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CAPÍTULO I
NOÇÕES DE
ANTROPOLOGIA E
CULTURA
Objetivo Geral
Educação a Distância
NOÇÕES DE ANTROPOLOGIA E CULTURA 13
ANTROPOLOGIA CULTURAL
C
Seção 1 A
P
Í
Objetivos específicos: T
U
descrever o surgimento da Antropologia e
seu campo de abordagem; L
O
definir a Antropologia Cultural e apresen-
tar o seu campo de estudo;
I
assinalar as contribuições da etnografia para
a pesquisa em educação;
Caro professor-aluno!
Educação a Distância
14 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Educação a Distância
16 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
A Antropologia
Geral ou Arqueológica
estuda os vestígios deixa-
dos pelas sociedades já
desaparecidas procuran-
do reconstruir sua histó-
ria. Para isso, os arqueó-
logos realizam pesquisas
da cultura material des-
Escavação no sambaqui “Porto do Rio Vermelho II” sas sociedades: utensíli-
- Florianópolis. Data: 1999. Foto: Fabiana Comerlato.
os, vestimentas, constru-
ções, objetos variados. Você já ouviu falar sobre as ruínas de Pompéia
– a cidade que foi “engolida” por um vulcão? Pois é, quando foi
descoberta, a partir de escavações dos arqueólogos, muito se soube
Educação a Distância
18 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Educação a Distância
20 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
dia. Para isso, deve, além de andar com um bloco de notas, utilizar C
fotos ou filmes para registrar os eventos que observa. À noite, essas A
observações devem ser transcritas para um diário de campo, onde o
autor deve registrar também suas impressões e observações sobre os P
eventos dos quais participou. É a partir desses registros que o antro- Í
pólogo vai reconstruir essas culturas. T
Como você leu, o trabalho de Malinowiski consistia, portan- U
to, em descrever como viviam os povos do arquipélago de Trobriand
e quais os sentidos que davam para a sua existência. O autor nos
L
apresenta uma descrição da organização da tribo, como é sua cultu- O
ra, seu dia-a-dia, os comportamentos que são estabelecidos para o
grupo e o que eles fazem. Dessa forma, o objetivo era captar o
ponto de vista nativo, sua relação com a vida e sua visão de mundo. I
Todos esses procedimentos realizados por Malinowiski torna-
ram a pesquisa de campo muito mais detalhada, inaugurando um
procedimento metodológico denominado: observação participante.
Essa técnica caracteriza-se principalmente por um convívio prolonga-
do com o objeto de estudo, o que implica aprender a língua, apren-
der a conviver com os costumes, os rituais, aprender a participar de
eventos, aprender a ouvir e a conversar. Desse modo, o “exótico” – os
costumes estranhos dos nativos – passou a fazer sentido, tornando-se
familiar na medida em que, através da observação, compreendemos
como funciona, qual a lógica da cultura investigada. Através dessa
técnica, é possível apreender as categorias inconscientes que ordenam
o universo cultural investigado, possibilitando ao etnógrafo perceber
a cultura como uma “totalidade integrada” de significados e, assim,
proceder analiticamente à investigação da realidade cultural.
Quando Malinowiski publicou o resultado de suas pesquisas,
em 1922, a obra logo se tornou um sucesso. O livro é de leitura
muito agradável e parece trazer os nativos para perto, ou seja, sua
descrição da vida dos trobrianeses, particularmente de suas cerimô-
nias, permitiu que, mesmo quem nunca tivesse ido a Nova Guiné,
compreendesse como vivia aquele povo.
Como você estudou anteriormente, os europeus, quando co-
nheciam povos de culturas diferentes, principalmente as culturas
mais simples, as chamadas primitivas, em geral classificavam esses
povos como atrasados, ou sem cultura. O trabalho de Malinowiski
(e de vários outros antropólogos) demonstrou que todos os povos
Educação a Distância
22 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
têm cultura e que as práticas estranhas para nós devem ser analisa-
das no lugar ou no contexto em que acontecem.
Mas você devem estar pensando que ainda estamos muito dis-
tantes das realidades que enfrentamos na escola, instituição em que
se encontram pessoas com diferentes níveis sociais, vindas de luga-
res diferentes, de etnias diferentes. O que o trabalho de Malinowiski,
ou melhor, a técnica de observação participante pode nos ensinar?
Como pode nos ajudar a compreender nosso cotidiano escolar?
É claro que o campo de Malinowiski – as ilhas na Nova Guiné
– era bem diferente do campo que se apresenta hoje, não só para
você, professor ou professora, mas também para os antropólogos
contemporâneos. Embora já não existam sociedades como as que os
primeiros antropólogos estudaram, o campo de estudos da Antro-
pologia permaneceu e passou a se ocupar não apenas das sociedades
longínquas e exóticas, mas com a nossa própria sociedade. No caso
específico da Antropologia brasileira, há uma vasta produção sobre
as chamadas sociedades complexas: as cidades, as pessoas, os grupos
sociais, as instituições sociais, as associações, as mudanças de com-
portamento, os conflitos sociais e tantos outros temas tornaram-se
objeto de investigação antropológica.
A Antropologia desenvolvida no meio urbano utiliza as técnicas
da observação participante e do trabalho de campo para descrever a
vida cotidiana nas cidades, procurando compreender diferentes te-
mas como: os grupos de imigrantes que se estabeleceram no Brasil
mantendo alguns dos seus hábitos; a revolução nos costumes provocada
pelos movimentos de juventude nos anos 60; ou, ainda por que o
carnaval e o futebol são tão importantes para os brasileiros. Essas e
tantas outras questões sociais, uma vez selecionadas para a pesquisa,
levam o antropólogo a campo para observar, conversar com as pessoas
que participam desses eventos, registrar suas observações e procurar
descrever como funcionam ou qual o sentido desses eventos.
Nesse sentido, insere-se a contribuição de Malinowisk para
sua prática pedagógica. Convidamos você a olhar para o local onde
trabalha, utilizando-se das técnicas da Antropologia. O que
Malinowiski e outros autores podem nos ensinar é procurar com-
preender a realidade escolar pensando que tal realidade, como em
outras instituições sociais, produz sentidos, revela valores, normas,
mudanças e preconceitos presentes numa sociedade. Na escola, en-
NOÇÕES DE ANTROPOLOGIA E CULTURA 23
Os mistérios da humanidade;
Guerra do fogo.
Educação a Distância
24 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
30 minutos.
Comentário
Nesta atividade, você deverá ressaltar que a Antropologia surgiu no século
XIX e, nesse estágio inicial, estava preocupada em explicar a existência de se-
melhanças e de diferenças entre os seres humanos. No século XX, o objeto de
estudo da Antropologia passou a ser a preocupação com a diversidade cultural
dos seres humanos. Utilizando o método comparativo, a investigação antropológi-
ca procura explicar as semelhanças e as diferenças biológicas, psicológicas, cul-
turais e sociais, existentes entre os seres humanos.
Comentário
Nesta atividade, você deverá argumentar que a Antropologia Cultural estuda
as culturas humanas, na tentativa de revelar diferentes aspectos de sua organiza-
ção no passado e no presente. Essa parte da ciência antropológica tem como
objeto de análise: a religião, a guerra, os costumes alimentares, a organização
política, a vida sexual, o parentesco etc. É a área mais ampla da Antropologia,
visto que seu estudo abrange o ser humano na dimensão cultural, e, portanto,
procura compreendê-lo, no tempo e no espaço, conhecendo suas origens, seu
desenvolvimento, suas semelhanças e diferenças.Você deverá também ressaltar
que uma das finalidades da Antropologia Cultural consiste em demonstrar a impor-
tância e a riqueza da diversidade cultural dos seres humanos.
NOÇÕES DE ANTROPOLOGIA E CULTURA 25
C
A
P
Í
RESUMO
T
U
L
Nesta seção, apresentamos a Antropologia O
como uma ciência que surgiu no final do século
XIX e que, naquele momento inicial, tinha como
preocupação compreender as mudanças pelas I
quais passavam as sociedades. A diversidade
cultural, característica dos grupos humanos, cons-
tituiu-se como um dos objetos de estudo da An-
tropologia: os primeiros antropólogos queriam
entender por que os grupos humanos eram tão
diferentes e, no século XX, passaram a estudar a
existência das semelhanças e das diferenças en-
tre eles. A Antropologia Cultural, por sua vez, con-
centra seu estudo nas culturas humanas procu-
rando revelar diferentes aspectos da sua organi-
zação no passado e no presente. A Antropologia
tem como objeto de estudo a religião, a guerra, os
costumes alimentares, a organização política, a
vida sexual, o parentesco entre outros aspectos
do comportamento humano. É a área mais ampla
da Antropologia e seu campo de estudo abrange
o ser humano como um ser cultural, isto é, como
um ser que produz cultura, no tempo e no espaço.
Educação a Distância
26 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
CULTURA E EDUCAÇÃO
Seção 2
Objetivos específicos:
Educação a Distância
28 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Educação a Distância
30 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
ção, a atividade sexual etc. Mesmo essas funções, que são comuns a C
toda humanidade, são satisfeitas de maneira diferente nas várias A
culturas, portanto é essa grande variedade de realização de um nú-
mero tão pequeno de funções que faz com que o ser humano seja
P
considerado um ser predominantemente cultural. Í
Kroeber (1989) ainda acrescenta que o ser humano é o resul- T
tado do meio cultural em que foi socializado. Ele é o herdeiro de U
um longo processo acumulativo que reflete o conhecimento e a
experiência adquirida pelas inúmeras gerações que o antecederam.
L
E o manuseio adequado e criativo desse patrimônio cultural favore- O
ce as inovações e as invenções, as quais, portanto, não são os resulta-
dos das ações isoladas de um gênio, mas das construções que repre-
sentam o esforço de toda uma comunidade.
I
Um último ponto de vista sobre cultura, que apresentamos
aqui, refere-se à concepção formulada pelo Materialismo Histórico-
dialético, para o qual existe uma relação imediata entre cultura e
atividade humana. Com isso, estamos definindo cultura como nor-
mas, idéias, valores, que são determinados historicamente e passa-
dos às gerações futuras, ou seja, a cultura é criada pelos seres huma-
nos, deriva da produção material e espiritual, implica as normas,
valores e mecanismos que regulam as relações humanas. Como a
cultura é produto e resultado da atividade dos seres humanos, ela é
estabelecida como um modo próprio de seu desenvolvimento e deve
ser examinada como uma união da atividade material e espiritual.
Conforme Kelle e Kovalzón (1985), essa unidade da atividade ma-
terial e espiritual apresentada pelo Materialismo Histórico-dialético
é que estabelece a base da existência do homem e da sociedade,
portanto não há uma cultura material e uma cultura espiritual,
assim como não é possível separar o trabalho físico do trabalho
intelectual. É por isso que as sociedades e a cultura que caracteriza
tais sociedades se transformam no desenvolver do processo históri-
co, por isso não podemos considerar a cultura como um dado está-
tico, ou seja, que permanece sempre inalterado. É a partir das rela-
ções sociais e do contexto histórico em que vive um determinado
povo que a cultura se transforma.
Gostaríamos, ainda, de “dizer” que o ser humano não nasce
dotado das aquisições históricas da cultura. Isso resulta do desen-
volvimento das gerações humanas, não é uma aquisição incorpora-
Educação a Distância
32 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Educação a Distância
34 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Educação a Distância
36 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
C
A
PARA SABER MAIS
P
1. Para aumentar seu conhecimento sobre o que você estu-
Í
dou até o momento, sugerimos que assista aos seguintes filmes: T
A tribo da caverna do urso; U
Os deuses devem estar loucos; L
E a luz se fez. O
2. Para leituras complementares, sugerimos:
www.mnaah.perucultural.org.pe
www.mec.gov.br/sef/articul/projetos.shtm
www.geocities.com/complexidade/marioka.htlm
www.unesc.org/delegates/brasil/pt/diversidade.shtml
45 minutos.
Educação a Distância
38 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Comentário
A sua resposta deve comentar as contribuições de cultura apresentadas por
Tylor, Boas, Malinowski, Geertz, Kroeber e pelo Materialismo Histórico-dialético,
em oposição às noções que associam cultura a estudo, formação escolar, mani-
festações artísticas e, ainda, a festas, cerimônias tradicionais, lendas ou a carac-
terísticas de grupos étnicos.
Comentário
Você deverá considerar que o etnocentrismo concebe o próprio grupo como o
centro e o único referencial de avaliação dos outros. Já a relativização cultural
consiste em compreender os padrões sociais como relativos ao grupo a que per-
tence o indivíduo. Esse debate é importante no sentido do reconhecimento e do
melhor convívio com as diferenças presentes na escola.
NOÇÕES DE ANTROPOLOGIA E CULTURA 39
C
A
P
RESUMO Í
T
U
L
Nesta seção, tratamos basicamente do conceito de cultura. O
Vimos que a cultura é um conceito complexo, porque sobre ele
existe uma variedade de definições. Ressaltamos a existência
das definições apresentadas pelo senso comum, o debate sobre I
cultura apresentado pela Antropologia e pelo Materialismo His-
tórico-dialético. Na Antropologia, destacamos basicamente o con-
ceito de cultura evolucionista apresentado por Tylor, que relacio-
na a cultura à civilização, assim como destacamos as contribui-
ções de Boas, Malinowisk e Geertz. Boas, Malinowisk, mediante
as suas pesquisas de campo, conceberam que as diferenças en-
tre as culturas não eram o resultado de um processo evolutivo
linear e universal, mas, sim, de modos particulares como os ho-
mens e as mulheres organizaram as suas existências. Já o antro-
pólogo Geertz, ao apresentar a sua definição de cultura, consi-
derou que ela é um sistema de símbolos e significados e que
deve ser considerada como um “conjunto de mecanismos de con-
trole, planos, receitas, regras instruções (a que os técnicos de
computadores chamam de programa) para governar o comporta-
mento”. Segundo o Materialismo Histórico-dialético, a cultura é
produto e resultado da atividade produtiva dos seres humanos
sobre o mundo. E como a produção não se separa da própria vida
dos homens e das mulheres, a cultura tem de ser concebida como
uma união da atividade material e espiritual.
Reconhecemos que a nossa cultura é construída no contexto
das relações sociais e, a partir disso, convidamos você, educador-
aluno, a refletir sobre as diferentes culturas que fazem parte do
cotidiano da escola, porque entendemos que o conhecimento des-
sas diferenças é importante para combater as práticas etnocêntricas
que temem em transformar as diferenças em desigualdades.
Educação a Distância
40 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Objetivos específicos:
Educação a Distância
42 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Educação a Distância
44 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Educação a Distância
46 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
http://www.cfh.ufsc.br/~nuer/pesquisa.html
h t t p : / / w w w. c i e n c i a s s o c i a i s j a . h p g . i g . c o m . b r /
fichamento12.html
NOÇÕES DE ANTROPOLOGIA E CULTURA 47
Comentário
Você acertou a questão se definiu racialismo como uma teoria relacional, que
considera que existem entre os grupos humanos características hereditárias que
os diferenciam de outros grupos. Esses traços, no entanto, são dotados de uma
essência racial que ultrapassa características físicas e remete diretamente à cul-
tura, a regras de pertença grupal que dependem da história e da localização geo-
gráfica e social. Já etnicidade é uma teoria também relacional, mas que se dife-
rencia do racialismo porque se refere a um tipo diferente de sociabilidade marcada
pelos diferentes estilos de vida que determinam as hierarquizações sociais. Es-
sas características só têm legitimidade quando a formação dos grupos étnicos
está sustentada no fato de que existem grupos estranhos a esses costumes, ou
seja, a identidade depende do reconhecimento do outro.
Educação a Distância
48 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Comentário
Você acertou a questão se relacionou a seqüência: III, VI, IV, I, II e V. É impor-
tante que você compreenda essas conceituações para dar embasamento as futu-
ras discussões sobre etnicidade e racialismo.
NOÇÕES DE ANTROPOLOGIA E CULTURA 49
C
A
P
RESUMO Í
T
U
L
Você estudou, nesta seção, a diferença entre o que é raça,
etnia e identidade étnica, assim como a diferença entre
O
racialismo e etnicidade. Vimos que raça seria um sistema de
marcas físicas – hereditárias – associadas a uma essência,
que consiste em valores morais, intelectuais e culturais.
I
Racialismo, remete para além da idéia de sangue, a
diferenciação racial teria como seu veículo transmissor, a
cultura, o que significa que essas regras de transmissão podem
variar de acordo com os diferentes racialismos. Já a pertença
étnica, ou a etnia, refere-se a um tipo diferente de sociabilidade
marcada pelos vários estilos de vida que determinam as
hierarquizações sociais. Assim, a identidade étnica, que se liga
à vida em comum étnica, constrói-se a partir da diferença. O
conceito de etnicidade sustenta-se nas diferenças culturais e
na identidade étnica, que fornecem aos membros uma rede de
organização e de relações informais disponível para todos os
setores da vida social. A identidade étnica passa a ser uma
das bases para a participação na vida política e social. A etnia,
então, refere-se a um estigma baseado na identidade cultural,
regional ou nacional de grupos.
Vimos também a importância da categoria cor para o en-
tendimento das relações sociais no Brasil, na medida em que
ela se relaciona diretamente com a hierarquização social. Cor
é, no país, mais que um traço fenotípico (pigmentação); dela
também participa uma série de características físicas, como
tipo de cabelo e traços fisionômicos (formato do nariz, formato
dos lábios), traços que definem os grupos raciais. Assim, cor
seria um tipo de estigma que se baseia na aparência física de
um indivíduo e que dá a medida de proximidade ou afastamento
desse ou daquele grupo racial.
Educação a Distância
CAPÍTULO II
O MULTICULTURALISMO:
USOS E SENTIDOS.
Objetivo Geral
Identificar o que são as políticas sociais conhecidas
por multiculturalismo e o respeito às diferenças
culturais entre os indivíduos e entre os grupos sociais,
percebendo a constituição dessas lutas no contexto
mundial e no contexto brasileiro.
Perceber a dificuldade para combater o preconceito
racial no Brasil devido ao mito da democracia racial.
O MULTICULTURALISMO: USOS E SENTIDOS 53
O MULTICULTURALISMO
Seção 1
Objetivos específicos:
Educação a Distância
54 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Ainda hoje, essa visão está muito presente. Em razão das Co-
memorações dos 500 anos da “Descoberta do Brasil”, por exem-
plo, alguns comerciais de televisão apresentavam a imagem de
que nosso país era mestiço, ou seja, formado por um “cadinho” de
raças e culturas. Uma jovem nação, com “apenas 500 anos”, criou
inúmeros heróis e nela, em comparação com outros povos, os ci-
dadãos vivem em harmonia e paz. Discutiremos mais especifica-
mente sobre essa questão na seção 2.
Nos últimos 25 anos do século XX, entretanto, surgiram novos
movimentos sociais urbanos e rurais, que, têm questionado essa ima-
gem idílica do país. As feministas e os militantes anti-racistas ti-
nham, e continuam tendo, dificuldades para se identificar com os
“grandes varões” da pátria. Podemos dizer que heróis nacionais como
Duque de Caxias, D. Pedro II, Marechal Deodoro da Fonseca ou C
Rui Barbosa não têm significado efetivo para eles.
A
Esses grupos reivindicam uma política de reconhecimento,
tanto das suas diferenças, das suas várias identidades, como de
P
suas desvantagens e desigualdades sociais, decorrentes da discri- Í
minação social de gênero, de raça, de orientação sexual e de ori- T
gem regional, mas essas reivindicações não têm ocorrido apenas
no Brasil. Trata-se de um movimento mundial. U
Exemplo disso é
L
que, nos últimos anos, O
vários conflitos bélicos
têm se espalhado pelo
mundo, tendo como
II
causa fundamental di-
ferenças étnicas. Na
Europa, uma das ten-
sões acontece, por
exemplo, na Espanha.
Estado multinacional, Atentado do Grupo ETA na Espanha.
resultado da anexação
de vários povos por parte dos reis de Castela e de Aragão no século
XV, a Espanha enfrenta há décadas ação “terrorista”, seqüestros,
assaltos, explosões de bombas em lugares públicos, atos promovidos
por um grupo autodenominado ETA, sigla em basco para “Pátria
Basca e Liberdade”. Na região da antiga Iugoslávia, principalmente
Educação a Distância
56 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Educação a Distância
58 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Educação a Distância
60 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
II
Educação a Distância
62 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Texto Complementar
Educação a Distância
64 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
20 minutos.
Comentário
Sua resposta deve compreender as idéias de luta pela diversidade cultural e o
direito à cidadania no contexto dos movimentos de direitos civis nos Estados
Unidos e no contexto da luta anti-racista.
C
2. Do ponto de vista multiculturalista, qual é a tarefa dos A
Estados democráticos? P
Í
T
U
L
Comentário O
Em sua resposta, tem de estar presente a idéia da garantia da cidadania e do
direito à diferença.
II
3. Aponte os limites e as possibilidade do princípio jurídico
e político da premissa “todos são iguais perante a lei”.
Comentário
Importante discutir que o respeito à igualdade não pressupõe a transformação
de todas as pessoas em seres idênticos, mesmo porque existem características
culturais específicas de cada indivíduo.
Educação a Distância
66 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
RESUMO
Objetivos específicos:
O MOVIMENTO FEMINISTA
Educação a Distância
68 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Educação a Distância
70 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
O MOVIMENTO HOMOSSEXUAL
No contexto
em que foi gestada a
segunda fase do Mo-
vimento Feminista,
deu-se a organização
do movimento ho-
mossexual, o que
aconteceu em torno
da afirmação da
identidade homosse-
xual, bem como do
Passeata do movimento homossexual em São Paulo, combate a precon-
contra toda a forma de intolerância.
ceitos e discrimina-
ções aos/às homossexuais. A militância homossexual, inserida em
outros movimentos sociais urbanos de minoria, torna públicas as
O MULTICULTURALISMO: USOS E SENTIDOS 71
Educação a Distância
72 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
MOVIMENTOS DE AFRO-DESCEDENTES
Educação a Distância
74 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
MOVIMENTO INDÍGENA
Educação a Distância
76 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Educação a Distância
78 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Leitura complementar:
Educação a Distância
80 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
www.cimi.org.br
www.museudoindio.org.br
www.consciencia.br/reportagens/501anos/br07.htm
www.ufmt.br/revista/arquivo/revio/movimentos_sociais
www.mulheresnegras.org/milma.html
O MULTICULTURALISMO: USOS E SENTIDOS 81
40 minutos.
C
A
Comentário P
Nesta atividade, você deverá ressaltar a luta e os princípios defendidos por Í
esses movimentos no sentido do reconhecimento de direitos, visibilidade, afirma-
ção e possibilidade de transformação da realidade social.
T
U
2. De que maneira o estudo dos movimentos emancipatórios e L
de luta pelo reconhecimento de direito e de auto-afirmação, que O
você estudou nesta seção, podem contribuir para a reflexão de sua
prática pedagógica?
II
Comentário
A sua resposta deverá estar centrada em torno do reconhecimento e do respeito
à diversidade cultural, no seu espaço escolar, em vista da possibilidade de constru-
ção de uma vida autêntica e digna a todos os sujeitos que vivenciam a escola.
Educação a Distância
82 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
RESUMO
II
Educação a Distância
84 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Objetivos específicos:
Educação a Distância
86 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
C
PARA VOCÊ REFLETIR
A
“Sem dúvida, não podemos fazer uma separação mecâni- P
ca entre um problema social que afeta todos os oprimidos
da sociedade, os brancos e os não-brancos, e a questão
Í
racial. Brancos pobres e negros pobres são ambos víti- T
U
mas da mesma causa. A libertação de ambos passa pela
mesma solução, mas não liberta o negro dos efeitos do
racismo que, antes de ser uma questão econômica, é uma
questão moral e ontológica. Numa sociedade como a nos-
L
sa, as questões de raça e de classe mantêm entre si uma O
certa dialética. Mas não há como modificar a condição so-
cial do negro sem atacar diretamente a discriminação raci-
al” (MUNANGA, 1996). II
Educação a Distância
88 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Educação a Distância
90 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
20 minutos.
C
A
P
Í
T
U
L
O
Comentário II
Uma raça é formada por um grupo populacional considerado geneticamente
singular no interior de uma espécie biológica. O termo também pode ser percebido
como sendo as diferentes partes que compõem a humanidade. Racialismo é a
doutrina que concebe a humanidade como podendo ser dividida em um pequeno
grupo de raças passíveis de serem apreendidas através de atributos físicos como
cor de pele e formato de nariz, boca e cabelo. Já o racismo é uma prática de poder
através da qual uma pessoa é privada de seus direitos como cidadã devido ao seu
pertencimento a um determinado grupo étnico.
Educação a Distância
92 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO
Comentário
É importante refletir que as teorias raciais surgiram no século XIX no auge da
expansão do capitalismo e foram fundamentais para negar a igualdade natural entre
os homens e justificar a dominação européia de seus descendentes sobre povos,
nações e continentes inteiros. Discutir a política governamental baseada nas teori-
as raciais que previa o branqueamento do país através de uma combinação de
abolição da escravidão africana com a importação em massa de europeus.
Comentário
Em sua resposta tem de estar presente a idéia do contexto histórico do supri-
mento do mito da democracia racial, segundo o qual o fato de o Brasil ser constituido
pela mistura de raças (negro, índio e o branco), invalida a existência de raça. Se
não existe raça, não existe racismo.
O MULTICULTURALISMO: USOS E SENTIDOS 93
RESUMO
Educação a Distância
94 ANTROPOLOGIA CULTURAL E MULTICULTURALISMO