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Religião Familiar Romana

Licenciatura em História

Seminário em História Antiga

Prof. Doutor Amílcar Manuel Ribeiro Guerra

Tiago Alexandre Varela Mendes – nº 150807

02/05/2020

1
Resumo:

A religião romana sempre teve um importante papel na sociedade romana. Este


trabalho vai demonstrar como era a religião privada, ou seja, a religião familiar,
evidenciando as principais divindades associados a este culto, bem como aspetos como
de que forma as várias etapas da vida de um cidadão romano, como o parto, o casamento
se podem ligar à religião doméstica.

Palavras-Chaves:

Deuses; Familiar; Religião.

2
Índice
Introdução ......................................................................................................................... 4
Religião Romana .............................................................................................................. 4
Sacrifícios e rituais em Roma ....................................................................................... 5
Religião do lar .................................................................................................................. 6
Divindades e espíritos do lar ............................................................................................ 8
Lares ............................................................................................................................. 9
Penates ........................................................................................................................ 11
Manes .......................................................................................................................... 12
Lemuria ....................................................................................................................... 13
Genius ......................................................................................................................... 14
Vesta............................................................................................................................ 14
Sacerdotisas de Vesta.............................................................................................. 15
As etapas da vida de um cidadão e a religião familiar ................................................... 16
Nascimento ................................................................................................................. 16
Casamento ................................................................................................................... 17
Morte ........................................................................................................................... 18
Religião no campo .......................................................................................................... 19
Conclusão ....................................................................................................................... 20
Referências Bibliográficas .............................................................................................. 21
Anexos iconográficos ..................................................................................................... 25

3
Introdução
Este trabalho vai debruçar-se acerca da religião na habitação de uma família
romana. Para a demonstração deste tema, irei começar por abordar como era a religião
romana, e breves apontamentos de como eram os sacrifícios. Depois especificarei como
era a religião no lar em si, de seguida, passarei a falar das principais divindades e espíritos
associadas a este culto. Posteriormente passarei para outro tema, que irá mostrar como a
religião familiar estava presente na vida de um romano. O trabalho terminará com a
explicação de como era a religião na vida do campo

Para a realização deste trabalho tentei usar uma vasta bibliografia, baseada quer
na religião romana, onde depois procurei mais focada no tema central do trabalho;
também procurei obras relativas ao quotidiano de uma família romana. Da bibliografia
que utilizei destaco o estudo Roman domestic religion: a study of the roman lararia de
David Gerald Orr.

Religião Romana
Antes de passar para a explicação de como era a religião familiar, convém fazer
alguns pequenos apontamentos sobre a religião romana, esta teve um grande impacto nas
principais instituições romanas, e permitiu uma estabilidade na ideologia e na dinâmica
social da sociedade romana1, esta era uma religião politeísta e antropomórfica, uma
religião que bebeu influências quer gregas quer etruscas, havendo respeito por outras
religiões2.

A religião romana era de facto um fator de coesão política (como demonstra o


facto de haver cultos que favoreciam cultos da plebe)3, e uma componente da vida cívica
muito importante, todos os atos religiosos tinham um aspeto cívico, e o culto público tinha
aspetos políticos4.

1
Vide, Religião, género e sociedade: ordem romana, ordem sagrada,
https://www.researchgate.net/publication/276122011_Religiao_genero_e_sociedade_ordem_romana_
ordem_sagrada/fulltext/58d6422baca2727e5ec930df/Religiao-genero-e-sociedade-ordem-romana-
ordem-sagrada.pdf, consultado em 14/03/2020, p.134.
2
Vide, História geral das religiões,
https://www.academia.edu/33806901/HIST%C3%93RIA_GERAL_DAS_RELIGI%C3%95ES, consultado em
08/02/2020, p.20.
3
Vide, BRANDÃO, José Luís et OLIVEIRA, Francisco de, História de Roma Antiga: das origens à morte de
César, Vol. 1, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2015, p.307.
4
Vide, Práticas culturais no império romano: entre a unidade e a diversidade,
https://www.academia.edu/30033758/PR%C3%81TICAS_CULTURAIS_NO_IMP%C3%89RIO_ROMANO_-
ENTRE_A_UNIDADE_E_A_DIVERSIDADE.pdf, consultado em 14/03/2020, p.4.

4
Em suma, podemos então concluir que a religião tinha um grande impacto no
quotidiano das pessoas e nas suas mentalidades dos romanos.

Sacrifícios e rituais em Roma


Importa ainda antes de iniciar o desenvolvimento do tema central deste trabalho,
fazer algumas referências de como eram os sacrifícios e os rituais na antiga civilização
romana.

Na religião romana podemos constatar a existência de dois tipos de cultos o culto


público, que se focava no culto da cidade, nos templos e era destinado ao estado. O outro
tipo de culto era o privado, que tinha como centro uma casa de um romano, em que os
antepassados estavam muito presentes5.

Para os romanos, a sua ênfase não se situava nas mitologias ou nos deuses, mas
sim nos rituais, onde os romanos eram obcecados pela perfeição, se tudo não corresse
bem o ritual teria de começar de novo6, e este momento era um momento traumático para
um romano.

O culto era como uma festa que servia para os deuses se divertirem, e significa
prestar homenagem aos deuses. Os romanos julgavam-se servidores dos deuses, e tinham
um grande medo deles7.

O sacrifício era a parte mais importante do culto, este iniciava-se geralmente ao


nascer do sol, exceto os rituais considerados “mágicos”, que se iniciavam de noite, os
sacrificadores e seus assistentes tem de tomar banho, e era aconselhado vestirem uma
toga8.

Havia ainda uma espécie de contrato com os deuses, por vezes, como é o caso de
quando um romano estava doente podia fazer uma promessa, e se depois se curava, podia
oferecer às divindades um ex-voto para agradecer e pagar a dívida9.

5
Vide, História geral das religiões, op. Cit., p. 21.
6
Vide, LIMA, Jónatas Ferreira de, Costumes funerários da Roma Antiga, Rio Grande do Norte, Universidade
Federal do Grande do Rio grande do norte, 2012, p.9.
7
Vide, VEYNE, Paul, História da vida privada – Do império Romano ao ano mil, São Paulo, Schwarcz LTDA,
2009, p. 163.
8
Vide, RÜPKE, Jörg, A companion to roman religion, Malden, Blackwell Publishing, 2007, p. 265.
9
Vide, VEYNE, Paul, op. Cit., p. 176.

5
Por fim, dizer que estas crenças e práticas religiosas tem um papel de primeiro
plano na formação de identidades, de certo modo, a religião para além de dar um sentido,
esta cria um mundo ordenado para os seres humanos10.

Religião do lar
No que diz respeito ao culto privado, que é o tema central deste presente trabalho,
esta estava muito presente numa casa de um romano, como demonstra a arqueologia. Este
tipo de religião permitiu ao povo romano um mundo religioso diferente11.

Para um romano era importante o bem-estar familiar, na medida em que, a família


era considerada uma unidade básica da sociedade, sendo a vida familiar um dever cívico
da sociedade romana12.

No culto doméstico estava incluído rituais dedicados a deuses protetores, aos


deuses ancestrais e aos antepassados13. Para expressar a sua devoção a estes, os romanos
faziam oferendas nos templos e em santuários domésticos esta adoração era importante
para existir uma boa relação familiar, tornando a força destes deuses em protetores e não
em forças perigosas14.

Numa casa romana, as principais divindades domésticas eram os Lares e os


Penates, que tinham funções protetoras, a somar a estes havia o genius como divindade
protetora. O genius era limitado ao sexo masculino, as mulheres para a proteger tinham a
divindade Juno15.

Para cultuar estas divindades era utilizado o lararium, que eram uma espécie de
mini santuários no interior das casas romanas, o altar podia ser temporário ou permanente.
Lá existiam pinturas e estatuetas para homenagear as divindades, estas representações
desejavam a apropriação dos poderes do deus para as funções domésticas. Alguns
defendem que as estatuetas aqui presentes podiam vir dos arredores dos templos16.

10
Vide, Religião, Gênero e Sociedade: Ordem romana, ordem sagrada, op. Cit., p. 129.
11
Vide, BEARD, Mary, NORTH, Jonh et PRICE, Simon, Religions of Rome – A History, vol. 1, Cambridge,
Cambridge University Press, 1998, p.71.
12
Vide, KATAJALA-PELTOMAA, Sari et VUOLANTO, Ville, Religious participation in ancient and medieval
societies rituals, interaction and identity, Roma, Institutum Romanun Finlandiae, 2013, p. 40.
13
Vide, POTTER, David S., A companion to the roman empire, Malden, Blackwell Publishing, 2006, p.551.
14Vide, ORR, David Gerald, Roman Domestic Religion; A study of the Roman lararia, Maryland,

Universidade de Maryland, 1969, p.181.


15
Vide, POTTER, David S., op. Cit., p.551.
16
Vide, POTTER, David S., op. Cit., p.551.

6
Nestes mini santuários, o paterfamilias colocava também, para além de oferendas,
árulas para oferecer às divindades17.

Estes santuários domésticos faziam uma ligação entre o elo doméstico e as


procissões no templo, devido às oferendas que se faziam em ambos os casos18, para além
do culto no interior da casa, também haveria diversas práticas culturais à porta de casa,
(como veremos mais à frente quando falar do casamento romano19). Era da família a
responsabilidade de manter em ordem o santuário, sendo da responsabilidade do
paterfamilias manter saudável a relação da família com o divino20. Esta ideia de se erguer
um santuário em casa já era uma ideia antiga, que teve uma origem provavelmente
etrusca21.

Era exclusivo do paterfamilias o ensinamento deste tipo de religião, ele podia


ensinar ao seu filho, mas não podia ser partilhada, sendo proibida ser partilhada com
estranhos22.

O paterfamilias tinha esta elevada responsabilidade no culto doméstico pois este


representava a sua linhagem. Em caso de doença, este podia ser substituído quer pela
mulher, quer pelos filhos23.

Este culto doméstico tinha a pietas como um dos seus pilares pietas é um
sentimento que o romano sente de obrigação/ devoção para com aqueles que um ser
humano está ligado pela natureza, nomeadamente, os pais, os filhos, ou seja os parentes.
Para além disto este tipo de culto romano criava uma ligação entre os membros da
comunidade familiar, pois estavam unidos sob a égide do pátria potestas que se projetava
no culto dos ancestrais. Este pietas alargou-se e passou a também simbolizar as relações
com o estado24.

17
Vide, ENCARNAÇÃO, José d´, Religião dos Romanos, religião de sempre?, Lisboa, Academia das ciências
de Lisboa, 2016, p.7.
18
Idem, Ibidem, p.551.
19
Vide, OGLE, M. B., “The House-Door in Greek and Roman Religion and Folk-Lore”, The American Journal
of philology, ano 3, vol. 32, 1911, p. 263.
20
Vide, KATAJALA-PELTOMAA, Sari et VUOLANTO, Ville, p.43.
21
Vide, ORR, David Gerald, p.68.
22
Vide, JOHNSON, Paulo Donoso, El culto privado en la religión romana: Lares y Penates como custódias
de la Pietas Famílis, Santiago, Revista eletrónica Historias del Orbis Terrarum, número 3, 2009, p. 16.
23
Vide, JOHNSON, Paulo Donoso, op. Cit., p. 15.
24
Vide, BUSTAMANTE, Regina Maria da Cunha, Lemuria: apaziguando os mortos malfazejos na Roma
Antiga, Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2014, p.111.

7
No culto doméstico romano, para além da função cuidadora, havia divindades
domésticas destinadas a cuidar das memórias dos familiares defuntos, como veremos
mais à frente.

Um dos exemplos deste culto doméstico era na hora da refeição, onde para
santificar as refeições, ou seja, para convidar as divindades para a refeição, eram
colocadas estatuetas nas salas das refeições, frente destas estatuetas eram colocados
pratos de comida. Para além disto, antes das refeições havia a bênção na mesa, onde se
faziam orações pela saúde das crianças, pela vida tranquila e pela estabilidade
económica25.

Ainda relativo à alimentação, era habitual no início de cada mês as famílias mais
ricas oferecerem leitões aos Lares e aos Penates, podendo oferecer também presentes
luxosos como o caso do vinho e do mel. Relativamente aos pobres, estes ofereciam coisas
mais baratas, como as aves domésticas que depositavam num altar doméstico26. No que
diz respeito aos escravos, estes continham os seus próprios santuários, e era lá que estes
entregavam as suas oferendas27.

Antes de passar para a exploração das divindades religiosas do culto privado


romano, importa referir que a partir do imperador Augusto, ao mesmo tempo que ocorria
o culto doméstico, também ocorria o culto ao imperador, garantindo-lhe assim, lealdade
ao imperador28.

Divindades e espíritos do lar


Numa casa romana, eram cultuados principalmente os lares, os penates, os manes,
e o Genius, e a Vesta e é sobre estas divindades que me vou debruçar neste capítulo.
Podemos considerar que existia duas caraterísticas de deuses domésticos, onde podemos
identificar uma mais individual (restrita à família biológica), e outra coletiva, que era
centrada na casa dos escravos29.

25
Vide, JOHNSON, Paulo Donoso, op. Cit., p.16.
26
Vide, VEYNE, Paul, op. Cit., p.163.
27
Vide, RÜPKE, Jörg, op. Cit., p. 199.
28
Idem, ibidem, p. 199.
29
Vide, Cicero’s Minerva, Penates, and the Mother of the Lares: An Outline of Roman Domestic Religion,
https://www.academia.edu/2389328/Cicero_s_Minerva_Penates_and_the_Mother_of_the_Lares._An_
Outline_of_Roman_Domestic_Religion_-_2008, consultado em 03/02/2020, p.267.

8
Estas divindades estavam presentes em muitos dos acontecimentos da vida de um
cidadão romano, havendo uma oração às divindades em qualquer grande evento/momento
da família30. Outra caraterística deste tipo de divindades era serem tão importantes como
as divindades protetoras da cidade romana.

Lares
A divindade dos Lares era cultuado periodicamente, cerimonial e intimamente. A
origem deste culto remete-nos para os primórdios da história romana, mais precisamente
para o povo etrusco31, apesar de a sua natureza estar em torno de muito debate ainda.

Uma das teses defendidas relativas à sua origem é que estes tiveram origem nas
terras agrícolas e só posteriormente passaram para protetores das famílias romanas32.
Segundo o professor Fowler, esta passagem do campo para a cidade pode ter sido efetuada
através dos escravos, outros autores, como Samter´s colocam a hipótese destas divindades
terem tido origem no culto dos mortos33.

Esta divindade era percebida como protetor de toda a família, das casas romanas
e protetores dos campos. No entanto, a ideia de Lares está associada a casa como
comunidade e não como lugar34. Para além disto, os Lares também estavam associados à
sorte da casa; podem ser vistos como protetores de um determinado local, sem ser a casa;
ou como deuses das ruas, estradas, prédios ou até mesmo do ar; ainda foi considerado por
outros que também fosse a alma dos mortos35.

Portanto, podemos verificar que existia um grande número de significados para


esta divindade, e por isso, alguns autores dividem os Lares em dois tipos: os Lares
publibi, os Lares privati. Havendo ainda mais alguns tipos de Lares, os Lares curiales,
os Lares permarini (protegia os viajantes dos oceanos), e os Lares praestites, que eram
os guardiões do estado em geral36.

30
Vide, HUNT, Norman Bancroft, Living in…Ancient Rome, Nova Iorque, Thalamus Publishing, 2009, p.308.
31
Vide, JOHNSON, Paulo Donoso, op. Cit., p. 13.
32
Vide, HUNT, Norman Bancroft, op. Cit., p. 307.
33
Vide, ORR, David Gerald, op. Cit., pp. 5-7.
34
Vide, Cicero’s Minerva, Penates, and the Mother of the Lares: An Outline of Roman Domestic Religion,
op. Cit., pp. 264-265.
35
Vide, ORR, David Gerald, op. Cit., pp. 10-14.
36
Idem, Ibidem, p. 14.

9
Os romanos pensavam que os Lares estavam em volta da casa de forma constante,
a sua ronda afastava os demónios e certificava a prosperidade para toda a família que
protegiam37.

Na casa romana haviam representações desta divindade, estava representada em


estatuetas como jovens com as mãos repletas de frutos, vestidos com uma toga, calçados
e em posição de dança38 (exemplo de estatueta figura 1). Estas estatuetas mostravam a
homogeneidade desta divindade, em detrimento de qualquer individualidade39. Para além
disso os lares também estavam presentes na cunhagem em um denário de prata da
república romana40.

No que diz respeito ao culto a esta divindade, podemos dizer que não existia um
culto comum, havia sim uma total independência deste culto. No entanto, podemos
observar caraterísticas comuns entre eles41.

Os Lares eram adorados por toda a família, e eram adorados em todas as ocasiões
familiares, provavelmente as famílias oravam a eles todas as manhãs e antes da principal
refeição do dia. Todos os meses era oferecido aos Lares bolos de mel e de farinha, leite,
flores e vinho.

Para um sacrifício sangrento em honra dos Lares poderiam ser utilizados porcos,
ovelhas ou touros. Para a realização deste sacrifício devia-se utilizar um prato ou patera
(que devia ser feita de ouro ou de prata); um thuribulum onde o incenso permanecia para
perfumar o altar; um aspersor de crina de cavalo, ou em substituição um ramo de oliveira;
o utensílio é o saleiro, onde se preserva os objetos e que impede a corrupção; e um
praefiriculum para a libação no altar42.

Observando o culto a esta divindade, podemos verificar a existência de duas


etapas da evolução deste culto, um primeiro que vai até à reforma religiosa de Augusto,
onde os Lares eram reconhecidos como tendo um caráter familiar e rústico, como nas

37
Vide, GRIMAL, Pierre, A civilização romana, Lisboa, Edições 70, 2009, p.74.
38
Vide, JOHNSON, Paulo Donoso, op. Cit., p. 14.
39
Vide, BEARD, Mary, NORTH, Jonh et PRICE, Simon, Religions of Rome – A Sourcebook, vol. 2, Cambridge,
Cambridge University Press, 1998, 31.
40
Vide, ORR, David Gerald, op. Cit., p. 15.
41
Vide, JOHNSON, Paulo Donoso, op. Cit., p. 16.
42
Idem, Ibidem, p. 15.

10
suas origens. O segundo momento foi então a partir desta reforma, onde a divindade foi
convertida em Lares Augusti, e onde o culto ficou centrado na figura do imperador43.

Este culto aos Lares resistiu durante muito tempo, em muitas áreas resistiu até ao
fim do sistema religioso que faziam inicialmente parte.

Havia ainda um festival em Roma, em honra dos Lares, eram as Compitalia, onde
figuras de lã eram penduradas nas portas das casas romanas e nas estradas, estas figuras
de lã foram ao longo do tempo substitutas dos sacrifícios humanos44.

Fora de Roma, relativamente aos Lares, considero importante fazer mais duas
referências, a primeira é que podemos traçar laços de semelhança entre esta divindade e
os deuses gregos45, e a segunda é que no Egito, sob domínio romano também veneravam
os Lares, no entanto, a principal divindade protetora do lar era Bes, sendo Harpócrates e
Ísis as divindades de apoio doméstico46.

Penates
A origem destas divindades remonta, segundo a lenda dizia que Eneias os tinha
trazido para o centro do império, aquando da sua saída de Troia47. No entanto, parece que
a sua origem remonta, mais uma vez, para o povo etrusco.

Estas divindades tinham algumas semelhanças com os Lares, nomeadamente,


eram considerados divindades protetoras da casa, e também como os Lares estavam
representados em estátuas (Figura 2). O seu culto também era semelhante. Para além
destas semelhanças, a sua adoração também se poderia ligar à deusa Vesta.

Os Penates são espíritos que guardavam os suprimentos alimentares da família,


associados ao auxílio familiar e à preservação dos alimentos, e por esta razão, o sal
aparece nos rituais a esta divindade48 também eram os espíritos das dispensas, e
responsáveis pela abundância de alimentos.

43
Los Dioses Lares en la hispania Romana,
https://www.researchgate.net/publication/39437759_Los_dioses_lares_en_la_Hispania_romana,
consultado em 03/02/2020, p. 154.
44
Vide, OGLE, M. B., op. Cit., p. 263.
45
Idem, Ibidem, p. 262.
46
Vide, POTTER, David S., op.cit., p. 551.
47
Vide, RODRIGUES, Nuno Simões, Mitos e lendas da Roma Antiga, Lisboa, Clássica Editora, 2012, p.73.
48
Vide, JOHNSON, Paulo Donoso, op. Cit., p. 19.

11
Eram também associados às colheitas agrícolas, um bem muito importante para
muitos, visto que era o único sustento de vida para uma grande parte da sociedade
romana49. E é por isto que uma das oferendas aos Penates eram colheitas agrícolas.

Para além dos cultos em sua honra existia também um festival em sua honra, que
acontecia no dia 14 de outubro50.

O último apontamento relativamente ao Penates vai ser relativo a como era em


Pompeia, a sua presença era um pouco diferente, pois existia algumas diferenças na sua
adoração doméstica, estes representavam várias divindades, e tal como os Lares
caminharam para o antropomorfismo51.

Manes
A palavra “Mane” significa os bons, os Manes eram adorados coletivamente.
Começaram por ser designados por di manes (os mortos divinos), e posteriormente por di
parentes (os mortos da família). Cada romano tinha um espírito individual que era esta
divindade52.

Os Manes são espíritos dos mortos que andavam a vaguear pela casa,
aterrorizando a tranquilidade da vida dentro da habitação. E por isto eram temidos pelos
romanos53. Estes eram representados através de bustos ancestrais.

Estas divindades eram honradas nos lararium da casa de um romano, através de


oferendas e de lâmpadas colocadas nas tumbas das calendas, nos idos e nas nonas de cada
mês54.

Para além destes dias, havia outros momentos dedicados aos Manes, um desses
momentos eram os dies natalis, que eram dias onde a família romana celebrava
juntamente com os seus mortos, através de festins sobre o túmulo55.

Havia ainda as lemúrias que eram festivais onde se evocavam os Manes. No início
destas festas eram chamadas de Remúria e, segundo Ovídio, eram festas em honra não só

49
Idem, Ibidem, p. 20.
50
Vide, HUNT, Norman Bancroft, op. Cit., p. 308.
51
Vide, ORR, David Gerald, op. Cit., p. 24.
52
Vide, HUNT, Norman Bancroft, op. Cit., p. 308.
53
Vide, JOHNSON, Paulo Donoso, op. Cit., pp. 20-21.
54
Vide, BUSTAMANTE, Regina Maria da Cunha, op. Cit., p. 113.
55
Idem, Ibidem, p. 113.

12
dos Manes, mas também de Remo. Estas celebravam-se sete dias antes dos idos de março,
e eram oferecidos mel, flores, leite ou vinho56.

Nos dias das festas em honra destas divindades, o paterfamilias saÍa e casa e
lançava aos espíritos maus um punhado de favas cozidas57. Os Manes eram então
celebrados nas Parentalia, nas Feralia (ocorria no dia 21 de fevereiro, e faziam visitas às
sepulcros, pão embebido em vinho, oferendas de sal e flores), nas Lemuria, e no aniversário
do morto

Lemuria
Os lemures eram fantasmas dos mortos, estes eram diferentes dos Manes, isto
porque, após a morte de um homem romano, pensava-se que havia espíritos que passavam
a ser espíritos errantes e vingativos, porque os mortos foram condenados a eternidade a
vaguear pelo mundo, atormentando os vivos58.

Um homem romano quando morria tornava-se lémure porque algo perturbou a


passagem pacífica para o mundo dos mortos, para isto acontecer bastava o defunto não
ter tido um funeral, ou uma morte violenta. No que diz respeito aos assassinados, os
romanos acreditavam que estes perseguiam os assassinos59. Mais casos de lemures eram
mortes prematuras, crianças ou mesmo grávidas.

Os romanos consideravam necessário apaziguar estes espíritos, devendo expulsá-


los pela sua periculosidade com os vivos, para ajudar a este apaziguamento existiam
festivais, cultos em sua honra, um desses exemplos são as Lemuria, já aqui falas, e que o
corriam nos dias 9, 11 e 13 de maio, servia para purificar a casa dos lemures. Este festival
apesar de ser culto doméstico, interessava a toda a comunidade, para assim afastar estes
lemures60.

Nas Lemurias, o ritual consistia no paterfamilias estar descalço e estalando os


dedos pela casa; devia haver uma lavagem das mãos em água de nascente; deviam ser
lançadas favas para trás das costas e nove esconjuros; depois uma lavagem ritual das

56
Vide, RODRIGUES, Nuno Simões, op. Cit., pp. 117-121.
57
Vide, GRIMAL, Pierre, op. Cit., p. 74.
58
Vide, CASTRO, Rúben de, Omina mortis ivliorvm clavdiorvm - Expressão da mentalidade religiosa-
cultural e da memória coletiva romana, dissertação de mestrado em história, especialidade em história
antiga, apresentada na faculdade de letras da Universidade de Lisboa, 2017, p.26.
59
Idem, Ibidem, p.26.
60
Vide, BUSTAMANTE, Regina Maria da Cunha, pp. 114-121.

13
mãos; um bater em objetos de bronze; e por fim um pedido feito nove vezes para os
lemures abandonarem a habitação familiar.

Tal como os lemuria, os manes são espíritos romanos mortos, este tema da morte
é complexo, e por isso irei desenvolver melhor posteriormente no subtítulo da morte.

Genius
Esta divindade é exclusiva ao homem e à casa do homem (pois a casa também
tinha o seu genius), é uma divindade protetora que nasce e morre junto ao homem. A sua
origem remonta-nos para a Itália pré-histórica e nunca foi uma divindade totalmente
desenvolvida61.

O poder mais importante do Genius era a fertilidade, logo a sua personificação


permitia que o nome da família continuasse de geração em geração, este também era o
símbolo do esperma masculino62. Esta divindade tinha duas formas, uma que definia os
gostos e a personalidade do homem romano, e outra que protegia o homem.

Era celebrado no aniversário do paterfamilias, onde toda a família tinha de


participar, havendo sacrifícios de sangue nesta ocasião, para além disto recebia oferendas
no altar da casa romana. O Genius era representado através de uma cobra doméstica63.

O Genius ao longo do tempo passou o seu poder a estender-se para grupos de


pessoas, e até mesmo lugares tinham o seu próprio Genio.

Se o homem romano era protegido pelo Genio, a mulher romana tinha Juno (ou
Iunu) para a proteger, a origem destas duas divindades parecem remeter para o mesmo
sítio.

Vesta
Esta era a deusa do lar, e estava intimamente ligada ao lar da família 64. Uma das
caraterísticas desta divindade é que esta era eterna, renascendo continuamente65. Outro
aspeto é que esta era por vezes ligada ao fogo da lareira da casa romana.

61
Vide, ORR, David Gerald, op. Cit., p.25
62
Idem, Ibidem, pp. 25-27.
63
Vide, ADKINS, Roy A. et ADKINS, Lesley, Handbook to life in ancient Rome, USA, Facts on File, 2004, p.
307.
64
Vide, GRANT, Michael, O mundo de Roma, Lisboa, Arcádia, 1967, p. 186.
65
Vide, BLOCH, Raymond, Roma e o seu destino, Lisboa, Cosmos, 1964, p.180.

14
No entanto, pouco se sabe sobre o seu papel na religião do interior de uma casa
romana e com a sociedade agrícola. Evidência disto é a pouca referência na literatura
latina da ligação desta divindade ao culto religioso doméstico66.

Esta deusa pode ser vista como pertencente ao grupo dos Penates, pois estes
tinham morada no templo de Vesta o autor latino Ovídio referiu esta deusa em conjunto
com os Lares e os Penates, dizendo que estes tinham uma conexão íntima67.

Sacerdotisas de Vesta
Outro ponto que acho importante falar sobre esta divindade é como é que as
sacerdotisas desta divindade se podem relacionar ao culto doméstico, mas antes de
esclarecer este ponto considero importar fazer uma contextualização de quem eram estas
e o que faziam.

As sacerdotisas eram seis, e eram escolhidas entre os seis e os dez anos de idade,
pelo pontifex maximus, depois disto tinham trinta anos de compromisso (dez de
preparação, dez de prática, e por fim dez de instrução aos iniciantes), depois destes anos
podiam terminar as suas funções e casar com um homem romano, no entanto muitas
optavam por ficar68.

Para uma menina romana poder ser escolhida para este cargo, esta tinha de ter
ambos os pais vivos, e nenhum podia ter profissões consideradas infamantes; tinha de
residir em Itália; seguir a castidade, a virgindade e a abstinência sexual69.

A principal função destas sacerdotisas era manter o fogo da lareira pública aceso
no santuário em honra de Vesta. Se não cumprissem com as suas funções ou infringissem
alguma regra tinham castigos muito pesados, que podiam passar por castigos corporais
(caso o fogo se apagasse), ou mesmo pela pena de morto (caso infringissem o voto de
castidade)70.

66
Vide, ORR, David Gerald, op. Cit., pp. 16-17.
67
Idem, Ibidem, pp. 17-18.
68
Vide, GOUREVICH, Danielle et RAEPSAER-CHARLIER, Marie-Thérèse, A vida quotidiana da mulher na
Roma Antiga, Lisboa, Editora Livros do Brasil, 2005, p.184.
69
Idem, Ibidem, p. 185.
70
Idem, Ibidem, p. 187.

15
Para além destes castigos, estas tinham algumas vantagens, nomeadamente a
possibilidade de fazerem o seu próprio testamento; conduzir os seus negócios; e poderem
testemunhar, entre outros71.

Posto esta breve introdução de quem eram estas sacerdotisas, importa relacioná-
las com o tema central deste trabalho. Estas tinham alguns ritos de tipo doméstico, como
a limpeza do santuário72. Alguns sacríficos do festival de Matronalia (ocorrido nas
calendas de março) podiam ser realizados ou no templo de Juno Lacina ou no interior das
casas da aristocracia, nestes rituais, os maridos oravam pela saúde das mulheres e pela
harmonia entre o casal, depois as matronas serviam um banquete aos escravos73.

Em suma, podemos ligar as sacerdotisas ao culto doméstico, pois estas mantinham


o fogo ligado, fazendo assim um alargamento simbólico dos rituais de proteção das
mulheres, dando a possibilidade do culto doméstico elevar-se ao plano cósmico74.

As etapas da vida de um cidadão e a religião familiar


O penúltimo ponto deste trabalho vai incidir-se como a religião familiar, estava
presente nas diversas etapas da vida de um cidadão romano, para demonstrar isto irei
analisar o nascimento, o casamento e a morte.

Importa referir que não me vou incidir em todos os rituais preparativos, mas sim
sobretudo sobre os pontos que dão para demonstrar como a religião familiar estava
patente nestas etapas.

Nascimento
O nascimento de um cidadão romano acontecia geralmente em casa, num quarto
que era preparado para o efeito, ou no quarto onde a mãe dorme. O parto compete à
parteira e às suas ajudantes, as ministrae75.

Este era um acontecimento de alto risco, tanto para a mulher como para o filho,
esta foi sempre a principal causa de morte nas romanas, esta é uma das razões para a
religião estar bem presente neste acontecimento76.

71
Idem, Ibidem, p. 189.
72
Idem, Ibidem, p. 188.
73
Vide, Religião, Gênero e Sociedade: Ordem romana, ordem sagrada, op. Cit., p. 129.
74
Vide, POTTER, David S., op. Cit., p. 551.
75
Vide, GOUREVICH, Danielle et RAEPSAER-CHARLIER, op. Cit., p.119.
76
Vide, BEARD, Mary, SPQR – Uma história da Roma Antiga, São Paulo, Planeta, 2017, p. 314.

16
Depois do nascimento da criança o paterfamilias tem o poder de decidir se
aceitava ou não a criança se não aceitasse a criança era exposta estas raramente
conseguiam sobreviver77. Quando tudo corria bem agradecia-se a Diana ou a Juno.

As divindades associadas a este momento são: Leuana (era quem presidia ao ato
de filium tollere), Vaticanus (presidia os primeiros choros); Rumina (proporcionava bom
leite); Potina (responsável pela bebida); Edusa (responsável pela comida); Cunina
(protetora do berço); Carna (responsável pelo desenvolvimento dos músculos);
Fabulinus (responsável pelas primeiras palvras); e Ossipagina (responsável pelo
rompimento dos dentes).

Casamento
Em Roma, um casamento era sobretudo um contrato e a cerimónia não tinha papel
de primeiro plano, no entanto, a questão religiosa está muito presente. O principal motivo
para este ato era a descendência78.

A religiosidade desta cerimónia começa com a escolha do dia do casamento, este


tinha de ser um dia religioso, um dia fasto, e preferivelmente devia acontecer na segunda
metade do mês de junho.

No dia anterior à cerimónia, a futura mulher casada consagrava o seu vestido de


noiva à Fortuna Virginalis, posteriormente a isto, a futura noiva oferece aos Lares os seus
brinquedos na casa do seu paterfamilias79.

Na manhã do casamento, faziam-se a execução de auspícios, para existir uma


autorização divina para a cerimónia, depois existe um sacrifício nupcial. Os deuses
honrados nesta fase são incerto, coloca-se a possibilidade de Juno, Telure, e Ceres. O
bolo do casamento era compartilhado entre os noivos com a numima, para assim
prometerem fertilidade um ao outro.

Na noite após a cerimónia eram realizados rituais para levar a noiva até à sua nova
casa, a do noivo, a esposa oferece três ases, um ao marido, o segundo coloca na casa para
assegurar a proteção do lar familiaris, e o terceiro coloca na mesa dos sacrifícios80.

77
Vide, VEYNE, Paul, op. Cit., pp. 16-17.
78
Vide, BEARD, Mary, op. Cit., pp. 304-305.
79
Vide, GOUREVICH, Danielle et RAEPSAER-CHARLIER, op. Cit., p.89.
80
Idem, Ibidem, p. 90.

17
Depois haveria novos rituais para atrair os deuses do lar, para isso ornava-se a
entrada da porta com tirinhas de lã e flores, oleando o alizar. No entanto, antes de entrar
na sua nova casa havia muito cuidado para não haver um grande acidente religioso. Para
isto não acontecer, os amigos do marido pegavam ao colo a noiva e passavam-na para o
lado de lá da porta, para assim não tropeçar na porta de casa, o que era visto como um
mau presságio81.

O facto de os romanos pensarem que a noiva tropeçar na porta de casa ser um mau
presságio, pode ser explicado pelo facto de estes acreditarem que existiam espíritos
malignos ao pé da porta da casa, prova disto é o facto de existir evidências de substâncias
que se acreditavam que protegiam a casa destes espíritos. A somar isto, o limiar com a
vizinhança era o lugar escolhido para se fazer rituais específicos com os espíritos dos
mortos82.

Morte
Este trabalho já se debruçou sobre os espíritos da morte, que eram os Manes (os
espíritos “bons”) e os Lemuria (os espíritos “maus”), e ficou aí provada a existência de
uma estrita relação entre a morte e a religião doméstica, no entanto, podemos traçar mais
traços de ligação.

Os mortos eram depositados fora da cidade83, pois tudo o que envolvia a morte
era considerado poluente e por isso, havia alguns rituais com o morto e com quem
contactava com ele.

A morte era por muitos considerada uma categoria intermédia entre os Homens e
os deuses, visto que também recebiam cultos e oferendas, mas não como indivíduos mas
sim como um grupo generalizado. Os mortos eram considerados uma coletividade divina,
e as suas almas eram consideradas perigosas84.

O culto dos mortos era muito importante para a religião doméstica, e apesar de
não existir evidências de enterramentos dentro de casa, ocasionalmente, as crianças que

81
Vide, GRIMAL, Pierre, op. Cit., p. 92.
82
Vide, OGLE, M. B., op. Cit., p.254.
83
Vide, FUNARI, Pedro Paulo, Grécia e Roma – Vida pública e vida privada, cultura, pensamento e
mitologia, amor e sexualidade, São Paulo, Editora Contexto, 2002, p. 70.
84
Vide, BUSTAMANTE, Regina Maria da Cunha, op. Cit., p. 113.

18
morriam até aos quarenta dias de vido o seu corpo ficava em casa. Para além disto, o culto
doméstico incluía um cuidado e uma inovação dos mortos ancestrais85.

A somar a isto, importa ainda dizer que o culto dos mortos tinha um duplo
propósito, nomeadamente, os mortos sobreviverem na memória da sua família; e
assegurar o conforto, alimentação e renovação permanente para a vida dos seus espíritos
falecidos86.

Portanto, a morte era para os romanos um aspeto muito complexo, e muito


presente nos rituais e no pensamento romano, e é por isso que era muito importante para
um romano ter um funeral digno, para assim não ir para o grupo dos Lemuria, e poder ser
um espírito “bom”.

Religião no campo
Também no campo a religião estava bem presente, onde também eram veneradas
divindades para uma boa vida, e para haver boas colheitas.

Nas propriedades rurais, havia cerimónias rituais que incluíam mesmo os


escravos, e acreditava-se que a propriedade dependia da execução de grandes rituais e da
conservação dos templos87.

Os rituais incluíam a purificação dos campos e preces para a proteção e fertilidade


das colheitas e também dos rebanhos. Para além disto, os grandes proprietários
sacrificavam às divindades o dízimo da terra. Portanto, a oferta aos deuses eram baseadas
em produtos da terra88.

No que diz respeito ao ancestral, este era um camponês que vivia numa pequena
fazenda, trabalhavam muito e viviam com a sua família. Este estava encarregue de manter
o equilíbrio entre o mundo dos homens e o mundo divino89.

Por fim, dizer que as principais divindades cultuadas na religião do campo eram
Ceres, Priapus e Lares.

85
Vide, OGLE, M. B., op. Cit., p. 266.
86
Vide, BUSTAMANTE, Regina Maria da Cunha, op. Cit., p. 114.
87
Vide, GRANT, Michael, op. Cit., p. 190.
88
Vide, KATAJALA-PELTOMAA, Sari et VUOLANTO, Ville, op. Cit., p. 45.
89
Idem, Ibidem, p. 45.

19
Conclusão
Finalmente, dizer que este culto doméstico que procurei demonstrar ao longo deste
trabalho, sofreu um forte revés quando o imperador do império romano Teodósio proibiu
a veneração aos Lares e aos Penates90.

Em suma, podemos concluir, que a religião doméstica romana era bastante


complexa. Esta também estava bastante presente na vida de um romano, e era bastante
importante para ele, fosse qual fosse o seu estatuto social ou posses económicas.

90
Vide, Los Dioses Lares en la hispania Romana, op. Cit., p.154.

20
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24
Anexos iconográficos

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Figura 2 – Estatueta de bronze de um Penate.

25

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