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Relação Jurídica
A relação jurídica é toda a relação da vida social relevante para o Direito, isto é,
produtiva de efeitos jurídicos e, portanto, disciplinada pelo Direito.
Esta relação é composta por Sujeito (ativo ou passivo), Objeto (mediato ou imediato),
Garantia e Facto Jurídico, sendo que entende-se por facto jurídico todo o evento
produtor de efeitos jurídicos, por efeitos jurídicos entende-se a constituição,
modificação, ou extinção de uma relação jurídica.
Negócio Jurídico
Os negócios jurídicos são atos jurídicos constituídos por uma ou mais declarações de
vontade, dirigidas á realização de certos efeitos práticos, com intenção de os alcançar
sob tutela do direito, determinando o ordenamento jurídico a produção dos efeitos
jurídicos conformes á intenção manifestada pelo declarante ou declarantes.
O código civil abrange duas modalidades de negócio jurídico:
Negócio jurídico Unilateral (há só uma declaração de vontade) – Art. 459º; 2179º;
1569º\5; 288º
Negócio jurídico Bilateral (contratos), (existem duas ou mais declarações de
vontade). Os contratos podem ser bilaterais unilaterais (art.967º) e bilaterais bilaterais
(art.874º)
Proposta
É uma declaração pela qual uma pessoa manifesta a outrem a sua intenção de celebrar
determinado negócio, destinado a integrar o correspondente conteúdo, se este vier a
verificar-se ou concretizar-se.
É uma proposta de declaração recipienda.
O autor da proposta é designado por proponente e aquele que é dirigida a proposta
designado por destinatário.
Proponente: ao emitir a sua declaração, toma a iniciativa do negócio, afirmando não só
que pretende celebrar a referida declaração, como também tem o intuito de dar a
conhecer a correspondente vontade negocial.
Sendo fácil, de distinguir uma proposta negocial verdadeira de uma proposta negocial
destinada a provocar uma proposta de outrem.
Porém o autor desta declaração negocial, manifesta apenas a sua disponibilidade para
receber propostas, em vista da celebração de um determinado negócio, podendo
convidar ou incitar terceiros a formula-las.
Por regra, quando uma das partes toma iniciativa negocial, a proposta é, dirigida a uma
pessoa determinada, com quem ela intenta a vir a celebrar o negócio. No entanto quando
a proposta é dirigida a uma generalidade de pessoas, o que existe é uma oferta pública.
Modalidade da proposta
Os meios de formulação da proposta podem ser mediante, oferta ao público são muito
diversificadas, podendo indicar-se a emissão de impressos dirigidas a uma
multiplicidade de interessados, a fixação de tabuletas ou outros meios equivalente e até
a simples exposição de mercadorias em estabelecimentos públicos.
É um convite a contratar = de proposta.
Validade da proposta
Em primeiro lugar, depende do seu conteúdo, a proposta quanto ao conteúdo tem que
ser completa, em todos os sentidos e que obriguem a ter todos os elementos específicos
de futuro contratos. A formação do acordo basta um sim, um aceito do destinatário, ou
seja, a mera adesão à proposta que em si já contem a substancia do contrato, tudo está
dependente da aceitação apenas.
A proposta deve revestir a forma exigida para o negócio jurídico correspondente.
Eficácia da proposta
Na eficácia da proposta negocial, devemos distinguir dois pontos:
1. O que diz respeito aos termos em que se torna eficaz
2. Definir os efeitos que a proposta produz
Temos também que saber / identificar qual a duração e por consequência a esta, quais
são as causas de cessação da sua eficácia.
Assim, a proposta torna-se eficaz:
Nos termos do artigo 224º, cujo o regime torna-se mais claro se na sua interpretação
tivermos em conta diversas posições isto em função dos momentos que correspondem, à
declaração negocial. De acordo com o 224º nº1 – em primeiro lugar, refere-se ao
momento da receção da proposta, mas pode ser feito por mais do que uma via, o seu
conhecimento. O conhecimento da proposta, pode preceder a sua receção e deste modo
torna-se mais relevante. Porem no nº3 – resulta do conhecimento a sua relevância. E que
a receção ocorra nos termos sem que o destinatário tenha culpa, quando a proposta não
consiga ser do seu conhecimento e deste modo a proposta não é eficaz.
Nº2 – a proposta, a sua receção, não se verificar, por culpa, do destinatário a proposta é
eficaz, ou seja, tudo o que se passar é como fosse do conhecimento do destinatário.
São os termos que permitem afirmar qual o período, que a proposta tem eficácia e que
se mantém. Pode ser voluntária ou legal. A vontade é relevante para a fixação do prazo
de eficácia da proposta, pode ser pelo próprio proponente ou das partes. Sendo que a
relevância pode ser direta ou indireta, segundo o disposto no artigo 228º nº1 a)
Nº1 a) o proponente ou as partes, por acordo podem estipular o prazo da duração da
proposta. Na falta de estipulação, as alíneas b e c) desse mesmo preceito estabelecem
prazos, isto como fonte legal e não voluntaria. Tem natureza supletiva.
Nº1 b) estatui que a proposta se manterá pelo tempo necessário, para que ela e a
aceitação em condições normais, cheguem ao seu destino. A lei não fixa, nenhum
regime/prazo, especial para esta matéria. Mas temos que ter em conta o meio de
comunicação utilizado e solicitado pelo proponente, assim :
Condições normais: a aceitação das propostas e a receção das mesmas não serão as
mesmas para todos os meios que o proponente tem á sua disposição.
Verbal: a resposta é imediata, isto porque, é frente a frente. A proposta e eficaz
naquele momento se for embora caduca = torna se ineficaz a proposta se estipularam
prazo remete para a alínea a).
E-mail/fax: a receção é simultânea, lê quase imediatamente. A proposta é eficaz,
nestes termos, se for enviado antes das 12h00, espera até às 12h00 e conta 12h00, ou
seja é eficaz até ás 00h do próprio dia. Se a proposta for enviada depois das 12h00,
espera se até ás 00h00 e depois conta 12h00, será eficaz até as 12h00 do dia seguinte.
Carta: o prazo de eficácia são 6dias, ou seja, para a proposta chegar ao destinatário
contamos 3 dias, e para aceitação contamos mais 3 dias para chegar ao proponente de
novo, a eficácia da proposta são de 6 dias neste caso 3 para cada um
(proponente/destinatário).
Nº1 c) se não for pedida resposta imediata fixa-se um prazo adicional de 5 dias.
E.mail/fax – 12h + 5 dias, carta 11 dias, há autores que dizem para o verbal são 5 dias
na mesma e outros dizem que se é verbal é sempre resposta imediata e após ir embora
sem dar resposta caduca, não é pacíficas as opiniões em relação á resposta verbal (seja
presencial ou por telefone).
Nota: Quando se fixa um prazo, este prazo começa-se a contar a partir das 00h00 do dia
da proposta, para que não haja duvidas, salvo exceções já referidas como fax ou e.mail.
Notas relevantes:
Artigo 231º - vicissitudes da proposta – regra do nº1, a morte do proponente não
implica necessariamente o fim do contrato, remete para o artigo 226º. Porem no nº2,
Incapacidade do destinatário torna ineficaz a proposta, também remete para o artigo
226º.
Ver artigo 229º – tem que ser tempestiva
Artigo 233º aceitação com modificações. Regra geral – importa a rejeição, exceção – se
for precisa nova proposta.
Artigo 234º - não é o que parece, não é uma verdadeira dispensa. Dispensa a declaração
expressa.
Artigo 235º - é o inverso da irrevogabilidade da proposta – efeitos da revogação
Artigo 227º - responsabilidade pré – contratual, gera obrigações de indemnização.
1. Aceitação
É a declaração pela qual o destinatário de uma proposta negocial, ou qualquer
interessado na oferta ao público, manifesta a sua concordância com o respectivo
conteúdo.
Sendo uma declaração recipienda.
O código civil, não estabelece um regime específico para a aceitação, salvo no que diz
respeito á revogação artigo 235º nº2, deste modo teremos de usar e aplicar o mutatis
mutandis, o regime da proposta = perceber o regime do artigo 235º nº2. Como também
se extrai o contrário sensu, que a aceitação é irrevogável, quando é recebida pelo
proponente.
Revogação – á semelhança da proposta, se o mesmo tempo da sua recepção pelo
propronente, ou antes dela, chegar ao poder deste ou dele for conhecida, a declaração é
revogável. É importante a aceitação para se saber se houve ou não conclusão do
contrato.
2. Rejeição
É uma declaração pela qual o destinatário de uma proposta negocial manifesta a sua
recusa de proposta. É uma declaração recipienda, a que, na falta do regime
especificamente para ela definido, se aplica analogicamente o regime da proposta.
A rejeição representa o exercício de uma faculdade potestativa contraria á aceitação. A
rejeição além do seu efeito natural de recusar a sua celebração, tem que implicar a
renuncia ao direito de aceitar.
Para o destinatário revogar a rejeição terá de aplicar o artigo 230º nº2 –
correspondentemente aplicado.
3. Contraproposta
É fácil definir a contraproposta, como declaração recipienda, da autoria do destinatário
de uma proposta, pela qual este só declara disposto aceita-la, com algumas
modificações, têm que ser suficientes e precisas, ou seja, a contraproposta é uma
rejeição tácita da proposta, perde eficácia a outra proposta, é substituída por uma nova
proposta, e nova eficácia.
Representação
A atuação, é feita em nome do representado artigo 260º ou no interesse do representado,
tendo margem de negociação.
A margem de negociação, é diferente do núncio (mensageiro), dai aplica-se o regime do
artigo 259º, os efeitos produzem se em nome do representado e não do representante.
Conceito
A representação, é uma prática de um ato jurídico em nome de outrem, e é na esfera
jurídica de outrem que se produzem os efeitos jurídicos. Para que a representação seja
eficaz, é necessário que o representante atue, nos limites dos poderes que lhe compete.
Se celebrar um negócio, onde não tinha os poderes necessários é preciso que o
representado ratifique o negócio em causa (art.258º). Os poderes de representação
podem ser: legal ou voluntário.
Cláusulas acessórias
1) Condição
As noções de condição suspensiva e de condição resolutiva, constam no artigo 270º,
sendo uma subordinação pelas partes a um acontecimento futuro e incerto, como
também de produção dos efeitos do negócio jurídico – condição suspensiva ou de
resolução dos efeitos – condição resolutiva.
Natureza – estipula-se esta condição, uma vez que se trata de uma vontade
hipotética, embora atual e efetiva, exteriorizada numa declaração única e incindível.
Condição impropria
É uma condição que não reúne todas as qualidades que caracterizam a condição
verdadeira própria:
1. Evento futuro, ao qual é subordinada a eficácia do negócio
2. Caracter incerto do evento
3. Subordinação resultante da vontade das partes e não diretamente.
Ou seja, uma condição imprópria reporta para um ato passado.
Ilícito
Artigo 271º nº1, o negócio é nulo, é uma condição contrária à lei ou á ordem pública,
ou ofensiva dos bons costumes, resultam deste modo das condições acerca dos
requisitos legais do objecto negocial. Porém um acto ilícito pode ser lícito, se a cláusula
condicional representar um contra estímulo, á pratica desse acto, so deixará de ser
assim, nesta hipótese, porque a condição é nulo, se regunar a lei, bons costumes, ideia
de ser praticar um acto ilícito.
Ou seja, é ilícito a condição, quando se instiga (incentiva), uma das partes a fazer ou
praticar um acto ilícito, para que o negócio seja válido.
Exemplo: dou-te o carro se assaltares um banco.
Porem senão instigar uma pessoa a fazer algo ilícito passa a ser licito, como por
exemplo, dou te o meu automóvel se doares 100 euros a uma instituição.
2) Termo
Noção – cláusula acessória típica, pela qual a existência dos efeitos de um negócio são
postas na pendencia de um acontecimento futuro mas certo, de tal modo que os efeitos
só começam ou se torna exercitável a partir de um certo momento – termo suspensivo,
ou começam desde de logo, mas cessam a partir de um certo momento – termo
resolutivo, ou seja, é um evento fruto mas certo (ex. uma data), de que as partes fazem
depender os seus efeitos.
Regime jurídico – artigo 278º remete para o 272º e 273º = o artigo 274º tb se aplica
por analogia.
Os efeitos surgem/produzem-se no futuro:
Efeitos – os acontecimentos, aqui são certos e os efeitos dependem do negócio certo,
será normalmente um momento temporal ou um prazo, não se verifica qualquer tipo de
retroactividade. Há também a obrigação de agir de boa-fé, a cargo das partes, a fim de
não comprometer a integridade do direito, também pode praticar actos conservatórios do
seu direito tal como se sucedia na pendencia da condição artigo 278º e actos
dispositivos.
Artigo 279º - explica a contagem do prazo, mas é uma norma para o direito em geral,
porem o dia que foi celebrado não conta, só o dia seguinte.
Porem, não tem que acontecer no certo período.
Pode-se suspender ou resolver os efeitos – a verificação depende dos efeitos do n.j.
Artigo 276º - aos termos não se aplica, pela natureza do termo, não opera da
retroatividade.
Artigo 274º - nada impede, que haja uma venda a tremo inicial, mas só se torna
definitivo, se o termos se verificar.
Os termos normalmente tem datas.
4) Cláusula Penal
Noção: artigo 810º/1:
o Compensatória
o Moratória
Forma: artigo 810º/2
Funções:
o Indemnizatória: substitui a indemnização.
o Sancionatória: só é permitida na 2ª parte do artigo 811º, nº2.
a) Sobre a pessoa do declaratário (art. 251º): erro sobre a identidade e erro sobre as
qualidades. A, amigo de B, convenceu-se que B tem um problema grave e não pode
tocar piano, e deste modo não pode trabalhar pelo que se encontra desempregado. A
doou um carro a B porque achava que tinha poucas posses. Mas A descobre que B tem
muito dinheiro e só não trabalha porque não quer. A só doou porque tinha uma ideia
errada sobre B, são características comuns quando há um VSPD.
b) Sobre o objeto (art. 251º): pode incidir sobre o objeto mediato, sobre a identidade
ou sobre as qualidades, ou sobre o objeto imediato, é um erro sobre a natureza do
negócio. A compra a B, um automóvel e convenceu-se que tinha mais potência do que
na realidade tem, A está convencido de uma realidade que não existe. Deste modo
temos que ver qual era a vontade conjetural.
d) Sobre os motivos em geral (art. 252º, nº1): corresponde ao erro acerca da causa de
um direito ou de um facto. Cabe todas as realidades, que não nas 3 hipóteses (Falta de
vontade, Sobre a pessoa do declaratário e sobre o objeto).
Tipificação do erro:
Erro qualificado por dolo (art. 253º e 254º): erro determinado por um certo
comportamento da outra parte. Segundo o art. 251º para que seja anulável é preciso que:
o Haja consciência e voluntariedade em enganar.
o Dolo tenha levado ao erro, erro tenha levado à emissão da declaração.
O erro qualificado por dolo pode ainda ser considerado por ação ou por omissão. Será
por ação quando há consciência mais vontade de causar erro e será por omissão
quando há consciência mais vontade de manter em erro.
Erro simples: é um erro que não tem dolo, não é qualificado por dolo, é a própria
pessoa que se engana. Para ser anulável é preciso (art. 251º e 247º):
o Essencialidade do erro (foi o erro que levou à declaração de vontade, erro
relevante).
o Cognoscibilidade e essencialidade do erro por parte do declaratário (o que
recebe a declaração tem de saber ou dever saber que o motivo que levou à declaração é
essencial).
Conceito: o que as partes exteriorizam não era o que queriam. Fazem-no porque assim
o entendem e pretendem, pelo que tem de haver um acordo entre as partes. Há uma
divergência intencional entre a vontade real e a declarada.
Modalidades da simulação:
Simulação Inocente: existência do mero intuito de enganar terceiros, sem os
prejudicar. Esta simulação é rara, temos como exemplo: as doações simuladas com um
fim de ostentação.
Simulação Relativa: as partes celebram um contrato que não pretendem e por detrás do
negócio simulado está um outro (o negócio dissimulado). A simulação relativa
manifesta-se em espécies diversas consoante o elemento do negócio dissimulado a que
se refere, nomeadamente:
Simulação subjetiva ou dos sujeitos: podem ser simulados os sujeitos do negócio
jurídico. É verificada a interposição fictícia das pessoas que não deve ser confundida
com a interposição real. Assim, a interposição fictícia é uma conspiração entre dois
sujeitos reais da operação e o interposto. E a interposição real é quando o interposto
atua em nome próprio, mas no interesse e por contra outrem, por força de um acordo.
Inoponibilidade a terceiros de boa-fé (art. 243º, nº1): o fim deste artigo é proteger a
confiança de terceiros, é inoponível à simulação, aquele que sofre prejuízos e não
aquele que apenas deixou de lucrar.
Reserva mental
Noção: é emitida uma declaração contrária à vontade real com o intuito de enganar o
declaratário (art. 244º, nº1).
Regime Jurídico: a reserva não prejudica a validade da declaração, exceto se for
conhecida do declaratário e neste caso terá os efeitos da simulação (art. 244º, nº2), isto
é, o negócio é nulo, como na simulação, se o declaratário teve conhecimento da reserva.
Coação física
A declaração não produz qualquer efeito se o declarante for coagido pela força física a
emitir uma declaração negocial. Não há vontade de acção, pelo que não há vontade de
agir (art. 246º).
Este artigo não abrange o caso em que o declarante se engana sobre o conteúdo da
declaração, na qual atribuiu um sentido que não corresponde ao seu significado
objetivo.
Caso prático 2
António, no dia 1 de Outubro de 2013, celebrou com Pedro um contrato através do
qual durante o mês de Maio de 2014.
Em janeiro de 2014 António através de documento por si elaborado no seu
computador vendeu a quinta X a Joaquim.
Em Maio de 2014 a fruta foi colhida. Nesta altura discute-se o proprietário da
quinta bem como da fruta.
Determinando os factos relevantes e os efeitos por eles produzidos diga qual a sua
opinião.
Trata-se de um contrato com efeitos reais (art.408\1 do CC) onde existe a transferência
do direito de propriedade. António e Pedro celebraram um contrato de compra e venda
de toda a colheita do ano seguinte. Acontece que a fruta ainda não existia na altura que
celebraram o contrato por isso não pode haver a transmissão do direito de propriedade,
logo a furta juridicamente é uma coisa futura, natural (art.212º do CC) e trata-se
também de frutos pendentes (art.880º do CC), isto é, o contrato só produz efeitos reais
no momento em que a fruta for colhida (art.808º e 408\2 do CC).
O contrato entre António e Joaquim é um contrato compra e venda com efeitos reais e
obrigacionais (art.879º do CC), no entanto não respeitou a forma do art.875º logo há
uma violação da forma (art.220º do CC) que conduz á nulidade do contrato (art.286º do
CC), por isso não produz quaisquer efeitos, na medida em que o negócio tornou-se nulo
e ineficaz. O António contínua proprietário da quinta, e a fruta em Maio torna-se
presente e autónoma e portanto pertence ao Pedro.
Caso Prático 3
A, de 17 anos e idade, prometeu vender a B, um automóvel pelo preço de 10.000€.
Naquela altura, B pagou 2.000€, ficando convencionado que no dia em que António
atingisse a maioridade seriam pagos mais 2.000€ e o restante seria pago 6 meses
após a 2ª prestação simultaneamente com a celebração do contrato de compra e
venda do carro.
A recebeu a 1ª e 2ª prestação e veio posteriormente invocar, nos termos do artigo
125º/1/b, a anulabilidade do negócio.
O negócio é anulável. Depois de atingir a maioridade recebe a 2ª prestação, de uma
forma indireta diz que aceita/ confirma tacitamente o negócio. Ao confirmar (artigo
288º), o negócio torna-se anulável.
Caso prático 4
António e Pedro celebraram um contrato através do qual o primeiro se obrigou a
fornecer diariamente, durante 1 mês, 50 kg de batatas contra o pagamento do
respetivo preço.
Ficou convencionado que no último dia do Mês se Pedro nada dissesse a António o
contrato prolongar-se-ia por igual período. No último dia do mês, quando Pedro se
dirigia para o seu escritório, para enviar uma telecópia a António a informar que
não pretendia que o contrato se prolongasse sofreu um acidente em virtude do qual
esteve inconsciente durante três dias.
Uns dias depois discute-se se o contrato se prolongou ou não. Quid Iuris?
Neste caso trata-se de saber se o silêncio vale ou não como meio declarativo, ora o
artigo 217º do CC diz-nos quais os meios declarativos que existem. No silêncio há um
nom facere (nada fazer). Em regra, o silêncio não vale como meio declarativo, só vale
se as partes, os usos, os costumes o determinaram. Neste caso concreto o silêncio vale
como meio declarativo porque as partes o convencionaram anteriormente, logo o
contrato só por aqui prolongar-se-ia.
No entanto, existe um outro problema, é que o silêncio por parte de Pedro foi forçado,
logo faltou-lhe a vontade de ação e, consequentemente, a vontade de declaração e a
funcional, isto é, Pedro ficou calado não porque quis mas porque teve um acidente que
lhe provocou a inconsciência durante três dias, não havendo vontade de ação,
declaração e funcional também não houve declaração negocial, portanto o contrato não
se prolongou – art.246º do CC.
Caso prático 5
António e Pedro celebraram, por escritura pública, um contrato de compra e
venda através do qual António vende a Pedro um determinado bem imóvel.
Ficou convencionado que o preço seria pago daí a um mês em casa de Pedro.
Quinze dias depois de celebrado o contrato António e Pedro convencionaram
alargar o prazo de pagamento para 6 meses, alterar o local de pagamento que
passaria a ser a casa de António, e ainda, estipular a possibilidade de resolução do
contrato em caso do incumprimento do pagamento do preço.
Este acordo foi reduzido a escrito num documento elaborado no computador de
António e assinado pelos dois.
Fim do prazo para pagamento, Pedro entende que não se deve deslocar a casa de
António, este por seu lado entende que pode resolver o contrato uma vez que Pedro
não pagou o preço. Quid Iuris?
O problema é um contrato compra e venda que as partes decidiriam alterar. No artigo
219º do CC temos presente a regra da forma, existe liberdade de forma, exceto se o
contrato possuir forma especial. A forma da declaração negocial pode ser de três
maneiras:
Por documento particular (feito pelas partes)
Por documento particular autenticado (elaborado pelas partes só que estas
comparecem perante um notário\advogado\solicitador e confirmam que aquilo reflete a
sua vontade e assinam.
Por documento autêntico (escritura pública).
Quando realizaram o contrato pela primeira vez, António e Pedro cumpriram a lei, pois
o contrato compra e venda é um contrato que exige uma forma especial (art.875º do
CC), logo cumpriram a lei na medida em que celebraram o contrato por escritura
pública, por isso o contrato existe e é válido.
No entanto, passado 15 dias alteram o contrato mas não respeitam a forma do artigo
875º, no entanto no artigo 221º\2 diz-nos que as alterações posteriores ao contrato só
estão sujeitas á forma legal prescrita para a declaração se as razões de exigência especial
da lei lhe forem aplicáveis, ou seja, só é necessária a forma legal se as alterações
afetarem o efeito essencial do contrato, ora analisemos as alterações que António e
Pedro fizeram:
Alteraram o prazo e o local para o pagamento do preço
Estipularam a possibilidade de resolução do contrato em caso do incumprimento do
pagamento do preço
Qual é o efeito essencial do contrato compra e venda? É a transmissão do direito de
propriedade (art.879º al.a), por isso ao alterarem o prazo e o local para o pagamento do
preço não interferiram no efeito essencial. Quanto á possibilidade de resolução do
contrato, aqui já afeta a transmissão do direito de propriedade logo a forma tem que ser
especial (art.875º, 221º\2 e 220º do CC).
Em conclusão, Pedro tem de pagar em casa de António, mas António não pode resolver
o contrato por incumprimento do pagamento do preço porque a cláusula não é válida
nem eficaz.
Caso prático 6
António desejava comprar um valioso quadro pertencente a Belmiro.
Para o efeito, telefona-lhe propondo a sua compra pelo preço de 10.000 euros, ao
que Belmiro respondeu que necessitava de uma semana para pensar. António disse
que por ele tudo bem.
Três dias passados, António recebeu uma encomenda cujo conteúdo o deixou
espantado e satisfeito: Belmiro enviara-lhe o quadro.
Quinze dias depois, Belmiro telefona a António perguntando-lhe pelo pagamento
do preço. António respondeu que não iria pagar afirmando que “após se ter
informado com alguns especialistas na matéria” havia chegado á conclusão de que
afinal o quadro não valia assim tanto dinheiro e que ao fim ao cabo nenhum
contrato fora celebrado. Quid Iuris?
O problema neste caso é saber se houve ou não a conclusão do contrato. Mas, antes de
mais, devemos saber distinguir o momento de formação do contrato do seu momento de
conclusão. Assim, o art.232º diz-nos que o contrato estará concluído quando as partes
chegarem a acordo sobre tudo. Mas, no art.408º\1 diz-nos que o efeito real dá-se quando
há acordo, logo o contrato acontece quando as partes entram em acordo, só depois é que
acontecem os efeitos reais. Mas, a formação do contrato já ocorreu no momento em que
existiu acordo.
Voltando ao caso prático, temos uma situação em que António diz a Belmiro que está
interessado em comprar o quadro, temos uma declaração negocial expressa (art.217º). A
compra de um quadro não necessita de forma específica, portanto existe liberdade
formal pelo que podia muito bem ter sido feita verbalmente, não necessita de um
documento escrito. Perante isto, há uma proposta contratual (art.224º) que ganhou
eficácia e irá produzir os seus efeitos jurídicos, ou Belmiro aceita a proposta ou não
aceita, ou seja, Belmiro tem direito potestativo de aceitar ou não aceitar a proposta de
António. Para se pronunciar sobre a sua decisão tem o prazo de uma semana (prazo
acordado entre os dois), por isso durante esse tempo a proposta é eficaz (art.228º).
Passados três dias Belmiro envia o quadro a António, existe um comportamento por
parte de Belmiro, será que esse comportamento tem alguma relevância contratual? Sim,
o comportamento de enviar o q a quadro pressupõe a aceitação da proposta, isto é,
retiramos que inequivocamente Belmiro aceita tacitamente a proposta (art.217º).
Concluindo, temos uma proposta por parte de António que é eficaz durante uma
semana, mas ao terceiro dia há aceitação tácita por parte de Belmiro, ora o contrato
concluiu-se neste momento. Portanto, estamos perante um contrato compra e venda que
acarreta efeitos reais e efeitos obrigacionais. Desta forma, houve a transmissão do
direito de propriedade de Belmiro para António, houve a entrega da coisa, falta o
pagamento do preço, logo quem tem razão é Belmiro ao exigir o dinheiro, pois António
tem que cumprir essa obrigação – a do pagamento do preço do quadro pois existe um
contrato que se formou e se concluiu.
Caso prático 7
António encontrou-se com Pedro no café. António reparou que Pedro olhava
insistentemente para o seu relógio. Face a isso, António perguntou-lhe se ele estava
interessado no relógio.
Pedro respondeu que talvez. Perante a atitude de Pedro, António Pegou no relógio
e disse: “Leva-o, experimenta e se nada disseres nos próximos cinco dias é porque
queres ficar com ele por 200 euros”.
Pedro sem dizer nada, pegou no relógio, colocou-o no pulso, sorriu e foi embora.
Doze dias depois, António, uma vez que Pedro nada disse, resolveu vender aquele
mesmo relógio a João. João procurou Pedro e exige-lhe a entrega do relógio.
Quid Iuris?
O problema aqui presente é saber se entre António e Pedro chegou a cumprir-se o
contrato ou não.
Ora, temos uma relação entre António e Pedro constituída por três momentos:
1º Encontro no café
2º No prazo de cinco dias se Pedro não dizer nada fica com o relógio
3º Passado 12 dias, António vende o relógio a João.
Se ao 12º dia o contrato entre António e Pedro concluiu-se, António vende uma coisa
alheia, senão houve, de facto, conclusão do negócio, António vende a João e esse
negócio produz todos os seus efeitos e por isso, João deve exigir o relógio. Portanto,
temos que saber se o contrato entre António e Pedro chegou a concluir-se ou não.
Temos uma série de comportamentos no nosso caso que têm e devem ser interpretados:
- António pergunta a Pedro se quer comprar o relógio: estamos perante uma proposta
contratual que pressupõe uma declaração negocial
- António diz que Pedro leva o relógio e se no prazo de 5 dias não disser nada fica com
ele por 200 euros: António neste caso está a dizer que o silêncio de Pedro servirá como
uma resposta. Mas, o silêncio vale como meio declarativo? Aprendemos que só vale
como meio declarativo se uma lei, uso ou convenção o declarar como tal (art.218º).
Neste caso não temos nenhuma lei, nenhum uso, teremos uma convenção? Dito por
outras palavras, será que as partes convencionaram que o silêncio valeria como meio
declarativo? Pedro levou o relógio e por isso, deste comportamento retiramos
inequivocamente que Pedro aceitou tacitamente o silêncio como meio declarativo, assim
Pedro tinha o direito potestativo de aceitar ou não aceitar a proposta, ou seja, até ao
quinto dia ligava a António e dizia que não queria ou não dizia nada e havia contrato.
Chegou-se ao quinto dia e não disse nada, houve silêncio que, neste caso, vale como
meio declarativo porque foi convencionado entre as partes, logo o contrato conclui-se.
Estamos perante um contrato compra e venda (art.874º, 879º e 408º). Ao 12º dia
António vende uma coisa alheira a João (art.892º).
Caso prático 8
Bento escreveu uma carta a Fernando, a qual foi recebida no dia 2, propondo a
venda de uma jóia pela quantia de 1000 euros, e dando como prazo de resposta dez
dias.
Suponha as seguintes hipóteses:
Situação 1- No dia 3 Bento vendeu essa jóia a Carlos, e no dia 5 Fernando
respondeu aceitando a oferta. .
Situação 2- No dia 5 Fernando respondeu por outra carta, recebia no dia 6,
oferecendo 750 euros e marcando 10 dias a Bento para este dizer sim ou não, sob
pena de se considerar o negócio concluído. No dia 20 Bento, que entretanto nada
tinha respondido a Fernando vendeu essa jóia a Carlos.
Nestas duas situações diga a quem pertence a Jóia.
Na situação 1 temos, em primeiro lugar, uma proposta contratual (art.224º) que se
tornou eficaz porque Fernando tomou conhecimento da proposta, assim tem como
efeitos Fernando fica com o direito potestativo de aceitar ou não e Bento fica em estado
de sujeição. Aqui Bento ainda é proprietário. Depois, em segundo lugar temos um
contrato compra e venda entre Bento e Carlos, tem como efeitos reais a transferência do
direito de propriedade (art.408º nº1) e como efeitos obrigacionais o pagamento do preço
e a entrega da coisa. Em terceiro, Fernando aceita a proposta, concluiu-se o contrato
compra e venda (art.874º) mas Bento já não tinha legitimidade para transferir o direito
de propriedade, por vendeu um bem alheio. Só quando o contrato se conclui é que se
transfere o direito de propriedade, e o contrato conclui-se quando é feita a aceitação do
acordo.
Na situação 2, primeiro temos uma proposta contratual, em que Fernando não aceitou e
fez uma nova proposta (art.233º). Depois, passaram-se dez dias. O silêncio vale como
meio declarativo? Não, não houve acordo das partes (art.218º). Não se concluiu o
contrato, portanto a jóia é de Bento e a sua venda a Carlos é totalmente válida.
Caso prático 9
Duas sociedades comerciais estão em negociações, por carta, para a venda de certo
equipamento industrial.
Em determinado momento a sociedade vendedora escreve á compradora dizendo
que a sua última oferta quanto ao preço do equipamento é de 25.000.000 euros e
que se a compradora nada responder no prazo de dez dias considera a venda
efetuada e remeterá o equipamento por via-férrea. A compradora nada mais
respondeu, mas em três dias depois pediu á vendedora que envia-se um catálogo
com as instruções sobre a utilização do equipamento. Quinze dias depois, a
compradora foi avisada pela CP para levantar o equipamento sendo que recusasse
a faze-lo. A vendedora, por seu turno, exige o pagamento do preço. Quid Iuris?
Para resolver o caso prático de teoria geral do negócio jurídico devemos analisar facto
por facto. Assim:
1º Facto- a ultima proposta é de 25.000.000 euros, estamos perante uma proposta
contratual (art.224º) que ganhou eficácia porque chegou ao conhecimento da outra
parte, por essa razão a vendedora tem o direito potestativo de aceitar ou não aceitar.
2º Facto- três dias depois a compradora comunica ao vendedor que lhe mande o
catálogo do equipamento, como se analisa este comportamento? O comprador está a
dizer indiretamente que aceita o equipamento, isto é, temos uma aceitação tácita da
proposta contratual mas deixa-nos dúvidas porque pedir o catálogo não significa que o
comprador queira o equipamento, pode apenas só querer ver as características sem
querer comprar. Portanto, este comportamento não serve como aceitação tácita da
proposta contratual porque deixa-nos com dúvidas, não conseguimos afirmar se de facto
o comprador queria o catálogo para comprar o equipamento.
3º Facto- o vendedor diz que se em dez dias o comprador não disser nada é porque
aceita, ou seja, colocou o silêncio como meio declarativo (art.218º), mas sabemos que o
silêncio só é considerado como meio declarativo se constar na lei, costume ou se tiver
sido convencionado por ambas as partes, aqui a compradora não convencionou portanto
o silêncio não vale como meio declarativo, logo o negócio não se concluiu.