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ESTUDO DO MÉTODO DE MEDIÇÃO DA


RESISTÊNCIA INTERNA PARA A AVALIAÇÃO DE
BATERIAS DE CHUMBO-ÁCIDO

José Caldas¹, Felipe Azevedo²


¹UFMG/Biomedicina/jclcal@yahoo.com.br
²UFMG/CiênciasContábeis/lipaynis@gmail.com

RESUMO: Baterias de chumbo-ácido são elementos essenciais para a operação confiável de


sistemas críticos no caso de falhas no fornecimento de energia elétrica, e para que
apresentem a disponibilidade projetada, é preciso verificar a capacidade real das baterias. O
teste de descarga, que é o padrão ouro para a avaliação das baterias, é demorado,
dispendioso e arriscado, o que gerou uma busca por métodos alternativos de verificação. Uma
das soluções encontradas, a determinação da resistência interna da bateria, já utilizada por
algumas organizações na manutenção preventiva de sistemas de energia, é o objeto de nosso
estudo.
PALAVRAS-CHAVE: Baterias de Chumbo-ácido Estacionárias e VRLA; Resistência Interna;
Teste de Descarga.

1. INTRODUÇÃO

Baterias de chumbo-ácido são elementos essenciais em sistemas de energia para


telecomunicações e centros de processamento de dados, para garantir o funcionamento dos
equipamentos críticos no caso de falha no fornecimento de energia elétrica. Nessa situação,
os bancos de baterias assumem o fornecimento de energia, cuja duração irá depender da
capacidade das baterias medida em Ampére-hora (Ah) e do seu estado. O estado das baterias
é função, principalmente, do tempo de uso, número de descargas a que foram submetidas, e
pela temperatura de operação. Portanto, é de primordial importância avaliar periodicamente o
estado da bateria, visando avaliar o desgaste a que foi submetida e a sua vida útil
remanescente.
O método comumente utilizado para se obter esses dados, é o de efetuar o teste de
descarga, no qual, o banco é desligado do sistema de energia e conectado a uma carga
resistiva que provocará o descarregamento do banco por meio de uma corrente constante. O
tempo de descarga até que o banco atinja a tensão mínima permitida é medido e comparado
com o tempo padronizado para baterias novas.
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Apesar de indicar com boa exatidão a capacidade real das baterias, segundo Rosolem
et al. (2003) este procedimento tem pontos negativos, como, a demora na execução de pelo
menos quatro horas por banco, a redução na confiabilidade do sistema de energia durante o
teste e recarga das baterias, necessitar o uso de carga resistiva de grandes dimensões e
provocar a degradação do banco a cada teste realizado, o que faz com que seja executado
apenas anualmente.
O objetivo desse estudo é o de apresentar um novo método de avaliação de bancos
de baterias, que é de rápida execução, menos de um minuto por bateria, que não necessita
que sejam desligadas do sistema e não reduz a vida útil das mesmas. A avaliação é efetuada
pela medição da resistência interna das baterias.
Para obtermos o objetivo a que nos propomos, efetuamos medições de resistência em
baterias novas e usadas e as comparamos com os respectivos testes de descarga.

2. METODOLOGIA DOS TESTES

Os testes de avaliação foram efetuados no setor de engenharia da CEMIGTelecom, e


para a execução, utilizamos do estoque algumas baterias entre novas e usadas, montando
bancos de baterias compostos por quatro baterias ligadas em série, formando bancos de
baterias de 48V, que constituem o padrão utilizado nas estações de Telecomunicações.
Montamos um banco de baterias com baterias de capacidade de 100 Ah, sendo três
novas e uma usada em bom estado e um banco de baterias com capacidade de 9 Ah,
composto por três baterias novas e uma usada.
Os bancos de baterias foram carregados por tensão constante de 55,2 V por 18 horas
e posteriormente descarregados sob uma corrente constante de valor igual a 20% da
capacidade, isto é, 20 A para o banco de 100 Ah e 1,8 A para os bancos de 9 Ah.
Em baterias em perfeito estado e totalmente carregadas, o tempo de descarga até o
esgotamento das baterias, que é determinado pela tensão de corte de 10,5V, será de quatro
horas, conforme o Gráfico 1.
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Gráfico 1 – Curvas de descarga de baterias VRLA

Fonte: Manual técnico de baterias UNIPOWER-UNICOBA

O levantamento dos dados foi efetuado por meio da medição da resistência interna de
cada bateria ao final do processo de carga, e pela medição da tensão nos terminais de cada
bateria, no início do processo de descarga, e a cada meia hora, até o total de quatro horas.
Na Tabela 1, são informados os valores que correlacionam a resistência interna e o
estado bateria. Nesta tabela, é informado o valor típico de resistência interna da bateria, na
qual a sua capacidade original está preservada. O valor do Limite 1 indica um alerta de que a
bateria já perdeu um pouco de sua capacidade, mas ainda poderá continuar em uso, enquanto
que o Limite 2 indica que a bateria deve ser substituída.

Tabela 1 – Valores de resistência interna de baterias chumbo-ácido

Bateria de Resistência Limite 1 Limite 2


12V (Ah) interna(mΩ) (mΩ) (mΩ)
9 20 30 40
100 4,5 6,75 9
Fonte: Engetron

3. MATERIAIS E EQUIPAMENTOS UTILIZADOS

3.1. Dois bancos de baterias conforme a Tabela 2


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Tabela 2 – Bancos de baterias


Banco 1 Banco 2
Designação Estado Tipo Designação Estado Tipo
Estacionária VRLA
A nova E nova
12V/100Ah 12V/9Ah
VRLA VRLA
B nova F nova
12V/100Ah 12V/9Ah
VRLA VRLA
C nova G nova
12V/100Ah 12V/9Ah
VRLA VRLA
D usada H usada
12V/100Ah 12V/9Ah
Bateria estacionária: bateria chumbo-ácido com eletrólito líquido e livre de manutenção;
Bateria VRLA: bateria chumbo-ácido de eletrólito imobilizado e com válvula reguladora para o escape
de gases.

3.2. Carregador de baterias Proteco de 48V/5 A;


3.3. Carga resistiva ajustável Pointer Telecom, com capacidade para 50V/50 A;
3.4. Multímetro digital Minipa ET2042C;
3.5. Medidor de resistência interna de baterias Battery Analyzer BA100 conforme a Figura 2.
Os bancos de baterias e os equipamentos foram montados conforme a Figura 1.
Figura 1 – Bancada equipada para os ensaios

Figura 2 – Medição da resistência interna de uma bateria de 12V/100Ah


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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A resistência interna das baterias foi medida ao final do ciclo de carga, quando ainda
estavam energizadas pelo carregador. Os valores obtidos estão informados na Tabela 3.
Um em sequência ao outro, os bancos de baterias foram conectados à carga resistiva
e descarregados em regime de corrente constante por um período de quatro horas. As curvas
de descarga estão apresentadas no Gráfico 2 para as baterias de 100 Ah e no Gráfico 3 para
as de 9 Ah.
Comparando os valores de resistência interna com as curvas de descarga, verifica-se
que em ambos os bancos de baterias, aquelas que apresentaram resistência interna com
valor próximo ao recomendado conforme a Tabela 1, comprovaram possuir 100% da
capacidade, por suportarem a descarga em quatro horas com tensão igual ou superior a
10,5V. No entanto, as baterias D e H, que apresentaram, respectivamente, resistências 27%
e 30% maiores que o valor recomendado, não suportaram o regime de descarga em quatro
horas.
Estes resultados mostram ser possível utilizar a medida da resistência interna como
um indicador da saúde da bateria.

Tabela 3 – Valores da resistência interna


Banco 1 Banco 2

Resistência Resistência
Designação Estado Tipo Designação Estado Tipo
interna(mΩ) interna(mΩ)

Estacionária VRLA
A nova 3,0 E nova 18,3
12V/100Ah 12V/9Ah
VRLA VRLA
B nova 3,9 F nova 19,1
12V/100Ah 12V/9Ah
VRLA VRLA
C nova 3,9 G nova 19,1
12V/100Ah 12V/9Ah

VRLA VRLA
D usada 5,7 H usada 26,1
12V/100Ah 12V/9Ah

Gráfico 2 – Curvas de descarga das baterias do banco de 48V/100Ah


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Tensão nos bornes da

12,5
12
bateria (V)

Bat. A
11,5
Bat. B
11
10,5 Bat. C

10 Bat. D
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4
Tempo de Descarga (h)
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Gráfico 3 – Curva de descarga das baterias do banco de 48V/9Ah


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Tensão nos bornes da


12,5
12

bateria (V)
11,5 Bat. E
11
10,5 Bat. F
10 Bat. G
9,5
9 Bat. H
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4
Tempo de Descarga (h)

5. CONCLUSÃO

A avaliação do estado das baterias de chumbo-ácido pelo valor da resistência interna


mostrou-se relevante, pois foi possível confirmar a correlação entre a resistência interna na
faixa de valores informada pelos fabricantes e o estado da bateria. Há que ressalvar, no
entanto, que o resultado que se obtém por meio dessas medições produz uma informação de
cunho qualitativo, informando se a bateria está em bom estado, em estado de atenção ou se
precisará ser substituída. Para a obtenção da real capacidade da bateria, é preciso efetuar o
teste de descarga.
Como o custo das baterias, notadamente o modelo VLRA, é elevado, a confirmação
da capacidade real das baterias é desejável para a redução de gastos com a substituição de
baterias ainda viáveis. Levando esse fato em conta, recomendamos o uso complementar dos
dois métodos, por meio da triagem das baterias pela medição da resistência, e do teste de
descarga nas baterias que estejam no estado de atenção, de maneira que possam ser
utilizadas no restante de sua vida útil.

6. REFERÊNCIAS

ENGETRON. Tabela de Comparadores de Baterias Chumbo Ácido VRLA e Estacionárias.


Fornecida pelo Suporte Técnico da Engetron, Contagem, MG.
REIS CARDOSO, P. Estudo de Correlação de Parâmetros Elétricos Terminais com
Características de Desempenho em Baterias. 2005. 66f. Dissertação de Mestrado –
UNICAMP, Campinas, 2005.

ROSOLEM, M. F. N. C. et al. Metodologias Alternativas para Avaliação de


Baterias: Uma Experiência na LIGHT. ANAIS DO II CITENEL, p. 44-47, 2003.

UNICOBA. Manual Técnico de Baterias UNIPOWER. Departamento Técnico da Unicoba -


rev.050920, São Paulo, SP.

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