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Artigo de Revisão

Medicamentos anti-hipertensivos
na gestação e puerpério
Antihypertensive medications in pregnancy and puerperium

RESUMO
Fábio Siqueira1 A toxemia gravídica é uma doença multissistêmica, que ocorre princi-
Thiago Rocha Moura1
Sulani Souza Silva1
palmente no final da gravidez, caracterizada por manifestações clínicas
José Carlos Peraçoli2 como hipertensão, edema e proteinúria. É a complicação médica mais
comum da gravidez e a principal causa de morbimortlidade materna e
perinatal. O objetivo deste artigo é rever os principais aspectos concer-
nentes ao uso de agentes anti­hipertensivos na gravidez e puerpério. Os
dados foram coletados no Pubmed e Bireme, período de 2006 a 2010
utilizando-se os descritores “anti-hipertensivo e gravidez” e “antihyper-
tensive and pregnancy”. O conhecimento da hipertensão durante a ges-
tação e sua terapêutica está em evolução; a busca por medicações que
possam proteger a mãe dos perigos agudos e garantir um recém nasci-
do saudável deve ser o foco. Faltam evidências sobre a melhor terapia a
ser adotada, período de início, duração e resultados. Apesar do avanço
farmacológico, ainda não há fármacos totalmente isentos de comprome-
timento para a mãe e ao concepto.
1
Escola Superior de Ciências da Saúde/
FEPECS da Secretaria de Estado de Saúde
Palavras-chave: Hipertensão; Toxemia gravídica; Anti-hipertensivos;
do Distrito Federal, Brasília-DF. Pré-eclampsia.
2
Programa de pós-graduação em
Ginecologia, Obstetrícia e Mastologia
da Faculdade de Medicina da UNESP/
Botucatu, Botucatu-SP.
ABSTRACT
Pregnancy toxemia is a multisystemic disease, which occurs mainly at
the end of pregnancy, characterized by clinical manifestations such as
hypertension, edema and proteinuria. It is the most commonly occurred
medical complication in pregnancies and the main cause for perinatal
and maternal morbimortalities. The purpose of this article is to review
the main aspects concerning the use of antihypertensive agents during
pregnancy and puerperium. The data has been collected from Pubmed
Correspondência and Bireme, from 2006 to 2010 using the words “anti-hipertensivo e
Fábio Siqueira gravidez” and “antihypertensive and pregnancy”. The knowledge regar-
Quadra 104, Lote 12, Bloco C, ding hypertension during pregnancy and its therapy is evolving; the se-
apartamento 302, Águas Claras, Brasília- arch for medication that could protect the mother from acute dangers
DF. 71180-190, Brasil.
fabiosqr@gmail.com and to ensure a healthy newborn must be the focus. Evidence is still

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Siqueira F et al.

lacking regarding the best therapy, beginning period, duration and re-
sults. In spite of the pharmacological advances, there are still no drugs
completely exempt of compromises to the mother and the conceptus.

Keywords: Hypertension; Pregnancy toxemia; Antihypertensive; Pre-


eclampsia.

INTRODUÇÃO

A hipertensão arterial complica cerca de 5% a 10% Hipertensão arterial crônica ‑ definida como a hi-
de todas as gestações1‑9, incidência que pode va- pertensão arterial que está presente antes da ocor-
riar com a população estudada e os critérios uti- rência da gestação ou diagnosticada antes da 20ª
lizados para diagnóstico. É a complicação médica semana da mesma12.
mais comum da gravidez e a principal causa de
morbimortalidade materna e perinatal10. Pré‑eclampsia (PE)/eclampsia ‑ definida como a
presença, após a 20ª semana de gestação (exceção
A gestação pode agravar a hipertensão existente an- para os casos de doença trofoblástica gestacional),
tes da gravidez (hipertensão arterial crônica), bem de hipertensão arterial e proteinúria, em gestante
como induzi-la em mulheres normotensas (hiper- sem história de hipertensão arterial. Na ausência
tensão gestacional e pré-eclampsia). Para o con- de proteinúria também se considera PE quando
senso do National High Blood Pressure Education o aumento da pressão arterial é acompanhado de
Program (NHBPEP), publicado em 1990 e reafir- sintomas como cefaléia, borramento da visão e dor
mado em 2000, é fundamental diferenciar a hi- abdominal, ou por valores anormais de testes la-
pertensão que antecede a gravidez daquela que é boratoriais, especialmente contagem baixa de pla-
condição específica da mesma. Na primeira, a ele- quetas e aumento de enzimas hepáticas12.
vação da pressão arterial é o aspecto fisiopatológi-
co básico da doença, a última é resultado de má Hipertensão arterial crônica superposta por PE ‑
adaptação do organismo materno à gravidez, sen- definida pela ocorrência das seguintes situações12:
do a hipertensão apenas um de seus achados. O
impacto dessas duas condições, sobre mãe e feto, ƒƒ
gestante hipertensa crônica sem proteinúria an-
é diferente, assim como seu controle11,12. tes da 20ª semana de gestação, que manifesta
proteinúria na segunda metade da gestação.
Frente a diferentes e complexas classificações das for- ƒƒ
gestante hipertensa crônica portadora de protei-
mas de manifestação da hipertensão arterial na gravi- núria na primeira metade da gestação, que após
dez, encontradas na literatura, em 1990 o NHBPEP a 20ª semana apresenta aumento repentino do
apresentou uma classificação, que atualizou em 2000 valor desta e/ou da pressão arterial previamente
(Quadro 1), e que estão descritas abaixo12. controlada, trombocitopenia ou aumento de en-
zimas hepáticas (alanina aminotransferase e/ou
Quadro 1 aspartato aminotransferase).
Classificação das formas de manifestação da hipertensão
arterial na gestação12. Hipertensão gestacional: definida pela presença,
após a 20ª semana de gestação, de hipertensão ar-
• Hipertensão arterial crônica terial sem proteinúria, em gestante previamente
• Pré-eclampsia / eclampsia normotensa. Doze semanas após o parto, gestan-
• Hipertensão arterial crônica superposta por pré‑eclampsia tes classificadas como portadoras de hipertensão
• Hipertensão gestacional gestacional serão novamente avaliadas e renomea-
das como hipertensão transitória, se a pressão ar-

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Anti-hipertensivos na gestação e puerpério

terial retornou aos valores normais, ou como hi- A síndrome HELLP é definida pela associação de
pertensão arterial crônica, se os valores da pressão hemólise (H), alteração das enzimas hepáticas
arterial permanecem elevados12,13. (EL) e plaquetopenia (LP). Seu diagnóstico preco-
ce é, eminentemente, laboratorial e deve ser pes-
Entre os tipos de hipertensão diagnosticados na quisado de maneira sistemática nas mulheres com
gestação merecem destaque as suas manifestações PE grave/eclampsia e/ou dor em quadrante supe-
específicas, isto é, a PE, que ocorre como forma rior direito do abdome12.
isolada ou associada à hipertensão arterial crônica,
e a hipertensão gestacional. Segundo a literatura, O controle da pressão arterial durante a gestação
a PE, isolada ou superposta à hipertensão arterial é fundamental para que o desfecho desta seja o
crônica, é o tipo de hipertensão que determina os melhor possível. A ocorrência de hipertensão
piores resultados maternos e perinatais13. determina riscos para a mãe e para o concepto.
Atualmente empregam-se diferentes condutas
Apesar da sua importância em saúde pública, a para seu controle, sendo a mais utilizada a admi-
etiologia da hipertensão que se manifesta na gesta- nistração de agentes ant‑hipertensivos.
ção (PE e hipertensão gestacional) permanece des-
conhecida. Presente desde a implantação do ovo, Objetivo
a doença caracteriza-se, clinicamente, por aumen-
to dos valores da pressão arterial após a 20ª sema- A presente revisão da literatura procurou avaliar
na de gestação, associado (pré‑eclampsia) ou não aspectos sobre o uso de agentes anti‑hipertensivos
(hipertensão gestacional) à proteinúria. Nessa fase durante a gestação e o puerpério, procurando-se
a doença geralmente é assintomática, dependendo parâmetros norteadores para uma atitude segura e
seu diagnóstico unicamente do exame físico e de eficaz do seu uso.
dados laboratoriais. A evolução natural da doença
é o desenvolvimento para as formas graves, entre
elas, a eclampsia e a síndrome HELLP (Hemolysis, MÉTODO
Elevated Liver enzymes, Low Platelets), hemólise,
elevação de enzimas hepáticas e plaquetopenia12. Foi realizada revisão da literatura (não sistemá-
tica) nas bases de dados Bireme e PubMed, em-
Nos casos de pré‑eclampsia é importante identi- pregando‑se as palavras chave “anti‑hipertensivo”
ficar a sua gravidade, pois o prognóstico materno e “gravidez” e “antihypertensive and “pregnancy”.
e fetal depende da conduta. Assim, a presença de Foram selecionados artigos originais e de revisão
um ou mais critérios abaixo identifica um caso de publicados nos últimos cinco anos (2006 a 2010)
pré‑eclampsia como grave12 (Quadro 2). nas línguas inglesa, espanhola ou portuguesa.

Quadro 2 Com os parâmetros utilizados encontrou-se 391


Indicadores de pré‑eclampsia grave12. artigos; após a leitura dos títulos e resumo fo-
ram selecionados 46 e destes 10 foram descarta-
Pressão arterial ≥ 160x110mmHg dos por não serem do tema desejado. Ao final resta-
Proteinúria ≥ 2g/24horas (ou > 2+ em amostra urina) ram 36 artigos (língua inglesa: 34, espanhola: ne-
Creatinina sérica > 1,2mg%
Sintomas de eclampsia iminente
nhum e portuguesa: dois) referentes ao emprego de
Eclampsia (crise convulsiva) anti‑hipertensivos na gestação. Além dos artigos encon-
Dor epigástrica ou no hipocôndrio direito trados nas bases de dados pesquisadas foram incluídos
Aumento de enzimas hepáticas (TGO, TGP) outros citados pelos autores dos artigos selecionados.
Plaquetopenia (< 100.000/mm3)
Anemia hemolítica microangiopática
Controle farmacológico
A eclampsia, definida pela ocorrência de crise con- da hipertensão arterial
vulsiva, é comumente precedida pelos sinais e sin-
tomas de eclampsia iminente, isto é, distúrbios do Entre os meios para controlar a hipertensão arte-
sistema nervoso central (cefaléia frontal/occipital, rial na gestação destacam-se os não farmacológi-
torpor, obnubilação e alterações do comporta- cos (restrição de atividade física, abolir consumo
mento), visuais (escotomas, fosfenas, visão emba- de álcool e cigarros, reduzir ingestão de substân-
çada e até amaurose) e gástricos (náuseas, vômitos cias que contém cafeína) e os farmacológicos (an-
e dor no hipocôndrio direito ou no epigástrio)12. ti‑hipertensivos)14,15.

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Siqueira F et al.

Na população adulta não-grávida, o controle da ƒƒ


todos os agentes anti‑hipertensivos apresentam
pressão arterial pode reduzir a incidência de aci- possíveis efeitos sobre o fluxo útero-placentário,
dente vascular cerebral, doença coronariana, in- ou seja, sobre o feto3;
suficiência cardíaca congestiva e de mortalidade
cardiovascular3,4,6,15,16. Cada uma dessas morbi- ƒƒ
como a hipertensão arterial crônica tem fisiopato-
dades, e outras como a nefrosclerose hipertensi- logia diferente da PE, a justificativa de usar terapia
va, decorre apenas em parte da hipertensão pro- anti‑hipertensiva para prevenção do desenvolvi-
priamente dita, uma vez que podem interagir ou- mento da PE ou eclampsia não tem fundamento14.
tros fatores de risco como tabagismo, dislipidemia,
diabete, raça, idade, sexo e predisposição familiar. Segundo Umans e colaboradores, o balanço entre
Por outro lado, a capacidade de se conseguir me- riscos e benefícios da terapia anti‑hipertensiva di-
lhores resultados, pelo controle da pressão arterial, fere quando se compara mulheres com hiperten-
também depende da gravidade da hipertensão, da são crônica desde o início da gestação, cujos fetos
presença de lesão de órgão alvo, da duração do estão sujeitos a maior exposição a drogas no está-
seguimento, do controle adequado da pressão ar- gio inicial de seu desenvolvimento, com mulhe-
terial, e talvez da fisiopatologia causadora da hi- res que desenvolvem hipertensão (gestacional ou
pertensão e das drogas usadas no tratamento17,18. pré‑eclampsia) próximo ao termo. Um trial bem
desenhado e adequado ainda deve ser realizado
A hipertensão na mulher grávida é diferente. Na para resolver essa questão19.
gestação, os principais objetivos do tratamento
são proteger a mãe dos riscos agudos ou das lesões Os riscos maternos que justificam a farmacotera-
irreversíveis durante ou imediatamente após a pia incluem a superposição de PE, que com seus
gestação, e conseguir um recém-nascido saudável. resultados mórbidos, parece contribuir com as
Assim, é necessário contrapor o resultado materno maiores complicações atribuídas à hipertensão
a curto prazo e possíveis consequências a longo crônica21. Entre os riscos adicionais destacam-se
prazo da exposição intra-uterina às drogas, ou da o descolamento prematuro de placenta e elevação
agressão hemodinâmica sobre o desenvolvimento repentina da hipertensão que indicam hospitaliza-
e crescimento fetal e durante a infância. Por outro ção, lesão de órgão alvo ou complicação cerebro-
lado, se comorbidades como diabete, disfunção vascular. Entre os riscos para o feto estão o óbito,
de órgão alvo e causas secundárias da hipertensão a restrição de crescimento intra-uterino e o par-
podem interagir com a hipertensão materna e al- to prematuro. Entretanto, não existem dados que
terar as estratégias do seu controle, este conceito indiquem ser o tratamento anti‑hipertensivo, de
não se aplica à maioria das grávidas hipertensas19. gestantes com hipertensão crônica leve, preventi-
vo dessas complicações, que impeçam a piora da
Qual a importância e os riscos dos agentes anti‑hi- hipertensão ou reduzam a necessidade de terapia
pertensivos usados no controle das diferentes for- anti‑hipertensiva adicional19.
mas de manifestação da hipertensão arterial du-
rante a gestação? Considerando-se que o melhor tratamento da hi-
pertensão durante a gestação é a sua resolução7,22,
Alguns princípios devem nortear o uso de agentes pode se afirmar que, o objetivo do tratamento clí-
anti‑hipertensivos na gestação: nico de gestante hipertensa é diminuir, em curto
prazo, os riscos maternos da elevação da pressão
ƒƒ
os mecanismos responsáveis pela adaptação arterial, porém evitando-se terapêuticas que com-
fisiológica do organismo materno a gestação/ prometam o bem estar fetal. O objetivo específi-
parto/puerpério determinam redução natural co para a mãe é prevenir as complicações cardio-
do valor da pressão arterial desde o início da vasculares da hipertensão grave, principalmente
gestação, que atinge seus menores valores no do sistema nervoso central3,4,15,16,23,24 e para o feto
segundo trimestre e tende a retornar aos valores prolongar a gestação, evitando-se assim as compli-
pré-gravídicos no terceiro trimestre14; cações da prematuridade15,20.

ƒƒ
o valor ideal da pressão arterial para a gestante Considerando-se ainda os riscos potenciais do tra-
ainda é desconhecido e controverso2,3,20; tamento anti‑hipertensivo durante a gestação, isto é,
que as drogas possam reduzir o fluxo útero-placen-
ƒƒ
valores elevados de pressão arterial determinam tário e comprometer o feto, o tratamento de hiper-
riscos de complicações cardiovasculares maternos7; tensão diastólica inferior a 110mmHg deve ser evi-

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Anti-hipertensivos na gestação e puerpério

tado, ponderando-se os riscos e benefícios. Assim, Não há evidência convincente que o tratamento
quando o nível de pressão diastólica ultrapassa medicamentoso da hipertensão leve melhore o
100mmHg, o tratamento deve ser instituído para desfecho materno na gravidez4,28. Por outro lado,
evitar lesão vascular materna. A redução excessiva durante a gestação, o uso de medicamentos em hi-
da pressão sangüínea deve ser evitada, consideran- pertensão leve pode determinar queda da pressão
do-se que a queda abrupta maior que 25% do valor arterial e aumentar o risco de restrição do cres-
inicial da pressão arterial aumenta o risco de hipo- cimento fetal, independente do anti‑hipertensivo
perfusão de órgãos alvo maternos e comprometi- utilizado2,28.
mento fetal por isquemia útero‑placentária14.
Também não existem evidências suficientes que
Não existem evidências suficientes para saber qual permitem concluir que um agente anti‑hiperten-
a melhor terapia farmacológica, quando iniciar o sivo é melhor que o outro7. Deve ser lembrado que
tratamento, quão intenso este deve ser e quando não existe uma avaliação rigorosa da farmacoci-
deve ser interrompido e, se o efeito hipotensor na nética, biotransformação, eficácia materna, expo-
gestação será suficiente para controlar a pressão sição fetal e efeito a longo prazo sobre o feto das
arterial2,4,7,13. drogas usadas durante a gestação. A informação
da segurança da teratogenicidade obtida em labo-
Também não existe evidência científica que a ratório experimental (animal) é limitada e seletiva.
terapia anti‑hipertensiva melhore o resultado O FDA (Food and Drugs Administration) ainda
perinatal2,24‑27, ou seja, diminua a incidência de recomenda o esquema de classificação das drogas
complicações, como: restrição de crescimento in- quanto ao potencial risco fetal (categorias A, B, C,
tra-uterino (RCIU), superposição de PE, descola- D, X)30, embora uma revisão deva ser implemen-
mento prematuro de placenta ou da mortalidade tada em breve14 (Quadro 3).
perinatal24.
Alguns medicamentos podem ser classificados em
Segundo o NHBPEP (2000), gestantes com hiper- categorias ambíguas sem evidência de dano, mas
tensão arterial leve (<160x110mmHg) evoluem também sem estudos controlados que compro-
satisfatoriamente sem anti‑hipertensivos, não ne- vem a segurança14.
cessitando destes13.
É consenso que anti‑hipertensivos como bloque-
Assim, considerando-se o efeito hipotensor fisio- adores ganglionares, propranolol, diuréticos tia-
lógico da gestação parece plausível não iniciar zídicos, inibidores da enzima conversora de an-
terapia anti‑hipertensiva durante a gestação em giotensina (risco D) e antagonistas de receptor de
mulheres portadoras de hipertensão arterial crô- angiotensina II (risco D) devem ser evitados, pe-
nica. Deve-se reduzir ou suspender a medicação los efeitos colaterais indesejáveis, tanto maternos
em mulheres que já faziam seu uso, a não ser que como fetais3,12.
apresentem lesão de órgão alvo (vasos, rim e cora-
ção)28. Portanto, na primeira consulta destas mu- Os demais agentes anti‑hipertensivos estão libera-
lheres deve ser solicitada avaliação de proteinúria dos para uso durante a gestação, na dependência
de 24 horas, ecocardiograma e exame de fundo do tempo de início de sua ação (necessidade de
de olho. Se não houver lesão de órgão alvo, em ação imediata ou não), da experiência de quem
gestante que chega ao pré-natal no 1º trimestre os prescreve, da acessibilidade da gestante a es-
com hipertensão arterial leve, as drogas em uso tes medicamentos (disponível ou não no SUS).
são suspensas, sendo reiniciadas quando a pressão A revisão da Biblioteca Cochrane de Duley &
diastólica atingir valor maior que 100mmHg. Em Henderson‑Smart (2005) concluiu que a escolha
mulheres com hipertensão grave a terapia anti‑hi- do anti‑hipertensivo deve ser fundamentada na
pertensiva deve ser iniciada ou mantida29. experiência e familiaridade com um determinado
anti‑hipertensivo32.
O mesmo princípio, quanto ao valor da pres-
são arterial, para se introduzir anti‑hipertensivo
deve ser adotado para os casos de PE. Segundo
Chobanian (2003), o tratamento da PE não altera
a fisiopatologia da doença, mas pode retardar sua
progressão e consequentemente conseguir avan-
ços na maturação fetal15.

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Siqueira F et al.

Quadro 3 Quadro 5
Classificação de risco de medicamentos na gravidez3,23,30,31. Agentes anti‑hipertensivos disponíveis no Brasil para
tratamento da hipertensão arterial grave3,16,33.
A
‑ Não há evidência de risco em mulheres. Estudos controlados não 1ª escolha
demonstram riscos para o feto no primeiro trimestre de gravidez e Hidralazina (C) (1 ampola = 1mL = 20mg)
não há evidências de riscos para os trimestres posteriores.
Hidralazina (20 mg) ...........................................1 mL
B1
Soro glicosado 5% .............................................9 mL
‑ Não há estudos adequados em mulheres. Estudos em animais não
demonstraram risco. Administrar 5 ml, IV a cada 20 minutos, até seis doses se necessário.
B2 Cuidados:
‑ Estudos em animais têm demonstrado efeitos teratogênicos que • R eduzir a pressão arterial em 30% ou até valores de 90/100
não foram confirmados em gestações humanas durante o primeiro mmHg de pressão arterial diastólica.
trimestre, e não existem evidências de riscos em trimestres • Até estabilizar a pressão arterial, esta deve ser aferida a cada 5
posteriores. minutos durante 20 minutos. Só então, na ausência de resposta
C1 adequada à medicação, deve‑se repetir nova dose. Após cada
‑ Não existem estudos em mulheres e estudos em animais têm nova dose controlar PA a cada 5 minutos por 20 minutos.
demonstrado efeitos teratogênicos sobre o feto. • C aso haja queda indesejada da pressão arterial, infundir soro
C2 fisiológico e avaliar a freqüência cardíaca fetal.
‑ Não existem estudos disponíveis em mulheres ou em animais. São 2ª escolha
medicamentos que só devem ser administrados se o benefício Nifedipina (C)
esperado para a mãe justificar o risco potencial para o feto.
5mg/ VO a cada 30 minutos até PAD 90/100mmHg.
D
‑ Há evidências de risco em fetos humanos. Só devem ser indicados se Cuidados:
o benefício justificar o risco potencial. • Hipotensão materna
X • pode potencializar o bloqueio neuromuscular do magnésio –
‑ Os estudos em animais ou em humanos demonstraram evidentes evitar uso concomitante com sulfato de magnésio.
riscos de teratogênese, o que claramente supera o possível benefício 3ª escolha
em mulheres grávidas. Os medicamentos dessa categoria estão Nitroprussiato de sódio (C)
contra‑indicados em mulheres que estão ou possam ficar grávidas.
Iniciar com a dose de 0,3μg – 0,5μg/Kg/min, aumentando 0,5μg/Kg/
min. Até obter o efeito desejado.
Os principais agentes anti‑hipertensivos (dose e Dose máxima: 10μg/Kg/min.
possíveis efeitos colaterais) disponíveis no Brasil, Cuidados:
para tratamento da hipertensão arterial leve e grave, • uso por mais que 4 horas e doses acima de 2μg/Kg/min
encontram-se nos Quadros 4 e 5, respectivamente. estão associadas com risco de toxicidade fetal pelo cianeto. É
recomendado que este medicamento deva ser evitado durante
a gestação.
Quadro 4
Agentes anti‑hipertensivos disponíveis no Brasil para
tratamento da hipertensão arterial leve3,16,33. A primeira linha de medicamentos anti‑hiperten-
Medicamento sivos utilizados na gravidez inclui a metildopa, la-
Dose Efeitos adversos na gravidez betolol e nifedipina14.
(Risco)
Edema periférico, ansiedade,
750mg – 3g/d
pesadelos, sonolência, boca seca, Agentes simpatolíticos (agonista α‑adrenérgico)
Metildopa (B) em 2 ou 3
hipotensão, hepatite materna. Sem
doses
efeitos adversos maiores no feto.
200mg – Bradicardia fetal persistente,
A metildopa é uma pró-droga metabolizada a
Labetolol (C) 1200mg/d em hipotensão e hipoglicemia α-metilnorepinefrina, que substitui a norepinefri-
2 ou 3 doses neonatal. na nas vesículas neurosecretoras dos nervos adre-
Hidroclorotiazida 12,5mg – Malformação fetal, anormalidades nérgicos terminais. Centralmente, é resistente a
(C) 25mg/d eletrolíticas e depleção do volume. degradação pela oxidase monoamina, resultando
Hipotensão e potencializar o em aumento do efeito nos locais α2 que regulam o
30mg –
Nifedipina (C) bloqueio neuromuscular se
120mg/d em
utilizado com sulfato de magnésio. fluxo simpático. A diminuição do tonus simpático
50mg – reduz a resistência vascular sistêmica, associada a
Hipotensão neonatal e pequena diminuição do débito cardíaco. O con-
Hidralazina (C) 200mg/d de 2
trombocitopenia.
a 4 doses trole da pressão é gradual, em cerca de 6 a 8 ho-
Oligohidraneos, inibição do ras, devido ao seu mecanismo indireto de ação. O
IECA,
crescimento intrauterino, falência efeito hipotensor é maior na posição vertical que
bloqueador dos
Contra renal, baixo peso ao nascer,
receptores de na supina, sendo pouco freqüente a hipotensão
indicados na anormalidades cardiovasculares,
angiotensina ortostática. A clonidina, um α 2‑agonista seletivo
gravidez poldactilia, hipospadia e aborto
e inibidor da
espontâneo, hipoplasia renal, age de modo semelhante19.
renina (D)
craniofacial e dos membros.

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Anti-hipertensivos na gestação e puerpério

Os efeitos adversos desta droga devido sua ação está significativamente aumentado durante a gra-
α 2‑agonista central ou pela diminuição do tonus videz, acompanhando o aumento da taxa de filtra-
simpático periférico, são: redução do estado de ção glomerular40.
alerta mental, prejuízo no sono, sensação de can-
saço ou depressão e redução da salivação (boca Agentes como pindolol e oxprenolol, parcial-
seca). Ela pode prejudicar a condução cardíaca mente agonistas β-receptores, determinam me-
em pacientes susceptíveis, induzir hiperprolacti- nor redução do débito cardíaco e da estimulação
nemia e sinais de Parkinson. Aproximadamente β2, podendo causar significante redução da resis-
5% dos pacientes terão aumento da concentração tência vascular. Algumas drogas como atenolol e
de enzimas hepáticas. O teste de Coombs indireto metropolol possuem também maior ação seletiva
pode se mostrar positivo, quando em uso crônico β1‑receptora que β2 e capacidade de bloquear re-
(sinal de progressão de anemia hemolítica)19. ceptores β1 (labetalol), podendo diferir em sua li-
possolubilidade, de modo que podem ter menor
Na gestação é a única droga anti‑hipertensiva cujos acesso ao sistema nervoso central19.
estudos avaliaram o desenvolvimento a logo prazo
de crianças submetidas ao seu efeito intra‑útero34. Existem evidências que os antagonistas dos recep-
Segundo Umans e colaboradores (2009), na gra- tores β‑adrenérgicos são úteis e seguros no trata-
videz, permanece como a droga de escolha para o mento da hipertensão arterial crônica durante a
controle da pressão arterial fora do estado emer- gestação41,42, com destaque para o labetalol, uma
gencial, uma vez que nenhuma nova droga mos- combinação de alfa e beta‑bloquedor42,43. Por ou-
trou maior eficácia ou melhor tolerância. Ela pos- tro lado, o uso prolongado de algumas dessas dro-
sui história de segurança clínica, apoiada por es- gas (atenolol, labetalol) está associado com restri-
tudos prospectivos e a longo prazo19. ção do crescimento intra-uterino, trabalho de par-
to prematuro e apnéia neonatal3,43,44.
Tratamento com metildopa diminui a incidência
de crise hipertensiva35, sendo bem tolerado pela Este grupo de anti‑hipertensivos parece ser mais
mãe sem apresentar qualquer efeito adverso na efetivo que a metildopa na prevenção de hiperten-
hemodinâmica placentária e fetal36 ou sobre o são grave, entretanto, não está claro que vantagens
bem estar fetal24,37. ou desvantagens maternas e perinatais estão asso-
ciados aos β‑bloqueadores quando comparados à
É o único anti‑hipertensivo classificado como ris- metildopa2,45. Em relação a outros anti‑hipertensi-
co B pelo FDA4,14,15. O tratamento consiste na ad- vos, os β‑bloqueadores estão associados com me-
ministração inicial de 750mg/dia até o máximo de nor risco de crianças com baixo peso ao nascer45.
3.000mg/dia, fracionada em duas ou três tomadas. Os β‑bloqueadores podem diminuir a incidência
A dosagem total deve ser suficiente para manter a de proteinúria e também de PE sobreposta à hi-
pressão diastólica abaixo de 110mmHg3,16. pertensão arterial crônica40.

Estudos com a clonidina são limitados, sendo que Entre os efeitos adversos estão cansaço e letargia,
um deles, realizado no terceiro trimestre, mostrou intolerância ao exercício devido principalmente
eficácia e tolerabilidade semelhante a da metildo- aos efeitos β2 nos vasos da musculatura esqueléti-
pa. Deve ser evitada no início da gestação pela sus- ca, vasoconstrição periférica secundária à redução
peita de embriopatia38. do débito cardíaco, distúrbios do sono com uso
de drogas mais lipossolíuveis e constrição brôn-
Antagonistas dos receptores β-adrenérgicos quica39.

Em geral, os antagonistas dos receptores O labetalol, um antagonista de receptor vascular


β‑adrenérgicos não reduzem a pressão arterial β1, parecer ser o β‑bloqueador mais usado e pres-
em pacientes com pressão arterial normal, toda- crito na gravidez. É administrado via parenteral na
via, reduzem seus valores em pacientes hiperten- emergência hipertensiva, principalmente quando
sos. Apesar do uso disseminado seu mecanismo ocorre a superposição de PE. Administrado oral-
de ação não está totalmente esclarecido, sabendo- mente na hipertensão crônica, parecer ser segu-
-se que a liberação de renina do aparelho justaglo- ro24,46,47 e tão efetivo quanto a metildopa, em-
merular é estimulada pelo sistema nervoso simpá- bora em altas doses pode causar hipoglicemia
tico e que esse efeito é bloqueado pelos antagonis- neonatal48.
tas β‑adrenérgicos39. O clearence renal do atenolol

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Siqueira F et al.

No Brasil não se dispõe do labetalol e a maioria va-se que apresentam efeito anti‑hipertensivo si-
dos serviços de assistência pré-natal utilizam o milar, mas não prolonga o tempo de gestação ou
pindolol na dose de 10mg a 30mg/dia, fracionada melhora o prognóstico fetal6.
em duas tomadas.
A dose diária máxima deve ser de 120mg, fracio-
Antagonistas β‑adrenérgicos de ação periférica são nada em três ou quatro tomadas. O uso concomi-
drogas de segunda linha em adultos fora da gesta- tante com sulfato de magnésio deve ser evitado,
ção, com indicação precisa na gestação para o con- pois pode potencializar o efeito anti‑hipertensivo
trole da hipertensão decorrente do feocromocito- e o bloqueio neuromuscular do magnésio. A ad-
ma. Assim, o prazosin e a fenoxibenzamina são ministração pela via sublingual é contra-indicada
associados com β‑bloqueadores nessa situação49. por determinar resposta hipotensora imprevisível,
excessiva ativação autonômica e isquemia aguda
Bloqueadores dos canais de Cálcio do miocárdio3,19.

O aumento da concentração de Ca+2 citosólico Moduladores do eixo renina‑angiotensina‑al-


provoca aumento da contração da célula muscu- dosterona
lar lisa cardíaca e vascular. A entrada de Ca+2 ex-
tracelular tem maior importância no desencadea- O principal efeito destes agentes, no sistema re-
mento da contração das células miocárdicas, en- nina-angiotensina, é a inibição da conversão da
quanto a liberação de Ca+2 dos locais de armaze- angiotensina I (relativamente inativa) em angio-
namento intracelular atua também na contração tensina II (ativa). Os inibidores da enzima conver-
do músculo liso vascular. Além disso, a entrada sora de angiotensina (IECA) atenuam ou anulam
de Ca+2 extracelular pode deflagrar a liberação de a resposta da angiotensina I, mas não da angio-
Ca+2 adicional das reservas intracelulares39. tensina II, o que os classifica como inibidores alta-
mente seletivos. Não interagem diretamente com
Os bloqueadores de canais de Ca+2 inibem os ca- nenhum outro componente do sistema renina-
nais de Ca+2 dependentes da voltagem do múscu- -angiotensina. Por outro lado, a ECA tem muitos
lo liso vascular em concentração significativamen- substratos, podendo sua inibição induzir efeitos
te menor do que a necessária para interferir na li- não relacionados aos níveis de angiotensina II. Os
beração de Ca+2 intracelular ou para bloquear os IECAs aumentam os níveis de bradicinina, que es-
canais de Ca+2 operados por receptores. Todos os timula a biossíntese de prostaglandina. A bradici-
bloqueadores dos canais de Ca+2 relaxam o mús- nina e/ou prostaglandina podem contribuir para o
culo liso arterial, porém exercem pouco efeito ino- efeito farmacológico dos IECAs39.
trópico negativo nas células cardíacas39. Todos es-
tes bloqueadores também diminuem a resistência Os IECAs são absolutamente contraindicados em
vascular e aumentam o fluxo sanguíneo coronaria- qualquer período da gravidez3,12. Podem determi-
no. Os efeitos hemodinâmicos de cada um desses nar diminuição do fluxo sanguíneo placentário, re-
agentes variam na dependência da via de adminis- sultando em oligoâmnio, restrição do crescimento
tração e do grau de disfunção ventricular39. intrauterino, falência renal, além de malformações
cardiovasculares, craniofacial e de membros3,31,40.
Os bloqueadores de canal de Ca+2, como a nife- Portanto, mulheres em uso de IECAs e com inten-
dipina, que exercem maior efeito na musculatura ção de engravidar devem ter sua medicação tro-
lisa vascular que no miocárdio, parecem promis- cada e devem ser imediatamente substituídos em
sores no tratamento da hipertensão. Apesar de es- grávidas que os utilizem14.
tudos em ratas mostrarem que a nifedipina é tera-
togênica, quando administrada em dose equiva- Vasodilatadores
lente a 30 vezes o máximo recomendado para a
dose humana, em humanos não foram relatados Os efeitos dos vasodilatadores limitam-se princi-
efeitos adversos ao feto, alteração no fluxo útero- palmente ao sistema cardiovascular. A redução da
-placentário ou na resistência placentária50. pressão arterial está associada à diminuição seleti-
va da resistência vascular na circulação coronaria-
A nifedipina não altera significativamente a na cerebral e renal39.
frequência cardíaca fetal em fetos normais ou
mesmo com restrição de crescimento intrauteri- Entre os vasodilatadores, a hidralazina por via oral
no6. Quando comparada com a metildopa, obser- é pouco eficaz quando usada isoladamente, por

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Anti-hipertensivos na gestação e puerpério

desencadear taquicardia reflexa com aumento do sua introdução durante a gravidez reduz o volume
débito cardíaco. Entretanto, quando em associa- plasmático materno, podendo diminuir o volume
ção com bloqueadores β‑adrenérgicos, o efeito ta- do líquido amniótico, determinar distúrbios ele-
quicardia é prevenido e ocorre redução da pressão trolíticos com pior resultado perinatal3,4,21,40,52.
sangüínea. A hidralazina também é utilizada em
associação à metildopa. Assim, comumente é uti- Com base nos conceitos teóricos, os diuréticos
lizada como agente de segunda linha e em associa- não são considerados drogas de primeira escolha
ção com β‑bloqueadores ou metildopa40. no tratamento da hipertensão durante a gestação.
Entretanto, estando bem indicados, são seguros
Na crise hipertensiva é o agente anti‑hiperten- e eficazes, podendo potencializar a resposta de
sivo mais utilizado, sendo administrado por via outros anti‑hipertensivos. Entretanto, estão con-
endovenosa. Quando comparada aos bloqueado- traindicados ou devem ter seu uso interrompido
res de canais de Ca+2 são mais eficazes em redu- nos casos em que a perfusão útero-placentária
zir a pressão arterial32. Porém, a hidralazina pode esteja alterada como na PE, no aparecimento de
estar associada a mais efeitos colaterais que os de- oligoâmnio e na presença de RCIU12. A depleção
mais anti‑hipertensivos, como a hipotensão ma- de volume e a vasoconstrição sistêmica da PE53
terna. Esta hipotensão pode ser resultante da ação tornam sem lógica o uso de diuréticos nessa pa-
de qualquer agente de ação rápida, quando utili- tologia.
zado em mulheres com PE que tem depleção do
volume intravascular16. Nas gestantes que utilizavam a hidroclorotiazida
antes da gestação esta pode ser mantida se hou-
Nitroprussiato de sódio ver indicação de manutenção de anti‑hipertensivo.

O nitroprussiato de sódio é um nitrovasodilatador, Portanto o uso de diuréticos durante a gravidez,


sendo metabolizado pelos vasos sanguíneos em como tratamento de hipertensão é controverso3
seu metabólito ativo, o óxido nítrico. Esse agente não sendo recomendado16.
dilata tanto arteríolas como vênulas, e a respos-
ta hemodinâmica à sua administração resulta da Sulfato de magnésio
combinação de acúmulo venoso e redução da im-
pedância arterial. O nitroprussiato de sódio é um Esse agente, considerado a droga de escolha para
vasodilatador não seletivo, que pouco altera a dis- a prevenção e tratamento da eclampsia não tem
tribuição regional do fluxo sanguíneo39. indicação como anti-hipertensivo16,33.

O uso de nitroprussiato de sódio é contraindicado O quadro 6 apresenta um esquema de anti-hiper-


na gestação, exceto como última alternativa, devi- tensivos e os critérios de risco do FDA.
do ao risco de determinar toxicidade para o feto,
por metabolizar-se em cianeto51. Quadro 6
Esquema de anti‑hipertensivos.
Diuréticos
Primeira linha
Metildopa (B): 750mg a 3.000mg / dia/ 2 a 3 tomadas
Diuréticos reduzem a pressão arterial pela sua
Pindolol /outros antagonistas de recptores b (C): 10m a 30mg /dia/ 2
ação natriurética e queda rápida do volume intra- a 3 tomadas
vascular. A fase inicial de depleção de volume di- Nifedipina (C): 30mg a 120mg / dia
minui a pré-carga cardíaca e assim o débito cardí- Associação
aco. Curiosamente, o efeito anti‑hipertensivo crô- Hidralazina (C): 50mg a 300mg / dia/ 2‑4 tomadas
nico do diurético se mantém mesmo que aconteça
Contraindicados
o restabelecimento parcial do volume plasmático Inibidores da ECA (D): ‑pril
e normalização do débito cardíaco, devido à per- Antagonistas de receptores A II: ‑sartan
sistência da redução na resistência vascular peri-
férica19.
Puerpério
O uso de diuréticos durante a gestação é controver-
so3. Teoricamente, quando administrados desde o No puerpério imediato, as mulheres com hiper-
início da gravidez, impedem o aumento do volu- tensão arterial crônica podem desenvolver ence-
me sanguíneo que ocorre na gestação normal52 e falopatia hipertensiva, edema agudo de pulmão

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Siqueira F et al.

e insuficiência renal. Os riscos aumentam espe- Entretanto, os diuréticos tiazídicos devem ser evi-
cialmente em mulheres portadoras de cardiopa- tados durante a lactação, pois a diminuem ou a
tia, doença renal glomerular crônica, PE superpos- inibem56,59,60.
ta, que apresentaram descolamento prematuro de
placenta complicado por coagulopatia intravas- A revisão realizada por Beardmore e colaboradores
cular disseminada e naquelas que necessitaram (2002) concluiu que, até o momento, inibidores
de múltiplas drogas anti-hipertensivas durante a da ECA, a metildopa, os bloqueadores beta-adre-
gestação54,55. Essas pacientes requerem cuidados nérgicos com alta ligação a proteínas (oxprenolol,
intensivos por pelo menos 48 horas após o par- pindolol e propranolol) e alguns bloqueadores de
to, mantendo-se o anti‑hipertensivo em uso até o canal de Ca+2 parecem não oferecer riscos quan-
parto e se, a administração estiver sendo feita por do usados durante a lactação. Os bloqueadores
via intravenosa, quando houver controle da pres- α‑adrenérgicos com baixa ligação a proteínas, isto
são arterial substitui-se por medicação via oral. Se é, com alta difusão no leite devem ser evitados
a hipertensão mantém-se após 3 a 5 dias, deve-se (metoprolol, nadolol e atenolol)61.
manter o anti‑hipertensivo oral e após a alta hos-
pitalar a pressão arterial deve ser monitorada ade-
quadamente54,55. Conclusões

Quanto ao tratamento da hipertensão arterial du- Apesar dos avanços farmacológicos nas últimas
rante a lactação, a literatura mostra que a maioria décadas, na gestação deve-se optar por agentes an-
das drogas anti-hipertensivas, após administração ti‑hipertensivos que não causem efeitos colaterais
de dose única ou múltipla, são detectadas no lei- maternos e fetais. Entretanto, nenhum dos dispo-
te56. Entretanto, poucos trabalhos avaliam se essas níveis pela indústria farmacêutica está isento de
drogas estão presentes no plasma do lactante57,58 algum efeito adverso ao feto, principalmente em
ou se existe qualquer efeito hemodinâmico ou ad- relação ao seu crescimento intra‑útero. Os agentes
verso sobre este. Nos casos de hipertensão grave inibidores da enzima conversora de angiotensina
deve-se procurar administrar uma única droga e (terminologia terminada em pril, como Captopril,
na menor dose possível. Quando há necessidade Enalapril) e os bloqueadores dos receptores de
de associação de múltiplas drogas recomenda-se a angiotensina (terminologia terminada em sartan,
suspensão da lactação57. como Losartan) estão contraindicados na gestação.

Em relação aos efeitos das drogas anti-hipertensi- Nas situações de emergência hipertensiva deve se
vas no recém-nascido, a literatura mostra que não ter cuidado com a queda brusca da pressão arte-
existem efeitos em curto prazo de hipotensores rial, que pode causar acidente vascular cerebral
como metildopa, hidralazina e β‑bloqueadores. materno e hipóxia e morte fetal.

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Anti-hipertensivos na gestação e puerpério

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Este artigo faz parte da Dissertação de Mestrado intitulada “Médicos de um hospital da Secretaria de
Saúde do Distrito Federal prescrevem conforme protocolo para pré-eclampsia? para obtenção do tí-
tulo de Mestre em Ginecologia, Obstetrícia e Mastologia da Faculdade de Medicina da UNESP/ Botucatu
apresentada em julho de 2011. A pesquisa obteve financiamento da FEPECS.

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