Você está na página 1de 4

ESCOLA ESTADUAL DJALMA ARANHA MARINHO

NOME:__________________________________________ 8º ANO TURMA:_____

DATA: ___/___/______ DISCIPLINA: HISTÓRIA PROFESSORA: Lilian Cabral

ROTEIRO DE APRENDIZAGEM (Nº05 e 06)


CONTEÚDO:

ATUALIDADE: Intolerância Religiosa no Brasil

MATERIAIS PARA ESTUDO:

Texto complementar: Artigo - Intolerância religiosa ou racismo religioso?

OBS: Registre todas as atividades, de maneira organizada, no seu caderno. Tudo isso é avaliação.

Há vários tipos de intolerância sendo praticada na nossa sociedade, umas mais expostas do que
outras. Porém algo que vem preocupando bastante muitas autoridades é o aumento da
intolerância religiosa, em sua grande maioria à perseguição acontece aos praticantes de religiões
de matriz africana como a Umbanda e o Candomblé.

As denúncias de casos relacionados à intolerância religiosa, destinadas à Ouvidoria Nacional de


Direitos Humanos (ONDH), pelo Disque 100, aumentaram 41,2% no primeiro semestre de 2020
em relação ao mesmo período de 2019. Se comparado ao mesmo período de 2018, as denúncias
aumentaram 136%, segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
(MMFDH).

De acordo com a Constituição brasileira é um direito dos brasileiros escolher o credo que mais
condiz com seus valores. A discriminação motivada pela religião é considerada crime no Brasil. A
Lei 9.459/2007 pune com multa e até prisão de um a três anos quem zombar ou ofender outra
pessoa por causa do credo que ela professa ou impedir e atrapalhar cerimônias religiosas.
Nesses casos, não cabe sequer o pagamento de fiança para que o acusado responda ao
processo em liberdade. Além disso, esse tipo de crime não prescreve. Deste modo, os acusados
podem ser responsabilizados independentemente da data da denúncia.

A partir da leitura do Artigo abaixo responda as atividades.

Artigo | Intolerância religiosa ou racismo religioso?


Caso da mãe que perdeu guarda da filha por participar de ritual da Candomblé evidencia a
perversidade racista brasileira
Michele Corrêa
Brasil de Fato | Porto Alegre |
24 de Agosto de 2020 às 12:47

A perversidade racista brasileira não possui limites, é silenciosa, é ruidosa, permeia a sociedade
e se manifesta de todas as maneiras imagináveis e inimagináveis. Uma das suas manifestações,
de alcance nacional, foi envolvendo uma menina de 12 anos iniciada no Candomblé. A mãe de
Araçatuba, no interior de São Paulo, perdeu a guarda da filha de 12 anos após a adolescente
passar por um ritual de iniciação no candomblé, que envolve raspar a cabeça dos novos
adeptos. A ação foi movida pelo Conselho Tutelar da cidade, que recebeu denúncias de maus-
tratos e abuso sexual. Como uma delas foi feita pela avó da menina, que é evangélica, a defesa
da família afirma que o caso é de intolerância religiosa.

No último dia 23 de julho, o Conselho recebeu uma denúncia anônima dizendo que a jovem era
vítima de maus-tratos e abuso sexual. Junto de policiais militares, os conselheiros foram até o
terreiro. A adolescente chegou a relatar que não estava sofrendo qualquer tipo de abuso, mas,
sim, passando por um ritual. A mãe, que trabalha como manicure, explicou que, durante a
cerimônia, a menina não poderia deixar o local. Mesmo com as justificativas, mãe e filha foram
levadas para a delegacia. Só foram liberadas depois de a jovem passar por exame de corpo de
delito no IML (Instituto Médico Legal), que não encontrou nenhum tipo de hematoma ou lesão. A
adolescente só estava com a cabeça raspada — segundo ela, estava se tornando filha de
Iemanjá.

Nestes rituais, chamados de feitura de santo, o novo adepto fica 21 dias recluso no terreiro.
Durante o retiro espiritual, recebe banhos de ervas e é exposto a fundamentos da religião. A ideia
é que ele se purifique, entre em contato com o axé (que, na língua iorubá, significa “força” ou
“poder”) e, de acordo com a tradição, renasça conectado com valores ancestrais da crença. Deste
ponto de vista, a passagem pelo terreiro é uma gestação. Raspar o cabelo é um ato sagrado e
simboliza tudo isso.
Ainda que não tenham surgido novos indícios de violência ou abuso, familiares que não
concordam com a religião fizeram outra denúncia. Dessa vez, registraram um boletim de
ocorrência em que apontaram que a adolescente estava sendo mantida à força no terreiro e sob
condições abusivas. Isso fez conselheiros tutelares e policiais irem novamente até o local. Não
encontraram ninguém, pois a adolescente já estava em casa. Os familiares não desistiram e,
junto do Conselho Tutelar, denunciaram o caso à Promotoria. Alegaram que houve lesão corporal
por causa do cabelo raspado. Entraram na Justiça, que transferiu a guarda para a avó materna.
Durante mais de uma semana, mãe e filha só conversam por celular e se veem durante visitas
curtas. Segundo a mãe as visitas são bem restritivas — ela só pode encontrar a filha
pessoalmente por cerca de cinco minutos. A manicure diz que a filha relatou que estava sendo
forçada a abandonar os preceitos que está seguindo em sua iniciação no candomblé.

Na última semana um juiz de Araçatuba (SP) determinou a imediata restituição da guarda da


adolescente à sua mãe. A decisão que restabeleceu a guarda materna é do juiz Danilo Brait, da
2º Vara Criminal e Anexo da Infância e Juventude de Araçatuba (a 527 km de São Paulo).
Segundo o magistrado, exames realizados na menina apontaram que ela não tinha nenhuma
lesão, hematoma ou outro sinal de agressão ou abuso. Em seu depoimento, de acordo com juiz,
a adolescente também afirmou que frequenta a religião com a mãe e que estava ciente do ritual a
que seria submetida. O Ministério Público se mostrou a favor da revogação da decisão liminar
que havia retirado da mãe a guarda da filha.

Advogado que atuou no processo de recuperação de guarda, Hédio Silva Jr defendeu a


importância de manter o vínculo entre pais e filhos. “Ela [a adolescente] declarou com todas as
letras que escolheu a religião, que participou do ritual por livre e espontânea vontade, portanto
não havia qualquer razão para suspensão do poder familiar.” Especialista em casos que
envolvem racismo e intolerância religiosa, o advogado acredita que a decisão do juiz em favor da
mãe deverá ser mantida. “Houve uma sucessão de arbitrariedade, especialmente do conselho
tutelar, então agora nós vamos buscar a responsabilização criminal de todos que atuaram
arbitrariamente para que a gente tivesse uma decisão tão traumática”, disse o advogado.

Nesta sexta-feira (21), também foi realizada uma reunião sobre o caso, organizada pela deputada
estadual Erica Malunguinho (PSOL-SP) e da qual participaram, entre outros, procuradores, a mãe
da adolescente e o pai de santo do terreiro frequentado pela família. O encontro resultou em um
compromisso do Ministério Público de elaborar, em diálogo com a sociedade, uma norma técnica
que possa ser utilizada para orientar a atuação do órgão com os conselhos tutelares. “É uma
esperança que episódios lamentáveis como esse não se repitam”, afirmou o Hédio Silva Jr, que
também participou da reunião.

Além de tratar da denúncia, o objetivo da reunião foi reforçar o papel do Ministério Público de São
Paulo no sentido de fiscalizar a atuação dos conselhos tutelares para atuem de acordo com o
ECA, e não baseados em convicções religiosas. “O Ministério Público tem a função de fiscalizar a
atuação dos conselhos tutelares, porque não é razoável que um conselheiro tutelar, pago com
recursos públicos, atue como se o conselho tutelar fosse o puxadinho da sua igreja”, disse o
advogado. Ele também ressaltou que a principal obrigação do Estado nesse caso é criar
elementos de prevenção para que episódios assim não se repitam. “É preciso que o Estado adote
medidas que evitem que brasileiros seja discriminado ou violentado em razão da sua descrença
ou crença”, afirmou.

Em 27 de dezembro de 2007, a Presidência da República oficializava o dia 21 de janeiro como


Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. A data foi instituída pela Lei nº 11.635, em
memória do falecimento da Iyalorixá Mãe Gilda do terreiro Axé Abassá de Ogum (BA), vítima de
intolerância por ser praticante de religião de matriz africana. A sacerdotisa foi acusada de
charlatanismo, sua casa foi atacada e pessoas da comunidade foram agredidas, levando Mãe
Gilda a falecer vítima de infarto em 21 de janeiro de 2000, após ter sua foto publicada na matéria
“Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”, do jornal Folha Universal.

A partir da instituição da Lei nº 11.635, a invasão a templos e agressões a religiosas e religiosos


de qualquer credo passaram a ser crimes inafiançáveis. A pena vai de um a três anos de
detenção, sendo julgada em Varas Criminais e não mais nos juizados especiais. Apesar da
modificação na legislação brasileira, a violação de direitos está atingindo duramente os Povos
Tradicionais de Matriz Africana, especialmente na Cidade do Rio de Janeiro, embora os ataques
as religiões de matriz africana acontecem em todas as regiões do país. O fundamentalismo
avança a passos largos em todas as instâncias, assim não é absurdo pensarmos que, em pleno
século XXI, tenhamos a volta da caça às bruxas e bruxos.

Quando o Povo Preto veio para o Brasil, há mais de 500 anos, foi retirado à força de seus
territórios para serem escravizados aqui. A escravidão deixou profundas marcas na vida que
vivenciamos. A escravidão justificou as chicotadas do feitor, assim como o uso dos grilhões e o
porão fétido do Navio Negreiro. Violentou direitos, a língua, cultura, religião, a vida enfim…
nossos valores civilizatórios. Junto a tudo isso veio a colonização.

Com o tráfico negreiro, foram trazidos diversos povos de diversas regiões do continente africano
para o nosso país. Os historiadores Vianna Filho e Pierre Verger afirmam que a vinda forçada das
populações africanas se deu em quatro grandes ciclos: o primeiro, trazendo pessoas da Costa
Guiné, durante a segunda metade do século XVII; o segundo, trazendo pessoas da Bacia do
Congo, sobretudo dos atuais Congo e Angola, no século XVIII; o terceiro, trazendo pessoas da
Costa da Mina, durante quase todo século XVIII; o último, trazendo pessoas da Baía do Benin,
entre 1770 e 1850. As três tradições que constituíram os Povos Tradicionais de Matriz Africana
vieram nos três últimos ciclos: os povos de língua banta, vindos no segundo ciclo; os povos de
língua ewé-fon, no segundo ciclo; e os povos de língua ioruba, no último ciclo. Entendendo que
cada tradição advinda da África trouxe para cá sua história, cultura, religião, língua, dialeto, mitos,
valores.
As práticas sagradas dos Povos Tradicionais de Matriz Africana ressignificaram símbolos e
territórios. A África dentro de cada Terreiro de Candomblé ordenou a liturgia e resiste até hoje
seguindo um caminho deixado pela nossa ancestralidade. A religião na África é comandada por
homens, aqui no Brasil se deu o inverso, porque aqui as mulheres foram as primeiras a
conquistar suas alforrias. Assim quando falamos de intolerância religiosa, não estamos falando de
qualquer intolerância. Estamos questionando o porquê da demonização da religiosidade de Matriz
Africana.
Os ataques e perseguições são mais antigos que possa parecer. Cito aqui a Quebra de Xangô,
Dia do Quebra ou Quebra de 1912, fato registrado pelos estudiosos da História do Brasil. Um
crime hediondo de intolerância religiosa que aconteceu no dia 1º de fevereiro de 1912 em Maceió,
Alagoas. O ato culminou com a invasão e destruição dos principais Terreiros de Xangô em
Maceió. Todas as Casas de Culto Afro-brasileiro existentes foram destruídas. Terreiros foram
invadidos, objetos sagrados retirados e queimados em praça pública. Pais e mães de Santo
foram espancados. A partir daí os adeptos, iniciados nas práticas de Culto aos Orixás, criaram o
chamado Xangô Rezado Baixo. A Constituição de 1891 garantia a liberdade de crença e culto,
porém o código penal de 1890 criminalizava as Casas Sagradas e tipificava as manifestações,
práticas rituais, como curandeirismo, baixo espiritismo, charlatanismo, alegando o exercício ilegal
da medicina. No período de 1889-1930 era comum a polícia perseguir os cultos das religiões de
Matriz Africana, invadindo terreiros e apreendendo objetos sagrados.

O Código Penal de 1890 criminalizava também o samba e a capoeira. Ou seja, tudo que fosse
resultante da cultura afro-brasileira. No período da República, o Candomblé foi proibido de
exercer as suas atividades e os Terreiros ficaram subjugados à Delegacia de Jogos,
Entorpecentes e Lenocínio (ação de explorar, estimular ou favorecer comércio carnal ilícito, ou
induzir ou constranger alguém a sua prática). Portanto, sempre estivemos à margem, e o Estado
brasileiro não coibiu, de forma efetiva, as várias manifestações de racismo religioso que
ocorreram no país até os dias de hoje.

ATIVIDADE 1

1) O que você entende por Intolerância religiosa?

2) De acordo com o artigo como se explica o ritual de “feitura de santo”, muito comum para os
adeptos do Candomblé?

3) Transcreva um trecho do artigo que exemplifica a Intolerância religiosa.

4) De acordo com o artigo como podemos explicar o racismo religioso?

5) Expresse sua opinião sobre o tema do artigo. Comente com argumentos.

ATIVIDADE 2

Pesquise sobre o aumento dos casos de intolerância religiosa no Brasil e produza um texto de no
mínimo 15 linhas a respeito.

Você também pode gostar