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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

ESCOLA DE MINAS
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
DISCIPLINA: ARQ 105 ARQUITETURA BRASILEIRA II
PROFª: PATRÍCIA JUNQUEIRA

ECLETISMO NO BRASIL

O Ecletismo nasceu na Europa, no início do século XIX, do embate entre duas


correntes arquitetônicas, o Neoclassicismo e o Neogótico. Chegou ao Brasil com o
aumento das importações provocado pelo crescimento da exportação do café
nacional, na segunda metade do século XIX.

No Brasil, o ecletismo assumiu dois aspectos diferentes quanto aos meios de


execução. Nas grandes cidades, as camadas privilegiadas encomendavam seus
projetos a arquitetos estrangeiros que trouxeram de seus países de origem as
novidades de diversas linguagens estilísticas. As novas soluções arquitetônicas foram
utilizadas, principalmente, nos recém-abertos bairros residenciais, como a Avenida
Paulista e a zona sul carioca, consequência do desenvolvimento urbano e do
crescimento demográfico das cidades brasileiras nas últimas décadas do século XIX.

A segunda categoria diz respeito à produção arquitetônica popular, praticada pelas


camadas menos favorecidas da sociedade que não possuíam recursos suficientes
para contratar arquitetos estrangeiros de renome.

De meados do século XIX até meados do século XX, o Brasil foi o principal produtor
de café do mundo. Com o advento da República e o fim da escravidão, houve uma
intensificação do processo civilizador iniciado após a chegada da Família Real
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DISCIPLINA: ARQ 105 ARQUITETURA BRASILEIRA II
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Portuguesa. A nova elite urbana almejava ser civilizada, o que significava adquirir a
civilité francesa.

A arquitetura eclética se tornou uma prática artística considerada capaz de modificar


os hábitos e os costumes tradicionais da população e representar um novo momento
do país. O novo ideal arquitetônico participava da construção da imagem da sociedade
que estava se formando entre o final do século XIX e início do século XX, se
transformando em máxima expressão de uma nação civilizada e assegurando ao
Brasil um lugar entre os países civilizados e modernos.

Dentro do processo de modernização iniciado pela República, a arquitetura, os


espaços públicos, o traçado, os monumentos, representavam elementos a serem
contemplados e também como forma didática de doutrinar a população. Essa
estratégia tinha como objetivo criar na população o novo gosto estético e moral,
característico da nova elite urbana republicana e pode ser encontrada tanto na
construção de Belo Horizonte, quanto nas reformas empreendidas por Pereira Passos
no Rio de Janeiro e na expansão da cidade de São Paulo. A adoção da linguagem
eclética nas grandes cidades brasileiras, principalmente nas últimas décadas do
século XIX, ocorreu segundo contextos específicos.

O ecletismo empregado na construção da nova capital do estado de Minas Gerais


significou o rompimento com a tradição colonial e o desejo de introduzir no estado os
conceitos de modernidade da época.

No projeto para Belo Horizonte, elegeu-se a linguagem eclética para a construção dos
edifícios oficiais e, num primeiro momento, para as residências das figuras mais
importantes do governo e de particulares pertencentes às camadas mais abastadas da
sociedade mineira. A arquitetura eclética se tornou o símbolo do progresso do estado
de Minas Gerais, representado pela construção da nova capital dentro dos princípios
de modernização característicos do final do século XIX.

Na época da inauguração, a capital contava com quinhentas casas particulares,


duzentas destinadas aos servidores públicos, nenhum prédio público se encontrava
completamente pronto.

Os profissionais encarregados da elaboração e construção dos edifícios públicos


possuíam formação eclética, predominando nessas arquiteturas, portanto, a influência
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da Ècole des Beaux-Arts. A decoração dos interiores das construções ficaram, em


grande parte, sob responsabilidade de artistas italianos que executaram pinturas
decorativas, estuques e esculturas.

Vieram do exterior não apenas mão de obra qualificada, mas também manuais
práticos de ornamentação e acabamentos, além de grande quantidade de materiais
diversos, especialmente industrializados que não haviam no país por falta de produção
nacional. Um dos materiais industrializados mais empregado foi o ferro.

As primeiras residências construídas em Belo Horizonte foram caracterizadas como


casas-tipo. Tendo sido definidas seis categorias, discriminando a área de construção,
o tipo, implantação, materiais, acabamentos e código de higiene. Entretanto, durante a
construção surgiram modalidade alternativas aos modelos A, B e C, podendo o
proprietário escolher ornamentos mais rebuscados.

As casas maiores e os sobrados possuíam entrada lateral, junto a um jardim limitado


ao fundo por um pomar. No interior das edificações, amplos vãos e porões ventilados
demonstravam preocupação com a higiene. Preocupação também presente nos
alpendres e platibandas, nos jardins e quintais. Assim como os prédios públicos, as
casas dos tipos E e F contribuíam com a construção da paisagem urbana.

A partir da década de 1920, a paisagem urbana da capital é marcada pela presença


dos palacetes-comércio, sobrados em que o térreo era voltado para o comércio e o
pavimento superior poderia abrigar residência ou comércio. Essas edificações são
caracterizadas pelas fachadas luxuosas e ornamentadas e pelos interiores
amplamente decorados.

O ecletismo chegou a São Paulo na segunda metade do século XIX, junto com a
estrada de ferro, inaugurada em 1867, responsável por levar ao planalto paulista
novas ideias, equipamentos, materiais de construção e, principalmente, mão de obra,
tudo importado da Europa.

O crescimento da exportação de café e do consequente enriquecimento das camadas


sociais vinculadas à produção cafeeira também contribuiu para a adoção dessa
linguagem arquitetônica entre as famílias mais abastadas.
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Imigrantes de diferentes origens e qualificações diversas chegaram a São Paulo


atraídos pelas oportunidades de trabalho oferecidas pela alta burguesia. Dessa forma,
tanto a capital quanto as cidades no interior do estado foram invadidas por
engenheiros, arquitetos, pedreiros, mestres de obra, marceneiros, pintores, escultores,
e diversos outros profissionais estrangeiros.

A mão de obra qualificada vinda da Europa, especialmente da Itália, e o grande fluxo


de dinheiro promoveram o surgimento na capital paulista de grandes
empreendimentos imobiliários, lojas de artigos de luxo, os primeiros restaurantes,
confeitarias e hotéis.

No Rio de Janeiro, a introdução do ecletismo ocorreu através da institucionalização do


conhecimento na principal escola de arquitetura do país. Após a Proclamação da
República, a Academia Imperial de Belas Artes se tornou a Escola Nacional de Belas
Artes e passou por uma reforma no ensino. Essa renovação tinha como objetivo fazer
com que os alunos entrassem em contato com várias doutrinas artísticas e não
apenas com a clássica, introduzindo a linguagem estética do ecletismo na Escola.

A história da arquitetura, especialmente a europeia, possuía grande importância como


modelo para a nova linguagem arquitetônica, pois através dela o profissional
encontrava soluções para os dilemas contemporâneos. O ecletismo não se
caracterizava simplesmente por uma combinação de estilos do passado, ele também
se distinguia pela utilização de novos materiais e técnicas construtivas. A arquitetura
eclética não pretendia romper com a história da arquitetura, mas, ao contrário, dar
continuidade à evolução da mesma, aprimorando princípios compositivos e
construtivos a fim de torná-los representativos da sociedade de então.

Durante as reformas empreendidas por Pereira Passos, no início do século XX, na


capital da república, foi criada a Comissão Construtora da Avenida Central com a
responsabilidade de fiscalizar as novas edificações a serem construídas na Avenida
Central, controlava os projetos e fiscalizava a construção. Aos novos prédios tornou-se
obrigatória a apresentação das plantas e elevações à Comissão que analisava os
projetos arquitetônicos e liberava a requisição de licença pra construção.

A Comissão não visava apenas incentivar construções de caráter arquitetônico


exemplar, mas também o cumprimento da nova legislação para construção e a
extinção de antigos hábitos considerados anti-higiênicos comuns nas construções
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coloniais. Os projetos das fachadas dos edifícios que seriam construídos na nova
avenida foram submetidos a um júri e deveriam seguir os padrões do Ecletismo
francês. O concurso de fachadas tinha como objetivo escolher modelos de novas
edificações que fossem condizentes com a proposta de modernização e regeneração
da cidade.

As casas que até então dependiam quase exclusivamente do trabalho escravo para
seu funcionamento, passaram por mudanças lentas, porém profundas. Assim, surgiu a
necessidade de se modernizar as residências que passaram a não poder mais contar
com o grande número de funcionários domésticos para seu funcionamento. Elite,
latifundiários e industriais viviam em seus palacetes de inspiração europeia. Essas
casas possuíam uma infinidade de salas, cada uma com uma função específica e
estilo decorativo diferente.

A transformação dos hábitos sociais implicou na ampliação do programa de


necessidades adicionando a ele variadas salas para diversos fins como o fumoir, a
sala de bilhar, a sala de leitura, salas de dança, de música, salas de jantar, espaços
destinados a vida social intensa a que esta classe almejava. Além dos ditames da
moda, os novos conceitos sobre higiene também produziram algumas adaptações nas
residências brasileiras. As alcovas foram abolidas, era preciso permitir a circulação de
ar e a iluminação natural em todos os cômodos a fim de promover a boa saúde de
toda a família. Também foram incorporados no dia a dia hábitos de higiene e os
banheiros começaram a fazer parte indissociável do programa de necessidades de
uma casa da elite.

As casas da elite deste período acompanham os ditames do Ecletismo. A adoção


deste se adequava a ideologia da época de tentar “civilizar” os hábitos da população e
servir de representação de uma nova fase na história do país.

A industrialização tardia e a permanência da mão de obra escrava não especializada


retardou a atuação dos engenheiros na modernização das técnicas construtivas no
Brasil. Entretanto, era possível encomendar por catálogo muitos elementos
arquitetônicos de ferro, como escada, guarda-corpo, elevadores, varandas, ou mesmo
edificações inteiras, como coretos de praça, mercados municipais, teatros, pontes
ferroviárias.
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INTERIORIZAÇÃO DO ECLETISMO NO BRASIL

A República ajudou no processo de interiorização do Ecletismo, construindo edifícios


públicos dentro desse estilo por todo o país. Os estados seguiram o exemplo e
construíram palácios dos governo, assembleias legislativas e fóruns.

A expansão das estradas de ferro para o interior do país contribuíram na disseminação


do gosto eclético e permitiram o acesso aos materiais de construção importados,
assim como objetos de decoração, revistas, etc.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FABRIS, Annateresa. O Ecletismo à luz do Modernismo. In: FABRIS, Annateresa
(org.) Ecletismo na Arquitetura Brasileira. São Paulo: Nobel, 1987.
JUNQUEIRA SCHETTINO, Patrícia Thomé. A mulher e a casa. Estudo sobre a
relação entre as transformações da arquitetura residencial e a evolução do papel
feminino na sociedade carioca no final do século XIX e início do século XX. Belo
Horizonte, 2012. Tese (doutorado em arquitetura e urbanismo) UFMG.
SALGUEIRO, Heliana Angotti. O Ecletismo em Minas Gerais: Belo Horizonte 1894-
1930. In: FABRIS, Annateresa (org.) Ecletismo na Arquitetura Brasileira. São Paulo:
Nobel, 1987.

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