-la. Um
sermão apropriadamente meditado com a assistência do Espírito
Santo fará mais bem do que semanas de sermões não aplicados.
Medite sobre cada sermão como se fosse o último que ouvirá, pois este
pode ser o caso. Se o estudo particular adicional sobre o texto ajuda-o
a meditar, com certeza tome tempo para fazê-lo. Leia comentários
sobre o texto, tais como os escritos por João Calvino, Mathew Henry,
Mathew Poole e autores contemporâneos que expuseram com
habilidade e com inteligência as Escrituras. Finalmente ore pela
mensagem e aplique-a à sua vida.

3. Ponha o sermão em ação. Um sermão não termina quando o


ministro diz “Amém”. Ao invés disso é aí que o verdadeiro sermão
começa. Numa antiga história da Escócia uma esposa perguntou ao
seu marido que voltara do culto se o sermão já tinha acabado. “Não”,
ele respondeu, “Ele foi exposto, mas ainda está para ser praticado”.
Busque sempre viver o sermão que você ouviu, mesmo que isso
signifique negar-se a si mesmo, carregar a sua cruz ou sofrer por
causa da justiça. Ouvir um sermão que não reforma a sua vida, jamais
salvará a sua alma.
Tiago 1:22-25 nos diz: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e
não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém
é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que
contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo si
contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua
aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei
da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas
operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar”. Muitas
pessoas ouvem um sermão, veem a si mesmas no espelho da Palavra,
e saem da igreja convencidas, mas na segunda-feira de manhã elas
abandonam todas as verdades que ouviram. De que vale uma mente
cheia de conhecimento quando não está combinada com uma vida
frutífera?
O verdadeiro ouvir significa aplicar a Palavra de Deus. Se você não
pratica a Palavra de Deus depois que a ouve, você não ouviu
verdadeiramente a mensagem de Deus. Como a semente que cai num
solo bom, produz fruto, assim a pessoa que verdadeiramente entende
a Palavra produz fruto em sua vida.
Muitas pessoas não vivem a fé que ouvem da Palavra de Deus. Aqui
estão algumas razões porque isso acontece:
Elas não têm fé salvífica. Como diz II Tessalonicenses 3:2: “... porque a fé não é de todos”.
Algumas pessoas se opõem ao evangelho por motivo de descrença e rebelião, enquanto
outras permanecem nem quentes, nem frias. Ainda outras que são espiritualmente
preguiçosas para se preocupar, não recebem “o amor da verdade para serem salvos”.
Devemos nos perguntar a nós mesmos: Sou um cristão verdadeiro? É possível eu não está
fazendo progresso na prática da Palavra de Deus porque nunca fui salvo?

Elas amam muito o pecado. O autor de Hebreus fala do prazer do pecado. Frequentemente
eu ouço pessoas dizerem: “Eu sei que não é correto, mas é exatamente assim que eu faço
as coisas”. Ou se desculpam dizendo: “Eu simplesmente não posso deixar de fazer”, ou,
“Eu podia estar fazendo algo pior”.

Elas suprimem o que ouvem. Elas suavizam as convicções dadas por Deus e fazem calar a
voz da consciência com atividades e carnalidade.

Elas se focalizam mais no pastor do que na aplicação do sermão. Estas pessoas fazem mais
“church-hopping”23 do que mostrar testemunho cristão. O conselho que John Newton dá
é apropriado especialmente para tais pessoas:

O que eu observei de muitos que correm intempestivamente atrás de novos pregadores,


lembra-me provérbios 27:8, “Qual ave que vagueia longe do seu ninho, tal é o homem que
anda vagueando longe do seu lar”. Tais ouvintes inconstantes raramente têm êxito:
Geralmente eles se tornam sábios no seu próprio conceito, têm a cabeça cheia de ideias,
adquirem um espírito árido, crítico e severo; e são mais solícitos em discutir quem é o
melhor pregador do que obter benefícios para si mesmos daquilo que eles ouvem. Se você
pudesse encontrar um homem, de fato, que tivesse em si mesmo um poder de dispensar
uma bênção para sua alma, você poderia segui-lo em todos os lugares; mas como a bênção
está nas mãos do Senhor, é mais provável que você a receba esperando onde sua
providência o colocou, e onde ele encontrou com você antes. 24

Elas não obedecem à voz de Deus. O primeiro amor de um cristão motiva zelo. Mas quando
esse primeiro amor desaparece, alguns crentes começam a dar para trás. Muitos vacilam
porque nunca lhes foi dito como obedecer a Palavra. Eles nunca foram ensinados a como
serem amorosos, perdoadores e santos ou como manifestar os frutos do Espírito (Gl. 5:22-
23). Contudo, a bíblia fala muito sobre obedecer a Deus, fazendo o bem, e não se cansando
de bem-agir. Em Romanos 12, Paulo instrui a igreja na conduta cristã. A epístola de Tiago
oferece sabedoria em como usar a língua, fazer boas obras e seguir a vontade de Deus.

Como podemos por em prática o que a Palavra de Deus nos ordena


fazer? Aqui estão alguns roteiros para praticar a vida cristã:

1. Ouça cuidadosamente os sermões que nos ensinam como viver.


Como os bereanos, busque nas Escrituras para ver se o que você ouviu
é verdade. Ouça com discernimento. Quando estiver convencido de
que uma mensagem é escriturística, pergunte a si mesmo: Como
posso por em prática este sermão? Talvez você ouviu exatamente um
sermão sobre a necessidade de fugir de certos pecados. Pergunte-se:
Como posso evitar os pecados que foram apontados? Que passos devo
dar para isso? Ou talvez você ouviu um sermão correto sobre por que
os Cristãos devem falar aos outros sobre Cristo. Você é um recém-
convertido e nunca falou ao seu pai ou a sua mãe sobre Cristo.
Pergunte ao Senhor o que dizer, pense como dizê-lo, e então ore pela
oportunidade para falar.

2. Peça conselho aos mais velhos, aos Cristãos mais experientes.


Converse com pessoas que são espiritualmente maduras sobre como
viver como um cristão. Por exemplo, pergunte a essa pessoa mais
sábia: O que significa amar os seus inimigos? Deixe-a explicar o que
isto significa para ela.
Se depois de procurar na Palavra de Deus, consultar crentes mais
maduros e examinar sua própria consciência e ideias, você ainda não
sabe onde Deus o está levando, tente voltar atrás um pouco. Pergunte
a você mesmo: Qual é o principal mandamento de Deus para todas as
minhas ações? Não é que eu devo amar a Deus sobre todas as coisas e
ao meu próximo como a mim mesmo (Mt. 22:37-39)? Sendo
percebido, isso movê-lo-á para fora do amor que brota do seu próprio
eu ou do diabo, para o amor localizado em Deus.
Amar a Deus e ao nosso próximo obriga-nos a uma vida de serviço.
As pessoas que verdadeiramente amam a Deus, servem a Deus e ao
próximo, pois assim é que Jesus viveu nesta terra. Cristo deixou de
lado sua glória para que pudesse esvaziar-se a si mesmo e ser um
servo para o Seu Pai e para os pecadores (Fp. 2:6-8). Praticando as
verdades que ouvimos nos faz mais parecidos como Cristo.

3. Agradeça a Deus por tudo que você recebe dos sermões. Dê glória
a Deus quando você é capaz de colocar as instruções de Deus em
prática. Frequentemente, receio, nós recebemos pouco porque não
somos gratos pelo que recebemos. O Catecismo de Heidelberg declara
que “Deus só concederá a Sua graça e o Santo Espírito àqueles que,
constante e sinceramente, Lhe pedem esses dons e O agradecem por
eles” (P. 116).25

4. Apoie-se no Espírito Santo. Peça a Deus para acompanhar sua


Palavra com a bênção eficaz do Espírito Santo (At. 10:44). A Palavra
pregada será um poder transformador em nossas vidas sob a bênção
do Espírito. Se estas direções são ignoradas, a Palavra pregada levará
à nossa condenação. Como escreveu Thomas Watson: “A Palavra será
eficaz de um modo ou de outro; se ela não faz os seus corações
melhores, ela fará suas cadeias mais pesadas”. 26
Jesus nos adverte em Lucas 8:18: “Vede pois como ouvis; porque ao
que tiver, se lhe dará; e ao que não tiver, até aquilo que julga ter lhe será
tirado”. Todos os meios de graça serão tirados dos ouvintes
desatentos no dia do julgamento. Será muito tarde para eles virem
ouvir um outro sermão. O mercado da livre graça estará fechado para
sempre, e a porta da arca de Deus será fechada eternamente.
Por outro lado, se nós aprendemos a ser ouvintes e cumpridores da
Palavra de Deus, receberemos muito mais nesta vida. Uma verdade
corretamente recebida e praticada pavimenta o caminho para mais
verdades cristãs. Eventualmente, praticar essas verdades traz os
crentes para dentro da plenitude de Cristo. Eles crescerão na graça e
no conhecimento de Cristo até comparecerem em Sião, cheios da
plenitude de Deus.
Como podemos saber se o Espírito de Deus está nos aplicando a
Palavra? Nós podemos saber pelo que precede, acompanha e segue
essa aplicação. Antes da aplicação do Espírito, Ele abre espaço em
nossas almas para a Palavra. Com a aplicação do Espírito, nós temos
um senso de retidão e poder, se é a tranquila, suave voz do evangelho
(1 Reis 19:12) ou o trovão do Sinai (Ex 19:16). Isso nos persuade de
que estamos recebendo exatamente o que necessitamos para as
nossas almas. O mais importante. Quando Deus aplica sua Palavra em
nossas almas o “fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a
glória e louvor de Deus” (Fp. 1:11), isso torna-se evidente em nós.
Nossa velha natureza é mortificada e o culto pecaminoso do eu
começa a decrescer; nossa nova natureza é vivificada e a presença de
Cristo em nossas vidas aumenta. Se tal evidência da obra do Espírito
está faltando em nós, sabemos que a Palavra não está sendo usada
proveitosamente. “Porque pelo fruto se conhece a árvore”. (Mt.12:33b).
Estes frutos incluem conversão verdadeira (Sl. 19:7a), sabedoria (Sl.
19:7a), alegria (Sl. 19:8a), paz (Sl. 85:8), doçura (Sl. 119:103),
liberdade (Jo. 8:31-32), louvor (Sl. 119:171), e luz para os mortais
(Sl.19:8b).
Você é um ouvinte ativo da Palavra de Deus? É um cumpridor
dessa Palavra? Ou você ouve os sermões de forma indiferente? Se
assim é, arrependa-se do seu pecado e comece a ouvir ativamente a
Sua Palavra. Não é suficiente para você comparecer à igreja. Você
deve ser um ouvinte ativo e cumpridor da Palavra. Thomas Watson
adverte os ouvintes insensíveis: “Terrível é a situação dos que vão
carregados de sermões para o inferno”.27 Se você passou toda sua vida
sendo um ouvinte indiferente, lembre-se da parábola de Jesus dos
dois filhos cujo pai os chamou para trabalharem na sua vinha. O
primeiro filho disse que iria, mas quando a hora chegou, ele não foi. O
segundo filho menosprezou seu pai, mas depois se arrependeu. Foi
então para a vinha e trabalhou para o seu pai. Se você não ouviu a
instrução do Pai, retorne a Ele com arrependimento e humildade.
Busque sua graça para ouvir, obedecer e por em prática a Palavra de
Deus. “Vede pois como ouvis”.
__________________
20 Watson, Body of divinity, 387.
21 Joseph Alleine, A Sure Guide to Heaven (Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1999), 29. Um Guia
Seguro Para o Céu (Editora PES)
22 Confissão de Fé de Westminster
23 Em inglês, há o conceito de “bar hopping” ou “pub crawl”. Na sexta-feira à noite, uma turma sai,
indo de bar em bar, bebendo e festejando e se tornando cada vez mais baixo e desprezível à medida
que a noite vai se prolongando. Este fenômeno é a manifestação de uma busca desesperada por
prazer e emoção, sem compromisso. Alguns pastores, então, emprestaram o termo para aplicar à
esfera espiritual: pessoas que fazem “church hopping” são pessoas que pulam de igreja em igreja
numa busca eterna de mais emoção, procurando satisfazer-se a si mesmos antes de ter compromisso
ou contribuir com algo para o corpo de Cristo (NE).
24 Newton, Works, 1:220-21. Cf. D. Martyn Lloyd-Jones, Preaching and Preachers (Grand Rapids:
Zondervan, 1971), 153-54.,
25 As Três Formas De Unidade das Igrejas Reformadas (CLIRE - Editora Os Puritanos, p. 88).
26 Watson, Body of Divinity, 380.
27 Ibidem
Capítulo II
Participando das Reuniões de Oração

“Todos estes perseveravam unânimes em oração, com as mulheres, e


Maria a mãe de Jesus e com os irmãos dele” {Atos 1:14}
A Necessidade de Reuniões de Oração

“Nós jamais veremos muita mudança para melhor em nossas


igrejas em geral, até que a reunião de oração ocupe um lugar mais alto
na estima dos Cristãos”. Assim escreveu Charles Spurgeon em seu
famoso discurso “Apenas uma Reunião de Oração”.28
Por “reunião de oração” Spurgeon quis dizer uma reunião formal
dos membros de uma congregação cristã numa hora determinada com
o propósito de se ocuparem em unida oração. Tais reuniões são o foco
deste artigo; em consequência, abaixo eu uso “oração corporativa”,
para me referir a estes encontros distinguido-os dos cultos formais de
adoração.
As reuniões de oração na América têm chegado a tempos difíceis.
Menos de dez por cento dos membros agora encontram-se para orar
em igrejas que antigamente tiveram reuniões vibrantes, lideradas pelo
Espírito. Em muitas igrejas as reuniões de oração tornaram-se frias e
aborrecidas. Outras igrejas nunca desenvolveram a tradição de se
encontrarem regularmente para oração corporativa.
Lewis Thompson escreveu corretamente: “Se é verdade que a
piedade ativa de uma igreja não se eleva mais alto do que ela se
manifesta na reunião-de-oração, de modo que aqui, como em um
barômetro, todas as mudanças na vida espiritual são fielmente
registradas, então certamente muita atenção não será dada tanto pelo
pastor quanto pelas pessoas à condução da reunião-de-oração”.29
É tempo de reavaliar a importância das reuniões de oração, pois a
igreja que seriamente não ora conjuntamente não pode esperar
experimentar reforma e reavivamento. Será que esquecemos que na
época da Reforma as igrejas frequentemente mantinham cultos
diários para pregação e oração? Surpreende-nos que a fé Reformada
tenha experimentado mais reavivamento na Coreia do que em
qualquer outro lugar no mundo no último meio-século, quando
Cristãos ali se juntavam 365 manhãs por ano para orar (às 5 da manhã
no verão e às 6 no inverno)? Lancemos um olhar mais atento às
reuniões-de-oração, especificamente na sua sanção escriturística, sua
história, seus propósitos e implementação nas regulares reuniões
congregacionais. Possa Deus convencer-nos de que temos perdido
nosso primeiro amor concernente à oração e nos ilumine para
recordarmo-nos de onde caímos, como devemos nos arrepender e
como podemos retornar à realização das primeiras obras (Ap. 2:4-5).
__________________
28 Only a Prayer-Meeting (Ross-shire: Christian Focus, 2000),
29 Lewis O. Thompson, The Prayer – Meeting and Its Improvement (Chicago: W. G. Holmes, 1878, 16).
A Sanção Bíblica para Reuniões de Oração

A sanção para oração corporativa está enraizada na Escritura. Em


seu livro sobre a história das reuniões de oração, J. B. Johnston afirma
que a oração corporativa está fundamentada em Gênesis 4:26, onde
lemos: “Daí se começou a invocar o nome do Senhor”. Johnston escreve
“Os homens, movidos pela graça, encontrariam como agora, alegria
na oração social, e, consequentemente, seriam levados pelo seu
poder, a praticá-la como agora”. 30
Os patriarcas também se empenharam na oração corporativa.
Gênesis 21:33 diz que “Plantou Abraão tamargueiras em Berseba e
invocou ali o nome do Senhor, Deus eterno”. Esse tipo de grupos que
oravam em bosques, frequentemente, chamado “proseucha” (locais de
oração distintos dos altares de sacrifício), continuaram por todo o
período patriarcal, embora mais tarde eles fossem de forma idólatra
abusados (Dt. 16:21). Davi e seus amigos engajaram-se em oração
corporativa (Sl. 4:13, 14; 66-16), como fizeram judeus devotos na
Babilônia (Sl. 137:1-2). Em Neemias 9, pelo menos onze Levitas
fizeram turnos orando e confessando pecado ao Senhor diante dos
filhos de Israel (vs. 4-5). Mesmo os marinheiros que jogaram Jonas ao
mar, primeiro corporativamente clamaram ao nome de Jeová (Jn.
1:14).
Malaquias 3:16-17 afirma que “Então os que temiam ao Senhor
falavam uns aos outros; o Senhor atentava e ouvia; havia um memorial
escrito diante dele para os que temem ao Senhor e para os que se
lembram do seu nome”. John Brown de Haddington concluiu deste
texto que Deus estava claramente satisfeito com a oração corporativa;
ele disse que Deus “atenta e ouve e generosamente registra o que é
dito; e estima e poupa os conscienciosos que presenciam”.31
O Novo Testamento continua a moldar a oração corporativa. As
reuniões de oração eram celebradas cada manhã nas sinagogas dos
judeus e no templo. E mais importante, Jesus frequentemente
conduzia seus discípulos em oração corporativas, tanto antes da sua
morte (Lc. 9:18) quanto depois da sua ressurreição (Jo 20:19,026). O
Getsêmani parece ter sido um dos lugares favoritos de Cristo para orar
(Jo. 18:1-2).
O próprio Jesus provê um mandato explícito para reuniões de
oração em Mateus 18:19-20: “Em verdade também vos digo que, se dois
dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que,
porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu pai, que está nos
céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali
estou no meio deles”. O verbo grego para “concordar” que é usado aqui
é συµφωνέω (sumphōneō), que significa “soar conjuntamente”. Esta
Palavra é usada frequentemente para descrever a harmonia de
instruções musicais soando juntas, do qual derivamos a palavra
“sinfonia”. Jesus diz que se você exprimir petições juntamente com
companheiros crentes, Ele fará o que pedirem, contanto que esteja de
acordo com a sua vontade (1 Jo. 5:14). Em um sermão intitulado “A
Reunião de Oração Social”, pregado em 1844, Edwin F. Hatfield, de
Nova York, disse que o texto de Mateus sugere que “qualquer número
de almas que oram, duas ou mais, têm muito maior razão de esperar
sucesso quando elas oram juntas do que quando elas oram pelas
mesmas coisas separadamente”.32
Peter Masters vai um passo mais à frente, afirmando que Mateus
18:19-20 não é apenas uma promessa dada por Cristo, mas também
uma ordenança dada por Cristo. Ele escreve: ”Quando o senhor
proferiu estas palavras, Ele estava instruindo os discípulos sobre as
coisas da igreja, particularmente o procedimento para lidar com má
conduta na igreja. Ele não estava falando sobre um punhado casual de
crentes, como se dando uma oportunidade de oração opcional para
aqueles que desejassem se encontrar informalmente (embora sua
promessa, certamente inclua isto). Ele estava dando instruções
oficiais para suas igrejas. Ele estava inaugurando o dever da oração
corporativa”. 33
O mandato para reuniões de oração está particularmente reforçado
no livro de Atos através da prática da Igreja do Novo Testamento.
Atos 1 e 2 nos mostram que a reunião de oração da igreja, abençoada
pelo Espírito Santo, deu nascimento ao Pentecostes. Depois da
ascensão de Jesus ao céu, os discípulos continuaram ardentemente em
oração até que o Espírito foi derramado: “Todos estes perseveravam
unânimes em oração, com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com
os irmãos dele”. (Atos 1:14). No Pentecostes, 3.000 foram convertidos
como fruto da expressão vocal coletiva dos discípulos das suas
petições e desejos. Depois do Pentecostes os discípulos continuaram
resolutamente “na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do
pão e nas orações” (At. 2:42). Quando satanás afligiu a igreja primitiva
com violenta perseguição, a Igreja do Novo Testamento encontrava-se
corporativamente para oração até que o senhor ouviu seus clamores e
encheu-os de ousadia para continuar pregando (4:24-31). Atos 4:24
diz: “Unânimes, levantaram a voz a Deus”. A palavra grega usada aqui
significa realmente “um concerto de vozes”.
A perseguição, contudo, assolou novamente. Quando Tiago foi
decapitado e Pedro aprisionado, os crentes mais uma vez buscaram a
orientação de Deus em reuniões de oração. Eles oraram ardentemente
por oito dias em vários locais diferentes, exatamente na hora em que
Pedro deveria ser executado. O Senhor então interveio
maravilhosamente enviando um anjo para livrar o apóstolo (Atos
12:7). Tão logo Pedro foi libertado da prisão, ele foi direto para a
reunião de oração. Obviamente, ele sabia onde os crentes estariam
reunidos. A igreja, como nós hoje, mal podia acreditar que Deus tinha
respondido suas orações e trazido Pedro de volta para eles sem
nenhuma arma (v. 16).
Quando a igreja estava se espalhando em Atos 13, certos profetas
e mestres em Antioquia, incluindo Barnabé e outros líderes notáveis,
ministraram, jejuaram e oraram juntos. Enquanto eles estavam assim
juntos, o Espírito Santo revelou que Ele queria Barnabé e Saulo para
serem separados para sua obra de missões (Vs. 1-2). O verso 3 diz:
“Então, jejuando e orando e impondo sobre eles as mãos, os
despediram”. O erudito grego A. T. Robinson afirma que o original
grego aqui fala realmente de muitos rostos voltados para o alto. O
quadro aqui pintado é um que mostra numerosas faces voltadas para o
alto conjuntamente, clamando a Deus nos céus. Paulo reconheceria
mais tarde, em 2 Co.1:8-11 que as orações dos santos foi uma das
razões mais importantes que o habilitou a perseverar no ministério.
Atos 16 nos diz como a primeira Igreja da Europa nasceu numa
reunião de oração onde o coração de uma mulher, Lídia, foi aberto
para a mensagem do evangelho (At. 16:13-15). Mais tarde, Paulo e
Silas celebraram uma reunião de oração à meia noite na prisão. Como
os discípulos “oraram e cantaram louvores para Deus”, outros
prisioneiros estavam ouvindo (Atos 16:25). Deus respondeu aquelas
orações enviando um terremoto que libertou Paulo e Silas. O
carcereiro e sua família foram convertidos; o evangelho triunfou e a
sua família foi confortada (vs.26-40). Deus uma vez mais afirmou sua
bênção sobre as reuniões de oração. As epístolas do Novo Testamento
também recomendam reuniões de oração. Johnston diz que Efésios
5:19 e Colossenses 3:16 provavelmente se referem a reuniões de
oração. Embora estes textos estejam sujeitos a várias interpretações,
há outros exemplos das igrejas do Novo Testamento nas epístolas que
parecem ter-se engajado em oração corporativa, tais como as igrejas
de Áquila, Ninfa e Filemon (1 Co. 16:19; Cl. 4:15; Filemom (1 Co.
6:19; Cl. 4:15; Filemom 12). As epístolas também encorajam a oração
corporativa ao usar repetidamente a segunda pessoa do plural quando
chamam os crentes para oração (Ef. 6:18; Fp. 4:6; Cl. 4:2; 1 Ts. 5:17;
1 Tm. 2:1-2; 1 Pe. 4:7). A prática da igreja do Novo Testamento nos
mostra que as reuniões de oração deviam dar suporte às assembleias
estabelecidas para cultuar,34 ao invés de competir com elas. Elas têm
uma função importante, mas de apoio à assembleia da igreja em torno
da proclamação das Escrituras.
__________________
30 J. B. Johnston, The Prayer–Meeting, and Its History, as Identified with the Life and Power of
Godliness, and the Revival of Religion (Pittisburgh: United Presbyterian Board, 1870), 27.
31 John Brown, “Divine Warrants, Advantages, Ends end Rules of Fellowship – meetings for Prayer end
Spiritual Conference”, in Christian Journal; or Common Incidents Spiritual Instructions (London, 1765),
second part, 18.
32 “The Social Prayer-Meeting”, em The American National Preacher 8, 18 (1844): 171.
33 The Power of the Prayer Meeting (London: Sword & Trowel, 1995), 19.
34 Culto público convocado pelo Conselho de Presbíteros — convocação solene (NE)
A História das Reuniões de Oração

As reuniões de oração têm sido uma parte chave do Cristianismo


evangélico através da história da Igreja. Entretanto elas não têm sido
conduzidas da mesma forma, nem têm sido chamadas pelo mesmo
nome. Algumas reuniões de oração têm levado à formação de
sociedades formais de oração ou pactos mundiais de oração.
Através dos anos, reuniões têm sido particularmente influentes em
tempos de perseguição e de avivamento. Durante a perseguição, a
igreja tem sido forçada a se reunir em lares isolados, tanto para
adoração corporativa quanto para oração corporativa. Essa foi a
realidade da igreja antiga nas catacumbas tanto quanto de grupos
posteriores como os Valdenses, Lolardos, Husitas e Huguenotes.35
Durante os tempos da Reforma, os soldados frequentemente
mantinham reuniões de oração. Johnston comenta: “Estas reuniões de
oração entre os soldados dos exércitos da República Holandesa, tão
remota quanto os tempos de William I, também chamado de William o
Silencioso,36 Príncipe de Orange, têm muito a ver com a “maré-cheia”
da liberdade religiosa e civil usufruída por nós hoje. Investigue a
liberdade americana — tudo que é nobre e cristão nela — ao longo de
qualquer linha da história que você possa, dos Puritanos Ingleses, dos
Puritanos da Holanda ou dos Presbiterianos da Escócia e nós
encontraremos que o seu berço é a reunião de oração”.37
Durante a perseguição pelos Stuarts na Escócia, pequenos grupos
se reuniam em oração para ajudar os crentes a manterem a fé e a
coragem. Eles continuaram a se encontrar até a revolução gloriosa de
1688; os crentes então continuaram a manter reuniões de oração
regulares nos dias de semana em seus lares. Durante esse tempo,
grupos eram frequentemente organizados de acordo com o gênero —
homens e mulheres reuniam-se separadamente. Frequentemente os
pastores se encontravam sozinhos. Alguns pastores lideravam sessões
de oração com as crianças de suas congregações. Arthur Fawcett diz
que existe abundante evidência de que as reuniões de oração das
crianças eram frequentemente “dirigidas pelas próprias crianças”.38
As crianças nestes grupos aprendiam a orar em voz alta
publicamente sem embaraço e, mais tarde, muitas destas crianças
tornaram-se ministros ou oficiais regentes nas igrejas cristãs. Alguns
grupos de oração foram organizados formalmente pelos Pactuantes
Escoceses como “sociedades de oração”. Estas sociedades serviam às
necessidades dos Pactuantes quando eles tinham escassez de
ministros para organizar suas uniões como igrejas. Mais tarde, as
sociedades de oração tornaram-se mais sistemáticas, frequentemente
com exigências estritas de membros. Em 1714, por exemplo, Ebenezer
Erskine e dezesseis homens assinaram uma lista de regras para a
sociedade de oração de Portmoak em Fife, Escócia. Os membros
requereram vir para reunião de oração pelo menos duas vezes por
mês. Três a seis membros da sociedade oravam em cada encontro.
Uma questão de “divindade prática” era enviada cada semana, e os
membros votavam qual questão seria discutida na próxima semana. Se
um membro faltasse a duas ou mais reuniões consecutivas, ele tinha
que explicar por que. Após várias ausências não justificadas, um
membro seria solicitado a deixar a sociedade.39
As reuniões de oração eram populares no século XVII em certas
áreas da Holanda, especialmente no meio dos refugiados religiosos.
Fawcett fala de um grupo de ministros exilados que se encontravam
semanalmente para orar. Em uma reunião o Puritano John Howe,
conhecido por seus grandes dons intercessórios, orou com tal fervor
que muito transpirava. Sua esposa veio por trás dele, tirou sua peruca,
secou seu suor com o lenço, depois recolocou a peruca, tudo enquanto
ele continuava orando. Sobre este mesmo tempo, James Hog40, mais
tarde de Carnock, escreve que quando ele estudava em uma das
Universidades Holandesas, encontrou muitos que formaram
sociedades religiosas e “derramavam seus corações perante o Senhor
unanimemente”.
Reuniões de oração eram especialmente influentes em tempos de
reavivamento. O avivamento de 1620 na Irlanda foi estimulado pelas
reuniões de oração.41 Assim foram os despertamentos nos idos de
1740. Duas gerações anteriores, Josiah Woodward publicou An
Account of the Rise and Progresso of the Religious Societies in the City of
London (Por Conta do Surgimento e Progresso das Sociedades
Religiosas na Cidade de Londres), o qual descreveu quarenta grupos
distintos de oração em Londres.42 À medida em que os
despertamentos se espalhavam, as reuniões de oração se
multiplicavam. Thomas Houston escreve em seu The Fellowship Prayer
Meeting (A Sociedade de Reunião de Oração), “Os despertamentos que
tiveram lugar em várias partes da Inglaterra, sob o ministério de
Wesley e Whitefield, levaram ao estabelecimento das reuniões sociais
de oração; quando dentro do limite do Nacional Establishment, e sem
ele, tudo estava sob o torpor da morte espiritual, esta organização foi
um meio poderoso de estimular mentes zelosas para se dedicarem a
interesses eternos”.43
Reuniões de orações foram também de grande influência nos
reavivamentos do século dezoito na Escócia. Anteriormente ao
despertamento de 1742, numerosas sociedades de oração tinham
brotado. Uma sociedade foi estabelecida em Kilsuth em 1721; ela
floresceu por alguns anos, então morreu em 1730, mas foi
ressuscitada em 1742 exatamente antes que o reavivamento
irrompesse. Durante as reuniões havia orações públicas, cânticos de
salmos, leitura da Escritura e discussões baseadas em perguntas do
estudo de Thomas Vincent do Breve Catecismo.44
Durante o grande avivamento na Escócia, as reuniões de oração
frequentemente começavam com crianças, depois estendiam-se aos
adultos. Por exemplo, um professor de uma escola na freguesia de
Baldernock permitiu a quatro estudantes reunirem-se, por sua própria
iniciativa, para oração e cânticos de salmos. De acordo com o The
Parish of Baldernock: “No decorrer de duas semanas, mais dez ou
doze (crianças) eram despertadas sob profundas convicções. Algumas
destas não tinham mais que oito ou nove anos de idade e outras, doze
ou treze. E ficavam absortas com a única coisa necessária que era
reunir-se três vezes ao dia — pela manhã, ao meio dia e à noite”. Os
adultos então começaram a manter reuniões de oração duas ou mais
vezes por semana. Havia muitas conversões tanto nas reuniões dos
adultos quanto nas das crianças.
O fervor logo se espalhou por outras paróquias. The Parish of
Kirkintillock noticia: “No mês de Abril de 1742, cerca de dezesseis
crianças na cidade foram observadas encontrando-se juntos num
celeiro para orar. O Sr. Burnside (seu pastor) quando ouvido a respeito
disso, afirmou que tinha reuniões frequentes com elas, e as fez
continuar. E sendo isto relatado, muitas mais foram influenciadas.
Logo depois, cerca de cento e vinte (crianças) ficaram sob um
interesse além do comum, e outras sociedades de oração, como
sempre, foram formadas”.
A reação de Johnston a esse despertamento foi confirmar e dar
apoio às crianças. “Por que não encorajar reuniões-de-oração de
crianças? Por que não pode Deus instilar perfeitos louvores para a
Glória da sua graça, da boca de bebês?”, perguntou ele.45
Jonathan Edwards também encorajou a oração das crianças.
Respondendo objeções que alguns críticos levantaram às reuniões de
oração para crianças, ele escreveu: “Deus, neste trabalho, tem
mostrado um acatamento marcante para com as criancinhas; jamais
houve uma obra tão gloriosa no meio das pessoas em sua infância
como tem sido ultimamente na Nova Inglaterra. Ele tem se deleitado,
de um modo maravilhoso, em aperfeiçoar o louvor da boca dos bebês e
criancinhas de peito; e muitos deles tem mais daquele conhecimento e
sabedoria que o agrada, e faz a sua adoração religiosa mais aceitável
do que muitos dos grandes e instruídos homens do mundo. Eu tenho
visto muitos resultados de reuniões religiosas, de crianças; e
frequentemente Deus pareceu de um modo marcante reconhecê-las
em suas reuniões, e realmente desceu dos céus para estar no meio
delas. Tenho conhecido vários casos prováveis de crianças sendo
convertidas em tais encontros”.46
Em 1747, Edwards publicou Uma Tentativa Modesta para promover
um acordo explícito e união visível do povo de Deus através do mundo,
em oração extraordinária, pelo reavivamento da religião e o avanço do
reino de Cristo na terra. Usualmente referida desde então como Uma
Tentativa Modesta, este livro foi reimpresso por Christian Focus em
2003 como Uma Chamada para Oração Unida, Extraordinária.
Edwards disse que foi motivado a escrever sobre “um pacto de oração”
por duas razões: primeiro, ele percebeu que os avivamentos da
metade dos anos 1730 e do início de 1740 não ocorreriam novamente
até que o povo de Deus se engajasse em ardente oração por
avivamento. Segundo, ele desejava prover suporte teológico adicional
para um documento escrito por alguns pastores Escoceses, intitulado
simplesmente Memorial.
David Bryant conta-nos a história do Memorial: “Erguendo-se
dezenas de sociedades de oração em funcionamento na Escócia por
volta de 1740, especialmente no meio de gente jovem, por volta de
1744, uma comissão de ministros determinou que estava na hora de
fazer mais. Decidiram tentar uma “experiência” de dois anos, unindo
todos os grupos de oração e de Cristãos que oravam em sua nação
dentro de uma planejamento de oração comum. Eles decidiram
centralizar a oração por avivamento em cada noite de sábado e na
manhã de domingo, bem como na primeira terça-feira de cada
trimestre. Em 1746 eles estavam tão gratificados pelo impacto da sua
experiência que formaram uma convocação para orar pela a igreja do
mundo em geral, especialmente nas colônias (Memorial). Contudo,
desta vez o pacto de oração deveria ser por sete anos”.47
Citando Zacarias 8:20-22, Edwards disse que as ricas promessas
de Deus nos encorajam a esperar grande sucesso provinda da oração
corporativa, especialmente pactos de oração mundiais.48 Ele disse:
“Daquilo que Deus faz abundantemente o objeto de suas promessas, o
povo de Deus deveria fazer abundantemente o objeto das suas
orações”. Ele conclui que quando os crentes perseveram em pactos
unidos de oração ao redor do mundo, Deus garantirá um avivamento
robusto, o qual “se propagará até que o despertamento alcance
aqueles que estão nos mais altos níveis, e até que todas as nações
sejam despertadas”.49
O livro de Edwards teve uma influência limitada durante sua vida.
Republicado mais tarde no século 18 na Inglaterra, ele influenciou
William Carey (1761-1834) e seu grupo de oração. Ele também afetou
John Sutclif (1752-1814), um bem-conhecido pastor batista em Olney,
que liderou encontros semanais de oração por avivamento nas igrejas
Batistas da Associação Northamptonshire à qual sua igreja pertencia.
Aquelas reuniões de oração se espalharam através de todas as Ilhas
Britânicas, impactando particularmente os avivamentos do século
dezoito em Wales. Herman Humphrey escreve em seu Esboços do
Avivamento: “Um dos mais importantes avivamentos da religião,
quando consideramos seus efeitos, é aquele que ocorreu no
“Principado de Wales sob Howell Harris e Daniel Rowlands; e este foi
levado adiante e encorajado por meio de sociedades privadas de
oração e conferência religiosa”.50No final, dezenas de milhares foram
convertidos através da Grã-Bretanha de 1790 a 1840.51
O tratado de Edwards tornou-se um manifesto maior para o
Segundo Grande Despertamento na América nos idos de 1790. Ele foi
reimpresso em 1794 por David Austin, e mais tarde naquele ano, após
discutir o livro, um grupo de ministros da Nova Inglaterra reunidos
em Lebanon, Connecticut, decidiram promover um renovado pacto de
oração de acordo com o plano escocês original, como exposto no
tratado de Edwards. Vinte e três destes ministros assinaram uma carta
circular que foi enviada “para os ministros e igrejas de todas as
denominações Cristãs nos Estados Unidos”. Depois que a oração foi
celebrada com sucesso em muitas denominações diferentes,
seguiram-se outras cartas circulares e pactos de oração.52
Através das três décadas do Segundo Grande Despertamento, a
oração corporativa foi aceita amplamente como a chave principal de
Deus para abrir a porta do avivamento. Líderes da época tais como
Nathanael Emmons (1745-1840) e Timothy Dwight (1752-1817),
ensinaram que havia uma indissolúvel ligação entre os propósitos de
Deus e a oração. Não que a oração pudesse mudar os propósitos de
Deus, mas, como escreveu Dwight, a oração “é o meio de conseguir
bênção, pois sem oração as bênçãos jamais seriam obtidas”. 53 Não é
de surpreender, contudo, houve numerosos movimentos por oração,
tanto em nível congregacional como em pactos de oração organizados
por áreas geográficas. Estes movimentos acentuavam tipicamente a
oração pelo derramamento do Espírito Santo para suas vidas pessoais,
suas famílias, suas igrejas e a raça humana. Por seu turno, estas
reuniões de oração congregacionais e pactos de oração, deu ímpeto ao
estabelecimento de numerosas sociedades missionárias que
batalharam corajosamente por aqueles sem igrejas na América e os
pagãos ao redor do globo. Por exemplo, a primeira década do século
dezenove somente viu o estabelecimento da Sociedade Missionária de
Hampshire County em Massachusetts (1801), a Sociedade Missionária
de Rhode Island (1801), a Sociedade Missionária de Piscatagua
(1803), a Sociedade Missionária Maine (1807), a Sociedade
missionária Vermont (1807), tanto como sinais de outras sociedades
missionárias organizadas por vários corporações denominacionais.54
O tratado de Edwards também alimentou outros despertamentos
nos idos de 1850. O Poder da Oração de Samuel Prime, publicado por
Banner of Truth Trust, explica como a oração corporativa anunciou o
famoso reavivamento de 1857-1859 (algumas vezes chamado de o
Terceiro Grande Despertamento) ao longo da costa oriental dos
Estados Unidos, depois espalhou-se pelo oeste, resultando na
conversão de centenas de milhares de pessoas.
No início do outono de 1857, seis homens reuniam-se ao meio dia
diariamente para oração coletiva na sala do Conselho de uma Igreja
Reformada na cidade de Nova York. A oração foi o meio do Espírito
para germinar as sementes do avivamento. Por volta do início de 1858
mais de vinte grupos de oração estavam se encontrando ao meio dia
na cidade de Nova York. Em Chicago, mais de 2.000 pessoas
juntavam-se diariamente para oração no Teatro Metropolitan. O
movimento espalhou-se por quase todas as maiores cidades da
América, depois encaminhou-se para as Ilhas Britânicas e ao redor do
mundo. Reuniões de oração jorraram por toda parte: em igrejas, nos
campus de colégios, em hospitais, entre marinheiros, em campos
missionários, e em orfanatos e colégios. Para mencionar apenas um
exemplo, em Hampden-Sydney College, um estudante encontrou um
colega lendo Alarm to the Unconverted 55 do Puritano Joseph Alleine, e
disse-lhe que havia dois outros estudantes que também concordavam
com esse tipo de literatura. Os quatro estudantes mantiveram uma
reunião de oração, enquanto os colegas zombavam deles. Quando o
presidente ouviu que os quatro jovens foram acusados de manter uma
reunião de oração, disse em lágrimas: “Deus veio para mais perto de
nós”, e juntou-se a eles na próxima reunião. Um avivamento marcante
varreu o colégio e a circunvizinhança. Logo, mais da metade do
colégio estava comparecendo às reuniões de oração.56 Estudiosos
estimaram que dois milhões ou mais, foram convertidos nos
avivamentos de 1850, enquanto centenas de milhares de Cristãos
professos foram profundamente afetados.57
Nos anos de 1860, Charles Spurgeon organizou reuniões de oração
no Tabernáculo Metropolitano. As pessoas se reuniam às 7 da manhã
e as 7h30 da noite diariamente. Mais de 3.000 pessoas vinham para as
reuniões da segunda-feira à noite. Uma noite um visitante perguntou
a Spurgeon: Qual a explicação para o sucesso destes encontros?
Spurgeon encaminhou o visitante para o santuário, abriu a porta e o
deixou olhar os participantes. Nada mais precisou ser dito.
Os grandes avivamentos do século vinte foram igualmente
inspirados pela oração. O avivamento Galês de 1904-05, o avivamento
em Riga, Latvia, em 1934 e avivamentos mais recentes na Romênia e
Coreia foram todos nascidos e alimentados com oração.58
Hoje, a maioria das igrejas evangélicas mantêm reuniões de oração
semanais, mas parece haver muita frieza na oração. Nós precisamos
desesperadamente igrejas que se unam no tipo de oração que o
Espírito pode usar para produzir avivamento mundial.
Nosso Dia Nacional de Oração é um passo na direção correta, mas
muito mais é necessário. Os crentes precisam orar ardentemente ao
redor do mundo todo em novos pactos de oração para o Espírito de
Deus trazer despertamento espiritual no mundo inteiro. Vamos orar
sinceramente como John Sutcliffe, “Oh que milhares e milhares,
divididos em grupos menores em suas respectivas cidades, povoados,
vilarejos, todos se encontrem ao mesmo tempo e em busca de um
objetivo, oferecendo as suas orações unidas como tantas nuvens
ascendentes de incenso diante do altíssimo! Possa Ele fazer chover
bênçãos sobre todas as tribos espalhadas de Sião!”.59
__________________
35 Johnston, The Prayer-Meeting, and Its History, 131-37.
36 Por causa de sua total discrição nos assuntos do Reino (NE).
37 Ibidem, 137.
38 Arthur Fawcett, the Cambuslang Revival (London: Banner of Truth Trust, 1971), 65-67.
39 Donald Fraser, The Life and Diary of the reverend Ebenezer Erskine (Edinburg: Williem Oliphant,
1831), 523-26.
40 Fawcett, The Cambuslang Revival, 58-59.
41 The prayer-Meeting, and its History, 110, 145; cf. Thomas Houston, The Fellouship prayer-meeting,
80-84.
42 Cf. F. W. Bullock, Voluntary religious societies, 1520-1799 (London, 1963).
43 Citado em Johnston, The Prayer-Meeting, and its History, 154.
44 Fawcett, The Cambuslang Revival, 71-72.
45 Johnston, The Prayer-Meeting, and Its History, 165-66.
46 Citado por ibidem, 173.
47 Jonathan Edwards, A Call to United, Extraordinary Prayer (Ross-shire: Christian Focus, 2003), 16-17.
48 Ver Edwards Charles Lyrene, Jr., “The Role of Prayer in American Revival Movements, 1740-1860”
(Ph. D. dissertation, Southern Baptist Theological Seminary, 1985), para um estudo proveitoso de
Edwards sobre o pacto de oração.
49 Edwards, A Call to United, Extraordinary Prayer, 18.
50 Revival Sketches and Manual (New York: American Tract Society, 1859), 55 ff.
51 Erroll Hulse, Give Him No Rest: A call to prayer for revival (Durham: Evangelical Press, 1991); 78-79.
52 Lyrene, “Prayer in American Revival Movements”,97-100.
53 Timothy Duvight, Theology Explained and defended, 4:127.
54 Lyrene, “Prayer in America Revival Movements”, 102; Oliver Wendell Elsbee, The Rise of the
Missionary Spirit in America: 1790-1815 (Williamsport, PA.: Williamsport Printing and Binding, 1928),
47-83; Charles L. Chaney, The Birth of Missions in America (South Pasadena, Calif.: William Carey
Library, 1976)154-79.
55 Publicado pela PES com o título: Um Guia Seguro Para o Céu.
56 Johnston, The Prayer-Meeting, and Its History, 185-87.
57 Cf. Lyrene, “Prayer in American Revival Movements”, 187-218.
58 Hulse, Give Him No Rest, 103-107.
59 David Austin, The Millennium (Elizabeth Town, N. J.: Shepard Kollock, 1794), iv.
Os Propósitos das Reuniões de Oração

De acordo com John Brown de Haddington, reuniões e sociedades


de oração servem aos seguintes propósitos:

1. Promover e aumentar o conhecimento das verdades, ordenanças e obras de Deus (Cl.


3:16, Sl. 111:2).
2. Expressar e exercer simpatia mútua entre os membros (Rm. 15:1-2; Gl. 6:2).
3. Provocar e encorajar um ao outro à virtude e à santidade em todos os tipos de
conversação (Hb. 10:24-25; Ef. 4:15-16).
4. Comunicar um ao outro os dons e graças para a mútua edificação (1Pe. 4:10; Ef. 4:12-
13).
5. Oferecer (futuros membros), observadores fieis e amigáveis, conselheiros e
exortadores uns dos outros (1 Tes. 5:14; Hb. 3:13; 10:24).
6. Que (os membros) possam juntar-se em oração, louvor e exercícios espirituais (Mt.
18:19-20)60.

A lista de Brown resume a fundamentação escriturística das


reuniões de oração. Há propósitos adicionais para reuniões de oração:

7. Orar juntos é frequentemente o meio que Deus utiliza para iniciar ou intensificar o
avivamento.
8. Orar juntos aumenta o compromisso dos crentes com o reino de Jesus Cristo no lar,
através da nação e ao redor do mundo.
9. Orar juntos provê um importante oásis espiritual numa semana atarefada. R.J. George
escreve: “Ele vem no meio do caminho entre os “shabats” (sábado Cristão) para
interromper o curso tumultuoso do mundanismo e arrancar o Cristão à parte dos
exigentes cuidados desta vida terrena; e o faz assentar-se nos lugares celestiais com
Cristo.”61 Reuniões de oração cultivam um espírito devocional benevolente, tanto quanto
uma força interior serena em meio às provações.62
10. Orar juntos aumenta a unidade na igreja. Como diz Johnston, nas reuniões de oração a
“unidade tem o seu nascedouro; aqui ela é embalada; aqui ela é treinada; aqui ela se torna
a corda de três dobras; aqui ela é o centro da unidade da igreja; pois aqui é o solo — o solo
ameno ao lado das águas — onde a unidade finca profundamente suas raízes, e de onde
surge a força da vida para uni-las numa bela fraternidade”.63

Peter Masters assim coloca: “No ajuntamento de oração, a


preocupação conosco mesmo, como crentes individuais, desaparece e
nós nos tornamos um grupo de pessoas que anseiam pela bênção uma
das outras, e pela prosperidade da causa. Nos ajuntamentos de oração
nós somos refinados e afinados como um corpo unido de pessoas. Eles
consolidam uniões e promovem respeito. Nós ouvimos a oração um do
outro; nós nos submetemos uns ao outros; nos apreciamos um ao
outro. Nós sentimos, como o dito antigo, os espíritos uns dos outros e
somos aquecidos e aprofundados em unidade e estima. Para adotar
uma frase muito usada, a igreja que ora unida permanece unida”.64

11. Orar juntos torna útil a vida espiritual da igreja para o bem de todos os ministérios da
igreja. Quando os membros são chamados a exercer seus dons facultados pelo Espírito em
oração, o poder espiritual gerado desta reunião impregna todos os outros ministérios da
igreja. Assim, a reunião de oração serve como um importante elo de ligação entre o poder
do Espírito e a instrumentalidade humana.65
12. Orar juntos aumenta nos crentes a centralidade em Cristo. David Bryant escreve:
“Piedade é a resposta natural de um coração que é totalmente alcançado por tudo que
Cristo é para nós e por nós, sobre nós e dentro de nós, através de nós e antes de nós e
junto de nós. Cristo define nossa agenda de oração. Cristo abre a porta do céu para
apresentar as nossas orações. Cristo nos dá unidade em si mesmo até mesmo quando
oramos. Cristo é a última resposta para as nossas orações. Em outras palavras, a oração e a
supremacia de Cristo devem caminhar juntas para sempre”.66
13. Orar juntos provê educação em oração para toda a igreja. Os crentes crescem no dom
da oração enquanto ouvem outros orarem. Eles aprendem a apreciar a especificidade na
oração, e a intercessão que batalha centrada em Cristo, e os novos modos de expressão. O
ferro aguça o ferro. Os jovens crentes aprendem dos mais velhos, e os crentes mais
velhos são encorajados pela petição sincera dos mais jovens.67
14. Orar juntos melhora a oração em particular. Ela nos faz perceber que, devido às
intercessões de Cristo e aos verdadeiros crentes, toda vez que oramos, estamos entrando
numa reunião de oração de vinte e quatro horas. Certamente isto deve aumentar nossa
expectativa e fervor quando oramos em “particular”.
15. Orar juntos demonstra nossa completa dependência do poder soberano de Deus e
suas graciosas bênçãos para todos os seus ministérios e todo o nosso trabalho na igreja e
no reino de Deus. É um reconhecimento corporativo de que sem Cristo nada podemos
fazer e de que com Ele nós temos grandes expectativas. Orar juntos aju​da-nos a voltar os
nossos olhos para o céu, para o Deus da colheita que prometeu grandes coisas. Focaliza
nossas mentes numa larga escala de bênçãos.68
__________________

60 Brouon, Christian Journal, 18-19.


61 R. J. George, Lectures in Pastoral Theology, Second Series: Pastor and People (Nova York: Christian
Nation, 1914),30.
62 Thompson, The Prayer Meeting and Its Improvement, 19,27.
63 Johnston, The Prayer Meeting and History, 77.
64 The Power of Prayer Meetings, and Its History, 77.
65 George, Lectures in Pastoral Theology, Second Series: Pastor and People, 30-31.
66 Edwards, A Call to United, Extraordinary Prayer, 24.
67 Masters, The Power of the Prayer Meeting, 16.
68 Ibidem., 15.
Implementando Reuniões de Oração

Aqui está uma ordem sugerida e um roteiro de horário para uma


reunião congregacional de oração:
7:30 – 7:45 Abertura pelo líder.

Um líder indicado pelo Conselho abre a reunião com o cântico de


um Salmo apropriado, uma leitura das Escrituras, curta, e uma breve
meditação envolvida com uma verdade sucinta, que aqueça o coração,
destinada a despertar da letargia e edificar os famintos
espiritualmente. George adverte: “Objetivo ter as anotações práticas,
experimentais e devocionais, ao invés de doutrinais ou
controversas”.69 Toda a abertura, incluindo a meditação, não deve
exceder quinze minutos. O líder deveria fazer a meditação com as suas
próprias palavras, embora ele possa, na ocasião, escolher ler algum
comentário edificante de um autor bíblico.
7:45 – 7:50 Recolhimento dos pedidos de oração.

Nos próximos cinco minutos o líder recolhe os pedidos de oração


(tanto verbais quanto escritos). Estes deveriam focar a glória de Deus
e a vinda do seu reino. Eles podem incluir orações pelas necessidades
de pessoas e famílias, igrejas específicas, a denominação de alguém, a
nação, programações evangelísticas, ou um ministério da igreja. O
líder então lê a lista e encoraja as pessoas a orarem sem pausas
extensas e com volume suficiente para que outros possam ouvir.70
Pedidos de oração particulares ou banais deveriam ser evitados numa
reunião pública. Nada pode desanimar uma reunião de oração tão
depressa como longas pausas, orações inaudíveis e pedidos triviais.
7:50 – 8:25 Oração pelos membros

As pessoas devem ser lembradas de que toda oração precisa da


bênção do Espírito Santo. A oração deve ser oferecida no espírito
correto: Arrependimento humilde, confissão humilde, petição
humilde, ardor humilde e louvor humilde. E toda oração deverá ser
pronunciada no nome de Jesus Cristo, fora de quem nenhuma oração
é realmente respondida.
8:25 – 8:30 Oração final e doxologia

Depois de cerca de uma hora o pastor ou líder deverá encerrar com


uma oração. Se o período de silêncio, após uma oração apresentada,
tornar-se excessivamente longo, o líder pode escolher terminar a
reunião um pouquinho antes. A reunião poderá ser concluída com o
cântico de um outro salmo ou a doxologia.
__________________
69 George, Lectures in Pastoral Theology, Second Series: Pastor and People, 39.
70 Spurgeon, Only a Prayer – meeting, 20.
Regras Sugeridas e Modelos Práticos
1. O Conselho (Conselho de presbíteros) deverá supervisionar os encontros e escolher a
pessoa que vai dirigir a abertura devocional para cada encontro. Um subcomitê poderá ser
designado para implementar as reuniões de oração, mas o Conselho reterá a palavra final.

2. O Conselho deve prover os membros da igreja com roteiros de reuniões de oração.


Esses roteiros deverão incluir uma pequena lista dos propósitos das reuniões de oração. O
documento deverá encorajar toda a congregação — incluindo as crianças — para
participarem destas reuniões de oração.

3. O Conselho deverá enfatizar que apenas membros professos da congregação podem


dirigir os encontros e orar neles em voz audível. Isso evitará problemas que poderiam
surgir se visitantes oram sem conhecer os roteiros das reuniões.

4. O local, a hora e outras especificações da reunião de oração deverão ser bem claras.
Estes detalhes devem ser impressos no boletim. O pastor deverá orar por elas
regularmente do púlpito, enfatizando sua importância para a congregação. Ele deverá,
regularmente e calorosamente, encorajar todo o rebanho a comparecer a estas reuniões,
elevando-as acima de todas as outras atividades e ministérios da igreja. Estas reuniões
devem ser realizadas em vários locais da igreja cuja acústica seja boa e os assentos
confortáveis. Se for usado um microfone, as pessoas devem ser orientadas quanto à
distância que ele deve ser colocado, da boca.

5. As pessoas devem ter atitudes humildes e afetuosas, umas para com as outras, durante
toda a reunião. Isso significa evitar problemas, discussões ou expressões controversas na
oração, como também termos que sejam difíceis para a compreensão da média dos
membros. O tempo de oração não deve ser usado para pregar ou explicar doutrina ou
corrigir alguém. Uma reunião de oração não é o lugar para debater ou argumentar.
Reuniões de oração são edificantes apenas quando elas focalizam as necessidades comuns
de oração.

6. As pessoas deverão orar por grandes e pequenas coisas. Deverão orar para a glória de
Deus, o crescimento do seu povo, a conversão dos pecadores e o avivamento mundial.
Elas deverão orar pelos seus ministros e missionários e os estudantes de teologia para
que sejam ungidos pelo Espírito Santo, por seus ofícios, para que sejam fieis, para a igreja
viver em unidade e paz, e por todos os ministros das igrejas para que floresçam e
produzam frutos cêntuplos. Deverão orar pelos idosos, pelos que vivem sós, pelos
doentes e pelos jovens. Devem orar pelos casamentos problemáticos, famílias falidas,
filhas e filhos pródigos. Deverão orar pelos líderes do governo, pela renúncia de pecados
públicos tais como aborto e quebra do Dia do Senhor e pelo retorno da verdade bíblica e da
moralidade na terra. Mas deverão orar também por coisas menores, pedidos pessoais de
oração, focalizando um ou dois deles — preferencialmente aqueles que ainda não foram
pedidos, de modo que suas oração, como regra geral, não excedem cinco minutos. Aqueles
pelos quais se ora deverão ser mencionados pelos nomes. Suas necessidades específicas
deverão ser indicadas, tanto quanto Paulo fez em Romanos 16 e em outras epístolas.71

7. As pessoas numa congregação têm vários dons. Numa reunião de oração, deverão
lembrar que Deus não valoriza a oração de acordo com a eloquência ou a habilidade delas,
mas, ao invés, de acordo com o coração. Nenhuma pessoa deve ser reprovada por hesitar
ou tropeçar na oração. Ao contrário, devemos suportar as fraquezas uns dos outros.

8. As pessoas devem orar particularmente antes destas reuniões pela bênção do Espírito
Santo. Elas devem pedir a Deus a bênção do avivamento, baseado nas Escrituras, pela obra
do Espírito. Como disse Spurgeon: “Não vamos vacilar através da incredulidade, ou
oraremos em vão. O Senhor diz à sua igreja Abra sua boca com largueza, e Eu a encherei....
Nós queremos um avivamento das antigas doutrinas, um avivamento de santidade
pessoal, um avivamento da religião doméstica, um avivamento de vigorosa robustez
consagrada”.72
__________________
71 Errol Hulse, “A Lively and Edifying Prayer Meeting” Reformation Today, nº 95 (Jan – Fev 1987): 22.
72 Spurgeon, Apenas uma reunião de oração, 9.
A Importância das Reuniões de Oração

Erroll Hulse escreve:


Você pode dizer com um razoável grau de precisão o que a igreja é pelo comportamento ou
consistência da reunião de oração semanal. Há genuíno interesse evangelístico? Se assim
é, será expresso nas orações. Há um desejo sincero pela conversão dos membros não
convertidos da família? Se é assim, isso com certeza virá à tona. Existe uma visão mundial
e um desejo fervoroso por reavivamento e pela glória do nosso redentor no meio das
nações do mundo? Tal fardo não pode ser reprimido. Existe uma agonia de coração sobre
fome e guerra e a necessidade do evangelho da paz no meio das multidões que sofrem? A
reunião de oração da igreja responderá a essa questão. A intercessão na reunião de oração
logo revelará uma igreja amorosa que cuida daqueles que estão sobrecarregados e
oprimidos com provações e fardos. Aqueles que suportam provações muito penosas ou
pessoais para serem descritas em público encontrarão, contudo, conforto na reunião de
oração, porque ali o Espírito Santo está, especialmente, atuando.73

Edwin Hatfield concluiu seu sermão sobre reuniões de oração


dizendo que aqueles que conscienciosa e habitualmente participam
delas, com frequência “experimentam mais doce e puro deleite no
próprio exercício”, “crescem mais rapidamente e com firmeza em
graça”, “tornam-se Cristãos mais úteis, ativos e piedosos”, e “tornam-
se, por assim dizer, a vida e a alma da igreja”.74 E você? Não é isso o
que você deseja ser?
Você apoia as reuniões de oração da sua igreja com orações
particulares e com a sua presença? Você percebeu seu valor e
propósitos? Você concorda com Matheus Henry que disse “Quando
Deus propõe misericórdia, Ele provoca oração”? Você crê que Deus
agrada-se soberanamente de unir conjuntamente avivamento e
oração? Você compreende que o sucesso do seu pastor e missionários
está intimamente ligado com as suas orações?
Você percebe o valor de comparecer às reuniões de oração como
uma família — o valor de ensinar aos seus filhos verbalmente e pelo
exemplo, e que exatamente como sua própria família é unida pela
oração conjunta, assim a família eclesial cresce e permanece junta
pela oração em conjunto? Ensine aos seus filhos que além dos cultos
de adoração efetivos no domingo, nenhuma atividade da igreja é tão
importante quanto a reunião de oração congregacional. Treine-os
para saberem que os Cristãos verdadeiros — não os políticos ou os
poderosos mundiais — têm a chave para o futuro da família, da igreja
e da nação através da instrumentalidade da oração privada e
corporativa.
Se toda a família temente a Deus, em toda igreja que honra a Deus
em torno do mundo, levasse à sério a reunião de oração
congregacional, que impacto teria isso ao redor do globo? Se Deus
concorda fazer o que dois ou três pedem em concordância com a sua
vontade, o que fará Ele se milhares e milhões pedirem de acordo com
a sua vontade? Eu creio que a história da Escritura e da Igreja nos
ensinam que o futuro dos nossos filhos, da nossa família, da nossa
igreja e de nossa nação, dependem do povo de Deus atacar unido o
trono de misericórdia. A oração é o meio normal que Deus utiliza para
derramar bênçãos celestiais sobre a terra.
Se o seu ministro anunciasse que na sua próxima reunião de
oração o apóstolo Paulo estaria presente, toda a congregação iria
participar. Isso naturalmente não acontecerá, mas algo mais
importante haverá: O Senhor Jesus Cristo estará lá. Ele é o hóspede
silencioso que, contudo, fala em cada reunião de oração onde dois ou
mais estão reunidos em Seu Nome. Ele promete não faltar uma
reunião. Ele ouvirá toda oração sussurrante. Ele a todas leva ao
coração.
Costumeiramente registramos nossos apontamentos no nosso
calendário. Você marca as reuniões de oração da sua igreja no seu
calendário como compromissos da mais alta prioridade para a sua
família inteira? Você se prepara para eles e tenta trazer um amigo ou
dois com você?
Em Sugestões e Pensamentos Para Cristãos, o pastor do século XIX,
John Todd, escreveu dois capítulos intitulados, “Como Tornar
Aborrecidas Nossas Reuniões de Oração” e “Como Tornar Atraente
Nossa Reunião de Oração”. Para tornar uma sessão de oração
aborrecida ele, de fato, sugere: “Suponha que a reunião é hoje à noite.
Não ore sobre ela hoje. Tente encontrar alguma desculpa para estar
fora. Não está bastante cansado? Não está com um resfriado? Se você
realmente for, chegue tarde. Não sinta qualquer responsabilidade
para orar. Ou então, use o seu tempo de orar para censurar aqueles
que estão presentes. Então, após a reunião, critique na presença da
sua família aqueles que oraram”.75
Tornar uma reunião atraente dá mais trabalho. Aqui está um
resumo do que Todd sugere: “Deixe a reunião de oração viver em seu
coração. Considere um versículo ou um pensamento ou dois que
possam ser proveitosamente oferecidos na oração. Ore pela reunião
no culto [doméstico] da sua família. Ore para que Cristo seja
manifestado neste encontro. Ore para que o Espírito Santo possa estar
presente para aquecer, alegrar e animar cada coração. Sinta-se
responsável por ela. Faça dela um dever solene, um hábito e um
privilégio estar nela. Acima de tudo, ore na reunião, participe. Deixe
sua oração ser curta e diferente. Não toque na mesma tecla. Evite orar
por aquilo que já foi mencionado. Seja esperançoso e cheio de
expectação; acredite em Cristo quando Ele promete estar no meio de
mesmo dois ou três reunidos em Seu Nome”.76
Queridos amigos, vamos guardar como um tesouro as reuniões de
oração. Vamos nos engajar nelas com todo nosso coração, lembrando
que avivamentos usualmente começam com reuniões de oração. Como
um teólogo colocou: “O Espírito Santo ama responder petições que
são avalizadas com muitas assinaturas”.
Continuemos orando. Oremos sem cessar. Deus é capaz de fazer
“infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos” (Ef.
3:20). Quem pode dizer o que Ele fará?
__________________
73 “The Vital Place of the Prayer Meeting” (Pensacola, Fla.: Chapel Library, n. d.), tratado-3, página de
abertura.
74 “The Social Prayer-Meeting,” em The Americam National Preacher 8, 18 (1844): 177-80.
75 Cf. Phil Arthur, “How to Spoil a Prayer Meeting”, Evangelical Times, Sept.2005, p. 15.
76 Hints and Thoughts for Christians (New York: American Tract Society, 99-110.
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