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Para a maioria das pessoas, seus empregos representam uma parte importante de

suas vidas. Afinal, é nesse ambiente em que passamos grande parte dos nossos dias,
obtemos renda para pagar nossas contas e realizar nossos sonhos e, frequentemente,
fazemos amigos.
Além disso, como consequência do desenvolvimento tecnológico, a carga de
trabalho aumentou com o passar dos anos, fazendo com que muita gente tivesse de levar
serviço para casa e estar sempre disponível mesmo fora do horário do expediente. 
Muitos de nós, agora, lutam para alcançar um equilíbrio sensato entre vida profissional
e pessoal. Por isso, cuidar da saúde mental e física no trabalho é essencial para
promover mais bem-estar aos colaboradores na nossa área da saúde.

Falar sobre os sentimentos

Conversar sobre o que sentimos é uma ótima forma de manter nossa saúde
mental e lidar com momentos de tensão e angústia. Oriente os colaboradores quanto ao
fato de que conversar abertamente não é um sinal de fraqueza, mas de cuidar de si
mesmo!
Nem sempre é fácil expor sentimentos no trabalho, mas é importante ter um
ponto de suporte. Assim, trabalhe para o fortalecimento das relações de amizade entre
os colaboradores, pois isso pode realmente ajudar.
Para aqueles que não se sentem confortáveis ao falar sobre sentimentos no
trabalho, oriente-os a verificar se há alguém com quem possam discutir as pressões da
rotina — parceiros, amigos e familiares costumam ser uma ótima saída.

A saúde mental dos profissionais de saúde em meio à pandemia covid-19

Para profissionais de saúde diretamente ligados ao atendimento de casos de


COVID-19, existem alguns fatores estressores além dos que já ocorrem nos serviços de
saúde em geral. Cuidar de pacientes que sofrem de COVID-19 pode ter um efeito
emocional importante. É comum se sentir sobrecarregado e sob pressão, mas é
importante lembrar que o estresse deste momento não significa fraqueza ou
incompetência profissional. É tão necessário cuidar da saúde mental quanto da física.
Alguns dos fatores de risco relacionados ao sofrimento psíquico dos profissionais de
saúde são:
 Estigmatização por trabalhar com pacientes com COVID-19 e com medidas de
biossegurança estritas; alguns profissionais podem sofrer hostilidade ou serem evitados
por familiares ou pessoas da comunidade;
 Restrição física de movimentação pelo equipamento;
 Isolamento físico, dificultando oferecer conforto a alguém que esteja doente;
 Estado de alerta e hipervigilância constante;
 Perda de autonomia e espontaneidade;
 Necessidade de adaptação a novas formas de trabalho;
 Frustração por não conseguir atender e resolver todos os problemas dos pacientes e do
próprio sistema de saúde;
 Aumento de demanda de trabalho, com maior número de pacientes, de horas em
serviço, e a necessidade de atualização constante quanto às melhores práticas no
tratamento da doença;
 Redução da capacidade de obter suporte social, pela carga de trabalho pesada;
 Dificuldade ou falta de energia para manter o autocuidado;
 Informação insuficiente sobre exposição por longo prazo a indivíduos com COVID-
19;
 Necessidade de orientar amigos e familiares e desmentir boatos e notícias falsas
frequentemente;
 Luto pela perda de colegas de trabalho e pessoas conhecidas;
 Medo de transmitir a doença a familiares em consequência do trabalho executado.
 Além dos riscos de desenvolvimento de reações e transtornos da população geral, já
citados anteriormente, existe ainda a possibilidade de Síndrome de Burnout, que
engloba a sensação de esgotamento, distanciamento emocional e perda de sentido de
realização profissional. Esta síndrome está relacionada a diversos fatores internos e
externos na relação da pessoa com o trabalho. Outra possibilidade é o Estresse
traumático secundário, em que a pessoa apresenta os sintomas de Estresse
póstraumático ao entrar em contato com traumas vivenciados por outras pessoas.

Algumas dicas podem ajudar a lidar melhor com este momento:


 Reserve um tempo para reflexão e descanso;
 Permaneça conectado com pessoas queridas, mesmo por meio de métodos digitais.
Telefone, mensagens e vídeos auxiliam a manter contato;
 Cuide de você. Garanta horas suficientes de sono e descanso entre plantões e
atendimentos. Atente-se à qualidade da sua alimentação; autocuidado não é egoísmo;
 Evite o uso de álcool e outras drogas;
 Reserve tempo para você e sua família se ajustarem à maneira como está lidando com
a pandemia;
 Crie um esquema de atividades de cuidados pessoais que você goste, quando não
estiver cuidando de seus pacientes, como passar um tempo com amigos (virtualmente) e
com a família;
 Pense nas estratégias que costumam funcionar para você desestressar: hobbies,
leituras, games, filmes. É provável que funcionem novamente;
 Faça uma pausa na cobertura da mídia sobre a COVID-19; atenção ao volume de
notícias, boatos e “fake news”;
 Encontre oportunidades para conhecer e divulgar histórias positivas e imagens de
pessoas que se recuperaram e querem dividir sua experiência.
 Reduza o isolamento: mesmo com barreiras físicas, é possível ampliar a conexão por
meio de novas tecnologias de comunicação; ampliar a ideia de estar em uma
comunidade pode fortalecer a todos.
 Reconheça o próprio esforço que tem feito ao longo dos dias no trabalho; mas
compreenda os limites de atuação;
 Converse com seus colegas, ou outras pessoas confiáveis para obter suporte social -
seus colegas podem estar tendo experiências semelhantes a você; compartilhe o que está
sentindo, em um contexto de segurança e respeito; escute seus colegas;
 Todos os profissionais estão sujeitos sofrer com problemas mentais relacionados ao
trabalho. Reconheça sinais e sintomas de Transtorno de Estresse Pós-traumático,
Estresse Traumático Secundário e Síndrome de Burnout e procure ajuda caso apresente
sintomas;
 Peça ajuda se você se sentir sobrecarregado ou preocupado com o fato de a COVID-
19 estar afetando sua capacidade de cuidar de sua família e pacientes, como você fazia
antes da pandemia. Isso inclui ajuda psicológica e psiquiátrica. Já existem vários
profissionais atendendo mesmo à distância, e outros canais de teleatendimento
emergenciais estão se estruturando. As características que nos levaram às profissões de
saúde são as mais necessárias neste momento, e este é um período em que o cuidado
com todos é que vai permitir a saúde de cada um. Nós não podemos fazer tudo por todo
mundo, mas podemos fazer muito por várias pessoas. Muitas das intervenções poderão
contar com os recursos já existentes nas comunidades. Utilizá-los fortalece o senso de
inserção social e pertencimento. Lembre-se de que este momento passará, e terá o
sentido que construirmos para ele.

Algumas questões de saúde mental que os profissionais podem precisar gerenciar


 “Contágio emocional”: as pessoas tendem a apresentar reações emocionais conforme
o ambiente e de acordo com o contexto cultural em que se encontram. Essas questões
culturais devem ser levadas em consideração ao oferecer instruções e orientações para
aumentar a adesão. Restrições intensas impostas podem ser percebidas como violentas e
tendem a levar a reações de rebeldia, e muitas vezes a forma como se orienta pode ser a
diferença entre alguém seguir ou não as recomendações técnicas.
 Os transtornos mais frequentemente identificados em momentos de estresse coletivo
intenso são as Reações Agudas ao Estresse e os Transtornos de Ajustamento. Na
maioria dos casos, em curto prazo, é necessária uma escuta acolhedora dos sentimentos
e preocupações da pessoa. As prioridades se focam em estabelecer um vínculo
respeitoso de suporte, identificar necessidades urgentes, normalizar reações de estresse e
luto, reforçar pensamentos de esperança para o futuro e orientar técnicas que podem
reduzir o estresse, além de auxílio com questões práticas. Tanto os casos com maior
impacto no funcionamento geral e maior gravidade de sintomas quanto os de evolução
mais prolongada podem precisar de intervenções mais específicas voltadas ao
diagnóstico e tratamento específico (transtorno depressivo, transtorno de estresse pós-
traumático, entre outros).
 O transtorno de estresse pós-traumático se desenvolve em decorrência de um evento
específico (por exemplo, presenciar a morte de alguém, ficar em isolamento, sofrer
alguma forma de violência, ser separado de entes queridos, etc), e se caracteriza por
revivências da situação (pesadelos, imagens e pensamentos intrusivos, flashbacks),
hipervigilância, e evitação de estímulos que lembrem o trauma. Este quadro dura mais
30 dias após o evento desencadeante e leva a significativa disfunção social, ocupacional
ou pessoal. Existem tratamentos eficazes, e a identificação precoce reduz o prejuízo e
melhora o prognóstico de longo prazo.
 Transtornos depressivos e de ansiedade desencadeados ou agravados neste período.
As equipes de saúde devem ser capazes de identificar casos em que os sintomas de
depressão ou ansiedade apresentam impacto mais intenso no funcionamento geral da
pessoa. Estes casos precisam de intervenções precoces e específicas, por profissionais
médicos e psicólogos, com atuação em rede, conforme os fluxos e normativas de
atendimento da rede de saúde.
 O Luto fará parte da vivência de muitas famílias. Este reconhecimento e suporte
podem ser cruciais na elaboração do processo de perda. Futuramente podem se formar
grupos de apoio às famílias enlutadas. É importante considerar o contexto cultural e se
possível, permitir rituais de despedida. As intervenções são no sentido de respeitar o
momento do processo, fortalecer o senso de resiliência e interconexão para uma melhor
adaptação à nova realidade. Alguns casos evoluirão como luto complicado e
necessitarão de atendimento específico.
 Delirium é uma síndrome comportamental causada por alterações orgânicas. É um
quadro caracterizado por flutuações no nível de consciência, déficit de atenção e
desorientação como componentes centrais. Outras alterações podem estar presentes,
como alterações do humor, da psicomotricidade, déficits cognitivos, do sono e da
sensopercepção. Em geral, desenvolve-se ao longo de poucos dias, e está associado a
maior morbimortalidade e complicações clínicas. O manejo envolve primordialmente
identificar e remover a causa. A doença de base ou comorbidades, o tratamento
instituído, interações medicamentosas, alterações metabólicas e privação sensorial são
alguns dos fatores mais comumente identificados na etiologia. Após o manejo dessas
condições, a abordagem farmacológica pode auxiliar em sintomas como agitação
psicomotora.
 No caso de Transtornos mentais graves prévios, como transtorno bipolar ou
esquizofrenia, a recomendação é de se manter o tratamento em curso ou retomar se tiver
sido interrompido. Se a pessoa estiver em uso de fármacos que necessitam de exames
periódicos (por exemplo, lítio ou clozapina), verificar a disponibilidade de realização
dos exames, ou considerar redução temporária da dose. Avaliar a quantidade de
medicamentos disponíveis e se é viável prescrever uma quantidade maior por algum
tempo, desde que sob a responsabilidade de familiar. Um desafio maior se impõe no
caso desses pacientes necessitarem internação e/ou isolamento rigoroso devido à
infecção por COVID-19. É importante avaliar a interação medicamentosa entre os
psicofármacos e antimicrobianos ou outros tratamentos preconizados, bem como ajustar
as doses em caso de alteração de função hepática ou renal. É importante desenvolver um
plano de segurança e comunicação com o serviço de saúde mental para acesso a
especialistas;
 Pessoas com déficits cognitivos (Deficiência intelectual / quadros demenciais) têm
dificuldade em cuidar de si mesmas, e capacidade reduzida de compreender e seguir a
instruções sobre autocuidado, higiene e distanciamento social, e podem necessitar de
cuidadores ou familiares responsáveis. Também estão mais susceptíveis a quadros de
Delirium
 Consequências de longo prazo após o fim da epidemia Após o período mais crítico da
epidemia, quando as pessoas puderem aos poucos retornar às rotinas, a maior parte das
pessoas retomará o nível de funcionamento anterior. Porém, alguns quadros de
transtornos mentais podem ainda se desenvolver, permanecer ou apresentar piora.
Portanto, é importante planejar o acompanhamento de longo prazo nos serviços de
saúde mental. Por exemplo, pode-se agendar retornos mais frequentes dos pacientes
mais graves após a normalização dos atendimentos. As famílias dos que faleceram e os
sobreviventes da doença podem precisar de apoio especial no retorno à rotina e na
reintegração às atividades. Muitos podem apresentar sentimento de culpa por ter
sobrevivido. A Figura a seguir resume as reações comportamentais e emocionais
frequentemente encontradas em situações de desastres, como uma pandemia.

Reações emocionais em situações de Desastres

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