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AULA 12 - A FORMAÇÃO TERRITORIAL DO

BRASIL
6 - Geografia Política.
6.1 Teorias geopolíticas e poder mundial.
6.2 Temas clássicos da Geografia Política: as
fronteiras e as formas de apropriação política do
espaço.
6.3 Relações Estado e território.
6.4 Formação territorial do Brasil.
“o Brasil não será concebido como um
povo e sim como uma porção do espaço
terrestre, não uma comunidade de
indivíduos mas como um âmbito espacial”
(MORAES, Antonio Carlos
Robert. Território e História no Brasil. 2. ed.
São Paulo: Annablume, 2005)
De Tordesilhas aos 8.515.692 km2 atuais
A “ilha-Brasil”

“ a ilha-Brasil teria operado na construção de uma


‘razão geográfica de Estado’ e na definição de um
‘imperativo geopolítico para os três primeiros séculos de
formação territorial do Brasil. (...) A unicidade do território
colonial lusitano, fruto de segregação insular, emanava
da própria natureza. (....) O Brasil erguia-se como
realidade geográfica anterior à colonização, como
herança recebida pelos portugueses. Ao invés de
conquista e exploração colonial, dádiva e destino.
(MAGNOLI, Demétrio. O corpo da pátria. São Paulo:
Moderna/EDUNESP, 1997).
“ O lago unificador, que cumpre a função mítica de lugar de origem,
recebeu diferentes denominações: Dourado, Eupana, Laguna
encantada del Paytiti, Paraupaba. Também foi sendo deslocado cada
vez mais para ocidente, enquanto as terras interiores eram
devassadas pela curiosidade das bandeiras. Assim, no início da
descrição lendária, ele interligava as águas do Tocantins às do São
Francisco, localizando-se em terras logo alcançadas pelos
exploradores. Depois, quando a lenda alcançou a maturidade, passou
a integrar os cursos do Madeira, então encarado como formador do
Amazonas, e do Paraguai.” (MAGNOLI, Demétrio. O corpo da
pátria.Pág. 46. São Paulo: Moderna/EDUNESP, 1997).
A importância da rede hidrográfica
•A pecuária
•Entradas e bandeiras
•Mineração
•Drogas do Sertão
• A cafeicultura
•A borracha
Limites e Fronteiras

As diferenças são essenciais. A fronteira está orientada “para


fora” (forças centrífugas), enquanto os limites estão orientados
“para dentro” (forças centrípetas). Enquanto a fronteira é
considerada uma fonte de perigo ou ameaça porque pode
desenvolver interesses distintos aos do governo central, o
limite jurídico do estado é criado e mantido pelo governo
central, não tendo vida própria e nem mesmo existência
material, é um polígono. O chamado “marco de fronteira” é na
verdade um símbolo visível do limite.
Visto desta forma, o limite não está ligado a presença de gente, sendo
uma abstração, generalizada na lei nacional, sujeita às leis internacionais,
mas distante, freqüentemente, dos desejos e aspirações dos habitantes
da fronteira. Por isso mesmo, a fronteira é objeto permanente da
preocupação dos estados no sentido de controle e vinculação. Por outro
lado, enquanto a fronteira pode ser um fator de integração, na medida
que for uma zona de interpenetração mútua e de constante manipulação
de estruturas sociais, políticas e culturais distintas, o limite é um fator de
separação, pois separa unidades políticas soberanas e permanece como
um obstáculo fixo, não importando a presença de certos fatores comuns,
físico-geográficos ou culturais. (Lia Osório Machado)
Definição das fronteiras (limites)
Fronteiras e Limites Internacionais
Faixa de fronteira, Limite Internacional e Cidades
Gêmeas
Palmas-arbitramento Brasil- Argentina- 1895
•5 de Fevereiro de 1895
LAUDO DO PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, EM
VIRTUDE DO TRATADO DE ARBITRAMENTO CONCLUÍDO A 7 DE
SETEMBRO DE 1889 ENTRE O BRASIL E A REPÚBLICA
ARGENTINA.
•O tratado concluído em 7 de setembro de 1889 entre a República
Argentina e o Brasil, para o ajuste de uma questão de limites
controvertida, dispõe, entre outras cousas, o seguinte:
•Art. I - A discussão do direito que cada uma das Altas partes contratantes
julga ter ao território em litígio entre elas, ficará encerrada no prazo de 90
dias, contados da conclusão do reconhecimento do terreno em que se
acham as cabeceiras dos rios Chapecó ou Pequiri-guazu e Jangada ou
San Antonio-guazu. Entender-se-á concluído aquêle reconhecimento no
dia em que as comissões nomeadas em virtude do tratado de 28 de
setembro de 1885, apresentarem aos seus Governos os relatórios e as
plantas a que se refere o artigo 4. do Tratado.
Não tendo as Altas Partes Contratantes podido chegar a uma solução
amigável no prazo estipulado, como acima se vê, submeteram-me, de
acôrdo com as outras disposições do Tratado, a questão controvertida, a
mim, Grover Cleveland, Presidente dos Estados Unidos da América, para
Arbitramento e decisão, debaixo das condições prescritas no dito
Tratado.
Cada uma das Partes apresentou-me, no prazo e do modo especificado
no Art. IV do Tratado, uma Exposição com provas, documentos e títulos
em apoio do seu alegado direito.
A questão submetida à minha decisão em virtude do sobredito Tratado é
qual de dois determinados sistemas de rios constitue o limite do Brasil e
da República Argentina na parte do seu território limítrofe que demora
entre os rios Uruguai e Iguazu. Cada um dos designados sistemas de
limites compõe-se de dois rios, tendo próximas as suas cabeceiras e
fluindo em direções divergentes, um para o Uruguai e outro para o
Iguazu.
Os dois rios reclamados pela República Argentina como formando o
limite (que pode ser denomidao sistema oriental) estão mais ao Oriente
e são por essa República chamados Pequeri-guazu (afluente do
Uruguai) e San Antonio-guazu (afluente do Iguazu). Dêstes dois últimos
rios, o primeiro é chamado Chapecó pelo Brasil, e o segundo Jangada.
Agora, portanto, saibam quantos êste virem que, havendo eu Grover
Cleveland, Presidente dos Estados Unidos da América, a quem foram
conferidas as funções de Árbitro nesta causa, examinado e
considerado devidamente as Exposições, documentos e provas que me
foram submetidos pelas respectivas Partes, em cumprimento das
estipulações do dito tratado, dou aqui a seguinte decisão e laudo:
QUE A LINHA DIVISÓRIA ENTRE A REPÚBLICA ARGENTINA E OS
ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, NA PARTE QUE ME FOI SUBMETIDA
PARA ARBITRAMENTO E DECISÃO, É CONSTITUÍDA E FICARÁ
ESTABELECIDA PELOS RIOS E SEGUINDO OS RIOS PEPIRI (TAMBÉM
CHAMADO PEPIRI-GUAZU) E SAN ANTÔNIO, A SABER, OS RIOS QUE O
BRASIL DESIGNOU NA EXPOSIÇÃO E DOCUMENTOS QUE ME FORAM
SUBMETIDOS COMO CONTITUINDO O LIMITE ACIMA DENOMINADO
SISTEMA OCIDENTAL.
Lavrado em triplicata na cidade de Washington no quinto dia de
fevereiro do ano mil oitocentos e noventa e cinco, centésimo décimo
nono da Independência dos Estados Unidos.
Grover Cleveland.
1 de Dezembro de 1900
O CONSELHO FEDERAL SUISSO
Chamado pelos ESTADOS UNIDOS DO BRAZIL E A FRANÇA
A resolver como Arbitro o litigio que divide os dous Estados por causa
das fronteiras do Brazil e da Guyana Franceza, Proferiu a sentença do
teor seguinte:
O TRATADO DE ARBITRAMENTO
A 10 de abril de 1897 foi assignado no Rio de Janeiro entre o Governo
da Republica Franceza e o Governo da Republica dos Estados Unidos
do Brazil um tratado pelo qual os dous Estados encarregaram o
Conselho Federal Suisso de fixar definitivamente, por decisão arbitral, as
fronteiras do Brazil e da Guyana Francesa.
Nesse tratado as partes definirão como se segue as questões que teem
de ser resolvidas, assim como a natureza e a extensão da missão do
Arbitro.
ARTIGO I
A Republica dos Estados Unidos do Brazil pretende que, conforme o
sentido preciso do art. 8 do tratado de Utrech, o rio Yapoc ou Vicente
Pinsão é o Oyapoc, que desagua no Oceano a oeste do cabo de Orange
e que pelo seu thalweg deve ser traçada a linha de limites.
A Republica Franceza pretende que, conforme o sentido preciso do art. 8
do tratado de Utrech, o rio Yapoc ou Vicente Pinsão é o rio Araguary
(Arawary), que desagua no Oceano ao sul do cabo do Norte e que pelo
seu thalweg deve ser traáca a linha de limites.
O Arbitro resolverá definitivamente sobre as pretenções das duas Partes,
adoptando em sua sentença, que será obrigatoria e sem appellação, um
dos dous rios pretendidos ou, se assim entender, algum dos rios
comprehendidos entre elles.
SENTENÇA Vistos os factos e os motivos acima expostos, o Conselho
Federal Suisso, na sua qualidade de Arbitro chamado pelo Governo da
Republica Franceza e pelo Governo dos Estados Unidos do Brazil, segundo
o tratado de arbitramento 10 de abril de 1897, a fixar a fronteira da Guyana
Franceza e do brazil, certifica, decide e pronuncia:
I - CONFORME O SENTIDO PRECISO DO ART. 8 DO TRATADO DE
UTRECHT, O RIO JAPOC OU VICENTE PINSÃO É O OYAPOC, QUE SE
LANÇA NO OCEANO IMMEDIATAMENTE AO OESTE DO CABO DE
ORANGE E QUE POR SEU THALWEG FORMA A LINHA FRONTEIRA.
II - A PARTIR DA NASCENTE PRINCIPAL DESTE RIO OYAPOC ATÉ A
FRONTEIRA HOLLANDEZA, A LINHA DE DIVISÃO DAS AGUAS DA
BACIA DO AMAZONAS QUE, NESSA REGIÃO, É CONSTITUIDA, NA SUA
QUASI TOTALIDADE, PELA LINHA DA CUMIADA DA SERRA
TUMUCUMAQUE, FORMA O LIMITE INTERIOR
• Decidido em Berne na nossa sessão de 1 de dezembro de 1900.
• Em nome do Conselho Federal Suisso: O Presidente da Confederação,
HAUSER.
1- (TPS 2012) Julgue (C ou E) os próximos itens, relativos à formação
histórica do território brasileiro.
1.A formação histórica do território brasileiro iniciou-se com a assinatura
do Tratado de Madri, que determinou, por meio da criação de uma linha
imaginária, o primeiro limite territorial da colônia portuguesa nas
Américas.
2.No início do século XX, o governo brasileiro assegurou a posse de
novas terras por meio de acordos diplomáticos que envolveram questões
fronteiriças com a Argentina, Bolívia, Colômbia, Peru e Suriname, nos
quais se destacou a figura do Barão do Rio Branco.
3. Os séculos XVII e XVIII constituem marcos da exploração de
imensas propriedades rurais, com limites mal definidos, doadas pela
Coroa portuguesa a aristocratas portugueses.
4. Mesmo após cinco séculos de ocupação e povoamento, a
configuração atual do território brasileiro permanece conforme a
implantação das capitanias hereditárias.
2- (3ª fase- 1998) A existência de frentes pioneiras tem sido uma
constante no decorrer da história brasileira. Os fundos territoriais sob
soberania do país são, porém, finitos. Comente essa relação, tentando
fornecer prognósticos e delinear cenários sobre a matéria nas
próximas décadas.
3- (3ª fase-2011)O conceito de frente pioneira foi utilizado por vários
geógrafos na descrição do processo de formação do território
brasileiro. Discuta o significado desse conceito, exemplifique o seu uso
em alguma obra clássica sobre o tema e avalie a possibilidade de ele
ser empregado, na atualidade, em análises geográficas do Brasil.
4- 3ª fase de2015- De acordo com o estudo Brasil em
Desenvolvimento, Estado, Planejamento e Políticas
Públicas, de 2011, do IPEA, a fronteira internacional do
Brasil percorre onze unidades da Federação, delimitando o
território nacional com o de dez países da América do Sul.
Na faixa de 150 km de largura ao longo de 15.719 km
(27% do território nacional), existem 588 municípios, com
aproximadamente 10 milhões de habitantes. Esses
municípios têm atraído significativos contingentes de
migrantes a partir de dinâmicas econômicas nacionais e
internacionais.
As aglomerações transfronteiriças incluem duas ou mais
cidades que apresentam relações expressivas entre si,
podendo se localizar na fronteira de dois ou mais países,
incluindo o Brasil. Essas aglomerações materializam um
conjunto de novas possibilidades de inserção na divisão do
trabalho, não se restringindo apenas à população local, mas
expandindo sua influência para cidades e regiões além da
fronteira, reforçando, assim, sua condição de centralidade na
rede urbana da América do Sul.
Considerando que o texto acima tem caráter unicamente
motivador, discorra sobre o papel das aglomerações
transfronteiriças nas dinâmicas de desenvolvimento
regional, com foco nos seguintes tópicos:
• cidades de fronteira e seu papel estratégico nas
políticas de integração sul-americana;
• funções, oportunidades e possibilidades no
desenvolvimento das cidades/aglomerações
transfronteiriças;
• papel das infraestruturas de transporte na condição
de centralidade das cidades de fronteira.
A questão envolve um volume grande de informações, os
pontos fundamentais a serem abordados eram:
• A mudança de percepção da idéia histórica da fronteira
brasileira como peça fundamental da defesa nacional e da
imposição de barreiras às ameaças externas para uma
visão integracionista. Pode ser uma boa introdução
usando as múltiplas definições de fronteira, como limite
internacional, ‘front’ ou faixa de fronteira
• A evolução histórica da nossa Faixa de Fronteira, desde a
Lei de Terras que definiu essa faixa em 10 léguas a partir
do limite internacional e as sucessivas modificações nas
Constituições Federais de 1934, 1937 e 1946 até o
estabelecimento em 150 km de largura na Lei 6.634, de
2/5/1979.
• A caracterização dessa faixa de fronteira em termos
demográficos e econômicos. Seria interessante
apontar as grandes distâncias da Faixa de Fronteira e
do Limite Internacional para os centros decisórios,
assim como a diferenciação da própria Faixa. O ideal
era citar a divisão proposta por Lia Osório machado e
usado nos planos governamentais: Arco Norte-
indígena, Central e Arco Sul.
• Analisar as interações transfronteiriças e destacar os
fatores que as determinam:Trabalho, Fluxo de Capital,
Terra e outros recursos naturais, consumo de bens e
serviços.
• Conceituar as cidades gêmeas e apontar alguns
exemplos. Imagino que a maioria dos candidatos vai
usar uma de nossas triplíces fronteiras, no caso Foz
do Iguaçu (citação obrigatória porque é a nossa
maior cidade na Faixa de Fronteira) – Ciudad Del
Este- Puerto Iguazu, mas seria interessante pelo
menos um exemplo e análise em cada umas das 3
partes de nossa Faixa de Fronteira. São muitos
exemplos e aqui faz diferença um conhecimento
mais denso do território brasileiro. Os conjuntos
Tabatinga- Letícia, Corumbá- Puerto Suarez, Ponta
Porã- Pedro Juan Caballero,Uruguaiana- Paso de
Los Libres e Santana do Livramento- Rivera são de
maior expressão.
• Aos citar os exemplos de cidades gêmeas seria ideal a
classificação, adotada por Lia Osório, do nível de interação
na fronteira, desde os mais fracos (Margem e Zona
Tampão) até os de maior intensidade :Frente, Capilar e
Sináptica.
• O conhecimento geral do candidato era fundamental para
citar o papel da infra estrutura no nível de centralidade das
cidades de fronteira. Algum conhecimento da hierarquia
urbana e os exemplos de pontes, rodovias existentes ou
em construção seriam de grande valia. Imagino que obras
transfronteiriças como as diversas pontes no Arco Sul, a
BR 156, BR 174 e a Carretera Interoceânica Sul devem ter
sido utilizadas pelos futuros diplomatas.
• Com 90 linhas para escrever, havia espaço suficiente para
utilizar os conceitos de Território, Territorialidade , Lugar e
Rede conforme os exemplos de interações eram
apresentados.
• As diversas escalas geográficas envolvidas na análise
também são importantes. Os diversos projetos de APL-
Arranjos Produtivos Locais poderiam ser utilizados nessa
abordagem. O fato de existir um Plano Nacional para o
Desenvolvimento da Faixa de Fronteira facilita a análise das
múltiplas escalas: Local, Regional, Nacional e Internacional.
• A questão valorizava uma lógica integracionista para a
fronteira mas, aspectos de segurança poderiam e deveriam
der utilizados, destacado a necessidade de articulação dos
países para combate as atividades ilegais como o
contrabando e os diversos tráficos.
• Diversos conhecimentos, não necessariamente das aulas e
leituras de geografia, ilustrariam a resposta. Entre os muitos
exemplos destaco o papel da UNILA- Universidade de
Integração latino Americana em Foz do Iguaçu e o Estatuto
da Fronteira Brasil- Uruguai.
• O estudo Arranjos Populacionais e Concentrações
Urbanas, publicado em março desse ano, identificou 294
Arranjos no território brasileiro e apontou 27 Arranjos
Fronteiriços, com destaque para Foz do Iguaçu.

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