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Uma análise semiolingüística do texto e do discurso

In : PAULIUKONIS, M. A. L. e GAVAZZI, S. (Orgs.) Da língua ao discurso :


reflexões para o ensino. Rio de Janeiro : Lucerna, 2005, p. 11-27.

Como definir, numa disciplina, uma abordagem específica ? Constituiria tal abordagem uma
corrente, um sub-domínio ? Seria teórica ou metodológica ? Estaria situada ainda no mesmo
campo disciplinar ?

No que tange ao discurso – sem deixar de lado o campo da língua – sabemos que constitui
um campo disciplinar próprio, com seu domínio próprio de objetos, seu conjunto de métodos,
de técnicas e de instrumentos. Entretanto, há diferentes maneiras de problematizar seu
estudo.

A maneira pela qual abordamos o discurso insere-o numa problemática geral que procura
relacionar os fatos de linguagem a alguns outros fenômenos psicológicos e sociais : a ação e
a influência.  Nessa perspectiva, o que se pretende é tratar do fenômeno da construção
psico-socio-linguageira do sentido [1], a qual se realiza através da intervenção de um
sujeito, sendo, ele próprio, psico-socio-linguageiro.

Neste artigo, abordaremos questões de ordem teórica e metodológica [2] e evidenciaremos


as opções de análise adotadas pelo CAD [3] para desenvolver seus estudos sobre os
discursos sociais.

Uma problemática “semiolingüística”


Da leitura de trabalhos recentes, que focalizam o estudo da linguagem sob ângulos diversos,
pode-se concluir, sem que necessariamente nenhuma destas obras o faça, que a linguagem
comporta várias dimensões, as quais retomarei, livremente, da seguinte maneira :

 uma dimensão cognitiva cuja questão é saber se há uma percepção e uma


categorização do mundo independentes da ação da linguagem, ou se tais processos
se realizam necessariamente através da linguagem. Correlativamente, quais são as
operações semantico-cognitivas da estruturação lingüística do mundo ? [4], em torno
de uma ou outra destas dimensões. Há, com efeito, diferentes pontos de vista
teóricos no âmbito de um mesmo domínio : várias pragmáticas [5], várias
psicolingüísticas [6], etc. Por vezes, um domínio é definido de maneira tão extensiva
que diferentes teorias o reivindicam : é o caso da sociolingüística [7]. Por vezes,
existem filiações múltiplas : o estudo das interações verbais pertence ao domínio do
discurso mas tem a ver igualmente com estudos “etológicos” e
psicossociológicos [8]. Assim, diferentes teorias têm em comum certos postulados,
certos conceitos, certas hipóteses, o que dificulta uma classificação. A própria análise
do discurso, onde começa, onde termina ?

São indagações que refletem a complexidade deste campo disciplinar. Diante disso, três
atitudes são possíveis : inserir-se num desses domínios ; inventar um novo (como ousar ?) ;
tentar conectar alguns dentre eles integrando-os numa problemática global (que será
necessariamente transdisciplinar).

Esta última opção, por mais arriscada que seja [9] corresponde à posição que adotamos já
há algum tempo, e que, ao longo dos anos, vem-se tornando mais precisa. Consiste em
relacionar entre si determinados questionamentos que tratam do fenômeno da linguagem -
sendo uns mais externos (lógica das ações e influência social), outros mais internos
(construção do sentido e construção do texto).

Deve-se salientar, entretanto, que a articulação destes questionamentos se faz numa


perspectiva lingüística (no sentido amplo). Se há comunicação, é de uma comunicação
particular que tratamos : aquela que se realiza através da linguagem verbal ; se há
construção do sentido, trata-se da construção que se faz pelas formas verbais ; se há
construção de um texto, trata-se daquela que depende das regras de “ordenamento” do
verbal.

Eis porque a posição que tomamos na análise do discurso pode ser chamada [10]
de semiolingüística. Semio-, de “semiosis”, evocando o fato de que a construção do sentido
e sua configuração se fazem através de uma relação forma-sentido (em diferentes sistemas
semiológicos), sob a responsabilidade de um sujeito intencional, com um projeto de
influência social, num determinado quadro de ação ; [11] lingüística para destacar que a
matéria principal da forma em questão - a das línguas naturais. Estas, por sua dupla
articulação, pela particularidade combinatória de suas unidades (sintagmatico-paradigmática
em vários níveis : palavra, frase, texto), impõem um procedimento de semiotização do
mundo diferente das outras linguagens [12].

1.1 –O duplo processo de semiotização do mundo

Postulamos então que, para que a semiotização do mundo se realize, é necessário um duplo
processo :

 o primeiro, o processo de transformação, que, partindo de um “mundo a significar”,


o transforma em “mundo significado” sob a ação de um sujeito falante ;

 o segundo, o processo de transação, que faz deste “mundo significado” um objeto de


troca  com um outro sujeito que desempenha o papel de destinatário deste objeto :

a) O processo de transformação compreende quatro tipos de operação que definiremos


brevemente [13] :

 a identificação, pois é necessário apreender no mundo fenomênico os seres materiais


ou ideais, reais ou imaginários, conceitualizá-los e nomeá-los para que se possa falar
deles. Os seres do mundo são transformados em “identidades nominais”.

 a qualificação, pois estes seres têm propriedades, características que, a um só


tempo, os discriminam, os especificam e motivam sua maneira de ser. Os seres do
mundo são transformados em “identidades descritivas”.

 a ação, pois estes seres agem ou sofrem a ação, inscrevendo-se em esquemas de


ação conceitualizados que lhes conferem uma razão de ser, ao fazer  alguma coisa.
Os seres do mundo são transformados em “identidades narrativas”.

 a causação, pois estes seres, com suas qualidades, agem ou sofrem a ação em razão
de certos motivos (humanos ou não humanos) que os inscrevem numa cadeia de
causalidade. A sucessão dos fatos do mundo é transformada (explicada) em
“relações de causalidade”.

Assim, numa notícia de jornal que tem por título : “Descaso : desaba o telhado de um
supermercado. 15 feridos”, a identificação  é marcada por : “telhado”, “supermercado” e
“feridos”, com modos de determinação particulares desta identificação : “o”, “um”, “15” ;
a qualificação está incluída nas denominações precedentes : “supermercado” (pela dimensão
e peso), “feridos” (pelo estado das vítimas) ; a ação está expressa por “desaba” ;
a causação por “descaso”.

b) o processo de transação se realiza de acordo com quatro princípios, dos quais fornecemos
breves definições, já expostas anteriormente quando apresentamos nosso “postulado de
intencionalidade” [14] :

 o princípio de alteridade  : todo ato de linguagem é um fenômeno de troca entre dois


parceiros (quer estejam diante um do outro ou não) que devem reconhecer-se como
semelhantes e diferentes. São semelhantes porque, para que a troca se realize, é
necessário que tenham em comum universos de referência  (saberes compartilhados)
e finalidades  (motivações comuns) ; são diferentes porque o outro só é perceptível e
identificável na dissemelhança, e porque cada um desempenha um papel particular :
de sujeito emissor- produtor de um ato de linguagem (o sujeito comunicante), de
sujeito receptor-interpretante deste ato de linguagem (o sujeito interpretante).
Assim, segundo este princípio, cada um dos parceiros está engajado num processo
recíproco (mas não simétrico) de reconhecimento do outro, numa interação que o
legitima enquanto tal - o que é uma condição para que o ato de linguagem seja
considerado válido. Este princípio é o fundamento do aspecto contratual de todo ato
de comunicação, pois implica um reconhecimento e uma legitimação recíprocos dos
parceiros entre si.

 o princípio de pertinência  : segundo esse princípio, os parceiros do ato de linguagem


devem poder reconhecer os universos de referência que constituem o objeto da
transação linguageira. Isto é, como já destacamos no princípio precedente, eles
devem poder compartilhar - mas não necessariamente adotar - os saberes
implicados no ato de linguagem em questão : saberes sobre o mundo, sobre os
valores psicológicos e sociais, sobre os comportamentos, etc. Este princípio exige
então que os atos de linguagem sejam apropriados (no sentido de P. Grice) a
seu contexto (no sentido de Sperber e Wilson) e, nós acrescentamos, à
sua finalidade (ver abaixo), o que confirma o aspecto contratual do dispositivo socio-
linguageiro.

 o princípio de influência : todo sujeito que produz um ato de linguagem visa atingir
seu parceiro, seja para fazê-lo agir, seja para afetá-lo emocionalmente, seja para
orientar seu pensamento. Por conseguinte, todo sujeito receptor-interpretante de um
ato de linguagem sabe que é alvo de influência. Isto confere a este último a
possibilidade de interagir, mas obriga os parceiros a levar em consideração a
existência de restrições ao exercício da influência. A finalidade intencional  de todo
ato de linguagem se acha pois inscrita no dispositivo socio-linguageiro.

 o princípio de regulação : está estreitamente ligado ao princípio de influência, pois a


toda influência pode corresponder uma contra-influência. Tal princípio faz parte,
consciente ou inconscientemente, daquilo que os parceiros sabem a respeito do ato
de linguagem de que participam. Para que a troca implícita ao ato de linguagem não
termine em confronto físico ou em ruptura de fala, ou seja, para que ela prossiga e
chegue a uma conclusão, os parceiros procedem à « regulação » do jogo de
influências. Para isso, eles recorrem a estratégias no interior de um quadro
situacional que assegure uma intercompreensão mínima, sem a qual a troca não é
efetiva. Este espaço de estratégias está inscrito, igualmente, no dispositivo socio-
linguageiro.

Processo de transformação e processo de transação realizam-se, pois, segundo


procedimentos diferentes, embora sejam solidários um do outro, sobretudo através do
princípio de pertinência que exige um saber comum, construído precisamente ao término do
processo de transformação. Pode-se até dizer que esta solidariedade é hierarquizada. Com
efeito, as operações de identificação, de qualificação, etc. do processo de transformação não
se fazem livremente. Elas são efetuadas sob “liberdade vigiada”, sob o controle do processo
de transação, segundo as diretivas deste último [15]- o qual confere às operações uma
orientação comunicativa, um sentido. É sempre possível construir um enunciado que
mobilize as diferentes operações do processo de transformação, por exemplo : « sua batata
está assando ». Mas o que tal enunciado significa enquanto ato de linguagem ? O que é que
ele propõe como troca ? A qual jogo de transação ele corresponde ? Significa que “o
processo de cozimento não terminou” e que sob a aparência de uma constatação “pede-se a
alguém para olhar o forno” ? Ou que “o presidente perdeu a confiança em você e seu cargo
está ameaçado” ? Ou que “sua mulher descobriu sua traição” ? Ou que “o que você me fez
ontem, faltando ao encontro, não foi perdoado” ? Isto, sem considerar as significações
colaterais que estariam ligadas a cada uma destas aqui evocadas.

Postular a dependência do processo de transformação para com o processo de


transação equivale a marcar uma mudança de orientação nos estudos sobre a linguagem,
buscando-se conhecer o sentido comunicativo (seu valor semantico-discursivo) dos fatos de
linguagem. Assim como não é mais possível contentar-se com as operações de
transformação isoladamente, também é necessário considerá-las no quadro situacional
imposto pelo processo de transação, quadro que serve de base para a construção de um
“contrato de comunicação”.

Esta hierarquização dos processos nos leva a completar o esquema precedente :

1.2. – A estruturação socio-linguageira e o “contrato de


comunicação”

A descrição do duplo processo de semiotização que acabamos de propor, com suas


operações e seus princípios, corresponde ao que denominamos, em trabalhos anteriores, e
seguindo J.R.Searle, de postulado de intencionalidade [16]. Para nós, este postulado é o
fundamento do ato de linguagem.

Um ato de linguagem, como acabamos de ver, pressupõe uma intencionalidade – a dos


sujeitos falantes, parceiros de uma troca. Em decorrência, esse ato depende
da identidade dos parceiros, visa uma influência e é portador de uma proposição sobre o
mundo. Além disso, realiza-se num tempo e num espaço determinados, o que é comumente
chamado de situação.

Assim sendo, como acabamos de mostrar – principalmente com os princípios de interação e


de pertinência – , para que um ato de linguagem seja válido ( isto é, produza seu efeito de
comunicação, realize sua transação) é necessário que os parceiros reconheçam, um ao
outro, o direito à fala (o que depende de sua identidade), e que possuam em comum um
mínimo de saberes postos em jogo no ato de troca linguageira. Mas ao mesmo tempo –
segundo os princípios de influência e de regulação –, estes parceiros têm uma certa margem
de manobra que lhes permite usar de estratégias. Dizemos então que a estruturação de um
ato de linguagem comporta dois espaços : um espaço de restrições, que compreende as
condições mínimas às quais é necessário atender para que o ato de linguagem seja válido, e
um espaço de estratégias, que corresponde às escolhas possíveis [17] à disposição dos
sujeitos na mise-en-scene do ato de linguagem.

Na abordagem semiolingüística, enfim, o princípio de pertinência – que implica o ato de


reconhecimento recíproco por parte dos parceiros e um saber comum – vai muito além da
instância de enunciação do ato de linguagem : inclui todo um conhecimento prévio sobre a
experiência do mundo e sobre os comportamentos dos seres humanos vivendo em
coletividade, conhecimento este que não precisa ser expresso, mas que é necessário à
produção e compreensão do ato de linguagem. Tal abrangência nos leva a afirmar que o ato
de linguagem se realiza num duplo espaço de significância, o externo e o interno à sua
verbalização, determinando dois tipos de sujeitos de linguagem : os parceiros, que são os
interlocutores, sujeitos de ação, seres sociais que têm intenções – que chamamos de sujeito
comunicante  e sujeito interpretante. ; e os protagonistas, que são os intra-locutores, os
sujeitos de fala, responsáveis pelo ato de enunciação – os quais chamamos de (sujeito)
enunciador e (sujeito) destinatário. E embora haja uma relação de condição entre esses dois
tipos de sujeitos, não há entre eles uma relação de transparência absoluta. [18]

Esta série de hipóteses define, pois, o ato de linguagem como originário de uma situação
concreta de troca, dependente de uma intencionalidade, organizando-se ao mesmo tempo
num espaço de restrições e num espaço de estratégias, produzindo significações a partir da
interdependência de um espaço externo e de um espaço interno - o que nos leva a propor
um modelo de estruturação em três níveis [19] :

 O nivel do situacional, para dar conta dos dados do espaço externo, e que constitui
ao mesmo tempo o espaço de restrições do ato de linguagem. É o lugar onde estão
determinados : a finalidade do ato de linguagem, que consiste em responder à
pergunta : “estamos aqui para dizer ou fazer o quê ?” ; a identidade  dos parceiros
da troca linguageira, em resposta à pergunta : “quem fala a quem ?” ; o domínio de
saber veiculado pelo objeto da troca, respondendo à pergunta : “sobre o quê ?” ;
enfim (mas não se trata de uma cronologia), o dispositivo constituído pelas
circunstâncias materiais da troca, respondendo à pergunta “em que ambiente físico
de espaço e tempo ?”.

 O nível do comunicacional, lugar onde estão determinadas as maneiras de falar


(escrever), em função dos dados do situacional, respondendo à pergunta : “estamos
aqui para falar de que modo ?”. Correlativamente, o sujeito falante (quer seja
comunicante, quer interpretante) se pergunta quais “papéis linguageiros” deve
assumir que justifiquem seu “direito à fala” (finalidade), que mostrem sua
“identidade” e que lhe permitam tratar de um certo tema (proposição) em certas
circunstâncias (dispositivo).

 O nível do discursivo constitui o lugar de intervenção do sujeito falante, enquanto


sujeito enunciador, devendo atender às condições de legitimidade  (princípio de
alteridade), de credibilidade  (princípio de pertinência) e de captação (princípio de
influência e de regulação), para realizar os “atos de discurso” que resultarão
num texto. Este se configura pela utilização de uma série de meios lingüísticos [20]
(categorias de língua e modos de organização do discurso) [21], em função, por um
lado, das restrições do situacional e das possíveis maneiras de dizer do
comunicacional, e por outro lado do “projeto de fala” próprio ao sujeito comunicante.

Assim, os sentidos do texto produzido serão, ao mesmo tempo, sobredeterminados pelas


restrições da situação de troca, e singulares pela especificidade do projeto de fala. Por
exemplo, toda publicidade trará os índices lingüísticos e semiológicos de seu conjunto de
restrições (o que perrmite reconhecê-la enquanto tal) ; mas, por outro lado, cada
publicidade corresponderá a uma estratégia de captação. Para tanto, o sujeito comunicante
fará escolhas reveladoras de sua própria finalidade, de sua própria identidade, de seu
propósito  que lhe permitirão construir sua própria legitimidade, credibilidade e captação.

2. O quadro metodológico
A análise do discurso, do ponto de vista das ciências da linguagem, não é experimental, mas
empirico-dedutiva [22]. Isto significa que o analista parte de um material empírico, a
linguagem, que já está configurada numa certa substância semiológica (verbal). É esta
configuração que o analista percebe, podendo manipulá-la através da observação das
compatibilidades e incompatibilidades das infinitas combinações possíveis, para determinar
recortes formais, simultaneamente às categorias conceituais que lhes correspondem.
Uma análise do discurso deve pois determinar quais são seus objetivos em relação com o
tipo de objeto construído , e qual é a instrumentalização utilizada, de acordo com o
procedimento escolhido.

2.1 – Objetivos e tipos de objeto

Em termos de objetivo, um dos problemas para a análise do discurso é o seguinte : procura-


se descrever as características gerais do funcionamento do discurso em geral, ou as
características particulares de um discurso em particular, isto é, de um texto ?

A primeira opção corresponderia a uma perspectiva antropológica social. Trata-se de


descrever os comportamentos linguageiros próprios aos indivíduos vivendo em sociedade,
que são levados a reagir sempre da mesma maneira quando estão inseridos em tal ou qual
situação de troca. É esta a tendência da filosofia da linguagem e de uma parte da
etnometodologia [23]. Esta perspectiva implica as seguintes questões : o que é que
determina o grau de generalidade das características descritas ? Estas foram (idealmente)
submetidas ao confronto com um número bastante grande de situações de troca (diversas
no tempo e no espaço) para provar sua validade ? Se as respostas a tais questões forem
positivas, qual seria o alcance de uma análise com características tão gerais ?

A segunda opção corresponderia a uma perspectiva de análise textual, na qual focaliza-se


uma realização particular (um texto), para tentar descrever, da maneira mais exaustiva
possível, os traços que a caracterizam. É uma outra tendência da etnometodologia e de
algumas análises de texto. Esta perspectiva suscita igualmente duas questões : o que se
pode concluir de fatos particulares se eles não apontam para os mecanismos recorrentes que
presidem à fabricação destes textos ? Não estariam estes fatos particulares relacionados a
regularidades que se consolidaram e que, por organizarem as trocas linguageiras, devem
obrigatoriamente ser levadas em conta pelo analista [24] ?

Tais questões são abordadas continuamente pelos pesquisadores, pois todos sabem que o
procedimento de análise é duplo, indo do particular para o geral, e do geral para o particular.
O que não impede que, segundo as tendências, se privilegie tal ou qual movimento,
induzindo a formação de tal ou qual modelo. Neste caso, definiremos nossa posição.

Nosso objetivo de análise do discurso consiste em destacar as características


dos comportamentoslinguageiros (o “como dizer”) em função das condições psicossociais
que os restringem segundo os tipos de situações de troca (os “contratos”). É uma dupla
perspectiva, em relação de reciprocidade : que condições propiciam quais comportamentos
linguageiros possíveis, e quais comportamentos efetivos são propiciados por quais condições.
É preciso, então, buscar os meios de estudar tais condições e tais comportamentos.

As condições, para nós, são estruturadas num “contrato de comunicação” [25] o qual preside
a toda produção linguageira. Para descrevê-las, é necessário, reunir produções que, por
hipótese, pertençam ao mesmo tipo de situação ; a isso denominamos de “corpus de textos”.
Este trabalho se faz ao mesmo tempo por um levantamento empírico (intuitivo)
das constantes  que permitem reunir estes textos (por exemplo, para a publicidade,
destacam-se as constantes : produto, marca, slogan-promessa, assinatura de uma agência
de publicidade, suporte de difusão), e por um levantamento também empírico
das diferenças  entre estes textos e os textos que se assemelham a eles mas não possuem
todas as constantes levantadas anteriormente (por exemplo, textos de propaganda política).
Estabelecem-se assim fronteiras que circunscrevem, de início, um (ou mais) corpus de textos
relativamente homogêneo. Este tipo trabalho determina uma das condições que
consideramos fundamental para a constituição de um corpus, e que é constitutiva do
procedimento de análise : a condição de “contrastividade”.

Assim sendo, o estudo das características discursivas próprias a esse corpus mostra o
funcionamento das condições do contrato de comunicação, pois tais características as
reativam ou as transgridem, e, ao mesmo tempo, mostra como funcionam as estratégias
(conscientes ou não) próprias ao projeto de fala do sujeito comunicante.
Uma vez determinado este objetivo global (não se trata de hipóteses), resta precisar alguns
critérios de construção do corpus.

As fronteiras que acabamos de traçar remetem à possibilidade de reagrupar os textos em


tipos segundo alguns critérios de semelhança, isto é, à possiblidade de construir uma
tipologia. O problema é que não existe uma tipologia de textos, mas tantas tipologias
quantos forem os critérios adotados. Tudo depende do que se escolheu para olhar : formas,
sentido, mecanismos ? E em seguida : que formas, que sentidos, que mecanismos ?
Correlativamente, há o problema da hierarquização destes tipos (ou destes gêneros) em
relação uns com os outros : o que caracteriza o modelo geral (o tipo super-ordenado) e o
que caracteriza o sub-tipo ou o sub-gênero ?

O que propomos, é construir uma tipologia, não das formas nem dos sentidos, mas das
condições de realização dos textos – isto é, dos “contratos de comunicação” – considerando
que existem contratos mais ou menos gerais que englobam outros, e que cada um destes
pode comportar variantes. Por exemplo, o contrato de comunicação “propagandista” engloba
contratos particulares como os do “discurso publicitário” e do “discurso eleitoralista”, e, no
âmbito do discurso publicitário, encontram-se variantes tais como a publicidade de “rua”, de
“revista” ou de “anúncios televisionados” [26]. Do mesmo modo, o contrato de comunicação
do “debate” comporta contratos particulares como os do “debate midiático”, “debate
científico”, “debate político” (parlamentar), e no interior do “debate midiático” encontramos
variantes como o debate “cultural”, debate “social”ou “talk show” [27]. Tal modelo permite
estudar as modificações eventuais sofridas por um contrato através do tempo, assim como
as diferenças na realização de um mesmo contrato em contextos socioculturais
diferentes [28]].

Isto implica, então, que à condição de “contrastividade” de que falamos esteja atrelado um
critério de “abertura/fechamento”, que consiste em construir o corpus segundo um
movimento em caracol que procede por contrastes sucessivos.

Estes contrastes podem ser internos. São estabelecidos em torno de alguns dos dados do


contrato. Por exemplo, para o estudo da publicidade, poder-se-á construir um corpus em
torno de um mesmo produto, contrastando-se as “marcas”(Peugeot, Fiat, Ford, etc), ou um
corpus transversal aos produtos, contrastando certas “representações” (a mulher na
publicidade / o homem na publicidade), ou ainda um corpus em torno de uma mesma marca,
contrastando os “suportes” (a publicidade das revistas / os anúncios televisionados / os out-
doors).

Mas a abertura / fechamento pode ser mais ampla, e os contrastes externos, enfocando as


variáveis de espaço (o mesmo contrato em diferentes contextos socio-culturais : a
publicidade na França, na Espanha, na Inglaterra), de tempo (o mesmo contrato em
diferentes épocas : a publicidade dos anos 50-60, 70-80, 90), ou
confrontando contratos diferentes para estudar suas semelhanças e suas dissemelhanças
(o contrato publicitário  e o contrato informativo  ou o contrato político).

Uma vez construído o corpus, e tendo este sido contrastado de maneira a definir o contrato
de comunicação (sendo esta a primeira tarefa da análise do discurso que defendemos aqui),
torna-se possível proceder tanto à análise de textos particulares, quanto (como
conseqüência) à proposta de uma tipologia.

Com efeito, a partir deste trabalho de construção e contraste do corpus, é possível descobrir,
destacar e interpretar (por um processo inferencial) os índices que caracterizam cada texto.
Tais índices apontarão : ora para a relação do texto com os dados do contrato a partir
de inferências situacionais - que podem configurar a conformidade ao contrato, (sua
reativação), ou sua negação (sua transgressão) ; ora para o jogo estratégico que é próprio
ao sujeito comunicante, no interior do contrato, quando tais índices são confrontados com
outros elementos do contexto (inferências contextuais) ou com um corpus (que seria
“virtual”) – constituído este último por um certo saber experiencial compartilhado
(inferências intertextuais) [29]. Isso tudo tem a ver com a análise de texto.
Eis porque sempre propomos diferenciar análise de texto  e análise de discurso. A primeira
incide sobre um texto, consiste em analisar um texto (qualquer que seja sua configuração) –
que é o resultado de uma combinação de certas condições de produção com operações de
“discursivização”, isto é, com operações de construção do discurso – em seu
desenvolvimento linear, de uma forma ao mesmo tempo progressiva e recorrente. A
segunda (a análise de discurso) incide sobre um corpus de textos reunidos em torno de um
tipo de situação (contrato) que os sobredetermina, para que sejam estudadas suas
constantes (visando definir um gênero), e suas variantes (visando definir uma tipologia
de estratégias possíveis). Quando se diz que se está fazendo “a análise de discurso de um
texto”, é necessário explicitar se o texto constitui um fim em si ou se é um simples pretexto.

2.2- Instrumentação e procedimento de análise

As questões pertinentes à abordagem deste aspecto do quadro metodológico são as


seguintes :

 deve-se tratar da mesma maneira um texto monológico e um texto dialógico ?


Seriam dois objetos diferentes que se inscreveriam em quadros teóricos diferentes
ou seriam variantes de objeto ?

 que lugar devem ocupar, na análise, as outras matérias semiológicas, tais como
o icônico  e o gestual ? Devem ser tratadas separademente da análise do verbal ou
devem ser integradas a ela, visto que, em todo ato de comunicação, aparecem
fornando um só conjunto ?

 que instrumentação adotar para quais hipóteses metodológicas ?

a) Texto monológico / texto dialógico

Um modelo de análise do discurso deve poder dar conta de todos os atos de linguagem,
quaisquer que sejam. Deve, pois, dar conta tanto de diálogos quanto de textos escritos.
Construir um modelo tome por objeto o estudo apenas um destes tipos de textos equivaleria
a engajar-se numa construção necessariamente ad hoc  que não teria alcance geral.

De início, convém distinguir, sob nosso ponto de vista, situação de comunicação  e texto.


A situação  é o que define o ato de linguagem em sua função e finalidade comunicativas. Há
dois tipos básicos de situação : situação de interlocução, na qual os parceiros do ato de
linguagem estão fisicamente em presença um do outro e ligados por um contrato de
troca imediata [30], e situação de monolocução na qual os parceiros, quer estejam ou não
presentes, estão ligados por um contrato de troca postergada. O texto  é o resultado de um
ato de linguagem, e de acordo com a situação de produção, será um
texto monológico ou dialógico  [31].

Entretanto, ambos os casos concernem o discurso. É por isso que, no estudo dos textos,
sejam quais forem, partimos de nossas hipóteses gerais sobre o funcionamento do discurso,
as quais constituem, aqui, um quadro de pesquisa :

 as restrições do contrato de comunicação  no qual se inscrevem os textos (finalidade,


identidade, dispositivo),

 os espaços de estratégias  dessa mesma situação de comunicação (de legitimação,


credibilidade e captação),

para determinar :

 as características do gênero ao qual pertencem os textos,

 as variantes do gênero (tipologia),


 as estratégias particulares que se encontram nesses textos e que apontam para
projetos de fala individuais [32]. Apesar de todas essas características comuns, a
especificidade dos textos dialógicos e monológicos requer a utilização de
instrumentos de análise diferenciados (ver alinea c).

b) As matérias semiológicas e a estratificação do objeto

No que diz respeito à questão do lugar que devem ocupar, numa análise de discurso, os
diferentes componentes da forma semiológica de um texto, a resposta não é simples. Isto é
comprovado pela terminologia diversificada que se encontra nos trabalhos que abordam o
domínio da relação entre o verbal e o não-verbal : “multicanalidade”, “pluricódico”,
“plurimodal”, “multi” ou “pluri-semiológico” (cf. N. Nel, 1990, p. 53).

Convém distinguir, então, o texto  (como manifestação verbal e não verbal) daquilo que, em
torno dele, faz parte de suas condições de “discursivização”, a saber : o contexto  (como um
outro texto manifesto que se acha antes e depois de uma seqüência considerada),
a situação (como condição contratual de produção-interpretação). Além disso, por outro
lado, deve-se considerar que um texto é compósito do ponto de vista de sua materialidade
semiológica (logo, efetivamente : “pluri-códico”), porque em sua significância ele depende de
uma pluralidade de matérias semiológicas, as quais se combinam numa integração textual,
remetendo-se mutuamente (em suas relações de “ancoragem” ou de “relê” tal como o
propôs R. Barthes [33] ), não podendo dissociar-se umas das outras.

Em face deste sincretismo, duas posições são possíveis. Uma, a de Cosnier (1982, 1984),
enfatiza a sincronicidade da troca verbal (recebida acusticamente) e não-verbal (recebida
visualmente), isto é, “a estrita sinergia entre o verbal e o mimogestual” (Cosnier et
Brossard, 1984, p. 20). Assim sendo, será preciso conduzir concomitantemente a análise dos
elementos da comunicação, considerando que o visual, isto é, o não verbal, predomina sobre
o verbal (op. cit. p. 15).

A outra posição, que é a nossa, consiste em estratificar  o objeto em níveis de análise


autônomos correspondentes às diferentes dimensões semiológicas. O CAD estuda cada uma
dessas dimensões (o Verbal, o Visual, o Gestual) separadamente. A princípio, o objetivo da
autonomização dos estratos é proporcionar, a cada grupo de pesquisadores que se dedicam
a um dos estratos, a descoberta de suas próprias unidades, as do estrato, e seu modo de
combinação. Num segundo momento, estudar as relações entre os estratos, as quais podem
ser de integração ou de interação (compreendendo os contrastes, as oposições, as
convergências). [34]

c) Uma instrumentação comum e específica

Toda instrumentação de análise depende tanto do quadro teórico quanto das hipóteses
metodológicas gerais que dele decorrem, para especificar em seguida, as ferramentas
adequadas ao tipo do objeto. É por isso que consideramos que a instrumentação de análise
deve destinar-se a dar conta do que está em jogo no objeto de estudo enquanto ato de
comunicação. Assim sendo, não nos parece muito útil proceder a análises de corpus ou de
textos que se limitem a confeccionar um catálogo de suas características (retóricas, lexicais,
enunciativas, etc.) sem nada dizer sobre a significância psicossocial do objeto.

Nossas hipóteses metodológicas de base são as seguintes :

1. Todo sujeito linguageiro, para engajar-se num ato de linguagem (seja ele
momológico ou dialógico) deve resolver o problema de saber como ocupar o espaço
de fala. Ele deve pois, de uma maneira ou de outra, legitimar  e/ou justificar  sua
“tomada da palavra”, sua fala.

2. Todo sujeito linguageiro deve, ao mesmo tempo, posicionar-se com relação aos


outros (quer se trate do parceiro real do ato de linguagem ou de diversos
destinatários visados). Ele deverá, pois, usar de estratégias discursivas para criar
relações de aliança ou de oposição  com relação a seu(s) destinatário(s).
3. Todo sujeito linguageiro deve, concomitantemente, situar-se com relação
à enunciação de sua proposição sobre o mundo.  Ele deverá, pois, organizar e
problematizar sua enunciação de maneira adequada.

Estas três hipóteses determinam três espaços de estudo dos atos de linguagem, os quais
designamos como espaço de locução, espaço de relação,  espaço de tematização-
problematização [35].

A partir destas hipóteses gerais, é necessário construir instrumentos diferenciados para a


análise de textos dialógicos ou monológicos.

Para os instrumentos de análise de textos dialógicos, remetemos o leitor aos trabalhos do


CAD sobre a análise do discurso radiofônico (1984a) e dos debates na televisão [36]] que
distinguem : os modos de tomada da palavra, os papéis comunicacionais, os modos de
intervenção, os movimentos das trocas, os encadeamentos temáticos, os perfis
argumentativos.

Para os instrumentos de análise de textos monológicos, remetemos a nossos trabalhos sobre


a imprensa escrita (1988a) e a outros sobre o discurso publicitário.

Para os instrumentos de análise do não-verbal, remetemos aos trabalhos de A. M. Houdebine


e de V. Brunetière sobre o gestual [37] ; e aos trabalhos de G. Lochard e J.C. Soulages sobre
a imagem da televisão. [38]

A lingüística, de um certo ponto de vista, é “ingênua” quando sua teoria e seus intrumentos
de análise deixam de lado a descoberta interesses em jogo na significação psicossocial dos
atos de linguagem de uma comunidade sociocultural.

É na carga semântica das palavras, através dos modos de organização do discurso que as
integram, e em situação de troca que se pode recuperar os traços desses jogos de interesse.

Uma tal abordagem do discurso tem múltiplas filiações : pragmática, psicossociológica,


retorico-enunciativa, e mesmo socio-ideológica. E é, necessariamente, pluridisciplinar.

Traduzido por :
Angela Maria da Silva CORRÊA
Do original inicialmente publicado na
Revista Langages,  mars 1995

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[1] Isto é, finalmente, a construção do “processo de semiotização do mundo”.

[2] Já evocadas em nossas publicações de 1983, 1988, 1989a, b, 1991, 1993a, b, c, d.

[3] O CAD, Centro de Análise do Discurso da Universidade de Paris XIII, abriga


pesquisadores cujo núcleo permanente é constituído por : P. Charaudeau, F. Claquin, A.
Croll, M. Fernandez, O. Galatanu, G. Lochard, J.C. Soulages. A estes estão associados
pesquisadores de outras universidades francesas.

[4] Ver como colocamos este problema, sob o ângulo da compreensão, em nosso trabalho de
1994d.]

 uma dimensão social e psico-social cujas questões remetem ao valor de troca dos


signos e ao valor de influência dos fatos de linguagem ;

 uma dimensão semiótica, termo que tomaremos aqui num sentido amplo, cujos
problemas dizem repeito à relação entre a construção do sentido e a construção das
formas : como se faz a semantização das formas ? Como se faz a semiotização do
sentido ? Correlativamente, esta semiotização seguirá um processo idêntico se
considerarmos os diferentes níveis - da palavra, da frase ou do texto ?
Disso decorre que, mesmo se tal ou qual lingüista, sociolingüista ou psicolingüista só
trabalhe com uma ou outra destas dimensões, a linguagem é multidimensional.

Entretanto, o jogo científico impõe que sejam discriminadas e selecionadas as variáveis que
determinam o objeto empírico, para construir conceitos e regras apropriadas à sua análise.
Daí existirem teorizações que circunscrevem domínios, e mesmo territórios[[Se aceitarnos
que é forçoso reconhecer que a determinação de um campo disciplinar é também uma
questão de poder (Bourdieu).

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