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Resumo para a frequência de Negócio

 Relação Jurídica
A relação jurídica é toda a relação da vida social relevante para o Direito, isto é,
produtiva de efeitos jurídicos e, portanto, disciplinada pelo Direito.
Esta relação é composta por Sujeito (ativo ou passivo), Objeto (mediato ou imediato),
Garantia e Facto Jurídico, sendo que entende-se por facto jurídico todo o evento
produtor de efeitos jurídicos, por efeitos jurídicos entende-se a constituição,
modificação, ou extinção de uma relação jurídica.

 Tipos de Factos Jurídicos


 Factos Naturais: não são desencadeados pela vontade humana. Mas não significa
que os efeitos sejam queridos pelo sujeito.
 Atos Jurídicos: tem como condição a existência de vontade humana, por exemplo
comprar uma gravata. Nos atos jurídicos podem distinguir-se:
 Atos jurídicos lícitos, isto é, conforme a ordem jurídica.
 Atos jurídicos ilícitos, ou seja, não conformes á ordem jurídica.
Dentro dos atos jurídicos temos:
 Atos jurídicos simples: onde é irrelevante a existência de vontade funcional, basta
que exista vontade de ação porque os efeitos decorrem diretamente da lei.
 Negócios Jurídicos: onde é necessária a existência de vontade funcional. Os efeitos
jurídicos são queridos pelos seus autores, ou seja, decorrem da vontade dos seus autores.

 Negócio Jurídico
Os negócios jurídicos são atos jurídicos constituídos por uma ou mais declarações de
vontade, dirigidas á realização de certos efeitos práticos, com intenção de os alcançar
sob tutela do direito, determinando o ordenamento jurídico a produção dos efeitos
jurídicos conformes á intenção manifestada pelo declarante ou declarantes.
O código civil abrange duas modalidades de negócio jurídico:
 Negócio jurídico Unilateral (há só uma declaração de vontade) – Art. 459º; 2179º;
1569º\5; 288º
 Negócio jurídico Bilateral (contratos), (existem duas ou mais declarações de
vontade). Os contratos podem ser bilaterais unilaterais (art.967º) e bilaterais bilaterais
(art.874º)

O negócio jurídico bilateral (contrato) é também conhecido por sinalagmático, ou seja,


há um sinalagma que se divide em:
 Genético – eu só me obrigo porque tu te obrigaste, logo eu só cumpro quando tu
cumprires. Art.428º.
 Funcional- uma das partes já cumpriu mas a outra ainda não, por isso a parte que já
cumpriu tem o direito de resolver o contrato (art.801\2 do código civil) logo revê o que
tinha dado á outra parte e pode ainda pedir uma indemnização pelos danos causados.

 Elementos estruturais do negócio jurídico


 Vontade
 De ação
 De declaração
 Funcional
 Declaração
 Expressa art.217º do código civil
 Tácita
 O silêncio como meio declarativo
Sem estes dois elementos não existe negócio jurídico, para que haja negócio jurídico
tem que haver vontade funcional que pressupõe vontade de declaração e esta por sua
vez pressupõe vontade de ação. Portanto, só existe negócio jurídico se estivermos
perante estas três vontades. Mas, primeiro temos que saber o que é vontade de ação,
declaração e funcional. Assim:
 Vontade de ação: é a vontade de ter uma determinada atuação por ação ou por
omissão positiva ou negativa.
 Vontade de declaração: pretende-se que a atuação corresponda a um enunciado
declarativo
 Vontade funcional: é a vontade direcionada á realização de efeitos jurídicos.
Por exemplo, estamos num leilão, o leiloeiro pergunta quem dá 5.000 euros pelo quadro
X, o Joaquim foi picado com um alfinete no braço pelo António e com a dor levanta o
braço, o leiloeiro acha que Joaquim quer ficar com o quadro, logo não houve vontade de
ação, nem de declaração e muito menos vontade funcional porque não produziu
qualquer efeito (art.246º do código civil). .
Imaginemos, o Joaquim está no leilão e vê um amigo e levanta o braço para
cumprimentar o amigo, por isso há vontade de ação porque ele quis levantar o braço
mas não há vontade de declaração porque não quer ficar com o quadro logo não quis
celebrar qualquer negócio nem produzir qualquer efeito jurídico portanto também não
houve vontade funcional. (art.246º do código civil).
Por fim, imaginemos que há vontade de ação, de declaração mas não há vontade
funcional, por exemplo, o A e o B estão no leilão e o B não gosta do A e por isso o
leiloeiro pergunta quem dá 5.000 euros pelo quadro e o A levanta o braço, o B diz que
dá 6.000, o A diz que dá 7.000 e o B diz que dá 8.000, perante a situação o A desiste e o
leiloeiro diz que o quadro é vendido ao B, este não tem vontade funcional porque ele
não quer os efeitos jurídicos que daí resultem, ou seja, ele nunca quis comprar o quadro.
Quanto á declaração expressa ocorre quando é feita por palavras escritas ou por meio
verbal, por exemplo quando alguém diz: eu quero comprar aquela casa. A declaração
tácita ocorre quando se deduz algo, isto é, quando temos a certeza que algo acontece
provavelmente a cem por cento, por exemplo, o sujeito A tem uma herança da casa X e
diz que vende a casa ao sujeito B, tacitamente o sujeito A diz que aceita a herança.
Costuma dizer-se que “quem cala consente” mas para o legislador não é assim, por
exemplo o sujeito A recebe 1000 propostas de compra para a sua casa, onde tem 60 dias
para decidir, o silêncio não vale como meio declarativo (art.218º do código civil).

 Forma de declaração negocial


A regra encontra-se presente no artigo 219º do código civil, que nos demonstra o
princípio da liberdade de forma. Este artigo estabelece o princípio da consensualidade
ou liberdade de forma, só não há liberdade de forma, se a lei exigir. Desta forma, como
tudo, existem exceções. Deste modo, surgem algumas exceções como é o caso do artigo
947º; 2204º; 875º, assim, se a lei exigir uma determinada forma e esta não for cumprida
conduz á nulidade do negócio celebrado.
 Âmbito da forma
 Forma legal – art 221º
As cláusulas adicionais são as que trazem algo de novo ou modificativo ao respetivo
negócio. As estipulações verbais acessórias anteriores ao negócio ou contemporâneas
dele, nos casos em que a lei prescreve para o negócio determinada forma, são validas
desde que se verifique, cumulativamente os seguintes requisitos:
a) Tratar-se de cláusulas acessórias
b) Não lhe ser aplicável a razão determinante da forma
c) Corresponderem essas estipulações à vontade das partes.
Ainda: devem tratar-se de estipulações adicionais ou complementares que estejam além
do conteúdo do documento e não de estipulações que contradigam. No entanto as
estipulações posteriores, são validas em princípio, só não o são se a razão da existência
tiver uma forma específica. Artigo 221 + 364º
 Forma voluntária: 222º
Esta norma prevê o caso de o declarante ter adaptado a forma escrita, apesar de ela não
ser exigida por lei, ou seja, se uma proposta for por escrito, mesmo que a lei não exija, é
uma segurança que a parte tem = facilidade de prova.
 Forma convencional: 223º

 Princípio da liberdade de forma


Existem desvios – regra geral é a liberdade de forma, mas temos exceções como
escritura pública ou o documento particular autenticado. Senão for observada a forma
temos uma invalidade formal e o negócio é nulo – artigo 220º. O artigo 363º diz-nos que
existem três tipos de forma:
1. Documento particular – elaborados pelas partes
2. Documento particular autêntico – elaborado pelas partes e autenticado num notário =
reconhecimento.
3. Documento autêntico – elaborado por um notário sendo o documento publico =
escritura pública.
A lei exige que todas as declarações sejam escritas. Essa ideia é errada, pois na
generalidade dos casos os negócios são celebrados verbalmente. Só que a prova
documental é muito importante e é ainda mais perante a prova testemunhal.
Quando se exige uma determinada forma e essa não é respeitada, o negócio é nulo
(artigo 220º). A exigência de formas é feita por determinados motivos, por exemplo: a
escritura pública, é utilizada para que fique publicitada e comunicada ao registro, para
as pessoas entenderem as transações (bens imóveis). 

 Formação do Negócio Jurídico (arts.224º e ss)


A formação do negócio jurídico é a fase pré-negocial regulada pelo Direito, constituída
por declarações negociais. Assim, temos que considerar que na formação do negócio,
prevalece o princípio da autonomia privada, segundo o qual as partes podem na sua
celebração, optar pelo regime que acham mais adequado.
A formação do contrato inicia-se com a proposta, que pode ser aceite (aceitação),
rejeitada (rejeição) ou, ainda existir uma contraproposta.

 Formação do negócio unilateral propriamente dita


No negócio unilateral, só há uma declaração, acarretando uma manifestação
simplificada na sua formação. Tudo se resume a saber quando a declaração se torna
eficaz. (é uma formação do negocio unilateral, porque a emissão é de uma parte e o
outro ainda não emitiu nenhuma declaração negocial).
O regime da formação do negocio não é uniforme pois profeta nele duas distinções:
 Negócios recipiendas: a declaração é recipienda, ou seja, tem um destinatário, a sua
eficácia verifica-se quando chega ao poder do destinatário ou dele é conhecida, 1º parte
do artigo 224º nº1.
 Negócios não recipiendas: resulta da 2ª parte do 224º nº1, a proposta é eficaz logo
que a vontade do declarante se manifesta na forma adequada.

 Formação do contrato (negócio bilateral)


Esta é a fase mais importante, isto porque, é a fase pré-negocial, regulada pelo direito, e
para que o negócio jurídico seja bem constituído e se saiba em que momento se formou,
concluindo-se quando o negócio se tornou eficaz essa declaração negocial.
Torna-se eficaz com a aceitação da proposta contratual.

 Proposta
É uma declaração pela qual uma pessoa manifesta a outrem a sua intenção de celebrar
determinado negócio, destinado a integrar o correspondente conteúdo, se este vier a
verificar-se ou concretizar-se.
É uma proposta de declaração recipienda.
O autor da proposta é designado por proponente e aquele que é dirigida a proposta
designado por destinatário.
Proponente: ao emitir a sua declaração, toma a iniciativa do negócio, afirmando não só
que pretende celebrar a referida declaração, como também tem o intuito de dar a
conhecer a correspondente vontade negocial.
Sendo fácil, de distinguir uma proposta negocial verdadeira de uma proposta negocial
destinada a provocar uma proposta de outrem.
Porém o autor desta declaração negocial, manifesta apenas a sua disponibilidade para
receber propostas, em vista da celebração de um determinado negócio, podendo
convidar ou incitar terceiros a formula-las.
Por regra, quando uma das partes toma iniciativa negocial, a proposta é, dirigida a uma
pessoa determinada, com quem ela intenta a vir a celebrar o negócio. No entanto quando
a proposta é dirigida a uma generalidade de pessoas, o que existe é uma oferta pública.

 Modalidade da proposta
Os meios de formulação da proposta podem ser mediante, oferta ao público são muito
diversificadas, podendo indicar-se a emissão de impressos dirigidas a uma
multiplicidade de interessados, a fixação de tabuletas ou outros meios equivalente e até
a simples exposição de mercadorias em estabelecimentos públicos.
É um convite a contratar = de proposta.

 Validade da proposta
Em primeiro lugar, depende do seu conteúdo, a proposta quanto ao conteúdo tem que
ser completa, em todos os sentidos e que obriguem a ter todos os elementos específicos
de futuro contratos. A formação do acordo basta um sim, um aceito do destinatário, ou
seja, a mera adesão à proposta que em si já contem a substancia do contrato, tudo está
dependente da aceitação apenas.
A proposta deve revestir a forma exigida para o negócio jurídico correspondente.
 Eficácia da proposta
Na eficácia da proposta negocial, devemos distinguir dois pontos:
1. O que diz respeito aos termos em que se torna eficaz
2. Definir os efeitos que a proposta produz
Temos também que saber / identificar qual a duração e por consequência a esta, quais
são as causas de cessação da sua eficácia.
Assim, a proposta torna-se eficaz:
Nos termos do artigo 224º, cujo o regime torna-se mais claro se na sua interpretação
tivermos em conta diversas posições isto em função dos momentos que correspondem, à
declaração negocial. De acordo com o 224º nº1 – em primeiro lugar, refere-se ao
momento da receção da proposta, mas pode ser feito por mais do que uma via, o seu
conhecimento. O conhecimento da proposta, pode preceder a sua receção e deste modo
torna-se mais relevante. Porem no nº3 – resulta do conhecimento a sua relevância. E que
a receção ocorra nos termos sem que o destinatário tenha culpa, quando a proposta não
consiga ser do seu conhecimento e deste modo a proposta não é eficaz.
Nº2 – a proposta, a sua receção, não se verificar, por culpa, do destinatário a proposta é
eficaz, ou seja, tudo o que se passar é como fosse do conhecimento do destinatário.

O que é uma declaração negocial eficaz?


Em 1º lugar temos que ver que tipo de declaração negocial é, e se o destinatário recebe
ou não, e se a culpa é sua ou não para podermos determinar a eficácia, pelos termos do
artigo 224º.

Assim é eficaz quando?


 Chega ao poder (receção) ou ao conhecimento do destinatário.
 Quando a vontade é manifestada de forma adequada.
 O testamento é uma declaração unilateral, só se torna eficaz após a morte.
 Promessa pública, torna-se eficaz com a publicação em jornal ou expedição, isto para
segurança do consumidor.
 E eficaz num determinado tempo, durante o tempo estipulado para a resposta à
proposta (sua aceitação), durante aquele tempo fica vinculado á proposta o proponente e
destinatário, e não pode o proponente fazer a mesma proposta a outra pessoa. Exceto, se
houver uma revogação, antes da receção do destinatário, quando é por escrito, deste
modo pode fazer a mesma proposta a outra pessoa.
Se causar dano ao destinatário ou proponente por algum motivo, quando a proposta
ainda é eficaz, é possível uma indemnização para os devidos efeitos.

 Duração da proposta negocial


É determinada nos termos do artigo 228º

 Caducidade da proposta negocial


 Artigo 228º
a) Prazo determinado pelo proponente ou pelas partes
b) Caso que se pede resposta imediata
c) Casos em que não se determina prazo nem é pedida resposta imediata (+ 5 dias)

São os termos que permitem afirmar qual o período, que a proposta tem eficácia e que
se mantém. Pode ser voluntária ou legal. A vontade é relevante para a fixação do prazo
de eficácia da proposta, pode ser pelo próprio proponente ou das partes. Sendo que a
relevância pode ser direta ou indireta, segundo o disposto no artigo 228º nº1 a)
 Nº1 a) o proponente ou as partes, por acordo podem estipular o prazo da duração da
proposta. Na falta de estipulação, as alíneas b e c) desse mesmo preceito estabelecem
prazos, isto como fonte legal e não voluntaria. Tem natureza supletiva.
 Nº1 b) estatui que a proposta se manterá pelo tempo necessário, para que ela e a
aceitação em condições normais, cheguem ao seu destino. A lei não fixa, nenhum
regime/prazo, especial para esta matéria. Mas temos que ter em conta o meio de
comunicação utilizado e solicitado pelo proponente, assim :

 Condições normais: a aceitação das propostas e a receção das mesmas não serão as
mesmas para todos os meios que o proponente tem á sua disposição.
 Verbal: a resposta é imediata, isto porque, é frente a frente. A proposta e eficaz
naquele momento se for embora caduca = torna se ineficaz a proposta se estipularam
prazo remete para a alínea a).
 E-mail/fax: a receção é simultânea, lê quase imediatamente. A proposta é eficaz,
nestes termos, se for enviado antes das 12h00, espera até às 12h00 e conta 12h00, ou
seja é eficaz até ás 00h do próprio dia. Se a proposta for enviada depois das 12h00,
espera se até ás 00h00 e depois conta 12h00, será eficaz até as 12h00 do dia seguinte.
 Carta: o prazo de eficácia são 6dias, ou seja, para a proposta chegar ao destinatário
contamos 3 dias, e para aceitação contamos mais 3 dias para chegar ao proponente de
novo, a eficácia da proposta são de 6 dias neste caso 3 para cada um
(proponente/destinatário).

 Nº1 c) se não for pedida resposta imediata fixa-se um prazo adicional de 5 dias.
E.mail/fax – 12h + 5 dias, carta 11 dias, há autores que dizem para o verbal são 5 dias
na mesma e outros dizem que se é verbal é sempre resposta imediata e após ir embora
sem dar resposta caduca, não é pacíficas as opiniões em relação á resposta verbal (seja
presencial ou por telefone).
Nota: Quando se fixa um prazo, este prazo começa-se a contar a partir das 00h00 do dia
da proposta, para que não haja duvidas, salvo exceções já referidas como fax ou e.mail.

 A eficácia da proposta pode cessar por várias causas como:


 Caducidade – ocorre pelo decurso do prazo da respetiva duração, nos termos
esclarecidos no 228º
 Revogação
 Morte
 Incapacidade do proponente
 Ilegitimidade do proponente
 Aceitação
 Refeição

Em princípio, a declaração negocial que seja eficaz é irrevogável, nos termos do


artigo 230º
Nº1 – irrevogável após ser eficaz – admite a possibilidade de o próprio proponente
estipular de modo diferente a proposta, sendo também uma norma supletiva, temos que
reger pela regra geral que é apos a proposta se tornar eficaz é irrevogável.
Nº2 – revogável enquanto não for eficaz – a revogação prevalece e a eficácia da
proposta cessa. Deste modo pode ser revogada se verificar as condições. A condição
aqui é a revogação chegue ao destinatário antes da eficácia da proposta. Conclusão a
revogação tem que acontecer / ocorrer entre a formação e a eficácia da proposta.
Nº3 – oferta ao público – revogável a qualquer momento – permite a revogação da
proposta dirigida ao público, quando tenha lugar na forma da oferta ou em forma
equivalente.
Em suma, na irrevogabilidade da proposta, temos que ter em conta o interesse das duas
partes, senão não havia segurança jurídica, se a qualquer momento permitisse a
revogação. Mas há sempre a irrevogabilidade, isto porque, é uma norma supletiva.

Notas relevantes:
Artigo 231º - vicissitudes da proposta – regra do nº1, a morte do proponente não
implica necessariamente o fim do contrato, remete para o artigo 226º. Porem no nº2,
Incapacidade do destinatário torna ineficaz a proposta, também remete para o artigo
226º.
Ver artigo 229º – tem que ser tempestiva
Artigo 233º aceitação com modificações. Regra geral – importa a rejeição, exceção – se
for precisa nova proposta.
Artigo 234º - não é o que parece, não é uma verdadeira dispensa. Dispensa a declaração
expressa.
Artigo 235º - é o inverso da irrevogabilidade da proposta – efeitos da revogação
Artigo 227º - responsabilidade pré – contratual, gera obrigações de indemnização.

 Na formação do contrato temos 3 subdivisões


1. Aceitação
2. Rejeição
3. Contraproposta.

1. Aceitação
É a declaração pela qual o destinatário de uma proposta negocial, ou qualquer
interessado na oferta ao público, manifesta a sua concordância com o respectivo
conteúdo.
Sendo uma declaração recipienda.
O código civil, não estabelece um regime específico para a aceitação, salvo no que diz
respeito á revogação artigo 235º nº2, deste modo teremos de usar e aplicar o mutatis
mutandis, o regime da proposta = perceber o regime do artigo 235º nº2. Como também
se extrai o contrário sensu, que a aceitação é irrevogável, quando é recebida pelo
proponente.
Revogação – á semelhança da proposta, se o mesmo tempo da sua recepção pelo
propronente, ou antes dela, chegar ao poder deste ou dele for conhecida, a declaração é
revogável. É importante a aceitação para se saber se houve ou não conclusão do
contrato.

2. Rejeição
É uma declaração pela qual o destinatário de uma proposta negocial manifesta a sua
recusa de proposta. É uma declaração recipienda, a que, na falta do regime
especificamente para ela definido, se aplica analogicamente o regime da proposta.
A rejeição representa o exercício de uma faculdade potestativa contraria á aceitação. A
rejeição além do seu efeito natural de recusar a sua celebração, tem que implicar a
renuncia ao direito de aceitar.
Para o destinatário revogar a rejeição terá de aplicar o artigo 230º nº2 –
correspondentemente aplicado.

3. Contraproposta
É fácil definir a contraproposta, como declaração recipienda, da autoria do destinatário
de uma proposta, pela qual este só declara disposto aceita-la, com algumas
modificações, têm que ser suficientes e precisas, ou seja, a contraproposta é uma
rejeição tácita da proposta, perde eficácia a outra proposta, é substituída por uma nova
proposta, e nova eficácia.

 Representação
A atuação, é feita em nome do representado artigo 260º ou no interesse do representado,
tendo margem de negociação.
A margem de negociação, é diferente do núncio (mensageiro), dai aplica-se o regime do
artigo 259º, os efeitos produzem se em nome do representado e não do representante.

 Conceito
A representação, é uma prática de um ato jurídico em nome de outrem, e é na esfera
jurídica de outrem que se produzem os efeitos jurídicos. Para que a representação seja
eficaz, é necessário que o representante atue, nos limites dos poderes que lhe compete.
Se celebrar um negócio, onde não tinha os poderes necessários é preciso que o
representado ratifique o negócio em causa (art.258º). Os poderes de representação
podem ser: legal ou voluntário.

 Representação legal (não é importante para TGNJ)


De menores e inabilitados e interditos, não depara, igualmente qualquer contradição
com a autonomia privada.
Os menores e inabilitados e interditos, não tem capacidade para autodeterminar, o que é
do seu interesse ou não, como também não estão, segundo o ordenamento jurídico, em
condições de defenderem os seus interesses. Porém a representação legal, o
representante é indicado e verificada uma certa situação e é a lei que nomeia o
representante legal, ou por decisão judicial, como um tutor, curador, e os poderes são
definidos pela lei.

 Representação voluntária (é muito importante para TGNJ)


È assente numa procuração, não contradiz o princípio da autonomia privada, mas sim o
alargamento das possibilidades contidas na referida autonomia. Quando se diz que, não
há contradição quer dizer que a possibilidade de atuação jurídico-negocial é própria do
representado, e não são restringidas pelo facto de ter passado a procuração ao
representante, ou seja, o representado pode negociar etc… mesmo com a procuração
passada ao representante, só não pode entrar em conflito.
Na procuração tem que estar discriminados os poderes que o representante tem para
negociar, em nome do representado, porém não basta ter poderes também tem que agir
no interesse do representado, ou seja, tem que atuar não consoante a sua vontade, mas
sim consoante a vontade do representante.
Na representação voluntária, o representante fica vinculado a determinadas obrigações
voluntárias.
Conclui-se, que tem uma margem de liberdade de atuação (negociação), na atuação da
sua representação, mas dento dos poderes concebidos pelo representado.
Os poderes do representante e a respetiva extensão provêm da vontade do representado,
manifestada na procuração. Esta pode ser geral, isto é, pode abranger todos os atos
patrimoniais, e, neste caso só e legítima para os atos de administração ordinária ou
especial abrangendo apenas os atos nela referidos e os necessários á sua execução.
Pode haver mandato sem haver representação – quando o mandatário não recebeu
poderes para agir em nome do mandante, age por conta do mandante, mas em nome
próprio, isto nos casos do contrato á comissão, regulado no artigo 266º ss do código
comercial e no novo cc artigo 1180º
Pode haver representação sem mandato – não só na hipótese de representação legal,
mas também no que toca à representação voluntária, resulta de um ato que se designa
como procuração artigo 262º.

 Regime jurídico da representação voluntária

1. Forma – artigo 262º nº 2


A procuração, é um N.J., que dá origem á representação sendo um negocio unilateral.
A procuração dá poderes de representação ao representante. Sendo que a procuração
tem que ser por escrito, e pode revestir a forma de escritura pública ou documento
autentico particular.
Nº1 – a representação voluntária pode ser originária ou subsequente.
 Originaria – quando os poderes são conferidos antes de celebrado o negócio jurídico
representativo.
 Subsequente – quando o representado posteriormente aprovou/ratificou o negocio
em causa.

2. Pronúncia – é livre artigo 265º nº1 e artigo 267º nº1 (procurador)


Pode ser livre artigo 265º nº1 ou pelo procurado artigo 267º nº1
Quando se fala de renúncia livre, é o poder do representado ou representante, de se
desvincularem, livremente sem determinados procedimentos. Não há obrigação para a
desvinculação da procuração. Porem o contrato de mandato, sendo uma obrigação, já há
procedimentos para a desvinculação.
Artigo 267º nº1 - o procurador, ao renunciar tem que restituir o documento ao
procurado. Sem procuração, e vender algo é considerado venda de bens alheios.
Anúncio público – tem logo efeitos imediatos, no momento da publicação, mesmo que
os 3ºs não tenham lido, ou seja, opera para todos os 3ºs.

3. Derrogação – é livre artigo 265º nº1 mas o 266º nº1 (representado)


Artigo 265º nº1, 2º parte – quando se revoga uma procuração, só se torna eficaz,
quando é recebida pelo representante e tome conhecimento
Artigo 266º nº1 – quando se revoga uma procuração, deve –se levar ao conhecimento
dos 3ºs, mas por meios idóneos.

4. Representação sem poderes – artigo 268º


Os atos praticados por este, com falta total de poderes representativos, ou, com
excedência dos poderes que lhe foram concebidos, são atos ineficazes, em relação á
pessoa em nome da qual se celebrou o negocio, salvo se tiver lugar a ratificação do
negócio, artigo 268º nº1.
O negócio, ineficaz relativamente ao representado, não é também tratado como um
negócio do representante. Senão houver ratificação, o representante sem poderes, e
verificada a sua culpa (normalmente é em todos os casos), responde perante o negócio.
Verificar a responsabilidade pré-contratual artigo 227º, se verificar-se pelo contrato
celebrado (negocio), seja na representação legal ou voluntária, por via do artigo 800º
nº1.
Ou seja, há representação sem poderes, quando o procurado agiu na vontade do
representado, mas foi alem dos poderes que lhe foi concebido.
Porém como se titula procurado, o legislador pensou que o procurador, pode fazer um
bom negocio ao representando, e, para salvaguardar estes poderes estabelece o seguinte:
o O N.J., é ineficaz, mas essa ineficácia pode ser cessada se o representado ratificar o
negócio. A ratificação do negócio: tem que obedecer á mesma forma do negócio
celebrado

5. Abuso de poderes – artigo 269º


Quando o representante, atuar dentro dos poderes conferidos, mas de modo
substancialmente contrário aos fins da representação, há hipótese de abuso de poderes /
representação, se a outra parte conhecia o abuso ou este lhe era cognoscível.
Artigo 269º - remete-nos para o artigo 268º - porem em caracter formal ou consensual
da ratificação, da procuração depende das exigências formais do negócio representativo,
por via dos artigo 268º nº2 e 262º nº2, ou seja, o representante tem poderes para realizar
negócios jurídicos, mas usa esse poder de representação em prol de um amigo, familiar,
deste modo está a favorecer de modo “ilícito”, uma pessoa que é próxima, e até o
negócio pode não ser o mais favorável, para o representado e ter um terceiro que o
mesmo negócio fosse mais favorável.
Por exemplo: venda de um apartamento, pode ser vendido entre os 60 mil e os 80 mil
euros, o representante venda a um familiar ou amigo por 65mil euros, porém existe um
3º que dá 70 mil euros, deste modo temos um abuso de poder, isto porque, favoreceu
uma pessoa chegada e não os interesses do representado, que era vender o apartamento
pelo melhor preço.
Apesar de existir uma atuação, que não prejudica o representado, porém abusou do
mesmo direito de representar.
Deste modo aplica-se o mesmo regime da representação sem poderes, e o representado
pode ou não ratificar o negócio.
Porem o familiar ou amigo, vê a procuração e não sabe que está a ser favorecido em
relação a um terceiro esse negócio é EFICAZ, mas se tiver conhecimento do
favorecimento o negócio é INEFICAZ.

 Conteúdo do Negócio Jurídico


 Essencial: elementos que caracterizam o Negócio Jurídico – estão previstos em
normas imperativas, por exemplo: artigos 874º, 980º, 947º.
 Secundário: elementos conformes à índole do Negócio Jurídico – estão previstos em
normas supletivas, por exemplo: artigo 878º.
 Acidental (acessórias): elementos introduzidos pelas partes ao abrigo da liberdade
contratual, por exemplo: artigo 405º.

 Cláusulas acessórias

1) Condição
As noções de condição suspensiva e de condição resolutiva, constam no artigo 270º,
sendo uma subordinação pelas partes a um acontecimento futuro e incerto, como
também de produção dos efeitos do negócio jurídico – condição suspensiva ou de
resolução dos efeitos – condição resolutiva.
 Natureza – estipula-se esta condição, uma vez que se trata de uma vontade
hipotética, embora atual e efetiva, exteriorizada numa declaração única e incindível.

 Importância da prática desta cláusula acessória: condição – é uma forma de


superação da incerteza objetiva do futuro, através de regulamentos de interesses, a
qualquer hipótese (resolutiva ou suspensiva), e, realizar a representação que os sujeitos
têm do seu interesse = permite influenciar um comportamento do outro.

 Condição impropria
É uma condição que não reúne todas as qualidades que caracterizam a condição
verdadeira própria:
1. Evento futuro, ao qual é subordinada a eficácia do negócio
2. Caracter incerto do evento
3. Subordinação resultante da vontade das partes e não diretamente.
Ou seja, uma condição imprópria reporta para um ato passado.

 Condição Imprópria física ou legalmente possíveis de acontecer:


 Suspensiva – o negócio jurídico, é nulo por via do artigo 279º, é suspensiva quando o
negócio tem uma cláusula, que regulamente uma norma imperativa, este negócio
jurídico é impossível de acontecer (regra saliniana)
 Resolutiva – é apenas uma cláusula não escrita, expurga-se a cláusula imprópria, e,
deste modo considera-se não escrita, conclusão retira-se a norma que é imprópria (está
mal).
Artigo 271º nº2 2º parte.
Por exemplo: vendo te o meu automóvel, se venderes o teu apartamento sem escritura
pública. = Impossível de acontecer = cláusula impropria resolutiva.

 Ilícito
 Artigo 271º nº1, o negócio é nulo, é uma condição contrária à lei ou á ordem pública,
ou ofensiva dos bons costumes, resultam deste modo das condições acerca dos
requisitos legais do objecto negocial. Porém um acto ilícito pode ser lícito, se a cláusula
condicional representar um contra estímulo, á pratica desse acto, so deixará de ser
assim, nesta hipótese, porque a condição é nulo, se regunar a lei, bons costumes, ideia
de ser praticar um acto ilícito.
 Ou seja, é ilícito a condição, quando se instiga (incentiva), uma das partes a fazer ou
praticar um acto ilícito, para que o negócio seja válido.
Exemplo: dou-te o carro se assaltares um banco.
Porem senão instigar uma pessoa a fazer algo ilícito passa a ser licito, como por
exemplo, dou te o meu automóvel se doares 100 euros a uma instituição.

 Condições potestativas, causais e mistas


Noção – é um critério da natureza do evento condicionante, segundo a sua causa
produtiva, isto é, segundo o evento condicionante procede da vontade de uma das partes
ou consiste num acontecimento natural ou de terceiro, ou caracter misto.
 Potestativas – uma das partes do n.j. É um facto futuro e incerto, depende da vontade
da outra parte mas não inteiramente.
 Causais – um facto natural ou ato de terceiro. É um evento do mundo real, reporta de
um facto natural.
 Mistas – uma das partes é facto do terceiro ou facto material. Deve-se a uma das
partes, mas afeta um terceiro, são alternativas, pode derivar de um terceiro ou de um
facto natural.

 Regime da condição na pendencia da ação


 Regra geral – 272º
 Atos conservatórios – 273º
 Atos dispositivos – 274º
Acontece entre a celebração do negócio e a verificação da condição, temos um tempo
intermédio, temos um tempo que o direito de propriedade ainda está na mesma pessoa.
Isto só, enquanto a condição não se verificar. Porem se for resolutiva, também há
possibilidade da transferência da propriedade.
Ou seja, o que é titular do direito, tem a expectativa de deixar de o ser, e o outro está na
expectativa de ser titular do direito, isto na pendência da ação.
Regra geral previsto no artigo 272º – quando se verifica a condição e age-se de boa-
fé, não afeta a entrega do outro. Como por exemplo: se agir de boa-fé, cuida bem da
coisa, ate ser sua, senão se porta de boa-fé e descuidar-se tem que indemnizar.
Enquanto somos titulares do direito, devemos portarmo-nos de boa-fé.
Ou seja, durante a pendência o credor condicional, na condição suspensiva não tem
ainda o direito exercitável em relação ao devedor, embora que as partes estejam já
vinculadas de tal como que estão sujeitas á produção dos efeitos do negócio, uma vez
verificado o evento condicionante.

 Atos conservatórios artigo 273º


É quando o adquirente está á espera do direito, está a tratar da parte, que ainda não é
parte, mas trata / conserva porque está na expectativa de vir a ser proprietário por
herança. O que o direito prevê e que pode praticar actos de conservação do bem.
Mas ainda não é titular, mas entende que é preciso, praticar os actos conservatórios do
bem = suspensão do direito.

 Atos dispositórios artigo 274º


É mais complexo, isto porque, no concernente (relativo), aos actos de administração
praticados na pendência da condição são válidos, mas os seus efeitos caducam com a
verificação da condição.
Exemplo: uma venda sob condição suspensiva, entre A e B. A é titular do direito, á
partida nada impede de dispor a um 3º (porque está a dispor o que é dele), se transfere
direito, está tudo bem, mas senão se verificar a condição não pode dispor.
Mas se a condição se verificar há um problema, porque o direito já está noutra pessoa.
Só abrange actos na pendência da condição, a eficácia do acto dispositivo com um 3º
fica subordinado, com a verificação ou não da condição de B.
= Numa condição suspensiva.
Se for uma condição resolutiva, o ato disposição com um 3º é ineficaz, porque está
pendente da verificação da condição de B,
Por exemplo: A venda a B e B venda a C, numa condição resolutiva, se o acto se
verificar o que esta em c volta para A, ou seja entre B e C, temos um acto condicional.
A e B, têm uma condição resolutiva, e se verificar o direito, volta para A retroatividade,
mas B vendeu a C, essa venda fica pendente da clausula da condição Resolutiva, senão
se verificar o negócio entre B e C é eficaz, senão é ineficaz.
Conclusão transmite-se o direito de propriedade, mas se a condição se verificar, o
direito volta para a esfera do 1º.
 Verificação da condição
Artigo 275º nº2 – verificação e não verificação da condição

 Eficácia: regra - retroativo artigo 276º exceções artigo 277º nº 1,2,3.


Noção – determinado, por interpretação da vontade das partes, qual seja o facto
condicionante, se verificar a condição ta acontecimento tiver lugar, nos termos do
artigo 275º nº1, a certeza de que a condição, não se pode verificar equivale á sua não
verificação.
O código estabelece uma limitação, isto, nos casos de sabotagem da condição nos
termos do artigo 275º nº2, isto é, quando a parte a quem a condição prejudica ou impede
a sua verificação contra as regras da boa-fé ou quando a parte a quem ela beneficiará ou
faz produzir contra as referidas regras.
Ou seja, não há que aguardar a não verificação da condição para que ela produza os seus
efeitos, basta que haja certeza de que não pode verificar-se. Então na condição
suspensiva, tudo se passa como se o negócio não tivesse concluído.
Na condição resolutiva, os efeitos consolidam-se definitivamente, na titularidade do
credor ou adquirente.
Nº2 – aplica-se apenas às condições causais ou mistas e não ás potestativas.

 Efeitos da condição suspensiva


Na pendencia da condição – enquanto o evento condicionante não se verificou, nem
deixou de se poder verificar, neste período, o credor condicional não tem ainda um
direito exercitável em relação ao devedor, embora as partes estejam vinculadas, de tal
modo que estão sujeitas á produção dos efeitos do negócio, uma vez verificado o evento
condicionante.
Após verificada a condição, os efeitos do negócio que estavam suspensos tornam-se
efectivos, desde da data da conclusão do negócio, sem mais requisitos.
Deste modo, temos o princípio da retroactividade da condição é afirmado no artigo
276º, e considerado como efeito natural da cláusula condiciona, pois os efeitos do
preenchimento da condição podem ser pela vontade das partes ou pela natureza do acto.
Exceções ao efeito retroativo da condição suspensiva – nos termos do artigo 277º nº 2 e
3, os actos de administração praticados pelo devedor condicional, na pendência da
condição suspensiva continuam validades, mesmo que se verifique a condição, assim
como continua a ter direito aos frutos recebidos, bem como os frutos pendentes, nos
termos estabelecidos em matéria de aquisição de frutos pelo possuidor de Boa-fé via do
artigo 277º nº3.
Não verificada a condição suspensiva – neste caso não se produzem os efeitos
definitivos o que o negócio tendia e desaparecem os próprios efeitos provisórios ou
preparatórios que tiverem lugar.

 Efeitos da condição resolutiva


A situação do devedor no negócio, fica sob a condição resolutiva, é idêntica á do credor
no negócio sob condição suspensiva, pois na condição resolutiva é suspensiva da
dissolução do negócio condicionado.
Pendencia da condição resolutiva – o negócio produz os seus efeitos normais, mas está
suspensa sobre a sua eficácia a possibilidade da verificação do evento condicionante. O
devedor condicionante, e titular de uma expectativa com certa tutela jurídica.
Deste modo o credor condicional deve agir de boa-fé, segundo o artigo 272º, o devedor
condicional pode praticar actos conservatório artigo 273º, e ate pode praticar actos
dispositivos, cuja a eficácia fica sujeita á verificação da condição resolutiva.
Verificada a condição resolutiva – importa a destruição automática e retroactiva dos
efeitos do negócio, o que fará perder a eficácia aos actos dispositivos do credor
condicional.
Exceção: artigo 277º nº2 e 3
Não verificada a condição – os efeitos do negócio consolidam-se radicando-se
definitivamente, a posição do credor sob condição.

2) Termo
Noção – cláusula acessória típica, pela qual a existência dos efeitos de um negócio são
postas na pendencia de um acontecimento futuro mas certo, de tal modo que os efeitos
só começam ou se torna exercitável a partir de um certo momento – termo suspensivo,
ou começam desde de logo, mas cessam a partir de um certo momento – termo
resolutivo, ou seja, é um evento fruto mas certo (ex. uma data), de que as partes fazem
depender os seus efeitos.

Regime jurídico – artigo 278º remete para o 272º e 273º = o artigo 274º tb se aplica
por analogia.
 Os efeitos surgem/produzem-se no futuro:
 Efeitos – os acontecimentos, aqui são certos e os efeitos dependem do negócio certo,
será normalmente um momento temporal ou um prazo, não se verifica qualquer tipo de
retroactividade. Há também a obrigação de agir de boa-fé, a cargo das partes, a fim de
não comprometer a integridade do direito, também pode praticar actos conservatórios do
seu direito tal como se sucedia na pendencia da condição artigo 278º e actos
dispositivos.
Artigo 279º - explica a contagem do prazo, mas é uma norma para o direito em geral,
porem o dia que foi celebrado não conta, só o dia seguinte.
Porem, não tem que acontecer no certo período.
Pode-se suspender ou resolver os efeitos – a verificação depende dos efeitos do n.j.
Artigo 276º - aos termos não se aplica, pela natureza do termo, não opera da
retroatividade.
Artigo 274º - nada impede, que haja uma venda a tremo inicial, mas só se torna
definitivo, se o termos se verificar.
Os termos normalmente tem datas.

3) Cláusula Modal (963º 965º e 2264º)


Modos impossíveis ou ilícitos, artigo 967º
 Regime: conteúdo artigo 963º nº2, incumprimento artigo 965º e 966º
 Definição face á condição artigos 427º e 801º nº2
 Doar – doador / donatário – só quando aceitarem a doação é que se adquire o valor.
Porém os nascituros não podem aceitar doações.
Noção – é uma cláusula acessória típica, pela qual nas doações e liberdade
testamentárias, o disponente impõe ao benificiário da liberdade de um encargo, ou seja,
uma obrigação de adotar um certo comportamento, no interesse do disponente, de
terceiro ou do próprio benificiário.
Artigo 963º - doações com cláusula modal: Nº1 – apesar de onerado com encargos, a
doação continua a ser gratuita, pois da parte do donatário não há uma verdadeira
contraprestação.
Exemplo: constitui uma doação modal o contrato pela qual os pais transferem para o
filho a exploração de todas as suas propriedade com o encargo de cuidar deles até ao
fim dos seus dias (morte).
Artigo 2244º - instituição de herdeiros e nomeação de legatário sujeitos a encargos.
Artigo 967º - modos impossíveis ou ilícitos
 Impossível – física ou legalmente, não tem que se pôr por escrito, e deste modo não
prejudica o donatário herdeiro, salvo declarações do doador ou do testador em contrário.
 Ilícitos – contrários á lei ou á ordem pública ou inofensivos dos bons costumes, tem
se igualmente por não escritos, ainda que o disponente disponha do contrário.
A nulidade é, portanto parcial, isto é, mantém-se o restante conteúdo da liberdade que
assim resulta ampliada sendo tal regime supletivo, no que toca ao modo impossível e
imperativo para o modo ilícito.
Artigo 965º - cumprimento dos encargos – incumprimento, se o incumprimento não for
imputável, a obrigação extingue-se, se a impossibilidade de cumprir o encargo for
definitiva, ou não tem lugar os efeitos de mora e por fim se a impossibilidade for
temporária, artigos 970º e 972º.
Artigo 966º - resolução da doação por incumprimento – o doador ou os seus herdeiros
poderão pedir a resolução de toda a doação, mas apenas quando por interpretação do
contrato, esse direito lhe seja conferida.
Não basta provar que a cláusula modal foi causa impulsiva da doação, como por
exemplo se soubesse que tal coisa ia acontecer não tinha doado.
O direito de resolução, tem que ser dada pelo contrato deve constar a cláusula de
resolução.

 Distinção face á condição:


807º Nº2 risco – a responsabilidade especial do devedor, consignado neste artigo,
exerce os limites da causalidade adequada, abrangendo os casos em que o
preenchimento da coisa não pode ser apontado como um efeito adequado de mora, só
cabendo na hipótese no nº2.
427º - Relações entre o outro contraente e o cessionário.

4) Cláusula Penal
 Noção: artigo 810º/1:
o Compensatória
o Moratória
 Forma: artigo 810º/2
 Funções:
o Indemnizatória: substitui a indemnização.
o Sancionatória: só é permitida na 2ª parte do artigo 811º, nº2.

 Interpretação e integração do negócio jurídico


Artigo 236º - nº1 posição objetiva, prevalece o critério da impressão do normal
destinatário, nº2 posição subjetiva, prevalece a vontade do declarante.
Artigo 237º - em caso de dúvida vale como o nº1 oneroso o negócio impossível de
interpretar.
Artigo 238º - n.j. formais, maior pendor objetivista.
Artigo 239º - integração elemento: normas supletivas, ditames de boa-fé, vontade
conjetural das partes.
O critério a seguir na integração é o da vontade conjetural ou hipotética das partes, isto
é, da vontade que elas teriam presumidamente quando houvesse previsto o ponto não
regulado, salvo dai decorrer um resultado iníquo, caso que deve decidir-se de acordo
com o que as partes deveriam ter querido.
A integração de um contrato pode levar a uma ampliação ou extensão do seu objeto,
embora não possa de se manter dentro do domínio negocial traçado pelas partes.

 Patologia dos Negócios Jurídicos:


Os vícios são perturbações no processo formativo da vontade pelo que, por motivos
anómalos, é considerada ilegítima.
Para formar uma vontade sem vícios tem de ser de forma livre (sem coação), esclarecida
(sem erro) e ponderada (psicologicamente bem).
Quando a lei fala em declarante (quem emite a declaração viciada) e declaratário
(recebe a declaração viciada), é em termos de um vício de um dos lados.

 As patologias do negócio jurídico pode incidir sobre:


1. Falta de vontade (art. 240º ao 250º): pode ou não haver vontade de acção, mas não
há vontade funcional, ou seja, uma ou ambas as partes não querem os efeitos do negócio
2. Vícios na formação da vontade (art. 251º a 257º e 282º a 284º): desde logo tem-se
o erro, a coação moral, a incapacidade acidental e a usura.

 Erro (art. 251º a 257º)


O erro tem de ser relevante (determinante da vontade, isto é, a vontade real/ declarada
tem de ser diferente da vontade conjetural – a que existiria sem vício). O erro pode
recair sobre:

a) Sobre a pessoa do declaratário (art. 251º): erro sobre a identidade e erro sobre as
qualidades. A, amigo de B, convenceu-se que B tem um problema grave e não pode
tocar piano, e deste modo não pode trabalhar pelo que se encontra desempregado. A
doou um carro a B porque achava que tinha poucas posses. Mas A descobre que B tem
muito dinheiro e só não trabalha porque não quer. A só doou porque tinha uma ideia
errada sobre B, são características comuns quando há um VSPD.

b) Sobre o objeto (art. 251º): pode incidir sobre o objeto mediato, sobre a identidade
ou sobre as qualidades, ou sobre o objeto imediato, é um erro sobre a natureza do
negócio. A compra a B, um automóvel e convenceu-se que tinha mais potência do que
na realidade tem, A está convencido de uma realidade que não existe. Deste modo
temos que ver qual era a vontade conjetural.

c) Sobre a base do negócio jurídico (art. 252º, nº2)

d) Sobre os motivos em geral (art. 252º, nº1): corresponde ao erro acerca da causa de
um direito ou de um facto. Cabe todas as realidades, que não nas 3 hipóteses (Falta de
vontade, Sobre a pessoa do declaratário e sobre o objeto).

 Tipificação do erro:
 Erro qualificado por dolo (art. 253º e 254º): erro determinado por um certo
comportamento da outra parte. Segundo o art. 251º para que seja anulável é preciso que:
o Haja consciência e voluntariedade em enganar.
o Dolo tenha levado ao erro, erro tenha levado à emissão da declaração.
O erro qualificado por dolo pode ainda ser considerado por ação ou por omissão. Será
por ação quando há consciência mais vontade de causar erro e será por omissão
quando há consciência mais vontade de manter em erro.

 Erro simples: é um erro que não tem dolo, não é qualificado por dolo, é a própria
pessoa que se engana. Para ser anulável é preciso (art. 251º e 247º):
o Essencialidade do erro (foi o erro que levou à declaração de vontade, erro
relevante).
o Cognoscibilidade e essencialidade do erro por parte do declaratário (o que
recebe a declaração tem de saber ou dever saber que o motivo que levou à declaração é
essencial).

 Dolo proveniente de terceiro: artigo 254º nº2


o Dolo cognoscível pelo declaratário: Negócio Jurídico é anulável.
o Dolo não cognoscível pelo declaratário: só é anulável em relação a terceiro
beneficiário. Se for autor do dolo ou se lhe era cognoscível o dolo.

 Coação moral (art. 255º e 256º)


É a ameaça de um mal, tem-se em causa o medo, e essa causa vai influenciar o negócio
jurídico. Segundo o art. 255º, nº3 a coação tem que ser lícita e o medo gravoso. Assim,
pode ser:
 Ilícita (art. 255º, nº1).
 Intencional (art. 255º, nº1 parte final)
 Pode provir de terceiros (art. 256º)
Se o medo não for provocado e for coação, pode haver usura – artigo 282º e 283º.

 Incapacidade acidental (art. 257º):


Falta de capacidade para compreender o negócio jurídico. Não é perante uma anomalia
psíquica, mas sim alguém que num período de tempo esta acidentalmente incapaz
devido a álcool, drogas.

 Usura (art. 282º):


Aproveitamento de necessitados, isto é, quando alguém se aproveita de uma fraqueza de
outro, pelo que é anulável.
 Simulação

Conceito: o que as partes exteriorizam não era o que queriam. Fazem-no porque assim
o entendem e pretendem, pelo que tem de haver um acordo entre as partes. Há uma
divergência intencional entre a vontade real e a declarada.

 Requisitos da simulação (art. 240º):


a) Intencionalidade da divergência entre a vontade e a declaração
b) Acordo entre declarante e declaratário (pacto simulatório)
c) Intuito de enganar terceiros.

 Modalidades da simulação:
Simulação Inocente: existência do mero intuito de enganar terceiros, sem os
prejudicar. Esta simulação é rara, temos como exemplo: as doações simuladas com um
fim de ostentação.

Simulação Fraudulenta: existência do intuito de prejudicar terceiros ilicitamente ou de


contornar qualquer norma da lei. Por exemplo: venda fantástica, é uma venda efetuada
pelo devedor a um comprador fictício para prejudicar os seus credores.

Simulação Absoluta: as partes celebram um contrato que não querem celebrar. Na


realidade as partes não querem celebrar nenhum negócio jurídico, é apenas um negócio
simulado, ou seja, existe um acordo entre partes, para prejudicar alguém. Por exemplo:
esconder bens de credores.

Simulação Relativa: as partes celebram um contrato que não pretendem e por detrás do
negócio simulado está um outro (o negócio dissimulado). A simulação relativa
manifesta-se em espécies diversas consoante o elemento do negócio dissimulado a que
se refere, nomeadamente:
 Simulação subjetiva ou dos sujeitos: podem ser simulados os sujeitos do negócio
jurídico. É verificada a interposição fictícia das pessoas que não deve ser confundida
com a interposição real. Assim, a interposição fictícia é uma conspiração entre dois
sujeitos reais da operação e o interposto. E a interposição real é quando o interposto
atua em nome próprio, mas no interesse e por contra outrem, por força de um acordo.

 Simulação objetiva ou sobre o conteúdo: pode ser:


a) Simulação sobre a natureza do negócio: se o negócio simulado resulta de uma
alteração negocial correspondente ao negócio dissimulado por exemplo: finge-se uma
venda e quer se uma doação.
b) Simulação de valor: incide sobre uma prestação estipulada pelas partes. É
fundamentalmente, mas não só, o caso da simulação de preço na compra e venda
fingindo um preço superior ou inferior ao valor real.

 Legitimidade para arguir nulidade:


Qualquer interessado mais simuladores (art. 242º, nº2): a simulação pode ser
invocada não só pelos filhos, como também pelos outros herdeiros legitimários. Os
credores também podem arguir a nulidade da simulação, sem que se torne necessário
que os devedores estejam insolventes ao tempo da acção.

Inoponibilidade a terceiros de boa-fé (art. 243º, nº1): o fim deste artigo é proteger a
confiança de terceiros, é inoponível à simulação, aquele que sofre prejuízos e não
aquele que apenas deixou de lucrar.

Inoponibilidade da nulidade e da anulação (art. 291º)

NOTA SOBRE A SIMULAÇÃO:


Artigo 240º, nº2: o negócio simulado é nulo, não produz efeitos.
Artigo 241º: a nulidade do negócio simulado não afeta o negócio dissimulado. Este em
regra, é válido. É preciso destruir o negócio simulado para se descobrir o dissimulado.
Artigo 241º, nº2: o negócio dissimulado pode precisar de forma. Este, estando
escondido, raramente possui forma e assim seria inválido por falta de forma. Para esta
questão surgem três posições doutrinárias:
1ª Posição: para o negócio dissimulado ser valido é preciso que tenha sido respeitada a
forma. O negócio dissimulado na prática nunca tem forma. Logo será sempre nulo.
2ª Posição: a forma do negócio simulado aproveita sempre o negócio dissimulado
(dissimulado vai aproveitar a forma do simulado). Princípio do aproveitamento de
negócios.
3ª Posição: caso a caso temos de ver se a forma do simulado aproveita o negócio
dissimulado. No negocio simulado têm de estar presentes os elementos mínimos/
essenciais do negócio dissimulado para se aproveitar a forma.

 Falta e vícios da vontade negocial


 Simulação
Noção: acordo entre declarante e declaratário no intuito de enganar terceiros, no entanto
com divergência entre a declaração negocial e a vontade real do declarante (art. 240º).

 Reserva mental
Noção: é emitida uma declaração contrária à vontade real com o intuito de enganar o
declaratário (art. 244º, nº1).
Regime Jurídico: a reserva não prejudica a validade da declaração, exceto se for
conhecida do declaratário e neste caso terá os efeitos da simulação (art. 244º, nº2), isto
é, o negócio é nulo, como na simulação, se o declaratário teve conhecimento da reserva.

 Declarações não sérias


Não há uma intensão de enganar. É parecido com a reserva mental, na expectativa de
que a outra parte perceba a falta de seriedade. Traduz se na divergência entre a vontade
e a declaração, embora intencional, não visa enganar ninguém, pois procede na
expectativa de que a falta de seriedade não passe despercebida (art. 245º).

 Coação física
A declaração não produz qualquer efeito se o declarante for coagido pela força física a
emitir uma declaração negocial. Não há vontade de acção, pelo que não há vontade de
agir (art. 246º).
Este artigo não abrange o caso em que o declarante se engana sobre o conteúdo da
declaração, na qual atribuiu um sentido que não corresponde ao seu significado
objetivo.

 Falta de consciência de declaração


A declaração não produz os seus efeitos se o declarante não tiver a consciência de fazer
uma declaração negocial. Existe falta de vontade ou pelo menos a falta de consciência
da declaração (art. 246º).
Por exemplo: assinar um documento de que não se tem consciência ou nem se vê. Numa
sessão de autógrafos, uma pessoa coloca vários papéis para assinar dizendo que é para
uma determinada situação que não corresponde à realidade.
.
 Erro de declaração – Erro não mental
Quando a vontade declarada não corresponde à vontade real do autor, a declaração
negocial é anulável senão for conhecido nem ostensivo - se for é um problema de
interpretação e deste modo aplicamos o artigo 236º, o nº1 se for ostensivo e o nº2 se for
conhecido.
Apesar de haver divergência entre a declaração e a vontade real do declarante, o
negócio não e nulo e só é anulável quando se verifique a circunstância exigida no art.
247º. Se a outra parte, tiver conhecimento do erro do declarante não pode exigir a
indemnização. Se a outra parte não conhecia o erro do declarante, mas devia conhece-lo
não existe o dever de indemnização.
O declarante tem a consciência de emitir uma declaração negocial, mas por lapso da
atividade, não se apercebe de que a declaração tem um conteúdo divergente da sua
vontade real. Por esse motivo fala-se para estes casos erro sobre o conteúdo da
declaração.

 Erro na transmissão – núncio


O erro na transmissão da declaração, por quem seja incumbida, pode ser anulado nos
termos do artigo 247º. Porém, não se admite a anulação sempre que o intermediário
emita intencionalmente (com dolo), uma declaração diversa da vontade (art. 250º, nº2).
Em todas os casos de falta de vontade, há uma divergência entre a vontade real e
declarada. Nunca quer os efeitos negociais do declarante.

Mensageiro (diferente de) Representante:


O mensageiro (pessoa que transmite a declaração) não negoceia, transmite uma
mensagem, enquanto o representante negoceia. Se o mensageiro se enganar é como se
fosse um lapso para o outro. Se o fizer dolosamente aplica-se o art. 250º, nº2. Se o fizer
de propósito é sempre anulável (art. 247º, nº1 e 250º, nº2).
 Parte Prática
Caso prático 1
António é um famoso pintor. Um incêndio, causado pela trovoada, reduziu a cinzas
três quadros que António tinha no seu atelier.
Também em virtude da trovoada o seu cão desapareceu. António fez publicar no
jornal regional um anúncio no qual declarou “dar 200 euros” a quem encontrasse
o seu cão. António encomendou os serviços de José para que este fizesse as obras
necessárias á reparação dos estragos provocados pela tempestade. Entretanto,
Manuel encontrou o cão e entregou-o a António.
António acabou o dia oferecendo uma linda rosa á sua companheira.
Determine os factos jurídicos constantes no enunciado, classifique-os tendo em
conta os factos e determine os efeitos produzidos pelos mesmos.
1º Facto- tempestade que causou um incêndio onde destruiu três quadros. O António é
sujeito ativo era proprietário dos quadros por isso tinha o dever geral de abstenção. O
sujeito passivo são todas as pessoas. Assim este facto é em sentido restrito que produz
como efeito a extinção de uma relação jurídica.
2ºFacto- o desaparecimento do cão não é um facto jurídico.
3ºFacto- publicação no jornal de dar 200 euros (art.459º do código civil), António tinha
vontade e por isso trata-se de um negócio jurídico unilateral. Constitui uma relação
jurídica, António é sujeito passivo, o sujeito ativo é indeterminado mas determinável
(art.511º do código civil), o sujeito passivo ficará titular de um direito de crédito e o
António fica vinculado a cumprir.
4ºFacto- encomendou os serviços de reparação aos danos, é um negócio jurídico. Temos
um contrato de empreitada (art.1207º do código civil) que conduz a uma constituição da
relação jurídica. È bilateral.
5ºFacto- Manuel encontra o cão, o sujeito ativo determinou-se, e é um ato jurídico
simples porque não é necessária a vontade funcional, basta a atuação (art.459º\2 do
código civil).
6ºFacto- António deu a rosa á mulher, trata-se de uma doação (art.940º e seguintes).

Caso prático 2
António, no dia 1 de Outubro de 2013, celebrou com Pedro um contrato através do
qual durante o mês de Maio de 2014.
Em janeiro de 2014 António através de documento por si elaborado no seu
computador vendeu a quinta X a Joaquim.
Em Maio de 2014 a fruta foi colhida. Nesta altura discute-se o proprietário da
quinta bem como da fruta.
Determinando os factos relevantes e os efeitos por eles produzidos diga qual a sua
opinião.
Trata-se de um contrato com efeitos reais (art.408\1 do CC) onde existe a transferência
do direito de propriedade. António e Pedro celebraram um contrato de compra e venda
de toda a colheita do ano seguinte. Acontece que a fruta ainda não existia na altura que
celebraram o contrato por isso não pode haver a transmissão do direito de propriedade,
logo a furta juridicamente é uma coisa futura, natural (art.212º do CC) e trata-se
também de frutos pendentes (art.880º do CC), isto é, o contrato só produz efeitos reais
no momento em que a fruta for colhida (art.808º e 408\2 do CC).
O contrato entre António e Joaquim é um contrato compra e venda com efeitos reais e
obrigacionais (art.879º do CC), no entanto não respeitou a forma do art.875º logo há
uma violação da forma (art.220º do CC) que conduz á nulidade do contrato (art.286º do
CC), por isso não produz quaisquer efeitos, na medida em que o negócio tornou-se nulo
e ineficaz. O António contínua proprietário da quinta, e a fruta em Maio torna-se
presente e autónoma e portanto pertence ao Pedro.

Caso Prático 3
A, de 17 anos e idade, prometeu vender a B, um automóvel pelo preço de 10.000€.
Naquela altura, B pagou 2.000€, ficando convencionado que no dia em que António
atingisse a maioridade seriam pagos mais 2.000€ e o restante seria pago 6 meses
após a 2ª prestação simultaneamente com a celebração do contrato de compra e
venda do carro.
A recebeu a 1ª e 2ª prestação e veio posteriormente invocar, nos termos do artigo
125º/1/b, a anulabilidade do negócio.
O negócio é anulável. Depois de atingir a maioridade recebe a 2ª prestação, de uma
forma indireta diz que aceita/ confirma tacitamente o negócio. Ao confirmar (artigo
288º), o negócio torna-se anulável.

Caso prático 4
António e Pedro celebraram um contrato através do qual o primeiro se obrigou a
fornecer diariamente, durante 1 mês, 50 kg de batatas contra o pagamento do
respetivo preço.
Ficou convencionado que no último dia do Mês se Pedro nada dissesse a António o
contrato prolongar-se-ia por igual período. No último dia do mês, quando Pedro se
dirigia para o seu escritório, para enviar uma telecópia a António a informar que
não pretendia que o contrato se prolongasse sofreu um acidente em virtude do qual
esteve inconsciente durante três dias.
Uns dias depois discute-se se o contrato se prolongou ou não. Quid Iuris?
Neste caso trata-se de saber se o silêncio vale ou não como meio declarativo, ora o
artigo 217º do CC diz-nos quais os meios declarativos que existem. No silêncio há um
nom facere (nada fazer). Em regra, o silêncio não vale como meio declarativo, só vale
se as partes, os usos, os costumes o determinaram. Neste caso concreto o silêncio vale
como meio declarativo porque as partes o convencionaram anteriormente, logo o
contrato só por aqui prolongar-se-ia.
No entanto, existe um outro problema, é que o silêncio por parte de Pedro foi forçado,
logo faltou-lhe a vontade de ação e, consequentemente, a vontade de declaração e a
funcional, isto é, Pedro ficou calado não porque quis mas porque teve um acidente que
lhe provocou a inconsciência durante três dias, não havendo vontade de ação,
declaração e funcional também não houve declaração negocial, portanto o contrato não
se prolongou – art.246º do CC.
Caso prático 5
António e Pedro celebraram, por escritura pública, um contrato de compra e
venda através do qual António vende a Pedro um determinado bem imóvel.
Ficou convencionado que o preço seria pago daí a um mês em casa de Pedro.
Quinze dias depois de celebrado o contrato António e Pedro convencionaram
alargar o prazo de pagamento para 6 meses, alterar o local de pagamento que
passaria a ser a casa de António, e ainda, estipular a possibilidade de resolução do
contrato em caso do incumprimento do pagamento do preço.
Este acordo foi reduzido a escrito num documento elaborado no computador de
António e assinado pelos dois.
Fim do prazo para pagamento, Pedro entende que não se deve deslocar a casa de
António, este por seu lado entende que pode resolver o contrato uma vez que Pedro
não pagou o preço. Quid Iuris?
O problema é um contrato compra e venda que as partes decidiriam alterar. No artigo
219º do CC temos presente a regra da forma, existe liberdade de forma, exceto se o
contrato possuir forma especial. A forma da declaração negocial pode ser de três
maneiras:
 Por documento particular (feito pelas partes)
 Por documento particular autenticado (elaborado pelas partes só que estas
comparecem perante um notário\advogado\solicitador e confirmam que aquilo reflete a
sua vontade e assinam.
 Por documento autêntico (escritura pública).
Quando realizaram o contrato pela primeira vez, António e Pedro cumpriram a lei, pois
o contrato compra e venda é um contrato que exige uma forma especial (art.875º do
CC), logo cumpriram a lei na medida em que celebraram o contrato por escritura
pública, por isso o contrato existe e é válido.
No entanto, passado 15 dias alteram o contrato mas não respeitam a forma do artigo
875º, no entanto no artigo 221º\2 diz-nos que as alterações posteriores ao contrato só
estão sujeitas á forma legal prescrita para a declaração se as razões de exigência especial
da lei lhe forem aplicáveis, ou seja, só é necessária a forma legal se as alterações
afetarem o efeito essencial do contrato, ora analisemos as alterações que António e
Pedro fizeram:
 Alteraram o prazo e o local para o pagamento do preço
 Estipularam a possibilidade de resolução do contrato em caso do incumprimento do
pagamento do preço
Qual é o efeito essencial do contrato compra e venda? É a transmissão do direito de
propriedade (art.879º al.a), por isso ao alterarem o prazo e o local para o pagamento do
preço não interferiram no efeito essencial. Quanto á possibilidade de resolução do
contrato, aqui já afeta a transmissão do direito de propriedade logo a forma tem que ser
especial (art.875º, 221º\2 e 220º do CC).
Em conclusão, Pedro tem de pagar em casa de António, mas António não pode resolver
o contrato por incumprimento do pagamento do preço porque a cláusula não é válida
nem eficaz.

Caso prático 6
António desejava comprar um valioso quadro pertencente a Belmiro.
Para o efeito, telefona-lhe propondo a sua compra pelo preço de 10.000 euros, ao
que Belmiro respondeu que necessitava de uma semana para pensar. António disse
que por ele tudo bem.
Três dias passados, António recebeu uma encomenda cujo conteúdo o deixou
espantado e satisfeito: Belmiro enviara-lhe o quadro.
Quinze dias depois, Belmiro telefona a António perguntando-lhe pelo pagamento
do preço. António respondeu que não iria pagar afirmando que “após se ter
informado com alguns especialistas na matéria” havia chegado á conclusão de que
afinal o quadro não valia assim tanto dinheiro e que ao fim ao cabo nenhum
contrato fora celebrado. Quid Iuris?
O problema neste caso é saber se houve ou não a conclusão do contrato. Mas, antes de
mais, devemos saber distinguir o momento de formação do contrato do seu momento de
conclusão. Assim, o art.232º diz-nos que o contrato estará concluído quando as partes
chegarem a acordo sobre tudo. Mas, no art.408º\1 diz-nos que o efeito real dá-se quando
há acordo, logo o contrato acontece quando as partes entram em acordo, só depois é que
acontecem os efeitos reais. Mas, a formação do contrato já ocorreu no momento em que
existiu acordo.
Voltando ao caso prático, temos uma situação em que António diz a Belmiro que está
interessado em comprar o quadro, temos uma declaração negocial expressa (art.217º). A
compra de um quadro não necessita de forma específica, portanto existe liberdade
formal pelo que podia muito bem ter sido feita verbalmente, não necessita de um
documento escrito. Perante isto, há uma proposta contratual (art.224º) que ganhou
eficácia e irá produzir os seus efeitos jurídicos, ou Belmiro aceita a proposta ou não
aceita, ou seja, Belmiro tem direito potestativo de aceitar ou não aceitar a proposta de
António. Para se pronunciar sobre a sua decisão tem o prazo de uma semana (prazo
acordado entre os dois), por isso durante esse tempo a proposta é eficaz (art.228º).
Passados três dias Belmiro envia o quadro a António, existe um comportamento por
parte de Belmiro, será que esse comportamento tem alguma relevância contratual? Sim,
o comportamento de enviar o q a quadro pressupõe a aceitação da proposta, isto é,
retiramos que inequivocamente Belmiro aceita tacitamente a proposta (art.217º).
Concluindo, temos uma proposta por parte de António que é eficaz durante uma
semana, mas ao terceiro dia há aceitação tácita por parte de Belmiro, ora o contrato
concluiu-se neste momento. Portanto, estamos perante um contrato compra e venda que
acarreta efeitos reais e efeitos obrigacionais. Desta forma, houve a transmissão do
direito de propriedade de Belmiro para António, houve a entrega da coisa, falta o
pagamento do preço, logo quem tem razão é Belmiro ao exigir o dinheiro, pois António
tem que cumprir essa obrigação – a do pagamento do preço do quadro pois existe um
contrato que se formou e se concluiu.

Caso prático 7
António encontrou-se com Pedro no café. António reparou que Pedro olhava
insistentemente para o seu relógio. Face a isso, António perguntou-lhe se ele estava
interessado no relógio.
Pedro respondeu que talvez. Perante a atitude de Pedro, António Pegou no relógio
e disse: “Leva-o, experimenta e se nada disseres nos próximos cinco dias é porque
queres ficar com ele por 200 euros”.
Pedro sem dizer nada, pegou no relógio, colocou-o no pulso, sorriu e foi embora.
Doze dias depois, António, uma vez que Pedro nada disse, resolveu vender aquele
mesmo relógio a João. João procurou Pedro e exige-lhe a entrega do relógio.
Quid Iuris?
O problema aqui presente é saber se entre António e Pedro chegou a cumprir-se o
contrato ou não.
Ora, temos uma relação entre António e Pedro constituída por três momentos:
1º Encontro no café
2º No prazo de cinco dias se Pedro não dizer nada fica com o relógio
3º Passado 12 dias, António vende o relógio a João.
Se ao 12º dia o contrato entre António e Pedro concluiu-se, António vende uma coisa
alheia, senão houve, de facto, conclusão do negócio, António vende a João e esse
negócio produz todos os seus efeitos e por isso, João deve exigir o relógio. Portanto,
temos que saber se o contrato entre António e Pedro chegou a concluir-se ou não.
Temos uma série de comportamentos no nosso caso que têm e devem ser interpretados:
- António pergunta a Pedro se quer comprar o relógio: estamos perante uma proposta
contratual que pressupõe uma declaração negocial
- António diz que Pedro leva o relógio e se no prazo de 5 dias não disser nada fica com
ele por 200 euros: António neste caso está a dizer que o silêncio de Pedro servirá como
uma resposta. Mas, o silêncio vale como meio declarativo? Aprendemos que só vale
como meio declarativo se uma lei, uso ou convenção o declarar como tal (art.218º).
Neste caso não temos nenhuma lei, nenhum uso, teremos uma convenção? Dito por
outras palavras, será que as partes convencionaram que o silêncio valeria como meio
declarativo? Pedro levou o relógio e por isso, deste comportamento retiramos
inequivocamente que Pedro aceitou tacitamente o silêncio como meio declarativo, assim
Pedro tinha o direito potestativo de aceitar ou não aceitar a proposta, ou seja, até ao
quinto dia ligava a António e dizia que não queria ou não dizia nada e havia contrato.
Chegou-se ao quinto dia e não disse nada, houve silêncio que, neste caso, vale como
meio declarativo porque foi convencionado entre as partes, logo o contrato conclui-se.
Estamos perante um contrato compra e venda (art.874º, 879º e 408º). Ao 12º dia
António vende uma coisa alheira a João (art.892º).

Caso prático 8
Bento escreveu uma carta a Fernando, a qual foi recebida no dia 2, propondo a
venda de uma jóia pela quantia de 1000 euros, e dando como prazo de resposta dez
dias.
Suponha as seguintes hipóteses:
Situação 1- No dia 3 Bento vendeu essa jóia a Carlos, e no dia 5 Fernando
respondeu aceitando a oferta. .
Situação 2- No dia 5 Fernando respondeu por outra carta, recebia no dia 6,
oferecendo 750 euros e marcando 10 dias a Bento para este dizer sim ou não, sob
pena de se considerar o negócio concluído. No dia 20 Bento, que entretanto nada
tinha respondido a Fernando vendeu essa jóia a Carlos.
Nestas duas situações diga a quem pertence a Jóia.
Na situação 1 temos, em primeiro lugar, uma proposta contratual (art.224º) que se
tornou eficaz porque Fernando tomou conhecimento da proposta, assim tem como
efeitos Fernando fica com o direito potestativo de aceitar ou não e Bento fica em estado
de sujeição. Aqui Bento ainda é proprietário. Depois, em segundo lugar temos um
contrato compra e venda entre Bento e Carlos, tem como efeitos reais a transferência do
direito de propriedade (art.408º nº1) e como efeitos obrigacionais o pagamento do preço
e a entrega da coisa. Em terceiro, Fernando aceita a proposta, concluiu-se o contrato
compra e venda (art.874º) mas Bento já não tinha legitimidade para transferir o direito
de propriedade, por vendeu um bem alheio. Só quando o contrato se conclui é que se
transfere o direito de propriedade, e o contrato conclui-se quando é feita a aceitação do
acordo.
Na situação 2, primeiro temos uma proposta contratual, em que Fernando não aceitou e
fez uma nova proposta (art.233º). Depois, passaram-se dez dias. O silêncio vale como
meio declarativo? Não, não houve acordo das partes (art.218º). Não se concluiu o
contrato, portanto a jóia é de Bento e a sua venda a Carlos é totalmente válida.

Caso prático 9
Duas sociedades comerciais estão em negociações, por carta, para a venda de certo
equipamento industrial.
Em determinado momento a sociedade vendedora escreve á compradora dizendo
que a sua última oferta quanto ao preço do equipamento é de 25.000.000 euros e
que se a compradora nada responder no prazo de dez dias considera a venda
efetuada e remeterá o equipamento por via-férrea. A compradora nada mais
respondeu, mas em três dias depois pediu á vendedora que envia-se um catálogo
com as instruções sobre a utilização do equipamento. Quinze dias depois, a
compradora foi avisada pela CP para levantar o equipamento sendo que recusasse
a faze-lo. A vendedora, por seu turno, exige o pagamento do preço. Quid Iuris?
Para resolver o caso prático de teoria geral do negócio jurídico devemos analisar facto
por facto. Assim:
1º Facto- a ultima proposta é de 25.000.000 euros, estamos perante uma proposta
contratual (art.224º) que ganhou eficácia porque chegou ao conhecimento da outra
parte, por essa razão a vendedora tem o direito potestativo de aceitar ou não aceitar.
2º Facto- três dias depois a compradora comunica ao vendedor que lhe mande o
catálogo do equipamento, como se analisa este comportamento? O comprador está a
dizer indiretamente que aceita o equipamento, isto é, temos uma aceitação tácita da
proposta contratual mas deixa-nos dúvidas porque pedir o catálogo não significa que o
comprador queira o equipamento, pode apenas só querer ver as características sem
querer comprar. Portanto, este comportamento não serve como aceitação tácita da
proposta contratual porque deixa-nos com dúvidas, não conseguimos afirmar se de facto
o comprador queria o catálogo para comprar o equipamento.
3º Facto- o vendedor diz que se em dez dias o comprador não disser nada é porque
aceita, ou seja, colocou o silêncio como meio declarativo (art.218º), mas sabemos que o
silêncio só é considerado como meio declarativo se constar na lei, costume ou se tiver
sido convencionado por ambas as partes, aqui a compradora não convencionou portanto
o silêncio não vale como meio declarativo, logo o negócio não se concluiu.

Caso Prático 10:


A pretende adquirir um apartamento na cidade do Porto. Uma vez que vive na
Suíça, A foi ao consulado quando fez uma procuração onde instituíram o seu
procurador B, ao qual atribuiu poderes para comprar quaisquer bens imoveis pelo
preço e condições que entende-se conveniente.
A telefonou a B, dizendo-lhe que ia enviar a procuração e dando-lhe instruções
precisas no sentido de este adquirir o apartamento na cidade do Porto.
Munido daquela procuração, B em nome e em representação de A adquiriu a C
um apartamento em Vila do Conde.
A quando tomou conhecimento da compra do apartamento em Vila do Conde, fez
saber a B e a C que não tinha qualquer interesse naquele negocio uma vez que
aquele apartamento que pretendia tinha de se situar na cidade do Porto. Quid
Iuris?
A tem uma relação com B (procurador), trata-se de um negócio jurídico unilateral. A
representação pode ser legal (conferida por lei) ou voluntária (através da procuração –
262º).
O artigo 258º diz inequivocamente que os efeitos jurídicos projetam-se na esfera
jurídica do representado, desde que, o representante tenha poderes de representação.
B comprou a C um apartamento em Vila do Conde. Tinha poderes? Sim, foram
atribuídos poderes para comprar quaisquer bens imoveis. Mas, o enunciado da
procuração é mais abrangente que o representado queria, pelo que não é um problema
de falta de poderes mas sim, de abuso de poderes.
Assim, no artigo 269º refere que se tem poderes a regra é a eficácia, já no 268º é a
ineficácia porque não tem poderes. O contrato seria ineficaz no caso de C conhecer ou
devia conhecer o abuso. Como tal não aconteceu, pois apenas sabia que B era detentor
de uma procuração, A teria de ficar com o apartamento.

Caso prático 11:


António outorgou uma procuração atribuindo poderes a Bento para que este
vendesse quaisquer quadros do pintor X, pelo preço que entendesse.
Bento, invocando a qualidade de representante de António vendeu a Carlos uma
escultura da autoria de X.
Entretanto, António sabendo da venda efetuada por Bento, enviou a escultura a
Carlos.
Dois dias depois de enviar a escultura a Carlos, António vendeu aquela mesma
escultura a Diogo, que lhe ofereceu um preço substancialmente superior.
António alega que não tinha dado poderes a Bento para vender a escultura e, como
tal o negócio celebrado com Carlos nunca se chegou a cumprir.
Quem é o proprietário da escultura? Fundamente a resposta.
Temos uma sucessão de quatro factos, por isso devemos analisar facto por facto. Deste
modo começamos pelo:
Facto 1- António outorgou uma procuração a Bento, estamos, portanto perante uma
representação voluntária, isto é, quando os poderes são transferidos por um ato chamado
procuração (art.262º), que se trata de um negócio jurídico unilateral. Sempre que
alguém atua como representante os efeitos jurídicos projetam-se na esfera jurídica do
representado, como é óbvio desde que se tenha poderes para tal. A forma exigida para a
procuração é a forma exigida no negócio jurídico celebrado (art.262º\2), neste caso a
venda de quadros é um negócio de compra e venda, por isso a forma exigida será a
mesma forma da compra e venda, para a compra e venda de quadros temos liberdade de
forma, logo a procuração também terá liberdade de forma (art.875º e 219º).
Facto 2- Bento invocando a qualidade de procurador de António vende uma escultura a
Carlos. Presenciamos um contrato compra e venda (art.874º). O Bento intervém no
contrato apenas como procurador, porque no fundo o contrato celebrou-se entre António
e Carlos tal como nos diz o art.258º, mas para que tal aconteça Beto tem que ter poderes
de representação para que os efeitos recaiam na esfera jurídica de António, portanto,
Bento tinha poderes para vender a escultura? Não, apenas tinha poderes para vender
quadros, logo há falta de poderes (art.268º), este artigo contraria de certa forma o
art.258º porque o negócio entre António e Carlos é ineficaz porque Bento não tinha
poderes para tal, logo este contrato não produziu quaisquer efeitos na esfera jurídica de
António.
Facto 3- António sabendo que Bento vendeu a escultura a Carlos, envia a escultura a
Carlos, este comportamento é relevante? No art.268º\2fala-nos em ratificação, que é um
ato de concordância e significa que António concorda com o negócio e quer para si os
efeitos jurídicos, logo António ratifica tacitamente (art.217º) o negócio celebrado por
Bento. Mas, a ratificação está sujeita á forma exigida do negócio, isto é, neste caso,
como se trata de venda de quadros, tem liberdade de forma (art.875º e 219º). Então o
que anteriormente era ineficaz, agora através da ratificação ficou a ser eficaz, e por isso
o contrato compra e venda passa a produzir todos os seus efeitos, logo Carlos passa a
ser proprietário da escultura.
Facto 4- António vende a Diogo, visto que o negócio compra e venda com Carlos se
concluiu e produziu todos os seus efeitos, António já não era proprietário da escultura e
por isso não poderia vender a Diogo, trata-se de uma venda de bens alheios.
Em conclusão, a escultura pertence a Carlos, que será o seu proprietário.

Caso Prático 12:


Leonardo pretende comprar um apartamento em Vila Moura. Para o efeito,
entrega uma procuração a António, seu amigo, nos seguintes termos: “concedo
poderes para a aquisição de um apartamento T2, em Vila Moura até 100.000€.
1. António quando já se encontrava no local, decide adquirir ao mesmo vendedor,
Carlos, em nome de Leonardo pelo preço de 95.000€, um apartamento duplex do
tipo T3. Dois dias depois, Carlos exige o pagamento mas Leonardo rejeita pagar.
Terá fundamento?
2. E se António tivesse comprado em nome de Leonardo, um apartamento T2 por
100.000€, depois de algumas semanas antes, Leonardo ter revogado a procuração.
Sendo que a revogação da procuração foi levada ao conhecimento de António
através de carta enviada por Leonardo.
Leonardo enviou também uma carta a Carlos, informando da dita revogação,
carta essa que foi recebida já depois de ter sido celebrado o contrato. Neste caso,
terá Leonardo de pagar o preço?
O que se tem aqui presente: abuso de poderes ou falta de poderes de representação? Há
abuso de poderes quando eles são mal usados. Há falta de poderes quando não há
poderes para a prática do ato. Sendo assim, para o nosso caso temos falta de poderes de
representação (268º).
É irrelevante se o negócio que António celebrou até era mais vantajoso do que o pedido.
O negócio jurídico celebrado é valido mas ineficaz. Não há nada que diga que Leonardo
ratificou o negócio, por isso, Leonardo não tem de pagar, pois o negocio jurídico não
produziu efeitos.
Para a segunda questão, revogar é um ato jurídico unilateral extintivo, extingue-se a
procuração e retira os poderes ao procurador. Quando a revogação ganha plena eficácia?
Artigo 265º/nº2 – artigo 266º/ nº1.
A revogação tem de ser comunicada quer ao procurador quer a terceiros, de forma
idónea (diretamente comunicada). Pode ser preciso fazer o anúncio público da
procuração (artigo 265º/ nº2). Leonardo fez a revogação, foi eficaz? Quanto a António
sim, quanto a Carlos não.
Artigo 266º: quanto a terceiros, a revogação só ganha eficácia a partir do momento que
chega ao conhecimento de terceiros ou devia ter sido conhecido. O contrato celebrou-se.

Caso Prático 13:


António, preocupado com o futuro do seu afilhado Joaquim, fez o seguinte acordo
com ele: “uma vez que entraste este ano para o curso de Direito, na Universidade
Lusíada, resolvi doar-te o automóvel xpto que tu tanto gostas (automóvel de
coleção), no caso de tu conseguires terminar o curso em 4 anos letivos”. Reduziram
tal acordo a termo.
Dois anos depois, António, necessitando de dinheiro, vendeu aquele automóvel a
Carlos. No termo do 4º ano letivo, certo é que, Joaquim terminou a sua
licenciatura em Direito. Consequentemente, reclama com seu Padrinho a entrega
do carro. Quid Iuris?
António celebrou um contrato de doação com Joaquim (940º). É um contrato unilateral
(gera obrigações para uma das partes) e gratuito (gera vantagens e desvantagens para
uma das partes). Assim, de acordo com o artigo 954º com remissão para o 408º é
obrigatória a entrega da coisa. No entanto, António e Joaquim apuseram uma cláusula
acessória, nomeadamente uma condição (270º) que é fazer depender os efeitos do
contrato a um facto futuro e incerto. Como se pode fazer? Obstando os efeitos do
contrato, não os produzindo na hora. É portanto, uma condição suspensiva, pois
queriam esperar que o facto futuro se realiza-se.
O contrato concluiu-se, é válido só que é ineficaz por não estar a produzir os seus
efeitos desde o momento do contrato.
Dois anos depois: António que precisava de dinheiro vendeu o carro a Carlos. Tem-se
um contrato de compra e venda (879º + 408º) que produziu os seus efeitos, pelo que
Carlos passou a ser detentor do direito de propriedade, sendo um contrato válido e
eficaz.
Num terceiro momento, Joaquim licenciou-se o que leva ao contrato ineficaz ser eficaz.
Assim, segundo o artigo 276º + 274º tem-se incerta a regra da retroatividade. A
condição operando retroativamente é como se fosse eficaz no primeiro momento. O
274º refere que todos os negócios feitos na pendencia da condição, ficam à sorte da
condição, ou seja, se a condição se verificar o negócio feito na pendencia é ineficaz, se
não se verificar o negócio é eficaz. Pelo que, como a condição se verificou o contrato
entre António e Carlos tornou-se ineficaz. Padece de uma ineficácia relativa por causa
de Joaquim.

Caso Prático 14:


António, que vai emigrar para a Suíça, resolveu doar a seu imóvel a Bento. Por
escritura pública, António doa a Bento a Quinta X constando do texto da escritura
que a doação é feita para que Bento trate da Quinta Z que também pertence a
António. Dois dias depois, António e Bento, porque se tinham esquecido de tal
cláusula do contrato de doação redigem no computador um documento do qual
consta o seguinte: “no caso de Bento não tratar da Quinta Z, António poderá
resolver a doação”.
Três anos depois, António regressa da Suíça e, tendo conhecimento que Bento nada
fez na Quinta Z, pretende resolver a doação. Quid Iuris?
António celebra com Bento um contrato de doação (940º) que é um contrato gratuito
(gera desvantagens e vantagens para apenas uma das partes) e unilateral (gera
obrigações para uma das partes). O que é preciso na doação? É necessário que, uma
pessoa refira que doa e outra que aceita. Distinção entre:
Condição: interferência nos efeitos do contrato, pode ser suspensiva ou resolutiva. É
um facto futuro e incerto.
Termo: é um facto futuro mas certo, também pode ser suspensivo ou resolutivo.
Cláusula Modal: típica da doação e do testamento, típica de negócios gratuitos (963º a
967º). O doador diz que dá algo desde que a pessoa que recebe faça algo e diga que o
aceita.
Sendo assim, e aplicando ao caso, tem-se um encargo: doação com cláusula modal
(963º). A doação produziu os seus normais efeitos, alem destes, Bento ficou obrigado a
tratar da Quinta Z. Aqui tem-se duas obrigações para as duas partes em que uma é
cumprir o encargo. O que acontece? Bento não cumpre o encargo e António pretende
resolver o contrato por falto do cumprimento (966º). Pode fazê-lo? Pode, desde que esse
direito esteja previsto no contrato, senão só podia exigir judicialmente o cumprimento
do encargo.
Neste caso pode resolver o contrato? Tudo indica que sim, por causa do documento
acessório de resolução, e por isso sim. Só que deveria ter a mesma forma que o contrato
(221º/2) uma vez que, as alterações podem afetar o efeito essencial (220º). Esta
declaração é nula, logo não podia resolver o contrato.

Caso Prático 15:


António, feliz com o percurso académico do filho Bento, e sabendo que ele
pretende candidatar-se a uma prestigiada multinacional, pretende doar-lhe um
carro desde que ele consiga o lugar.
No dia seguinte, constata que á já 3 dias atrás, a multinacional tinha fechado
portas em virtude da insolvência. Quid Iuris?
Pressuponha agora que, o encerramento se tinha verificado depois da celebração
do contrato de doação. Quid Iuris?
Pressuponha ainda que, António arrependido falou com um seu amigo, diretor de
recursos humanos dessa multinacional recusasse a candidatura do filho, o que veio
a acontecer.
António celebrou um contrato de doação com Bento (artigo 940º). Este contrato tinha
uma cláusula acessória: uma condição suspensiva de impossibilidade originária
(271º/2), que torna o negócio nulo por ser uma condição impossível e portanto não
produzirá efeitos, mas o negocio em causa é uma doação pelo que é preciso verificar se
tem alguma norma especial (967º) com remissão para o 2230º, o que considera a
clausula não escrita e isso significa que a doação produziu os seus normais efeitos.
Na segunda hipótese, já se tem presente uma impossibilidade superveniente (275º/1),
onde se tem a certeza que a condição não se vai verificar, pelo que há uma antecipação.
O que acontece? O contrato que era ineficaz fica ineficaz para sempre.
Por fim, na terceira hipótese, tem-se a intervenção do Pai na verificação da condição,
qual o regime que se aplica? 275º/2. A solução deveria ser contrária à que o pai queria e
foi o que aconteceu, o contrato produziu os normais efeitos.

Caso Prático 16:


Horácio, supondo estar doente, doa a Fábio uma coleção de moedas. Uns dias
depois, Horácio veio a constatar que, a sua doença não é grave.
Horácio poderá anular a doação?
Estamos perante um problema/ erro de doar por achar estar doente. Surge no momento
de formação da vontade (Se Horácio soubesse que não estava doente não tinha doado).
Trata-se de uma patologia originária: verificam-se antes da celebração do negócio
(240º) - Formação da vontade (251º até 257º) e exteriorização da vontade (240º atá
250º).
Erro/ vício 251º a 254º:
 Medo causado por coação moral (255º e 256º).
 Incapacidade acidental (falta de capacidade para compreender o negocio jurídico –
257º).
 Usura (aproveitamento de necessitados – 282º).
Erro: falsa representação da realidade. Erro que leva à emissão da declaração de
vontade (erro relevante). Artigo 252º, nº1: norma geral sobre motivos em geral. Erro
pode ser sob a pessoa ou objeto (previsto 251º).
O 253º/ 254º: erro induzido qualificado por dolo (consciência e voluntariedade de
enganar) por omissão ou por ação. Exemplo: se Fábio forjasse as análises.
Para este caso aplica-se o artigo 252º/1. É preciso que se demonstre que as partes
chegaram a acordo que o motivo de doação era fundamental para a conclusão do
negócio, para que o erro seja causa de anulação. Não é o caso, os requisitos de anulação
não estão preenchidos.

Caso Prático 17:


Abel, que nada percebe de arte, ouviu dizer ao seu amigo Carlos que em certo
antiquário estava em exposição uma imagem de “Santa Clara de Assis” de alto
valor que datava do século XVII.
No dia seguinte, Abel dirigiu-se ao estabelecimento e imediatamente ofereceu ao
dono, Manuel, 30.000€ pela imagem.
Manuel, surpreendido, com tao elevada quantia proposta não hesitou em vender a
dita imagem. Abel, logo se apressou a mostrar a imagem a Bento, perito em
antiguidades. Este esclareceu que a imagem era uma imitação recente e pouco
valor tinha, no máximo valia 1.000€.
Abel pretende, agora, dissolver a imagem e reaver o seu dinheiro. Pode fazê-lo?
Contrato de compra e venda, verificou-se uma patologia que ocorreu no momento em
que o acordo foi aceite. O erro é relevante, pois foi o erro que o levou a comprar a
imagem por 30.000€. É necessário tipificar o erro. Neste caso, é sobre o objeto (251º). É
um erro simples ou qualificado por dolo? Para haver dolo é preciso consciência de
voluntariedade de cometer dolo. Existe a omissão do vendedor que poderia saber que a
imagem era uma imitação. Assim, temos duas argumentações:
1ª: Manuel sabia que era uma imitação, o que levaria a erro qualificado por dolo por
omissão (253º e 254º). Para que seja anulável é preciso uma dupla causalidade (o erro e
a emissão da declaração de vontade). Seria portanto, anulável.
2ª: Ele não sabia e vendeu, ou seja, não teve nenhuma atuação sem ser vender e não
houve matéria para dolo, portanto seria um erro simples. O 251º tem a previsão e para a
estatuição remete para o artigo 247º, requisitos da anulação do negócio:
1º: essencialidade do erro.
2º: cognoscibilidade por parte do declaratário. O que recebe tinha de saber que motivo
era essencial para o declarante, Abel. Para o negocio ser anulável tinha de verificar-se
os dois requisitos e tinha de recair sobre o motivo essencial.

Caso Prático 18:


Alberto casado com Bruna, pretendia doar a Maria, com quem tinha cometido
adultério, um imóvel. Aconselhado por um amigo acerca dos riscos do negócio
(953º + 2196º/1), Alberto vendeu o dito imóvel a Maria. Foi declarado no respetivo
acto que o preço de 100.000€, se encontrava totalmente pago quando efetivamente
nenhum preço foi pago ou viria a ser pago. Bruna pretende reagir contra o
negócio. Poderá faze-lo?
Pressuponha que Maria não tinha tido qualquer relacionamento com Alberto, a
resposta seria a mesma?
Está-se perante uma patologia na exteriorização da vontade (240º - 250º). É preciso
analisar se é uma questão de divergência de vontade real e declarada ou falta de
vontade. Se for divergência de vontade real e declarada tem-se duas hipóteses: a
vontade intencional e a vontade não intencional. A intencional levaria à simulação (art.
240º e ss) ou à reserva mental (244º).
A vontade não intencional conduziria ao erro na declaração (247º e ss).
Analisando a segunda opção: falta de vontade. O que significa? Significa falta de
vontade funcional, vontade de declaração e vontade de ação. Essa falta de vontade
poderia conduzir a três situações diferentes nomeadamente: declarações não sérias (art.
245º - falta de vontade funcional), falta de consciência na declaração (art. 246º - só há
vontade de ação) e coação física (art. 246º - não há nenhuma vontade). Estas situações
conduzem à inexistência jurídica.
Assim, Alberto e Maria celebraram um contrato de compra e venda mas era um contrato
simulado e o que exteriorizaram não era o que queriam: divergência intencional na
declaração: simulação, isto é, acordo entre duas pessoas para simularem uma vontade
que não é real para enganar terceiros, a Bruna.
O art. 240º apresenta os respetivos requisitos:
 Divergência entre vontade real e declarada: pacto simulatório (intenção de enganar
terceiros).
A simulação pode ser absoluta (as partes celebram o contrato que não querem celebrar.
Partes não querem celebrar este nem outro contrato. Por exemplo: esconder bens dos
credores), ou relativa (partes celebram o contrato e por trás está outro negocio
escondido (negocio dissimulado, que neste caso é a doação. O contrato está escondido
por baixo do contrato simulado que é o contrato de compra e venda (art. 240º/2). O
contrato será nulo porque não produz quaisquer efeitos.
Segundo o art. 241º: a nulidade do negócio simulado não afeta o negócio dissimulado.
Em regra válido e por aqui não é inválido, pode ser por outro motivo.
Também avaliando o art. 953º + 2196º, a doação é nula, mas não por o contrato de
compra e venda ser nulo - Bruna podia invocar a nulidade do contrato de compra e
venda e depois podia atacar a doação, porque sem destruir o contrato de compra e venda
não há doação. O contrato de compra e venda esconde a doação.
Pressupondo agora que, Maria e Alberto não tinham tido qualquer relacionamento,
como se resolveria o problema? Bem, a compra e venda que é o negócio simulado seria
nula. Ficando com a doação, ela tem algum problema? Não, mas a doação precisa de
forma (art. 241º/2)? O negócio dissimulado raramente tem forma porque é suposto estar
escondido.
Assim, do art. 241º/1 o negócio simulado não afeta o negócio dissimulado, já o número
2 trata negócios formais: o negócio formal é necessário? Surgem três posições
doutrinárias:
1ª Para o negócio dissimulado formal ser válido é necessário que tenha sido respeitada a
forma, isto é, dir-se-ia que a doação também tenha a forma de escritura pública.
2ª Para a forma do negócio simulado aproveita sempre a do negócio dissimulado. Esta é
a posição mais seguida pela jurisprudência portuguesa.
3ª É a posição intermédia: caso a caso tem-se que aferir se o negócio simulado pode
aproveitar a forma do negócio dissimulado. Tem que ter os elementos mínimos para o
negócio simulado ter o aproveitamento da forma.
No nosso caso tinha-se um negócio simulado (contrato de compra e venda) e um
negócio dissimulado (contrato de doação). Se a 1ª posição fosse aplicada, chegava-se à
conclusão que era nulo por falta de forma. Se fosse a 2ª posição, já seria válido e por
fim, se fosse a 3ª, como os elementos mínimos estavam presentes o negócio era válido.

Caso Prático 19:


António pretendendo esconder os seus bens dos seus credores, combinou com o seu
amigo Bento, transmitir para este, temporariamente, a propriedade do seu único
imóvel.
Para tal, em 1 de Outubro de 2010, celebraram uma escritura pública de compra e
venda, sendo certo que nenhum preço foi pago, tendo ficado combinado que daí a
uns tempos a propriedade do imóvel retornaria a António.
Um ano depois, Bento sem nada a dizer a António vendeu aquele mesmo imóvel a
Carlos, que nada sabia do sucedido.
a) Em Janeiro de 2012, António descobre o sucedido e quer recuperar o imóvel.
Quid Iuris?
António celebrou um contrato de compra e venda com Bento (874º, 879º - 408º) para
enganar os credores de António em que nem um queria vender nem o outro queria
comprar. Tem-se a vontade real, o facto simulado e a intenção de enganar terceiros. É
simulado porque preenche os requisitos mínimos.
Aparentemente, o direito de propriedade está em Carlos mas juridicamente está em
António pelo que, o negócio simulado seria nulo se não existisse o Carlos. Com a
existência de Carlos, iria ser pedido a restituição. Como não sabia e agiu de boa-fé e é
terceiro, ele está protegido. António tem legitimidade para invocar a nulidade mas isso
afetará Carlos. Importa saber se ele está protegido, assim, deve-se analisar em primeiro
lugar o art. 243º que é a forma especial. Se aqui Carlos não estiver protegido aplica-se o
art. 291º que se trata do regime geral que pode ou não aplicar-se. Carlos está protegido
pois o simulador, António, não pode invocar a nulidade contra Carlos.

b) Em Junho de 2014, Daniel, credor de António, pretende invalidar os negócios


em causa, alegando a simulação. Quid Iuris?
Daniel tem conhecimento da simulação e quer atacar o negócio entre António e Bento.
Ele tem legitimidade para isso? Sim, tem (286º e 605º). Novamente, sem o Carlos era
simples, mas ele é terceiro e Daniel também, pelo que tem-se um terceiro a invocar a
nulidade que afeta outro terceiro. Assim, o problema é ver se Carlos está protegido. O
art. 243º não se aplica porque é referente ao simulador, resta o art. 291º. Este no nº1
refere que tem de respeitar a um imóvel, o que está cumprido, tem de ser num negócio
oneroso, o que também foi preenchido, o terceiro tem de estar de boa-fé e tem de haver
registro da aquisição.
Assim, todos os requisitos estão preenchidos, mas o nº 2 refere que durante três anos o
terceiro não tem proteção e desde que o nº1 não esteja preenchido. Como já se tinham
passado mais de três anos, C estava protegido pelo 291º. Através deste artigo também
Carlos adquire o direito de propriedade.

Caso Prático 20:


Alfredo, convencido por Bento, combinado com Carlos, de que um terreno vai ser
expropriado, vendeu-o a este por preço muito baixo em Janeiro de 2012.
Em Março de 2014, Alfredo descobre o engano, ao saber que foi apresentado um
pedido de urbanização daquele terreno. Mas, entretanto, Carlos, para dissuadir
qualquer ação de Alfredo acordou com Duarte, em Julho de 2012, fingir que lhe
vendia o terreno. Contudo, Duarte valendo-se ao registro a seu favor, em Abril de
2013, vendeu o mesmo terreno a Eduardo, que nada sabe do que se passou.
Alfredo pretende em Julho de 2014 reaver o terreno. Terá sucesso?
Alfredo quando formou sua vontade foi viciado em erro (art. 874º + 879º + 408º). O
erro foi relevante (achava que o terreno ia ser expropriado – art 252º, nº1 – erros sobre
motivos em geral. É um erro qualificado por dolo (253º + 234º, nº1). O negocio é
anulável. De acordo com o regime geral da anulação (art. 287º) tem um ano. Portanto,
ele soube em Março e tem legitimidade, tem um ano desde aí, logo em Junho está
dentro do prazo. É válido o pedido da anulabilidade.
Está-se perante uma simulação absoluta por parte de Duarte e Carlos (há divergência
entre a vontade real e declarada e há um acordo entre eles para enganar Alfredo (art.
240º, nº1 e 240º, nº2).
O contrato de compra e venda entre Duarte e Eduardo quer afetar a compra e venda
inicial. Eduardo desconhecia da simulação. Pelo que estava sob boa-fé (art. 243º: não dá
porque não se refere à simulação; art. 291º, nº2: 3 anos e ainda não está protegido
porque só passaram 2 anos. Como Duarte está com má-fé não há normas que o
protejam.

Caso Prático 21:


Afono que é dono de um prédio rústico, encarregou Bento, mediador mobiliário,
de lhe encontrar um comprador, mediante o pagamento de uma comissão no valor
de 10% do preço de venda.
Bento, para ganhar comissão mais elevada diz a Afonso para pedir o prelo de
100.000€ porque teve a informação de que o terreno era urbanizado.
Entretanto, Bento convence também Carlos, interessado na compra de que assim
é. Por esse motivo, Afonso e Carlos fazem um negócio por aquele preço. Mais
tarde, Carlos veio a apurar que, afinal o terreno não é urbanizável e não vale mais
que 25.000€. Carlos pretende invalidar o negócio. Quid Iuris?
Afonso e Carlos são as partes do negócio e Bento o intermédio. Celebraram um contrato
de compra e venda (art. 874º e 879º). Está-se perante um erro sobre o objeto porque
pensava que era urbano quando na realidade era rústico (art. 251º).
Trata-se de um erro simples ou de um erro qualificado? Seria simples quando o
declarante cai em erro por si, e qualificado quando o declarante foi levado por outro.
Bento teve consciência e voluntariedade de enganar Carlos. O dolo leva ao erro (vício) e
o erro leva à declaração da vontade (art. 253º + 254º).
O negócio seria anulável se o dolo viesse de Afonso (art. 254º, nº1), mas neste caso
proveio de terceiros e só era anulável se Afonso soubesse. Mas assim, seria justo para
Carlos? Não. Por isso, voltamos ao art. 251º que remete para o art. 247º e tem de
preencher dois requisitos: essencialidade e cognoscibilidade.

Caso Prático 22 (exemplo de caso prático do livro do Torrão):


No dia 10 de Outubro Alzira outorga procuração a Bruno para venda da joia x de
que é proprietária por valor não inferior a 10.000€.
Sabendo que, Clotilde gostava da joia x, Bruno, em 11 de Outubro, envia-lhe uma
carta propondo-lhe a venda da joia por 12.000€ (sem estipular qualquer prazo
para resposta).
No dia seguinte, sabendo que Mireille, uma sua antiga amiga colega dos tempos e
estudante em França, se encontrava em Portugal, Alzira, sabendo da sua imensa
fortuna e do seu fascínio por joias, desloca-se ao hotel onde a excêntrica cidadã
francesa se encontrava, e propõe-lhe a venda da joia x por 20.000€.
Convencionaram um prazo de 10 dias para a resposta.
A 16 de Outubro, Clotilde responde por fax a Bruno, aceitando comprar a joia x,
mas por 10.000€.
No dia 18 de Outubro, durante a tarde e mediante o silêncio de Bruno, Clotilde
com receio de perder o negocio, envia novo fax o Bruno declarando aceitar a
compra da joia x por 12.000€.
A 19 de Outubro, Mireille desloca-se a casa de Alzira para lhe comunicar que
aceita comprar a joia x por 20.000€.
Em 20 de Outubro, Clotilde recebe uma carta de Bruno (enviada dia 18 pela
manhã) em que este concordava vender a joia x por 10.000€. Quid Iuris?
Outorga procuração por Alzira a Bruno constitui-se este como representante
(voluntário) daquela (em conformidade com o disposto no art. 262º, nº1). Significa isto
que, os atos que Bruno praticar em nome de Alzira, desde que enquadrados nos poderes
conferidos, pela procuração (venda da joia x por valor não inferior a 10.000€),
produzem efeitos na esfera jurídica de Alzira (art. 258º).
No exercício dos seus poderes representativos, Bruno, por carta, propõe a Clotilde a
venda da joia pelo preço 12.000€. Ao não estipular prazo para resposta prevalece, antes
de mais, o preceituado na alínea b) do nº1 do art. 228º, isto é, mantem-se a proposta “até
que, em condições normais, esta e a aceitação cheguem ao seu destino”. O CC não
define concretamente o período de tempo que, em condições normais, proposta e
aceitação demoram a chegar ao respetivo destino.
Tratando-se de propostas contratuais remetidas pelo correio, recorre a maioria da
doutrina, por analogia, ao regime jurídico das notificações postais judiciais dirigidas a
advogados, previsto no art. 254º, nº3 do CPC, segundo o qual a receção se presume
ocorrida no 3º dia posterior ao do registro da carta. Assim, aos 3 dias para o envio da
proposta, adicionam-se 3 dias para a aceitação da mesma. A estes 6 dias acrescentam-se,
ainda, 5 dias, em virtude de não ter Bruno pedido resposta imediata, por aplicação, desta
feita, da alínea c) do nº1 do art. 288º. Fica, então, Bruno, em nome de Alzira, vinculado
à proposta feita a Clotilde pelo prazo de 11 dias, ou seja (enviada a carta a 11 de
Outubro) fica vinculado à proposta até ao dia 22 de Outubro.
A proposta de venda da joia por 20.000€ feita pessoalmente por Alzira a Mireille, no dia
12 de Outubro, implica, assim, a violação do dever de proceder segundo as regras da
boa-fé na relação pré-contratual, imposto pelo art. 227º, e que se traduz, essencialmente,
“no dever de atuação honesta, leal e transparente”, tanto nos preliminares como na
formação do contrato. Com efeito, estando Alzira vinculada à proposta feita (por Bruno,
seu representante e em seu nome) a Clotilde, não devia ter proposto a venda do mesmo
bem a uma outra pessoa (Mireille).
Com tal comportamento, Alzira violou sobretudo o dever de lealdade na formação dos
contratos por não ter procurado evitar danos aos seus parceiros negociais (se Clotilde
aceitar a proposta em primeiro lugar, pode Mireille ficar prejudicada; se for Mireille a
primeira a aceitar, arrisca-se Clotilde a sofrer prejuízos), desrespeitando, por
conseguinte, a máxima alterum non laedere.
Sendo convencionado o prazo de 10 dias para a resposta de Mireille, é este o prazo de
duração da proposta nos termos do art. 228º, nº1, a) do CC, ficando, por conseguinte,
Alzira, e uma vez que a proposta ocorreu em 12 de Outubro, vinculada a essa proposta
(tal como sucede, aliás, com a proposta feita a Clotilde) até ao dia 22 de Outubro.
A 16 de Outubro, Clotilde responde por fax a Bruno, aceitando comprar a joia x, mas
por 10.000€. Esta declaração negocial enquadra-se na figura da “aceitação com
modificações”, o que equivale a rejeição da proposta de venda por 12.000€ (art. 233º, 1ª
parte), rejeição esta que por sua vez, se torna eficaz no momento em que bruno a recebe
(art. 224º, nº1) cessando, pois, em 16 de Outubro o processo negocial entre Alzira e
Clotilde.
A declaração de Clotilde “aceito mas por 10.000€” vale ainda, como nova proposta (art.
233º) mas este é já um novo processo negocial. O que significa que a posterior aceitação
(via fax, em 18 de Outubro) da mesma Clotilde de compra da joia por 12.000€ já não
envolve conclusão do contrato, uma vez que deixara de ser eficaz a respetiva proposta.
Em 19 de Outubro, mediante declaração verbal na presença da destinatária Mireille
aceita a proposta de Alzira, cujo prazo caducava como se viu, a 22 de Outubro. Esta
aceitação de Mireille corresponde a uma adesão total e completa à proposta de Alzira e,
sendo por esta imediatamente recebida, tornou-se perfeita, enquanto declaração, no
próprio dia 19 de outubro (art. 224º, nº1), ou seja, antes da data-limite de vigência dessa
proposta (22 de outubro). Não havendo qualquer requisito formal exigido por lei a
observar, no momento em que a aceitação se tornou perfeita concluiu-se o contrato (art.
232º) de compra e venda que tem como efeito a imediata transferência do direito de
propriedade sobre a joia de Alzira para Mireille (art. 408º, nº1).
Alzira não incorre em responsabilidade pré-contratual, uma vez que, no momento da
conclusão do contrato com Mireille, se não encontrava já vinculada a qualquer outra
proposta contratual. Mireille é a proprietária da joia.

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