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Vida longa aos Stones

Agamenon Magalhães Júnior Ensaísta, gramático e educador

A longevidade dos Rolling Stones é surpreendente. Contemporâneos dos Beatles,


começaram a carreira tocando roques crus à Chuck Berry. Em abril de 1964, lançam o
primeiro álbum, uma obra cheia de regravações dos mestres do rhythm'n'blues. A única
composição da dupla Jagger-Richards naquele trabalho é “Tell Me (You’re Coming Back)”,
uma balada bonita, mas que demonstrava até aquele momento a insegurança dos roqueiros
no processo de composição. Estavam dando os primeiros passos no mercado fonográfico e
ainda tinham muito a aprender. Eles sabiam disso, a ponto de pedirem ajuda a dois amigos já
firmados no mercado musical, John Lennon e Paul McCartney. Os compositores dos Beatles
deram “I Wanna Be Your Man” aos Stones. A música chegou com eles ao 12º lugar nas
paradas britânicas. Mas eles queriam mais, queriam fazer história na música.
Foi com o lançamento da música “(I Can’t Get No) Satisfaction”, em junho de 1965,
que os garotos maus do roque conquistaram o mundo; com o estilo visual “sujo” (que ia de
encontro à suavidade dos Beatles) e com uma sonoridade cadenciada instigante, os Stones
começaram a dar as cartas no cenário musical – tornaram-se protagonistas do movimento
artístico junto com Beatles e The Who.
Daí por diante, os Stones pintaram e bordaram, deram vazão à criatividade por meio
de canções às quais até hoje a juventude faz reverência. Das simples (mas incrivelmente
belas) canções “Out Of Time” e “Under My Thumb”, passando pelas sofisticadas “Ruby
Tuesday” ou “She’s A Rainbow” (em que o belíssimo arranjo de cordas foi feito pelo então
baixista de estúdio John Paul Jones, do Led Zeppelin) – os Stones criaram e recriaram
elementos para o roque, experimentaram instrumentos, incorporaram linguagens distintas
numa batida única e incomparável.
Daquela pegada seca do começo de carreira, eles seguiram se transformando,
evoluindo como músicos atentos às mudanças dos tempos. A prova disso é o álbum Tattoo
You, de 1981. Os acordes de “Start Me Up” e a sutileza de “Tops” são a prova de que as pedras
ainda rolavam sem nenhum vestígio de limo. Quando a crítica achou que os Stones já tinham
gastado toda a munição e viveriam das glórias do passado, os velhinhos lançam Steel Wheels.
Discaço. Começa com a dançante “Sad Sad Sad”, segue com “Mixed Emotions” (em que sua
base é apoiada num vibrante naipe de metais). Destaco o andamento da faixa “Rock And A
Hard Place”. E, num estilo vocal que lembra um Bob Dylan com tom mais harmonioso, Keith
Richards arrasa em “Can’t Be Seen”. Esse álbum fez com que os Stones lotassem estádios por
todos os continentes – apresentações impecáveis devidamente registradas no álbum
Flashpoint, para mim o mais moderno e expressivo disco ao vivo da banda.
Depois de tantas décadas, o rock’n’roll ainda pulsa nas veias dos Stones. Nem as rugas
do rosto, nem os cabelos brancos afastaram esses roqueiros da boa música.

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