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FACULDADE MERIDIONAL IMED

Ana Carolina de Souza


Eriberto Carlos Rodrigues Branco

CULTURA DO CANCELAMENTO

Passo Fundo - RS
2020
CULTURA DO CANCELAMENTO

INTRODUÇÃO

A cultura do cancelamento é um movimento para chamar a atenção


das pessoas para as causas de justiças sociais e de preservação ambientais.
Operacionalizou-se através da publicação de fotos e vídeos nas mídias sociais de
fatos considerados errados a fim de amplificar o alcance.

Ao objetivar alcançar justiça, porém, também cometendo injustiças, até que


ponto nos responsabilizamos com o ato do cancelamento social, o simples fato de
não aprovar certas atitudes não te dá a liberdade de julgar e sentenciar as pessoas.

I- O QUE É A CULTURA DO CANCELAMENTO

Um usuário de mídias sociais presencia um ato que ele considera


errado, registra isso em vídeo ou foto e posta nas suas redes sociais, marca a
empresa onde essa pessoa trabalha, influenciadores digitais, autoridades públicas
para que essa postagem possa ser amplificada ao maior número de pessoas
possível.

Esse tipo de movimento já aconteceu na época de 1880 através do boicote,


que tem o mesmo objetivo que o cancelamento de ignorar totalmente a pessoa,
fazer com que ela tenha uma perda econômica e indicar alguma indignação moral.

Pois na época de 1880 na Guerra Agrária Irlandesa ocorreu um fato que o


capitão Charles Boycott (aí que surge a expressão boicote), que cuidava das terras
de um senhorio e naquele ano a colheita não havia sido muito boa e foi oferecido
uma redução na renda dos seus inquilinos.

Com isso os inquilinos protestaram e o capitão Boycott tentou expulsar


algumas pessoas da terra. Foi neste momento que as pessoas começaram a evitá-lo,
deixaram de trabalhar nas terras, os empresários pararam de negociar com ele e o
correio se negou a entregar as suas correspondências.
II- TRIBUNAL DA INTERNET

Temos consciência que vários casos são julgados por tribunais de


Direito Legitimados para casos concretos. Porém, a todo instante, pessoas,
empresas, serviços, eventos são cancelados nessa cultura e esses cancelamentos
dificilmente são conduzidos ou evoluem para Processos Judiciais.

E como dizem nas próprias redes sociais, isso tudo não passa de um “fala-
fala online” e culmina em um bate-boca na internet, mas logicamente quem
“opera” com o direito muito bem sabe que danos sempre restam, e
responsabilidades civis também nessas contendas, independentemente se online ou
não.

Por isso então, afirma-se que existe um Tribunal abstrato protagonizando


no mundo virtual, julgamentos a todo instante, concretizado pelo ato no momento
em que é feito o “cancelamento”. A pessoa julga que aquela outra pessoa já é
culpada ou de ser homofobia, ou de assédio, ou de algum crime contra os animais,
ou meio ambiente, etc. Enfim, ou que ela discorde de algo e aí já sentencia o
veredito “cancelado”.

A partir daí, logicamente já se inicia toda uma rede de influências que esse
gesto desencadeia nas redes sociais em questão de minutos e doravante.

É justo que se questione sobre a possibilidade de injustiça nesses atos.

III- JUSTIÇA X INJUSTIÇA

Geralmente esse comportamento tem causas bastante justas e bem-


intencionadas, mas está gerando intolerância.

Houve o caso de um americano que ao estralar os dedos para fora do


veículo, foi filmado e xingado por outro motorista e sem saber o motivo e poucas
horas depois descobriu que estava cancelado, sem causa ou provas apenas pelo ato
aparente de que estaria fazendo o sinal de ‘’ok’’ que se refere a supremacia branca.
Depois disso ele foi demitido do emprego.

Apesar das boas intenções por trás do cancelamento virtual, o


comportamento prejudica o debate democrático e a pessoa que sofre esse ataque
geralmente não tem condições plenas de se defender.

Então fica o questionamento, até que ponto vai essa busca por justiça ?

IV- LIBERDADE DE EXPRESSÃO X RESPONSABILIZAÇÃO

A liberdade de expressão é um direito fundamental que dentro das


normas jurídicas é como um princípio e tem a possibilidade de colidir com outros
direitos, como os relativos à honra, imagem e personalidade.

Mas há responsabilização dessas pessoas que abusam da sua liberdade de


expressão ao ponto de lesar outras pessoas.

A Constituição Federal estabelece limites para a liberdade de expressão no


seu artigo 5° Incisos IV; ‘é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o
anonimato.’ V:’é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem.’ e X:’são invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito
de indenização pelo dano material ou moral decorrente de violação.’

Quanto à responsabilização, não se trata de censura, mas sim do resguardo


de direitos fundamentais tão importantes quanto a liberdade de expressão e que
devem ser respeitados. Não podemos condenar ninguém civil ou criminalmente,
apenas com opinião.

V – CONSEQUÊNCIAS

O responsável pela denúncia pode responder criminalmente, pela


prática de racismo, injúria, difamação ou calúnia, por exemplo. Em relação à
responsabilidade civil qualquer pessoa vítima de ‘cancelamento’, que se sentir
injustiçada, pode pedir indenização contra quem cometeu o ato ilícito, nos termos
do artigo 186 do Código Civil: ‘aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito’.

Então nesse sentido as pessoas têm que ter cuidado ao promoverem


cancelamentos, ainda que por busca da justiça social. Nesse contexto acabam
ofendendo a honra e a imagem da pessoa cancelada e as pessoas precisam entender
que a internet não é um mundo sem lei.

Ninguém está imune de cometer algum erro e responder por publicações


ofensivas ou criminosas nas redes.

VI - CONCLUSÃO

Por fim não há como deixar de se concluir que a “Cultura do


Cancelamento” pelo viés do direito seja um ato de julgamento, uma sentença, um
ato de “justiceiro” pelos usuários da internet que o praticam, a fim, logicamente de
punir o cancelado, por isso abordamos como existindo um “Tribunal”.

Na nossa opinião as coisas benéficas do cancelamento são as


demonstrações das coisas erradas, nos atos criminosos ou cívicos, que até então
passavam despercebidos, não só das autoridades mas para a população em geral.

De negativo, temos que ter todo cuidado na exposição da pessoa que


pretendemos denunciar, buscar informações sobre o caso para não cometer
injustiças e acabar respondendo processualmente.

Enfim, não podemos esquecer que a vítima cancelada é uma pessoa como a
gente, nós somos seres humanos e cometemos erros, antes de apontar o dedo para
o colega e julgar o seu certo ou errado, se colocar na posição da pessoa, procurar
saber se realmente a pessoa quis se manifestar daquela maneira ou ela foi mal
interpretada, ou usou um termo por engano enganado, coisas do tipo, mas de
qualquer forma não tem como se defender, na ampla defesa e no contraditório.

Então vamos ter mais empatia com o próximo, quem realmente faz coisas
absurdas comprovadamente tem que ser cancelado sim, mas tudo ponderado e nas
medidas legais.
TODA LIBERDADE, SOMENTE É BEM VINDA COM
RESPONSABILIDADE.

V – BIBLIOGRAFIA

1) https://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Me_Too
2) https://www1.folha.uol.com.br/webstories/cultura/2020/08/o-que-e-a-
cultura-do-cancelamento/
3) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2015/Lei/L13105.htm
4) Bolesina, Iuri. Responsabilidade Civil/Iuri Bolesina – Erechim: Deviant,
2019.
5) https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Boicote
6) https://www.uninovafapi.edu.br/noticias/2020/10/28/cultura-do-
cancelamento-qual-o-impacto-e-as-consequencias-dos-boicotes-virtuais
7) https://www.google.com/amp/s/g1.globo.com/google/amp/pop-
arte/musica/noticia/2020/04/20/cinco-artistas-que-foram-cancelados-
antes-de-a-expressao-cancelamento-existir.ghtml
8) https://www.bbc.com/portuguese/geral-53458452

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