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Janaira Caroline da Silva Rodrigues
RESUMO
Independente da época escrita, grande parte das obras literárias apresenta pelo
menos uma personagem feminina, estas podem ser representadas de distintas formas
tomando como base diversos aspectos, dentre os quais, pode-se ressaltar o contexto
sócio-político e econômico no qual estão inseridas. Por isso cabe ressaltar que é
inverossímil esperar que as personagens tenham comportamentos muito diferentes do
contexto ao qual estão inseridas principalmente se esse personagem for feminino
devido, sobretudo aos estereótipos já carregados por estes ao longo dos séculos. A
autonomia feminina consiste em uns dos aspectos que tem sido amplamente discutidos
no contexto de representação de mulheres nas obras literárias contemporâneas e este
aspecto pode ser encontrado mais facilmente denominadas de neorregionalistas
,conforme demonstra Brito (2017) .
A análise se dará por meio do estudo das personagens Dona Sinhá, sua
comadre Adriana e Dona Amélia esposas dos três personagens masculinos, os quais
intitulam os três capítulos que compõem a obra . Este estudo terá embasamento na
Crítica Feminista.
(...) Cala a boca Zeca! A gente não está aqui pra ouvir besteira.
- Nesta casa mando eu. Quem bate sola o dia inteiro, quem está amarelo de
cheirar sola de amansar couro cru ? Falo o que quero seu Laurentino. Isso
aqui não é casa de Vitorino Papa Rabo ,isso aqui é casa de homem .
DONA SINHÁ
A velha Sinhá é a esposa do seleiro José Amaro uma mulher que leva a vida
dedicada aos serviços de casa e a sua família, no entanto a pesar de sempre tentar
agradar ao esposo e a filha vive levando patadas, seu esposo tratava-lhe de forma fria
como se esta fosse uma mera empregada. Sinhá sofra pelo desgosto que seu marido
tinha por ela não conseguir lhe dar um filho homem. E a filha por vezes, cansada das
brutalidades do pai descontava seu remorso na mãe. Esta forma de se ver como superior
em relação a sua esposa pelo seleiro é expressa em diversos trechos ao longo do
primeiro capítulo da obra.
Sinhá era mais velha que José Amaro, casou-se para não ficar sem casamento,
já tinha idade avançada, como as demais moça da época,sua união era um casamento
arranjado do qual ela não se agradara desde o inicio , o mestre Amaro não tinha boa
aparência e sua saúde também não era das melhores devido ao trabalho que exercia,
mas para não ficar com fama de moça solteirona ,casou-se . No entanto, ela não
suportava nem se quer o cheiro que seu esposo exalava, mas com o tempo acabou por
acostumar-se:
Sinhá era o fardo da vida de Zé Amaro, pois não tinha cumprido com o absurdo
papel imposto ás mulheres naquela época, de lhe dar um filho homem, por conta dela o
filho homem não viera e todos os planos do seleiro foram frustrados (REGO 1936, pág.
13). Ela sempre respondona tomava as dores e a filha que chorava feito manteiga
derretida eram a causa de seus problemas e de toda sua raiva (REGO 1936 pág. 13-14).
(...) A velha Sinhá correu para ver passar o carro. O mestre José Amaro
olhou para a mulher com seus olhos amarelos com uma raiva mortal nas
palavras que lhe saíram da boca:
– Cala a tua boca, homem infeliz cala a tua boca. Deixa a desgraçada da
tua filha sofrer quieta. . O mestre sentou-se outra vez. O martelo estrondou
na paz da tarde que chegava . (REGO, 1936 pág. 19).
Todo este contexto poderia fazer com Sinhá fosse vista como uma pobre
mulher sofrida, digna de pena por todos, no entanto com seu jeito simples de reclamar
as grosserias do marido, ao longo da narrativa diversas vezes, sendo isso não apenas no
momento em que estavam a sós mas mesmo diante dos outros ,embora na maioria
delas, o mestre Zé Amaro tente lhe fazer calar-se , demonstram que Sinhá inicia sua
luta por sua autonomia de expressão contestando os xingamentos do marido e sua
tentativa de insultá-la e diminuí-la juntamente com sua filha. Sinhá é uma mulher
simples e sem instrução, mas consciente que mulher não é para aguentar insultos e
humilhações de homem como se fosse animal. E esta atitude muita das vezes ,conforme
se percebe ao longo da narrativa é o que causa a irritação de seu esposo que como
membro de uma sociedade marcadamente machista e patriarcal considera inadmissível
que mulher ou negro segundo ele mesmo pondera , tenha direito a expor sua opinião ou
mesmo sua voz sem que lhe seja pedido.
Sinhá já que não tinha um casamento feliz almejava liberdade, queria ser como
sua comadre Adriana, dona de sua casa e suas decisões, desejava que José Amaro fosse,
mais humano como era seu compadre Vitorino (REGO, 1936 pág.46). Apesar de sua
Ainda que timidamente, Sinhá vai ganhando forças para tomar atitudes que
modiquem o seu futuro; seu indicio de autonomia se dá quando seu esposo é preso por
ajudar o bando do capitão Antônio Silvino, tempos depois da internação de sua filha.
Momento em que ela decide abandoná-lo de vez. E esta atitude era muito severa para a
época e traria para ela como mulher diante da sociedade, diversas formas de
preconceitos os quais a personagem demonstra não estar tão preocupada, a prisão de seu
esposo representou para ela a oportunidade de libertar-se de um casamento que não deu
certo e que acabou por levar a loucura sua única filha, constituindo assim um primeiro
momento de demonstração da transição do comportamento feminino na construção do
que posteriormente será denominada autonomia feminina.
DONA ADRIANA
(...) Lembrou-se então do seu filho Luís que o mestre José Amaro apadrinhara nas missões.
Estava longe daquela vida, da desgraça do pai. O menino era tão diferente de Vitorino, tão calmo, tão
cheio de carinho para com ela. Quis que ele fosse para a Marinha para que não sofresse com o pai que
tinha. A saudade do filho apertou o coração de sinhá Adriana. Já devia andar ele de mar afora. Escrevia
de vez em quando, mas nunca mais que voltava para a casa. Fora-se para a escola de grumetes do Rio,
devia já ter o seu posto. Luís fugia do pai. Não era por ela não. Era pelo pai. E o andar vagaroso, com a
estrada quase no escuro, ia ela pensando no seu filho querido que se fora, que nunca mais veria. Luís
sofrera muito com a vida do pai. Não era para menos. Um pai com um apelido, um pai mangado,
servindo de graça para todo o mundo. Pobre do Vitorino! Ela às vezes perdia a paciência, era bruta para
com o marido. O mestre José Amaro, o seu compadre, lhe dizia: “Comadre Adriana, um homem como o
seu marido dá dor de cabeça.” Mas o que fazer para mudar a vida de Vitorino? Tudo que uma mulher de
paciência podia fazer ela fizera. Tinha que trabalhar para sustentar a casa. Vitorino levava dias sem
aparecer, sem dar notícias, correndo o mundo, dando desgosto. Só em pensar que o filho crescesse com
aquele exemplo doía-lhe a alma. Botara o coração de lado, mas mandara o menino para a Marinha.
Ouvira muita censura, muito agravo por isto. Como era que se mandava um filho único para a Marinha!
Chorou muito, perdeu noites, ficou velha, mas mandou o menino. Agradecia ao povo do Santa Rosa pelo
que fizera para a entrada de Luís na escola da Paraíba. Não se arrependeria nunca. Deus e a Virgem
Maria protegessem o seu filho por este mundo de perdição (REGO 1936, pág. 41).
DONA AMÉLIA
Dona Amélia é a mulher do senhor Lula de Holanda, filha de um dos grandes nomes
daquela região seu pai fora o dono da Santa Fé , um grande senhor de Engenho que
sonhava em encontrar para a filha um partido à sua altura . Ela ao contrário das moças
da região além de muitas prendas era uma moça de instrução, que estudou fora ,lia
muitos livros e sonhava em encontrar alguém compatível com suas qualidades que a
tratasse como uma mulher deve ser tratada , este também era o sonho de sua mãe
Mariquinha para a filha. Assim Amélia representa a mulher que não mas se limita a
aprender tarefas domésticas, mas que estuda , que busca conhecimento, que sabe
dialogar sobre diversas coisas e conhece outras artes como, por exemplo a música .
Amélia sonhava com um casamento diferente, quem sabe um casamento por amor, no
entanto fora seu pai que lhe escolheu por esposo o primo de sua esposa Lula de
Holanda, esta, contudo teve afeção pelo rapaz.
Amélia não era como as outras senhoras, de viver enfiada em cozinhas, era
moça de educação, muito fina (REGO, 1936, pág, 37). Enquanto tinha seu pai vivo ela
teve um bom casamento, fato que logo mudou, e tornou-se por após o nascimento de
sua filha. Amélia tinha tudo para ser uma mulher satisfeita , mas iludiu-se com seu
casamento que embora totalmente fracassado , com uma esposo interesseiro e que não
se importava com os negócios de família, tratou sua mãe mal até a morte , era arrogante
, tratava mal os seus trabalhadores e gastava todo o dinheiro que seu pai havia lhes
deixado anda por cima passa a fazer como seu sogro desfeitas com todos os rapazes que
se interessam por sua filha, julgando-lhe superior a todos da região .Passando depois a
deixar de se importar com toda a vida do Santa Fé que aos poucos a ruína. Fazendo com
que sua esposa Amélia tome as rédeas ainda que de maneira implícita busque formas de
manter as despesas da casa :
(...) Tudo havia passado. Tudo era agora aquela mansidão, a pobreza de uma
casa-grande que se escondia das vistas dos outros. Sim, todos ali viviam a se
esconder dos ricos e dos pobres. E ela mesma é quem mais força fazia para
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cabe ressaltar que esta visão de subserviência, no entanto não é própria apenas
de homens, mas de muitas mulheres. O objetivo primordial foi avaliar a representação
feminina na referida obra, mostrando que autonomia feminina não se deu da noite para
o dia, mas foi construída ao longo do tempo, que ao contrário do que muitos pensam,
ela não é um aspecto de vertente feminista radical, em que mulheres e homens vivem na
literal guerra dos sexos, ela não cabe a rivalizações, mas é uma característica presente
em mulheres que embora possam ter valores influenciados, pela sociedade, não se
deixam, contudo, ser reféns desta.