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Batismo literário

Agamenon Magalhães Júnior Ensaísta, gramático e educador

Vou lançar meu primeiro livro agora em 2020. Mais do que uma aventura literária, é
na verdade a realização de um projeto de vida sobre o qual me debruço desde jovem. E por
que lançá-lo só agora, depois de tanto tempo passeando pelo mundo das palavras? A resposta
é óbvia: o momento chegou. Simples assim.
Na minha juventude, quando eu escrevia ensaios para grandes jornais e já tinha o
incentivo de literatos para a produção do primeiro livro, achava-me imaturo. Realmente, a
imaturidade teria atrapalhado meu batismo nesse campo. E, de certa forma, gostaria de fazer
um trabalho relevante. Sempre trago à mente um comentário do multifacetado artista Jô
Soares, ao ser questionado por um repórter por que demorou tanto tempo para lançar seu
primeiro romance. O humorista lhe respondeu: “Respeito ao livro”. Sei o que ele quis dizer: a
veneração àquele objeto era tanto que Jô não se sentia digno de produzir o primeiro livro.
Logo ele, a personificação da competência. Esse sentimento eu carreguei por toda a vida,
desde quando, ainda criança, ficava observando meu pai passar horas e horas imerso no
universo da literatura, rodeado por centenas de livros. Minha paixão pela palavra nasceu
naquela época.
Nessa primeira obra, terei a companhia do professor Marcos Damasceno. Iremos
dividir a publicação com contos alternados à “Palmeiras Selvagens”, do escritor norte-
americano Willian Faulkner. O livro, que já nasce com uma perspectiva bastante positiva,
terá também o luxuoso prefácio do jornalista Carlos Nealdo. Isso, por si só, já seria digno de
nota. Quando converso com Damasceno (meu amigo de infância que conheci semana
passada) a respeito de como será a receptividade do público ao nosso livro, penso nas
palavras do escritor e filósofo Joseph de Maistre: “Há uma regra segura para julgar dos livros
como dos homens, mesmo sem os conhecer: basta saber por quem são amados e por quem
são odiados”. Estamos nós em boa companhia.
Um conhecido me perguntou o porquê dessa minha insistência em lançar fisicamente
o livro, já que eu poderia publicá-lo apenas em versão digital, seria mais fácil e econômico.
Respondi-lhe que, apesar de gostar do contato do papel, do toque no volume recheado com
magia, eu publicarei o livro porque acredito nas pessoas. Imprimem-se livros porque eles
transformam vidas, transmitem emoções, inspiram e emocionam pessoas. Publicá-lo é dar
continuidade ao trabalho, por exemplo, de um de meus mestres da literatura, Monteiro
Lobato – que tinha ao livro amor tão grande quanto à própria vida. Sobre os livros Lobato
escreveu: “Nos livros está fixada toda a experiência humana. É por meio deles que os avanços
do espírito humano se perpetuam. Um livro é uma ponta de fio que diz: Aqui parei; toma a
ponta e continua, leitor. Platão pensou até aqui: toma o fio do seu pensamento e continua,
Spinoza”.

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