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Quaresma
Quaresma
Tempo de paragem
Quaresma, tempo de paragem. Na vida agitada que levamos, cada vez é mais
difícil pararmos. O cristão se não quer sucumbir à vertigem do estilo de vida nos dias
de hoje tem necessariamente de parar para se reencontrar.
Tempo forte de escuta da Palavra. A Palavra de Deus é fonte de vida. Ela tem a
capacidade de avivar áleas da nossa vida que porventura estejam adormecidas ou,
quem sabe, até mesmo doentes. Além disso a Palavra de Deus tem de entra1no
coração, ser aceite pela fé e tornar-se vida e isso só é possível quando o cristão se abre
à acção do Espírito Santo, senhor da vida, porque é Ele que no tom íntimo das
consciências nos leva a aceitar a Palavra da Salvação.
Porque não, nesta Quaresma, uma vez por semana, nas nossas casas, deixar de
dar a primazia à televisão e dedicar um serão à leitura e à partilha da Bíblia ? Acredito
que seja difícil, mas façamos isso num espírito penitencial, pois a Quaresma é também
tempo forte de penitência que nos purifica criando em nós espaços de conversão e
santificação pessoal.
Tempo de oração
Para nós cristãos o nosso modelo de vida é Cristo. Como é que Cristo viveu a
sua Quaresma? Como é que Cristo atingiu a sua Ressurreição, a vitória final sobre a
morte? Cristo vai para o deserto e vive um tempo forte de escuta do Pai. Através da
oração, no deserto, assume a vontade do Pai identifica-se com ela, faz sua a vontade
do Pai assumindo assim a condição de Filho verdadeiro.
Antes de iniciar sua vida pública, logo após ter sido batizado por João no rio
Jordão, Jesus passou 40 dias no deserto. Esse retiro de Jesus mostra a necessidade
que Ele teve em se preparar para a missão que O esperava. Contam os Evangelhos que
no deserto Jesus era conduzido pelo Espírito, o que quer significar que vivia em oração
e recolhimento, discernindo a vontade de Deus para Sua vida e como atuaria a partir
de então. No tempo que passou no deserto Jesus teve uma profunda experiência de
encontro com o Pai. E, tendo vivido intensamente esse encontro, foi tentado pelo
diabo.
No fim desse tempo, Satanás tenta-O por três vezes, procurando pôr em causa
a sua atitude filial para com Deus; Jesus repele esses ataques, que recapitulam as
tentações de Adão no paraíso e de Israel no deserto; e o Diabo afasta-se d'Ele «até
determinada altura» (Lc 4, 13).
As tentações que Jesus viveu – e venceu! – nos são apresentadas como aquelas
que também nós vivemos e precisamos vencer. Jesus havia experimentado o encontro
com o Pai em sua totalidade, no silêncio e na solidão do deserto. Estava, pois, cheio
do Espírito que Lhe revelava o amor incondicional do Pai e a dimensão inimaginável do
poder desse amor se o vivermos em sua plenitude. É aqui que a natureza humana se
revela em fragilidade: se pudermos ter um minuto que seja do poder do amor que
existe em nós, o que faremos com esse poder que nos é dado?
O diabo tenta Jesus nas coisas simples, nas vontades mais básicas: a saciedade
da fome, o desejo de poder e riqueza, no querer ser superior a tudo e a todos.
Sentimentos que todos – homens e mulheres – carregamos em nossos corações.
Sentimentos que não são ilícitos se canalizados para os seus devidos fins, mas cuja
linha que separa o bom do mau fim é tão tênue que só a vida no Espírito é capaz de
reconhecer e não nos deixar escapar.
Foi por ser plasmado no Espírito, configurado pelo Revelador, que Jesus pode
resistir às tentações que o diabo lhe apresentou. Diabo que não é uma figura lendária,
mas o desejo que existe dentro do nosso próprio coração e que existiu dentro do
coração daquele que era Deus, mas que foi homem em plenitude. Porém, a divindade
que existia em Jesus venceu a humanidade e conseguiu, assim, superar o Mal.
3. Confiar em Deus e, por seu amor, não temer nunca a batalha contra o mal, seja no
mundo, seja em nós mesmos.
4. Meditar com frequência nos eventos e palavras da vida de Jesus, sobretudo sua
Paixão e Morte.
7. Ter familiaridade com a Sagrada Escritura, levando-a sempre no coração para que
oriente todos os pensamentos e todas as ações.
A ascese cristã
Descansar em Deus, gozar plenamente de seu amor, alcançar a mais alta união
com Deus, esse é o projeto de Deus para o homem; porém, por causa do pecado
original, a natureza humana experimenta a desordem, a desarmonia e anarquia de
suas potências, ou seja, o homem já não tem o pleno domínio de suas faculdades e de
seus sentidos, o pecado fez do homem um ser múltiple e disperso. Em conseqüência
disso, experimentamos conflitos interiores de tipo egoísta, busca apaixonada de
desejos triviais, passamos a viver na superficialidade e ocupamos indevidamente nosso
interior; em suma, o homem já não é livre, não está “orientado totalmente para
Deus”, pois – vítima de todas suas vozes caprichosas que se levantam em seu interior.
A unidade de nosso ser implica uma vida interior fundada na vitória sobre nós
mesmos, na negação de nosso “eu”, com todas suas manifestações “defeituosas”,
guardando nossas forças para o Senhor; é resultado de um processo que tem como
meta recolher todo o ser em Deus, e para isso é necessário que encontremos nosso
mais autêntico “eu”, ou seja, que o conheçamos para que, acolhendo-o com
humildade, o ofereçamos ao Senhor. Portanto, não devemos oferecer resistências,
por obstáculos à purificação da alma: nosso caminhar deve ser um continuo
desaparecer, um “minguar” e um “diminuir” completamente para deixar que Cristo
viva em nós, descendo por essa via é, então, que a pessoa adquirirá a consciência de
seu “nada” e se verá imersa na misericórdia divina que acolhe e transforma todo
coração contrito e humilhado.
Armas espirituais: Oração, jejum e esmola
1. O Jejum
A prática fiel do jejum contribui ainda para conferir unidade à pessoa, corpo e
alma, ajudando-a a evitar o pecado e a crescer na intimidade com o Senhor. Santo
Agostinho, que conhecia bem as próprias inclinações negativas e as definia «nó
complicado e emaranhado» (Confissões, II, 10.18), no seu tratado A utilidade do jejum,
escrevia: «Certamente é um suplício que me inflijo, mas para que Ele me perdoe;
castigo-me por mim mesmo para que Ele me ajude, para aprazer aos seus olhos, para
alcançar o agrado da sua doçura» (Sermo 400, 3, 3: PL 40, 708). Privar-se do sustento
material que alimenta o corpo facilita uma ulterior disposição para ouvir Cristo e para
se alimentar da sua palavra de salvação. Com o jejum e com a oração permitimos que
Ele venha saciar a fome mais profunda que vivemos no nosso íntimo: a fome e a sede
de Deus.
O jejum mortifica o nosso egoísmo e nos torna solidários para com que tem
pouco. Além do mais abre o coração ao mandamento de amar a Deus e o próximo,
compêndio de todo o Evangelho.
O jejum é, portanto, uma arma espiritual para lutar contra todo apego
desordenado a nós mesmos. Privar-se voluntariamente do prazer do alimento e de
outros bens materiais, ajuda o discípulo de Cristo a controlar os aspectos da natureza
enfraquecida pelo pecado original, e cujos efeitos negativos investem toda a
personalidade humana.
2. A Esmola
Nesta parábola, o Senhor ensina que uma vida de pecado e de egoísmo, no seu sentido
cabal, é a separação do amor, comunhão e autoridade de Deus. O pecador ou desviado
é como o filho mais jovem da parábola, que em busca dos prazeres do pecado,
desperdiça os dotes físicos, intelectuais e espirituais que Deus lhe deu . O resultado é
desilusão e tristeza e, as vezes , condições pessoais degradantes, e, sempre, a falta da
vida verdadeira e real, que somente se encontra no relacionamento correto com Deus.
Antes de um perdido vir a Deus, ele precisa reconhecer seu verdadeiro estado, de
escravidão do pecado e de separação de Deus. Precisa voltar humildemente ao Pai,
confessar seus pecados e estar disposto a fazer tudo quanto o Pai quiser. É o Espírito
Santo quem convence o perdido pecador da sua situação pecaminosa.
A descrição que Jesus faz da reação favorável do pai, diante da volta do filho, ensina
várias verdades importantes :
(1) Deus tem compaixão dos perdidos por causa da triste condição deles .
(2) o amor de Deus por eles é tão grande que nunca cessa de sentir pesar por eles
e esperar a sua volta
(3) Quando o pecador, de coração, volta para Deus, ele sempre está plenamente
disposto a acolhê-lo com perdão, amor, compaixão, graça e os plenos direitos
de um filho. Os benefícios da morte de Cristo, a influencia do Espírito Santo e a
graça de Deus estão à disposição daqueles que buscam a Deus.
No versículo 28- O filho mais velho se indigna, O filho mais velho representa aqueles
que têm sua religião e que exteriormente guardam os mandamentos de Deus, porém
interiormente estão longe d'Ele e dos seus propósitos para o seu reino.
Dentro do quadro de família fundado sobre a graça, o pecado supõe uma ruptura com
o Pai e com os irmãos.
A conduta transigente do pai expressa de algum modo a lógica de liberdade com que
governa Deus aos homens; não quer escravos mas sim filhos.
O pecado provoca estados negativos de vazio e penúria que podem causar reações
saudáveis para a retomada dos valores perdidos.
O primeiro efeito do estado de angustia produzido pelo pecado pode ser embarcar-se
para novas lonjuras e procurar sucedâneos do bem infinito que se perdeu.
3. “Enviou-o a seu campo para cuidar dos porcos. Ele quis acalmar sua fome com as
bolotas”. Escravidão e abjeção (vileza).
O pecado acaba na escravidão. ”Aquele que peca se torna escravo do pecado” (Jo
8,34).
Por muito que se engane com suas evasões, não pode o homem receber dos
sucedâneos de Deus o que só Deus pode lhe dar. O afastamento de Deus conduz a um
nada e à fome total.
Às vezes na vida pareço-me ao filho mais novo, embora sem o corte radical que a
parábola descreve. Ele fez uma aposta errada na roleta da vida e perdeu tudo.
Chegado a um beco sem saída, só tinha uma alternativa ao desespero: fazer o caminho
de retorno. Tomou a decisão correcta, “dando a volta” à sua situação miserável e
voltando ao seio do pai. Foram a meditação e a oração que o repuseram no caminho
direito: «Caindo em si, disse: “Irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: pai, pequei contra o
céu e contra ti”.»
A atitude lúcida de pôr-se a caminho da casa do pai corresponde à essência da boa-
nova de Jesus: «Arrependei-vos e acreditai no evangelho» (Mc 1,15; Mt 3,2). Esta
metanoia ou conversão é um deixar de olhar para o passado e um voltar-se para o
futuro, iniciando uma vida nova. A autêntica declaração feita diante do pai é uma das
mais sentidas formulações bíblicas da confissão dos pecados. Mas – note-se – o que o
salvou o filho não foi a confissão; foi o amor entranhado do pai, expresso no seu
abraço, nos beijos efusivos e no acolhimento afectuoso, ainda antes da confissão do
filho.
O filho mais novo é o tipo de pessoa que goza a vida e gosta de a sorver às mãos
cheias, querendo desfrutar dela depressa, mesmo que para se satisfazer tenha de
servir-se de tudo e de todos. É protótipo dos marginais, dos incrédulos, dos proscritos
da sociedade, daqueles que não se permitem o luxo de amar… mas que, quando se
emendam, têm grande capacidade de fazer festa, conscientes de que todos os
prazeres juntos não têm sentido em comparação com a alegria que sentem na casa do
pai. Este filho, não sendo imitável na dilapidação dos dons paternos, é de seguir na
«determinada determinação» de não ficar encarcerado na miséria e de se acolher à
misericórdia do pai.
Outras vezes na minha vida pareço-me ao filho mais velho, descrito como fiel
cumpridor das ordens do pai. O seu problema era pensar a relação com ele segundo a
lógica do contrato, em vez da lógica do amor. Calculista, era incapaz de amar
gratuitamente, dando importância a coisas materiais: «nunca me deste um cabrito…»
Nessa concepção mesquinha da vida, quando as coisas não correm perfeitas, não se
pode ser senão ressentido. E enquanto houver ressentimento não se pode ser feliz. Ele
estava bloqueado pelos seus mecanismos de defesa, especialmente pelo cumprimento
meticuloso dos deveres, que lhe dava orgulho e sentido de perfeição própria. Esse
rigor esterilizou nele a capacidade para compreender o amor. O encerramento dentro
de si próprio cegava-o para a ternura do pai e dava lugar ao rancor. Não percebia que
‘amor só com amor se paga’ (e que isso não é propriamente uma paga); nem que a sua
maior recompensa era estar permanentemente na casa do pai e em comunhão com
ele.
E eu? Dou porque me é dado e para que me seja dado, ou dou como exteriorização de
um amor interior? A figura do filho mais velho ilustra este drama de cada pessoa nas
suas multiformes relações.
O essencial da parábola é o festival da misericórdia, promovido pelo pai, pródigo de
amor. De facto, a história de cada filho termina de forma idêntica, com um apelo
efusivo do pai à necessidade de fazer festa, como forma subtil de perdoar sem fazer
alarde de tão generoso acto.
Orações: