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A ECONOMIA DA POAIA NA ZONA DA MATA MINEIRA, 1810 - 1830

Márcio Xavier Correa 1


Universidade Federal de Juiz de Fora
marcioxcorrea@yahoo.com.br

RESUMO
ESTE ESTUDO VERSA SOBRE A ECONOMIA DA POAIA, OU IPECACUANHA
(CEPHAELIS IPECACUANHA), ERVA MEDICINAL EXTRAÍDA NA BACIA DO RIO
POMBA E ALTO RIO DOCE DURANTE OS ANOS DE 1810 – 1830. EM TERMOS
METODOLÓGICOS, FORAM COLETADAS, ANALISADAS E SISTEMATIZADAS
INFORMAÇÕES SOBRE O EXTRATIVISMO E A COMERCIALIZAÇÃO DE
IPECACUANHA EM CONJUNTO DOCUMENTAL COMPOSTO PREDOMINANTEMENTE
PELAS CORRESPONDÊNCIAS RECEBIDAS E EMITIDAS POR GUIDO THOMAS
MARLIÈRE, DURANTE O PERÍODO EM QUE EXERCEU A DIREÇÃO DOS
ALDEAMENTOS INDÍGENAS. ESTA ATIVIDADE ECONÔMICA, BASEADA NO
EXTRATIVISMO VEGETAL E NO COMERCIO, CARACTERIZA-SE COMO LUGAR DE
PRÁTICA E PRODUÇÃO DA CULTURA E TAMBÉM COMO ESPAÇO DE INTERAÇÃO
ÉTNICA ENTRE COLONIZADORES E INDÍGENAS NO PROCESSO DE APROPRIAÇÃO
DO ESPAÇO NATURAL. É OBSERVADA AINDA A CONFIGURAÇÃO DO TERRITÓRIO
COLONIAL ENQUANTO ESPAÇO DE DOMINAÇÃO POLÍTICA NO QUAL ESTÁ
INSERIDA A REGIÃO ESTUDADA. ESTA É PERCEBIDA COMO ESPAÇO DE
OCUPAÇÃO EFETIVA AVANÇANDO SOBRE OS FUNDOS TERRITORIAIS A PARTIR
DA CAPTAÇÃO DO DIÁLOGO ENTRE OS ATORES NAS FONTES EM QUE SURGEM
EM PROCESSO DE INTERATIVIDADE MÚTUA E COM A NATUREZA. BASEANDO-SE
MAJORITARIAMENTE NA INVESTIGAÇÃO DO CONJUNTO ORGÂNICO FORMADO
PELA CORRESPONDÊNCIA OFICIAL DE GUIDO T. MARLIÉRE, A EXTRAÇÃO E O
COMÉRCIO DE PRODUTOS VEGETAIS SÃO VISTOS COMO UM ASPECTO DINÂMICO
DA ECONOMIA DE TROPAS CUJOS AGENTES SÃO IDENTIFICADOS COMO
COMERCIANTES DE ORIGEM PORTUGUESA E INDÍGENAS COLETORES DE POAIA.
PALAVRAS-CHAVE: MINAS GERAIS, ECONOMIA, IPECACUANHA/POAIA

I – Introdução

Através das atividades econômicas e sociais, o homem desenvolveu relações com o meio
que se caracterizaram por experiências de criação e destruição, nas quais o espaço humanizado

1
Bacharel e Licenciado em História – UFV, Pos-graduando (Lato Sensu) em História do Brasil – UESC,
Mestrando em História – UFJF.
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desenvolveu-se a partir da alteração da natureza. Por meio deste processo, o ambiente natural foi
transformado através de técnicas que permitiram ao homem o domínio do mundo natural e sua
exploração, recriando novas formas de natureza portadoras de novos significados.
As modificações na natureza obedecem dessa forma a um procedimento de escolha
humana, uma vez que tanto o processo de degradação ambiental quanto o de preservação do meio
ambiente são elaborados e executados através das ações antrópicas. A relação entre homens e o
ambiente natural é entendida aqui como uma relação contínua entre os dois elementos, baseando-
se em “... uma nova visão, cuja ênfase recaia nos resultados da ação do homem sobre o meio
ambiente (...) (de forma que) devemos entender a natureza não mais como um dado externo e
imóvel, mas como um produto de uma prolongada atividade humana...” (Teixeira da Silva, 1997,
p. 203).
Percebe-se que as relações estabelecidas entre os nativos e os colonizadores ultrapassam o
campo das interações étnicas deixando marcas na natureza como o processo de sedentarização
através da agricultura, que altera tanto o ambiente natural (construído) quanto à organização
social indígena. Além das transformações nas antropossociedades, percebe-se também uma nova
configuração espacial do território que passa a ser elaborada sob a ótica do colonizador. Como
afirma Moraes, “... a colonização é em si mesma um processo de relação entre a sociedade e o
espaço. A colonização envolve uma sociedade que se expande e os espaços onde se realiza tal
expansão, implicando apropriação da terra e submissão das populações autóctones” (Moraes,
2006, p. 10).
Portanto, há necessidade de compreender criticamente o processo de extração da poaia,
que ocorreu desde o século XVI juntamente com outros produtos retirados da mata atlântica
(Dean, 1996, p. 380) e também as redes sociais construídas durante o processo de colonização
dos sertões do Leste (Mercadante, 1973, p. 50), como atividades predominantemente
transformadoras em relação à natureza. Estas transformações podem ser exemplificadas pela
redução na ocorrência natural de Cephaelis ipecacuanha, também conhecida como poaia e na
incorporação do uso da aguardente pelos indígenas coletores. Dentro desta perspectiva, constata-
se a existência da economia da poaia, organizada em torno do escambo entre brancos e índios
Puríi, durante o processo de ocupação da Bacia do Rio Pomba, região situada entre os limites do
Alto Rio Doce e Rio Paraíbaii, na primeira metade do século XIX, especificamente entre os anos
de 1810 e 1830. Após 1830, houve um declínio na produção de ipecacuanha, que se tornou rara
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devido ao método extrativistaiii praticado pelos indígenas e a expansão da cafeicultura, o que


conduziu a uma redefinição espacial das áreas de exploração.
Cronologicamente, os marcos temporais de 1810 e 1830 estão baseados, respectivamente,
nas mudanças políticas, socioeconômicas ocorridas com a chegada da família real em 1808 e nas
transformações das práticas agrícolas na região em estudo, especificamente a expansão da
cafeicultura. Outro aspecto relevante é que o período citado aproxima-se do limite temporal do
exercício da função de diretor dos índios aldeados nas bacias do Rios Doce e Pomba por Guido
Thomas Marliere (1813 - 1829) (Aguiar, 2006, p. 83-96). Este, ficou conhecido no Brasil pela
realização de missões civilizadoras cujos objetivos eram, pacificar os índios e sedentarizá-los
através da agricultura e do processo de aldeamento (Espíndola, 2005, p. 26, 283).

II – A economia da poaia nos sertões do Rio Pomba e Alto Rio Doce

A economia mineira durante a primeira metade do século XIX foi marcada pelo
desenvolvimento da agricultura de subsistência, cujos produtos excedentes eram enviados para as
casas comerciais no Rio de Janeiro, conforme nos mostra Alcir Lenharo em As Topas da
Moderação (Lenharo, 1979, p. 62). De acordo com este autor, para a existência da prática da
agricultura de subsistência, foi necessário, obviamente, um processo de ruralização. A
intensificação das atividades agrícolas teria levado ainda a um processo de aumento demográfico
da população livre, o que possibilitou a transformação da província em um complexo agrícola
(Martins, 2008, p. 12-13) no qual eram produzidos principalmente algodão, carne verde, couros,
porcos, tabaco e animais que eram vendidos vivos.
A ocupação da Mata Mineira remonta ao século XVIII, quando a doação de sesmarias
ocorria freqüentemente, beneficiando, dessa forma, somente às famílias que possuíam prestígio
“... vinculadas à decadente atividade mineratória e relacionados com as atividades mercantis na
corte, no Sul de Minas e no Vale do Paraíba”(Lanna, 1988, p. 31). A concessão de sesmarias
assumiu um importante papel na delimitação do espaço mineiro viabilizando assim, o
desenvolvimento “... da cultura do café em detrimento das atividades econômicas, em geral
desenvolvidas pelos pequenos posseiros que ali se instalaram no início do século XIX”( Lanna,
1988, p. 38). Em relação à doação de sesmarias, o diretor de aldeia Guido Thomaz Marlière
solicita a restituição de terras indígenas desviadas para a concessão de sesmarias destacando que
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os referidos índios, sob sua direção já se encontravam adeptos das práticas agrícolas na localidade
conhecida “... por outro nome Chipotó Novo, e porque estas posses se acham cultivadas com
capoeiras, árvores de espinho, quatrocentos pés de café, monjolos, pedras de moinho e outras
coisas concernentes à cultura...”iv.
A economia da poaia causou profundas transformações na sociedade mineira,
principalmente pelos conflitos que se estabeleceram em Minas Gerais.
“... Província de Minas Gerais que tirou um dinheiro imenso na
negociação da poaia com eles (os índios)... houve mortes de índios Puri e
portugueses, sendo estes os injustos agressores na vizinhança da Ponte Nova
Termo de Mariana: o que merece uma Inquirição Jurídica, e punidos os
agressores para não renovar uma guerra cruel”.v

Considerando a existência de vários grupos étnicos, tais como os Puri, Botocudos,


Coroados e Chopotós, observa-se nas fontes pesquisadas que os índios Puri e os Coroado se
dedicavam predominantemente à coleta de poaia, mas que os Puri também se dedicavam à
agricultura.vi A poaia teve grande importância na configuração do território entendido aqui como
um espaço de dominação política no qual se inserem várias regiões representadas por ambientes
de ocupação econômica (Moraes, 2006, p. 13). A presença desta erva foi um elemento importante
na definição das relações entre os brancos e os índios, fazendo com que o processo de ocupação
da Mata Mineira ocorresse rapidamente (Abreu, 1998, p. 155). Através do contato com os
indígenas e da abertura de estradas era escoada toda a produção mineira de carnes, toucinhos e
ervas medicinais, como a poaia, extraídas pelos índios e obtidas pelos comerciantes por meio do
escambo, que envolvia a cachaça como forma de pagamento.
Segue-se dessa forma, a atividade extrativa pelo século XIX, destacando-se especialmente
durante o primeiro quartel, assumindo grandes proporções, de acordo com a tabela de produtos
exportados pela província de Minas Gerais para as Províncias limítrofes no ano de 1828. Dentre
estes produtos, encontram-se referenciadas ervas medicinais como a quina e a poaia.vii Nesta
tabela, são mencionados os seguintes valores: para a localidade de Matias Barbosa o valor de
oitenta e nove arrobas, para Mar de Espanha duzentas e quarenta e nove e meia arrobas e para a
Barra do Pomba noventa arrobas. Desta forma, para o ano de 1829 foi registrado o total de
quatrocentas e dezenove arrobas e meia.
Entende-se que a poaia era mencionada na documentação como uma fonte de riqueza, o
que está relacionado com os conflitos gerados no entorno da exploração da referida erva
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medicinal.viii Conforme a tabela de exportações para a Província de Minas Gerais para os anos de
1818-1819, a poaia representava 0,5 % do valor monetário total dos produtos exportados
(Bergad, 2004, p. 83). A presença deste registro indica que a atividade de extração da poaia
ocorria anteriormente ao ano de 1818, conforme relatado por Spix e Martius em sua Viagem pelo
Brasil.ix Nesta obra são mencionados os indígenas como os únicos conhecedores das matas o
suficiente para coletar as raízes da ipecacuanha. Noutras fontes os indios realizavam com os
brancos uma forma de escambo profundamente desagregadora quanto à organização social
íncola, uma vez que o “... emprego dos (Índios) que se chegam é adestrá-los à agricultura, ao
exercício de canoeiros, e ao negócio da poalha, em que vão fazendo grande proveito aos
trabalhadores deste negócio...”x
Na “Tabela demonstrativa da exportação que fez o ano de 1828 a Província de Minas
Gerais para as Províncias limítrofes” percebe-se que o percentual relativo à exportação da poaia
reduziu-se para 0,4% do valor monetário total. Este aspecto indica um declínio da atividade
extrativa pelos efeitos diretos da técnica extrativista utilizada, ou seja, pela redução da ocorrência
da planta na natureza. As informações contidas na tabela do ano de 1828 são essenciais para a
compreensão da economia da poaia porque indicam uma redução no percentual do valor
monetário embora o aumento do volume exportado.
O comercio da poaia inseria-se no chamado terceiro setor de abastecimento (Lenharo,
1979:32), percorrendo também os caminhos que conduziam ao porto do Rio de Janeiro. Ao
contrário dos produtos como toucinho, porcos, carne verde e gado, que tinham na cidade do Rio
de Janeiro seu destino certo para abastecer a corte, a poaia era enviada para a Europa a fim de
abastecer as boticas ávidas por ervas tropicais, uma vez que suas propriedades fitoterápicas já
eram conhecidas e utilizadas. De acordo com a tabela citada por Lenharo (Lenharo, 1979:65), a
poaia constituía parte dos produtos exportados pela província de Minas Gerais. Embora este autor
não cite a poaia dentro do conjunto de gêneros de subsistência comercializados pela província,
seu transporte era realizado conjuntamente com os gêneros mencionados, ou seja, pelos tropeiros
que percorriam a região em direção aos mercados no Rio de Janeiro. A presença do “negócio da
poalha” pode ser percebida por meio do seguinte registro:
“O Diretor Geral Guido Thomaz Marlière indo recolhido à capital
exercer o seu lugar de Sargento Mor da 1a linha, deixou quatro soldados (...) e
um negociante de pualha dentro do quartel para tomarem cuidado, este se
retirou a seu negócio e os quatro soldados em nada cuidaram... Em Manuel
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Burgo está o diretor dos índios Puri, com sua família, casa, igreja, sino e
moinho coberto de telha; as mais barracas os portugueses poalheiros
aproveitaram delas a força, comeram o milho da roça que produziu bem e
correram com os Puri que se disseminaram nos bosques enquanto seu diretor
fez outra roça e voltou a eles com abundante socorro de mantimentos (...) que
vão do presídio para o negócio da poalha, em cujo negócio todos sabem que
não entro. Os índios que tem lhe são úteis e proveitosos, trabalham, dão-lhe
poalha que não bota fora e proximamente descobriram ouro...”xi

A extração da poaia, contudo, parece não se caracterizar como uma atividade socialmente
bem vista, uma vez que são identificadas posturas ambíguas em relação a já mencionada prática.
Conforme o registro acima, o comércio da poaia, ou melhor, o escambo, era realizado por
homens livres que trocavam as ervas diretamente com os índios por produtos de consumo
imediato, principalmente a cachaça, cujas funções de desagregador e criador de dependência
social fortaleciam esta prática comercial. Paulo Mercadante, ao descrever os chamados sertões do
leste, nos quais se enquadra a região analisada, atribui aos tropeiros a responsabilidade pelo
transporte da poaia coletada na província (Mercadante, 1973, p. 72).
Estes, predominantemente homens livres, também possuíam terras ou relações de
parentesco ou apadrinhamento com proprietários de terras nas Minas Gerais (Mercadante,
1973:81). Estas características podem ser percebidas no documento que se segue, no qual Guido
Tomaz Marlière relata alguns acontecimentos envolvendo o comércio da poaia:
“... Antonio Jose Oriundo de Portugal, principiou a sua carreira de
Soldado da 3a Divisão da qual obteve baixa para negociar poalha com os índios
Puri quando foi aberta a estrada de Minas à cidade de Vitória, (...) com a
poalha comprou burros e com os burros conduzia os mantimentos para o
Tenente Coronel Ignácio Pereira Duarte Carneiro (...) persuadi ao dito Alferes
José Caetano (da Fonseca, diretor dos Índios de Santa Anna do Abre Campo),
depois da sua reforma reunisse os Puri dispersos nos nossos quartéis da
Estrada (Minas à Vitória) em aldeamentos, os ocupasse na extração da poalha e
do produto dela os sustentasse...”xii

Percebe-se, no trecho acima que a poaia contribui para incrementar a economia das
tropas, na qual a figura do tropeiro estava ligada ao transporte dos gêneros de subsistência para a
corte ou para outras regiões dentro da própria província. Esta fonte possibilita ainda a
identificação da natureza étnica e social de um dos agentes envolvidos no escambo, como
Antonio Jose de Souza Guimarães, proprietário de uma tropa de burros, português, ex-militar e
negociante de poaia. Esta personagem enquadra-se no perfil geral do tropeiro apresentado por
Alcir Lenharo e Paulo Mercadante, para quem o tropeiro é um membro da elite da província,
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possuidor de recursos e instrução necessários ao bom desenvolvimento da atividade (


Mercadante, 1973:66). Uma vez que ao individuo referido anteriormente é atribuída a condição
de proprietário de terras, suas características estão, de um modo geral relacionadas com o
“modelo” de tropeiro descrito por Mercadante e Lenharo. O já aludido Antonio José de Souza
Guimarães é mencionado, novamente em ofício de Guido Thomas Marlière ao Presidente da
Província de Minas Gerais, no qual realça a tendência que o mesmo Souza Guimarães apresenta
de se envolver em conflitos de natureza social, tanto na província de Minas Gerais quanto na do
Espírito Santo.
“Antonio José de Souza Guimarães é o mesmo, que pelas suas intrigas
ia suscitando desordens entre as guardas da Província do Espírito Santo e o
diretor dos índios de Abre Campo: um novato orgulhoso de possuir algumas
patacas adquiridas neste país pela maior parte a custa dos índios no negócio da
poalha e que os abomina: e o pior de tudo um destes condutores de povo como
se acham na maior parte dos distritos: e que publicamente se tem já e tudo que
houvera de tirar aos índios que se apresentassem na sua fazenda como fez sejam
Botocudo ou Puri”.xiii

Para Alcir Lenharo, o tropeiro poderia ser também proprietário de terras e vender sua
própria produção “... acumulando, portanto, duas categorias de prática econômica que lhe
garantiam um desempenho muito mais eficiente” ( Lenharo, 1979, p. 92). Este parece ser o caso
do nosso Antonio José de Souza Guimarães, proprietário de uma fazenda na qual recebia os
índios extratores de poaia com os quais trocava as raízes por outros produtos, provavelmente
cachaçaxiv, como era de costume nas relações entre indígenas e colonos.

III – Considerações finais

Observou-se que a atividade descrita estava relacionada com os produtos de subsistência


destinados a exportação e também ao processo de construção de estradas que utilizava mão-de-
obra indígena. Este contato com o indígena possibilitava também que estes fossem empregados
na colheita das raízes de ipecacuanha, realizada predominantemente pelos Puri e raramente pelos
Coroado. Outro aspecto relevante deste trabalho foi a identificação de formas contraditórias de
ver o comércio da poaia e as relações com os índios, bem como esboçar um perfil geral do
comerciante de poaia. Este aparece nos documentos pesquisados como portugueses relacionados
às atividades militares, alguns pertencendo inclusive a regimentos responsáveis pelo
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patrulhamento da área de abrangência das divisões militares. Altamente lucrativa, a atividade


descrita possibilitou aos seus adeptos a ascensão social por meio da aquisição de terras e burros
para formar tropas.
A extração da poaia ocorria paralelamente às demais atividades agrícolas, como a cultura
da cana de açúcar que possibilitava a obtenção da cachaça, existentes na província indicando uma
multiplicidade de formas de interação com a natureza. A economia da poaia também estava
relacionada com conflitos estabelecidos entre os atores sociais pela exploração do espaço natural
por meio da doação de sesmarias, elemento gerador de conflito social, uma vez que incluía terras
indígenas.

IV – Referencias Bibliográficas

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i
“Mapa fazendo conhecer os aldeamentos da às diferentes tribos de índios da província de Minas Gerais,
seu local, população, aumento ou decadência e as causas. Quartel geral de Gendorvald, em 28 de
janeiro de 1828.”. Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado. Ano
XII, 1907/1908. p. 498-510. (28/01/1828).
ii
SCHLICHT, Mannheim. Planta Geral da Capitania de Minas Geraes. 1800. 1 mapa: 47,0 x 39,4 cm. In:
COSTA, Antônio Gilberto (org.); Cartografia da Conquista do Território das Minas. Belo Horizonte: Editora
UFMG; Lisboa: Kapa Editorial, 2004, p. 189.
iii
“A coleta da raiz é feita pelos índios (...) durante o ano todo, porém especialmente logo depois das
chuvas... Os índios pouco se preocupam com a reprodução da planta, pois colhem impiedosamente
todas as raízes de que se apoderam pelo que em breve vai haver falta dessa apreciada raíz medicinal...”
SPIX, Johann Baptist von. Viagem pelo Brasil: 1817-1820. Trad. de Lúcia Furquim Lahmeyer. Belo
Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1981. v. 1. p.222.
iv
“Sobre o desvio de terras dos índios para sesmarias; Pedido de restituição de terras usurpadas aos
índios coroados e coropós escrito por Guido Thomaz Marlière a José Gomes de Melo. Arquivo Público
Mineiro: PP ¼ Cx. 01 (24/04/1828).
v
Guido Thomaz Marlière” (1822). Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do
Estado, vol. 10, Fasc. III e IV, Jul. a Dez. (1905), 1906, p. 425.
vi
Mapa fazendo conhecer os aldeamentos da as diferentes tribos de índios da província de Minas Gerais,
seu local, população, aumento ou decadência e as causas. Quartel Geral de Gendorvald, em 28 de
janeiro de 1828.” Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado, vol.
1908. 12, p. 498.
vii
“Tabela demonstrativa da exportação que fez no ano de 1828 a província de Minas Gerais para as
províncias limítrofes...” Arquivo Público Mineiro: Seção Provincial. PP 1/6 Cx. 01(29/10/1829).
viii
“Sobre o caminho de Matipó que leva à Vitória, Província do Espírito Santo, carta a Antonio José de
Souza Gomes, Diretor Geral, solicitando seja concedida a Francisco de Paula Cunha e José Leite da
Silva a diretoria de Matipó” (01/01/1831). Arquivo Público Mineiro – Presidência da Província (PP) ¼ Cx.
01.
ix
SPIX, Johann Baptist von. Viagem pelo Brasil: 1817-1820. Trad. de Lúcia Furquim Lahmeyer. Belo
Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1981. v. 1, p.221.
x
“Extrato de um ofício do Coronel Guido Thomaz Marlière datado de 07 de Janeiro de 1829”
10

(1829/01/27). Arquivo Público Mineiro: CGP 1/1, Cx. 01.


xi
“Guido Thomaz Marlière Tenente Coronel do Regimento de Primeira Linha” (1822). Revista do Arquivo
Público Mineiro, Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado, Fac. III e IV, Jul. A Dez. (1905), 1906. p.
441.
xii
“Guido Thomaz Marlière”. Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do
Estado, vol. 11, Fasc. I, II. III e IV. 1907. p. 351.
xiii
“Oficio de Guido Thomaz Marlière ao Sr. Presidente da Província solicitando medidas contra Antonio
de Souza Guimarães” (25/05/1825). Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial
do Estado, v. 10, Fasc. III e IV, Jul. a Dez. (1905), 1906, p. 608.
xiv
“... o extrativismo propiciava um meio de troca entre os indígenas que continuavam na mata atlântica...
Em troca, eles obtinham ferramentas de metal e armas, alimentos, roupas e cachaça... Alguns desses
produtos da mata atlântica eram exportados, principalmente a salsaparrilha, cinchonas falsas, ceras,
bálsamos e ipecacuanha” In:
DEAN, Warren. A ferro e fogo: a historia e a devastação da mata atlântica brasileira.Trad. Cid Knipel
Moreira. São Paulo: Cia das Letras, 1996. p. 177.

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