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UM ESTUDO DE CASO
RESUMO
As empresas, de forma geral, adotam programas internos para melhoria da eficiência energética
dos equipamentos industriais. A preocupação com as questões ambientais faz com que se busquem
alternativas energéticas mais limpas e eficientes. Pensando dessa forma, a empresa na qual foi
realizado este estudo (empresa X) optou por alterar sua matriz energética, passando a usar o
GLP, ao invés de óleo diesel, como combustível na caldeira de processo. Este trabalho consiste na
avaliação dos impactos técnicos e ambientais provenientes dessa alteração. Foi realizado com base
em levantamento bibliográfico, dados técnicos e por meio do monitoramento da combustão. Para
avaliação da conversão, foram realizadas medições dos gases emitidos na saída da caldeira. Os
dados e as medições foram comparados para duas situações distintas: antes (diesel) e após (GLP)
da conversão, analisando, nessas situações, o comportamento da combustão e do queimador. Foram
também levantadas as dificuldades técnicas da conversão.
Palavras-chave: Ambiental. Combustão. Caldeira. Conversão. Energia.
ABSTRACT
The companies generally adopt internal programs to improve the energy efficiency of industrial
equipment. The concern with environmental issues makes them seek alternative energy sources
cleaner and more efficient. Thinking this way, the company where this study was carried (X
company) decided to change its sources of energy, to use LPG instead of diesel fuel used in boiler
process. This work is the assessment of technical and environmental impacts from this change. Was
conducted based on literature, technical data, and through monitoring of combustion. To evaluate
the conversion measurements were made of the gases emitted at the output of the boiler. The data
and measurements were compared for two different situations: before (diesel) and after (LPG)
conversion, in these situations by analyzing the behavior of combustion and the burner. We also
raised the technical difficulties of conversion.
Keywords: Environmental. Combustion. Boiler. Conversion. Energy.
1
Engenheiro Industrial Mecânico.
2
Professora e pesquisadora da Universidade Feevale; doutora em Engenharia.
1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A avaliação da troca de uma matriz energética em uma empresa deve-se dar a partir de critérios
técnicos e financeiros. Os aspectos técnicos, além da questão da combustão, devem contemplar a
questão ambiental, que representa atualmente uma grande preocupação mundial (JANUZZI;
SWISHER, 1997). Sob esse aspecto, o uso do GLP em relação aos óleos combustíveis apresenta a
vantagem de preservar o meio ambiente devido aos baixos teores de enxofre (FAIRBANKS, 2008).
Qualquer equipamento de queima pode ser transformado para gás, desde que se levem em
consideração os aspectos físicos e químicos do novo combustível e os requisitos de segurança de
acordo com a norma ABNT NBR 12313, a qual regulamenta o sistema de combustão, controle e
segurança para utilização de gases combustíveis em processos de baixa e alta temperatura.
A figura 1 mostra um desenho esquemático de uma caldeira fogotubular de três passes, do
mesmo tipo da caldeira de processo em que foi feito o estudo.
1.1 COMBUSTÃO
A combustão é definida por Russomano (1987) como um fenômeno químico exotérmico,
caracterizado por uma reação de oxidação entre elementos combustíveis e comburentes.
Os elementos característicos dos combustíveis são: carbono, hidrogênio e enxofre, este último,
em geral em porcentagem muito baixa, pouco contribui para produção de calor. Os elementos
oxidantes (comburentes) mais usados são o ar atmosférico ou o ar enriquecido com oxigênio. O ar é a
fonte de oxigênio mais abundante e barata. É composto de nitrogênio e oxigênio e pequenas porções
de dióxido de carbono, vapor d’água, gases raros e, em certas regiões, pode conter óxidos de enxofre
e nitrogênio, ozônio e partículas sólidas. Em todos os tipos de combustíveis, a combustão é feita
pelo processo de oxidação do hidrogênio e do carbono, com o oxigênio existente no ar atmosférico.
O nitrogênio e qualquer outro elemento químico não combustível existente no ar atmosférico ou no
combustível passam pelo processo de oxidação sem modificações essenciais (BEGA, 2003; BIZZO,
2003).
A combustão pode ser completa ou incompleta. A completa ocorre quando, na fornalha, há o
oxigênio na quantidade suficiente para a oxidação completa de todos os elementos combustíveis. Neste
caso, na câmara de combustão, os elementos químicos combustíveis, carbono (C), hidrogênio (H) e
enxofre (S) reagem com o oxigênio do ar, liberando calor da reação e formando dióxido de carbono
(CO2), vapor da água (H2O), dióxido de enxofre (SO2) e nitrogênio do ar (N2). O N2 é considerado um
gás inerte e não participa das reações químicas. Se houver ar em excesso, os produtos de combustão
irão conter oxigênio (O2). Porém, se, na câmara de combustão, houver uma quantidade menor de
ar que a necessária, a combustão será incompleta. O hidrogênio e o enxofre são elementos mais
ativos que o carbono, dessa forma, a falta de ar provoca uma mudança na reação e nos produtos da
queima. Aparecerá agora o monóxido de carbono (CO), que, sendo um gás combustível, caracteriza o
desperdício de energia. Por isso, no caso da combustão incompleta, o aproveitamento do combustível
e o rendimento da caldeira irão diminuir. Além disso, o monóxido de carbono é um gás tóxico e
provoca poluição do ambiente. Ele reage com a hemoglobina do sangue, causando envenenamento
(VLASSOV, 2001).
No quadro 1, são mostradas as principais reações da combustão completa e os valores
aproximados da quantidade de calor liberado.
C + O2 = CO2 7.800
2C + O2 = 2CO 2.360
S + O2 = SO2 2.200
GLP 15,5
Na prática, a fim de assegurar a combustão completa, é necessário um teor de excesso de ar, para
manter a quantidade suficiente de oxigênio até o final da chama e superar as deficiências de mistura
do queimador (VLASSOV 2001).
1.1.2 Excesso de Ar
A quantidade de excesso de ar é estabelecida pelo coeficiente de excesso de ar (α). Branco
Uma vez que a composição elementar da maioria dos combustíveis industriais não varia
consideravelmente, é possível construir um gráfico que relaciona o excesso de ar com o teor de CO2
ou O2 nos produtos de combustão. O gráfico representado na figura 4 mostra o teor de O2 e a curva de
CO2 calculada para vários combustíveis e a percentagem do excesso de ar correspondente.
Levando-se em consideração o que foi apontado, para se controlar a eficiência na queima, deve-
se controlar os gases da combustão. Os teores de CO2 e O2 nos gases de saída são as medidas mais
usadas para determinação do excesso de ar. Os gases da combustão podem informar se a queima está
completa, se o calor desprendido na fornalha está sendo bem-aproveitado, se o nível de poluição é
alto e se o volume de ar para a queima é ideal. O melhor excesso de ar a ser adotado é quando CO ou
a fuligem não excedem a faixa de ajuste ideal; esse controle é feito através de equipamento analisador
de gases. O quadro 3 apresenta os valores ideais de O2, CO2, CO e fuligem para alguns combustíveis.
Porém, dependendo do equipamento de queima, esses valores podem variar (BRANCO 2009).
O teor de gases da combustão, como foi visto anteriormente, é importante para determinação
da eficiência da combustão e por questões ambientais. Como a reação de combustão é complexa, os
gases resultantes dependem de vários fatores já citados. Os principais gases e resíduos relacionados
com a combustão são o CO2, O2, NOx, SO2, além de cinzas e fuligem.
2 METODOLOGIA
Este trabalho tem por objetivo avaliar a substituição do óleo diesel pelo GLP, ocorrido na
empresa X nos meses de novembro e dezembro de 2008.
A avaliação foi realizada para a caldeira da empresa, que é o maior consumidor de combustível.
Tecnicamente foi analisada a combustão, comparando-se o combustível substituído (óleo diesel)
pelo atual (GLP), buscando as diferenças no comportamento dos equipamentos, nos rendimentos
e na emissão de gases. Para essa etapa, foram realizadas medições nos gases de saída da caldeira. O
equipamento utilizado para fazer as medições é um analisador de gases de combustão, de propriedade
da Feevale, modelo TEMPEST 50, fabricante Telegan.
As medições são feitas com a sonda inserida no duto da chaminé, todos os parâmetros são
medidos ao mesmo tempo e os cálculos da combustão vão sendo executados internamente. O
equipamento fornece os seguintes dados: data da medição, horário, temperatura ambiente (resolução
1º C), temperatura da chaminé (resolução 1º C), a relação entre temperaturas (resolução 1º C), teor
de O2 (resolução 0,1%), teor de CO (resolução 1 ppm), teor de CO2 (resolução 0,1%), excesso de ar
(resolução 0,1%) e a eficiência da combustão. O equipamento é calibrado a cada medição, tendo
como base o ar externo e sendo o referencial o teor de O2 do ar.
3 RESULTADOS
Com base nas medições, é apresentada, a seguir, uma análise técnica do comportamento da
caldeira antes (queimador a óleo diesel) e após a conversão (queimador a GLP).
Tabela 2 - Resultado dos níveis de gases na chaminé com combustão à plena carga: queimador a óleo diesel
Usando como referência a média das medições, observa-se que a combustão tem eficiência média
muito boa, acima de 91%. A eficiência máxima é obtida pela minimização das perdas de calor causadas
pelo excesso de ar, reduzindo a temperatura da chama, causando combustão incompleta, porém o
valor médio do excesso de ar no queimador é de 33 %. Esse é um valor elevado, se comparado com
5% apresentados por Vlassov (2001) e com os valores de 9 a 10 % apresentados por Pinheiro (1995)
nas figuras 2 e 3. Fica evidente que, teoricamente, havia possibilidade de reduzir o excesso de ar para
Tabela 3 - Resultados das medições com combustão à plena carga: queimador a GLP
Observando as primeiras medições da tabela 3, apesar de a combustão estar com eficiência muito
boa (acima de 90%, com teor de CO2 acima de 12% e o excesso de ar menor que 10%), observam-se
dois problemas imediatos:
a) teor de CO em níveis elevadíssimos, chegando a picos de 2790 ppm, ou seja, totalmente fora
do valor ideal indicado por Branco (2009), que corresponde a um valor máximo de 20ppm;
b) temperatura dos gases da combustão está muito elevada, próximo de 300 ºC. Segundo Onofre
(1999), quanto maior for a temperatura dos gases, maiores serão as perdas de calor sensível pela
chaminé e, em caldeiras fogotubulares, a temperatura deve se situar em torno de 200 a 250 °C.
Essa situação gera um desperdício de energia.
Da análise das primeiras medições, observou-se que a relação poderia ser melhorada regulando
Outro fator a ser observado é a temperatura final dos gases de combustão, pois, como se sabe,
quanto maior a temperatura dos gases, maiores as perdas de calor pela chaminé. Como se observou
na tabela 6, nem sempre é possível baixar muito a temperatura de saída dos gases, sob pena de
comprometer a eficiência da combustão. Consequentemente, a temperatura final dos gases ficou em
praticamente 280ºC, comprovando o que já era indicado na literatura, conforme Narciso (2001). Uma
forma de aproveitar essa energia seria aquecendo a água de entrada da caldeira ou pré-aquecendo o
ar de combustão. Segundo Onofre (1999), em média, para cada 22° C de aumento de temperatura do
ar, obtém-se 1 % de economia de combustível.
CONCLUSÕES
A vantagem do uso do GLP em relação ao óleo, para o meio ambiente, é a menor geração de
CO2 por caloria de gás queimado, devido à relação carbono/hidrogênio ser maior nos óleos do que
nos gases combustíveis. Além disso, o GLP é praticamente isento de enxofre. Outra vantagem é a
possibilidade da geração de atmosferas neutras ou redutoras, com ausência de fuligem.
A queima dos gases é muito mais fácil do que a dos óleos combustíveis, pois aqueles já se
encontram no estado gasoso e não necessitam de atomização. A mistura de um gás combustível com
qualquer comburente se processa rápida e eficientemente, em que o resultado da queima adequada
é a limpeza dos produtos da combustão, reduzindo as manutenções com limpeza dos tubos e, em
consequência, a eficiência constante da caldeira, pois, sem o depósito de fuligem nos tubos, não há
perdas por transferência térmica.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12313: Sistema de combustão
- Controle e Segurança para utilização de gases combustíveis em processos de baixa e alta
temperatura. 2000.
ONOFRE, Reginaldo de Matos. Controle de Eficiência da Combustão. [S. l.: s.n], 1999. 8p.
Disponível em: < http://www.help-temperatura.com.br/html/interesse/files/combust.pdf > Acesso
em: 05 fev. 2009.
PINHEIRO, Paulo César C.; VALLE, Ramon Molina. Controle de Combustão: Otimização
do Excesso de Ar. Belo Horizonte, MG: UFMG, 1995. Disponível em: <www.geocities.com/
paulocpinheiro/papers/excesso.pdf>. Acesso em: 23 dez. 2008.