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UNIMEP – Universidade Metodista de Piracicaba

FEAU – Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo


Arquitetura e Urbanismo / Sociologia Urbana / 7º Semestre
Profª Conceição Fornasari
Grupo: Amanda Karolyne R.A 1750488 / Emeriana Classere R.A 1709930 / Iriane
Menegon R.A / Janny Valverde R.A 1761352

A MULHER E OS ESPAÇOS URBANOS

Partindo da discussão começada por Jane Jacobs na época em que o


modernismo e os homens planejadores e construtores eram o normal desse
tempo, Jane Jacobs começou discussões sobre esse fato não ser questionado,
e as consequências na realidade da cidade no contexto do gênero feminino.

Esse termo vem sendo tratado como uma qualidade que indica inferioridade
por muitos aspectos culturais há anos, pessoas que foram confinadas a
determinados empregos, locais e afazeres (mesmo esses chamados eram na
verdade apenas reservados a elas, pois mesmo ao tentar juntar essa palavra –
afazeres - com “homens”, a frase ainda perde o sentido, mas por que?).

Ao nos aproximarmos dos pontos que se deslocam vulneravelmente pelas ruas


da cidade, podemos ver a realidade da forma de vida de muitas mulheres, que
não necessariamente se encontram em sincronia com os aspectos físicos e
abstratos da cidade (físicos, pelas distâncias a serem percorridas todos os
dias, e o pequeno espaço disponível a ela, as sacolas de compras e as
crianças quando saem ou estão a caminho das escolas; abstratas, porque
estamos acostumados a vê-las enfrentando isso todos os dias, sem a visão de
homens assumindo o viajar a pé).

A partir disso, poderíamos nos preocupar com o que poderia tonar a vida mais
prática para as mulheres, porém a verdadeira pergunta e busca a ser feita teria
de ser a causa disso. Qual então é a raiz? Os planejamentos. Os pensamentos
de projeção antes de serem colocados em prática. E por que ainda não se vê a
iniciativa de cooperação com as mulheres nesse sentido. As cadeiras nas
mesas que determinam as direções a serem tomadas estão sendo ocupadas
por representantes que habitam a cidade?

As mulheres de fato fazem parte integrante e importante da sociedade, na


vivacidade e continuidade da vida urbana. Jane Jacobs nos lembra disso ao
dizer que os grandes planos eram apenas feitos e pensados por homens,
enquanto os pequenos detalhes de uma vizinhança (mais perto de casa) eram
esquecidos, porque de qualquer forma, os efeitos desse esquecimento não
seriam algo direto para os homens, e sim às mulheres.

“Para exemplificar isso, apresentamos Dolores Hayden, professora de


arquitetura e urbanismo da Universidade de Yale em Connecticut nos Estados
Unidos, que discute sobre a desigualdade entre o processo de suburbanização
nas cidades dos Estados Unidos no pós-guerra e a evolução da participação
das mulheres no mercado de trabalho no mesmo período, especialmente a
partir da década de 1970. Ela critica o processo de produção capitalista do
espaço, a partir de um padrão industrial de subúrbios residenciais, e analisa
como este espaço foi fabricado a partir de uma concepção hegemônica sobre a
família, sobre o consumo familiar e os papeis sociais femininos.”

Por que a necessidade de praças? Por que a necessidade de espaços vazios e


amplos de calçadas e sem sentido, se não há produção de renda à cidade
nesses espaços? Essas perguntas poderiam ser o começo do pensamento
masculino empreendedor. Mas como garantir a segurança desses espaços, se
tira a possibilidade de vida nesses lugares? Em outras palavras, como diria
Jane Jacobs “sem olhos na rua, não há como ter segurança”. Se não há a
possibilidade de praças e locais públicos perto de casa (onde as mulheres
foram submetidas), aonde mais iriam às crianças e suas mães? E ainda mais,
o que seriam da segurança nos caminhos para o mercado, as escolas etc.?

Chegamos então ao assunto do transporte, as viagens. E a rotina que é


necessária para a vida de uma mulher. Os caminhos a percorrer e como
percorre-los.

A maioria a usar o transporte público é composta por mulheres, mas com


predominância das que vivem nas extremidades da cidade. E mesmo que se
tenha um veículo particular na casa, é mais natural que seja o homem o
primeiro dono deste, e consequentemente o único usuário. As condições dos
instrumentos públicos em sua maioria são difíceis de serem tratadas como
benefício para mulheres, pois na maior parte do tempo é a única opção, mas
não representam fazer parte de uma boa qualidade de vida.
“Muitas mulheres trabalhadoras que passaram a morar nos novos bairros
suburbanos eram forçadas a longos deslocamentos, exigidos pela segregação
dos espaços de trabalho e de habitação. Desde ali, a possibilidade que restava
para a conciliação entre trabalho e família era a compra de serviços de
manutenção e cuidados.”

Diante da igual falta de qualidade de vida nos arredores de sua moradia, veem-
se na obrigatoriedade de uso de utensílios mais distantes. As distâncias a
serem percorridas são maiores, e por consequência o tempo também. Há ainda
diversas situações as quais elas são submetidas na ida e na volta, tanto dentro
do ônibus quanto fora dele. Assédio é um exemplo. Desrespeito não somente
físico, mas moral e verbal também durante a rotina que continua mesmo depois
do trabalho formal (dificilmente conseguido pela sua condição, e igualmente
característico na área da educação).

Seria preciso uma readequação na grade planejadora da cidade, atenção não


somente ao macro da cidade, mas aos detalhes e a qualificação das condições
ao longo de toda a malha urbana, sem exclusões. Sendo prática para aqueles
que mais a utilizam.

“Defender a representatividade de gênero na política brasileira vai além do


processo eleitoral. É sobre apoiar mulheres que construam as cidades de
acordo com as necessidades reais de suas vidas, no campo da habitação,
mobilidade, segurança nos espaços públicos, divisão do trabalho, e tudo que
envolve usar, ocupar e identificar-se com a cidade que vivemos.”

“A saída propositiva encontrada pela autora {Zaida Muxí} é desenvolvida ao fim


do manifesto, quando expõe seu projeto de cidade não sexista. Para Zaida
Muxí, professora da Escola Técnica Superior de Arquitetura de Barcelona, é
necessário ser considerado a escala da “proximidade”, da realidade cotidiana,
deve ser o pressuposto político de elaboração de projetos técnicos. Isto só
poderia ser alcançado pela combinação do trabalho arquitetônico com a
participação popular, da comunidade interessada no espaço projetado e das
suas experiências de vida.”

“A arquiteta considera importante no planejamento das cidades levarem em


conta a característica da experiência urbana feminina, que é sempre
compartilhada: bebês, crianças, idosos, compras, sempre dividem o espaço por
onde as mulheres se deslocam. Portanto, calçadas largas, iluminação pública,
faixa de pedestres, ruas arborizadas são elementos a serem implantados no
planejamento, bem como a dinâmica de trajetos mais complexos, que não
apenas o pêndulo entre a casa e o trabalho, visto que as mulheres costumam
aproveitar caminhos para conseguir desempenhar suas múltiplas atividades.
Evocando Jane Jacobs, Muxí considera que, “A cidade tem que ser como uma
cebola com milhares de camadas iguais e diferentes ao mesmo tempo: iguais
em relevância e imprescindibilidade e diferente nos usos, nos usuários e nos
tempos de uso, assim garantiremos, como diria Jane Jacobs, uma dança
urbana constante”. (MUXÍ, 2011)

Vendo agora, percebe-se que não é algo que convoca apenas à necessidade
das mulheres, mas crianças e idosos também. Ou seja, às futuras gerações e
às passadas. Porque é começando por um para todos, e não somente de uma
parte para ele mesmo. Protegendo uma parte que está sendo desprezada,
automaticamente se cuida dos que vem a seguir.

O papel da mulher e sua inserção no espaço público nos faz refletir também
sobre a abordagem de gênero no âmbito urbano, visto que, historicamente a
mulher esteve relegada ao mundo privado e dessa forma, homens ocuparam o
mundo público, o trabalho, a política e da comunidade, sendo assim,
construindo formas de organizar a cidade, diferenciando papeis e lugares pelo
gênero.

Segundo Paula Santoro as representações de feminilidade associadas à


formas arquitetônicas – masculinas são sólidas, poderosas, lineares e vertical e
femininas como delicadas, abobadadas, e tudo que é curvo; a contínua
invisibilidade das mulheres na vida urbana. Seguem reforçando o binômio que
estrutura uma ordem patriarcal que reforça ou pode transformar as construções
em torno dos papéis femininos nos processos de produção e reprodução.

Além disso, a autora cita dados históricos, em torno de 1970, onde apontavam
para a invisibilidade das mulheres na cidade e no planejamento urbano. Estes
mostram as diferentes vivências das cidades, resultado direto da construção
social e cultural sobre cada papel de gênero, da divisão sexual do trabalho e
dos históricos processos de construção do urbano.

Susan Fainstein e Lisa J. Servon também afirmam que as diferenças de gênero


estiveram invisíveis em grande parte da história do planejamento urbano, uma
vez que muitos dos trabalhos estiveram apoiados na tradição modernista que
pedia uma abordagem universalizante. Mesmo as urbanistas que estavam
dedicadas a melhorar as cidades para os mais pobres, não tinham uma
abordagem que se preocupasse explicitamente com gênero ou com outras
desigualdades. Ainda assim, é preciso realizar um resgate histórico desses
trabalhos no Brasil, buscando entender de que maneira a questão de gênero
apareceu (ou não) nos trabalhos de urbanistas mulheres que não tinham tal
abordagem específica.

Por fim a autora declara que as mulheres são precursoras nos movimentos
sociais, muitas vezes nascidos face às lutas por equipamentos, serviços,
políticas como vimos, além de que as pesquisas sobre as políticas públicas
urbanas para as mulheres devem ser feitas e atualizadas, pois as alterações na
família brasileira mostram que menos da metade da população brasileira não é
mais a família “heteronormativa” – mulher, homem e filhos –, tida como
“tradicional”. E uma das famílias que mais cresce é a monoparental com filhos
e, dentro deste grupo mulheres com filhos. Esta nova demografia certamente
irá transferir a luta pela divisão do trabalho doméstico entre mulher e homem
para uma luta pela maior presença do Estado no suporte à estas mulheres,
para que possam ter autonomia. Ou ainda, políticas de auxílio à idosos, e às
mulheres idosas, emergem como necessárias. Assim, a investigação sobre
políticas públicas que beneficiem especialmente as mulheres, abarcando a
diversidade de suas condições de vida, é premente na construção de uma
abordagem de gênero no planejamento urbano.

“Jacobs entende as mulheres como um dos principais agentes da vida urbana,


participando ativamente da construção cotidiana do espaço”. Jacobs teve três
filhos, e levantou a questão de que não cabiam só as mulheres a cuidar dos
mesmos, mas também dos pais.
Com todo questionamento e dados levantados, as perguntas passam a serem
outras. Por que a mulher deve se preocupar com o caminho que irá percorrer,
ou quanto tempo vai demorar o trajeto de ônibus, pois precisa cozinhar para os
filhos e marido? Pensar em qual roupa deve ou não usar para não sofrer
qualquer tipo de abuso? Ou por que é comum vermos uma mulher como
empregada doméstica, mas um homem não? Por que é sempre a mulher a
ocupar os menores cargos?

Para equiparar as condições econômicas de homens e mulheres no Brasil,


serão necessários 95 anos, se o atual ritmo de progresso for mantido. Em
termos gerais, incluindo política, educação e outros aspectos sociais, equiparar
as condições entre gêneros no país levará 104 anos.

“No Brasil as mulheres trabalham semanalmente 7,5 horas a mais do que os


homens, o que, em um ano, significa cerca de 15 dias a mais. Sobrecarregadas
com o trabalho e organização doméstica, pouco tempo livre sobra para as
mulheres.”

Como compreender que o planejamento e o zoneamento urbano exclui a


mulher e centraliza o homem? Por que devem ser apenas os homens a ditar as
regras no espaço urbano? Não deveria ser todos que nele habitam?

“Até a segunda metade do século 20, o urbanismo era elaborado e exercido


quase exclusivamente por homens. A correlação de gênero atual é muito
diferente. O urbanismo possui hoje inúmeras figuras femininas como
protagonistas do debate e das práticas profissionais.” Jane Jacobs.

Apesar de hoje a mulher ter conquistado um lugar, por mais que pequeno, no
meio das decisões que antes eram tomadas apenas por homens, muitas das
vezes a mulher não se sente parte real da sociedade, não sente que possui o
direito de reivindicar seus direitos e por consequência acaba aceitando as
inúmeras situações mencionadas no decorrer do texto.

Podendo, a partir disso, levantar mais um questionamento, o fato de que até as


mulheres julgam-se quando veem outras mulheres lutarem pelo direito de ir e
vir sem preocupação nenhuma, ou de serem independentes. No nordeste
brasileiro, têm-se a “Revolução das Mulheres Nordestinas do Século XXI”.
Antigamente o programa bolsa-família do governo brasileiro era distribuído em
nome do homem (pai da família), porém os mesmos utilizavam o dinheiro para
se embriagar e não para seu fim real, sustentação da família. Hoje passou a
ser distribuído em nome das mulheres, fazendo com que as famílias
passassem a ter uma base familiar solidificada, e tornando as mulheres
independentes dos homens que só queriam o dinheiro para si.

Concluímos então que a mulher tem papel tão importante quanto o homem no
contexto social urbano de uma cidade. Sendo muitas das vezes, essencial para
que as cidades tenham seus ambientes ocupados e utilizados.

Referências Bibliográficas

 ALVIM, Carolina. Estudos Feministas sobre a Questão Urbana:


Abordagens e Críticas; Usp. São Paulo, 2019.
 AS MULHERES e as cidades. Mobilize. Disponível em:
<https://www.mobilize.org.br/noticias/11476/as-mulheres-e-as-
cidades.html>. Acesso em: 14 março 2020.
 GRATZ, Roberta Brandes (2011). Jane Jacobs e o poder das mulheres
planejadoras. Disponível em:
<https://www.citylab.com/equity/2011/11/jane-jacobs-and-power-women-
planners/502/>. Acesso em: 14 março 2020.
 MEDINA, Graciela et al. Mulheres nas cidades. Disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/935134/mulheres-nas-cidades>.
Acesso em: 14 março 2020.
 MULHERES e o direito à cidade. Pública. Disponível em:
<https://apublica.org/2018/06/mulheres-e-o-direito-a-cidade/>. Acesso
em: 14 março 2020.
 ROCHA, Camilo (2018). As cidades masculinas erguidas pelo urbanismo
do século 20. Disponível em:
<https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/06/29/As-cidades-
masculinas-erguidas-pelo-urbanismo-do-s%C3%A9culo-20>. Acesso
em: 13 março 2020.
 SANTORO, Paula (2019). Por uma agenda de pesquisa sobre a cidade,
as mulheres e as interseccionalidades. Disponível em:
<http://www.labcidade.fau.usp.br/por-uma-agenda-de-pesquisa-sobre-a-
cidade-as-mulheres-e-as-interseccionalidades/>. Acesso em: 14 março
2020.

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