Você está na página 1de 5

Dom Sebastião, nato em 1554, foi um rei de Portugal, também conhecido

como o “Desejado”, o “Encoberto”. Sebastião era neto do rei de Portugal


e do rei da Espanha e foi o único filho do casal, já que seu pai morrera
antes mesmo de seu nascimento.
É recordado pela sua fé e coragem, pois responsável pela organização de
uma campanha militar contra os Mouros, para a expansão da Cristandade.
Numa dessas batalhas, nomeadamente na batalha de Alcácer Quibir em
1578, despareceu, e nunca mais voltou para a sua terra. Como rei não
tinha filhos, o trono ficou vago. Mais uma vez o problema da sucessão se
colocava. Quem seria o novo rei? Por várias manobras políticas, o rei de
Espanha Filipe II conseguiu incorporar Portugal, tornando-se o novo rei.
Portugal perdeu a independência para Espanha. Formação  União
Ibérica.
Os portugueses ficaram tão desorientados que se recusaram a aceitar a
ideia da morte do rei, criando uma lenda de que ele voltaria numa manhã
de nevoeiro para retomar o trono e restabelecer a independência do país,
assim como a sua glória. Começou, assim, o mito do sebastianismo.
Este foi uma crença ou movimento profético, que consistiu basicamente
num messianismo português, ou seja, na crença da vinda de um Messias,
de um Salvador.
1. Esta crença encontra-se, principalmente, em três obras: A
Mensagem de Fernando Pessoa, Frei Luís de Sousa de Almeida
Garrett e Os Lusíadas de Luís de Camões.
FREI LUÍS DE SOUSA
O SEBASTIANISMO NA OBRA
De maneira geral, o Sebastianismo é associado a alguns traços
distintivos do ser português: por um lado à esperança, ao idealismo,
ao nacionalismo e patriotismo, encarados na figura de Camões, e
por outro à indolência e um certo comodismo, ou seja, a uma
atitude de inercia perante a situação de decadência em Portugal,
causada pela perda de independência e pelo seu endividamento.
Este estado psicológico também será condenado na Mensagem,
escrita durante o regime salazarista.
 Representa a sobreposição do emocional ao racional, estando o
pressentimento e a crença acima da razão. Representa a incerteza
da identidade portuguesa naqueles tempos. Fala-se numa Pátria
humilhada e cativa.
 AS PERSONAGENS E O MITO
O sentimento sebastianista é personificado principalmente por
Maria e por Telmo, mas também, em parte, por Madalena, ainda
que com uma conotação negativa.
- Telmo - Personagem mais sebástica; - Nunca deixou de acreditar
no regresso do seu amo; - Mostra-se como a personagem mais
sebástica em vários diálogos com Madalena: “E és tu, o que andas,
continuamente e quase por acinte, a sustentar essa quimera, a
levantar esse fantasma (…)” (I, 2, l. 68) “(…) as tuas alusões a esse
desgraçado D. Sebastião (…)” (I, 2, l. 68)
 A carta de D. João a D. Madalena mantinha a esperança de Telmo
viva, pois este acreditava veemente no seu regresso: “«Vivo ou
morto» - rezava ela – «vivo ou morto», não me esqueceu uma letra
daquelas palavras; e eu sei que homem era meu amo para as
escrever em vão (…)” (I, 2, l.55) - Maria - Acredita no regresso de D.
Sebastião; “(…) el-rei D. Sebastião, que não morreu e que há de vir,
um dia de névoa muito cerrada(…)” (I, 3, l. 1) - Quando chega ao
palácio de D. João, entusiasma-se com o retrato de D. Sebastião, e
identifica, devido à sua perspicácia D. João noutro quadro: “(…) o do
meu querido e amado D. Sebastião.” (II, 1, l. 21)
 Madalena - É a personagem anti-sebastianista; - Vive com receio e
insegurança devido à possibilidade do regresso de D. João; - Aflige-
se com a crença sebástica da sua filha Maria.
 SIMBOLOGIA
D. João de Portugal está associado à figura e à lenda de D.
Sebastião, de quem parece um duplicado: ambos patriotas vão
combater em terras de infiéis, lado a lado, mas nenhum dos dois
regressa. Consequentemente, a lenda do regresso de D. Sebastião
faz supor logicamente o regresso de D. João também.
Porém, esse regresso não é feliz, e nem desejado, sobretudo por D.
Madalena. É, de facto, uma desgraça. Desta forma, o Sebastianismo

tem uma conceção destruidora, pois gera catástrofe –


nomeadamente, as três mortes finais.
A MENSAGEM
Sebastianismo
A Mensagem apresenta um carácter profético, visionário, pois antevê um
império futuro, não terreno, e ansiar por ele é perseguir o sonho, a ânsia
do impossível, a loucura. D. Sebastião é o mais importante símbolo da
obra que, no conjunto dos seus poemas, se alicerça num sebastianismo
messiânico e profético.
Quinto império: império espiritual
É esta a mensagem de Pessoa: a Portugal, nação construtora do Império
no passado, cabe construir o Império do futuro, o Quinto Império. E
enquanto o Império Português, edificado pelos heróis da Fundação da
nacionalidade e dos Descobrimentos é termo, territorial, material, o
Quinto Império, anunciado na Mensagem, é um espiritual. “E a nossa
grande raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no
espaço, em naus que são construídas daquilo que os sonhos são feitos… “,
contendo assim um apelo futuro.

OS LUSIADAS
Preposição
Invocação
Dedicatória
Canto I, estrofes 6-18 - o poeta Camões dedica o seu texto ao monarca D.
Sebastião, a quem tece inúmeros elogios e oferece alguns conselhos
(particularmente no sentido de prosseguir as campanhas militares contra
os infiéis, não só para que o triunfo da Fé e do Império sejam indiscutíveis,
mas para que o próprio D. Sebastião se torna digno de ser cantado). Por
outro lado, era no monarca que recaíam todas as esperanças e
expectativas para dissipar quaisquer prenúncios de decadência.
Narração

Embora a figura de "D.Sebastião" esteja em ambas as obras, há


diferenças. Na epopeia a figura do rei é a esperança de tempos mais
grandiosos (sebastianismo tradicional). Na obra de Pessoa a figura do rei
está na base do sebastianismo pessoano, diferente do tradicional, que
aponta para a construção de um futuro promissor e diferente (5º
Império), longe da decadência atual.
O herói é épico em Camões enquanto que em Pessoa, é mítico pois é
aquele que é escolhido por Deus para cumprir uma missão.
Na obra camoniana está presente a valorização do passado e do presente
glorioso, como incentivo á construção de um futuro semelhante, mas na
obra pessoana, embora o passado seja um incentivo para a construção de
um futuro, este futuro tem um cariz diferente do passado.
Em Camões, a poesia serve de registo e de glorificação do passado
glorioso do povo português. Em "Mensagem", a poesia, o mito e o sonho
são as forças que levam á construção de um novo Império.

Você também pode gostar