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Impacto da Biomagnificação e Bioacumulação de Metil-mercúrio na

Fauna Silvestre

Gabrielle Moura NASCIMENTO1*, Beatriz Domingues Bressan Lopes Guimarães VIDAL2,


Karolyne Moura NASCIMENTO3, Fabrício ESCARLATE-TAVARES4

*gabrielle.moura@sempreceub.com

1Diretora do Núcleo de Pesquisa e Educação do GEAS CEUB, Graduanda de Medicina


Veterinária do Centro Universitário de Brasília – CEUB
2
Presidente do GEAS CEUB, Graduanda de Medicina Veterinária do Centro Universitário
de Brasília – CEUB
3Zootecnista, Mestranda em Saúde Animal da Universidade de Brasília – UnB
4Biólogo e Professor do Centro Universitário de Brasília – CEUB

RESUMO
A ação do homem vem causando enormes consequências negativas no ambiente,
principalmente relacionado as atividades antrópicas que causam desastres acidentais,
ocasionando efeitos na fauna silvestre terrestre e aquática, podendo chegar ao próprio
homem pela ingestão de alguns animais que fazem parte deste ecossistema. Com isso, o
objetivo deste resumo é unir dados sobre o efeito da biomagnificação e bioacumulação de
metil-mercúrio (MeHg) na fauna silvestre relatados na literatura por meio de artigos
publicados entre os anos de 2000 a 2018. Foi possível observar que os estudos sobre os
efeitos da magnificação trófica se tornam de grande relevância pois afetam características
morfológicas e fisiológicas de várias espécies, sendo utilizados bioindicadores para
avaliação da quantidade de MeHg no ambiente. Sendo assim, conclui-se a importância de
trabalhos relacionados sobre o impacto deste agente em outras espécimes de animais,
além de métodos de como amenizar a presença deste composto no ambiente.

Palavras-chave: animais silvestres; magnificação trófica; metais pesados

INTRODUÇÃO
Com aumento populacional nos últimos anos vem se observando o crescimento de
atividades industriais e mineradoras e com isso, tem se notado aumento de um grande
número de compostos metálicos liberados no meio ambiente, principalmente quando
ocasionado por acidentes (1). Dentre estes compostos metálicos, o mercúrio (Hg) é
considerado o mais preocupante devido a sua alta mobilidade, toxicidade em todos os
níveis da cadeia alimentar e sua facilidade de biomagnificação e bioacumulação nos
organismos, solos e águas, causando consequências inesperadas, sobretudo em sua
forma metilada (2,3). A biomagnificação consiste no aumento da concentração destes
metais de um nível trófico para outro ao longo da cadeia alimentar devido a incapacidade
de metabolização da substância no organismo. A bioacumulação é um processo pelo qual
os compostos químicos são absorvidos pelos organismos de forma direta (meio ambiente)
e indireta (ingestão de alimentos) (4). Esta revisão tem como objetivo reunir dados
disponíveis na literatura acerca do impacto negativo da biomagnificação e bioacumulação
em animais silvestres a partir de desastres.
MATERIAL E MÉTODOS
Para realização desta revisão foram selecionados 19 artigos dentre 23 relacionados ao
tema entre os anos de 2000 a 2018, com a busca de palavras-chaves: animais silvestres,
desastres acidentais, contaminação por metais pesados, efeitos da biomagnificação e
bioacumulação, wild animals, acidental disasters, heavy metal contamination, effects of
biomagnification and bioaccumulation. As bases de dados utilizadas foram Scielo, Google
acadêmico e EBSCOhost.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Diferente de algumas substâncias tóxicas, os metais pesados considerados micro-
contaminantes não são sintetizados e destruídos pelo homem, permanecendo no ambiente
por muito anos por serem reativos e bioacumulativos. O aumento destes elementos no
ambiente se deve ao crescimento das atividades antrópicas a partir do lançamento de
efluentes industriais, atividades garimpeiras, enxurradas urbanas e agrícolas e queimadas
(5). Dentre os micro-contaminantes, o mercúrio (Hg) é o único metal que pode ser
encontrado em sua forma metálica, orgânica e inorgânica, sendo as duas primeiras
consideradas as mais tóxicas. Em sua forma orgânica, o mercúrio combina-se com um
radical de carbono tendo a formação do metil-mercúrio (MeHg). Este processo ocorre nos
sedimentos de rios, lagos e oceanos devido a presença de bactérias redutoras de sulfato
(BRS) presentes nestes ecossistemas, além que, está formação também pode ocorrer por
meio de processos abióticos, porém em menor escala (6). Os desmatamentos ocasionados
por queimadas, principalmente na região amazônica, são os que mais contribuem no
aumento das emissões de mercúrio na atmosfera pois ocasionam o processo de metilação
(7). Após ser formado nos sedimentos, o MeHg causa contaminação nas comunidades
bentônicas, que pela ingestão dos detritos, adquirem uma carga do composto com potencial
de transferi-la para os tecidos dos peixes, entrando na cadeia alimentar pela
biomagnificação e bioacumulação, principalmente de aves e mamíferos que se alimentam
a base de peixes, assim também como o homem (8,5). Em mamíferos marinhos,
principalmente os predadores que estão no topo da cadeia alimentar, a magnificação trófica
é a principal fonte de ingestão de MeHg, enquanto nos peixes se deve a vários fatores
endógenos como hábitos alimentares, habitat e migração. No Pantanal, os espécimes de
peixes mais afetados pela ingestão de MeHg são os carnívoros como a piranha
(Serrasalmus natereri), dourado (Salminus maxilosus), cachara (Pseudoplatistoma
fasciatus), traíra (Hoplias malabaricus) pois apresentam um grande potencial de
bioacumulação. Os metais se distribuem por todo o organismo, ocasuionando problemas
hepáticos e neurológicos, neoplasias, anomalias reprodutivas, mal formação congênita e
morte (9,10,2). De acordo com um estudo feito em H. malabaricus em 2006, a retina destes
animais quando exposta ao meHg apresenta uma diminuição da imunorreatividade das
células amácrinas e bipolares (11). O colapso da barragem de rejeitos de Fundão, da
Samarco, em Mariana – MG proporcionou um grande efeito ambiental, pois os rejeitos
percorreram cerca de 650km ao longo da Bacia do Rio Doce, ocasionando grande
mortalidade da biota pela grande exposição de metais pesados. Segundo o Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em 2016, a lama chegou afetar a área
marinha da Reserva Biológica de Comboios no Espírito Santo e com a distribuição dos
metais ocasionou o óbito de espécies críticas em extinção como a tartaruga-de-couro
(Dermochelys coriacea). Segundo o Relatório Semestral produzido pela Rede Rio Doce no
período de julho de 2019, caranguejos da espécie Ocypode quadrata coletados,
apresentaram altos valores de acumulação de Hg no hepatopâncreas e no músculo. Em
tartarugas marinhas, a eliminação do MeHg é lenta quando se comparada com outras
espécies marinhas, podendo ocasionar um decréscimo da viabilidade das células e redução
no crescimento. Em mamíferos marinhos, como o Vison-americano (Mustela vison), a
presença de MeHg no organismo pode ocasionar anorexia, cegueira e ataxia (12,13,14). O
jacaré-do-Pantanal (Caimam crocodilus yacare) tem elevado potencial para bioacumulação
de mercúrio por se encontrar no topo de uma cadeia alimentar. A Embrapa Pantanal
juntamente com a PUC-Rio determinou as concentrações de mercúrio total e metil-mercúrio
em carne de 79 espécimes de jacarés de quatro diferentes áreas do Pantanal (15). Em
aves, a intoxicação é descrita por efeitos no sistema nervoso, particularmente no visual,
sensorial e auditivo. Além de causar efeitos negativos na reprodução como atresia gonadal,
decréscimo na fertilidade de ovos, redução da taxa de eclosão pela alta mortalidade
precoce de embriões (16,1). As aves são intoxicadas principalmente pela alimentação e
durante os processos bioquímicos e fisiológicos ocorre a distribuição do MeHg para o
sangue, fígado, rins e outros órgãos, sendo a outra parte eliminada nos ovos, penas ou
fezes (17). Alguns grupos de espécies são utilizados na monitoração de mudanças
ocorridas no ambiente. O peixe, por exemplo, é considerado um dos maiores indicadores
para determinar o impacto da poluição por metais em sistemas de água doce. Uma de suas
vantagens, é que algumas espécies representam variadas categorias tróficas que utilizam
alimentos tanto de origem aquática como terrestre, além de estarem presentes em várias
comunidades aquáticas como rios, represas, lagoas e mares (18). As aves também são
utilizadas como indicadores, especialmente espécies de aves aquáticas que se alimentam
de peixes. Estudos relatam que as penas são facilmente conservadas e o MeHg não sofre
alteração durante o armazenamento, sendo possível monitoramento ao longo do tempo.
Assim como os peixes, as tartarugas se tornam excelentes bioindicadores, pois o alto teor
de aminoácidos presentes em sua carapaça facilita as ligações com MeHg, porém devido
ao status de perigo de extinção existem poucos trabalhos de monitoramento (19,13).
CONCLUSÃO
Embora haja muitos estudos sobre a biomagnificação e bioacumulação de metil-mercúrio
em ambientes terrestres e aquáticos, é dificilmente encontrado na literatura trabalhos que
mostrem dados relacionados aos impactos em outras espécies e métodos de amenização
deste composto no ambiente.
REFERÊNCIAS
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