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O CAMPO DA SAÚDE COLETIVA................................................................................................................... 10


O movimento da Saúde Coletiva................................................................................................ 10
CONCEITO DE SAÚDE E SAÚDE PÚBLICA ..................................................................................................... 11
Saúde Pública - Conceito de Winslow ....................................................................................... 12
3. OBJETIVOS DA SAÚDE PÚBLICA ............................................................................................................... 13
Política e Sistemas de Saúde ...................................................................................................... 13
4. O SISTEMA DE SAÚDE NO BRASIL ............................................................................................................ 13
Regionalização e hierarquização: ............................................................................................... 15
Resolubilidade: ........................................................................................................................... 15
Descentralização: ....................................................................................................................... 16
Participação dos cidadãos: ......................................................................................................... 16
Complementaridade do setor privado: ....................................................................................... 16
5.1. Controle social..................................................................................................................... 17
5. HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA ............................................................................................................. 18
Período de Pré-Patogênese ......................................................................................................... 18
Período de Patogênese ................................................................................................................ 19
6. ENFERMAGEM EM SAÚDE PÚBLICA ........................................................................................................ 20
6.1. Equipe de enfermagem ........................................................................................................ 20
6.2. Funções do Técnico e do Auxiliar....................................................................................... 21
7. HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL ............................................................................................... 24
MODELOS VIGENTES: .................................................................................................................................. 24
PRINCIPAIS CAMPOS DE ATUAÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA ............................................................................. 24
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE .......................................................................................................................... 25
Capítulo II – dos Direitos Sociais .............................................................................................. 25
Capítulo II – da Seguridade Social ............................................................................................. 25
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS ..................................................................................................................... 25
LEIS ORGÂNICAS DA SAÚDE (LOS) – Lei 8080/90 e 8142/90 ....................................................................... 26
Lei 8080/90 ................................................................................................................................ 26
Lei 8142/90 ................................................................................................................................ 26
NORMAS OPERACIONAIS BÁSICAS (NOBs) .................................................................................................. 27
I – NOB 01/91 ............................................................................................................................ 27
II – NOB 01/93 ........................................................................................................................... 27
III – NOB 01/96 ......................................................................................................................... 27
NOAS 01/2001 ........................................................................................................................... 28
EMENTA CONSTITUCIONAL No 29 ..................................................................................... 28
PACTO PELA SAÚDE ..................................................................................................................................... 29
I – PACTO PELA VIDA ........................................................................................................... 29
II – PACTO EM DEFESA DO SUS .......................................................................................... 29
III – PACTO DE GESTÃO ........................................................................................................ 30
NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE ..................................................................................................................... 30
ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE ............................................................................................... 30
Fundamentos da Atenção Básica: .............................................................................................. 31
NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE ..................................................................................................................... 31

2
Atenção Primária ........................................................................................................................ 31
VIGILÂNCIA SANITÁRIA ................................................................................................................................ 32
CONCEITO ................................................................................................................................ 32
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA ..................................................................................................................... 32
CONCEITO ................................................................................................................................ 32
OBJETIVOS............................................................................................................................... 32
FUNÇÕES .................................................................................................................................. 33
TIPOS DE DADOS .................................................................................................................... 33
ROTEIRO PARA INVESTIGAÇÃO EM VE ........................................................................... 33
SISTEMAS DE ABRANGÊNCIA NACIONAL ...................................................................... 34
8 - PROGRAMA DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE (PACS)............................................................. 34
ATIVIDADES REALIZADAS ............................................................................................................................. 35
FUNCIONAMENTO ....................................................................................................................................... 36
9 - ESTRATÉGIA OU PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF/PSF............................................................ 36
Princípios Básicos do PSF ............................................................................................................................. 36
Integralidade e hierarquização .................................................................................................................... 37
Territorialização e cadastramento da clientela ........................................................................................... 37
Equipe multiprofissional .............................................................................................................................. 37
Como começou o PSF .................................................................................................................................. 37
Como funciona o PSF ................................................................................................................................... 38
Médico:....................................................................................................................................... 38
Enfermeiro:................................................................................................................................. 38
Técnico/Auxiliar de enfermagem: .............................................................................................. 38
Agente Comunitário de Saúde: .................................................................................................. 38
Cada equipe é capacitada para: .................................................................................................. 38
Como implantar o PSF ................................................................................................................................. 39
10 - DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS ........................................................................................ 39
Estratégias para o controle das doenças crônico-degenerativas ................................................................ 40
DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS E SEUS AGENTES CAUSADORES ...................................................................... 42
História Natural da Doença ........................................................................................................ 42
Doenças Transmissíveis e Doenças Não Transmissíveis .............................................................................. 43
Os Agentes Causadores de Doenças Transmissíveis ................................................................................... 44
Porta de Entrada, Localização e Porta de Saída. ......................................................................................... 45
TRANSMISSÃO ............................................................................................................................................. 46
CONTROLE ................................................................................................................................................... 47
Herpes.......................................................................................................................................................... 49
Uretrites....................................................................................................................................................... 50
Secreção uretral na uretrite ........................................................................................................................ 50
Candidíase ................................................................................................................................................... 51

3
Cancro .......................................................................................................................................................... 52
Sífilis ............................................................................................................................................................. 52
Histórico....................................................................................................................................................... 52
Estágios e Sintomas ..................................................................................................................................... 53
Linfogranuloma Venéreo ............................................................................................................................. 54
Donovanose ................................................................................................................................................. 54
Vaginose Bacteriana e Vulvovaginites ......................................................................................................... 55
Salpingite Aguda .......................................................................................................................................... 56
Do ponto de vista etiológico, as Salpingites podem-se dividir em:............................................................. 56
Tratar sempre o parceiro sexual.................................................................................................................. 56
12 - RELAÇÕES ENTRE OS SERES VIVOS ....................................................................................................... 57
12.1. Os Agentes De Doenças Infecciosas Como Parasitas ......................................................................... 58
12.2. Os Agentes Infecciosos no Meio Ambiente ........................................................................................ 60
13 - DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ............................................................................................. 62
13.1. Noções gerais...................................................................................................................................... 62
13.2. AIDS - síndrome da imunodeficiência adquirida ................................................................................ 62
13.3. Coqueluche ......................................................................................................................................... 66
Introdução................................................................................................................................... 66
13.4. Cólera.................................................................................................................................................. 68
Introdução................................................................................................................................... 68
13.5. Dengue................................................................................................................................................ 71
Conceito ..................................................................................................................................... 71
13.6. Difteria ................................................................................................................................................ 74
Introdução................................................................................................................................... 74
13.7. Doença de Chagas .............................................................................................................................. 76
Introdução................................................................................................................................... 76
13.8. Esquistossomose mansônica .............................................................................................................. 78
Conceito ..................................................................................................................................... 78
13.9. Febre Tifoide ....................................................................................................................................... 80
Conceito ..................................................................................................................................... 80
13.10. Hanseníase........................................................................................................................................ 82
Conceito ..................................................................................................................................... 82
13.11. Leishmaniose Tegumentar Americana - LTA .................................................................................... 85
Conceito ..................................................................................................................................... 85
13.12. Leishmaniose visceral (calazar) ........................................................................................................ 87
Conceito ..................................................................................................................................... 87
13.13. Malária .............................................................................................................................................. 88
Conceito ..................................................................................................................................... 88
4
13.14. Parasitoses intestinais e helmintíases intestinais............................................................................. 91
Conceito ..................................................................................................................................... 91
13.15. Poliomielite ....................................................................................................................................... 93
Conceito ..................................................................................................................................... 93
13.16. Raiva ................................................................................................................................................. 96
Conceito ..................................................................................................................................... 96
13.17. Sarampo............................................................................................................................................ 99
Conceito ..................................................................................................................................... 99
13.18. Tétano acidental ............................................................................................................................. 101
Conceito ................................................................................................................................... 101
13.19. Tuberculose .................................................................................................................................... 104
Conceito ................................................................................................................................... 104
13.20. Hepatites Virais............................................................................................................................... 106
Conceito ................................................................................................................................... 106
14 - ISOLAMENTO HOSPITALAR ................................................................................................................. 109
14.1. Considerações Gerais: ..................................................................................................... 109
15. ANEXOS ................................................................................................................................................ 113
15.1. Anexo I: Doenças Infecciosas mais Frequentes e Medidas de Isolamento ..................... 113
16 - OUTRAS DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS ................................................................................. 118
17 - OUTRAS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS:........................................................................................ 118
18 - IMUNIZAÇÃO ...................................................................................................................................... 119
VACINAÇÃO: CONCEITOS BÁSICOS ............................................................................................................ 120
Fundamentos Imunológicos ..................................................................................................... 120
Fatores próprios das vacinas .................................................................................................... 120
Mecanismos inespecíficos ........................................................................................................ 121
Mecanismos específicos ........................................................................................................... 122
IMUNIDADE CELULAR ................................................................................................................................ 122
IMUNIDADE HUMORAL ............................................................................................................................. 123
Natureza ................................................................................................................................... 124
Composição .............................................................................................................................. 124
18.1 Vacina Contra Tuberculose (BCG)...................................................................................................... 125
Composição e Apresentação .................................................................................................... 125
Idade de aplicação .................................................................................................................... 125
Indicação .................................................................................................................................. 125
Via de administração ................................................................................................................ 126
Esquema ................................................................................................................................... 126
Eventos adversos mais comuns ................................................................................................ 126
Contraindicações ...................................................................................................................... 126
Conservação e validade ............................................................................................................ 126
18.2 Vacina Contra Hepatite B .................................................................................................................. 127
Introdução................................................................................................................................. 127
Composição e apresentação ..................................................................................................... 127

5
Idade de aplicação .................................................................................................................... 128
Via de administração ................................................................................................................ 128
Esquema ................................................................................................................................... 128
Eventos adversos mais comuns ................................................................................................ 129
Contraindicações ...................................................................................................................... 129
Conservação e validade ............................................................................................................ 129
18. 3 Vacina Oral Contra Poliomielite (VOP) ............................................................................................. 129
Composição e Apresentação .................................................................................................... 129
Idade de aplicação .................................................................................................................... 130
Via de administração ................................................................................................................ 130
Esquema ................................................................................................................................... 130
Eventos adversos ...................................................................................................................... 130
Contraindicações ...................................................................................................................... 131
Conservação e validade ............................................................................................................ 131
18.4 Vacina Contra Difteria, Tétano e Coqueluche (Vacina Tríplice DTP - Tríplice Bacteriana) ................ 131
Composição e apresentação ..................................................................................................... 131
Idade de aplicação .................................................................................................................... 131
Via de administração ................................................................................................................ 132
Esquema ................................................................................................................................... 132
Eventos adversos ...................................................................................................................... 132
Contraindicações ...................................................................................................................... 132
Precauções ................................................................................................................................ 133
Conservação e validade ............................................................................................................................. 133
18.5 Vacina Contra Difteria e Tétano (Vacina Dupla Bacteriana).............................................................. 133
Composição e apresentação ..................................................................................................... 133
Idade de aplicação .................................................................................................................... 133
Via de administração ................................................................................................................ 133
Esquema ................................................................................................................................... 134
Vacinação da Gestante ............................................................................................................. 135
Gestante não vacinada .............................................................................................................. 135
Gestante vacinada ..................................................................................................................... 135
Contraindicações ...................................................................................................................... 136
Precaução ................................................................................................................................. 136
Conservação e validade ............................................................................................................ 136
Composição e apresentação ..................................................................................................... 136
Idade de aplicação .................................................................................................................... 137
Via de administração ................................................................................................................ 137
Esquema ................................................................................................................................... 137
Eventos adversos mais comuns ................................................................................................ 137
Contraindicações ...................................................................................................................... 137
Conservação e validade ............................................................................................................ 138
18.6 Vacina Contra Sarampo, Caxumba e Rubéola (Vacina Tríplice Viral) ................................................ 138
Composição e apresentação ..................................................................................................... 138
Idade de aplicação .................................................................................................................... 138
Via de administração ................................................................................................................ 138
Contraindicações ...................................................................................................................... 139
Notas: ....................................................................................................................................... 139
Conservação e validade ............................................................................................................ 139
6
18.7 Vacina Contra Febre Amarela ............................................................................................................ 140
Composição e apresentação ..................................................................................................... 140
Idade de aplicação .................................................................................................................... 140
Via de administração ................................................................................................................ 140
Esquema ................................................................................................................................... 140
Eventos adversos mais comuns ................................................................................................ 140
Contraindicações ...................................................................................................................... 141
Conservação e validade ............................................................................................................ 141
18.8 Vacina Contra Influenza (Gripe) ........................................................................................................ 141
Considerações gerais ................................................................................................................ 141
Composição e apresentação ..................................................................................................... 142
Idade de aplicação .................................................................................................................... 143
Via de administração ................................................................................................................ 143
Esquema ................................................................................................................................... 143
Eventos adversos mais comuns ................................................................................................ 143
Contraindicações ...................................................................................................................... 144
Doenças leves e afebris não contraindicam a aplicação da vacina. ......................................... 144
Conservação e validade ............................................................................................................ 144
18.9 Vacina e Soro Contra Raiva ................................................................................................................ 144
Composição e apresentação ..................................................................................................... 144
Idade de aplicação .................................................................................................................... 145
Via de administração ................................................................................................................ 145
Eventos adversos ...................................................................................................................... 145
Contraindicações ...................................................................................................................... 146
Conservação e validade ............................................................................................................ 147
19 - AÇÕES DA VIGILÂNCIA SANITÁRIA EM RELAÇÃO A PRODUTOS ALIMENTARES, DOMICILIARES,
MEDICAMENTOS, SERVIÇOS DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE...................................................................... 147
AÇÕES DA VIGILÂNCIA SANITÁRIA ............................................................................... 147
RECURSOS DA COMUNIDADE PARA AÇÕES COLETIVAS–ESTRATÉGIAS .................................................... 148
As etapas do Programa de Prevenção de Câncer do Colo do Útero (PCCU) são: ..................................... 149
A assistência a essa mulher compreende: ................................................................................ 152
21 - SAÚDE DA CRIANÇA: UMA PREOCUPAÇÃO COLETIVA ....................................................................... 154
O Cartão da Criança como instrumento de vigilância à sua saúde ........................................................... 155
22 - SAÚDE DO ADOLESCENTE ................................................................................................................... 157
O profissional de saúde e o cliente adolescente ....................................................................................... 157
A assistência à saúde do adolescente ....................................................................................................... 158
Atenção ao crescimento e desenvolvimento ............................................................................................ 159
SEXUALIDADE E SAÚDE REPRODUTIVA ..................................................................................................... 160
SAÚDE ESCOLAR DO ADOLESCENTE .......................................................................................................... 162
PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA E MORTES POR CAUSAS EXTERNAS .............................................................. 163
A FAMÍLIA DO ADOLESCENTE .................................................................................................................... 165
23 - SAÚDE DO IDOSO ............................................................................................................................... 165

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ESTRATÉGIAS PARA ATENDIMENTO ÀS NECESSIDADES ESPECÍFICAS DOS IDOSOS .................................. 166
PROMOÇÃO À SAÚDE ................................................................................................................................ 166
PREVENÇÃO DE AGRAVOS ......................................................................................................................... 167
ASSISTÊNCIA AOS IDOSOS ......................................................................................................................... 167
RESUMO DO ESTATUTO DO IDOSO ........................................................................................................... 168
Introdução................................................................................................................................. 168
Desenvolvimento ...................................................................................................................... 168
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS................................................................................................................. 169
DO DIREITO À VIDA .................................................................................................................................... 169
DO DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE. ........................................................................ 169
ALIMENTOS ................................................................................................................................................ 170
DO DIREITO À SAÚDE ................................................................................................................................. 170
DA EDUCAÇÃO, CULTURA, ESPORTE E LAZER............................................................................................ 170
DA PROFISSIONALIZAÇÃO E DO TRABALHO .............................................................................................. 170
DA HABITAÇÃO .......................................................................................................................................... 171
DOS TRANSPORTES COLETIVOS ................................................................................................................. 171
DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO .................................................................................................................... 171
DAS MEDIDAS ESPECÍFICAS DE PROTEÇÃO ............................................................................................... 171
DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO AO IDOSO .............................................................................................. 172
DAS ENTIDADES DE ATENDIMENTO AO IDOSO ......................................................................................... 172
FISCALIZAÇÃO DAS ENTIDADES DE ATENDIMENTO .................................................................................. 172
DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS .......................................................................................................... 172
APURAÇÃO JUDICIAL DE IRREGULARIDADES EM ENTIDADE DE ATENDIMENTO ...................................... 173
DO ACESSO À JUSTIÇA ............................................................................................................................... 173
DO MINISTÉRIO PÚBLICO .......................................................................................................................... 173
DOS CRIMES EM ESPÉCIE ........................................................................................................................... 173
CONCLUSÃO............................................................................................................................................... 174
24 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................................... 175

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9
O CAMPO DA SAÚDE COLETIVA

Saúde Coletiva é uma expressão que


designa um campo de saber e de práticas
referido à saúde como fenômeno social e,
portanto, de interesse público. As origens do
movimento de constituição deste campo remontam ao trabalho teórico e político
empreendido pelos docentes e pesquisadores de departamentos de instituições
universitárias e de escolas de Saúde Pública da América Latina e do Brasil, em particular,
ao longo das duas últimas décadas.

A crítica aos sucessivos movimentos de reforma em saúde, originários da Europa


e dos Estados Unidos, como os da Saúde Pública e Higiene, Medicina Preventiva,
Medicina Comunitária, Medicina de Família, Atenção Primária à Saúde, delineou
progressivamente o objeto de investigação e práticas em Saúde Coletiva, que
compreende as seguintes dimensões:
o Estado de saúde da população, isto é, condições de saúde de grupos populacionais
específicos e tendências gerais do ponto de vista epidemiológico, demográfico,
socioeconômico e cultural;
o Serviços de saúde, abrangendo o estudo do processo de trabalho em saúde,
investigações sobre a organização social dos serviços e a formulação e implementação
de políticas de saúde, bem como a avaliação de planos, programas e tecnologia utilizada
na atenção à saúde;
o Saber sobre a saúde, incluindo investigações históricas, sociológicas, antropológicas e
epistemológicas sobre a produção de conhecimentos neste campo e sobre as relações
entre o saber "científico" e as concepções e práticas populares de saúde, influenciadas
pelas tradições, crenças e cultura de modo geral.

O movimento da Saúde Coletiva

O trabalho teórico e empírico no campo da Saúde Coletiva, desenvolvido em


instituições acadêmicas, deu suporte a um movimento político iniciado em meados dos
anos 70, em torno da crise da saúde, no contexto das lutas pela democratização do país.
Esse movimento difundiu-se a centros de estudos, associações profissionais, sindicatos
de trabalhadores, organizações comunitárias, religiosas e partidos políticos, contribuindo
10
para a formulação e execução de um conjunto de mudanças identificadas como a
Reforma Sanitária Brasileira.

As proposições desse movimento incluem uma profunda modificação na


concepção de saúde e seu entendimento como direito de cidadania e dever do Estado.
Postula mudanças no modelo gerencial, organizativo e operativo do sistema de serviços
de saúde, na formação e capacitação de pessoal no setor, no desenvolvimento científico
e tecnológico nesta área e, principalmente, nos níveis de consciência sanitária e de
participação crítica e criativa dos diversos atores sociais no processo de reorientação das
políticas econômicas e sociais no país, tendo em vista a melhoria dos níveis de vida e a
redução das desigualdades sociais.

Do ponto de vista do SABER, a Saúde Coletiva se articula em um tripé


interdisciplinar composto pela Epidemiologia, Administração e Planejamento em Saúde
e Ciências Sociais em Saúde, com um enfoque transdisciplinar, que envolve disciplinas
auxiliares como a Demografia, Estatística, Ecologia, Geografia, Antropologia, Economia,
Sociologia, História e Ciências Políticas, entre outras.

Enquanto PRÁTICA, a Saúde Coletiva propõe um novo modo de organização do


processo de trabalho em saúde que enfatiza a promoção da saúde, a prevenção de
riscos e agravos, a reorientação da assistência a doentes, e a melhoria da qualidade de
vida, privilegiando mudanças nos modos de vida e nas relações entre os sujeitos sociais
envolvidos no cuidado à saúde da população.
CONCEITO, ORIGEM E EVOLUÇÃO DA SAÚDE
CONCEITO DE SAÚDE E SAÚDE PÚBLICA

Saúde é quando a gente não sente dor;


e quando a gente come bem e é alegre e pode
trabalhar e estudar.
Esta é a definição de uma criança de
nove anos, que, com sua sabedoria infantil, usou
palavras de um alcance maior. É saudável quem
tem comida, trabalho e moradia, ganhando salários compatíveis com as necessidades
básicas de todo ser humano. Tem saúde também quem tem boa escola e condução
adequada para se deslocar. É saudável quem sabe como funciona o seu corpo e quais
11
são as suas necessidades. Tem saúde quem ajuda a conservar o meio ambiente e sabe
que o homem é irmão dos outros homens e faz parte da natureza juntamente com as
plantas, os outros animais e a terra. Tem saúde quem encara o sexo e a reprodução com
a naturalidade de saber que a vida é transitória e que a morte é certa, sendo preciso
deixar descendentes e transmitir-lhes a experiência adquirida. Por fim, ter saúde é
também sentir-se moralmente solidário com os outros indivíduos e comportar-se de
modo responsável, garantindo a harmonia e justiça social.
A saúde é um estado de bem-estar físico, mental e social, e não apenas a
ausência de doença ou enfermidade.
Em todo o mundo, a experiência tem demonstrado o quanto é inútil elevar o
nível de saúde de uma população exclusivamente por meio de medidas médicas.
A saúde não é um fenômeno isolado, mas o resultado da interação de todas
as condições em que a população vive. Não se pode considerar o indivíduo
separadamente do seu contexto social, econômico e ambiental. O clima, o tipo de
moradia, a qualidade da água consumida, a possibilidade de tratamento higiênico dos
dejetos domésticos, além de muitos outros fatores, influenciam e até determinam o
padrão de saúde das populações.

Saúde Pública - Conceito de Winslow

Saúde Pública é a ciência e a arte de prevenir doenças, prolongar a vida e


promover a saúde física e a eficiência do indivíduo, através de esforços organizados da
comunidade, visando ao saneamento do meio, ao combate às doenças transmissíveis
que ameaçam a coletividade, ao ensino dos princípios de higiene individual,
organização dos serviços médicos e de enfermagem para diagnóstico precoce e
tratamento preventivo e estabelecimento de condições sociais que assegurem a cada
membro da coletividade nível de vida favorável à manutenção da saúde.

12
3. OBJETIVOS DA SAÚDE PÚBLICA

Definimos como "objetivos" da Saúde Pública, a


promoção, a proteção e a recuperação da saúde da
comunidade, enfatizando que a comunidade caracteriza
o campo de atividades e conhecimentos da Saúde
Pública. Por outro lado, há que se mencionar a existência
de alguma confusão entre Medicina Preventiva e Saúde
Pública. Daí a razão pela qual chamamos a atenção para
o fato de a Saúde Pública visar não somente a promoção
e a proteção, mas também a recuperação da saúde da
comunidade.

Política e Sistemas de Saúde

Alguns autores definem política de saúde como o conjunto de ações


sanitárias desenvolvidas numa determinada região, num dado momento.
No Brasil, a política de saúde engloba os serviços sanitários estatais, municipais,
estaduais e federais, as ditas fundações públicas e privadas, as organizações de
prestação de serviço assistencial, as entidades filantrópicas e com finalidade lucrativa,
os serviços médico-hospitalares das forças armadas estaduais e federais, as empresas
de medicina de grupo, as cooperativas médicas, as instituições universitárias, os
sindicatos, os serviços próprios do empresariado e outros afins, cujo objetivo principal
nem sempre é a prestação de cuidados com vistas à prevenção da doença, e sim às
medidas terapêuticas, quando a entidade mórbida se instala, e à promoção da saúde.

4. O SISTEMA DE SAÚDE NO BRASIL

Hoje, saúde é um direito de todo cidadão, e é dever do Estado prover o


acesso da população a ela, como determina a Constituição de 1988.
É incrível imaginar que não havia um sistema de saúde no Brasil. Havia
unidades isoladas e, pelo menos, 40 instituições públicas, federais, estaduais e municipais
cuidando da saúde.
13
Através de uma rede de serviços, com ações organizadas de maneira racional,
conseguiu-se um sistema: o Sistema Único de Saúde.

a) Por que sistema único?


Porque ele segue a mesma doutrina e os mesmos princípios organizativos em
todo o território nacional, sob a
responsabilidade das três esferas
autônomas de governo: federal, estadual e
municipal. Assim, o SUS não é um serviço ou
uma instituição, mas um sistema que
significa um conjunto de unidades, serviços
e ações que interagem para um fim comum.
Esses elementos integrantes do sistema
referem-se, ao mesmo tempo, às atividades de promoção, proteção e recuperação da
saúde.

b) Qual é a doutrina do SUS?


Baseada nos preceitos constitucionais, a construção do SUS se norteia pelos
seguintes princípios doutrinários:
Universalidade: é a garantia de atenção à saúde, por parte do sistema, a todo
e qualquer cidadão. Com a universalidade, o indivíduo passa a ter direito de acesso a
todos os serviços públicos de saúde, assim como aqueles contratados pelo poder
público. Saúde é direito de cidadania e dever do Governo: municipal, estadual e federal.
Equidade: é o fato de assegurar ações e serviços de todos os níveis de acordo
com a complexidade que cada caso requeira, more o cidadão onde morar, sem
privilégios e sem barreiras. Todo cidadão é igual perante o SUS e será atendido
conforme suas necessidades até o limite do que o sistema pode oferecer para todos.
Integralidade: é o reconhecimento, na prática dos serviços, de que;
 Cada pessoa é um todo indivisível e integrante de uma comunidade;
 As ações de promoção, proteção e recuperação da saúde formam também um todo
indivisível e não podem ser compartimentalizadas;
 As unidades prestadoras de serviço, com seus diversos graus de complexidade,
formam também um todo indivisível, configurando um sistema capaz de prestar
assistência integral;
14
 O homem é um ser integral, bio-psico-social e deverá ser atendido com esta visão
integral por um sistema de saúde também integral, voltado a promover, proteger e
recuperar sua saúde.

c) Quais são os princípios que regem a organização do SUS?

Regionalização e hierarquização:

Os serviços devem ser organizados em níveis de complexidade tecnológica


crescente, dispostos numa área geográfica delimitada e com a definição da população a
ser atendida. Isto implica na capacidade dos serviços em oferecer a uma determinada
população todas as modalidades de assistência, bem como o acesso a todo tipo de
tecnologia disponível, possibilitando um ótimo grau de resolubilidade (solução de seus
problemas).
O acesso da população à rede deve dar-se através dos serviços de nível
primário de atenção, que devem estar qualificados para atender e resolver os principais
problemas que demandam os serviços de saúde. Os demais deverão ser referenciados
para os serviços de maior complexidade tecnológica.
A rede de serviços, organizada de forma hierarquizada e regionalizada,
permite um conhecimento maior dos problemas de saúde da população da área
delimitada, favorecendo as ações de vigilância epidemiológica e sanitária, o controle de
vetores, a educação em saúde, além das ações de atenção ambulatorial e hospitalar em
todos os níveis de complexidade.

Resolubilidade:

É a exigência de que, quando um indivíduo busca o atendimento ou quando


surge um problema de saúde de impacto coletivo sobre a saúde, o serviço
correspondente esteja capacitado para enfrentá-lo e resolvê-lo até o nível da sua
competência.

15
Descentralização:

E entendida como uma redistribuição das responsabilidades quanto às ações


e serviços de saúde entre os vários níveis de governo, a partir da ideia de que quanto
mais perto do fato a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. Assim, o que é
abrangência de um município deve ser de responsabilidade do governo municipal; o
que abrange um estado ou uma região estadual deve estar sob responsabilidade do
governo estadual; e o que for de abrangência nacional, será de responsabilidade
federal. Deverá haver uma profunda redefinição das atribuições dos vários níveis de
governo com um nítido reforço do poder municipal sobre a saúde — é o que se chama
municipalização da saúde.
Aos municípios cabe, portanto, a maior responsabilidade na promoção das
ações de saúde diretamente voltadas aos seus cidadãos.

Participação dos cidadãos:

É a garantia constitucional de que a população, através de suas entidades


representativas, participará do processo de formulação das políticas de saúde e do
controle de sua execução, em todos os níveis, desde o federal até o local.
Essa participação deve se dar nos conselhos de saúde, com representação
partidária de usuários, do governo, dos profissionais de saúde e dos prestadores de
serviço. Outra forma de participação são as conferências de saúde, periódicas, para
definir prioridades e linhas de ação sobre a saúde.
Deve ser também considerado como elemento do processo participativo o
dever de as instituições oferecerem as informações e conhecimentos necessários para
que a população se posicione sobre as questões que dizem respeito à sua saúde.

Complementaridade do setor privado:

A Constituição definiu que, quando, por insuficiência do setor público, for


necessária a contratação de serviços privados, isso deve se dar sob três condições:

I. A celebração de contrato, conforme as normas de direito público, ou seja, o


interesse público prevalece sobre o particular;
16
II. A instituição privada deverá estar de acordo com os princípios básicos e normas
técnicas do SUS. Prevalecem, assim, os princípios da universalidade, equidade etc.,
como se o serviço privado fosse público, uma vez que, quando contratado, atua
em nome deste;
III. A integração dos serviços privados deverá ocorrer na mesma lógica organizativa
do SUS, em termos de posição definida na rede regionalizada e hierarquizada dos
serviços. Dessa forma, em cada região, deverá estar claramente estabelecido,
considerando-se os serviços públicos e os privados contratados, quem vai fazer o
quê, em que nível e em que lugar.

Dentre os serviços privados, devem ter preferência os serviços não lucrativos,


conforme determina a Constituição.
Assim, cada gestor deverá planejar primeiro o setor público e, na sequencia,
complementar a rede assistencial com o setor privado, com os mesmos conceitos de
regionalização, hierarquização e universalização.
Torna-se fundamental o estabelecimento de normas e procedimentos a serem
cumpridos pelos conveniados e contratados, os quais devem constar, em anexo, dos
convênios e contratos.

5.1. Controle social

A existência de um efetivo controle social sobre a ação governamental, em todos


os níveis, é requisito essencial à adequada implementação da proposta de construção do
Sistema Único de Saúde. Entendido o controle social como exercício da cidadania, o
cumprimento desse requisito transcende a ação estatal e exige a presença de
organizações legítimas de representação de interesses dos diversos segmentos sociais.
Implica, porém, na existência, no âmbito das agências públicas, de mecanismos que
assegurem as condições de acesso a informações e de democratização dos processos
decisórios.
A legislação que ordena a implantação dos SUS estabelece a Conferência de
Saúde e os Conselhos de Saúde como mecanismos privilegiados para o atendimento
desse requisito. A Lei n. 8.142/90 determina, em seu Artigo Primeiro, que o SUS "contará
em cada esfera de Governo, sem prejuízo das funções do Poder Legislativo, com as
seguintes instâncias colegiadas”:
17
I. “a Conferência de Saúde, e
II. “O Conselho de Saúde.“.

5. HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA

História natural da
doença é a denominação dada
ao conjunto de processos
interativos que engloba as inter-
relações do agente, do
suscetível e do meio ambiente
que afetam o processo global e
seu desenvolvimento, desde as
primeiras forças que designam
o estímulo patológico no meio
ambiente, ou em qualquer
outro lugar, passando pela
resposta do homem ao
estímulo, até as alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte.

Período de Pré-Patogênese

O primeiro período da história natural: é a própria evolução das inter-relações


dinâmicas, que envolvem, de um lado, os condicionantes sociais e ambientais e, do
outro, os fatores próprios do suscetível, até que se chegue a uma configuração favorável
á instalação da doença. Envolve, como já foi citado antes, as inter-relações entre os
agentes etiológicos da doença, o suscetível e outros fatores ambientais que estimulam o
desenvolvimento da enfermidade e as condições sócio-econômico-culturais que
permitem a existência desses fatores.

18
Período de Patogênese

A história natural da doença tem seguimento com a sua fundação e evolução no


homem. É o período da patogênese. Este período se inicia com as primeiras ações que
os agentes patogênicos desempenham sobre o ser afetado. Seguem-se as reações
bioquímicas em nível celular, prosseguindo com as perturbações na forma e na função,
evoluindo para defeitos permanentes, cronicidade, morte ou cura.

Prevenção é o conjunto de medidas que visam evitar a doença na coletividade,


utilizando medidas que acabem com a patologia, ou a minimizem na população.

1-Tipos de Prevenção
Primária - quaisquer atos destinados a diminuir a incidência de uma doença numa
população, reduzindo o risco de surgimento de casos novos;

São exemplos a vacinação, o tratamento da água para consumo humano, de


medidas de desinfecção e desinfestação ou de ações para prevenir a infecção por HIV, e
outras ações de educação e saúde ou distribuição gratuita de preservativos, ou de
seringas descartáveis aos toxicômanos.

Secundária - quaisquer atos destinados a diminuir a prevalência de uma doença


numa população reduzindo sua evolução e duração;
Um exemplo é o rastreio do cancro do colo uterino, causado pela
transmissão sexual do HPV. A prevenção secundária
consiste em um diagnostico precoce e tratamento
imediato.

Terciária - quaisquer atos destinados a diminuir a


prevalência das incapacidades crônicas numa população,
reduzindo ao mínimo as deficiências funcionais consecutivas à
doença.

Como exemplo, podem-se citar ações de formação em

19
nível de escolas ou locais de trabalho que visem anular atitudes fóbicas em relação a um
indivíduo infectado pelo HIV . Outro exemplo, a nível da saúde ocupacional seria a
reintegração daquele trabalhador na empresa, caso não pudesse continuar a exercer,
por razões médicas, o mesmo tipo de atividades.

6. ENFERMAGEM EM SAÚDE PÚBLICA

Segundo a Organização Mundial, a enfermagem em Saúde Pública é um


aspecto especializado da enfermagem que combina as habilidades específicas da
enfermagem de Saúde Pública e de algumas fases da assistência social, exercendo
funções do programa global de saúde, visando à promoção da saúde, à melhoria das
condições sociais e físicas do meio, à reabilitação e à prevenção das doenças e das
incapacidades. Preocupa-se com os cuidados às famílias sadias e com os pacientes não
hospitalizados e os seus familiares, com grupos específicos da população e com
problemas de saúde que afetam a comunidade como um todo.
A enfermagem é uma atividade essencial de todos os serviços de saúde que
prestam assistência a indivíduos ou à comunidade.

6.1. Equipe de enfermagem

É constituída, hierarquicamente, pelos profissionais Enfermeiro, Técnico e


Auxiliar de Enfermagem.
Cabe ao Enfermeiro, como Coordenador da Equipe e administrador das ações
de enfermagem, em todos os níveis de atenção à saúde, planejar as tarefas específicas
da equipe para o alcance dos objetivos propostos. É fundamental que esses objetivos
sejam compreendidos claramente, sendo recomendável que o Enfermeiro capacite e/ou
recicle todos os membros da equipe de Enfermagem, aproveitando e respeitando o
potencial de cada um.
As atividades de enfermagem exigem a adoção do princípio da divisão de
trabalho em equipe, a qual leva todos os membros a participarem, de maneira
responsável, das atividades que lhes são atribuídas.
A observância desse princípio faz com que as atividades de enfermagem se
desenvolvam de forma harmônica, alcançando o objetivo principal da Saúde Pública,
que é a promoção e a proteção da saúde e a prevenção das doenças.
20
6.2. Funções do Técnico e do Auxiliar

As funções mais comumente desempenhadas por esses profissionais


contemplam aquelas voltadas para as pessoas e para o meio ambiente.
Geralmente, são desenvolvidas nos centros e postas de saúde, através de
programas específicos, fundamentados nas Diretrizes do Ministério da Saúde.

a) Ações voltadas para as pessoas:


- Crianças e adolescentes (0 - 19 anos);
- Mulheres em idade fértil (15 a 49 anos);
- Adultos em geral:
- Controle das doenças transmissíveis;
- Controle das doenças crônico-degenerativas.

Com relação às ações voltadas para as pessoas, o Técnico e o Auxiliar de


Enfermagem desenvolvem as seguintes funções:

1. Atender ao indivíduo antes e após consulta de Enfermagem e/ou consulta médica.


Consulta de triagem ou pré-consulta: é a porta de entrada do paciente no
programa (recepção do paciente). Observa-se que esta atividade deve ser realizada
individualmente, respeitando a privacidade do paciente, nunca o atendendo em
qualquer área física da unidade e sim dentro de um consultório ou mesmo numa sala
que tenha porta:
 Identificação do paciente;
 Entrevista para coleta de dados sobre as principais queixas;
 Anotação de sinais e sintomas que o paciente apresenta;
 Verificação da pressão arterial;
 Verificação do pulso radial/peso e altura;
 Encaminhamento ou agenda do paciente à(s) consulta(s) necessária(s): médica, de
enfermagem, de nutrição, psicológica etc.;
 Convite para reuniões de educação em saúde de grupos relacionados ao problema
de saúde existente;

21
 Matrícula do paciente no programa.

 Pós-consulta: reafirmar todas as orientações dadas nas consultas quanto ao


tratamento estipulado;
 Esclarecer quanto ao diagnóstico, caso se necessite;
 Conscientizar quanto à importância do tratamento farmacológico e/ou não
farmacológico;
 Encaminhar para a realização de exames solicitados (laboratoriais, radiológicos, etc.);
 Enfatizar a importância do retorno às consultas subsequentes, bem como a
participação nas reuniões educativas (convite para as reuniões), registrando data,
local e hora;
 Esclarecer as dúvidas que possam surgir em relação aos procedimentos acima citados;
 Agendar a data e horário de retorno às consultas subsequentes, se necessário.

2. Auxiliar o enfermeiro e/ou médico nas consultas específicas de cada profissional.

3. Acompanhar o enfermeiro nas atividades de Educação em Saúde para a


Comunidade.

4. Realizar visitas domiciliares com a orientação e supervisão do enfermeiro e executar


técnicas simples de tratamento como: aplicação de injeções, curativos simples, coleta
de material para exames, vacinação etc.

5. Administrar vacinas de acordo com as normas do Programa Nacional de Imunização.


As vias de administração das vacinas são: oral, intramuscular, subcutânea e
intradérmica.

6. Participar das Campanhas de Mobilização Populacional para a promoção e proteção


da saúde. Ex: campanhas de vacinação, inquérito epidemiológico etc.

7. Executar ações básicas de investigação e vigilância epidemiológica.

8. Executar técnicas simples de prevenção e tratamento específicos das doenças e/ou


agravos à saúde do indivíduo ou da comunidade.
22
9. Estar atentos quanto às notificações compulsórias dos casos de doenças
transmissíveis: vigilância epidemiológica das doenças transmissíveis.

10. Realizar investigações epidemiológicas na área de procedência da unidade sanitária


(atividade delegada pela Enfermeira responsável).

11. Auxiliar o enfermeiro na execução das visitas domiciliares junto aos doentes e seus
comunicantes, bem como nos estabelecimentos de trabalho destes ou nas escolas.

b) ações voltadas para o meio:


- Saneamento;
- Vigilância sanitária.

A principal ação sobre o meio ambiente é o saneamento básico, que tem por
objetivo assegurar um ambiente mais saudável aos indivíduos, através do tratamento da
água, do destino do lixo e do esgoto.
Água: a água utilizada para o consumo humano para ser bebida ou para
preparar alimentos deve ser potável. A água potável deve ter as seguintes características:
ser límpida (pura e clara); ser incolor (não ter cor); ser inodora (não ter cheiro
característico); e ser arejada.
Destino dos dejetos: as fezes podem conter micróbios que, ao serem lançados
ao solo, tornam-se fonte de contaminação para os homens e os animais.
A larva da solitária, por exemplo, pode ser comida pelo boi ou pelo porco e
então o homem, comendo a carne contaminada, pode adquiri-la.
Também as águas de enxurradas espalham estas fezes por todos os locais,
inclusive onde existem plantações de verduras.
Como educadores, compete-nos auxiliar a nossa comunidade, prestando
esclarecimentos e orientando quanto à necessidade de defesa e manutenção da saúde.
É preciso deixar bastante claro, para aqueles que estão recebendo orientação, que só a
explicação do assunto não vai solucionar o problema. É preciso incentivá-los a construir
privadas, a fim de se evitar a disseminação de uma série de doenças.
Existem vários tipos de privadas. Dependendo das condições do solo e dos
recursos da comunidade, uns ou outros são adotados.

23
6.4. Visita domiciliar
A visita domiciliar é um método de assistência à saúde coletiva, o qual leva o
conhecimento ao indivíduo no seu meio, caracterizado pelas relações afetivo-sociais
entre os indivíduos da família.

7. HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL

 Compreende a ação de saúde que representa o instrumento técnico-político que


irá intervir no processo saúde-doença amparado pelo conhecimento científico;
 Começou a imergir no Brasil no século XX
 As ações da saúde pública nessa época foram direcionadas para a criação de
grandes campanhas como vacinação em massa da população;
 Oswaldo Cruz – criou e ajudou a organizar instituições de higiene e saúde no
Brasil;
 A partir de então, a saúde pública vai se configurando e se solidificando como
uma política nacional da saúde;
 Nessa época não havia a garantia de universalidade e integridade;

MODELOS VIGENTES:
 Modelo Preventivo: ações de saneamento, vacinação e controle de doenças;
 Modelo Curativo: saúde previdenciária.
 Década de 70 – reforma sanitária
 Consolidado em 1988

PRINCIPAIS CAMPOS DE ATUAÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA


 Educação em saúde
 Imunização
 Saúde do trabalhador
 Saúde do idoso
 Epidemiologia

24
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

Capítulo II – dos Direitos Sociais

Art. 6o: “São direitos sociais a educação, saúde, saúde, trabalho. Lazer,
segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição”.

Capítulo II – da Seguridade Social

Art. 195: “A Seguridade Social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da
União, dos estados, distrito federal e dos municípios”.

Art. 196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação”.

Art. 198: “Diretizes do SUS”.


 Descentralização
 Atendimento integral
 Participação da comunidade

Art. 199: “A assistência à saúde é livre à iniciativa privada” poderá participar


de forma complementar a segunda diretriz do SUS.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
 Universalidade
 Integralidade
 Hierarquização dos serviços
 Descentralização

25
 Equidade
 Participação Social

LEIS ORGÂNICAS DA SAÚDE (LOS) – Lei 8080/90 e 8142/90


 Objetivo: têm caráter de norma geral com as diretrizes e limites que devem ser
respeitados pós União, Estados e Municípios ao elaborarem suas próprias normas;
 São destinadas a esclarecer o papel das esferas de governo.

Lei 8080/90

 Detalha a organização do SUS, baseada na descentralização das ações e trata das


condições para promoção do atendimento integral;
 Art.21 – a assistência à saúde é livre à iniciativa privada;
 Art.36 – o processo de planejamento e orçamento do SUS será ascendente, do
nível local até o federal;
 1o os planos de saúde serão a base das atividades e programações de cada nível
de direção do SUS, e seu financiamento será previsto na respectiva proposta
orçamentária.

Lei 8142/90

 Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as


transferências intergovernamentais de recursos financeiros e condicionou o
recebimento dos recursos financeiros à existência do CMS funcionando de acordo
com a legislação;
 Exigência para recebimentos dos recursos:
1. Fundo de saúde
2. Conselho de saúde
3. Plano de saúde
4. Relatórios de gestão
5. Contrapartida constante no orçamento
6. Comissão de elaboração do plano de carreira, cargos e salários (PCCS)

26
NORMAS OPERACIONAIS BÁSICAS (NOBs)
 São instrumentos de regulação do processo de descentralização que tratam dos
seguintes aspectos:
1. Definição de responsabilidade
2. Relação entre gestores
3. Critérios de transferência de recursos federais para estados e municípios.

I – NOB 01/91

 Objetivo: implantar a política de financiamento; normalizar os recursos financeiros


para a cobertura da assistência à saúde, aos estados, DF e municípios;
 Instituiu o Recurso de Cobertura Ambulatorial (RCA) – teto financeiro repassado
mensalmente aos estados, definido pela União, em cima da capacidade instalada
e população.

II – NOB 01/93

 Reorientou o processo de descentralização;


 Criou instâncias de negociação e normalização no âmbito federal (Comissão
Intergestores Tripartite – CTI) e estadual (Comissão Intergestores Bipartite – CIB);
 Propõe modalidades de gestão descentralizada:
1. Estados: gestão parcial e semiplena
2. Municípios: incipientes, parcial e semiplena;
 Recurso transferido por produção;
 Introduziu o princípio da limitação de gastos com internações hospitalares a um
teto previamente definido – série histórica do valor da AIH.

III – NOB 01/96

 Caracteriza a responsabilidade sanitária de cada gestor com a atenção à saúde ;


 Intensifica o processo de descentralização: criação de regras para habitação dos
municípios de acordo com a capacidade e desempenho dos municípios;

27
 Habilitação pela NOB 96: gestão plena da atenção básica e gestão plena do
sistema municipal;
 Definição dos papeis das instancias de governo;
 Responsabilidade dos municípios pela saúde integral;
 Mudança na lógica de alocação de recursos;
 Prioriza a reorganização da atenção básica;
 Introduz inovações na gestão dos sistemas: Programação Pactuada Integrada
(PPI);
 Piso Assistencial Básico (PAB): montante de recursos, per capita, destinados à
atenção básica;
 Incentivos vinculados à Vigilância epidemiológica e sanitária;
 PAB variável; incentivo acrescido ao PAB para implantação de programas como
PACS/PSF.

NOAS 01/2001

 Objetivo geral: promover maior equidade na alocação de recursos e no acesso da


população às ações de saúde em todos os níveis de atenção;
 Fundamentos da regionalização:
1. Integração entre sistemas municipais;
2. Papel coordenador e mediador de gestor estadual;
 Três grupos de estratégias articuladas:
1. Regionalização e organização da assistência;
2. Fortalecimento da capacidade de gestão do SUS;
3. Revisão de critérios de habitação de municípios e estados;
 Adota a estratégia da regionalização como re-orientadora do processo de
descentralização.

EMENTA CONSTITUCIONAL No 29

 Editada em 13/09/2000;
 Assegura a coparticipação da união, Estados, DF e municípios no financiamento
das ações e serviços públicos de saúde;
28
 Estabelece percentuais mínimos das receitas de cada um a serem aplicados em
ações e serviços públicos de saúde, até o exercício de 2004;
 Resulta no aumento e na maior estabilidade dos recursos destinados à saúde.

PACTO PELA SAÚDE


 Publicado na Portaria/GM n 399, de 22 de fevereiro de 2006, contempla o
pacto firmado entre os gestores do SUS, em três dimensões: pela vida, em
defesa dos SUS e de gestão;
 Principais mudanças:
1. Substituição do atual processo de habilitação pela adesão solidária aos termos de
compromisso de gestão;
2. Regionalização solidária e cooperativa como eixo estruturante do processo de
descentralização;
3. Integração das várias formas de repasse dos recursos federais;
4. Unificação dos vários pactos hoje existente.

I – PACTO PELA VIDA

 É o compromisso entre os gestores do SUS em torno de prioridades que


apresentam impacto sobre a situação de saúde da população;
 Prioridades pactuadas:
1. Saúde do Idoso (pessoa com 60 anos ou mais);
2. Controle do câncer do colo do útero e da mama;
3. Redução da mortalidade infantil e materna;
4. Fortalecimento da capacidade de resposta às doenças emergentes e endemias,
com ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza.
5. Promoção da saúde;
6. Fortalecimento da Atenção Básica

II – PACTO EM DEFESA DO SUS

 Articulação e apoio à mobilização social pela promoção e desenvolvimento da


cidadania;

29
 Estabelecimento de diálogo com a sociedade;
 Ampliação e fortalecimento das relações com os movimentos sociais;
 Elaboração e publicação da Carta dos Direitos dos Usuários do SUS;
 Regulamentação da EC n 29 pelo Congresso Nacional;
 Aprovação do orçamento do SUS, composto pelos orçamentos das três esferas de
gestão.

III – PACTO DE GESTÃO

 Diretrizes para a gestão do sistema nos aspectos da:


1. Descentralização
2. Regionalização
3. Financiamento
4. Planejamento
5. Programação Pactuada e Integrada
6. Regulação
7. Participação e Controle Social
8. Gestão do trabalho
9. Educação na Saúde.

NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE

ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE

 Compreende um conjunto de ações, de caráter individual e coletivo, que engloba


a promoção da saúde, a prevenção de agravos, o tratamento e a reabilitação;
 Constitui o primeiro nível da atenção do Sistema Único de Saúde.
 É o contato preferencial dos usuários com os sistemas de saúde
Deve:
 Ser baseada na realidade local
 Considerar os sujeitos em sua singularidade, complexidade, integridade e
inserção sociocultural.
 Orientar-se:

30
 Pelos princípios do SUS: universalidade, equidade, integralidade, controle
social, hierarquização.
 Pelos princípios próprios: acessibilidade, vínculo, coordenação,
continuidade do cuidado, territorialização e a descrição de clientela,
responsabilização, humanização.

Fundamentos da Atenção Básica:

 Possibilitar o acesso universal e contínuo a serviços de saúde de qualidade e


resolutivos;
 Efetivar a integralidade em seus vários aspectos;
 Desenvolver relações de vínculo e responsabilização entre as equipes e a
população;
 Valorizar os profissionais de saúde por meio do estímulo e do acompanhamento
constante de sua formação e capacitação
 Realizar avaliação e acompanhamento sistemático dos resultados alcançados,
como parte do processo de planejamento e programação;
 Estimular a participação popular e o controle social.

NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE

 PRIMÁRIO: refere-se a promoção da saúde e a proteção específica;


 SECUNDÁRIO: é realizada no individuo sobre a ação de um agente patogênico;
 TERCIÁRIO: é a prevenção da incapacidade através de medidas de reabilitação.

Atenção Primária

É aquele nível de um sistema de serviço de saúde que oferece a entrada no


sistema para todas as novas necessidades e problemas;
Fornece atenção sobre a pessoa no decorrer do tempo, fornece atenção para
todas as condições, e coordena ou integra a ação fornecida em algum outro
lugar ou por terceiros. (Starfield, 2004)

31
A Atenção ou os Cuidados Primários de Saúde, como entendemos hoje,
constituem um conjunto integrado de ações básicas, articulado a um sistema
de promoção e assistência integral à saúde. (Aleixo,
2002)

VIGILÂNCIA SANITÁRIA

CONCEITO

Conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou


prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários
decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de
serviços de interesse da saúde, abrangendo:
 O controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com
a saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo;
 O controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente
com a saúde.

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

CONCEITO

“Conjunto de ações que proporciona o


conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer
mudança nos fatores determinantes e condicionantes de
saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de
prevenção e controle das doenças ou agravos.” (Lei 8.080/90)

OBJETIVOS

 Prevenir, controlar, eliminar ou erradicar doenças;


 Evitar ocorrência de casos, óbitos e sequelas, com repercussão negativa sobre a
sociedade e prestação de serviços de saúde.

32
FUNÇÕES

 Coleta de dados;
 Processamento de dados coletados;
 Análise e interpretação dos dados processados;
 Recomendação das medidas de controle apropriadas;
 Promoção das ações de controle indicadas;
 Avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas;
 Divulgação de informações pertinentes.

TIPOS DE DADOS

 Demográficos
 Ambientais
 Socioeconômicos
 Dados de morbidade
 Notificação de casos/surtos
 Dados de mortalidade

ROTEIRO PARA INVESTIGAÇÃO EM VE

 Dados de identificação
 Dados de anamnese e exame físico
 Diagnóstico (suspeitas diagnósticas)
 Informações sobre o meio ambiente (exposições)
 Informações sobre o ambiente de trabalho (exposições)
 Exposições
 Busca ativa de casos
 Busca de pistas

33
SISTEMAS DE ABRANGÊNCIA NACIONAL

SIM: Sistema de Informação de Mortalidade


SINASC: Sistema de Informação de Nascidos Vivos
SIH: Sistema de Informação Hospitalar
SIA: Sistema de Informação Ambulatorial
SINAN: Sistema de Informação sobre Agravos de Notificações

DADO INFORMAÇÃO

DADO ÚTIL

ANÁLISE

DECISÃO AÇÃO

8 - PROGRAMA DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE (PACS)

O exercício da atividade profissional de Agente


Comunitário de Saúde deve observar a Lei nº 10.507/2002,
que cria a profissão de Agente Comunitário de Saúde, o
Decreto nº 3.189/1999, que fixa as diretrizes para o
exercício da atividade de Agente Comunitário de Saúde, e
a Portaria nº 1.886/1997 (do Ministro de Estado da Saúde), que aprova as normas e
diretrizes do Programa de Agente Comunitário e do Programa de Saúde da Família.

34
ATIVIDADES REALIZADAS
Por meios de ações individuais ou coletivas, o agente comunitário de saúde
realiza atividade de prevenção de doenças e promoção da saúde sob supervisão do
gestor local do SUS (a Secretaria Municipal de Saúde).
Ao ACS deverá atender entre 400 e 750 pessoas, dependendo das
necessidades locais, e desenvolverá atividades de prevenção de doenças e promoção da
saúde por meio de ações educativas individuais e coletivas, nos domicílios e na
comunidade, sob supervisão competente, como:
 Visita no mínimo uma vez por mês cada família da sua comunidade;
 Identificar situação de risco e encaminhar aos setores responsáveis;
 Pesar e medir mensalmente as crianças menores de dois anos e registrar a
informação no Cartão da Criança;
 Incentivar o aleitamento materno;
 Acompanhar a vacinação periódica das crianças por meio do cartão de vacinação
e de gestantes;
 Orientar a família sobre o uso de soro de reidratação oral para prevenir diarréia e
desidratação em crianças;
 Identificar as gestantes e encaminhá-las ao pré-natal;
 Orientar sobre métodos de planejamento familiar;
 Orientar sobre prevenção da AIDS;
 Orientar a família sobre prevenção e cuidados em situação de endemias;
 Monitorar dermatoses e parasitoses em crianças;
 Realizar ações educativas referentes ao climatério;
 Realizar atividades de educação nutricional nas famílias e na comunidade;
 Realizar atividades de educação em saúde bucal na família com ênfase no grupo
infantil;
 Supervisionar eventuais competentes da família em tratamento domiciliar e dos
pacientes com tuberculose, hanseníase, hipertensão, diabetes e outras doenças
crônicas;
 Realizar atividades de prevenção e promoção da saúde do idoso;
 Identificar portadores de deficiência psicofísica com orientação aos familiares para
apoio necessário no próprio domicílio.

35
FUNCIONAMENTO
 Residir na própria comunidade
 Idade mínima de 18 anos;
 Saber ler e escrever;
 Ter disponibilidade de tempo integral par exercer suas atividades.

9 - ESTRATÉGIA OU PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA


– ESF/PSF

1. Introdução
O Ministério da Saúde criou, em 1994, o
Programa Saúde da Família (PSF). Seu principal propósito
é reorganizar a prática da atenção à saúde em novas
bases e substituir o modelo tradicional, levando a saúde
para mais perto da família e, com isso, melhorar a
qualidade de vida dos brasileiros.
A estratégia do PSF prioriza as ações de prevenção, promoção e recuperação
da saúde das pessoas, de forma integral e contínua. O atendimento é prestado na
unidade básica de saúde ou no domicílio, pelos profissionais (médicos, enfermeiros,
auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde) que compõem as equipes
de Saúde da Família. Assim, esses profissionais e a população acompanhada criam
vínculos de corresponsabilidade, o que facilita a identificação e o atendimento aos
problemas de saúde da comunidade.
Diante dos ótimos resultados já alcançados, o Ministério da Saúde está
estimulando a ampliação do número de equipes de Saúde da Família no Brasil. E, para
isso, é fundamental a mobilização das comunidades e dos prefeitos, pois só por
intermédio deles as portas dos municípios se abrirão para a saúde entrar.

Princípios Básicos do PSF


A estratégia do PSF incorpora e reafirma os princípios básicos do Sistema
Único de Saúde (SUS) - universalização, descentralização, integralidade e participação da
comunidade - e está estruturada a partir da Unidade Básica de Saúde da Família, que
trabalha com base nos seguintes princípios:

36
Integralidade e hierarquização
A Unidade de Saúde da Família está inserida no primeiro nível de ações e
serviços do sistema local de assistência, denominado atenção básica. Deve estar
vinculada à rede de serviços, de forma que se garanta atenção integral aos indivíduos e
famílias e que sejam asseguradas a referência e a contra-referência para clínicas e
serviços de maior complexidade, sempre que o estado de saúde da pessoa assim exigir.
Territorialização e cadastramento da clientela
A Unidade de Saúde da Família trabalha com território de abrangência
definido e é responsável pelo cadastramento e o acompanhamento da população
vinculada a esta área. Recomenda-se que uma equipe seja responsável por, no máximo,
4.500 pessoas.

Equipe multiprofissional
Cada equipe do PSF é composta, no mínimo, por um médico, um enfermeiro,
um auxiliar de enfermagem e de quatro a seis agentes comunitários de saúde (ACS).
Outros profissionais - a exemplo de dentistas, assistentes sociais e psicólogos - poderão
ser incorporados às equipes ou formar equipes de apoio, de acordo com as necessidades
e possibilidades locais. A Unidade de Saúde da Família pode atuar com uma ou mais
equipes, dependendo da concentração de famílias no território sob sua
responsabilidade.

Como começou o PSF


A estratégia do PSF foi iniciada em junho de 1991, com a implantação do
Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Em janeiro de 1994, foram
formadas as primeiras equipes de Saúde da Família, incorporando e ampliando a
atuação dos agentes comunitários (cada equipe do PSF tem de quatro a seis ACS; este
número varia de acordo com o tamanho do grupo sob a responsabilidade da equipe,
numa proporção média de um agente para 575 pessoas acompanhadas).
Funcionando adequadamente, as unidades básicas do programa são capazes
de resolver 85% dos problemas de saúde em sua comunidade, prestando um
atendimento de bom nível, prevenindo doenças, evitando internações desnecessárias e
melhorando a qualidade de vida da população.

37
Como funciona o PSF
Atribuições dos membros das equipes:

Médico:

Atende a todos os integrantes de cada família, independente de sexo e idade,


desenvolve com os demais integrantes da equipe, ações preventivas e de promoção da
qualidade de vida da população.

Enfermeiro:

Supervisiona o trabalho do ACS e do Auxiliar de Enfermagem, realiza


consultas na unidade de saúde, bem como assiste às pessoas que necessitam de
cuidados de enfermagem, no domicílio.

Técnico/Auxiliar de enfermagem:

Realiza procedimentos de enfermagem na unidade básica de saúde, no


domicílio e executa ações de orientação sanitária.

Agente Comunitário de Saúde:

Faz a ligação entre as famílias e o serviço de saúde, visitando cada domicílio


pelo menos uma vez por mês; realiza o mapeamento de cada área, o cadastramento das
famílias e estimula a comunidade.

Cada equipe é capacitada para:

 Conhecer a realidade das famílias pelas quais é responsável, por meio de


cadastramento e diagnóstico de suas características sociais, demográficas e
epidemiológicas;
 Identificar os principais problemas de saúde e situações de risco aos quais a
população que ela atende está exposta;
 Elaborar, com a participação da comunidade, um plano local para enfrentar os
determinantes do processo saúde/doença;
 Prestar assistência integral, respondendo de forma contínua e racionalizada à

38
demanda, organizada ou espontânea, na Unidade de Saúde da Família, na
comunidade, no domicílio e no acompanhamento ao atendimento nos serviços
de referência ambulatorial ou hospitalar;
 Desenvolver ações educativas e intersetoriais para enfrentar os problemas de
saúde identificados.

Como implantar o PSF


A implantação do Programa Saúde da Família depende, antes de tudo, da
decisão política da administração municipal, que deve submeter a proposta ao Conselho
Municipal de Saúde e discutir o assunto com as comunidades a serem beneficiadas. O
Ministério da Saúde, juntamente com as Secretarias Estaduais de Saúde, está
empenhado em dar todo o apoio necessário à elaboração do projeto e à sua
implantação, que começa com as seguintes etapas:
 Identificar as áreas prioritárias para a implantação do programa; mapear o
número de habitantes em cada área;
 Calcular o número de equipes e de agentes comunitários necessários;
 Adequar espaços e equipamentos para a implantação e o funcionamento do
programa;
 Solicitar formalmente à Secretaria Estadual de Saúde a adesão do município ao
PSF;
 Selecionar, contratar e capacitar os profissionais que atuarão no programa.

10 - DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS

A relação de doenças denominadas crônico-degenerativas ou modernas é


bastante abrangente, mas a hipertensão arterial, as doenças cardiovasculares (DCV) e o
Diabetes mellitus serão especialmente estudados, devido às altas taxas de sua incidência
e prevalência em nosso país.
Essas doenças podem ser prevenidas se houver ações educativas que trabalhem
com a perspectiva de modificar o estilo de vida pouco saudável. Para o diabetes, estima-
se que metade dos casos novos poderia ser evitado com o controle do excesso de peso;
outros 30% seriam evitados com o combate ao sedentarismo.

39
Além disso, os fatores relacionados à sua ocorrência são semelhantes e, em geral,
encontram-se presentes de forma associada.
Entre estes, destacam-se o estresse decorrente da industrialização e do
desenvolvimento econômico, o aumento da idade da população, os distúrbios
dietéticos, a obesidade, o sedentarismo, o consumo de álcool, o tabagismo, a
drogadição, a ocupação ou o trabalho dos indivíduos.
Para reafirmar a importância de desenvolvermos ações com o objetivo de
prevenir e controlar tais doenças, citamos alguns estudos recentemente elaborados que
apontam que a mortalidade proporcional por Diabetes mellitus vem crescendo desde a
metade do século XX em todo o Brasil. Esses estudos registram, ainda, que a hipertensão
arterial estaria relacionada a um aumento da mortalidade devido às doenças cérebro-
cardiovasculares. O desenvolvimento de programas educativos poderia reduzir o
número de internações causadas por doenças crônicas não transmissíveis.

Estratégias para o controle das doenças crônico-degenerativas

No cenário da saúde coletiva no Brasil, as atividades relacionadas ao controle da


hipertensão arterial e do diabetes são operacionalizadas através do Programa Nacional
de Controle da Hipertensão Arterial e Programa Nacional de Controle do Diabetes.
As atividades desenvolvidas nas unidades básicas de saúde objetivam a captação
dos clientes hipertensos e diabéticos pela adoção de uma estratégia de verificação dos
níveis de pressão arterial em qualquer indivíduo assistido cuja idade seja maior ou igual
a 20 anos, e de verificação de glicosúria em indivíduos com idade igual ou superior a 30
anos.
Para a confirmação de um caso de hipertensão, faz-se necessário realizar três
verificações consecutivas, em dias alternados. Os valores das pressões sistólica e
diastólica estão especificados no quadro a seguir.
Pressão Diastólica Pressão Sistólica Tipo de Hipertensão Arterial
Menor que 85 Menor que 130 Normal
Entre 85 e 89 Entre 130 e 139 Normal limítrofe
Entre 90 e 99 Entre 140 e 159 Hipertensão leve (estágio 1)
Entre 100 e 109 Entre 160 e 179 Hipertensão moderada (estágio 2)
Maior ou igual a 110 Maior que 180 Hipertensão grave (estágio 3)
Menor que 90 Maior ou igual a 140 Hipertensão sistólica isola

40
Para a captação de clientes diabéticos, podem ser utilizadas estratégias de
campanha de verificação de glicemia capilar ou de verificação de glicosúria.
É importante desenvolver atividades no ambiente domiciliar, porque neste
cenário tem-se a oportunidade de observar a realidade na qual as pessoas vivem e se
relacionam, detectando fatores relacionados à ocorrência de hipertensão e diabetes,
como tabagismo, dieta inadequada, sedentarismo e outros. Assim, é possível discutir
com a clientela as modificações que produzirão benefícios para a saúde.
Uma vez inscritos nas atividades dos programas, os clientes submetem-se a
avaliações periódicas que, além da pressão arterial, incluem verificação de peso corpóreo
e realização de alguns exames complementares, como eletrocardiograma, bioquímica
do sangue, urinálise, solicitados de acordo com o problema apresentado. Os clientes
passam a receber os medicamentos necessários ao controle das doenças (drogas
hipotensoras, hipoglicemiantes orais, insulina injetável), de acordo com a relação de
medicamentos constantes da farmácia básica.
Os tratamentos da hipertensão arterial e do diabetes baseiam se na adoção de
medidas farmacológicas, utilizando-se de drogas, e não farmacológicas, através de dietas
e atividade física, entre outras medidas.
É importante sensibilizar o cliente para a importância da adesão ao tratamento,
garantindo melhores resultados através de atividades coletivas ou individuais de
educação em saúde, seja com discussão em grupos, cartazes, campanhas. A não adesão
ao tratamento é fator decisivo para a piora do estado do cliente, que deve ser informado
quanto à possibilidade de complicações das doenças.
As atividades de educação em saúde em grupo favorecem o esclarecimento de
dúvidas comuns a todos e a reflexão em conjunto sobre os estilos de vida que poderão
trazer maiores benefícios para todos.
Quanto mais descontraídos estiverem os participantes, melhor será o andamento
das atividades. Nesse sentido, as atividades ao ar livre são bem-vindas, pois oferecem
oportunidades de lazer associadas à promoção da saúde.
Nas atividades de acompanhamento aos clientes e educação em saúde, as
seguintes medidas terapêuticas não farmacológicas devem ser abordadas:
– restrição ou eliminação de hábitos pouco saudáveis (alcoolismo, tabagismo,
drogadição);
– necessidade de prática regular de exercícios físicos;

41
– redução do consumo de café;
- ingestão de dieta pobre em sal e gorduras e, no caso do diabetes, restrição do
consumo de carboidratos;
– manutenção de peso corpóreo próximo ao ideal;
– inclusão de atividades de lazer no cotidiano;
– cuidados com os pés dos clientes diabéticos, que devem ser mantidos limpos e secos;
após o banho, os pés devem ser hidratados com uma loção, evitando passa-la entre os
dedos (para evitar a umidade); os pés devem ser atentamente examinados todos os dias,
pesquisando-se a existência de feridas ou cortes não anteriormente percebidos;
preferencialmente, usar sapatos fechados, confortáveis, e sempre examiná-los por dentro
antes de calçá-los; ao observar qualquer alteração na coloração dos pés ou ferimento, tal
fato deve ser notificado ao profissional que acompanha o caso.
– para os diabéticos insulinodependentes: cuidados na conservação e na
autoadministração de insulina.
Os profissionais de enfermagem que atuam nos programas de controle do
diabetes e hipertensão devem desenvolver os seguintes cuidados: verificação da pressão
arterial, aferição do peso para auxiliar no seu controle; realização dos curativos em
clientes diabéticos com lesões; orientação, acompanhamento da autoadministração de
medicamentos via orais ou injetáveis; verificação dos níveis de glicemia capilar;
realização de visitas domiciliares aos clientes faltosos ou necessitados de cuidados
domiciliares; organização e participação das atividades em grupo; organização da
agenda para o retorno dos clientes às consultas necessárias ao seu acompanhamento.

DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS E SEUS AGENTES CAUSADORES

História Natural da Doença

A descrição da estrutura
epidemiológica do agravo compreendendo as
inter-relações entre agente, hospedeiro e
ambiente se define como a história natural da
doença. Deve-se ter presente que os elementos
essenciais, e originariamente derivados do estudo

42
das doenças transmissíveis, podem ser considerados também para outros tipos de
agravos a saúde.
Os fatores pré-existentes ao desencadeamento do processo, ou seja, que
constituí o agravo ou doença é denominado período pré-patogênico. A este se segue a
possibilidade de ocorrência do estímulo que irá desencadear o período patogênico, o
qual por sua vez, poderá ser imediato, como nos acidentes e mediato, como nas
moléstias evolutivas.
Neste último caso segue-se a fase silenciosa, sob o ponto de vista sintomático,
mas, durante a qual evoluem as reações orgânicas até chegarem a se exteriorizar através
das manifestações clínicas, ou seja, o período da incubação ou pré-clínico, a este se
sucede o período clínico, o qual poderá evoluir para uma de três direções, a cura, a
sequela ou a morte. Para o clínico, o doente é o indivíduo com sintomas, e que solicita
atenção médica e sua função é cuidar dos casos que atingem um horizonte clínico.
Para o epidemiologista, que tem como função pesquisar a incidência das
doenças na população e determinar o modo ideal de combatê-las, há interesse em todas
as formas de enfermidades: a clínica, a sub-clínica e a inaparente. Seu interesse maior é
dirigido para os casos que estão abaixo do horizonte clínico, como o caso dos
portadores.

Doenças Transmissíveis e Doenças Não Transmissíveis


As doenças que ocorrem numa comunidade podem ser separadas em dois
grupos: as doenças transmissíveis e as doenças não transmissíveis. As doenças
transmissíveis são capazes de "passar" de um homem para outro homem ou de um
animal para o homem. Portanto, são doenças que as pessoas "pegam" de outras pessoas
ou por causa de um animal.

O sarampo, a tuberculose, a esquistossomose, a sífilis, a


poliomielite, a difteria, a coqueluche, são doenças transmissíveis.

O reumatismo, o câncer, a asma, a desnutrição, o bócio são doenças não


transmissíveis. Elas não se transmitem de uma pessoa para outra.
Às vezes, uma doença, por ter mais de uma causa, tanto pode ser
transmissível como não transmissível. E o que acontece com a diarréia, a pneumonia e
outras.
43
Os Agentes Causadores de Doenças Transmissíveis
Para ocorrer uma doença transmissível é necessário que um agente infeccioso
penetre no corpo de um indivíduo e se desenvolva nos seus tecidos. Esses agentes são
seres vivos e muitos deles são tão pequenos que não podem ser vistos sem a ajuda de
um microscópio. Popularmente são chamados de micróbios ou germes. Mas existem
também os vermes, que são seres maiores e facilmente reconhecíveis.
Vejamos os principais tipos de agentes infecciosos e algumas das doenças
que provocam:
Bactérias - (micróbios
pertencentes ao reino protista)
causam a tuberculose, a difteria,
o tétano, a coqueluche, certas
diarreias, a sífilis, a hanseníase,
meningite, etc.

Protozoários -
(micróbios pertencentes ao
reino animal) causam a malária,
a doença de Chagas, a
amebíase, o calazar, a giardíase.

Metazoários - (micróbios pertencentes ao reino animal) causam a


esquistossomose (barriga d'água), ascaridíase, etc.

Fungos - causam a impingem, o pano-branco, as micoses, o sapinho, as


"frieiras", pneumonias, diarreias, etc.

Vírus - micróbios menores que as bactérias e que não são vistos pelos
microscópios comuns. Causa o sarampo, a catapora, a gripe, a rubéola, a poliomielite, a
hepatite, a herpes, a raiva, meningite, febre amarela, etc.

O homem no qual penetrou um desses agentes de doença é chamado


hospedeiro. Quando o agente chega ao hospedeiro se desenvolve e se multiplica em

44
seus tecidos, ocorre uma infecção. Por isso, essas doenças são também denominadas de
infecciosas. Grande parte dessas doenças infecciosas são transmissíveis e conhecidas
como doenças contagiosas. Podemos deduzir que todas as doenças contagiosas são
infecciosas, porém nem todas as doenças infecciosas são contagiosas, como por
exemplo, o tétano.
Assim, o hospedeiro é uma pessoa ou animal, inclusive aves e insetos em que
se aloja e subsiste um agente infeccioso. Quando este agente sai do hospedeiro e
infecta outra pessoa ou animal, este hospedeiro passa a ser uma fonte de infecção.

Porta de Entrada, Localização e Porta de Saída.


Os agentes infecciosos penetram no corpo humano através de uma porta de
entrada e localizam-se em determinados órgãos até serem eliminados através de uma
porta de saída. As principais portas de entrada dos agentes infecciosos são as seguintes:

a) Via Digestiva - os agentes penetram através da boca, com os alimentos e a água:


vírus da poliomielite, ovos de lombrigas, ovos de tênia (solitária), bactérias
da diarréia infecciosa, vírus da hepatite A, poliomielite, cistos de amebas e
outros;

b) Via Respiratória - os agentes infecciosos são inalados através do nariz, penetrando


no corpo, portanto, através do processo de respiração: bactéria da
tuberculose pulmonar, vírus da gripe, vírus do sarampo, o da catapora e da
poliomielite, bactéria da coqueluche e da difteria (crupe) e outros;

c) Pele - os agentes infecciosos penetram também devido ao contato da pele com o


solo ou água que os contenham, através da picada de insetos, de injeções
e transfusão de sangue ou do contato direto com a pele de outra pessoa
doente: larvas de ancilostoma e de esquistossomose, o carrapato da
escabiose (sarna), os protozoários da malária e da doença de Chagas, os
vírus da hepatite B, da AIDS, da febre amarela, do dengue, da raiva e
outros;

d) Vias genital e urinária - os agentes infecciosos penetram através dos órgãos


sexuais: bactérias da sífilis e da gonorreia, vírus da hepatite B e AIDS e de

45
outras infecções urinárias.

Doenças sexualmente transmitidas ou DSTs, são doenças infecciosas que


podem ser disseminadas através do contato sexual. Algumas podem também ser
transmitidas por vias não sexuais, porém formas não-sexuais de transmissão são
menos frequentes. Estima-se que de 10 a 15 milhões de americanos tenham doenças
sexualmente transmitidas, muitos dos casos são epidêmicos, incluindo gonorréia,
inflexão da uretra não causada pela gonorréia, herpes genital, candiloma, scabics
(mites) e infecções na uretra e na vagina causadas pela bactéria Chlamydia
trachomatis, pelo protozoário Trichomas e pelo fungo monilia. Vários estudos
mostram que as doenças sexualmente transmitidas afetam pessoas de ambos os
sexos, de todas as raças e de todos os níveis sociais nos Estados Unidos.

Um grande número de infecções são transmitidas predominantemente ou


exclusivamente por contato sexual. Além das doenças epidêmicas que foram citadas
acima, podemos incluir a sífilis, o chato (pediculosis pubis), infecção vaginal causada
pela bactéria Hemophilus e muitas outras. DSTs podem ser causadas por uma grande
variedade de organismos, tais como o protozoário Trichomonas, a levedura
causadora de moniliasis, bactérias causadoras da gonorréia e da sífilis e o vírus que
causa a herpes genital.

TRANSMISSÃO
A transmissão de todas estas doenças só ocorre através do contato íntimo com
a pessoa infectada, porque todos os organismos causadores morrem rapidamente se
forem removidos do corpo humano. Apesar da área de contato ser normalmente as
genitais, a prática de sexo anal e oral pode também causar infecções. Gonorréia, sífilis
e infecção clamidial podem ser transmitidas de um portadora grávida ao filho que
está sendo gerado, tanto através do útero como através do parto.

Apesar das doenças venéreas se manifestarem na genitália externa, elas


podem atingir a próstata, o útero, os testículos e outros órgãos internos. Algumas
dessas infecções causam apenas uma irritação local, coceira e uma leve dor, porém a
gonorréia e clamídia podem causar infertilidade em mulheres.

46
CONTROLE
A natureza epidêmica das doenças sexualmente transmitidas as torna de difícil
controle. Algumas autoridades em saúde pública atribuem o aumento no número de
casos destas doenças ao aumento de atividade sexual. Outro fator que também
contribui significativamente é a substituição do uso de camisinha (condom) - que
oferece alguma proteção - por pílulas e diafragmas com métodos anticonceptivos. Os
padrões das doenças sexualmente transmitidas são bastante variáveis. Enquanto a sífilis
e a gonorréia eram ambas epidêmicas, o uso intensivo de penicilina fez com que a
freqüência da sífilis caísse para um nível razoavelmente controlado; a atenção voltou-se
então ao controle da gonorréia, foi quando a freqüência da sífilis aumentou novamente.
Os casos de herpes genital e clamídia também aumentaram durante a década de 70 e
durante o início da década de 80.

O tratamento de doenças sexualmente transmissíveis é feito basicamente com


antibióticos. A penicilina tem sido uma droga eficiente contra a sífilis e a gonorréia,
porém muitos dos organismos causadores da gonorréia são hoje resistentes à
penicilina; usa-se nestes casos o ceftriaxone ou a spectinomicine. A tetraciclina é
usada para tratar o linfogranuloma venéreo, o granuloma inguinale e a uterite
clamidial. Existem tratamentos específicos para a maioria das doenças sexualmente
transmitidas, com exceção do molluscum contagiosum. A droga antivirus aciclovir
tem se mostrado útil no tratamento da herpes.

A única forma de se prevenir a dispersão das doenças sexualmente


transmitidas é através da localização dos indivíduos que tiveram contato sexual com
pessoas infectadas e determinar se estes também necessitam tratamento. Localizar a
todos, entretanto, é bastante difícil, especialmente porque nem todos os casos são
reportados.

AIDS (SIDA) e a hepatite B são transmitidas através do contato sexual, porém


estas doenças podem também ser transmitidas de outras formas.

Condiloma (HPV)

Condiloma é a designação genérica do Papilomavírus Humano. Outros


denominações

47
como condilomatose, condiloma acuminado e crista de galo também podem ser
usadas. A exemplo do herpes, o condiloma tem períodos de latência (remissão)
variáveis de um indivíduo para o outro. Causam lesões verrugosas, a princípio
microscópicas e de difícil visualização a olho desarmado, que vão lentamente
crescendo como lesões sobrepostas umas às outras, formando a designação popular
de crista de galo. Podem chegar, em indivíduos com higiene precária, a lesões
coalescentes e grandes como a palma da mão de um adulto. Seu contágio é quase
que exclusivamente sexual (gênito-genital, oro-genital ou gênito-anal) e sua
manifestação depende da imunidade do contaminado.

O diagnóstico faz-se por penoscopia direta (coloração especial que tinge as


lesões condilomatosas quando presentes) e sempre que possível, biópsia para
confirmar-se a suspeita clínica. Uma vez diagnosticado o condiloma, o tratamento é
quase sempre é cirúrgico por uma destas
modalidades: eletrocauterização ou eletrofulguração, que consiste em queimar as
lesões ou a exerése das lesões que serão mandadas para exame anatomopatológico,
fazendo-se assim a biópsia e o tratamento ao mesmo tempo. Muitas vezes os dois
métodos são utilizados em conjunto, nas lesões extensas. A cauterização química com
ácidos orgânicos que também queimam as lesões, têm uma série de contraindicações
e complicações que me levaram a quase descartá-lo para uso rotineiro.

O cliente com condilomatose deve ser alertado para a possibilidade de


recidivas após os tratamentos, como se lesões latentes esperassem a hora certa para
aparecer. Não raro estes clientes terão repetidas sessões de terapia. Também é
importante salientar que no homem o condiloma é apenas uma lesão esteticamente
feia, mas na mulher é precursor do câncer de colo do útero, uma doença grave.
Portanto, tratar o homem é prevenir uma complicação séria para a mulher. Nestes
casos, frequentemente recebemos o homem para penoscopia por solicitação
do ginecologista da esposa, que diagnosticou displasia do colo de útero e suspeita de
condiloma como agente causador.

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Herpes
Os vírus herpes simples (VHS) tipo 1 e tipo 2 são
ambos da família herpesvirus humanos, a qual ainda inclui
ocitomegalovírus, o Epstein-Barr vírus, varicela zoster vírus
e herpesvirus humanos específicos (Kaposi). A principal
característica dos herpesvírus é a de produzir infecções
latentes, potencialmente recorrentes. A latência se
desenvolve a partir da sobrevivência do material genético
do vírus dentro de células hospedeiras, sem produção de partículas infectantes.

A infecção genital pelo VHS é adquirida a partir do contato de superfícies


cutâneas (pele) ou mucosas genitais com os vírus infectantes. Sendo um parasita
celular obrigatório (é desativado pela perda de umidade à temperatura ambiente), é
pouco provável que se transmita por aerossol (gotas microscópicas) ou fômites (peças
de vestuário íntimo, assento do vaso sanitário, papel higiênico, etc.), sendo o contato
sexual, orogenital ou genito-anal e gênito-genital, o modo habitual de transmissão.

Acredita-se, a exemplo de outras infecções genitais, que o VHS penetre no


corpo humano por pequenas escoriações (raspados) ou fissurasna pele ou mucosas,
resultante do ato sexual. Após sua infecção, o VHS é transportado através dos
neurônios (nervos), com isto podendo variar seus locais de recidiva. Na infecção inicial
a gravidade das lesões será diretamente proporcional à imunidade da pessoa, disto
também dependerá a freqüência e gravidade das recidivas. A pessoa que teve
infecção anterior pelo VHS oral poderá ter uma infecção pelo VHS genital atenuada
(menos grave) pela presença de anticorpos cruzados.

Não existe até o presente momento, cura para qualquer tipo de herpes. Todo o
tratamento proposto visa aumentar os períodos de latência em meses e até anos. A
partir de diagnóstico clínico e laboratorial, medidas higiênicas devem ser tomadas
para o indivíduo e sua/seus parceiros sexuais. Em mulheres grávidas, maiores
cuidados em relação ao feto devem ser adotados, mesmo que o diagnóstico não
tenha sido na gestante e sim no seu parceiro sexual. Este, infectado, deve evitar o
coito durante a gravidez ou fazê-lo de modo seguro.

Como adquiri isto ? Pergunta freqüente de consultório, sempre implicando


em "infidelidade". Esta pode estar presente, sem dúvida, mas grande parte dos
49
infectados é assintomático até sua primeira crise herpética, num intervalo que pode
ser de muito tempo e depois de vários relacionamentos amorosos.

Lembro aqui que o perigo maior de contágio está nas lesões por recorrência
quando então o indivíduo deve se proteger para não transmitir durante a atividade
sexual.

Fatores que baixam a imunidade, como gripes ou resfriados e o stress podem


contribuir para tornar as recidivas mais frequentes. Por isto pacientes aidéticos podem
ser cronicamente molestados por esta doença. Não há evidências médicas de relação
do herpes com qualquer tipo de câncer humano.

Uretrites
É a designação genérica para processos inflamatórios ou
infeciosos da uretra (canal que conduz a urina da bexiga para o
meio externo, ao urinarmos) masculina e feminina.

Secreção uretral na uretrite


Os sintomas da uretrite compreendem: a descarga uretral(secreção) que varia de
acordo com o agente etiológico, desconforto urinário sob forma
de ardência e/ou dor para urinar às vezes sensação de "coceira" na parte terminal da
uretra (perto do meato urinário na glande peniana). Estes três principais sintomas
podem variar de intensidade de acordo com a doença.

As uretrites inflamatórias (sem a participação de germes), em grande parte, são


originadas pelo trauma externo, como por exemplo o hábito de ordenhar a uretra
após urinar, ou hábito masturbatório, lembrando aqui que a uretra é uma estrutura
bastante superficial e sensível. O trauma interno, como aquele que ocorre
após manipulação com instrumentos ou sondas, também pode originar uma uretrite
inflamatória, que deverá receber tratamento sintomático adequado.

Na maior parte das vezes o urologista vai preferir tratar o casal, mesmo que o
(a) parceiro (a) não apresente sintomas importantes. Como sequelas das complicações
das uretrites mal conduzidas, podemos citar infertilidade e as estenoses de uretra.

50
Candidíase
É a infecção causada pela Cândida albicans, e não é
obrigatoriamente uma DST.

No homem, balanopostite ou postite por cândida e na


mulher, vaginite ou cervicite por cândida. É um fungo que
habita normalmente nosso organismo, tendo a função
de saprófita (alimenta-se de restos celulares) no aparelho
genital. Como qualquer outra micose, gosta de ambientes quentes e úmidos, como
a vagina e o prepúcio. No homem, o microtraumatismo peniano que resulta de uma
relação sexual pode ser o suficiente para desencadear o processo de instalação de uma
balanopostite por cândida, que com certeza vai incomodar seu portador. Surge já nas
primeira horas uma ardência ao contato com secreção vaginal ou à própria urina, bem
como a pele torna-se avermelhada,brilhante e friável (descama com facilidade ao toque)
com um prurido (coceira) intensa. Na mulher, o sintoma mais importante é o prurido
vaginal ou dos lábios da vulva, seguido ou não por secreção vaginal (corrimento)
branco. No período menstrual, como há intensa descamação do endométrio e perda de
sangue (células mortas), há um aumento da população da cândida ( e outros saprófitas),
pois há uma quantidade maior de restos celulares a serem removidos do organismo.
Também, o uso prolongado de antibióticos, que não agem sobre os fungos, pode fazer
uma seleção destes, aumentando sua população no organismo (por exemplo, sapinho).
O contato sexual nestes dias pode resultar em candidíase em ambos os sexos. A
excessiva população de cândida acidifica ainda mais o ph vaginal, que é o que causa a
dor e a ardência genital em ambos os sexos.

A queixa pode surgir de qualquer dos sexos e como dito acima, é a cândida uma
habitante normal de nosso organismo, desde que não nos agrida. Portanto, não há a
menor possibilidade de erradicá-la definitivamente, uma vez que a adquiriremos
novamente horas após, pela dieta, pelo ambiente, convívio social, sexual, etc. O
tratamento visa principalmente alívio para os sintomas e diminuir a população do fungo
a uma quantidade que não agrida nosso organismo. O tratamento do casal é imperativo
e medidas higiênicas adequadas devem ser adotadas para seu controle efetivo.

Em alguns homens portadores de diabetes, pode ser necessária a remoção


cirúrgica do prepúcio (circuncisão), como uma medida profilática à balanopostite por

51
cândida. Ainda, o uso inadequado
de absorventes ou duchas vaginais possuem papel
importante na recidiva da candidíase da mulher.

Cancro
Também conhecido por cancróide, é uma DST aguda e
contagiosa, que se caracteriza por lesões
genitais ulceradas e dolorosas que evoluem com a supuração
(saída de pus) dos linfonodos (gânglios) inguinais.

É causada pelo Hemophilus ducreyi e o período de incubação é de 3 a 7 dias


após o contato sexual suspeito. Pequenas lesões avermelhadas e elevadas (pápulas) se
rompem e tornam-se úlceras rasas, com as bordas macias e com anel avermelhado ao
redor. Tais úlceras variam de tamanho e podem se agrupar (coalescentes), formando
uma lesão maior, intensamente dolorosa.

Os linfonodos inguinais se tornam dolorosos, aumentados de tamanho e


agrupados (bubão), sendo facilmente palpáveis. Forma-se aí o abscesso que pode
drenar através da pele da virilha.

Sífilis
Doença infecciosa causada pela bactéria Treponema pallidum e normalmente
transmitida através do contato sexual ou pelo beijo. A infecção através de objetos
contaminados é bastante rara, pois a bactéria morre em contato com o ar. Um feto
carregado por uma portadora de sífilis pode contrair a doença, condição denominada
de sífilis congênita.

Histórico
Acredita-se que a sífilis foi introduzida na Europa em 1493 por um grupo de
marinheiros retornando da primeira expedição de Cristovão Colombo à America. Já no
século XVI, a sífilis tornou-se a maior epidemia pública. O aspirilo, responsável pela
doença, foi descoberto somente em 1905, pelo zoologista alemão Fritz Schaudinn. Em
1906 o bacteriologista alemão August vom Wassermann desenvolveu o primeiro exame
de sangue para diagnosticar a doença. Em 1909 outro bacteriologista alemão, Paul
Ehrlich, desenvolveu o primeiro tratamento efetivo. Em 1943 a penicilina mostrou-se

52
bastante efetiva no combate à sífilis e até hoje continua sendo o medicamento preferido
para o tratamento dessa doença.

Intensos programas de saúde pública reduziram o número de casos reportados


nos Estados Unidos de 160.000 (1947) para 25.000 (1975), porém o número cresceu
para mais de 39.000 em 1988. Durante a década de 70, a maioria dos casos de sífilis
em homens ocorreu em homossexuais, entretanto o aumento no número de casos
durante a década de 80 aparenta ser em indivíduos heterossexuais. Este fato
aumenta a incidência da sífilis congênita, que causa um grande índice de mortalidade
infantil. Pessoas portadoras de AIDS (SIDA) têm maiores chances de desenvolver
sérias formas de sífilis e a sofrerem recaídas após tratamentos que normalmente
curam a doença.

Estágios e Sintomas
O primeiro estágio da sífilis é caracterizado por uma pequena lesão, que
aparece na região de contágio, de três a seis semanas após a contração. Os fluidos
oriundos dessa lesão são extremamente infecciosos. Em um segundo estágio, que
manifesta-se cerca de seis semanas mais tarde, ocorre um repentino aparecimento de
lesões. Úlceras doloridas desenvolvem-se na boca, assim como em várias regiões do
corpo; lesões em forma de pequenas protuberâncias, também altamente infecciosas,
podem aparecer na região genital; dores de cabeça, febre e inchamento das
glândulas linfáticas são, algumas vezes, observados. Estes sintomas normalmente
desaparecem de 3 a 12 semanas. A doença entra então em um estágio latente não
apresentando sintomas externos, porém as inflamações podem instalar-se em órgãos
internos. Este estágio latente pode durar de 20 à 30 dias. Em 75% dos casos não
ocorrem outros sintomas além dos já mencionados; entretanto, quando o estágio
final ocorre (sífilis terceira), nódulos enrijecidos podem se desenvolver em tecidos sob
a pele, nos tecidos mucosos e nos órgãos internos. Os ossos são frequentemente
afetados, assim como o fígado, os rins e outros órgãos viscerais. Infecção do coração e
dos principais vasos sanguíneos ocorrem em casos terminais. Em aproximadamente
15% dos casos de sífilis terceira ocorre o que é chamado neurosífilis, representado
pela perda do controle urinário, degeneração dos reflexos e perda da coordenação
muscular, que pode levar à paralisia. Durante este estágio, infecções no trato urinário
podem, em uma gravidez, levar ao aborto ou ao nascimento de uma criança
portadora de sífilis congênita. Crianças afetadas normalmente apresentam sinais
típicos como: testa grande, nariz seliforme e dentes mal formados. Perto da segunda
53
década da vida, tais crianças podem apresentar deterioração no sistema nervoso
central.

A sífilis é detectada através dos sintomas de um dos vários testes de sangue ou


de fluido da coluna espinhal. A droga mais usada no tratamento é a penicilina
benzatina que é ministrada em duas injeções separadas por uma semana de intervalo.
Quando se trata de neurosífilis, o antibiótico é ministrado três vezes por semana.

O controle da sífilis inclui localizar as pessoas que tiveram contato sexual com
portadores e tratar aquelas cujo contato se deu durante o período de contaminação.
O uso da camisinha oferece alguma proteção contra a sífilis.

Linfogranuloma Venéreo
 Etiologia - É causado pela Chlamydia trachomatis;

 Patogênese - A doença é contraída, exclusivamente, via transmissão sexual: sua


incidência é baixa, com maior prevalência no grupo etário de 15 a 30 anos. O
período de incubação varia de 1 a 3 semanas;

 Sintomatologia - Manifesta-se com lesão inicial de tipo pustuloso, frequentemente


despercebida. Em seguida, surge adenopatia inguinal, conhecida como bubão,
unilateral, que pode passar à fase supurativa. Nas mulheres, pode faltar a adenite
inguinal, mas é freqüente o acometimento dos gânglios pararretais. Pode haver
manifestações sistêmicas tais como mal-estar, febre, anorexia, dor pélvica, etc.;

 Diagnóstico laboratorial - Por bacterioscopia direta (coloração de Giemsa),


cultura, sorologia, imunofluorescência, intradermo-reação de Frei;

 Tratamento da adenite - repouso e calor local. Quando a adenite for maior que 5
cm, aspirar com agulha de grosso calibre; pode ser feita lavagem com antibiótico.

Donovanose
 Etiologia - É causada pela Calymmatobacterium granulomatis , patógeno Gram-,
anaeróbico facultativo;

 Patogênese - Transmissão sexual com período de incubação de 8 a 30 dias, mais


freqüente nas regiões tropicais. Sua maior incidência é no sexo masculino,

54
preferencialmente em homossexuais e indivíduos de baixas condições
socioeconômicas;

 Sintomatologia - Na maioria dos casos, a lesão inicial se localiza no prepúcio, sulco


balanoprepucial, vulva ou vagina. Geralmente indolor, inicia-se por pápulas que
coalescem e ulceram. Pode avolumar-se dando origem às formas "nodular" e
"elefantiásica";

 Diagnóstico laboratorial - É feito, principalmente, por exame direto - detecção


de C. granulomatis em esfregaços corados pelo Giemsa ou procurando os
corpúsculos de Donovan no interior do granuloma (método histopatológico);

 Tratamento - O tratamento tradicional é constituído por tetraciclina,


estreptomicina, cotrimoxanol, cloranfenicol. Nenhuma destas drogas deve ser
empregada por menos de três semanas.

Vaginose Bacteriana e Vulvovaginites


 Etiologia - Pode ser classificada em infecciosa e não infecciosa (causa hormonal,
agentes físicos e químicos, de contato, etc.) Na infecciosa os agentes mais comuns
são: Trichomonas vaginalis, Candida albicans, G. vaginalis, C. trachomatis, N.
gonorrhoeae;

 Patogênese - Em cada faixa etária, tende a aparecer um tipo específico de


Vulvovaginite. As vulvovaginites de causa hormonal aparecem principalmente na
infância, senescência e em usuárias de pílulas; as infecciosas são mais freqüentes
dos 15 aos 35 anos;

 Sintomatologia - Secreção abundante, com ou sem odor característico, de


consistência e cor variadas, prurido, edema, disúria;

 Diagnóstico laboratorial - Medidas gerais tais como abstinência sexual, higiene


genital, restauração do pH vaginal, uso de anti-inflamatórios por via sistêmica e
local. Conforme o agente atiológico, se usa terapia específica (trichomonas:
nitroimidazólicos; herpes vírus: antivirais; fungos: antifúngicos, por via oral ou
tópica);

55
Salpingite Aguda
 Etiologia - É causada pela disseminação ascendente, não relacionada a ciclo
gravídico-puerperal ou cirurgias, de microorganismo que, partindo da vagina,
acomete órgãos genitais superiores e/ou estruturas adjacentes (OMS,1986).
Conforme a localização, usa-se a seguinte terminologia:

 Salpingite - A mais freqüente e preocupante por suas sequelas: endometrite,


parametrite, salpigoforite, abscesso pélvico (tubo-ovariano);

Do ponto de vista etiológico, as Salpingites podem-se dividir em:


 infecção por germes causadores de DST (gonococo, clamídias, micoplasmas);

 infecções por organismos presentes na flora vaginal (estreptococos, estafilococos,


hemófilos, E.coli, anaeróbicos);

 infecções de etiologia desconhecida.

 Patogênese - A manifestação da salpingite aguda está relacionada com a


atividade sexual, particularmente com o número de parceiros sexuais;

 Sintomatologia - Dor pélvica, frequentemente relacionada com o início do ciclo


menstrual, disfunção menstrual, dispareunia, anorexia, náusea e vômito, dor à
palpação e mobilização do útero;

 Tratamento - Deve ser eficaz tanto contra os agentes das DSTs, como contra as
demais bactérias envolvidas, principalmente as anaeróbicas.

Tratar sempre o parceiro sexual

Em geral, os agentes infecciosos que penetram pela boca acabam por se localizar
na faringe e nos diversos órgãos do aparelho digestivo, especialmente os intestinos; e os
que penetram através da respiração vão se localizar na laringe, brônquios e pulmões.

Os agentes que infectam os pulmões e a parte superior das vias respiratórias são
expelidos através das pequenas gotas produzidas pelos mecanismos de tosse e espirros,
como também são expulsos através da expectoração. A porta de saída é, portanto, a
própria via respiratória.
Os que se alojam no tubo digestivo saem, em geral, através das fezes. Os que
circulam pelo sangue saem quando se realiza uma punção (por uma agulha de injeção
ou picada de inseto).

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Os que se localizam na pele, são expelidos devido a lesões (feridas abertas) ou
contato direto com objetos e a pele de outra pessoa. Finalmente, os que se encontram
nas vias genitais e urinárias são eliminados mediante o contato sexual ou pela urina.

12 - RELAÇÕES ENTRE OS SERES VIVOS

Os seres vivos se dividem em plantas e animais. As plantas (vegetais) diferem dos


animais porque são capazes de viver usando material do solo e a energia do sol para
produzirem todas as substâncias que necessitam. Não precisam alimentar-se de outros
seres vivos. São seres produtores e constituem a base de cadeias alimentares, que são
sequencias formadas por diferentes espécies que se alimentam umas das outras. Por
exemplo: um gafanhoto come plantas, é comido por rato, que será comido por um gato.
A reprodução e a dispersão das espécies dependem igualmente de relações
mútuas e com o ambiente. Plantas precisam de insetos para a sua fecundação; pássaros
que se alimentam de frutas espalham suas sementes; as fezes de herbívoros (animais que
comem capim) servem de adubo ao pasto. Nenhum ser vivo é capaz de sobreviver e
reproduzir-se independentemente dos outros ou ignorando as condições do ambiente.
Nesse coexistir, os seres estabelecem vários tipos de relação. O tipo de relação
que nos interessa sobremaneira é o parasitismo. Um parasita é um ser que vive de outro

57
ser, causando-lhe prejuízo. O dano que ele causa pode ir desde efeitos dificilmente
notados até a morte do hospedeiro, que é o ser vivo que sustenta o parasita.
A relação entre hospedeiro e parasita é o resultado de uma longa adaptação.
O parasita, ao extrair o seu sustento do hospedeiro não pode se esquecer das
consequências desta exploração. Pelo menos o hospedeiro deve viver um tempo
suficiente para que o parasita complete o seu ciclo reprodutivo, um parasita que mata
rapidamente seu hospedeiro corre o risco de morrer antes de se reproduzir.
Causar doenças graves também cria alguns problemas ao parasita (agente
infeccioso), porque as lesões graves, em geral, provocam uma forte reação de defesa do
hospedeiro, que pode levar à eliminação do organismo infectante. O parasita melhor
sucedido é, então, aquele que consegue tudo o que necessita para sobreviver, causando
um mínimo de injúria ao hospedeiro.
Outras formas de relacionamento entre seres vivos são o comensalismo, a
simbiose e a predação.
Na simbiose o benefício é mútuo, há vantagens para os dois seres que se
relacionam. As bactérias do tubo digestivo do homem são um exemplo deste tipo de
associação, pois se alimentam de substâncias ingeridas pelo homem, facilitando o
processo de digestão. O comensalismo é uma relação em que as vantagens são para um
dos seres sem que o outro seja prejudicado. A predação se caracteriza quando um
animal de maior porte se alimenta de outro.
Exemplo: gatos e ratos, ou onças e pacas.

Como as doenças transmissíveis são causadas por seres vivos elas são
exemplos de relação entre estes seres. Assim como os homens se relacionam entre si de
diversas maneiras, pacificamente ou não, harmonicamente ou não, relação de
cooperação ou de exploração, os animais, para cumprirem as suas necessidades básicas
de alimentação e reprodução, têm que se adaptar ao meio ambiente e conviver com
outras espécies.

12.1. Os Agentes De Doenças Infecciosas Como Parasitas


Doença transmissível ou infecciosa é aquela que pode ser transmitida, levada de uma
pessoa ou de um animal à outra pessoa. Todas as doenças infecciosas são causadas,
obrigatoriamente, por seres vivos, denominados agentes infecciosos. Estes
organismos vivos pertencem a diversos grupos: bactérias, vírus, fungos, vermes, etc.

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As bactérias, os vírus, os fungos e outros micro-organismos estão em todas as
partes: sobre a roupa, sobre a pele humana, no intestino, nas plantas, na água, no solo;
não há um só lugar onde eles não estejam presentes. Felizmente, para o homem, a
grande maioria desses micro-organismos é inofensiva e, às vezes, muito úteis.
Você sabe que a produção de cerveja, de coalhada, de pão, de sabão e de
outros produtos utiliza a capacidade de fermentação própria a esses pequeninos seres.
O homem faz uso dessas espécies não só para manter-se vivo como para proteger-se.
Por exemplo, extrai dos fungos substâncias, os antibióticos, que combatem as bactérias
de algumas doenças infecciosas.
Dos milhares de espécies de bactérias, fungos e protozoários, somente
algumas são patogênicas, isto é, provocam infecções sérias. Só algumas, portanto, são
parasitas.
Os parasitas prejudicam o homem através de diferentes mecanismos de ação.
Podemos citar alguns:

a) Ação tóxica - produzindo substâncias que prejudicam os tecidos do hospedeiro


(bactérias do tétano e da difteria).

b) Ação espoliativa - absorvendo elementos nutritivos e mesmo o sangue do


hospedeiro (o ancilostoma, por exemplo, que produz anemia no hospedeiro ao
sugar o sangue da parede do intestino).

c) Ação inflamatória local - irritando o local parasitado e lesando diretamente tecidos


em que se alojam (amebas e lombrigas no intestino).

Em relação aos micro-organismos, não há uma separação total entre os que são
maléficos ao homem e os que lhe são inofensivos. Assim, muitas das bactérias que vivem
normalmente no intestino humano, numa situação de comensalismo, podem provocar
uma infecção bastante prejudicial se chegam a atingir as vias urinárias. Em outras
circunstâncias, as amebas tipo coli, que são geralmente inofensivas vivendo no intestino
do homem normal, podem tomar-se causadoras de doença em pessoas debilitadas e
sem resistência.
Existem inúmeros micro-organismos, patogênicos (quer dizer, causadores de
doenças) que habitam normalmente a boca, a faringe e o tubo digestivo. Eles não

59
chegam a prejudicar o organismo humano porque seu número é pequeno e também
porque existem formas de defesa e de barreira que protegem o corpo contra sua
agressão.

12.2. Os Agentes Infecciosos no Meio Ambiente


As doenças se transmitem pela passagem destes agentes infecciosos do corpo de
uma pessoa para o de outra.
Estes são os elementos básicos da cadeia de transmissão das doenças infecciosas:
indivíduo doente, indivíduo são, agente infeccioso e ambiente. São eles determinados,
influenciados e ativados por fatores geográficos, ecológicos e sociais.
Como já foi visto anteriormente, os agentes infecciosos são expelidos para o meio
ambiente através das diferentes portas de saída; pelas vias respiratórias, fecal, pele e
assim por diante. Ao sair para o meio exterior, esses agentes passam a se localizar em
diversos elementos: podem ficar suspensos no ar envoltos em pequenas gotas
produzidas pela tosse e espirro; podem se misturar com a água e o solo, podem ainda,
permanecer nos objetes e utensílios que se usam no local de trabalho e na habitação.
A existência no ar, água, solo e objetos, de agentes infecciosos que permanecem
vivos e capazes de infectar outro hospedeiro, são denominados de contaminação, mais
precisamente, contaminação biológica.
Portanto, contaminação é o conceito que se refere à presença de agentes
infecciosos sobre elementos inanimados e sobre a superfície do corpo. Vejamos alguns
exemplos:

a) Os cistos de giárdia procedentes de uma latrina contaminam a água de um


riacho;
b) Os ovos de ancilóstoma de alguém que defeca sobre o chão contaminam
o solo;
c) A tosse de um paciente com meningite contamina o ar de seu quarto.

As coisas contaminadas acabam por contaminar outras. Ou seja, a contaminação


se difunde. A água de irrigação, por exemplo, contendo o agente de diarréia infecciosa,
pode contaminar as verduras de uma horta; a mão contendo resíduos de fezes
contamina os alimentos e os utensílios de trabalho e assim por diante.

60
Na qualidade de parasitas os organismos patogênicos têm no corpo humano o
ambiente ideal para sua subsistência e multiplicação. Quando saem para o ambiente
externo, geralmente vivem pouco tempo, mas o suficiente para provocar uma
contaminação da água, solo, etc. e alcançar um novo hospedeiro. Existem, entretanto
formas de agentes infecciosos que resistem bastante no ambiente - são os cistos de
protozoários e os esporos de bactérias, semelhante a uma "semente" em sua
durabilidade e resistência.
As condições de umidade e temperatura afetam sensivelmente a sobrevivência
das bactérias no ambiente. A bactéria do tifo resiste 30 dias em fezes, 70 dias em solo
úmido e 15 dias em solo seco. O bacilo da disenteria resiste 8 dias em fezes, 70 dias em
solo úmido e 15 dias em solo seco. De um modo geral, a umidade do solo favorece a
sobrevivência dos agentes patogênicos.
Os ovos de lombrigas e ancilostoma necessitam para seu desenvolvimento de
uma temperatura mínima de 18°C e adequada umidade do solo. Ao contrário, os ovos
de oxiúros desenvolvem-se melhor em clima frio.
Certos microorganismos não suportam a abundância de ar (oxigênio) em seu
ambiente. É o caso das bactérias do tétano e da gangrena, cujos esporos se
desenvolvem bem numa ferida onde haja tecidos mortos e pus. Estes germes têm seu
desenvolvimento impedido pelo fluxo de sangue em tecidos normais e pela presença de
oxigênio. No ambiente, encontram-se geralmente no esterco de gado e de outros
animais, transmitindo por contaminação das feridas e do coto umbilical de recém-
nascidos.
Em resumo, são os seguintes os principais modos de contaminação:

a) Do solo e das terras - pela eliminação direta das fezes no solo, pela irrigação com
água procedente de fontes contaminadas;
b) Da água - pelas fezes e urina eliminadas nas proximidades de poços, riachos,
açudes, lagoas, etc... ou transportadas a partir das fossas e esgotos até esses locais,
através das chuvas e declividade do terreno;
c) Dos alimentos - durante a fase de produção pelo contato com o solo e a água já
contaminados, durante o transporte e armazenamento (por condições
inadequadas de refrigeração), durante a manipulação no comércio e em casa
(mãos e utensílios sujos);
d) Do ar - através da eliminação de pequenas gotas produzidas pela tosse e espirro

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dos pacientes, que permanecem flutuando no ar durante algum tempo.

A contaminação é uma espécie de poluição. A poluição nada mais é do que o


lançamento de elementos nocivos à vida humana no ar, na água e no solo. O lixo polui
o solo; o gás dos automóveis polui o ar: os esgotos das fábricas e das residências poluem
a água dos rios.

13 - DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS


13.1. Noções gerais
Vários são os conceitos a cerca das
necessidades humanas básicas.

são estados de tensões, conscientes ou


inconscientes, resultantes dos desequilíbrios
homeodinâmicos dos fenômenos vitais
(HORTA, Warida).

A organização deste trabalho se deu no


princípio de que a enfermagem, para atingir seus objetivos precisa planejar sua
assistência ao paciente.

Para atender esses objetivos serão abordados, para cada doença, informação
quanto ao agente etiológico, modo de transmissão, período de incubação, período de
transmissibilidade, aspectos clínicos e unidades de enfermagem.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, doença transmissível:

“É aquela determinada por agente infeccioso específico ou por seus produtos


metabólicos, e que resulta da transmissão desse agente ou de seus produtos, de um
reservatório para um hospedeiro susceptível, de forma direta ou indireta.”

As doenças transmissíveis são classificadas em doenças infecciosas bacterianas,


doenças infecciosas por espetoquetas, doenças infecciosas micóticas, doenças
infecciosas por protozoários e doenças virais. Vejamos a seguir, alguns tipos de doenças
infecciosas causadas por vírus, bactérias, protozoários e vermes.

13.2. AIDS - síndrome da imunodeficiência adquirida

62
Introdução

Sendo considerada hoje como um


dos maiores agravos enfrentados pela
humanidade, a AIDS tornou-se um grave
problema de Saúde Pública.

Segundo a OMS espera-se, para o


final da década de 90, cerca de 40
milhões de pessoas portadoras do HIV,
dados que preocupam o Ministério da
Saúde, pois no Brasil o número de casos
vem crescendo em todos os grandes
centros.

Sendo o HIV um vírus que afeta os


linfócitos T4 e os macrófagos responsáveis pelo sistema imunológico do homem, a AIDS
passou a ser definida como uma doença que provoca agravos ao sistema imunológico
responsável pela defesa do organismo. Caracteriza-se pela presença de infecções
oportunistas, neoplasias malignas e "comprometimento" do Sistema Nervoso Central
(SNC).

Etiologia:

O agente etiológico é o vírus da imunodeficiência humana (HIV), inicialmente


chamado de HTLV-III ou LAV, cuja transmissão predominante é pela via sexual.

Fonte de Infecção:

É a pessoa infectada com o vírus HIV.

Período de incubação:

Este período pode oscilar entre seis meses a dois anos. Entretanto a literatura
registra períodos de até dez anos de incubação.

Período de transmissibilidade:

A transmissibilidade ocorre desde a infecção até o óbito. A grande preocupação


se dá durante o período assintomático da doença, o chamado portador assintomático.

Modo de transmissão:

63
A transmissão se dá com maior frequência por via sexual; entretanto o vírus já foi
isolado no sêmen, na medula óssea, no sangue, no linfonodos, no cérebro, no plasma,
na urina, na secreção vaginal, no leite materno, no lavado de fluido bronco-alveolar e
em lágrimas, sem valor epidemiológico, de indivíduos portadores do HIV. A transmissão
se dá por relações sexuais, por transfusão sanguínea e de hemoderivados, por via
transplacentária ou do canal do parto, por inoculação do vírus pelo uso de seringas e
agulhas contaminadas.

Distribuição:

É universal, com caráter de pandemia. No Brasil, a maior incidência está na região


Centro-Sul, principalmente nos grandes centros urbanos.

A faixa etária mais atingida é a de 20 a 40 anos. Ressalta-se um significativo


crescimento de casos pediátricos por transmissão perinatal, explicado pelo aumento de
casos no meio heterossexual.

Quadro clínico:

Didaticamente, o quadro clínico divide-se em três fases.

A primeira surge alguns meses após a contaminação pelo HIV. A sintomatologia é


viral, podendo apresentar: febre, calafrios, sudorese, cefaléia, erupções na pele, disfagia.
Clinicamente, estes sinais e sintomas desaparecem em pouco tempo.

A segunda fase é a que causa maior preocupação, pois pode passar


despercebida; é a fase assintomática, que pode durar até dez anos.

A terceira fase, ou AIDS propriamente dita, vai surgindo à medida que o indivíduo
vai perdendo sua imunidade. Manifesta-se por: febre prolongada, emagrecimento
acentuado, astenia, anorexia, poliadinopatias em várias áreas do corpo (axilares,
inguinais etc.), sudorese noturna, tosse com expectoração e diarreias constantes sem
causa aparente. Com a evolução, surgem as infecções oportunistas como o Sarcoma de
Kaposi, os linfomas, as pneumonias por P. Carinii, a candidíase, a tuberculose e o herpes,
entre outras. Nesta fase o paciente evolui até o óbito.

Tratamento:

Tratam-se somente as infecções oportunistas, porém uma grande esperança vem


surgindo com a terapêutica do AZT e do Interferon. Atualmente, o coquetel de antivirais

64
de terceira geração - os inibidores de protease e transcriptase reversa, - vem
revolucionando o tratamento da AIDS.

Profilaxia:

 Notificação compulsória dos casos confirmados às autoridades sanitárias locais;


 Isolamento: precauções com o sangue e fluidos corpóreos;
 Diagnóstico ambulatorial;
 Informações à população;
 Controle dos bancos de sangue;
 Uso de preservativos;
 Restrição de parceiros;

Meios de esterilização ou desinfecção do vírus:

 Pelo glutaraldeído a 1% por 10 horas;


 Pelo hipoclorito de sódio a 1% por 30 minutos;
 Pelo etanol a 25% por 5 minutos;
 Pelo calor a 120° C por 30 minutos;
 Pela H202 a 0,5% por 30 minutos.

Observação: Não são eficazes as irradiações ultravioletas e gama.

Diagnóstico laboratorial;

Atualmente três testes estão disponíveis no Brasil para pesquisa do vírus. O teste
imunoenzimático ou ELISA, o teste de imuno-fluorescência indireta e o Western blot
(WB)

Cuidados de enfermagem:

Isolamento: PSg = precauções com sangue e fluidos corpóreos;

 Usar luvas e avental para manusear o paciente ou os artigos potencialmente


contaminados;
 Usar máscaras, quando houver comprometimento pulmonar;
 Lavar as mãos antes e após cuidar do paciente ou tocar objetos contaminados;

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 Desprezar materiais descartáveis após o uso;
 Verificar e anotar sinais vitais;
 Observar e anotar quantidade e aspecto das evacuações;
 Fazer controle diário do peso corporal;
 Trocar roupas de cama, sempre que necessário;
 Estimular alimentação;
 Manter higiene oral e corporal;
 Incrementar prescrição de enfermagem e médica.

13.3. Coqueluche

Introdução

Popularmente conhecida como


"tosse comprida", a coqueluche é uma
doença infecciosa aguda, que afeta as vias
respiratórias e caracteriza-se por ataques
violentos de tosse. Tem alta mortalidade,
possui caráter epidêmico em todo o
mundo.

Etiologia:

O agente etiológico da coqueluche


é a Bordetella pertussis ou Bacilo da coqueluche.

Fonte de infecção:

O homem é o único reservatório na natureza. As fontes de infecções são


secreções dos brônquicos e da laringe de indivíduos contaminados.

Período de incubação:

É de sete a quatorze dias, podendo variar até vinte dias.

Período de transmissibilidade:

Pode ocorrer desde uma semana após o contágio até três semanas do
aparecimento do período paroxístico. Tem alta transmissibilidade no período catarral.

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Modo de transmissão:

A transmissão pode ocorrer por contato direto com doentes, pelas gotículas de
secreções da orofaringe ou pelo contato indireto, através de fômites (objetos
recentemente contaminados com secreções).

Distribuição;

A coqueluche tem distribuição universal, com maior incidência nos meses frios do
ano e em crianças na primeira década de vida.

Quadro Clínico:

A coqueluche evolui em três períodos:

 Período catarral: inicialmente o quadro pode confundir-se com um resfriado comum,


aparecendo coriza, espirros, lacrimejamento, tosse e presença ou não de febre. Este
período pode estender-se até duas semanas. O período caracteriza-se por tosse
resistente ao tratamento comum.
 Período paroxístico; permanece por mais ou menos seis semanas. Caracteriza-se pelos
acessos típicos de tosse paroxística com inspiração curta, seguida de sucessivos
episódios de tosse durante a mesma expiração, interrompida por nova inspiração
ruidosa e forçada, o que recebe o nome de "guicho". A criança normalmente
apresenta-se enrubescida e às vezes cianótica. Os referidos acessos de tosse podem
terminar com a eliminação de secreções e vômitos.

 Convalescença: este período manifesta-se com o fim dos "guichos" inspiratórios. A


tosse se toma menos freqüente e comum, podendo durar até três semanas.

Tratamento:

E o sintomático, conforme a evolução do quadro. O tratamento específico com


imunoglobulina humana é ainda controverso.

Profilaxia:

 Vacina DPT (Tríplice), três doses, a primeira aos dois meses a segunda aos quatro e a
terceira aos seis meses, com uma dose de reforço após um ano de idade;

 Educação sanitária à população;


 Isolamento respiratório.

67
Cuidados de Enfermagem:

 Isolamento respiratório por sete dias, após o início da antibioticoterapia:


 Distribuir máscara para todas as pessoas que entrarem no quarto;
 Usar avental para manusear o paciente;
 Lavar as mãos antes e após tocar o paciente;
 Descontaminar todo material não descartável, antes do reprocessamento;
 Conservar o quarto ensolarado e livre de correntes de ar;
 Oferecer líquidos com frequência;
 Incentivar a alimentação;
 Quando a criança tossir, ampará-la, virando-a de costas e passando os braços sobre
o peito da criança;
 Manter vigilância constante;
 Controlar sinais vitais.
 Incrementar prescrição médica e de enfermagem

13.4. Cólera

Introdução

Cólera é uma infecção intestinal grave,


caracterizada por diarréia insidiosa, aquosa,
profusa e incoercível, por vômitos, desidratação
súbita, acidose e choque hipovolêmico. A morte
pode vir em horas, após o início da doença. O
diagnóstico é confirmado com o isolamento, em
laboratório, do vibrião.

Etiologia

O vibrião colérico ou Vibrio cholerae, bacilo


gram-negativo, aeróbio, isolado por Koch no Egito e na Índia, em 1884, é o agente
etiológico da Cólera.

Fonte de infecção:

68
O homem é o único reservatório conhecido. A água e os alimentos contaminados
constituem a principal fonte de infecção. As epidemias ocorrem em consequência da
contaminação do abastecimento de água por excreções de doentes. A doença se
estabelece com o ciclo homem-meio ambiente-homem.

Período de incubação:

A incubação é curta, em média dura três dias, podendo variar de horas a cinco
anos.

Período de transmissibilidade:

O período é desconhecido, porém acredita-se que persista enquanto os vibriões


estiverem presentes nas fezes, até poucos dias após a cura, mais ou menos 20 dias, por
segurança.

Modo de transmissão:

O homem se contamina por via oral. O vibrião penetra no organismo através da


ingestão de água e alimentos contaminados por excreções (como fezes e vômitos) de
doentes ou portadores. A transmissão de pessoa a pessoa tem relativa importância em
determinadas regiões. As moscas constituem vetores consideráveis por transportarem os
vibriões aos alimentos.

Suscetibilidade e resistência:

A suscetibilidade é geral, porém há maior incidência entre os desnutridos com


baixa resistência. A doença confere baixa imunidade. A imunização ativa confere
imunidade de mais ou menos 6 meses.

Quadro clínico:

O vibrião tem ação tóxica e provoca no organismo náuseas, vômitos, cólica


abdominal com diarréia profusa (cerca de 150 evacuações por dia, com uma perda de 8
litros de água e eletrólitos). O paciente "murcha" rapidamente.

As fezes tornam-se líquidas, turvas e esbranquiçadas com aspecto de "água de


arroz". Os vômitos e a diarréia levam o paciente a uma desidratação que pode chegar ao
choque hipovolêmico.

O desequilíbrio hidreletrolítico leva o paciente à oligúria ou anúria, num curto


espaço de tempo, provocando acidose e hipotassemia.

69
Tratamento:

 Soroterapia para hidratação;


 Antibioticoterapia (geralmente Tetraciclina).
Profilaxia:

 Cloração das águas que abastecem residências;


 Fervura das águas provenientes de poços e cisternas;
 Pasteurização ou fervura do leite;
 Telar portas e janelas nos locais onde se encontram os doentes, para protegê-
los das moscas;
 Uso de inseticidas contra moscas;
 Proteção dos alimentos contra as moscas;
 Evitar ingerir alimentos crus, principalmente peixes;
 Tratamento adequado dos dejetos humanos;
 Fiscalização sanitária do preparo e distribuição dos alimentos de consumo
humano;
 Campanhas de educação sanitária;
 Notificação compulsória;
 Diagnóstico laboratorial rápido;
 Investigação dos casos ocorridos;
 Isolamento entérico;
 Proceder a inquérito epidemiológico.

Cuidados de enfermagem:

 Manter o paciente em ambiente limpo e arejado;


 Colocar o paciente em leito adequado, tendo o cuidado de colocar o vasilhame
para receber as fezes e colocar no recipiente solução de hipoclorito de sódio a
2%;
 Incrementar a prescrição médica e de enfermagem;
 Fazer o balanço hidreletrolítico: anotar líquidos infundidos e ingeridos, perda por
fezes e vômitos;
 Etiquetar "contaminado" em todas as roupas e objetos do paciente;
 Isolamento entérico - (IE):
70
 Uso de luvas para manusear o paciente e o material contaminado;
 Usar avental apenas para manusear o paciente;
 Lavar as mãos antes e após tocar o paciente ou o material contaminado;
 Controlar sinais vitais.

13.5. Dengue

Conceito

Doença viral, com


característica febril, geralmente de
evolução benigna quando na forma
clássica.

Apresentada hoje como grave


problema de Saúde Pública no
mundo, principalmente nos países
tropicais e subtropicais, onde as
condições climáticas favorecem o
desenvolvimento e a proliferação do principal mosquito transmissor o Aedes aegypti.

Agente etiológico:

O vírus do dengue é um arbovírus da família do Feaviviridae. Apresentado


quanto soropositivos: 1, 2, 3 e 4.

Vetores:

O Aedes aegypti é o principal vetor do dengue no Brasil, destacamos também o


Aedes albopictus, já encontrado nas Américas e nas Regiões Sudoeste, Norte e Centro-
Oeste. Segundo o Ministério da Saúde esta espécie é considerada um vetor principal do
dengue e da febre amarela, na Ásia. Porém não há evidência que seja um bom
transmissor no Brasil.

O Aedes aegypti por diversas vezes foi erradicado no Brasil. Desde que foi
reintroduzido no Brasil em 1976, em Salvador em 1977, no Rio de Janeiro, estava então
definitivamente instalado no território brasileiro. Vinte anos depois, este vetor é
encontrado em todos os Estados, exceto Amazonas, Acre e Amapá.

71
Modo de transmissão:

A transmissão se dá através da picada do mosquito fêmea infectado, no ciclo


homem - Aedes aegypti - homem.

O dengue não é transmitido por contato direto de um doente ou de suas


secreções com uma pessoa sadia, tão pouco indiretamente de alimentos ou fontes de
água.

O mosquito tem hábitos diurnos e urbanos. Na sua fase larvária vive em água
limpa acumulada.

Período de incubação:

Varia de 3 a 15 dias, mantendo uma média de 5 a 6 dias.

Período de transmissibilidade:

Este período compreende dois ciclos: o que ocorre no homem e em outro que
ocorre no vetor.

No homem, inicia um dia antes de aparecimento da febre, persistindo até o 6.° dia
da doença (período de viremia).

No mosquito, após um reparto de sangue infectado, o período para multiplicação


do vírus é de 8 a 12 dias. Após esse período ele se torna capaz de transmitir a doença. O
mosquito tem sobrevida, após infectado, de 6 a 8 semanas.

Suscetibilidade e imunidade:

O vírus do dengue tem suscetibilidade universal.

A imunidade conferida pela infecção do vírus é permanente para o sorotipo que


causou a infecção. Porém a imunidade induzida por um sorotipo e de caráter
temporário.

Distribuição:

O dengue tem maior incidência no verão, devido a maior ocorrência de climas e


temperaturas elevadas.

Comumente encontradas na zona urbana, onde é maior a quantidade de


criadouros naturais ou resultantes da ação do homem. Entretanto, a doença pode
ocorrer em qualquer localidade.

Dengue clássico:
72
O primeiro sinal é a febre alta (39°C a 40°C) de início súbito, seguido de cefaléia,
prestação, mialgia, artrologia, anorexia, dor retro-orbitária, náuseas, vômitos, dor
abdominal e cantema máculo-papular. Podendo apresentar prurido cutâneo intenso,
após descamação.

Frequentemente as crianças podem apresentar dor abdominal. Nos adultos


observa-se, que ao final do período febril, manifestações hemorrágicas, como epistaxe,
petéquicas, gengivanagia, metronagia e outros, é freqüente. É importante fazer o
diagnóstico diferencial.

O dengue clássico evolui rapidamente, deixando a pessoa doente com grande


debilidade física por algumas semanas, porém é uma doença benigna e autolimitada.

9.5.1. Febre hemorrágica do dengue

No início os sinais e sintomas iniciais se confundem com os do dengue clássico,


porém sua evolução para manifestação hemorrágica é de gravidade variável.

Visualmente os casos de FHD são caracterizados por febre alta, fenômenos


hemorrágicos, hematomegalia e insuficiência circulatória. Ocorre também, petéquias,
espitaxe e sangramento gengival, hemorragia espontânea pelos locais de punção
venosa, sifusões hemorrágicos, hemorragias em vários órgãos (hemorragia
gastrintestinal, intracraniana, hematúria, etc.) e derrames.

9.5.2. Educação em saúde

 Promover campanhas de educação em saúde com o objetivo de conscientizar a


população dos riscos da doença;
 Estabelecer medidas de controle, com a participação da população, transformando
hábitos;
 Mobilizar toda a população na tarefa de eliminar e evitar os criadouros;
 Sensibilizar os formadores de opinião para a importância da ação de
comunicação/educação no controle ao dengue;
 Enfatizar a responsabilidade social no resgate da cidadania, uma perspectiva de que
cada cidadão é responsável por si e pela sua comunidade (MS).

73
13.6. Difteria

Introdução

É uma doença infecciosa


aguda, transmissível, causada por
um bacilo toxigênio. Caracteriza-se
pela produção de uma exotoxina
que afetará principalmente o
coração e os nervos periféricos, o
que se complica o quadro clínico.

Acomete, inicialmente, as amídalas, a faringe, a laringe e o nariz, podendo causar


uma obstrução das vias respiratórias superiores.

Etiologia:

O agente etiológico da difteria é o Bacilo Corynebacterium diphetheriae, bacilo


gram-positivo.

Fonte de infecção:

O homem é o único hospedeiro natural, e os portadores assintomáticos são de


grande valia epidemiológica por mais ou menos 6 meses.

Período de incubação:

Varia de dois a cinco dias, podendo em alguns casos, se alongar por dez dias.

Período de transmissibilidade:

Inicia-se duas semanas após o começo da doença até quatro semanas da


evolução. Porém, com a instalação do tratamento adequado, a transmissibilidade se
encerra após 48 h do seu início.

Modo de transmissão:

A transmissão pode ocorrer por contato direto com doentes ou portadores, pelas
gotículas e secreções, e por contato indireto através de fômites (objetos
contaminados recentemente com secreções) e em leite recentemente colhido.

Suscetibilidade:

74
É uma doença endemoepidêmíca de distribuição universal, acometendo
principalmente crianças de 1 a 6 anos de idade, que têm hábitos precários de higiene.

A forma nasal aparece como um resfriado comum, com coriza serosangüinolenta,


febre baixa, sem comprometimento do estado geral.

A forma faringoamidaliana tem início súbito, com mal-estar geral, febre alta,
palidez, anorexia, dor de garganta; presença de placas membranosas na orofaringe;
distúrbios respiratórios, com obstrução mecânica e cianose.

A forma laríngea apresenta um quadro semelhante à laringite aguda, com tosse


seca, voz rouca, dificuldade para inspirar, fácies de intenso sofrimento, pulso afilado,
sudorese e pele fria. Pode ocorrer insuficiência respiratória, dependendo da extensão
das placas membranosas e do edema. O paciente pode necessitar de traqueostomia.

Tratamento:

O tratamento baseia-se na soroterapia antidiftérica e na antibioticoterapia, para


neutralizar a exotonia. Nos casos mais graves a traqueostomia pode ser indicada.

Profilaxia:

a) Notificação compulsória às autoridades sanitárias locais, se possível por telefone;


b) Cuidados com os doentes e comunicantes:
 Isolamento rigoroso ou total, até duas culturas negativas ou 24h após o fim da
antibioticoterapia;
 Investigação dos comunicantes;
 Pasteurização ou fervura do leite;
 Educação sanitária (esclarecer sobre os meios de evitar a doença e a importância
da vacinação);
c) Vacina:

 Tríplice (DPT):
 1ª dose aos 2 meses de idade;
 2ª dose aos 4 meses de idade;
 3ª dose aos 6 meses de idade;
 4ª dose aos 18 meses de idade;
 Reforço aos 4/5 anos de idade;
 Reforço a cada 10 anos com a DT.

75
 Dupla (DT) > 7 anos:
 1.3 dose em qualquer idade;
 2ª dose de 4 a 8 semanas após a 1ª;
 3ª dose de 6 a 12 meses após a 2ª;
 Reforço a cada 10 anos.

Cuidados de enfermagem:

 Isolamento rigoroso;
 Máscara e avental para todas as pessoas que entrarem no quarto;
 Luvas para quem manusear o paciente;
 Lavar as mãos, antes e depois de cuidar do paciente e de manusear objetos
contaminados;
 Todo material não descartável deve ser descontaminado antes de ser
reprocessado;
 Observar respiração e a qualquer alteração comunicar ao médico;
 Observar e anotar frequência e volume urinário;
 Pesar diariamente;
 Observar, durante a alimentação, se o paciente apresenta dificuldade em deglutir;
 Manter o paciente em posição de Fowler;
 Repouso no leito;
 Controlar sinais vitais;
 Manter boa higiene corporal;
 Incrementar prescrição médica e de enfermagem.

13.7. Doença de Chagas

Introdução

É uma infecção parasitária causada pelo protozoário Trypanossoma cruzi,


transmitida ao homem e aos outros animais por insetos hematófagos Triatominae. No
Brasil, esses insetos recebem o nome de "barbeiro", "chupança", "chupão", "bicudo" etc.

76
A infecção ocorre
geralmente à noite, com a
saída do inseto para alimentar-
se, através de picada em áreas
descobertas (face e braço). A
infestação ocorre no
momento da defecação do
inseto no local da picada. A
penetração ocorre muitas
vezes pela escarificação feita
pelo próprio indivíduo no ato
da picada.

Etiologia:

O agente etiológico é o Tripanossoma cruzi.

Fonte de infecção:

O homem doente ou animais: cão, gato, tatu, gambá, rato doméstico, rato de
esgoto, morcego, entre outros.

Período de incubação:

Variável, de quatro a doze dias. Quando a doença é adquirida por transfusão


sanguínea, o período de incubação pode variar de 30 a 40 dias.

Período de transmissibilidade:

A infecção ocorre sempre que houver condições adequadas para o agente


transmissor atuar ou de pessoa a pessoa, através de sangue, ou por via transplacentária.

Modo de transmissão:

Através da picada do inseto. O local da picada é contaminado pelas fezes do


inseto, quando o indivíduo coça o local. A outra porta de entrada pode ser diretamente
na mucosa conjuntival, chamada de "sinal de Romana".

Distribuição:

Encontra-se em todo o território americano, desde o Sul dos EUA até o Sul da
Argentina e do Chile.

77
No Brasil concentra-se nas zonas rurais, principalmente Minas Gerais e Mato
Grosso. O "barbeiro" tem hábitos domiciliares e vive em casas de "pau-a-pique", não
rebocadas e/ou cobertas de sapé.

Quadro clínico:

As manifestações clínicas podem ser divididas entre agudas e crônicas.

Na fase aguda, geralmente inaparente, as principais queixas são: febre


prolongada, anorexia e mal-estar geral, que podem desaparecer em algumas semanas.

Na fase crônica, anos após a fase aguda, o indivíduo apresenta alterações


viscerais (cardíacas e/ou digestivas). A sintomatologia cardíaca segue arritmia,
insuficiência cardíaca e taquicardia. Na sintomatologia digestiva, o indivíduo pode
apresentar dor epigástrica, dificuldade para engolir, regurgitação, soluços, tosse e
sufocação noturna devido à regurgitação de alimentos.

Tratamento:

O tratamento específico é feito à base de Benzonidazol (8mg/kg/dia - duas doses


diárias por 60 dias).

Profilaxia:

 Isolamento desnecessário;
 Notificação compulsória às autoridades sanitárias locais;
 Substituições das casas de barro e "pau-a-pique" por casas de alvenaria;
 Uso de telas em janelas e portas;
 Uso de mosquiteiros;
 Campanhas de dedetização;
 Educação sanitária.

13.8. Esquistossomose mansônica

Conceito

A esquistossomose mansônica é uma parasitose sistêmica causada pelo


Schistosoma mansoni, endêmica no Brasil, predominante no Nordeste, de fácil controle
através das ações de Saúde Pública.

78
Agente etiológico:

No Brasil o Trematódeo Schistosoma mansoni é o agente etiológico.

Período de transmissibilidade:

A transmissibilidade ocorre enquanto o homem elimina ovos, através das fezes e


da urina, podendo perdurar muitos anos.

Modo de transmissão:

A transmissão da esquistossomose somente ocorre quando há combinação dos


seguintes fatores: indivíduos eliminando ovos (pelas fezes), presença de caramujos para
serem infectados na água e o contato humano com águas infectadas. Os moluscos
vivem em águas paradas, com pouca luz solar.

Quadro clínico:

Duas formas clínicas são consideradas importantes:

Esquistossomose aguda: no local da infecção pode surgir prurido e erupção


cutânea pápulo-eritematosa. Pode ocorrer cefaléia, anorexia, mal-estar geral, astenia,
tosse e diarréia. A febre pode ser intermitente e em geral elevada, acompanhada ou não
de calafrios e sudorese. A diarréia pode durar vários dias, com dores abdominais,
náuseas e vômitos. Emagrecimento e hepatomegalia também podem estar presentes.
Em casos graves, pode ocorrer icterícia e coma.

Esquistossomose crônica: nesta fase, a sintomatologia é variável, podendo ser até


assintomática. Um dos sinais mais comuns é a diarréia com presença de muco e sangue.

79
Podem surgir também dores abdominais, sensação de plenitude gástrica e náuseas.
Outros doentes referem cefaléia, vertigens, perda de peso, instabilidade emocional,
amnésia, insônia, anorexia, azia, irritabilidade etc. Nas formas graves da doença, podem
aparecer hipertensão portal, hipertensão pulmonar, síndrome cianótica e forma tumoral.

Tratamento:

A oxamniguine capsular ou em suspensão é a droga recomendada. Alguns


estudiosos já demonstraram que a quimioterapia também reduz a
hepatoesplenomegalia.

Profilaxia:

 Educação sanitária ao público;


 Medidas de saneamento básico (tratamento adequado dos dejetos humanos e
tratamento da água);
 Interditar o banho em águas que tenham caramujos.

Cuidados de enfermagem:

 Manter ambiente limpo e arejado;


 Controlar sinais vitais;
 Procurar as preferências alimentares do paciente;
 Controlar diurese;
 Controlar o peso diário;
 Manter higiene corporal;
 Incrementar prescrição de enfermagem e
médica;
 Oferecer dieta fracionada.

13.9. Febre Tifoide

Conceito

É uma doença contagiosa, bacteriana, comum no


meio de pessoas de baixo poder aquisitivo, sem
higiene, com condições precárias de saneamento básico. Caracteriza-se por febre alta

80
e contínua, mal-estar, anorexia, com episódios alternados de constipação e diarréia
(fezes líquidas, fétidas, esverdeadas, com aspecto de "sopa de ervilha").

Agente etiológico:

O agente etiológico é a Salmonella typhi ou Bacilo de Eberth;

Fonte de infecção:

O homem doente, aparentemente curado, é o portador.

Período de incubação:

Varia de uma a três semanas, dependendo da dose infectante.

Período de transmissibilidade:

A transmissibilidade se mantém enquanto os bacilos estiverem sendo eliminado


nas fezes ou na urina, o que ocorre geralmente desde a primeira semana da infecção até
o final da convalescença.

Modo de transmissão:

Pelo contato direto com fezes ou urina de doentes ou portadores. Ou


indiretamente, através da água, do leite e de derivados contaminados. As moscas
também constituem vetores importantes.

Suscetibilidade:

Geralmente estão mais sujeitas à infecção pessoas que vivem ou trabalham em


ambientes sem saneamento básico. Pessoas de baixa renda, com precárias condições de
higiene pessoal e ambiental.

Quadro clínico:

O quadro clínico da febre tifoide inicia-se com febre alta e contínua, cefaléia, mal-
estar geral, torpor, anorexia, esplenomegalia, manchas rosadas no tórax, língua
saburrosa e seca, constipação com intervalos de diarréia.

Os sintomas podem se intensificar com delírios, fácies tóxica, bronquite, abdome


sensível, tremores, abalos musculares, respiração ruidosa, diarréia esverdeada, podendo
o doente chegar a estado de choque, a peritonite e coma.

Tratamento:

Antibioticoterapia: Cloranfenicol e Ampicilina são drogas de escolha.

81
Profilaxia:

 Isolamento entérico;
 Tratamento de água; distribuição de cloro e orientação para ferver a água;
 Tratamento adequado dos dejetos humanos;
 Combate a moscas e insetos;
 Orientação para o consumo de leite pasteurizado ou fervido;
 Notificação compulsória às autoridades sanitárias locais;
 Vacinação: indicada apenas a pessoas que vão viajar para áreas endêmicas.
 Cuidados de enfermagem:
 Isolamento entérico (IE);
 Avental apenas para quem manusear o paciente;
 Luvas para tocar material infectante e para manusear o paciente;
 Lavar as mãos, antes e depois de tocar o paciente, ou artigos potencialmente
contaminados;
 Todo material não descartável deve ser descontaminado antes de ser reprocessado;
 Controle de sinais vitais;
 Repouso no leito;
 Manter o paciente limpo e confortável;
 Observar e anotar volume e frequência das excreções;
 Oferecer bastante líquido;
 Incrementar prescrição médica e de enfermagem.

13.10. Hanseníase

Conceito

É uma doença infecciosa e


transmissível, de evolução crônica,
amplamente conhecida como
lepra. Tudo leva a crer que é uma
das doenças mais antigas do
mundo, acomete indivíduos desde
600 a.C. Graças ao

82
desenvolvimento da ciência, hoje a hanseníase tem tratamento e cura.

Agente etiológico:

O agente etiológico é um bacilo-ácido-álcool-resistente, o Mycobacterium leprae


ou Bacilo de Hansen.

Fonte de infecção:

A principal fonte de infecção é o homem, quando é o portador das formas


Virchowiana e Dimorfa, pois somente elas são transmissíveis.

Período de incubação:

Parece ser um dos mais longos das patologias humanas. Pode variar de dois a
sete anos. Existe relato de período de sete meses como também de dez anos.

Período de transmissibilidade:

A transmissibilidade deve ser considerável enquanto persistir a presença dos


bacilos em indivíduos não tratados, nas formas Virchowiana e Dimorfa.

Modo de transmissão:

O contágio é direto e através da convivência do indivíduo suscetível com o


doente. Acredita-se hoje que a principal forma de contágio é o trato respiratório superior
dos pacientes doentes.

Suscetibilidade e distribuição:

Em regiões endêmicas a possibilidade de infecção é alta. A hanseníase não


escolhe raça, idade ou sexo. O Brasil ocupa o 2.° lugar em número absoluto de casos no
mundo.

Quadro clínico:

Quatro são as formas da hanseníase: indeterminada, virchowiana, tuberculóide e


dimorfa:

Indeterminada: caracteriza-se por manchas hipocrômicas e/ou por eritemato.


Geralmente essas manchas são insensíveis, com ou sem diminuição da sudorese e
rarefação de pelo. A baciloscopia é negativa;
Virchowiana: apresenta eritema e infiltração difusa, placas eritematosas infiltradas
e de bordas difusas. Pode apresentar tubérculos e nódulos, queda de cílios e supercílios.
Pode haver invasão das vias aéreas superiores. As lesões cutâneas podem ulcerar-se. A
83
baciloscopia é positiva;
Tuberculóide: manifesta-se com placas eritemato-violáceas edemaciadas, elevadas
de limites externos nítidos, tendo preferência pela região plantar, palmar e facial. A
baciloscopia é negativa;
Dimorfa: lesões pré-foveolares (eritematosas planas com o centro claro), lesões
foveolares (eritematosas infiltradas com centro deprimido) e lesões eritemato-
pigmentares (tonalidade ferrugínea ou pardacenta). Baciloscopia positiva.

Tratamento:

Deve ser ambulatorial. Todos os postos de saúde estão disponíveis para efetivar
este tratamento com uma associação de drogas, a Poliquimioterapia, padronizada pela
OMS.

Profilaxia:

 Educação sanitária ao público;


 Notificação compulsória às autoridades sanitárias locais;
 Imunização dos contatos. A vacinação com a BCG e a quimioprofílaxia podem ser
usadas;
 Prevenção das deformidades físicas.

Cuidados de enfermagem:

 Controlar sinais vitais;


 Controlar diurese;
 Proporcionar ambiente tranquilo e limpo;
 Incentivar e orientar a higiene oral;
 Incrementar prescrição médica e de enfermagem.

84
13.11. Leishmaniose Tegumentar Americana - LTA

Conceito

É uma protozoose não


contagiosa, própria de roedores
silvestres e desdentados, que pode
ser transmitida ao homem
acidentalmente pela picada dos
flebótomos. É caracterizada por
comprometimento cutâneo e
mucoso.

Agente etiológico:

A Leishmania braziliensis é o
agente etiológico da LTA.

Fonte de infecção:

É transmitida ao homem pelos insetos da família dos flebótomos. Até hoje não se
conhece um reservatório único, vários são listados: cães, equinos e roedores domésticos.

Período de incubação:

Em média um mês. A literatura relata períodos mais curtos, de duas semanas, e


mais longos, de seis a doze meses.

Modo de transmissão:

O homem é considerado hospedeiro acidental. Ele se infecta quando os


flebótomos o picam ocasionalmente, ao invadir seu habitat natural, como margens de
rios e interior das matas. A ocorrência é maior durante as estações quentes, após as
chuvas de verão, durante desmatamentos e construções de estradas.

Quadro clínico:

A lesão cutânea surge com aspecto pápulo-eritematoso, ulcerado ou


furunculóide.

O comprometimento da mucosa oronasal e faringo-laríngea ocorre em cerca de


80%, após um ano de infecção.

85
As lesões da Leishmaniose muco-cutânea estão assim classificadas:

Lesões cutâneas: ulceradas ou não, podem estar isoladas ou agrupadas em


placas, evoluem de pequena pápula eritematosa, tornando-se pápulo-vesiculosa e
depois pápulo-pustulosa, acabam por tornar-se úlcero-crostosas;
Lesões mucosas: disseminam-se geralmente por via hematogênica, embora isto
ainda seja discutível. A principal manifestação ocorre por presença de eritema e por
discreta infiltração do septo nasal, evoluindo para o vestíbulo, as asas do nariz, a fossa
nasal, descendo até atingir a faringe, a laringe e a traquéia. Chega a um processo de
ulceração destrutiva.

Tratamento:

O tratamento específico é feito à base de sulfas e fungicidas, como o Fungison e


Glucantine.

Profilaxia:

A profilaxia está baseada no rompimento da cadeia epidemiológica:

 Cuidados com os cães domésticos;


 Telar portas e janelas (em regiões endêmicas);
 Usar repelentes e mosquiteiros (em regiões endêmicas);
 Educação sanitária à população;
 Controle de cães vadios;
 Vacina: pesquisa em andamento.

Cuidados de enfermagem:

 Não é necessário isolamento;


 Proporcionar ambiente agradável e arejado;
 Banho diário com KMNO4, nas lesões;
 Cuidados específicos com aplicação e preparação de fungicidas:
 Observar gotejamento, que deverá "correr" em mais de seis horas. Proteger o frasco
e o equipo da luz direta;
 Observar rigorosamente dosagem e diluição de medicamentos;
 Observar rigorosamente eventuais efeitos colaterais, como: febre, náuseas, vômitos,

86
visão turva ou dupla, e comunicar o médico.
 Fazer controle rigoroso da diurese;
 Fazer higiene oral, antes das refeições com solução de água bicarbonatada;

13.12. Leishmaniose visceral (calazar)

Conceito

É uma protozoose não


infecciosa, causada por um
protozoário. Caracteriza-se por febre
irregular e persistente,
hepatoesplenomegalia, perda de
peso, anemia e leucemia. Zoonose
característica de canídeos e roedores.

Agente etiológico:

Leishmania donovani, protozoário da família tripanosomatidae.

Fonte de infecção:

É transmitida ao homem pelos insetos flebótomos, através da picada.

Período de incubação:

Varia de dois a cinco meses, podendo durar apenas 10 dias ou até 24 meses.

Período de transmissibilidade:

Perdura enquanto os protozoários estiverem no sangue. A transmissão não


ocorre de pessoa a pessoa diretamente. O homem pode transmitir a doença através dos
insetos.

Modo de transmissão:

Ocorre através da picada do flebótomo hematófago (mosquito pequeno de cor


palha). A calazar é uma doença própria da zona rural.

Quadro clínico:

A calazar tem uma instalação abrupta ou insidiosa. O diagnóstico pode ser


estabelecido com facilidade. Os principais sinais e sintomas são: febre,
87
hepatoesplenomegalia, perda de peso, palidez, edema, taquicardia, prostração, apatia
ou agitação, anorexia, queda de cabelos, epistaxe, dores articulares e mialgia.

As complicações mais comuns são: pneumonias, broncopneumonias, otites e


amigdalites.

Tratamento:

O tratamento específico é feito à base de Antimoniais, Anfotericina B e


Glucantime.

Profilaxia:

Está baseada no rompimento da cadeia epidemiológica:

 Cuidar dos cães domésticos;


 Telar portas e janelas em regiões endêmicas;
 Uso de repelentes ao se expor no habitat dos mosquitos;
 Educação sanitária à população;
 Controle de roedores;
 Controle de cães vadios. Cuidados de enfermagem:
 O isolamento é desnecessário;
 Promover ambiente arejado e confortável;
 Controlar e anotar sinais vitais, principalmente temperatura;
 Observar e anotar sinais e sintomas (hemorragias, diarréia, apatia, agitação e
outros).
 Manter o paciente hidratado;
 Incrementar prescrição médica e de enfermagem;
 Cuidados específicos com o soro (ver LTA).

13.13. Malária

Conceito

Malária é uma doença


parasitária aguda, também
conhecida como impaludismo,
maleita, febre dos pântanos, febre
88
das selvas, terçã benigna, terçã maligna etc.

E caracterizada por acessos febris intermitentes, com intervalos de 24 a 72 horas e


acompanhada de anemia, esplenomegalia e hepatomegalia.

Dos quatro tipos de malária humana, a mais grave é a malária por Plasmodium
falciparum. Os outros três tipos são considerados benignos.

Agente etiológico:

Quatro são os agentes mais comuns:

 Plasmodium vivax: Terçã benigna;


 Plasmodium malariae: Febre quarta;
 Plasmodium falciparum: Terçã maligna;
 Plasmodium ovale: Malária ovale;
Fonte de infecção:

O homem é o único reservatório importante, embora alguns macacos possuam


importância epidemiológica.

Período de incubação:

O período de incubação varia conforme o agente etiológico.

O Plasmodium vivax e o Plasmodium ovale: em média catorze dias. O Plasmodium


falciparum: em média doze dias. E o Plasmodium malariae: em média trinta dias.

Nos casos de contaminação por transfusões sanguíneas, o período de incubação


é mais curto.

Período de transmissibilidade:

O homem infecta o mosquito pelos gametócitos infectantes e pode ser


transmissor até três anos. O mosquito transmite a vida toda.

Modo de transmissão:

 Natural: através da picada da fêmea do anofelino infectada;


 Indireta: através de objetos contaminados com sangue ou pela própria transfusão
de sangue contaminado.

89
Distribuição e suscetibilidade:

A malária é endêmica na África, Ásia, América do Sul e América Central, devido a


fatores ambientais, propícios para o anofelino, como temperatura, matas e um idades
(AMATO NETO, Vicente; BALDY, José Luiz da Silveira. Doenças transmissíveis, p. 585).

Quadro clínico:

O quadro sintomatológico depende do agente infeccioso e das condições de


imunidade do indivíduo. O ataque agudo caracteriza-se por quatro períodos que se
sucedem: frio, calor, suor e apirexia.

Manifesta-se com: mal-estar, anorexia, febre, calafrios, sudorese, icterícia, náuseas,


vômitos e cefaléia.

Nos casos mais graves, esta febre se eleva a 39° C, é acompanhada de calafrios,
sudorese e prostração, podendo ocorrer fortes dores musculares e distúrbios do
comportamento (delírios).

Nesta fase, podemos ter o chamado "vômito negro" e urina "cor de coca-cola". O
paciente pode chegar à insuficiência renal.

Tratamento:

Vários medicamentos podem ser usados, entre eles: cloraquina, sulfato de quinina
e outros.

Profilaxia:

 Combate ao transmissor, com o uso de inseticidas como DDT;


 Uso de mosquiteiros, em áreas endêmicas;
 Telar janelas e portas em áreas endêmicas;
 Controle de doadores de sangue;
 Uso de cloraquina (300 mg/dia) em casos de viagem por áreas endêmicas. Usar
desde o dia da partida até quatro semanas após o retomo;
 Notificação compulsória às autoridades sanitárias locais.

Cuidados de enfermagem:

 Isolamento: precauções com sangue e fluidos corpóreos (Psg);


 Avental para manusear o paciente e objetos contaminados com sangue;

90
 Luvas para manusear o paciente e os objetos contaminados;
 Lavar as mãos antes e após higienização do paciente;
 Todo material não descartável deve ser descontaminado antes do
reprocessamento;
 Controlar sinais vitais;
 Controlar os picos febris;
 Fazer rodízio das punções venosas;
 Manter repouso no leito;
 Confortar o paciente em casos de delírios;
 Trocar as roupas de cama e do paciente, após os acessos febris;
 Proporcionar ambiente tranquilo e arejado;
 Incrementar prescrição médica e de
enfermagem.

13.14. Parasitoses intestinais e helmintíases intestinais

Conceito

As parasitoses intestinais, helmintíases e


protozooses representam as doenças mais comuns do
globo terrestre, tendo maior índice em países
subdesenvolvidos, onde os problemas de Saúde Pública são mais intensos. Tais índices
estão relacionados ao nível socioeconômico e cultural da população.

Geralmente, as enteroparasitoses não provocam sintomas. As manifestações mais


comuns são diarréia ou obstipação intestinal acompanhada de anorexia, náuseas,
vômitos e dor abdominal. Do ponto de vista geral pode aparecer anemia, má absorção e
um quadro transitório de infiltração pulmonar que se deve à passagem das larvas de
áscaris, ancilóstomos, estrongilóides ou esquistossomos pelos pulmões.

Agente etiológico:

a) Helmintíases:

Ascaridíase: é causada pelo Áscaris lumbricóides também chamado de "lombriga",


o mais breve prevalente parasita intestinal do mundo.

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Tricocefalíase: é causada pelo Trichocefaius trichiurus. A infestação se dá através
da ingestão de alimentos contaminados.

Ancilostomíase: é causada pelo Necator americano e Ancylostoma duodenale.


Também conhecida como "amarelão" ou doença do "Jeca-Tatu". A infestação ocorre
através da penetração dos ovos, na pele íntegra do homem, determinando dermatite
pruriginosa.

Estrongiloidíase: é causada pelo Strongyloides stercoralis, de pequena incidência:

Enterobíase ou oxiuríase: é causada pelo Enterobius vermiculares ou Oxyuros


vermiculares, parasita prevalente em todo o mundo. Produz prurido anal e vulvar;

Teníase: é causada pela Taenia saginata e Taenia solium, "solitárias". Adquirida


através da ingestão de carnes bovinas ou suínas cruas ou mal passadas.

b) Parasitoses:

Giardíase: é causada pela Giárdia lambia, comum no trato gastrintestinal humano.


Tem grande incidência entre as crianças, mas vai diminuindo com a idade, exceto entre
os homossexuais;

Amebíase: é causada pela Entamoeba histolítica. Única considerada patogênica


para o homem. Sua maior incidência está relacionada ao baixo nível socioeconômico,
em que as condições higiênicas são precárias.

Profilaxia:

Apesar de os maiores índices de infestação por parasitas intestinais estarem


relacionados à falta de saneamento básico e à condição socioeconômica da população,
é preciso deixar claro que indivíduos de melhor classe social também podem se infestar;
basta que não tenham cuidados profiláticos.

Algumas condições estão relacionadas às parasitoses intestinais, tais como:


desnutrição, más condições habitacionais, higiênicas e educacionais, verduras e frutas
mal lavadas, carnes cruas ou mal passadas, banho em lagoas, falta de esgoto e água
tratada, fossas muito próximas a pomares, fontes de água contaminadas, falta de
cuidados adequados com as mãos e unhas, andar descalço.

Cuidados profiláticos:

 água para consumo: fervida, clorada ou filtrada;


 a água para irrigação de pomares e hortas deve ser de boa procedência;
92
 em sítios e fazendas, evitar fontes de água que possam ser contaminadas com
excrementos de animais;
 Evitar construir fossas próximas a fontes de água;
 Evitar locais de água parada;
 Manter sanitários limpos;
 Lavar bem os alimentos antes de comê-los;
 Proteger alimentos e utensílios de cozinha;
 Comer carnes somente bem passadas;
 Lavar bem as roupas íntimas e de cama, se possível com água quente;
 Os manipuladores de alimentos ou de água devem fazer parasitológico de fezes
periodicamente;
 Em creches, asilos, prisões e em instituições diversas, além dos cuidados gerais, todos
os funcionários devem fazer exame parasitológico de fezes pelo menos uma vez por
ano;
 Não tomar banho em águas paradas.

13.15. Poliomielite

Conceito

É uma doença que já transformou muitas


pessoas em deficientes físicos. É de alta
transmissibilidade. Foi erradicada do Brasil
graças às ações de imunizações e vigilância
epidemiológica, fato reconhecido pela OMS
desde 12/10/94, data em que foi concedido ao Brasil o Certificado de Erradicação.

Doença infecciosa aguda caracteriza-se por paralisia flácida de início súbito. Suas
manifestações clínicas podem ocorrer desde a forma inaparente, até à paralisia de
grupos musculares, pela destruição de neurônios periféricos e/ou do SNC.

Agente etiológico:

Vírus de três sorotipos: Poliovírus I, II e III;

Fonte de infecção:

93
O homem é o único reservatório, principalmente as crianças com infecção
inaparente.

Período de incubação:

Geralmente de sete a vinte e um dias, podendo se estender até trinta dias;

Período de transmissibilidade:

O vírus da poliomielite pode estar presente nas secreções faríngeas desde trinta e
seis horas e nas fezes desde setenta e duas horas da infestação. Porém, o período de
maior infectação vai de sete a dez dias antes do início dos sintomas até sete a dez dias
após. O vírus permanece nas fezes por um período de até seis semanas.

Modo de transmissão:

A transmissão se dá pelo contato direto com secreções da nasofaringe e por


contaminação com fezes de doentes ou portadores. Raramente o leite serve de veículo
de infecção.

Suscetibilidade e distribuição:

Tem distribuição universal, com ocorrência mais comum no verão e início de


outono, em clima temperado. No clima tropical a incidência é uniforme.

A vacinação veio erradicar a doença, porém todas as pessoas não vacinadas estão
sujeitas a infecção.

Quadro clínico:

Segundo o MS, Divisão Nacional de Epidemiologia, Brasília, 1988, módulo III, 1ª


parte, a poliomielite pode apresentar-se sob cinco formas clínicas. Destas cinco formas
clínicas, somente as que apresentam manifestações paralíticas permitem o diagnóstico.
As outras formas geralmente tem descoberta acidental.

Infecção inaparente: cerca de 90 a 95% das infecções por poliovírus são


inaparentes. Diagnóstico somente através do isolamento do vírus.

Infecção abortiva: o quadro inicial assemelha-se ao estado gripal, que se


caracteriza por febre, dores de garganta, cefaléia, dores musculares, vômitos, diarréia ou
obstipação, dores abdominais, anorexia. Ocorre em 4 a 8% dos casos.

Meningite asséptica: caracteriza-se, inicialmente, pelos mesmos sintomas da forma


abortiva. O paciente apresenta estado geral regular, com sinais de afecção meníngea,

94
irritação radicular e rigidez de nuca. Não há presença de paralisias nem de distúrbios da
consciência. A evolução é benigna. Corresponde a 1% das infecções.

Forma paralítica: esta forma clínica permite diagnóstico fácil e acomete 1% das
infecções. A fase paralítica é precedida por período prodrômico de três a cinco dias, com
sinais de infecção abortiva, podendo aparecer febre e convulsões que desaparecem
transitoriamente.

A forma paralítica apresenta-se sob dois tipos: espinhal e bulhar, dependendo da


destruição de neurônios em cada uma das áreas afetadas. A paralisia é flácida,
assimétrica, afeta alguns grupos de músculos e deixa os outros intactos; raramente
perde-se a sensibilidade cutânea. Inicialmente os reflexos tendinosos estão hiperativos,
mas logo ficam diminuídos e/ou abolidos.

O progresso da paralisia é variável, em média, dura três dias; os membros


inferiores são afetados mais frequentemente que os superiores. Às vezes há somente
paralisia dos músculos faciais.

Encefalite por poliovírus: forma muito rara. Ocorre principalmente em crianças


pequenas, de difícil distinção das outras encefalites; confirma-se o diagnóstico somente
por exames laboratoriais.

Tratamento:

Não há tratamento específico. Trata-se a sintomatologia, oferecendo-se,ao mesmo


tempo, apoio psicológico, cuidados ortopédicos e fisioterápicos.

Profilaxia:

 Vacina SABIN: três doses com intervalos de 2 meses ou de, no mínimo, 30 dias, mais
uma dose de reforço em um ano após a última dose;
 Campanhas de vacinação têm ação complementar;
 Notificação compulsória às autoridades sanitárias locais;
 Isolamento entérico.

Cuidados de enfermagem:
 Isolamento entérico (uso de luvas para manusear o paciente e objetos
contaminados);

95
 Observação contínua;
 Repouso no leito;
 Evitar injeções intramusculares;
 Manter o paciente em posição confortável;
 Cuidado com os pés, não deixá-los caídos, usar saquinhos de areia como apoio;
 Em dificuldade respiratória, manter o paciente em Fowler;
 Mudança de decúbito de 2 em 2 horas;
 Colocar os braços em ligeira flexão;
 Manter as roupas de cama bem esticadas para evitar desconforto;
 Observar e anotar o número e o aspecto das eliminações;
 Banho de chuveiro, sempre que o paciente tiver condições;
 Na melhora do paciente, levá-lo aos "banhos de sol".

13.16. Raiva

Conceito

É uma antropo-zoonose comum aos mamíferos, que acomete o homem


acidentalmente, também conhecido como hidrofobia. É causada por um vírus que
atinge o SNC, desenvolvendo uma encefalite aguda, com evolução fatal em 100% dos
casos.

Agente etiológico:

O vírus da raiva pertence à


família dos Rhabdoviridae.

Fonte de infecção:

Tem como reservatório os


animais domésticos (principalmente
cães e gatos), selvagens (lobo, gato do
mato e guaxinim) e outros mamíferos,
como a raposa e os morcegos
hematófagos; estes são os principais
responsáveis pela manutenção da
cadeia silvestre.
96
Período de incubação:

No homem, em média quarenta e cinco dias, podendo variar de alguns dias até
um ano.

Estes períodos variam de acordo com a localização, a gravidade da mordedura e


a proximidade de troncos nervosos e a quantidade de partículas virais inoculadas.

No cão, varia de dez dias a dois meses. Período de transmissibilidade:

No cão e na maioria dos animais domésticos é de três a cinco dias do início da


doença, persistindo por toda a evolução da doença, que é de aproximadamente sete
dias. Os morcegos podem transmitir durante meses, sem apresentar sintomas.

Modo de transmissão:

Geralmente é transmitida ao homem por mordida, através da inoculação do vírus


presente na saliva do animal raivoso. Mais raramente por arranhaduras ou por
lambedura de mucosas ou pele com solução de continuidade. Existem dois casos de
transmissão inter-humana que ocorreram por transplante de córnea.

Distribuição e suscetibilidade:

Todos os mamíferos são suscetíveis. A doença ocorre em todos os continentes


habitados, exceto a Oceania e alguns países, como Grã-Bretanha, Irlanda, Suécia, Japão,
Nova Zelândia e Havaí. No Brasil, é endêmica, e o Nordeste ocupa o primeiro lugar.

Quadro clínico:

No homem, a raiva se desenvolve em três estágios, com evolução para o óbito de


cinco a sete dias.

Período prodrômico: caracteriza-se por formigamento, pontadas, dormência, calor


no local da lesão, cefaléia, mal-estar, anorexia, febre alta, dor de garganta e mudanças
no comportamento habitual.
Período de estado: nesta fase todos os sinais e sintomas aumentam
consideravelmente. Surgem a aerofobia e a hidrofobia. São comuns: diarréia, vômitos,
alucinações, delírios e ansiedade. Respostas descoordenadas e exageradas a estímulos
são frequentes.
Período paralítico: a paralisia progride de forma irregular; em geral atinge as
musculaturas lisa e estriada. Algumas horas antes da morte, desaparece a agilidade e
instala-se a paralisia, que é progressiva até à morte.
97
No cão, a forma furiosa inicia-se com agitação e tendência a atacar. O latido fica
diferente e o cão tem dificuldade para engolir, seguida de contrações musculares
involuntárias, crises convulsivas, paralisia e morte.

Tratamento:

Não existe tratamento específico. Reidratação, sedação e conforto ao paciente


fazem parte do tratamento existente.

Profilaxia:

 Vacina antirrábica humana;


 Soroterapia;
 Observação do animal agressor; imunização dos animais, principalmente cães e
gatos;
 Notificação compulsória às autoridades sanitárias locais.
Observação. A soroterapia e a vacinoterapia são aplicadas, dependendo do acidente
e do animal suspeito, conforme normas do MS.

Cuidados de enfermagem:

 Isolamento rigoroso;
 Máscara e avental para todas as pessoas que entrarem no quarto;
 Luvas para quem manusear o paciente;
 As mãos devem ser lavadas após tocar o paciente ou artigos potencialmente
contaminados;
 Material não descartável deve ser descontaminado antes de ser reprocessado;
 Uso de óculos (goggles) quando o paciente apresentar tosse e se estiver entubado
ou traqueostomizado;
 Restringir o paciente ao leito;
 Evitar ruídos;
 Incrementar prescrição médica e de enfermagem;
 Higiene somente se necessário;
 Aspirar as secreções sempre que necessário;
 Etiquetar com "RAIVA" todo o material e roupas usadas no paciente;
 Fazer desinfecção terminal após o óbito.

98
13.17. Sarampo

Conceito

Doença contagiosa de grande


transmissibilidade, causada por vírus,
com incidência endemo-epidêmica.
Acomete, potencialmente, a primeira
década de vida. Torna-se muito grave
nos países subdesenvolvidos, onde as
condições de vida da população são
precárias.

Agente etiológico:

O vírus do sarampo pertence à família dos Paramyxoviridae.

Fonte de infecção:

O homem é o único reservatório, e os doentes passam a ser fontes de infecção.

Período de incubação:

É, em média, de dez dias, variando de oito a catorze dias do início do contágio até
o aparecimento dos primeiros sintomas.

Período de transmissibilidade:

Inicia-se sete dias após a instalação do período prodrômico (primeiros sinais e


sintomas) até cinco dias do aparecimento do período exantemático. O pico de
transmissibilidade se dá no período catarral.

O sarampo ocorre com maior frequência nos meses de julho a outubro,


principalmente em crianças na faixa etária de dois anos de idade.

Modo de transmissão:

A transmissão pode ocorrer diretamente, através das gotículas da nasofaringe,


eliminadas durante a tosse, através de espirros e da própria fala, ou, indiretamente,
através de fômites (objetos recentemente contaminados).

Suscetibilidade e distribuição:

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A distribuição do sarampo é universal, sem predomínio de raça ou sexo, embora
se observem maiores índices de complicações no sexo masculino.

Quadro clínico:

O quadro clínico inicia-se com o chamado período prodrômico, caracterizado por


mal-estar, febre, conjuntivite, espirros e tosse seca, passando a produtiva. Após 48 horas
de evolução, surgem as manchas de Koplik (manchas vermelho-brilhantes com pontos
branco-acinzentados no centro), na mucosa oral. Ao final deste período a febre se eleva,
podendo ocorrer convulsões.

Seguindo-se ao período prodrômico, surge o período exantemático, caracterizado


por exantema máculo-papular, avermelhado, que se inicia no couro cabeludo e na face
e se espalha por todo o tegumento no sentido caudal. Nesta fase pode aparecer
fotofobia e prostração, lacrimejamento e coriza, e a febre tem evolução acentuada. Este
período dura em média seis dias.

Tratamento:

Sintomático, conforme evolução do quadro clínico.

Profilaxia:

 Vacinação: primeira dose aos 9 meses, segunda dose adicional a partir dos 12
meses;
 Notificação compulsória às autoridades sanitárias locais;
 Isolamento respiratório, até cinco dias após o aparecimento do exantema;
 Cuidados pessoais de higiene. Cuidados de enfermagem:
 Isolamento respiratório;
 Máscara para todas as pessoas que entrarem no quarto;
 Avental para quem manusear o paciente;
 Lavar a mãos antes e depois de tocar o paciente;
 Todo material que não for descartável deve ser descontaminado antes do
reprocessamento;
 Repouso no leito;
 Banho com sabão neutro e água morna pelo menos duas vezes ao dia;
 Proporcionar ambiente arejado e livre de corrente de ar;
 Higiene dos olhos quatro vezes ao dia;

100
 Higiene nasal quatro vezes ao dia;
 Higiene oral com água bicarbonatada duas vezes ao dia;
 Ensinar o paciente a proteger boca e nariz, sempre que tossir ou espirrar;
 Oferecer líquidos com freqüência;
 Controlar temperatura;
 Incrementar prescrição médica e de enfermagem.

13.18. Tétano acidental

Conceito

É uma doença infecciosa


de transmissão indireta,
causada pela toxina do bacilo
tetânico que prolifera no local
do ferimento. Caracteriza-se
por espasmos musculares e
contraturas.

Apesar de sua incidência


ter diminuído no Brasil, o
tétano acidental ainda
constitui grave problema de
Saúde Pública, principalmente no Norte e Nordeste.

Agente etiológico:

O agente etiológico do tétano é o Clostridium tetani ou bacilo do tétano.

Fonte de infecção:

O solo contaminado com esporos do bacilo constitui a principal fonte, esporos


que podem ser encontrados, também, na poeira, em roupas, seringas, instrumentos
cirúrgicos não esterilizados e no trato intestinal do homem e dos animais.

101
Período de incubação:

A incubação varia de quatro a vinte e um dias. Quanto menor o período de


incubação, pior o prognóstico.

Período de transmissibilidade:

Não existe transmissão inter-humana. O tétano não é doença contagiosa.

Modo de transmissão:

A transmissão ocorre pela penetração de esporos em solução de continuidade.

Dois modos de transmissão consideráveis:

Neonatal: contaminação do coto umbilical pelo bacilo, através de substâncias


infectantes utilizadas para curar a "ferida umbilical", como fumo e fezes de animais;
Acidental: contaminação de ferimentos (mesmo que a ferida seja insignificante)
pelo bacilo do tétano.
Suscetibilidade e distribuição:

A distribuição é universal, embora a incidência seja baixa em países


industrializados.

Afeta todas as idades. Alguns fatores climáticos, como umidade e temperatura,


interferem na incidência da doença.

Quadro clínico:

Clinicamente, o tétano acidental caracteriza-se por contraturas musculares


dolorosas dos masseteres com trismo e riso sardônico, com rigidez de nuca que provoca
dificuldade para deglutir e pode chegar ao opistótono.

Com o progresso da doença, a rigidez muscular pode atingir os músculos reto-


abdominais, causando o "abdome em tábua" e possível insuficiência respiratória.

Contraturas frequentes podem ser desencadeadas por estímulos luminosos, por


barulhos ou pela manipulação do doente.

No tétano neonatal, o primeiro sinal é o fato de a criança deixar de mamar por


dificuldade de sugar. Aparecem também o trismo e riso sardônico. As pernas ficam
muito esticadas e os braços dobrados junto ao peito, as mãos fechadas e difíceis de abrir.
As contraturas musculares levam ao opistótono.

102
Tratamento:

O tratamento é obrigatoriamente hospitalar, em enfermaria escura e livre de


barulhos. Antibioticoterapia, imunoterapia com soro antitetânico, sedativos e
miorrelaxantes. Deve-se fazer a imunização com toxóide antes da alta, pois a doença
não confere imunidade.

Profilaxia:

Imunização: além do esquema usado para a DPT (tríplice), imunizando crianças


de zero a quatro anos, aconselha-se o uso de TT (toxóide-tetânico) nos seguintes casos:

 Em gestantes, para prevenção do tétano neonatal;


 Em grupos operacionais de maior risco;
 Em atendimentos a ferimentos;
 Como reforço a cada 10 anos;

A prevenção do tétano acidental é feita em três doses, uma a cada 30 ou 60 dias


por via intramuscular. É indicada a quem não tenha imunização.

Cuidados de enfermagem:

 Isolamento acústico (contra barulhos e estímulos luminosos);


 Aspiração freqüente (em casos de muita secreção, avisar o médico);
 Oferecer alimentação fracionada por via oral ou sonda nasogástrica;
 Manter o paciente limpo e seco, se necessário, colocar "preservativo"; em mulheres
usar fraldões;
 Fazer controle hidreletrolítico;
 Se necessário, sacrificar a limpeza do paciente para não provocar contraturas;
 Incrementar prescrição de enfermagem e
médica;
 Manter vigilância constante;
 Manter o paciente imobilizado no leito.

103
13.19. Tuberculose

Conceito

Trata-se de doença infecciosa crônica que constitui um sério problema de Saúde


Pública no mundo. Estatísticas mostram que a cada ano, em todo o mundo, adoecem 10
milhões de indivíduos e morrem cerca de 3 milhões. A distribuição é universal.

O bacilo da tuberculose instala-se preferencialmente, nos pulmões, mas também


pode ter localização extrapulmonar (ossos, órgãos genitais, rins, intestinos etc.).

A tuberculose caracteriza-se por tosse persistente, perda de peso e febre.

Agente etiológico:

Bacilo de Koch ou Mycobacterium tuberculosis.

Fonte de infecção:

O principal reservatório é o homem bacilífero positivo e, em alguns casos, o gado


bovino infectado.

O paciente que elimina grandes quantidades de bacilos no escarro constitui


principal fonte de infecção.

Período de incubação:

Entre a infecção e a doença propriamente dita, a incubação pode variar de seis


meses a anos, sendo que o primeiro ano constitui o período de maior risco.

Período de transmissibilidade:

Ocorre enquanto o paciente elimina bacilos. O grau de transmissibilidade


depende da quantidade de bacilos eliminados no ato de tossir, espirrar ou falar.

Modo de transmissão:

De pessoa a pessoa, principalmente pelo ar, através das gotículas de Flugge e dos
núcleos de Wells, eliminados pela tosse de pacientes bacilíferos positivos.

Suscetibilidade e distribuição:

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A distribuição é universal, com maior incidência em crianças até 3 anos,
adolescentes e adultos jovens. Acomete com maior incidência os desnutridos,
alcoólatras e indivíduos imunodeprimidos.

Quadro clínico:

Após a instalação do bacilo de Koch nos pulmões, ocorre a relação bacilo-


hospedeiro, podendo desenvolver, a partir daí, uma tuberculose infeccionai ou uma
tuberculose-doença.

A tuberculose-infecção ocorre quando o indivíduo foi contaminado pelo bacilo de


Koch, mas não desenvolve a doença, devido a seu estado imunológico. O organismo é
capaz de se defender da doença.

A tuberculose-doença ocorre quando a resistência do indivíduo não é suficiente


para defender-se.

A principal localização da tuberculose é nos pulmões, com cerca de 90% dos


casos. A tosse persiste com expectoração, o principal sinal de Tb pulmonar. Esta
expectoração é geralmente purulenta (amarelo-esverdeada) ou até sanguinolenta,
podendo ainda aparecer febre, astenia, mal-estar, emagrecimento, anorexia e sudorese
noturna. Num quadro mais grave, o indivíduo apresenta dispnéia e dor torácica.

Tratamento:

O tratamento é peça chave no controle da tuberculose, garantindo a quebra do


elo de transmissão.

O atual tratamento da Tb baseia-se na quimioterapia de curta duração (6 meses a


2 anos), em regime ambulatorial. Os casos de internação hospitalar restringem-se a
cerca de 15%.

As drogas básicas são: Rifampicina, Pirazinamida, Izoniazida, Estreptomicina,


Etambutol, Etionamida.

Profilaxia:

 Notificação compulsória às autoridades sanitárias locais;


 Educação sanitária ao público;
 Controle de pacientes, contatantes e suspeitos;

105
 Visita domiciliar do Enfermeiro Sanitarista, com a finalidade de estimular o
tratamento ambulatorial;
 Quimioprofilaxia dos contatantes;
 Vacinação pela BCG, - uma dose a partir do nascimento e um reforço na idade
escolar até 6 anos.

Cuidados de enfermagem:

 Isolamento respiratório (IRE):


 Máscara para todas as pessoas que entrarem no quarto;
 Avental apenas para manusear o paciente;
 Lavar as mãos sempre que se tocar o paciente ou artigos potencialmente
contaminados;
 Material não descartável deve ser descontaminado antes do reprocessamento;
 Proporcionar repouso no leito;
 Manter boa higiene oral e corporal;
 Controlar diariamente o peso do paciente;
 Observar e anotar quantidade e aspecto do escarro, vômitos e fezes;
 Observar e anotar sinais vitais;
 Incrementar prescrição de enfermagem e médica.

13.20. Hepatites Virais

Conceito

Falar em hepatites virais é referir-se a doenças


infecciosas causadas por vírus, sendo relevante o fato
de terem o fígado como órgão alvo, associadas a lesões
dos hepatócitos.

Agente etiológico:

Cinco são os principais vírus conhecidos


causadores das hepatites virais:

a) Hepatite A: é um hepatovírus (Hepa - RNA vírus);

106
b) Hepatite B: vírus da hepatite B (VHB);
c) Hepatite C: vírus da hepatite C;
d) Hepatite D: vírus da hepatite D;
e) Hepatite E: vírus da hepatite E.

Hepatite "A"

 homem e os chimpanzés são considerados reservatórios.

 A transmissão é fecal-oral de pessoa a pessoa, através de água e alimentos


contaminados.

 A incubação varia de 15 a 45 dias, em média 30 dias.

 A transmissibilidade deste vírus constitui problema sério de Saúde Pública, pois sua
infestação se dá a partir de 2 semanas antes do início dos sintomas até duas
semanas após a doença.

 Doença de distribuição universal, pode aparecer de forma esporádica ou epidêmica


principalmente nos países em desenvolvimento e em instituições fechadas, como
berçários e creches. Maior incidência em crianças e adultos jovens.

 quadro clínico pode passar a sintomáticos ou com poucos sintomas, bem gerais.

 Tem baixa mortalidade.

Hepatite "B"

 Único reservatório deste vírus é o homem. Sua transmissão ocorre pelas relações
sexuais, por agulhas ou instrumentos contaminados com sangue, solução de
continuidade da pele e mucosa, transfusão de sangue e seus derivados e transfusão
perinatal.

 A incubação varia de 45 a 180 dias, em média de 60 a 90 dias.

 A transmissibilidade ocorre de duas a três semanas antes do início dos sintomas,


podendo persistir pelo resto da vida.

 A suscetibilidade é geral, ocorre imunidade homóloga. A distribuição é geral, com


maior incidência entre 20 a 40 anos.

107
 Quadro clínico é variável, podendo apresentar de formas assintomáticas a formas
graves. Podemos descrevê-las como:

 Inaparentes: sem sintomatologia clínica, apresentando alterações nos níveis de


transaminases séricas;
 Subclínicas: com sintomas como mal-estar geral, prostração, anorexia, náuseas,
vômitos e febre. Não apresenta icterícia;
 Ictéricas: com mal-estar, prostração, anorexia, náuseas, vômitos, febre, lesões
cutâneas, artralgias, edema etc. As crianças podem apresentar sinais de
meningismo com rigidez de nuca. Após esta sintomatologia surge icterícia,
caracterizada por coluna e acolia fecal. Pode surgir dor no hipocôndrio D com
hepatoesplenomegalia.
Tratamento:

Basicamente consiste no repouso domiciliar relativo, até que desapareça o mal-


estar e baixem os níveis de transaminases. Este período pode durar quatro semanas. A
alimentação é normal; desaconselham-se apenas bebidas alcoólicas.

Profilaxia:

 Ingerir alimentos bem cozidos; quando crus, bem lavados;


 Manter boa higiene corporal;
 Educação sanitária à população;
 Ingerir água fervida ou filtrada;
 Saneamento básico e água tratada são fundamentais;
 Controle e restrição de parceiros;
 Transfusão de sangue somente com exame prévio;
 Seringas e agulhas somente descartáveis;
 Vacinação: Hepatite B = 3 doses, a segunda e a terceira são aplicadas
respectivamente um e seis meses depois da
primeira.

Cuidados de enfermagem:

Se o tratamento for domiciliar, cabe à


enfermagem orientar para o repouso relativo; e para os

108
casos de vírus "B", manter precauções com sangue e secreções.

14 - ISOLAMENTO HOSPITALAR

14.1. Considerações Gerais:

O isolamento por categoria de doenças, preconizado pelos Centros para o


Controle de Doença (Centers for Disease Control – CDC), em 1983*, era o que estava
sendo mais frequentemente utilizado em nosso meio e dificuldades na sua aplicação
foram constatadas.

O sistema de isolamento descrito nas presentes normas incorpora algumas


categorias da proposta dos CDC e enfatiza as formas Universais de Biossegurança ou
PRECAUÇÕES UNIVERSAIS. Algumas desvantagens do sistema anterior são superadas,
tornando-se mais simples sua aprendizagem e operacionalização.

As orientações gerais para os isolamentos baseiam-se em três parâmetros:

Diagnóstico, comprovado ou suspeito, de doença


Determina a necessidade de
infecciosa transmissível ou colonização por
isolamento.
germes multirresistentes.

Determinam as barreiras técnicas


Mecanismos de transmissão do agente envolvido
intiinfecciosas.

Período de transmissibilidade do agente da


Determina o período de isolamento.
infecção ou da colonização

Fonte: (adaptado de) Informes Técnicos da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. CADAIS, Ano III, nr. 15.
1991.

14.2 Conceito

A necessidade de quarto privativo** mais a adoção de precauções anti-


infecciosas, que vão além daquelas universais, são o fundamento para a existência de
leitos hospitalares especiais para o tratamento de determinados pacientes, o que se
constitui no ISOLAMENTO HOSPITALAR.

*O sistema de isolamento por categorias do CDC incluía: isolamento rigoroso de


contato respiratório e para a tuberculose e as precauções entéricas, com drenagens e
secreções e com sangue e líquidos orgânicos.
109
**Não necessariamente individual, uma vez que os pacientes infectados ou
colonizados com o mesmo microrganismo podem compartilhar o mesmo quarto.

14.3 Aspectos Físicos do Isolamento

O Ministério da Saúde não tem recomendado a construção de unidades


especificas para isolamento, tipo “enfermaria de isolamento", mas orientado que, as
diversas unidades de internação dos hospitais devam ter disponibilidade física para o
isolamento, na proporção adequada à sua demanda.

As unidades de internação e de emergência devem dispor de quartos ou


ambientes especiais, de preferência ou de quartos adaptáveis às situações em que o
paciente necessite de isolamento.

Recomenda-se que o quarto possua banheiro privativo (vaso sanitário, chuveiro e


pia) uma pequena antecâmara, localizada entre o quarto e a via de acesso. A
antecâmara deve possuir uma pia, principalmente, para a limpeza das mãos dos
profissionais de saúde, e armários ou prateleiras para se guardar objetos, conforme a
rotina do serviço.

A ventilação deve manter o quarto e a antecâmara sob pressão negativa em


relação ao corredor, o que geralmente se consegue mediante seis trocas de ar por hora,
com exaustão para o exterior do edifício. As portas do quarto e da antecâmara devem
permanecer fechadas. Estes cuidados com a ventilação do quarto são indicados,
principalmente, para o isolamento de pacientes com tuberculose.

Manter no quarto o mínimo de equipamento e mobiliário necessário. Realizar a


desinfecção concorrente e terminal de acordo com as normas de Processamento de
Artigos e Superfícies em Estabelecimentos de Saúde.

14.4 Precauções Anti-infecciosas nos Isolamentos

O quarto privativo, por si só não é suficiente para interromper as vias de


transmissão dos agentes infecciosos e as precauções anti-infecciosas devem ser
obedecidas sob o risco de não se conseguir o objetivo do isolamento.

Todas as pessoas (profissionais de saúde e visitantes) que entram no quarto


devem ser instruídas sobre as precauções anti-infecciosas e um aviso com as instruções
(Ficha, de Instrução) deve estar em local visível, na entrada do quarto.

Consultar a Rotina de Circulação dos Quartos de Isolamento em que se destaca:

110
 A rotina de lavar as mãos deve ser cumprida rigorosamente antes de entrar e ao
sair do quarto, e após retirar as luvas, entre um procedimento e outro;
 Os artigos devem ser exclusivos do paciente e de preferência descartáveis. Os
artigos reutilizáveis devem ser submetidos à desinfecção. Evitar a entrada de
objetos desnecessariamente, tais como prontuários;
 Os EPI devem ser retirados e descartados ou colocados em hamper na saída do
quarto de isolamento. Não é permitida a circulação para outras áreas com os
mesmos.

14.5 Tipos de Isolamento

Tendo como base as Precauções Universais, apenas 3 categorias de isolamento


são indicadas; RIGOROSO, Respiratório ou em SITUAÇÕES ESPECIAIS.

14.5.1. Isolamento Rigoroso:

Indicado para prevenir infecções altamente contagiosas e/ou com grande


virulência que podem ser transmitidas por via aérea ou por contato. As doenças
incluídas nesta categoria são: varicela, herpes zoster disseminado ou em paciente
imunodeprimido, difteria faríngea, peste pneumônica.

Lavas, máscaras e aventais são indicados para todas as pessoas que entram no
quarto.

14.5.2. Isolamento Respiratório

Indicado para prevenir a transmissão de microrganismos através do ar, por


núcleos de gotículas e poeira contaminada ou por contato com gotículas que se
disseminam a curta distância.

O uso de máscara é indicado para todas as pessoas que entram no quarto. Os


demais EPI devem ser usados conforme as Precauções universais.

Os pacientes com tuberculose pulmonar ativa (com baciloscopia positiva ou com


quadro clinico radiológico altamente sugestivo) são colocados em Isolamento
Respiratório, com cuidados especiais. Os quartos devem ser adequadamente ventilados
e o uso de máscaras especiais, com maior capacidade de filtração do ar e melhor
vedação no contato com a face é recomendado*. Os pacientes devem ser orientados
para o uso do lenço sobre a boca, ao tossir ou espirrar.

111
*Os núcleos de gotículas, que contêm o bacilo da tuberculose possuem o
diâmetro entre 1 a 5 mícrons e as máscaras comuns não são efetivas em filtrá-los.

Exemplos de outras doenças incluídas nesta categoria: doença meningocócica,


coqueluche, sarampo, pneumonia por bactérias multirresistentes, ele.

14.5.3. Isolamento em Situações Especiais:

Indicado para prevenir a transmissão de microrganismos quando, além das


Precauções Universais, o quarto privativo e demais precauções anti-infecciososas são
recomendados. Esta indicação é determinada não somente em relação à doença, mas,
principalmente pela situação particular em que se encontra o paciente.

Exemplos:

 Paciente com diarréia e sem condições de manter higiene adequada (crianças,


adultos com distúrbios de comportamento, incontinência fecal ou diarréia
profusa).
 Infecções cutâneas muito secretantes que não podem ser totalmente cobertas
com curativos ou estes são incapazes de conter toda a secreção e manter seca â
superfície;
 Infecções por bactérias multirresistentes, excluídas as pulmonares, em
conformidade com o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar;
 Pacientem com hemorragias maciças do trato digestivo não controladas.
 Os EPI são indicados conforme as Precauções Universais.

112
15. ANEXOS

15.1. Anexo I: Doenças Infecciosas mais Frequentes e Medidas de Isolamento

Tipo de Duração das Medidas de


Doença Material Infeccioso Comentários
Isolamento Isolamento

Bactérias multirresistentes, - Seguir as orientações do SCIH;


Pus *
infecção ou colonização: - As bactérias multirresistentes
Urina *
 Cutânea; Até as culturas ou pesquisas são:
Em situações Fezes negativas colhidas 48 e 72 -
 Urinária; Bacilos gram-negativos,
especiais horas após o término de resistentes aos aminoglicosídeos
 Gastrintestinal; Secreções*
Respiratório terapêutica antimicrobiana ou (gentamicina, tobramicina e
 Pulmonar; Respiratórias
descolonização. amicacina);
E as fezes
- Stachylococos aureus resistente à
possivelmente
oxacilina.

As pessoas não suscetíveis não


CAXUMBA Respiratório Secreções Respiratórias Até 9 dias do início da parotidite
necessitam utilizar máscara.

Até 7 dias do início do


COQUELUCHE Respiratório Secreções Respiratórias
tratamento eficaz

113
Até 2 culturas negativas de
secreção nasal e de garganta,
DIFTERIA FARÍNGEA Rigoroso Secreção Respiratória realizadas no mínimo 24 horas
após a suspensão da
terapêutica antimicrobiana

ESTREPTOCCOCIA (Grupo A)
* Respiratória, (faringite, Até 24 horas do início do
Respiratório Secreções Respiratórias
amigdalite, escarlatina, tratamento eficaz
pneumonia).

Em No caso de encefalite ou na forma


situações mucocutânea localizada não é
HERPES SIMPLES especiais necessário o isolamento
--Mucocutâneo disseminado Até que todas as lesões estejam
ou primário grave (cutâneo, na fase de crosta.
oral e genital) Secreção das lesões

Durante a doença
-- neonatal Em
situações
especiais

H. ZOSTER Rigoroso Durante a duração da doença; As pessoas não suscetíveis não


--disseminado ou em O isolamento Secreções necessitam usar máscaras.
das lesões

114
paciente imunodeprimido; neste caso, é respiratórias Aquelas suscetíveis, se possível,
indicado se a devem evitar entrar no quarto.
higiene do Observar as recomendações para
-- localizado em paciente Até que todas as lesões estejam
paciente é os comunicantes de varicela
imunocompetente; na fase de crosta.
precária Secreções das lesões
(isolamento
em situações
especiais).

Secreções Respiratórias Até 24 horas do início do


MENINGITE BACTERIANA
tratamento eficaz
-- meningocócica Respiratório

Secreções Respiratórias
Até 24 horas do início do
-- Haemophilus influenza e Respiratório
tratamento eficaz

Até 24 horas do início do


MENINGOCOCCEMIA Respiratório Secreções Respiratórias
tratamento eficaz

Até 48 horas do início do


PNEUMONIA tratamento eficaz
Respiratório Secreções Respiratórias
-- Staphylococcus aureus

-- Haemophilus influenza e Até 24 horas do início do


Respiratório Secreções Respiratórias
tratamento eficaz

115
Até 7 dias do início do As pessoas não suscetíveis não
RUBÉOLA exantema. necessitam usar máscaras.
Respiratório Secreções Respiratórias
-- adquirida Gestantes suscetíveis devem evitar
de entrar no quarto
-- congênita Durante a internação (até
Respiratório Secreções Respiratórias
completar 02 anos de idade)

Secreções Respiratórias Até 5 dias do início do As pessoas não suscetíveis não


SARAMPO Respiratório
exantema. necessitam usar máscaras.

A duração do isolamento deve


TUBERCULOSE Respiratório
ser orientada pela resposta
(quarto
clínica e pela redução do
ventilado e Núcleo de gotículas e Crianças e lactantes em geral, não
-- pulmonar; número de agentes no escarro,
uso de poeira contaminada necessitam de isolamento.
o que geralmente ocorre 2 a 3
máscara
semanas após o início do
-- laríngea especial)
tratamento antimicrobiano.

As pessoas não suscetíveis não


necessitam usar máscaras.
Secreções das lesões Até que todas as lesões estejam Aquelas suscetíveis, se possível,
VARICELA Rigoroso
respiratórias na fase de crosta. devem evitar entrar no quarto.

Os comunicantes suscetíveis
devem permanecer isolados, a

116
partir do 10º dia de exposição até
o 21º dia depois da última
exposição.

117
16 - OUTRAS DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS

1. Tracoma: É uma inflamação da conjuntiva e da córnea que pode levar à cegueira.


A doença é causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, de estrutura muito
simples, cuja transmissão se dá por contato com objetos contaminados. A
profilaxia inclui uma boa higiene pessoal e o tratamento é feito com sulfas e
antibióticos;

2. Disenterias Bacterianas: Constituem a principal causa de mortalidade infantil nos


países subdesenvolvidos, onde as classes mais pobres vivem em péssimas
condições sanitárias e de moradia. São causadas por diversas bactérias como a
Shigella e a Salmonella, e por outros bacilos patogênicos. Essas doenças são
transmitidas pela ingestão de água e alimentos contaminados, exigindo todas
pronto atendimento médico. Sua profilaxia só pode ser feita através de medidas
de saneamento e melhoria das condições socioeconômicas das camadas menos
favorecidas da população;

3. Gonorréia ou Blenorragia: É causada por uma bactéria, o Gonococo (Neisseria


gonorrheage), transmitida por contato sexual. Provoca ardência, corrimentos pela
uretra. Seu tratamento deve ser feito sob orientação médica, pois exige o
emprego de antibióticos;

4. Meningite Meningocócica: É uma infecção das meninges, causada pelo


meningoccoco . Os sintomas são febre alta, náuseas, vômitos e rigidez dos
músculos da nuca. O doente deve ser hospitalizado imediatamente e submetido a
tratamento por antibióticos, pois a doença pode ser fatal. É transmitida por
espirro, tosse ou fala, sendo importante a notificação à escola caso uma criança
contraia.

17 - OUTRAS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS:

Os vírus não pertencem a nenhum reino específico são estudados como um caso
à parte. São parasitas intracelulares obrigatórios e somente vistos na microscopia
eletrônica. Não apresentam constituição celular e sim apenas uma cápsula proteica e um

118
ácido nucléico: o DNA ou RNA. Muitas viroses atacam vegetais e animais. Em humanos,
a maioria das viroses ocorre na infância e são de cura espontânea.
As principais são:

1. Gripe e Resfriado Comum: Embora causados por vírus diferentes, seus sintomas
são semelhantes: coriza, obstrução nasal, tosse e espirro; a febre geralmente só
aparece nos casos de gripe. Ambas as doenças são transmitidas por gotículas
eliminadas pelas vias respiratórias. Recomenda-se apenas repouso, boa
alimentação, ingestão de uma grande quantidade de líquidos e se necessário,
antitérmicos e descongestionantes. Se os sintomas persistirem, por mais de uma
semana é necessário consultar um médico;

2. Febre Amarela: É causada por um vírus transmitida pelo mosquito Aedes aegypti,
provocando febre, vômito e lesões no fígado. A profilaxia é feita através do
combate ao mosquito e da vacinação;

18 - IMUNIZAÇÃO
Uma doença ocorre na população como resultada do acúmulo de suscetíveis. O
indivíduo é parte de um grupo e, por isto, a sua resistência e suscetibilidade são fatores
significativos que têm influência sobre a incidência da doença. Estas características
tornam-se mais importantes no caso de agentes infecciosos que se transmitem de uma
pessoa a outra. O agente não consegue se disseminar quando a proporção de pessoas
imunes é elevada. Esta se aplica tanto a populações humanas (imunidades de massa)
como de animais vertebrados (imunidade de rebanho).
Do ponto de vista do controle de doenças específicas, como, por exemplo, o
sarampo no homem ou a raiva no cão, é importante saber, exatamente, que proporção
da população deve ser imunizada para que seja interrompido o processo de expansão
de uma infecção. Os dados disponíveis indicam que 85% de pessoas imunes são
suficientes para cessar a transmissão da difteria, e que a circulação do vírus do sarampo
é interrompida quando 95% dos indivíduos estão imunizados.
Todos os agentes infecciosos possuem propriedades que ajudam a determinar a
ocorrência da doença. Identificando-se, para cada um destes microorganismos,
mecanismos que permitem deter sua disseminação. Um esquema que facilita a

119
compreensão destes mecanismos é a chamada cadeia epidemiológica ou cadeia de
infecção, que pode ser ilustrada por uma corrente, cujos elos representam pontos
importantes no processo de determinação da doença:

1. O agente causal específico: vírus, bactéria, outros;


2. O reservatório: homem ou animal que abriga o agente causador, apresentando
ou não a doença;
3. A porta de saída: local por onde o agente causador é eliminado (boca, nariz,
aparelho digestivo, etc.);
4. O modo de transmissão: maneira como o agente causador passa do doente para
o sadio (novo hospedeiro);
5. A porta de entrada para o novo hospedeiro: local por onde o agente causador
entra para o organismo;
6. Suscetibilidade: capacidade de o novo hospedeiro enfrentar o agente causador, o
que resulta ou não na ocorrência da doença.

VACINAÇÃO: CONCEITOS BÁSICOS

Fundamentos Imunológicos

O processo imunológico pelo qual se desenvolve a proteção conferida pelas


vacinas compreende o conjunto de mecanismos através dos quais o organismo humano
reconhece uma substância como estranha, para, em seguida, metabolizá-la, neutralizá-la
e/ou eliminá-la. A resposta imune* do organismo às vacinas depende basicamente de
dois tipos de fatores: os inerentes às vacinas e os relacionados com o próprio organismo.

Fatores próprios das vacinas

Os mecanismos de ação das vacinas são diferentes, variando segundo seus


componentes antigênicos, que se apresentam sob a forma de: suspensão de bactérias
vivas atenuadas (BCG, por exemplo); suspensão de bactérias mortas ou avirulentas
(vacinas contra a coqueluche e a febre tifoide, por exemplo); componentes das bactérias
(polissacarídeos da cápsula dos meningococos dos grupos A e C, por exemplo); toxinas

120
obtidas em cultura de bactérias, submetidas a modificações químicas ou pelo calor
(toxóide diftérico e tetânico, por exemplo); vírus vivos atenuados (vacina oral contra a
poliomielite e vacinas contra o sarampo e a febre amarela, por exemplo); vírus inativados
(vacina contra a raiva, por exemplo); frações de vírus (vacina contra a hepatite B,
constituída pelo antígeno de superfície do vírus, por exemplo).
Fatores inerentes ao organismo que recebe a vacina: mecanismos básicos da
resposta imune.
Vários fatores inerentes ao organismo que recebe a vacina podem interferir no
processo de imunização, isto é, na capacidade desse organismo responder
adequadamente à vacina que se administra: idade; doença de base ou intercorrente;
tratamento imunodepressor.
Há dois mecanismos básicos de resposta imune: os inespecíficos e os específicos.

Mecanismos inespecíficos

Os fatores inespecíficos da resposta imune são constituídos por mecanismos


superficiais e mecanismos profundos que dificultam a penetração, a implantação e/ou a
multiplicação dos agentes infecciosos, tais como: barreira mecânica constituída pela
integridade da pele e das mucosas; “flora” microbiana normal (microbiota) da pele e de
mucosas, que se opõe à colonização de microorganismos (particularmente bactérias e
fungos); secreção cutânea (de glândulas sudoríparas e sebáceas), contendo ácidos
graxos e ácido láctico; secreção mucosa e atividade das células ciliadas do epitélio das
vias respiratórias; fluxo lacrimal,salivar, biliar e urinário; peristaltismo intestinal; acidez
gástrica e urinária; alcalinidade do suco pancreático;ação mucolítica e bactericida da
bile; ação da lisozima presente na lágrima, na saliva e nas secreções nasais; fatores
séricos e teciduais, constituídos por betalisina, complemento, intérferon, fibronectina,
lactoferrina, tuftisina, espermina (secreção prostática) e protamina (no esperma);
inflamação;fagocitose.

121
Mecanismos específicos

A evolução biológica levou ao aprimoramento da resposta imune dos organismos


superiores, quanto aos agentes infecciosos, possibilitando proteção específica e
duradoura contra os patógenos pelos quais foram estimulados.
O antígeno encontra-se no agente ou na substância reconhecida como estranha
pelo organismo, podendo ser componente de bactérias, vírus, etc. Depois de sua
penetração, através da pele e/ou de mucosas (portas de entrada), atinge a circulação
sanguínea e linfática e alcança os órgãos linfoides secundários (gânglios linfáticos, baço
e nódulos linfoides).
O antígeno sofre processamento inicial e, após esse processamento, o mesmo,
agora fragmentado, é apresentado aos linfócitos envolvidos na fase efetora da resposta
imune.
Os linfócitos, originários das células primordiais da medula óssea, sofrem nos
órgãos linfoides primários (timo e bursa de Fabricius ou equivalente, no caso do homem
a medula óssea) processos de diferenciação celular, de que resulta o aparecimento dos
linfócitos T e B, cujas atividades são distintas e complementares.
Os linfócitos diferenciam-se em linfócitos T no timo e em linfócitos B na bursa de
Fabricius (nas aves) ou medula óssea (no homem). Linfócitos T e B apresentam em sua
membrana, receptores específicos, determinados geneticamente com combinações
diversificadas na sequencia dos seus peptídeos e diferentes conformações estruturais, o
que possibilita alta seletividade de sua ligação com antígenos diversos. As linhagens de
linfócitos T e de linfócitos B dotadas dos mesmos receptores constituem os clones; a
grande variedade de clones existentes é que garante a ampla diversidade da resposta
imune.
Da interação dos antígenos com os receptores dos linfócitos T e B resulta o
estímulo dessas células; com as alterações subsequentes do seu metabolismo, os
linfócitos entram em fase de ativação.

IMUNIDADE CELULAR
Como resultado da ativação de linfócitos T, dá-se o aparecimento de diversas
subpopulações dessas células: linfócitos T-auxiliares, linfócitos T-supressores, linfócitos T-
citotóxicos, linfócitos T responsáveis pelas reações de hipersensibilidade tardia e
linfócitos T-memória. Os mediadores das respostas dos linfócitos T são substâncias
solúveis de baixo
122
Peso molecular denominada linfocinas. Os linfócitos T-memória são responsáveis pela
conservação da “lembrança” do primeiro contato com o antígeno, fato que proporciona
resposta intensa e imediata, com curto período de latência, num segundo contato
desses linfócitos com o antígeno que determinou o seu aparecimento (resposta
secundária). A imunidade celular é responsável predominantemente pela proteção
específica contra infecções intracelulares, causadas por vírus, bactérias, fungos e
protozoários. Linfócitos T-citotóxicos estimulados são capazes de lisar células infectadas
quando determinantes antigênicos do patógeno se expressam em sua membrana. Lise
de células infectadas também pode ser provocada por citotoxicidade mediada por
anticorpos, cujas células efetoras são os linfócitos K (killer), que correspondem a cerca de
5% dos linfócitos do sangue, providos de receptores para a fração Fc de anticorpos da
classe IgG.

IMUNIDADE HUMORAL
O estímulo antigênico dos linfócitos B determina a formação de clone de
linfócitos B-memória e a transformação de outros linfócitos B em plasmócitos,
responsáveis pela produção de substâncias com estrutura bem definida, com alto peso
molecular, denominadas imunoglobulinas que recebem o nome de anticorpos quando
são capazes de reagir com o antígeno responsável pelo seu aparecimento (imunidade
humoral). As respostas de imunidade humoral são mais duradouras quando há
participação de linfócitos T-auxiliares na ativação de linfócitos B (ou seja, quando os
antígenos são T-dependentes).
Três classes de imunoglobulinas séricas (IgM, IgG e IgA) e as IgA-secretoras
(liberadas na superfície das mucosas dos tratos respiratório, intestinal e genitourinário)
atuam na imunidade contra os agentes infecciosos. Na resposta da imunidade humoral
que se segue ao primeiro contato com o antígeno (resposta primária) há um período de
latência de alguns dias ou algumas semanas entre o estímulo e o aparecimento de
anticorpos séricos: de início aparecem os anticorpos da classe IgM (cujo
desaparecimento geralmente se dá no fim de algumas semanas ou meses), seguidos
pelos anticorpos das classes IgA e IgG.
Os anticorpos da classe IgG são detectados no sangue durante tempo
prolongado, constituindo a sua presença indicação de imunidade ou contato prévio
com o antígeno em questão. A resposta imune humoral primária não depende da
participação da imunidade celular, tímica, sendo por isso denominada T-independente.

123
A resposta humoral secundária, que ocorre no segundo contato com o antígeno,
após curto período de latência, relacionada fundamentalmente com o acentuado
aumento da concentração sérica de IgG, é também denominada resposta do tipo
booster ou anamnéstica. A resposta humoral secundária se traduz por imunidade
rápida, intensa e duradoura e é dependente da participação da imunidade celular,
tímica, sendo, por isso, chamada de T-dependente.
A imunidade humoral e os mecanismos de defesa anti-infecciosos inespecíficos
com que se associa (particularmente a fagocitose e a ativação do sistema complemento
por via clássica) são responsáveis pela neutralização de toxinas e de alguns vírus, pela
opsonização de bactérias capsuladas e pela lise de bacilos gram-negativos entéricos.

Agentes Imunizantes

Natureza

A vacina é o imunobiológico que contém um ou mais agentes imunizantes


(vacina isolada ou combinada) sob diversas formas: bactérias ou vírus vivos atenuados,
vírus inativados, bactérias mortas e componentes de agentes infecciosos purificados
e/ou modificados quimicamente ou geneticamente.
A vacina é o imunobiológico que contém um ou mais agentes imunizantes
(vacina isolada ou combinada) sob diversas formas: bactérias ou vírus vivos atenuados,
vírus inativados, bactérias mortas e componentes de agentes infecciosos purificados
e/ou modificados quimicamente ou geneticamente.

Composição

O produto em que a vacina é apresentada contém, além do agente imunizante, os


componentes a seguir especificados:
Líquido de suspensão: constituído geralmente por água destilada ou solução salina
fisiológica, podendo conter proteínas e outros componentes originários dos meios de
cultura ou das células utilizadas no processo de produção das vacinas;
Conservantes, estabilizadores antibióticos: pequenas quantidades de substâncias
antibióticas ou germicidas são incluídas na composição de vacinas para evitar o

124
crescimento de contaminantes (bactérias e fungos); estabilizadores (nutrientes) são
adicionados a vacinas constituídas por agentes infecciosos vivos atenuados. Reações
alérgicas podem ocorrer se a pessoa vacinada for sensível a algum desses componentes;
Adjuvantes: compostos contendo alumínio são comumente utilizados para
aumentar o poder imunogênico de algumas vacinas, amplificando o estímulo provocado
por esses agentes imunizantes (toxóide tetânico e toxóide diftérico, por exemplo).

18.1 Vacina Contra Tuberculose (BCG)

Composição e Apresentação

A vacina contra a tuberculose é o BCG (bacilo de Calmette & Guérin) liofilizado,


obtido por atenuação do Mycobacterium bovis, apresentada em ampolas com múltiplas
doses.

Idade de aplicação

A partir do nascimento. Desde que não tenha sido administrada na unidade


neonatal, a vacina deve ser feita ao completar o primeiro mês de vida ou no primeiro
comparecimento à unidade de saúde. Pessoas com qualquer idade podem ser
vacinadas.

Indicação

É indicada principalmente para prevenir as formas graves da tuberculose (miliar e


meníngea) em crianças com menos de cinco anos de idade, mais frequentes em
menores de um ano. Estão indicadas, também, e o mais precocemente possível, nas
crianças VIH-positivas assintomáticas e filhos de mães VIH-positivas. É contraindicada nos
indivíduos VIH – positivos sintomáticos.

125
Via de administração

Rigorosamente intradérmica, de preferência no braço direito, na altura da


inserção inferior do músculo deltoide.
Nota: É a seguinte a evolução da reação vacinal: nódulo local que evolui para
pústula, seguida de crosta e úlcera, com duração habitual de seis a 10 semanas, dando
origem quase sempre a pequena cicatriz. Durante a fase de úlcera, pode haver o
aparecimento de secreção.

Esquema

Esquema básico: uma dose, o mais precocemente possível.


Revacinação: preferencialmente aos dez anos de idade. Por razões operacionais,
pode ser aplicada por volta dos seis anos de idade, na admissão à escola.

Eventos adversos mais comuns

Formação de abscesso e/ou ulceração, no local da aplicação; linfadenite regional.

Contraindicações

Imunodeficiência congênita ou adquirida, incluindo crianças infectadas pelo vírus


da imunodeficiência humana (VIH) que apresentem sintomas da doença. Embora não
apresentem contraindicações absolutas, recomenda-se adiar a vacinação com BCG em
recém-nascidos com peso inferior a 2.000g e em presença de afecções dermatológicas
extensas em atividade.

Conservação e validade

Conservar entre +2ºC e +8ºC. A vacina inativa-se rapidamente quando exposta


diretamente a raios solares; não há, porém, risco de inativação se for exposta à luz
artificial. Após a reconstituição, a vacina deve ser utilizada no prazo máximo de seis

126
horas. O prazo de validade é indicado pelo fabricante e deve ser respeitado
rigorosamente.

18.2 Vacina Contra Hepatite B

Introdução

O PNI recomenda atualmente a vacinação universal das crianças contra hepatite


B. Quando não for aplicada na unidade neonatal, a vacina deve ser feita na primeira
consulta ao serviço de saúde. Pode ser aplicada simultaneamente com a vacina BCG.
Nas áreas de alta prevalência, deve-se também vacinar as crianças com seis a sete
anos de idade, por ocasião da entrada na escola, caso não tenham registro de esquema
vacinal completo contra a hepatite B. De modo semelhante, pode ser aplicada
simultaneamente com o BCG.
Outros grupos priorizados para a vacinação são os grupos de risco,
compreendendo hemofílicos, usuários de hemodiálise, portadores de outras doenças
que implicam alto risco de transfusões de sangue ou utilização de produtos sanguíneos,
profissionais de saúde, comunicantes domiciliares de portadores, reclusos e participantes
de outras comunidades fechadas, prostitutas e homossexuais masculinos.
A vacinação da população com zero-14 anos de idade em áreas de alta
endemicidade, sob a forma de campanhas, deve ser implantada e mantida a cada ano,
considerando o risco da transmissão da infecção nessas regiões, desde os primeiros anos
de vida.

Composição e apresentação

Há dois tipos de vacina contra hepatite B: a de primeira geração contém


partículas virais obtidas do plasma de doadores do vírus, inativadas pelo formol; a de
segunda geração é preparada por método de engenharia genética e obtida por
tecnologia de recombinação do ADN (ácido desoxirribonucléico).
As duas vacinas utilizam hidróxido de alumínio como adjuvante e o timerosal
como conservante. O PNI recomenda atualmente apenas o uso da vacina recombinante,
isto é, a obtida por engenharia genética.

127
As vacinas recombinantes licenciadas atualmente são produzidas a partir de
leveduras (levedura de padeiro), nas quais se introduziu um plasmídio contendo o gene
AgHBs. Contêm cinco a 40mg/ml de antígeno (AgHBs), adsorvidos em hidróxido de
alumínio, utilizando-se o timerosal como conservante. Três doses dessa vacina, aplicadas
por via intramuscular, induzem títulos protetores (>10mUI/ml) em mais de 90% dos
receptores adultos sadios e em mais de 95% dos lactentes, crianças e adolescentes de
até 19 anos de idade. Idosos, dialisados e imunodeficientes apresentam resposta
imunológica mais baixa.
A vacina contra hepatite B é apresentada sob a forma líquida, em ampolas
individuais ou frascos-ampola com múltiplas doses.

Idade de aplicação

Iniciar de preferência logo após o nascimento, nas primeiras 12 horas de vida,


para evitar a transmissão vertical. Caso isso não tenha sido possível, iniciar o mais
precocemente possível, na unidade neonatal ou na primeira visita ao Posto de Saúde. A
vacina contra hepatite B pode ser administrada em qualquer idade e simultaneamente
com outras vacinas do calendário.

Via de administração

Intramuscular profunda, no vasto lateral da coxa; em crianças com mais de dois


anos de idade, pode ser aplicada na região deltoide. Não deve ser aplicada na região
glútea, pois a adoção desse procedimento se associa com menor produção de
anticorpos, pelo menos em adultos.

Esquema

As duas primeiras doses devem ser aplicadas com intervalo de um mês e a terceira
seis meses após a primeira (esquema 0,1,6); o intervalo entre a segunda e a terceira
doses deve ser de, no mínimo, dois meses.

128
Eventos adversos mais comuns

Dor no local da injeção e febre baixa são os eventos adversos mais


frequentemente observados em crianças e adultos, ocorrendo em 1% a 6% dos
vacinados. Mal-estar, cefaléia e fadiga podem ocorrer.

Contraindicações

A ocorrência, muito rara, de reação anafilática sistêmica seguindo-se à aplicação


de dose anterior.

Conservação e validade

Deve ser conservada entre +2°C e +8ºC. O congelamento inativa a vacina. Depois
de aberto o frasco-ampola de múltiplas doses, a vacina poderá ser utilizada durante até o
final do prazo de validade, desde que tenha sido manipulada com técnicas corretas de
assepsia. O prazo de validade é indicado pelo fabricante e deve ser respeitado
rigorosamente.

18. 3 Vacina Oral Contra Poliomielite (VOP)

Composição e Apresentação

A VOP é indicada para a prevenção da poliomielite e é produzida a partir de vírus


vivos atenuados em cultura de células derivadas especialmente de tecido renal de
macacos da espécie Cercopthecos aethiops. Contêm os três tipos de poliovírus
atenuados (tipos I, II e III).
Contém, por dose, as seguintes concentrações virais:

Poliovírus tipo I ............... 1.000.000 CCID 50 (*)

Poliovírus tipo II............... 100.000 CCID 50

129
Poliovírus tipo III.............. 600.000 CCID 50

(*) CCID = dose infectante para 50% das culturas de células. Contém, além disso,
conservantes (antibióticos) e termoestabilizador (por exemplo cloreto de magnésio e
aminoácidos ou sacarose).
É apresentada sob a forma líquida, habitualmente em um conjunto de frasco,
aplicador e tampa rosqueável, moldados em plástico maleável e resistente, contendo 20
ou 25 doses.

Idade de aplicação

A vacinação de rotina é recomendada a partir dos dois meses de idade. Situações


epidemiológicas especiais podem indicar a vacinação a partir do nascimento da criança.
Em campanhas maciças, a vacina é administrada nas crianças com menos de cinco anos
de idade, independente do estado vacinal prévio.

Via de administração

A vacina contra poliomielite deve ser administrada por via oral. Cada dose
corresponde a duas gotas, que equivalem a 0,1ml, ou de acordo com as especificações
de cada fabricante.

Esquema

Esquema em vacinação de rotina: três doses a partir dos dois meses de idade,
obedecendo a um intervalo de 60 dias entre as vacinações. Uma quarta dose deve ser
aplicada aos 15 meses de idade. O intervalo mínimo entre as doses é de 30 dias.

Eventos adversos

Respeitadas as contraindicações, a vacina oral contra poliomielite tem segurança


bem estabelecida; no entanto, podem ocorrer quatro a 40 dias após a vacinação
130
acidentes pós-vacinais (paralisias flácidas), na proporção de um caso em cada 2.390.000
primeiras doses e um caso para 13 milhões do total de doses aplicadas. Da segunda
dose em diante as paralisias pós-vacinais são ainda mais raras.

Contraindicações

Não existem contraindicações absolutas para a aplicação de vacina contra


poliomielite.

Conservação e validade

Quando a vacina for mantida à temperatura igual ou inferior a -20ºC (freezer)


mantém a sua potência por 24 meses. Após o descongelamento, conservada sob
refrigeração à temperatura de 2ºC a 8ºC (geladeira), a validade será mantida por um
período de três meses, observando o prazo de validade estabelecido para cada lote da
vacina.
A validade da vacina encontra-se impressa na embalagem do fabricante e deve
ser rigorosamente obedecida.

18.4 Vacina Contra Difteria, Tétano e Coqueluche (Vacina Tríplice DTP - Tríplice
Bacteriana)

Composição e apresentação

A vacina tríplice DTP contém toxóide diftérico, toxóide tetânico e Bordetella


pertussis inativada em suspensão, tendo como adjuvante hidróxido ou fosfato de
alumínio, sendo apresentada sob a forma liquida em ampola ou frasco-ampola com dose
única, ou frasco-ampola com múltiplas doses.

Idade de aplicação

A partir de dois meses.

131
Via de administração

Intramuscular profunda, no vasto lateral da coxa; em crianças com mais de dois


anos de idade pode ser aplicada na região deltoide.

Esquema

Esquema básico: três doses com intervalos de 60 dias.

Eventos adversos

Dor, vermelhidão e enduração locais; febre, mal-estar geral e irritabilidade nas


primeiras 24 a 48 horas. Com menor frequência podem ocorrer sonolência, choro
prolongado e incontrolável, convulsões e síndrome hipotônico-hiporresponsiva
(hipotonia, sudorese fria e diminuição de resposta a estímulos).

Contraindicações

A aplicação da vacina tríplice DTP é contraindicada em crianças que tenham


apresentado após a aplicação de dose anterior:

a) reação anafilática sistêmica grave (hipotensão, choque, dificuldade respiratória);


b) encefalopatia nos primeiros sete dias após a vacinação.

Não devem ser administradas doses subsequentes da vacina contra a coqueluche


às crianças em que se manifestou encefalopatia nos primeiros sete dias após a
vacinação, mesmo que a responsabilidade da mesma pelo evento não possa ser
estabelecida. O esquema vacinal básico será completado com DT.

132
Precauções

Alguns eventos pós-vacinais, por não determinarem sequelas, não são


considerados contraindicações, mas merecem atenção especial. São divididos em duas
categorias:

Conservação e validade
Deve ser conservada entre +2°C e +8°C. O congelamento inativa a vacina. Depois
de aberto o frasco-ampola de múltiplas doses, a vacina poderá ser utilizada até o final do
prazo de validade, desde que tenha sido manipulada com técnicas corretas de assepsia.
O prazo de validade é indicado pelo fabricante e deve ser respeitado rigorosamente.

18.5 Vacina Contra Difteria e Tétano (Vacina Dupla Bacteriana)

Composição e apresentação

A vacina dupla contém toxóide diftérico e toxóide tetânico, tendo como


adjuvante hidróxido ou fosfato de alumínio. É apresentada sob a forma líquida em
ampola com dose única ou em frasco-ampola com múltiplas doses. Há dois tipos de
vacina dupla: vacina dupla do tipo infantil (DT) e vacina dupla do tipo adulto (dT).
A vacina dupla do tipo infantil (DT) contém a mesma concentração de toxóide
diftérico e de toxóide tetânico presente na vacina tríplice (DTP), enquanto a dupla do
tipo adulto (dT) contém menor quantidade de toxóide diftérico.

Idade de aplicação

A vacina dupla do tipo infantil DT poderá ser aplicada em menores de sete anos e
a dupla do tipo adulto dT a partir desta idade.

Via de administração

Intramuscular profunda, preferencialmente no vasto lateral da coxa; em crianças


com mais de dois anos de idade pode ser aplicada na região deltóide.

133
Esquema

Vacina dupla do tipo infantil (DT): indicada para crianças com menos de sete anos
de idade para as quais haja contraindicação de receberem a vacina contra a coqueluche
(componente pertussis = P) da vacina tríplice DTP. O esquema de administração é o
mesmo utilizado para a vacina tríplice DTP.
Vacina dupla do tipo adulto (dT): indicada a partir de sete anos de idade a
pessoas que não receberam nenhuma dose da vacina tríplice DTP ou da vacina dupla do
tipo infantil - DT, ou não completaram o esquema básico com uma dessas vacinas, ou
cujo estado vacinal não seja conhecido. É ainda empregada como reforço da vacinação
efetuada com a tríplice DTP ou com a dupla do tipo infantil - DT.
Esquema básico: pode ser adotado um dos seguintes esquemas:
 Três doses aplicadas com intervalo de dois meses, mínimo de um mês, entre a
primeira e a segunda, e de seis meses entre a segunda e a terceira (esquema 0, 2,
8);
 Três doses aplicadas com intervalos de dois meses, mínimo de um mês (esquema
0, 2, 4).

Por motivos de ordem operacional tem-se optado por um ou outro esquema nas
diferentes regiões do país.
Notas:
1. O aumento do intervalo entre as doses não invalida as anteriores e, portanto, não
exige que se reinicie o esquema;
2. Devem-se considerar válidas as doses da vacina tríplice DTP ou da vacina dupla
do tipo infantil DT aplicadas anteriormente.

Reforços: de dez em dez anos, por toda a vida.

134
Vacinação da Gestante

É realizada para a prevenção do tétano no recém-nascido e para a proteção da


gestante, com a vacina dupla do tipo adulto - dT ou, na falta desta, com o toxóide
tetânico - TT.

Gestante não vacinada

Esquema básico: consta de três doses, podendo ser adotado um dos seguintes
esquemas:
I. As primeiras duas doses com intervalo de dois meses (mínimo de um mês) -
aplicando-se a primeira o mais precocemente possível - e a terceira, seis meses
depois da segunda; caso só haja tempo para aplicação de duas doses, a segunda
deve ser aplicada 20 dias, ou mais, antes da data provável do parto (esquema 0,
2, 8);
II. Três doses, de dois em dois meses (intervalos mínimos de um mês) - aplicando-se a
primeira dose o mais precocemente possível; caso só haja tempo para aplicar
duas doses, a segunda deve ser aplicada 20 dias, ou mais, antes da data provável
do parto (esquema 0, 2, 4). Por motivos de ordem operacional, tem-se optado por
um ou outro esquema nas diferentes regiões do país.

Gestante vacinada

Esquema básico: na gestante que já recebeu uma ou duas doses da vacina contra
o tétano (DTP, DT, dT ou TT) deverão ser aplicadas mais duas ou uma dose,
respectivamente, da vacina dupla tipo adulto (dT), para se completar o esquema básico
de três doses. Essa terceira dose deve ser aplicada 20 dias ou mais antes da data
provável do parto.
Reforços: de dez em dez anos; antecipar a dose de reforço se ocorrer nova
gravidez cinco anos, ou mais, depois da aplicação da última dose. A dose de reforço
deve ser aplicada 20 dias ou mais antes da data provável do parto.

Eventos adversos mais comuns


Dor, calor, vermelhidão e enduração local, febre.
135
Contraindicações

Reação anafilática sistêmica grave seguindo-se à aplicação de dose anterior;


Síndrome de Guillain-Barré nas seis semanas após a vacinação contra difteria e/ou
tétano anterior.
Nota: Se uma pessoa, que não completou o esquema básico de imunização
contra o tétano, tiver contraindicação absoluta ao uso de uma preparação contendo
toxóide tetânico e sofrer um ferimento que não seja limpo ou superficial, deve receber
somente imunização passiva (soro ou imunoglobulina humana antitetânicos).

Precaução

Pessoas que desenvolveram reação de hipersensibilidade local, tipo fenômeno de


Arthus, após dose anterior de vacina contendo toxóide tetânico (DT, dT ou TT),
usualmente apresentam altos níveis séricos de antitoxina e não devem receber doses de
emergência do DT ou dT antes de decorridos dez anos, mesmo que tenham sofrido
ferimento que não seja limpo ou superficial.

Conservação e validade

Deve ser conservada entre +2°C e +8ºC. O congelamento inativa a vacina. Depois
de aberto o frasco-ampola de múltiplas doses, a vacina poderá ser utilizada até o final do
prazo de validade, desde que tenha sido manipulada com técnicas corretas de assepsia.
O prazo de validade é indicado pelo fabricante e deve ser respeitado rigorosamente.

Vacina Contra Haemophilus Influenzae do Tipo B

Composição e apresentação

As vacinas contra Haemophilus influenzae do tipo b (Hib) são constituídas pelo


polissacarídeo capsular - PRP -(poliribosil-ribitol-fosfato), conjugado quimicamente a uma
proteína carreadora.
136
Essas vacinas apresentam-se sob a forma liofilizada acompanhada de diluente, ou
em solução, em frasco com dose única ou com múltiplas doses.

Idade de aplicação

A partir dos dois meses de idade.

Via de administração

Intramuscular.

Esquema

Atualmente o PNI recomenda a administração de três doses aplicadas no primeiro


ano de vida, a partir dos dois meses de idade, com intervalos de 60 dias entre as
mesmas, utilizando-se as vacinas PRP-T ou HbOC. Crianças que não tenham completado
o esquema no primeiro ano de vida, inclusive as que tenham recebido apenas uma dose,
deverão receber dose única durante o segundo ano de vida.

Eventos adversos mais comuns

Os eventos adversos locais (dor, eritema e/ou enduração) e gerais (febre,


irritabilidade e/ou sonolência) são de frequência e intensidade baixas, ocorrendo em
menos de 10% dos vacinados, limitando-se as primeiras 24 horas após a aplicação.
A administração simultânea com a vacina DTP não modifica a incidência de
reações sistêmicas esperadas com a aplicação isolada da vacina DTP.

Contraindicações

Não há, exceto aquelas gerais a todas as vacinas, como doenças graves ou relato
de ocorrência de reação anafilática sistêmica após aplicação de dose anterior.

137
Conservação e validade

Deve ser conservada entre +2°C e +8ºC. O congelamento inativa a vacina. Depois
de aberto o frasco-ampola de múltiplas doses, a vacina poderá ser utilizada até o final do
prazo de validade, desde que tenha sido manipulada com técnicas corretas de assepsia.
O prazo de validade é indicado pelo fabricante e deve ser respeitado rigorosamente.

18.6 Vacina Contra Sarampo, Caxumba e Rubéola (Vacina Tríplice Viral)

Composição e apresentação

Vacina combinada de vírus vivos atenuados contra o sarampo, a caxumba e a


rubéola (SCR - tríplice viral), apresentada sob a forma liofilizada, em frasco-ampola com
uma ou múltiplas doses.

Idade de aplicação

A partir dos 12 meses.


Nota: Na prática, recomenda-se a aplicação aos 15 meses, juntamente com o
primeiro reforço da DTP e da vacina contra a poliomielite.

Via de administração

Subcutânea
Esquema
Dose única.

Eventos adversos mais comuns


Febre e erupção cutânea de curta duração, ocorrendo habitualmente entre o
quinto e o 10º dia depois da vacinação.
Meningite, de evolução em geral benigna, que aparece duas a três semanas
depois da vacinação. Artralgias e artrites, mais frequentes nas mulheres adultas.

138
A frequência dos eventos varia de acordo com a cepa vacinal utilizada,
particularmente em relação à vacina contra a caxumba.

Contraindicações

1. Antecedente de reação anafilática sistêmica após a ingestão de ovo de galinha.


Entende-se por reação anafilática sistêmica a reação imediata (urticária
generalizada, dificuldade respiratória, edema de glote, hipotensão ou choque)
que se instala habitualmente na primeira hora após o estímulo do alérgeno
(ingestão de ovo de galinha, por exemplo);
2. Gravidez;
3. Administração de imunoglobulina humana normal (gamaglobulina), sangue total
ou plasma nos três meses anteriores.

Notas:

1) Não são contraindicações: vacinação recente contra a poliomielite, exposição


recente ao sarampo, caxumba ou rubéola, história anterior de sarampo, caxumba
ou rubéola e alergia a ovo que não tenha sido de natureza anafilática sistêmica;
2) Caso ocorra a administração de imunoglobulina humana normal, sangue total ou
plasma nos 14 dias que se seguem à vacinação, revacinar três meses depois;
3) As mulheres vacinadas deverão evitar a gravidez por 30 dias após a aplicação.

Conservação e validade

Conservar em geladeira, entre +2ºC e +8ºC. Após a diluição, mantida nas


condições mencionadas, deve ser aplicada em prazo máximo de oito horas. O prazo de
validade é indicado pelo fabricante e deve ser respeitado rigorosamente.

139
18.7 Vacina Contra Febre Amarela

Composição e apresentação

A vacina contra febre amarela é constituída de vírus vivos atenuados, apresentada


sob a forma liofilizada em frasco de múltiplas doses, acompanhada de diluente (soro
fisiológico).

Idade de aplicação

A partir de seis meses de idade nas áreas endêmicas (onde há casos humanos).
Nas regiões onde há casos de febre amarela entre macacos (áreas enzoóticas ou
epizoóticas), mas não em seres humanos, a vacina é utilizada a partir dos nove meses,
simultaneamente com a vacina contra o sarampo.

Via de administração

Subcutânea

Esquema

Dose única. Reforço a cada dez anos. A vacina contra febre amarela deve ser
aplicada simultaneamente ou com intervalo de duas semanas para as outras vacinas
virais vivas. Excetua-se a vacina oral contra poliomielite, que pode ser aplicada
simultaneamente ou com qualquer intervalo.

Eventos adversos mais comuns

Dor local, cefaléia e febre.

140
Contraindicações

As estabelecidas nas contraindicações gerais para as vacinas de vírus vivos


atenuados e alergia anafilática ao ovo.

Conservação e validade

Conservar entre +2ºC e +8ºC. Após a diluição, utilizar no prazo máximo de 4


horas, mantendo-se a conservação na temperatura citada acima. O prazo de validade é
indicado pelo fabricante e deve ser respeitado rigorosamente.

18.8 Vacina Contra Influenza (Gripe)

Considerações gerais

Os vírus da influenza causam doença respiratória aguda, denominada influenza


ou gripe, caracterizada clinicamente por febre alta, calafrios, cefaléia, mal-estar, mialgia e
tosse seca. Conjuntivite, dor abdominal, náusea e vômitos são frequentes. Em crianças
pequenas o quadro clínico pode simular uma sepse. O mal-estar geral pode persistir por
vários dias e até mesmo semanas. Pode ocorrer miosite, com dores musculares e
dificuldade de deambulação.
Os vírus da influenza são ortomixovírus, com três tipos antigênicos: A, B e C. O
mais importante epidemiologicamente é o tipo A, capaz de provocar pandemias,
seguido do tipo B, responsável por surtos localizados. O tipo C está associado com a
etiologia de casos isolados ou de pequenos surtos.
Os vírus da influenza A são subclassificados com base nas características de dois
antígenos, a hemaglutinina (H) e a neuraminidase (N), havendo três subtipos de
hemaglutininas (H1, H2 e H3) e duas neuraminidases (N1 e N2). A imunidade a estes
antígenos - especialmente à hemaglutinina - reduz a probabilidade de infecção e diminui
a gravidade da doença quando esta ocorre.
A infecção contra um subtipo confere pouca ou nenhuma proteção contra os
outros subtipos.
Durante as epidemias de gripe aumentam as consultas médicas e as
hospitalizações por infecções respiratórias agudas. Entre as complicações que podem
141
ocorrer destacam-se a pneumonia, viral ou bacteriana, e a síndrome de Reye, que se
caracteriza pela presença de encefalopatia grave, mais comumente observada em
escolares, muitas vezes em associação com o uso de ácido acetilsalicílico (aspirina).
As pessoas idosas e aquelas com doenças de base têm maior risco de
complicações. A importância das infecções por influenza se torna maior à medida que
aumenta a proporção de pessoas idosas, como decorrência da melhoria das condições
de vida da população.
São também especialmente vulneráveis às complicações as pessoas
imunocomprometidas, tais como os receptores de transplantes, os recém-nascidos
internados em UTIs e os pacientes com AIDS ou mucoviscidose. Com intervalos variáveis,
aparecem subtipos totalmente novos (por exemplo, mudança de H1 para H2), o que se
denomina mudança antigênica maior, responsável por pandemias; mudanças
antigênicas menores, dentro de cada subtipo, associam-se com a ocorrência de
epidemias anuais ou surtos regionais.

Composição e apresentação

Vacinas trivalentes, obtidas a partir de culturas em ovos embrionados de galinha,


contendo 15µg de dois subtipos do sorotipo A e 15µg de uma cepa do sorotipo B.

Existem três tipos de vacinas contra influenza:


a) vacinas de vírus fracionados;
b) vacinas de subunidades;
c) vacinas de vírus inteiros.
Entre nós, utilizam-se apenas as vacinas de vírus fracionados (split) ou de
subunidades. Qualquer um desses dois tipos pode ser utilizado em todas as idades.
Na composição das vacinas entram antibióticos, tais como a neomicina e a polimixina, e
o timerosal como conservante.
As vacinas contra influenza têm sido fornecidas em seringas já preparadas com
0,25ml e 0,5ml, bem como em frascos multidoses.

142
Idade de aplicação

A partir dos seis meses de idade.

Via de administração

Intramuscular ou subcutânea.

Esquema

A vacinação deve ser anual, de preferência no outono, nas regiões de clima


temperado. Seguir a orientação anual do Ministério da Saúde.
A vacina contra influenza pode ser aplicada simultaneamente com qualquer das
outras vacinas do PNI.

Eventos adversos mais comuns

Dor local, de pequena intensidade, com duração de até dois dias. Febre, mal-estar
e mialgias, mais frequentes em pessoas que não tiveram exposição anterior aos
antígenos da vacina (por exemplo, crianças). Começam seis a 12 horas após a vacinação
e podem persistir durante um ou dois dias.
As vacinas constituídas por vírus fracionados ou por subunidades são menos
reatogênicas do que as de vírus inteiros. Reações anafiláticas são raras, geralmente em
consequência da proteína residual do ovo.
Indicações
No que se refere aos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIEs), a
Comissão Assessora de Imunizações do Ministério da Saúde estabeleceu as seguintes
prioridades para vacinação:

a. Adultos e crianças com seis meses de idade ou mais, com doença pulmonar ou
cardiovascular crônica e grave, insuficiência renal crônica, diabetes melito
insulinodependente, cirrose hepática e hemoglobinopatias;

143
b. Adultos e crianças com seis meses de idade ou mais, imunocomprometidos ou
VIH-positivos;
c. Pacientes submetidos a transplantes;
d. Profissionais de saúde e familiares que estejam em contato com os pacientes
mencionados anteriormente;
e. Pessoas de 60 anos e mais, por ocasião das campanhas anuais.

Contraindicações

a. Ocorrência anterior de reação anafilática a proteínas do ovo ou a outros


componentes da vacina;
b. Doenças febris agudas.

Doenças leves e afebris não contraindicam a aplicação da vacina.

Conservação e validade

Deve ser conservada entre +2ºC e +8ºC. Não pode ser congelada.

18.9 Vacina e Soro Contra Raiva

Composição e apresentação

A vacina contra raiva para uso humano, empregada rotineiramente no Brasil, é a


vacina do tipo Fuenzalida-Palacios, apresentada sob a forma de suspensão a 2% de
cérebros de camundongos lactentes, infectados com vírus da raiva fixo – amostras
Productions Virus (PV) ou Challenge Virus Standard (CVS) –, inativados por radiação
ultravioleta ou por betapropiolactona, com potência mínima de 1,0UI/ml, tendo o fenol
e o timerosal como conservantes.
A vacina contra raiva do tipo Fuenzalida-Palacios (que daqui por diante, neste
capítulo, passa a ser designada simplesmente por vacina contra raiva) é apresentada sob
a forma líquida em ampolas contendo 1,0ml (uma dose para uso em seres humanos).
144
O soro contra raiva ou soro antirrábico contém imunoglobulinas específicas
extraídas do plasma de cavalos hiperimunizados com a vacina contra raiva. O soro
antirrábico é apresentado sob a forma líquida, em ampolas ou frascos- ampolas,
contendo 200UI/ml.

Idade de aplicação

Havendo indicação, a vacina e o soro contra raiva podem ser aplicados em


qualquer idade.

Via de administração

A vacina antirrábica deve ser administrada por via intramuscular, na região


deltóide, podendo ser aplicada, em crianças pequenas, no vasto lateral da coxa. Não
deve ser aplicada na região glútea.
Depois da realização de teste cutâneo de sensibilidade*, com resultado negativo,
o soro antirrábico, quando indicado, deve ser infiltrado no ferimento e, caso haja sobra,
esta deve ser aplicada por via intramuscular, na região glútea. Na Norma Técnica de
Profilaxia Antirrábica Humana, do Ministério da Saúde, dispensa-se a realização de teste
de sensibilidade, antes de administrar o soro antirrábico.
A vacina contra raiva é aplicada em dose única diária, tanto para adultos quanto
para crianças, em esquemas variáveis, de acordo com a indicação para seu uso. O soro
antirrábico é administrado em dose única de 40UI/kg; cada ml do soro contém 200UI,
dose máxima = 3.000 UI.

Eventos adversos

A vacina contra a raiva pode provocar reações locais (eritema, edema e/ou
prurido); com pequena frequência ocorrem febre, cefaléia, artralgias ou adenomegalia.
As reações desmielinizantes, com acidentes neuroparalíticos (mielite, polirradiculoneurite
ou encefalite) são incomuns em nosso meio. Ocorrendo reações de pequena
intensidade (locais ou sistêmicas) será prescrito analgésico, antitérmico e/ou anti-
histamínico. Havendo reações alérgicas muito intensas ou manifestações sugestivas de
comprometimento neurológico (cefaléia, mialgias, artralgias, diminuição do tônus

145
muscular, parestesia plantar, etc.) - que geralmente ocorrem depois da aplicação de
várias doses ou com a repetição do esquema -, deve-se prescrever medicamento(s)
sintomático(s), suspender a administração da vacina Fuenzalida-Palacios e completar o
esquema com a vacina antirrábica de cultivo celular (ver Norma Técnica de Profilaxia
Antirrábica Humana).
Em relação ao soro antirrábico, reações anafiláticas graves (edema de glote,
hipotensão e, inclusive, choque anafilático) podem ocorrer em indivíduos anteriormente
sensibilizados a proteínas de cavalo. O soro antirrábico também pode provocar reações
locais de caráter benigno (dor, edema e hiperemia transitórios) ou grave (reação de
hipersensibilidade, pouco depois da aplicação, com inflamação e necrose muscular
acompanhadas de febre, artralgias e urticária).
A doença do soro (febre, artralgias, urticária e hipertrofia de gânglios linfáticos)
pode manifestar-se, sete a dez dias depois da injeção, em pessoas já sensibilizadas por
uma ou mais administrações anteriores de soros heterólogos. Por causa do risco de
reações graves determinadas pelo emprego do soro antirrábico, tanto o teste cutâneo
quanto a aplicação da dose total em pessoas com teste de sensibilidade negativo devem
ser efetuados em sala de atendimento onde se disponha de recursos para tratamento
adequado de reação anafilática.

Contraindicações

A vacina contra raiva do tipo Fuenzalida-Palacios deve ser contraindicada a


pessoas que, ao recebê-la anteriormente, apresentaram reações neuroparalíticas. Além
disso, sua administração deve ser suspensa nos indivíduos que apresentem alterações
neurológicas no decorrer da aplicação do esquema prescrito. Nessa eventualidade, sob
orientação médica, a vacina Fuenzalida-Palacios será substituída por vacina antirrábica
obtida em cultivo de células. Tanto para os indivíduos que apresentaram anteriormente
eventos adversos graves à vacina Fuenzalida-Palacios quanto para todos os
imunodeprimidos, deve-se preferir o uso da vacina contra raiva de cultivo celular
O soro antirrábico deve ser contraindicado a pessoas com teste de sensibilidade
positivo. Nessa circunstância, o soro antirrábico deverá ser substituído pela
imunoglobulina humana antirrábica, administrada em dose única de 20UI/kg, por via
intramuscular. Não havendo disponibilidade dessa imunoglobulina, o soro antirrábico

146
poderá ser administrado, também sob orientação médica, em esquema de
dessensibilização idêntico ao descrito para o soro antitetânico.
Quando necessário, a vacina contra raiva (a do tipo Fuenzalida-Palacios ou
qualquer outra) e o soro antirrábico (ou a imunoglobulina humana antirrábica) devem
ser administrados a pessoas de qualquer idade, sadias ou doentes, mesmo que estejam
grávidas, imunodeprimidas ou em uso de corticosteroides. Durante a vacinação, desde
que possível, deve ser suspenso o uso do corticosteroide ou de outros medicamentos
imunodepressores. Como já foi mencionado, nas pessoas imunocomprometidas,
incluindo os doentes com AIDS, deve-se dar preferência ao uso de vacina contra raiva de
cultivo celular.

Conservação e validade

A vacina e o soro contra a raiva devem ser conservados entre +2ºC e +8ºC, não se
permitindo congelamento. A vacina Fuenzalida-Palacios apresenta aspecto opalescente;
havendo precipitação, deve ser agitada antes do uso e se, depois disso, persistir a
presença do precipitado, a vacina deverá ser desprezada. Deve ser respeitado o prazo de
validade indicado pelo fabricante.

19 - AÇÕES DA VIGILÂNCIA SANITÁRIA EM RELAÇÃO A PRODUTOS ALIMENTARES,


DOMICILIARES, MEDICAMENTOS, SERVIÇOS DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE.

AÇÕES DA VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Agrotóxicos e toxicologia: Envolve a verificação da qualidade, da eficácia e da


segurança de agrotóxicos, pesticidas e similares.
Alimentos: Envolve o registro de alguns tipos de alimento e a fiscalização de
estabelecimentos de comércio de alimentos - restaurantes, lanchonetes, bares,
supermercados etc.
Cosméticos: Envolve a verificação da qualidade, da eficácia e da segurança de
cosméticos - xampus, cremes, alisantes etc.

147
Inspeção: Envolve a inspeção de empresas que produzem ou comercializam
produtos ou serviços que podem afetar a saúde da população, como indústrias de
medicamentos, de produtos de limpeza etc.
Medicamentos Envolve a verificação da qualidade, da eficácia e da segurança de
medicamentos, tanto antes da produção, quanto após a comercialização, para verificar a
existência de efeitos colaterais não previstos (a chamada farmacovigilância).
Monitoração da Propaganda: Envolve a fiscalização da propaganda de produtos
relacionados à saúde, como medicamentos, alimentos etc.
Portos, Aeroportos e Fronteiras: Envolve a fiscalização dos produtos, meios de
transporte e viajantes que saem e entram no país por meio de seus portos, aeroportos e
fronteiras.
Produtos para a saúde: Envolve a vigilância de diversos produtos médico
hospitalares, desde seringas até equipamentos de tomografia. Assim como os
medicamentos, a ANVISA acompanha esses produtos desde sua produção até após sua
comercialização, para certificar que estão funcionando de maneira correta (a chamada
tecnovigilância).
Regulação de preços: Envolve a monitoração dos preços de medicamentos e
outros produtos que podem afetar a saúde da população.
Relações Internacionais: Envolve a manutenção de relação da ANVISA com
outros países, como os do MERCOSUL.
Saneantes: Envolve a verificação da qualidade, da eficácia e da segurança de
produtos de limpeza.
Laboratórios: Envolve a fiscalização dos laboratórios que fazem as análises
científicas de produtos sujeitos à vigilância sanitária
Sangue, tecidos e órgãos: Envolve a verificação da qualidade e da segurança de
sangue, tecidos e órgãos para transfusão e transplantes.
Serviços de saúde: Envolve a fiscalização sanitária de hospitais, clínicas etc.
Fumo: Envolve o controle dos produtos de tabaco comercializados no país e o
combate ao tabagismo.

RECURSOS DA COMUNIDADE PARA AÇÕES COLETIVAS–ESTRATÉGIAS


· Meio de Controle Social;
· De Autoajuda;
· Parceria Decisória.

148
20 - SAÚDE DA MULHER
A assistência à saúde da mulher
está organizada num programado
Ministério da Saúde, o Programa de
Assistência Integral à Saúde da Mulher
(PAISM). Este programa prevê a
assistência à mulher deforma integrada,
abordando-se as várias fases de sua
vida, da adolescência à menopausa,
incluindo a assistência ao pré-natal, parto e puerpério (ciclo gravídico-puerperal),
planejamento familiar (ciclo reprodutivo), assistência clínico-ginecológica (prevenção e
controle do câncer ginecológico e de mama e prevenção das DST) e climatério. O
objetivo do programa é melhorar as condições de saúde da mulher e reduzir as taxas de
morbidade e mortalidade maternas.
Na assistência clínico-ginecológica há especial preocupação com a prevenção do
câncer de mama e do câncer cérvico-uterino. A ocorrência destes tipos de neoplasias
expressa a baixa cobertura dos exames preventivos e pouco investimento em atividades
de educação em saúde.
O câncer do colo do útero é uma doença possível de ser prevenida e curada.
Entretanto, em nosso país representa a segunda causa de óbitos por neoplasia em
mulheres, pois 70% dos casos diagnosticados já estão em fases avançadas. Ressalte-se,
ainda, ser uma doença que incide mais em mulheres de baixo nível socioeconômico.
Para reduzir a incidência e a mortalidade por câncer de colo do útero, o Ministério
da Saúde desenvolveu o Programa Nacional de Controle de Câncer de Colo Uterino – o
qual utiliza as estratégias de ações educativas e aumento da qualidade dos serviços
prestados pelo sistema de saúde. Seu público-alvo são as mulheres entre 35 e 49 anos de
idade, consideradas como a população de maior risco.

As etapas do Programa de Prevenção de Câncer do Colo do Útero (PCCU) são:


– recrutamento, consiste em um conjunto de ações educativas que visam aumentar o
conhecimento da população-alvo sobre o câncer de colo do útero;
– descrição detalhada das atribuições de cada profissional no controle e tratamento,
bem como treinamento e reciclagem constantes dos profissionais;

149
– coleta de material para o exame de Papanicolaou (preventivo ou colpocitológico):
consiste no preparo e orientação prévia da mulher, coleta do esfregaço, processamento
e leitura do esfregaço no laboratório;
– avaliação do resultado, tratamento e acompanhamento do tratamento do câncer de
colo do útero, quando se fizer necessário.
Este programa, como os demais, é operacionalizado pelas unidades básicas de
saúde.
O câncer de mama é um grave problema de saúde pública, responsável por
significativo número de óbitos entre mulheres adultas. É, provavelmente, o câncer mais
temido pelas mulheres, tanto por sua alta freqüência como, sobretudo, pelo impacto
psicológico que provoca, visto envolver negativamente as percepções da sexualidade e
autoestima.
A principal e mais efetiva arma que contra ele dispomos é o seu diagnóstico
precoce mediante realização do autoexame das mamas - procedimento que permite à
mulher participar do controle de sua saúde, uma vez que possibilita a identificação
precoce de quaisquer alterações das mamas.
As questões referentes à saúde reprodutiva da mulher convergem para a
abordagem sobre o exercício responsável do seu direito reprodutivo, como forma de
vivenciar sua sexualidade e ter liberdade sobre a escolha de tornar-se mãe ou não.
O Programa de Planejamento Familiar, do Ministério da Saúde, responsável pelo
desenvolvimento das ações referentes ao ciclo reprodutivo, orienta-se especificamente
por ações preventivas e educativas e pela garantia de acesso igualitário a informações,
meios, métodos e técnicas disponíveis para a regulação da fecundidade, inclusive a
esterilização voluntária - permitida tanto para homens como para mulheres com mais de
25 anos, ou pelo menos com dois filhos, ou quando há risco de vida à saúde da mulher
ou do concepto.
As ações básicas previstas neste Programa preconizam, ainda, que sejam
repassadas informações sobre a anatomia e fisiologia do corpo feminino, métodos
anticoncepcionais, seu funcionamento, vantagens e desvantagens – tudo isto realizado
através de metodologia de práticas educativas e acesso a todos os métodos, para que a
mulher possa fazer a opção que a ela melhor se adeque.
Embora recente, a utilização de estratégias voltadas para a assistência no
puerpério devem ser rotineiramente implementadas, pois neste período há uma

150
concentração de morbimortalidade para a mãe, expressa em distúrbios psíquicos,
infecção vaginal, mastite e doenças circulatórias obstrutivas, entre outros sintomas.
A assistência à saúde da mulher no climatério, visando promover uma vida digna
nesta faixa etária, passou a ser uma necessidade devido ao aumento da expectativa de
vida da população brasileira como um todo - para 75 anos de idade, em média.
Esta fase do ciclo vital feminino indica que a mulher passou da fase reprodutiva, o
que não significa o fim de sua sexualidade. É um período de transformações e ocorre
entre os 40 e 65 anos. O climatério inicia-se gradualmente e está associado a uma série
de alterações em decorrência da perda de atividade dos ovários, causando mudanças
metabólicas (modificações das lipoproteínas), hormonais (queda progressiva dos níveis
de estrogênio), genitais (ressecamento da mucosa vaginal) e psicológicas (depressão),
por exemplo.
Normalmente, não se faz necessário qualquer tratamento para a menopausa, mas
sim acompanhamento às situações que possam oferecer algum risco à mulher ou
impliquem perda de sua autonomia e/ou comprometimento de sua integridade física
(como a predisposição à osteoporose) e emocional (baixa autoestima, receio de “não ser
mais mulher como era antes”).
Como o climatério é um período de transição, é importante ressaltar a atenção
que deve ser dada às questões reprodutivas pelo menos até um ano após a menopausa -
pois uma gestação nessa fase se caracterizaria em risco de vida tanto para a gestante
como para o concepto.
Nesta faixa etária deve-se atentar para o aumento da ocorrência de DST/Aids. Por
não mais se preocupar com a hipótese de uma possível gravidez, a mulher sente-se mais
livre para os relacionamentos sexuais, ficando exposta a adquirir uma DST/Aids caso não
adote comportamento seguro. Outro aspecto é o fato de a mulher viver um
relacionamento duradouro e estável, o que a faz acreditar que não corre o risco de
adoecer. Orientá-la nesta fase é sempre um desafio, pois suas opiniões já estão formadas,
sendo mais difícil mudá-las.
A assistência à mulher vítima de violência sexual tornou-se uma necessidade
devido ao aumento, tanto nos espaços urbanos como nos rurais, da violência contra
homens, mulheres e crianças.
A segurança, assim como a saúde, é dever do Estado, mas há muitas barreiras
para enfrentar tal problema, cujas causas residem principalmente nas condições de

151
desigualdade social e falta dos recursos necessários para reduzir as desigualdades, e de
investimentos na segurança propriamente dita.
Dentre todas as formas, a violência contra a mulher, tanto física quanto sexual,
vem se destacando. Muitas vezes, ocorre dentro de sua própria casa, realizada por
alguém conhecido (pai, marido, irmão, namorado, etc.).
Ao ser procurado por uma mulher que sofreu violência, o profissional de saúde
deve estar capacitado nos programas especiais de atenção, para garantir que o abuso
por ela sofrido gere o mínimo de medo, culpa e baixa autoestima, seja nos aspectos
físicos seja nos psicológicos. Além disso, o serviço de acompanhamento ginecológico e
obstétrico das unidades de saúde deve estar estruturado para realizar as condutas e os
encaminhamentos necessários.
Durante o atendimento, é importante que os profissionais de saúde envolvidos
sejam sensíveis às dificuldades que a mulher apresenta para relatar o acontecido,
havendo inclusive recusa em ser assistida por profissionais do sexo masculino. Cabe
neste momento reforçamos a necessidade de que seja prestado um atendimento
humanizado, valorizando as questões subjetivas expressas pela mulher (sentimentos,
medo, dúvidas, incertezas), procurando proporcionar-lhe
algum conforto para que possa sentir-se menos
constrangida diante de toda a situação em que está
envolvida.

A assistência a essa mulher compreende:

– Atendimento psicológico - a presença de um psicólogo


acompanhando o atendimento prestado à vítima
imediatamente após a agressão, ou durante algum período após, além de necessária é
muito importante para garantir os resgates da identidade e dignidade da mulher,
auxiliando-a na superação do sofrimento gerado;
– Prevenção das DST mais comuns - procurando garantir que a mulher não adquira
algumas destas doenças, geralmente prescreve- se antibióticos de amplo espectro;
– Prevenção da hepatite B - deve ser oferecida vacinação contra a hepatite B, além da
gamaglobulina hiperimune contra a hepatite B (HBIg);

152
– Prevenção da infecção pelo HIV - o médico deve prescrever os medicamentos
antirretrovirais, desde que tomados num período curto (de 24 a 36 horas) após a
exposição;
– Contracepção de emergência - recurso utilizado para evitar a ocorrência de uma
gestação totalmente indesejada, decorrente de um ato de violência sexual. São
prescritos hormônios num prazo de até 72 horas após o ocorrido, para impedir a
implantação, no endométrio, de um possível óvulo fecundado;
– Alívio da dor e tratamento das lesões - são indicados cremes ou pomadas para auxiliar
na cicatrização das lesões, e cuidados para que a cliente se sinta menos desconfortável
após a agressão. Às vezes, faz-se preciso realizar sutura do períneo ou vulva, em
decorrência da violência do ato sexual;.
– Apoio laboratorial - é necessário que a vítima de violência sexual seja acompanhada
para avaliação tanto das repercussões do ato sexual em seu corpo como da eficácia do
tratamento instituído. Periodicamente, devem ser realizadas pesquisas do vírus da
hepatite B e do HIV, e sorologia para sífilis;
– Exame de corpo delito – realizado por profissionais de saúde e por peritos policias,
com coleta de sêmen e de outros materiais biológicos ou não, como cabelo, tecido de
roupa e outros vestígios que possam viabilizar a identificação do agressor, quando este
for desconhecido, constituindo-se em provas do crime.
Apesar de todas as condutas implementadas, se a mulher vier a desenvolver
alguma doença decorrente do ato sexual deve ter a garantia de que receberá
tratamento.
Questão fundamental é a gravidez indesejada decorrente de violência sexual. Este
é um dos poucos casos em que a lei permite a interrupção da gravidez, mas é
aconselhável que a mulher faça este procedimento com, no máximo, até 20 semanas de
gestação; após este prazo pode vir a ter sérias complicações. Caso decida prosseguir com
a gestação, a mulher deve ser encaminhada à assistência pré-natal. Se não quiser
assumir a maternidade da criança, deve ser orientada quanto aos mecanismos
disponíveis para o processo de adoção.

153
21 - SAÚDE DA CRIANÇA: UMA PREOCUPAÇÃO COLETIVA

No Brasil, existem cerca de 16


milhões de crianças com idade inferior a 5
anos. Deste grupo, cerca de 23% das
mortes acontecem por doenças infecciosas,
respiratórias ou distúrbios nutricionais – o
que pode ser explicado pela fragilidade
neste período de aceleração do
crescimento.
Nesta fase, a criança também está
mais sujeita aos riscos oferecidos pelo
ambiente.
Com o objetivo de modificar esta
situação, estratégias de impacto coletivo têm sido adotadas e vêm mostrando resultados
satisfatórios. A criação do Programa de Assistência Integral à Saúde da Criança (PAISC),
em 1984, iniciou a reestruturação do atendimento às necessidades da saúde da criança
com cinco principais focos de atenção: crescimento e desenvolvimento, aleitamento
materno, orientação nutricional, assistência às doenças diarreicas e infecções
respiratórias agudas (IRAs) e imunização.
Utilizando essa abordagem, os serviços de saúde, em conjunto, atingiram alguns
objetivos que tiveram influência positiva nas condições de saúde infantis: redução das
taxas de mortalidade na infância, diminuição da mortalidade por doenças diarreicas e
por IRAs, diminuição da ocorrência de desnutrição na infância e controle das doenças
imunopreveníveis, incluindo-se aí a erradicação da poliomielite.
Entretanto, ainda há muitos problemas e obstáculos a serem superados para que
se mantenham as conquistas atingidas e minimizem-se outros agravantes à saúde da
criança. Por exemplo, ainda temos altas taxas de mortalidade perinatal, alta prevalência
de recém-nascidos de baixo peso, grandes diferenças entre as condições de saúde nos
meios rural e urbano e altos índices de gravidez na adolescência.
Nas atividades desenvolvidas pelas equipes dos Programas Saúde da Família e
Agentes Comunitários de Saúde, destaca-se a Atenção Integrada às Doenças Prevalentes
na Infância (AIDPI) e a inserção dos enfoques da saúde da criança.

154
A AIDPI é uma estratégia que visa integrar as ações de promoção de saúde da
criança, por meio da assistência aos aspectos preventivos e curativos. É executada com
uma abordagem por diagnóstico sindrômico, ou seja, realizado considerando os sinais e
sintomas apresentados pela criança e/ou relatados por seus responsáveis.
A principal característica da AIDPI é a “focalização da atenção nas populações de
maior risco e a revitalização do nível primário de atenção, tornando-o mais resolutivo e
capaz de prestar atendimento de qualidade às patologias de maior prevalência na
população infantil”.
Para utilizarem-se desta estratégia, os profissionais de saúde passam por
treinamento específico, o que os torna capazes de avaliar rapidamente todos os
sintomas da criança, sem excluir problemas importantes. Por exemplo, avaliar se a
criança está gravemente doente ou não, se necessitará ser referida a um hospital com
urgência ou se o tratamento pode ser feito no ambulatório ou domicílio.

O Cartão da Criança como instrumento de


vigilância à sua saúde
Como auxílio ao acompanhamento às
questões relacionadas à saúde da criança, os
profissionais de saúde dispõem do Cartão da
Criança, instrumento que permite visualizar
vários aspectos ligados às ações preventivas.
Nele constam, desde que corretamente
preenchido, informações sobre o crescimento e desenvolvimento da criança, seu estado
vacinal, ocorrência de agravos e condições perinatais. Além disso, estão citados alguns
dos passos do desenvolvimento esperados para a criança em determinada faixa etária, e
os principais direitos das crianças e deveres dos responsáveis, contidos no Estatuto da
Criança e do Adolescente.
O mais importante é que, de fácil utilização, permite tanto o preenchimento como
a interpretação de seus dados por qualquer profissional de saúde, desde que orientado.
É padronizado em todo o território nacional e pode ser utilizado no contexto da unidade
de saúde (em qualquer nível de atenção) ou nas atividades desenvolvidas pelos
profissionais nos mais variados espaços sociais. Em nenhuma hipótese este documento
deve ficar retido pelos profissionais, pois sua guarda é responsabilidade dos pais ou
responsáveis da criança.

155
De grande importância, o Cartão da Criança possibilita a identificação de
distúrbios no crescimento pondero-estatural (ganho de peso e altura) através do método
gráfico da “curva de crescimento”.
Quando há alguma alteração na curva, pode-se detectar a ocorrência de
distúrbios nutricionais como baixo peso para a idade, desnutrição calórico-protéica ou
sobrepeso, o que contribui sobremaneira para o planejamento e implementação de
ações que visem controlar estes problemas.
O preenchimento do Cartão da Criança, no gráfico da curva decrescimento de
acordo com a idade, segue as seguintes regras básicas:
– o primeiro peso a ser registrado deve ser o peso ao nascer;
– a pesagem periódica da criança deve ser realizada em uma balança adequada à sua
idade;
– o peso da criança será registrado diretamente no gráfico através de um ponto (·), com
a localização relacionada à idade da criança;
– com as sucessivas pesagens, os pontos são ligados uns aos outros, formando o
desenho da curva do crescimento.
A interpretação da curva é feita de acordo com a forma que adquire com o passar
do tempo: se a curva está subindo, significa que a criança está ganhando peso e
crescendo adequadamente; se a curva não sobe nem desce, o ganho de peso pode
estar estacionado, requerendo a identificação de fatores relacionados a este fato e que
intervenção deve ser feita junto à família; se a curva está descendo, a criança pode estar
caminhando para uma desnutrição ou sofrendo algum agravo que necessita
abordagem imediata, encaminhamento e, às vezes, hospitalização.
Logo abaixo do gráfico de ganho de peso, nos campos onde devemos preencher
a idade da criança quando realizamos a pesagem, há espaço para o registro da
ocorrência de outras doenças no período antecedente ao atendimento na unidade de
saúde ou em outros espaços sociais, como o domicílio, por exemplo. Assim, caso outros
profissionais interessem-se por estas informações poderão obtê-las com facilidade.
Podemos também identificar a situação vacinal da criança mediante avaliação do
calendário vacinal.

156
22 - SAÚDE DO ADOLESCENTE

O Estado brasileiro não


pode ignorar o espírito
inovador e construtivo da
juventude, nem tampouco a
importância de sua contribuição
para o desenvolvimento do
país, o que exige, como um
todo, a especial atenção e mobilização dos vários setores de políticas públicas e da
sociedade civil para que os jovens tenham acesso a bens e serviços que promovam sua
saúde e educação, melhorando, assim, a sua qualidade de vida.
A importância demográfica do grupo de adolescentes, indivíduos na faixa etária
de 10 a 19 anos, e sua vulnerabilidade aos agravos de saúde, bem como às questões
econômicas e sociais nas suas vertentes de educação, cultura, trabalho, justiça, esporte,
lazer e outros determinam a necessidade de atenção mais específica e abrangente.
No entanto, os serviços que prestam assistência adequada às necessidades destes
jovens são insuficientes, com acesso restrito, gerando uma demanda reprimida.
Para tentar superar esta situação e estabelecer a assistência adequada às
necessidades dos jovens, é necessário conhecer seus problemas e suas especificidades
evolutivas, discutindo estratégias que se constituam como um conjunto de ações,
integradas e intersetoriais, voltadas para o diagnóstico precoce, tratamento e
recuperação e promoção à saúde, que lhes garantam uma assistência de forma integral,
satisfatória e com resolubilidade.

O profissional de saúde e o cliente


adolescente
Para entendermos os adolescentes,
faz-se necessário saber que “a
adolescência é uma fase da vida do ser
humano de profundas transformações
físicas psicológicas e sociais.
Conceitualmente, entende-se como
adolescência a segunda década da vida,

157
momento em que se estabelecem novas relações do adolescente com ele mesmo, nova
imagem corporal, novas relações com o meio social, com a família e com outros
adolescentes”.
Nesta fase da vida ocorre a definição dos valores, resultando na tomada de
decisões que influenciarão o resto da vida (manifestação sexual, carreira a seguir, projeto
de vida, perspectivas, etc.). Considerando- se tal fato, para auxiliar as futuras opções dos
adolescentes faz se necessário colocar à sua disposição informações que contribuam
positivamente para escolhas saudáveis, de modo que possam, entre outros adolescentes,
tornar-se multiplicadores destas informações.
Além disso, é preciso estimular a sua inserção nos serviços de saúde e em outros
serviços de caráter intersetorial com a educação, esporte, lazer, por exemplo.
Geralmente, há nos serviços de saúde um despreparo profissional e institucional
para oferecer atendimento às necessidades específicas dessa clientela, além da falta de
priorização dos adolescentes enquanto usuários. Consequentemente, as iniciativas de
atenção ao adolescente restringem-se a um atendimento assistencialista/curativo, e não
educativo participativo.

A assistência à saúde do adolescente


Para tentar modificar estas distorções no modelo de prestação de assistência,
muitos avanços foram alcançados pelos profissionais e instituições de saúde. O maior
deles foi a criação, em 1989, do PROSAD, o Programa de Atenção à Saúde do
Adolescente, que propôs as alterações necessárias para o enfrentamento da
problemática que atinge esse segmento populacional.
As diretrizes do Programa de Saúde do Adolescente procuram atender as
principais demandas desta parcela da população, com um enfoque integral as ações
serão promovidas e efetuadas dentro do conceito de saúde proposto pela OMS como o
“completo estado de bem-doenças”, constituindo-se como um conjunto de ações,
integradas e intersetoriais, voltadas para o diagnóstico precoce, tratamento e
recuperação e promoção à saúde para a melhoria dos níveis de saúde da adolescência e
juventude.
É importante dispor de uma equipe sensibilizada quanto à problemática dos
adolescentes, se possível composta por profissionais de várias áreas, os quais devem
trabalhar buscando reunir seus esforços, com objetivos comuns a serem atingidos. Os
profissionais de saúde precisam estar capacitados a lidar com esta clientela, para realizar

158
abordagens adequadas e que possibilitem um trabalho contínuo de educação em
saúde, no qual o adolescente esteja envolvido não apenas como ouvinte, mas também
possa intervir com sua criatividade e reflexão crítica e, assim, assimilar melhor os
conteúdos.
No quadro a seguir, são listados os principais problemas pertinentes à
adolescência e as prioridades de ação dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), na
tentativa de solucioná-los.

PRINCIPAIS PROBLEMAS PRIORIDADES DE AÇÃO


Violência (sexual, doméstica, homicídios, Vigilância, informação contínua e ações educativas
uso de drogas). para adolescentes, famílias e sociedade.

Mortes por causas externas (acidentes de Adolescentes como promotores de saúde, agentes
trânsito, principalmente). multiplicadores (ações integradas com a educação e
serviços de trânsito).

Gravidez não planejada, (de risco e Orientação sexual (descoberta do corpo, novos
precoce), DST/AIDS sentimentos e prazeres, métodos contraceptivos,
relacionamento interpessoal e familiar, autoestima e
relações de gênero), acesso facilitado e continuidade
na dispensação de métodos contraceptivos, com
ênfase na dupla proteção, integração com a
educação para ações educativas em sexualidade e
saúde reprodutiva.
Baixa escolaridade e inserção precoce no Inclusão na escola, capacitação profissional,
mercado de trabalho intervenções no processo de exclusão do mercado
competitivo de trabalho: sua origem na infância
desvalorizada, detecção e tratamento de agravos à
saúde decorrentes de trabalhos insalubres.

Atenção ao crescimento e desenvolvimento


Nas unidades de saúde, as atividades de acompanhamento do crescimento
precisam de alguns elementos para serem desenvolvidos:

159
– conjunto de impressos adequado ao seu acompanhamento - como poucas unidades
de saúde possuem atendimento específico para adolescentes, os prontuários terminam
sendo adaptados para serem utilizados por estes clientes. É importante que a equipe
exercite sua criatividade e, dentro das ações prioritárias para os adolescentes, elabore
instrumentos mais adequados à identificação dos aspectos a serem observados,
relevantes para determinar suas condições de vida e saúde;
 Conteúdo padronizado de atividades relativas ao adolescente
 Com a implantação do PROSAD, espera-se que os serviços de saúde que prestam
assistência ao adolescente trabalhem com prioridades semelhantes, adequando-se
ao perfil epidemiológico dos adolescentes atendidos, e estruturem seus serviços de
forma a atender oportunamente as necessidades dessa clientela.
Os procedimentos realizados devem envolver os esforços de toda a equipe, de
modo a garantir a obtenção regular de dados sobre o crescimento e desenvolvimento; o
registro das informações, interpretadas segundo parâmetros estabelecidos; busca de
fatores causais para eventuais distúrbios detectados; e manutenção das atividades de
forma a intervir, quando necessário, sobre os fatores capazes de atingir o crescimento e
desenvolvimento.

SEXUALIDADE E SAÚDE REPRODUTIVA


Na adolescência, ocorrem as mudanças físicas que transformam a menina em
mulher e o menino em homem. Este fenômeno se chama puberdade e ocorre, em geral,
entre os 10 e 14 anos, no sexo masculino, e entre os 9 e 13 anos, no feminino. Nesta
fase, o corpo desenvolve plenamente os órgãos que garantirão suas funções
reprodutivas.
O despertar para a sexualidade intensifica-se na adolescência, com a descoberta
do próprio corpo e de novos sentimentos como amor e paixão, carinho, beijos e toques
e a descoberta do outro como importante e significativo. O início do ciclo menstrual e da
primeira ejaculação, associados a todas as mudanças percebidas pelos adolescentes,
geram uma série de sensações e dúvidas. Portanto, neste período é importante
estabelecer o diálogo, oferecendo informações que esclareçam todas estas
transformações e ações educativas que propiciem aos adolescentes, participação ativa
nas reflexões e discussões sobre o que lhes acontece. Caso contrário, podem
desenvolver sua sexualidade com culpa, medo ou vergonha.

160
Os profissionais que realizam atendimento aos adolescentes devem conhecer os
fatores associados à expressão da sexualidade e à ocorrência de problemas nesta área.
Assim, será possível planejar ações junto aos adolescentes, na unidade de saúde ou na
comunidade (associações de moradores, escolas, clubes, igrejas), desenvolvendo
atividades educativas que busquem esclarecer as dúvidas mais comuns relativas aos
aspectos da adolescência (sexualidade, trabalho, estudo, relacionamento com os pais,
alimentação, cuidados com o corpo, etc.), para que esta fase não resulte em
repercussões negativas, físicas ou psicossociais.
Há algumas décadas, levantamentos realizados vêm apontando diminuição nas
taxas de fecundidade em todas as faixas etárias. A única exceção ocorre entre as
adolescentes, com maior percentual entre aquelas que têm de 15 a 19 anos de idade – o
que talvez possa ser explicado pelo fato de que apenas 54,1 destas jovens utilizam
algum método contraceptivo, e que muitas o façam de forma incorreta.
Entre 1993 e 1998, observou-se um aumento de 31% no percentual de parto de
meninas de 10 a 14 anos atendidas na rede do SUS. Em 1998, mais de 50 mil
adolescentes foram atendidas em hospitais públicos para curetagem pós-aborto, sendo
que quase três mil delas tinham de 10 a 14 anos.
É bem verdade que nem sempre as gestações na adolescência são indesejadas, o
que indica outra questão a ser enfrentada.
Muitas jovens engravidam em função de um problema social, que é a falta de
perspectiva de vida, baixa autoestima e problemas familiares, como se a gestação
pudesse lhes tornar adultas e independentes mais cedo.
Em todo o mundo diariamente, mais de sete mil jovens – cinco por minuto – são
infectados pelo HIV, perfazendo um total de 2,6 milhões por ano, o que representa a
metade de todos os casos registrados. Estima-se que 10 milhões de adolescentes vivem
hoje com o HIV ou estão propensos a desenvolver a AIDS nos próximos anos.
Aproximadamente, 80% das transmissões do HIV decorrem do sexo desprotegido; e
sabemos que o adolescente preocupa-se mais em evitar a gravidez do que em prevenir
as DST/AIDS. O ideal seria que sempre usassem o preservativo (masculino ou feminino),
que lhes proporciona essa dupla proteção.
Os profissionais de saúde devem estar preparados e sensibilizados para prestar
aconselhamentos a adolescentes de ambos os sexos, de forma que a manifestação da
sexualidade seja discutida de modo responsável e amadurecido. Se nessa discussão for
detectado algum distúrbio físico ou psicológico, deve-se proceder o encaminhamento

161
dos jovens aos serviços que atendem adolescentes – sob as diretrizes do PROSAD - e, se
necessário, aos serviços ligados ao Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher
(PAISM) ou aos serviços de DST/Aids.
A sexualidade é uma forma de expressão de sentimentos, muito particular em
cada indivíduo, que não depende apenas de fatores biológicos (sexo) e deve ser
respeitada. Suas várias formas de manifestação são influenciadas pelos costumes,
cultura, pressões sociais e preconceitos, gerando dúvidas e ansiedade para o
adolescente.
A gravidez na adolescência é considerada um fator que pode desviar os
adolescentes do seu projeto de vida; mas nem sempre é indesejada.
Estudos realizados na Santa Casa de São Paulo apontaram que 47,1% das 384
adolescentes primigestas, quando indagadas, responderam que desejaram ficar
grávidas.
Assim sendo, torna-se imprescindível reexaminar as concepções implícitas nas
abordagens convencionais de prevenção da gravidez na adolescência e reavaliar o
processo de aumento da maternidade/ paternidade entre os adolescentes – gravidez
essa que para alguns adolescentes faz parte do seu projeto de vida, não sendo nem
irresponsável, nem acidental.

SAÚDE ESCOLAR DO ADOLESCENTE


A entrada do adolescente no mercado de trabalho ocorre cada vez mais cedo. Há
cerca de 10 anos, em torno de 17% dos jovens entre 10 e 14 anos e 57% de jovens entre
15 e 19 anos já faziam parte da população economicamente ativa.
Resultados da Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde (PNDS)29 mostram
que aproximadamente 51% das mulheres de 15 a 19 anos e sem escolarização haviam
se tornado mães, e que quase 5% estavam grávidas do primeiro filho. Entre as mulheres
com 9 a 11 anos de estudo, essas proporções correspondem a 4% e 2%,
respectivamente, o que indica, nas mulheres mais jovens, uma correlação negativa entre
escolaridade e fecundidade. A mesma pesquisa aponta que 13% das mulheres de 15
a24 anos, alguma vez unidas, declaram abandonar a escola por ficar grávida, casar ou
ter de cuidar dos filhos. Isso possibilita a hipótese de que existe causalidade nos dois
sentidos da relação entre maternidade e educação.
A causalidade no sentido inverso, ou seja, a maternidade afetando a vida
educacional das mulheres, parece ser muito mais direta. Os ônus relacionados à

162
maternidade dificultariam o progresso da escolarização das mães, afetando a inserção
exitosa no mercado de trabalho, colaborando, assim, para a continuidade do ciclo de
pobreza com todas as más consequências para a qualidade de vida dessas jovens. Os
homens adolescentes, também, carregam o ônus de uma gravidez nãoplanejada
quando assumem a paternidade sem estrutura econômica e às vezes emocional para
cuidar e educar um filho.
Como cerca de 14,45% dos jovens entre 10 e 14 anos e 9,42% dos jovens entre
15 e 19 anos são analfabetos, estes dados significam, em muitos casos, evasão escolar,
aumento do subemprego, baixa remuneração e, ainda, exposição do adolescente ao
risco de sofrer acidentes de trabalho, sem qualquer garantia de benefícios legais.
Principalmente nas grandes cidades, cresce o risco de estes jovens tomarem o
tortuoso caminho da criminalidade, acrescentando mais dados aos já tão altos índices de
violência. Dessa maneira, faz-se necessário um esforço conjunto dos setores saúde,
educação, segurança pública, assistência social, entre outros, no sentido de manter os
jovens envolvidos nas atividades escolares.
É importante que a escola e as unidades de saúde estejam integradas para que se
possa utilizar o espaço escolar a fim de promover atividades de educação e saúde, como
discussões sobre uso de drogas, prevenção de DST e gravidez, e para discutir meios de
melhorar a aprendizagem do aluno adolescente, oferecendo, também, suporte nas
questões ligadas à saúde mental e bucal, por exemplo.

PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA E MORTES POR CAUSAS EXTERNAS


No Brasil, a violência atinge toda a população, havendo pouca distinção entre
classes, cor ou sexo. Entre os jovens, porém, seus níveis têm se mostrado cada vez mais
elevados, revelando a necessidade da proteção da saúde do adolescente e a urgência
na elaboração de políticas intersetoriais que afastem os jovens da violência.
O consumo de bebidas alcoólicas e de outras drogas ilícitas é uma das principais
causas de acidentes, suicídio, violência, gravidez não planejada e transmissão de
doenças por via sexual.
A maior causa de morte entre adolescentes são as causas externas, as quais
compreendem principalmente acidentes, homicídios e suicídios. A violência entre os
jovens também se manifesta sob a forma de maus-tratos, violência sexual, exploração
sexual ou uso de drogas.

163
Qualquer tipo de violência pode ocorrer no trabalho ou no dia-a-dia e, por mais
absurdo possa parecer, é também no ambiente familiar que adolescentes e crianças
sofrem maus-tratos e violência física, psicológica ou sexual. A violência física e
psicológica, muitas vezes, é usada pelos responsáveis com o pretexto de educar ou
corrigir, e geram traumas que podem acompanhar o adolescente pelo resto de sua vida.
Além de atuarmos junto à sociedade prevenindo a ocorrência da violência
doméstica, devemos estar atentos para detectar os sinais de maus-tratos, para
realizarmos os devidos encaminhamentos, utilizando os meios disponíveis na realidade
local.
No tocante aos acidentes, ocorrem principalmente entre os adolescentes do sexo
masculino, na grande maioria com veículos a motor. Para explicar tal ocorrência são
apontadas características de personalidade dos adolescentes (curiosidade, irreverência,
contestação), interações de fatores psicológicos e sociais, como a influência do grupo
com o qual o jovem convive, a baixa aplicabilidade das leis de trânsito, favorecendo a
idéia de impunidade, e as deficiências do sistema viário.
Partindo-se da ideia de que todo acidente pode ser evitado, deve-se atuar para
prevenir sua ocorrência. Esta ação depende dos esforços de profissionais de várias áreas;
enquanto profissionais de saúde, devemos, com os jovens e seus responsáveis, realizar
trabalhos de educação em saúde divulgando a importância da segurança no trânsito.
Outro grave problema a ser enfrentado é o uso de drogas. Todas as formas de
violência geram um terrível impacto sobre a vida do adolescente e de sua família. No
entanto, a dependência de drogas aproxima ainda mais o jovem de situações que o
expõem à violência, pela própria ilegalidade do tráfico de drogas e dos meios que o
jovem se utiliza para obter a droga que consome.
Em pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde (1996), verificou- se que 80,5%
dos adolescentes já consumiram bebida alcoólica, 28% já fumaram cigarros de tabaco e
22,8% já usaram algum tipo de droga ilícita. Estes mesmos estudos apontam que a maior
incidência de uso de drogas acontece entre adolescentes que trabalham e estudam,
estão atrasados nos estudos em 3 anos ou mais ou têm pais separados ou falecidos,
podendo estar presente mais de uma destas situações. Estes dados nos ajudam a
perceber o quanto os determinantes sociais podem vir a influenciar as condições de
saúde dos adolescentes.
Diante destas afirmativas, o profissional de saúde deve valorizar cada contato com
o adolescente e sua família, seja na unidade de saúde ou comunidade, a fim de

164
identificar precocemente condições que o levariam a se tornar um usuário de drogas
ilícitas ou mesmo lícitas, para tentar intervir sobre estas condições mediante um trabalho
de orientação em saúde e fornecimento de apoio psicológico e emocional.
Estas ações também devem acontecer junto à escola, com captação e troca de
informações sobre as condutas a serem adotadas para a prevenção do uso de drogas
entre os jovens.

A FAMÍLIA DO ADOLESCENTE
A família é um núcleo da comunidade onde nossa atuação pode ser muito
produtiva. Muitos problemas dos adolescentes têm origem nesse contexto e quando
conseguimos detectar e intervir junto a esses fatores a família, muitas vezes, torna-se
elemento facilitador para o êxito das ações.
As famílias apresentam-se de várias maneiras, às vezes distantes do ideal por nós
idealizado. O importante é nos despirmos dos preconceitos e aproveitarmos as
oportunidades, procurando, sempre que possível, envolvê-las nas atividades
desenvolvidas com o adolescente.

23 - SAÚDE DO IDOSO
O despreparo generalizado para lidar com o
envelhecimento reflete-se em alguns indicadores, que
sinalizam a urgente necessidade de mudanças. Os
idosos apresentam o maior índice de hospitalização
por faixa etária e o maior custo médio de
hospitalização no país. As contribuições à Previdência
Social geralmente não se refletem de forma justa nos
benefícios recebidos pelos idosos, fazendo com que
muitos continuem a trabalhar exaustivamente para manter seu sustento.
Para alterar este quadro de rejeição social, faz-se necessária a mobilização de
todos os setores para beneficiar os idosos com a melhoria de sua qualidade de vida,
resgatando sua dignidade e criando oportunidades para que desfrutem de uma vida
ativa na sociedade, junto à sua família, com independência e autonomia. Isto só será
possível através da valorização de suas habilidades e conhecimentos e da adequação
dos recursos disponíveis às suas necessidades.

165
ESTRATÉGIAS PARA ATENDIMENTO ÀS NECESSIDADES ESPECÍFICAS DOS IDOSOS
Na tentativa de criar estratégias para
facilitar a reorganização dos serviços de saúde
para que possam atender às necessidades de
saúde dos idosos, o Ministério da Saúde implantou
o Programa de Atenção Integral à Saúde do Idoso,
o PAISI.
A principal meta a ser alcançada tanto pelo
PAISI como por qualquer outra iniciativa voltada
para os interesses dos idosos é a mobilização da família e da comunidade para que
assumam seu papel no processo de valorização dos idosos.
Os profissionais que desenvolvem atividades na perspectiva da atenção básica
estão mais próximos do conhecimento acerca das condições de vida e saúde destes
idosos, sendo mais fácil identificar quais fatores de risco necessitam de intervenção junto
às famílias e à comunidade. Sob tal ótica, os profissionais de saúde podem executar
atividades de impacto individual ou coletivo, voltadas para a promoção da saúde,
prevenção de agravos e prestação de assistência aos idosos.

PROMOÇÃO À SAÚDE
As atividades ligadas à promoção à saúde dos idosos devem ser realizadas junto a
eles próprios e à sociedade como um todo. Entretanto, faz-se necessário ter a clara idéia
de que um envelhecimento saudável começa hoje, com a adoção de hábitos saudáveis
no presente (adulto jovem) para gerar tranquilidade no futuro. As atividades devem
estar voltadas para a divulgação de informações acerca do processo de envelhecimento
para o idoso, sua família e cuidadores de idosos dependentes.
É importante empenharmos nossos esforços para estimular a reflexão e mobilizar
a sociedade, de forma a facilitar e garantir o acesso e a permanência dos idosos em
todas as atividades físicas, laborativas, etc.
Uma forma criativa de garantir o envolvimento dos idosos em atividades de lazer
é a realização de passeios por locais de visitação pública, como praças, jardins zoológicos
e botânicos, onde poderão desenvolver atividades físicas leves e, ao mesmo tempo,
conhecer novas informações. É importante que os idosos iniciem ou retomem atividades

166
que desenvolviam quando mais jovens, o que traz benefícios à sua saúde como um
todo.

PREVENÇÃO DE AGRAVOS
O envelhecimento é fisicamente caracterizado por uma degeneração gradual e
progressiva dos órgãos, tecidos e metabolismo, acarretando enfraquecimento de muitas
funções. Há também perda de energia e alterações na aparência e condições
psicológicas.
É justamente neste período que se apresentam as repercussões de doenças
crônico-degenerativas, principalmente as relacionadas ao aparelho cardiocirculatório.
Estas repercussões são a principal causa de óbitos entre os idosos, seguidas pelas
neoplasias. Ocorrem ainda em grande freqüência incontinência urinária, instabilidade
postural e quedas, imobilidade, demência e depressão.
As DST também merecem nossa atenção junto à saúde do idoso pois com o
aumento da expectativa de vida e a melhora gradual da qualidade de vida, a ocorrência
dessas doenças vem crescendo nesta faixa etária, cujos conceitos sobre sexualidade são
mais difíceis de trabalhar em virtude de os idosos terem opiniões formadas acerca de
certos temas (como resistência à utilização de preservativos), além da vergonha de
falarem sobre esse assunto.
Queixas frequentes de tontura, alteração da visão ou audição, dores localizadas
ou generalizadas, isolamento social, temperamento instável, pressa para ir ao banheiro,
entre outros, são sinais e sintomas que se percebidos e considerados logo no início
podem determinar uma assistência mais segura ao idoso.
Outra importante atividade de prevenção é a vacinação contra tétano acidental,
gripe e pneumonia, recomendada pela OMS.
Estas vacinas encontram-se atualmente disponíveis em quase todas as unidades
básicas de saúde e, geralmente sob a estratégia de campanha, são utilizadas as vacinas
duplas tipo adulto, anti-influenza e antipneumocócica.

ASSISTÊNCIA AOS IDOSOS


No nível da atenção básica, a assistência aos idosos é operacionalizada tanto nos
programas de atenção básica ampliada como na própria unidade básica de saúde, onde
é realizada consulta médica e de enfermagem em geriatria, executada por médico ou
enfermeiro capacitado adequadamente, buscando-se atender integralmente às

167
necessidades expostas pelos idosos, sua família ou ambos, estando os idosos
dependentes ou não.
Nas ações desenvolvidas pelas equipes dos programas de atenção básica
ampliada, é importante buscar a avaliação das condutas terapêuticas prescritas para
melhorar as condições de saúde dos idosos adoecidos ou dependentes de cuidadores,
estimulando-se o autocuidado, sempre que possível.
Nesse contexto, o auxiliar de enfermagem pode identificar situações de risco para
os idosos, repassando-as à equipe, além de prestar cuidados de enfermagem
necessários. Também pode orientar as modificações que precisam ser feitas no
ambiente, quando possível (retirada de tapetes, iluminação mais adequada, banheiros
mais acessíveis, camas e cadeiras mais altas, etc.), e encaminhar os idosos para
vacinação, após verificação de seu estado vacinal.

RESUMO DO ESTATUTO DO IDOSO

Introdução

Após sete anos tramitando no Congresso, o Estatuto do Idoso projeto


apresentado pelo Senador Paulo Paim (PT-RS) foi aprovado em setembro de 2003 e
sancionado pelo presidente da República no mês seguinte sendo composto por 118
artigos dispostos em sete títulos, amplia os direitos dos cidadãos com idade acima de 60
anos.
Mais abrangente que a Política Nacional do Idoso, lei de 1994 que dava garantias
à terceira idade, o estatuto institui penas severas para quem desrespeitar ou abandonar
cidadãos da terceira idade.
Em um país onde a população idosa é cada vez maior, tornam-se urgentes ações
que garantam condições de vida digna e, muito, além disso, que assegurem a cidadania
plena para um grupo que continua discriminado em vários setores da nossa sociedade.

Desenvolvimento

A seguir estamos destacando os pontos mais importantes do Estatuto do Idoso, e


consequentemente as mudanças ocorridas depois da sua aprovação.

168
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1º É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos
assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Art. 3. º É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público
assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à
liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único:
A garantia de prioridade compreende:
 A preferência na formulação de políticas sociais,
 O privilégio para os idosos na destinação de recursos públicos,
 A viabilização de formas eficazes de convívio, ocupação e participação dos mais
jovens com os idosos;
 A prioridade no atendimento público e privado;
 A manutenção do idoso com a sua própria família;
 O estabelecimento de mecanismos que esclareçam á população o que é
envelhecimento.

Art. 6º Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade competente


qualquer forma de violação a esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha
conhecimento.

DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS


DO DIREITO À VIDA
Art. 9. º É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à
saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um
envelhecimento saudável e em condições de dignidade.

DO DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE.


Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a
liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis,
políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis.

169
§ 3º É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de
qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

ALIMENTOS
Art. 14. Se o idoso ou seus familiares não possuírem condições econômicas de
prover o seu sustento, impõe-se ao Poder Público esse provimento, no âmbito da
assistência social.

DO DIREITO À SAÚDE
Art. 15 - O idoso tem atendimento preferencial no Sistema Único de Saúde (SUS).
§ 2° Incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos, gratuitamente,
medicamentos, especialmente os de uso continuado, assim como próteses, órteses
e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação.
§ 3º Os planos de saúde não podem reajustar as mensalidades de acordo com o
critério da idade. A distribuição de remédios aos idosos, principalmente os de uso
continuado (hipertensão, diabetes etc.), deve ser gratuita, assim como a de próteses e
órteses.
Art. 16. O idoso internado ou em observação em qualquer unidade de saúde tem
direito a acompanhante, pelo tempo determinado pelo profissional de saúde que o
atende.

DA EDUCAÇÃO, CULTURA, ESPORTE E LAZER.


Art. 23 - Todo idoso tem direito a 50% de desconto em atividades de cultura,
esporte e lazer.

DA PROFISSIONALIZAÇÃO E DO TRABALHO
Art. 27 - É proibida a discriminação por idade e a fixação de limite máximo de
idade na contratação de empregados, sendo passível de punição quem o fizer.
Parágrafo único. O primeiro critério de desempate em concurso público será a
idade, dando-se preferência ao de idade mais elevada.
Art. 28. O Poder Público criará e estimulará programas de:
Profissionalização para idosos e estimular projetos sócias voltados para maiores de 60
anos.

170
DA HABITAÇÃO
Art. 38. Nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos
públicos, o idoso goza de prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria sendo
uma das observações:
A reserva de 3% (três por cento) das unidades residenciais para atendimento aos
idosos.

DOS TRANSPORTES COLETIVOS


Art. 39 - Os maiores de 65 anos têm direito ao transporte coletivo público
gratuito. (Antes do estatuto, apenas algumas cidades garantiam esse benefício aos
idosos, a carteira de identidade é o comprovante exigido).
Nos veículos de transporte coletivo é obrigatória a reserva de 10% dos assentos
para os
idosos, com aviso legível.
Art. 40 - Nos transportes coletivos interestaduais, o estatuto garante a reserva de
duas vagas gratuitas em cada veículo para idosos com renda igual ou inferior a dois
salários mínimos.
Se o número de idosos excederem o previsto, eles devem ter 50% de desconto no
valor da passagem, considerando-se sua renda.
DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO
Art. 43. As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis sempre que os direitos
reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:

I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;


II – por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento;
III – em razão de sua condição pessoal.

DAS MEDIDAS ESPECÍFICAS DE PROTEÇÃO


Art. 44. As medidas de proteção ao idoso previstas nesta Lei poderão ser
aplicadas, isolada ou cumulativamente, e levarão em conta os fins sociais a que se
destinam e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Ministério Público ou
o Poder Judiciário, a requerimento daquele, poderá determinar, dentre outras, as
seguintes medidas:

171
 Requisição para tratamento de sua saúde, em regime ambulatorial, hospitalar ou
domiciliar;
 Abrigo em entidade;
 Abrigo temporário.

DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO AO IDOSO


Art. 47. São linhas de ação da política de atendimento.
 Serviços especiais de prevenção e atendimento às vítimas de negligência, maus-
tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
 Serviço de identificação e localização de parentes ou responsáveis por idosos
abandonados em hospitais e instituições de longa permanência.

DAS ENTIDADES DE ATENDIMENTO AO IDOSO


Art. 50 - Algumas das obrigações das entidades de atendimento são:
 Fornecer vestuário adequado se for pública, e alimentação suficiente;
 Oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade.

Art. 49. Uns dos princípios que as entidades que desenvolvam programas de
institucionalização de longa permanência deverão adotar é a preservação dos vínculos
familiares.

FISCALIZAÇÃO DAS ENTIDADES DE ATENDIMENTO


Art.52 A fiscalização dessas instituições fica a cargo do Conselho Municipal do
Idoso de cada cidade, da Vigilância Sanitária e do Ministério Público.

DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS


Art. 57. Deixar o profissional de saúde ou o responsável por estabelecimento de
saúde ou instituição de longa permanência de comunicar à autoridade competente os
casos de crimes contra idoso de que tiver conhecimento:
Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais),
aplicada em dobro no caso de reincidência.

172
APURAÇÃO JUDICIAL DE IRREGULARIDADES EM ENTIDADE DE
ATENDIMENTO
Art. 66 O dirigente de instituição de atendimento ao idoso responde civil e
criminalmente pelos atos praticados contra o idoso.

DO ACESSO À JUSTIÇA
Art. 70. O Poder Público poderá criar varas especializadas e exclusivas dos idosos.

Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e


na execução dos atos e diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente
pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância.
§ 2° A prioridade não cessará com a morte do beneficiado, estendendo-se em favor do
cônjuge supérstite, companheiro ou companheira, com união estável, maior de 60
(sessenta) anos.

DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Art. 74. Entre as competências do Ministério Público estão:
 Zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais
 Assegurados ao idoso, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis.

Art. 81. Para as ações cíveis fundadas em interesses difusos, coletivos, individuais
indisponíveis ou homogêneos, consideram-se legitimados.
O ministério público, a união, os estados, o distrito federal, os municípios e a OAB
(Ordem de advogados do Brasil) se tornam representantes legais dos idosos em todas as
pendências jurídicas.

DOS CRIMES EM ESPÉCIE


Nenhum idoso poderá ser objeto de negligência, discriminação, violência,
crueldade ou opressão.
Art. 96 - Quem discriminar o idoso, impedindo ou dificultando seu acesso a
operações bancárias, aos meios de transporte ou a qualquer outro meio de exercer sua
cidadania pode ser condenado e a pena varia de seis meses a um ano de reclusão, além
de multa.

173
Art. 98 - Famílias que abandonem o idoso em hospitais e casas de saúde, sem dar
respaldo para suas necessidades básicas, podem ser condenadas a penas de seis meses a
três anos de detenção e multa.
Art. 99- Para os casos de idosos submetidos a condições desumanas, privados da
alimentação e de cuidados indispensáveis, a pena para os responsáveis é de dois meses
a um ano de prisão, além de multa. Se houver a morte do idoso, a punição será de 4 a
12 anos de reclusão.
Art. 104 Qualquer pessoa que se aproprie ou desvie bens, cartão magnético (de
conta bancária ou de crédito), pensão ou qualquer rendimento do idoso é passível de
condenação, com pena que varia de um a quatro anos de prisão, além de multa.

CONCLUSÃO
Sabemos que o maior legado que podemos deixar para as gerações que estão se
constituindo é a educação voltada para o respeito aos direitos humanos. Só é possível
uma harmonia que escapa da violência, dos maus-tratos na infância e na velhice, dos
salários indignos, das piores condições de sobrevivência, do sofrimento e do abandono
social quando existir o respeito e a valorização do outro, da natureza e da humanidade.
Diz o provérbio chinês:
“Aquele que garante o bem-estar dos outros garante o próprio”.
A velhice deve ser considerada como a idade da vivência e da experiência, que
jamais devem ser desperdiçadas. O futuro será formado por uma legião de indivíduos
mais velhos e se não estivermos conscientes das transformações e preparados para
enfrentar esta nova realidade, estaremos fadados a viver em uma civilização solitária e
totalmente deficiente de direitos e garantias na terceira idade. O Estatuto do Idoso é a
concretização de um sonho para milhões de idosos que vivem na miséria e no
abandono.

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24 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, M.C.P. de. Os determinantes dos modelos assistenciais e a qualificação da


força de trabalho em enfermagem. In: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM.
Anais. 48º Congresso Brasileiro de Enfermagem. São Paulo, p.142-149, 1997.

ABRAPIA - Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência.


Maus tratos contra adolescentes: proteção e prevenção. Guia de orientação para
profissionais de saúde. Petrópolis, 1992.

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