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EXCENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA...

VARA CÍVEL
DA COMARCA DE FORTALEZA DO ESTADO DO CEARÁ

FABÍOLA, nacionalidade, estado civil, profissão, portadora da carteira de


identidade nº..., expedida pelo..., inscrita no CPF sob nº..., residente na rua..., Fortaleza,
Ceará, por seu advogado infra-assinado, com endereço profissional na (endereço
completo), para fins do artigo 39, I do Código de Processo Civil, vem a Vossa
Excelência, propor:

AÇÃO DE ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO

Pelo rito ordinário, em face de PAULO, nacionalidade, estado civil, profissão,


portador da carteira de identidade nº..., expedida..., inscrita no CPF sob nº..., residente
na rua... Fortaleza, Ceará e MATHEUS, nacionalidade, estado civil, profissão, portador
da carteira de identidade nº..., expedida..., inscrita no CPF sob nº..., residente na rua...
Fortaleza, Ceará pelos fatos e fundamentos que a seguir aduz.

DOS FATOS

O 1º réu, Paulo, deve à autora o valor de R$200.000,00 (duzentos mil reais),


representado por nota promissória emitida pelo devedor em 30/05/2020, com
vencimento estipulado para 15/02/2021, que deveria ser liquidado no foro do domicílio
daquele. Como a obrigação não foi honrada pelo mesmo na data assumida, a autora,
após proceder ao protesto cambial, propôs ação de execução em favor do 1º réu. Porém,
o 1º réu não efetuou o pagamento da dívida nem indicou bens à penhora dentro do prazo
legal de três dias, apesar de regularmente intimado para tal fim pelo juiz responsável
pela ação de execução.

Além disso, para grande surpresa da autora, chegou ao seu conhecimento que o 1º réu
em 17/12/2020, celebrou contrato de doação com o 2º réu, Matheus, seu filho, um
terreno urbano avaliado em R$300.000,00 (trezentos mil reais), registrado em nome do
donatário, na matrícula 76.489 R.7, no Cartório da 3ª Zona de Registro de Imóveis de
Fortaleza – Ceará. Valendo destacar, por oportuno, que este era o único bem livre e
desembargado que o 1º réu possuía.

DOS FUNDAMENTOS
Pode-se verificar que o contrato de doação celebrado entre o 1º e o 2º réus se deu
de forma viciosa, haja vista que o 1º réu já se mostrava insolvente e não poderia ter feito
tal transmissão gratuita de seu único bem livre e desembargado. Assim sendo, o ato
praticado pelo 1º réu caracteriza-se como fraude contra credores, como muito bem
descrito no artigo 158 do Código Civil.

Este também é o entendimento da 8ª CÂMARA CÍVEL do TRIBUNAL DE JUSTIÇA


DO RIO DE JANEIRO na APELAÇÃO CÍVEL Nº 0010169-72.2004.8.19.0205:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA.FRAUDE CONTRA


CREDORES. ATO DE ALIENAÇÃO ONEROSA PRATICADO PELO DEVEDOR
INSOLVENTE. PATRIMÔNIO REMANESCENTE INCAPAZ DE EXERCER A
FUNÇÃO DE GARANTIA POR SUAS DÍVIDAS PESSOAIS. AÇÃO PAULIANA
PROPOSTA EM

FACE DOS DEVEDORES PRIMITIVOS, ASSIM COMO DE TERCEIROS


ADQUIRENTES (ART.161 DO CC). SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.
AGRAVO RETIDO. PRETENSÃO DE RECONHECIMENTO DA EVIÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. CONSILIUM FRAUDIS E

EVENTUS DAMNI. O ARTIGO 159 DO CÓDIGO CIVIL ESTENDE A


POSSIBILIDADE DE ANULAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO FRAUDULENTO
QUANDO HOUVER MOTIVO PARA SER CONHECIDA DO OUTRO

CONTRATANTE, SITUAÇÃO CONCRETIZADA NOS AUTOS, DIANTE DO


RESULTADO DO LAUDO PERICIAL, QUE DÁ CONTA DA ALIENAÇÃO DO
IMÓVEL POR CERCA DA METADE DO PREÇO, ASSIM COMO PELO
CONTEXTO FÁTICOPROBATÓRIO CAPAZ DE REVELAR O CONCILIUM
FRAUDIS, ELEMENTO

SUBJETIVO CARACTERIZADOR DA FRAUDE CONTRA CREDORES,


CUJA VERIFICAÇÃO PRESCINDE DE ANIMUS NOCENDI, PORQUANTO
INFORMADA PELO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA, AO IMPOR O DEVER
DE COLABORAÇÃO DO DEVEDOR PARA A SATISFAÇÃO DO CRÉDITO,
ALIADA À ANÁLISE DA BOA-FÉ SUBJETIVA DO TERCEIRO CONTRAENTE,
NO CASO, PRIMEIROS APELANTES. QUANTO AO ELEMENTO OBJETIVO, O
DENOMINADO EVENTUS DAMNI, É PRECISO CONSIGNAR QUE O ESTADO
DE INSOLVÊNCIA, APESAR DE FORMALMENTE NEGADO PELOS
DEVEDORES, CONTRASTA COM A AFIRMAÇÃO DE QUE NÃO DISPUNHAM
DE OUTRO BEM PARA A GARANTIA DE SEU SUSTENTO PRÓPRIO, O QUE
CONFIRMA A INEXISTÊNCIA DE OUTROS BENS CAPAZES DE SATISFAZER
A PRETENSÃO DO AUTOR, ORA APELADO 1.APLICAÇÃO DO ENUNCIADO
Nº 292 DA IV JORNADA DE DIREITO CIVIL DO CJF (PARA OS EFEITOS DO
ART. 158, § 2º, A ANTERIORIDADE DO CRÉDITO É DETERMINADA PELA
CAUSA QUE LHE DÁ ORIGEM, INDEPENDENTEMENTE DE SEU
RECONHECIMENTO POR DECISÃO JUDICIAL). DESPROVIMENTO DE
AMBOS OS RECURSOS.”

Vale ainda destacar que Carlos Roberto Gonçalves, em sua obra, “Direto Civil
Brasileiro, Volume 1”, 2010, Editora Saraiva, página 449, conceitua fraude contra
credores como:

“todo ato suscetível de diminuir ou onerar seu patrimônio, reduzindo ou


eliminando a garantia que este representa para pagamento de suas dívidas, praticado por
devedor insolvente, ou por ele resolvido à insolvência”.

Nesse diapasão, vale ainda ressaltar que por ter havido fraude contra credores no
contrato deve ocorrer ANULAÇÃO DO NJ em conformidade com o art. 171, II do
Código Civil.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer a V. Exª:

1º - a citação dos Réus;

2º seja julgado procedente para anular o negócio jurídico celebrado entre os Réus;

3º - a condenação dos Réus aos ônus da sucumbência.

DAS PROVAS

Requer a produção de todas as provas admitidas em direito, na amplitude do art. 332, do


CPC, em especial as de caráter documental e depoimento pessoal dos Réus.
DO VALOR DA CAUSA

Dá à causa o valor de R$ 300.000,00.

Nestes termos, pede deferimento.

Weverton Gomes Sousa


OAB – 00000/CE

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