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Dentre as estratégias para se conhecer a função de um determinado gene estão os

experimentos de perda-de-função. Esta abordagem consiste em impedir que o gene


estudado gere a proteína por ele codificada com o propósito de analisar as
consequências ou o fenótipo decorrente desta inibição em organismo inteiro ou em
células cultivadas. Visto que as abordagens de perda de função procedem do genótipo
ao fenótipo, esta estratégia poderosa é chamada de “genética reversa”. A técnica mais
amplamente usada atualmente para estudos de genética reversa é a de knock-out de
genes específicos. Embora eficaz e poderoso, trata-se de um método laborioso, demanda
custos elevados e requer infraestrutura especializada no que diz respeito à produção e à
manutenção dos organismos, não podendo ser realizado em qualquer laboratório.
(BARBOSA; LIN, 2004)

Alternativamente ao knock-out de genes em experimentos de genética reversa,


podem ser adotadas estratégias que impeçam a tradução do RNA mensageiro (mRNA).
Tomar como alvo mRNAs parece ser teoricamente mais vantajoso em relação à
inativação de genes. Em primeiro lugar, os mRNAs são mais acessíveis à inativação do
que os genes. Um dos métodos baseados em mRNA para silenciamento de genes é a
utilização de agentes antisense. Agente antisense são ferramentas importantes para a
inibição e silenciamento de um gene alvo, dentre as estratégias com agentes antisense
vem se destacando o mecanismo RNA de interferência (RNAi) induzidos por siRNA.
(BARBOSA; LIN, 2004) (KURRECK, 2003)

RNAi é um mecanismo antigo presente na maioria das células eucarióticas, este


é responsável pela regulação da expressão gênica através da degradação do mRNA ou
repressão da tradução do mesmo, dependendo da interação siRNA - mRNA. RNAi é
ativado através da presença de moléculas de RNA com duas fitas, dsRNA, no
citoplasma das células. Uma vez dentro das células, os dsRNAs são processados pela
enzima ribonuclease III Dicer em 21 a 23 nucleotídeos de fitas de RNA (siRNA) “leaves
two-nucleotide,3¢ overhanging ends”. Subsequentemente uma proteína da família
Argonaute, que é uma componente catalítica no mecanismo, é incorporado ao siRNA
recém processado, induzindo a formação do complexo “RNA-induced silecing
complex” (RISC), onde uma das fitas de siRNA é descartada. (ZOTTI et al., 2018)
(O’KEEFE, 2021) (KURRECK, 2003)
O processo cujo qual o RISC encontra o mRNA alvo ainda é desconhecido,
entretanto é descrito por LEUSCHNER et al que o mecanismo que afeta o mRNA é a
clivagem, através da formação de um complexo entre mRNA – RISC, além disso o
siRNA associado ao RISC provém a especificidade e guia para a atividade de
degradação do mRNA alvo. Na figura 1 abaixo é visto o mecanismo RNAi, nota-se que
sua via pode ser iniciada através do dsRNA, entretanto estudos recentes mostram que a
transfecção do siRNA, processo de introdução de ácidos nucleicos nas células, pula
etapas do processo, indo direto para a formação do complexo RISC. (LEUSCHNER et
al., 2006) (O’KEEFE, 2021) (PREALL; SONTHEIMER, 2005)

Figura 1- Mecanismo do RNAi iniciados pelo dsRNA ou siRNA.

Adaptado de: (NAKATSURA, 2011)


BARBOSA, A. S.; LIN, C. J. Silenciamento de genes com RNA interferência: um novo
instrumento para investigação da fisiologia e fisiopatologia do córtex adrenal. Arquivos
Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, v. 48, n. 5, p. 612–619, out. 2004.

KURRECK, J. Antisense technologies. Improvement through novel chemical


modifications. European Journal of Biochemistry, v. 270, n. 8, p. 1628–1644, abr.
2003.

ZOTTI, M. et al. RNA interference technology in crop protection against arthropod


pests, pathogens and nematodes. Pest Management Science, v. 74, n. 6, p. 1239–1250,
16 jan. 2018.

O’KEEFE, E. P. siRNAs and shRNAs: Tools for Protein Knockdown by Gene


Silencing. Materials and Methods, v. 3, 5 mar. 2021.

LEUSCHNER, P. J. F. et al. Cleavage of the siRNA passenger strand during RISC


assembly in human cells. EMBO reports, v. 7, n. 3, p. 314–320, 20 jan. 2006.

PREALL, J. B.; SONTHEIMER, E. J. RNAi: RISC Gets Loaded. Cell, v. 123, n. 4, p.


543–545, nov. 2005.

NAKATSURA, T. SiRNA. Encyclopedia of Cancer, p. 3413–3416, 2011.

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