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SRAFFA

Para que seja possível a compreensão da crítica de Sraffa, antes, é necessário


relembrar alguns conceitos da teoria clássica e neoclássica da economia.
Na teoria clássica, é importante ressaltar que para Smith, a riqueza provém do valor,
analisando a origem e disponibilidade de recursos a fim de obtê-la, tendo uma teoria também
baseada no trabalho e na sua produtividade (sendo essa mais eficaz através da divisão do
trabalho). Já Ricardo, tem sua teoria baseada na renda da terra, pois conforme há o aumento
da produtividade, a produção agrícola passa de terra mais férteis para terras menos férteis,
reduzindo a taxa de lucro até chegar ao estado estacionário. Enquanto Smith considera que os
lucros aumentem com o aumento da produtividade do trabalho, Ricardo considera que a
produtividade do trabalho cai conforme o aumento da produção e o lucro tende a reduzir
também, devido a escassez do solo.
Já a teoria do valor neoclássica se dá pela simetria das curvas de oferta e demanda,
sendo o formato das curvas um dado definido, independentes entre si e independentes das
curvas de outros setores da economia, viabilizando as análises do equilíbrio parcial. Os
modelos neoclássicos se baseiam na concorrência perfeita, onde existe um grande número de
agentes econômicos, sendo os produtos homogêneos. Logo, a empresa é tomadora de preço e
ajustadora de quantidade, com a curva de demanda da firma infinitamente elástica no longo
prazo. Há a existência de livre mobilidade de fatores e informações simétricas, pressupondo
assim o perfeito funcionamento do mercado, onde seus produtores obtenham apenas lucro
normal no longo prazo. O modelo trata-se também do monopólio puro, onde há apenas um
produtor e não há um substituto próximo, com existência de barreiras à entrada.
Os modelos, portanto, são incapazes de explicar a realidade da rivalidade dos
mercados, pois ignoram inúmeros aspectos aos quais são essenciais para uma compreensão
total a realidade.

Na primeira parte da sua crítica construtiva, Sraffa acusa a escola neoclássica de


manipular as leis de rendimentos originais da teoria clássica, de forma a obter o cruzamento
da curva de oferta e da curva de demanda simétrica. Onde tomasse a lei dos rendimentos
decrescentes de Ricardo como lei geral em todos os fatores da economia. A lei de
rendimentos crescentes teve de sofrer uma transformação a ponto de explicar a curva de
oferta positiva, sendo essa só possível através de uma curva de custo positivamente inclinada.
Os neoclássicos, ao não aceitarem a divisão do trabalho, vão explicar as vantagens do
crescimento da firma de uma maneira externa a firma.
Na segunda parte da crítica, se refere às críticas a análise com relação às leis dos
rendimentos não proporcionais sob a ótica do equilíbrio parcial em concorrência perfeita.
Para que se tenha o equilíbrio parcial, é necessária a independência das curvas de demanda e
de oferta, tanto uma com a outra quanto com as dos outros mercados. Contudo, as
inconsistências são internas à própria teoria, pois como as firmas compartilham dos mesmo
fatores de produção, se uma delas decidir aumentar a produção vai impactar no preço desse
fator e no custo das outras firmas que utilizam desse fator, de modo que não é possível se
obter a independência das curvas de oferta dessa firma que aumento a produção em relação as
outras, não sendo possível, também, a obtenção do equilíbrio parcial.
A terceira parte da crítica se refere às economias externas marshallianas, onde
Marshall mostra que as economias externas devem ser externas às firmas porém internas ao
mercado, sendo que, se ocorrer um aumento de produção de uma firma geraria um impacto
nos custos das outras firmas, as quais compartilham os mesmos fatores de produção, havendo
uma interdependência das curvas das firmas, impossibilitando assim o equilíbrio parcial.

Sraffa também adiciona uma parte positiva em sua crítica, a qual contesta que a
concorrência perfeita exige que o mercado seja atomístico (grande número de pequenas
empresas) e também ausência de preferência, sendo que na realidade temos um mercado onde
há diferenciação de produtos e preferências. Refere a curva de demanda negativamente
inclinada como incompatível com a realidade, pois através dela nota-se que o aumento da
quantidade vendida é consequência de uma redução do preço ou aumento de custos de
comercialização e marketing.
Nesse sentido, Sraffa contesta os rendimentos decrescentes, defendendo os
rendimentos constantes ou crescentes, tendo em vista, também, que as firmas não operam
com plena utilização da capacidade produtiva. Desse modo, em um possível aumento da
demanda, a firma utilizaria parte dessa capacidade ociosa planejada, onde o incremento
produtivo seria maior do que os custos e, portanto, as firmas operariam com custos
decrescentes.

HALL & HITCH

Os dois autores fundamentaram uma hipótese de uma curva de demanda diferenciada,


onde essa é amplificada através de uma teoria de determinação de preço (rigidez de preço de
Sweezy), a qual será a base da teoria de determinação de preço.
Hall e Hitch constataram que a microeconomia não se comportava de acordo com as
teses neoclássicas, mas formavam estruturas oligopolistas. Sendo que em uma estrutura
oligopolista, o empresário não conhece a curva de demanda e a curva CMg, portanto, sua
preocupação maior é o preço, e não com a quantidade.
Desenvolvem, através da curva de demanda quebrada, uma teoria para a determinação
de preços, a qual consiste no método indutivo, baseado no custo unitário e no lucro. Dado
pela equação
P = u + q’u + q’’u (onde u é o custo unitário direto, q’u representa um percentual para
cobrir o custo unitário indireto e q’’u percentual para cobrir o lucro), os autores
desenvolvem o princípio do custo total, que tem como objetivo determinar o processo de
fixação de preço das firmas. Diferentemente dos marginalistas, os quais determinam o preço
a partir do encontro da curva de oferta e demanda, tendo a demanda o poder de variar o nível
de preço, o mercado oligopolista apresenta a rigidez de preço, a qual ocorre justamente pela
falta de influência da demanda no preço. Nesse mercado, as firmas vão levar em consideração
a reação dos seus concorrentes mais próximos, devido a possuírem o conhecimento de que se
elevarem preço acima do preço médio do mercado, os concorrentes não irão acompanhá-los,
ocasionando uma perda de parcela de mercado. O mesmo ocorre quando a firma decide
abaixar seu preço abaixo do nível de mercado, gerando uma redução também dos seus rivais
devido ao medo da perda de parcelas do mercado.
Portanto, a demanda não irá impactar de forma alguma no nível de preços no curto
prazo obtendo um papel quase nulo para a determinação do mesmo, podendo obter influência
apenas no longo prazo.

MASON

Mason possui um papel fundamental na teoria de organização industrial a partir da


sua análise de estrutura, conduta e desempenho, ressaltando que uma empresa tem a
capacidade de influenciar nas condições de mercado de acordo com seu poder de mercado e
dos elementos estruturais.
O autor mostra uma relação causal que passa da estrutura para conduta e da conduta
para o desempenho, dada a lógica de que o desempenho de um mercado depende da conduta
de seus vendedores e compradores, sendo esta dependente das características da estrutura de
mercado. Para a fundamentação da teoria, entre suas condições básicas estão do lado da
oferta: a sindicalização; condições de mercado de matéria-prima; existência ou não de
economias de escala, e do lado da demanda: sua elasticidade-preço; sazonalidade etc.
Portanto, entende-se como estrutura: a concentração do mercado; a existência de
barreiras à entrada; a integração vertical e a diferenciação de produtos e de produção,
enquanto quanto conduta: a política de determinação do preço; gasto em pesquisa e
desenvolvimento; investimento e estratégia empresarial, e, por fim, o desempenho, que nada
mais é que: a margem de lucro; o bem estar dos consumidores e a produtividade.

BAIN

O princípio do custo total e a análise de estrutura, conduta e desempenho, servem de


ponto de partida para a teoria do preço-limite de Bain. O autor tem como foco principal
analisar a estrutura, com análises baseadas na concorrência potencial, e não na concorrência
efetiva, por exemplo, como as barreiras à entrada são definidas pelas circunstâncias que
caracterizam as vantagens das firmas estabelecidas diante as potenciais entrantes, sendo essas
refletidas na capacidade das firmas estabelecidas em fixar seus preços acima do preço
competitivo sem atrair a entrada de novas firmas, sendo esse preço caracterizado como
apenas um percentual acima do nível competitivo.
Através de uma análise quantitativa, a condição de entrada pode ser expressa pelo
percentual acima do nível de preços competitivo que as firmas competitivas podem manter,
podendo ser expressa por
Pl = Pc (E+l)
Sendo E, as condições de entrada. Pl, o preço limite, ou seja, o preço o qual impede a
entrada. Pc, o preço competitivo, lucro econômico normal. Portanto, quanto maior o Pl,
maior o E. Quando maior o E, menor a atração de entrada.
Bain, analisa a natureza das vantagens que as firmas estabelecidas possuem em
relação às concorrentes potenciais, buscando incorporar evidências empíricas de que os
produtores existentes não cobram um preço único e não possuem um custo mínimo comum,
identificando três circunstâncias as quais originam as seguintes vantagens:
1) Vantagens absolutas de custo. As firmas já estabelecidas possuem acesso
privilegiado a recursos produtivos e financeiros a preços mais reduzidos do que teria a
potencial entrante, com métodos de produção mais eficientes com custos mais baixos.
2) Vantagens de diferenciação dos produtos. Os consumidores optam pelo produto já
existente quando comparado a um novo, devido ao costume e confiança. Potenciais
entrantes deveriam arcar com propaganda.
(As circunstâncias discutidas anteriormente podem ser dribladas, devido a serem aplicadas
somente a firmas potenciais entrantes que não integram outros mercados. As firmas já
estabelecidas em outros mercados podem ter vantagens financeiras para realizar
investimentos, portanto podem ter acesso a métodos eficientes).
3) Vantagens de economias de escala. Conforme há o crescimento produtivo, a firma
obtém custos decrescentes, operando assim a custos mínimos mesmo com a variação
em seus níveis de produção.
As economias de escala são as fontes mais importantes de barreiras à entrada por dois
motivos, cumulatividade e estabilidade.
Caso as potenciais entrantes optarem pela entrada no mercado, a fim de adotar uma
política de elevado nível de produção, correm o risco da empresa estabelecida i) manter seu
nível de produção, o que leva a redução de preço; ii) diminuir o nível de produção; iii) reduzir
o preço deliberadamente através de políticas agressivas ocasionando uma guerra de preços.

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