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Uma Revisão sobre Baterias: Parte 1

1. INTRODUÇÃO

Os sistemas de armazenamento de energia (ESS, do inglês Energy Storage Systems)


ganharam destaque recentemente, com o crescente interesse por fontes de energia
renováveis. Devido à geração intermitente desse tipo de fonte, como é o caso da energia
fotovoltaica e da eólica, tecnologias de armazenamento têm sido consideradas por muitos
como a solução para esse gargalo [1]. Em diversos países, o armazenamento de energia
também vem sendo utilizado para sanar outras demandas do sistema elétrico, tais como a
estabilização das variações de tensão que ocorrem nas redes de distribuição [2, 3] ou a
eliminação de sobrecargas nas linhas de transmissão [4, 5, 6].
Na indústria, já há algum tempo, esse tipo de tecnologia vem sendo incorporado em
equipamentos eletrônicos e em veículos elétricos/híbridos (VEH). Especificamente na
indústria automotiva, o seu uso tem sido motivado, principalmente, pelas preocupações
ambientais e pela instabilidade do mercado de petróleo (algo que reflete na segurança
energética de países muito dependentes desse combustível) [7].
A Figura 1 apresenta, de forma sucinta, a classificação dos principais sistemas de
armazenamento de energia quanto ao tipo de aplicação. Dentre estes, as baterias são
comumente empregadas em VEH, em sistemas fotovoltaicos e em sistemas ininterruptos

Figura 1. Classificação dos principais sistemas de armazenamento de energia quanto ao tipo de aplicação.

Por: Caio Moraes


de energia (UPS – Uninterrupt Power Supply). Dada a sua importância no contexto atual,
este artigo irá focar nos principais aspectos construtivos e no princípio de funcionamento
desse tipo de dispositivo.

2. PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DAS BATERIAS

Uma bateria é constituída por uma ou mais células eletroquímicas ligadas em série
ou em paralelo, ou ainda através de uma combinação mista de ambas. Nessas células, a
energia química armazenada é convertida em energia elétrica, a partir de reações
eletroquímicas, podendo fornecer corrente elétrica para um circuito externo através de
seus eletrodos denominados de ânodo (polaridade negativa) e de cátodo (polaridade
positiva), os quais são separados por um eletrólito [8].
Durante a descarga da bateria, reações eletroquímicas ocorrem no ânodo (oxidação)
e no cátodo (redução) com migração de elétrons entre os eletrodos através do circuito
metálico externo e migração de íons através do eletrólito [9]. A Figura 2 ilustra o esquema
de uma célula eletroquímica descarregando sobre uma carga resistiva, incluindo também
as respectivas equações químicas. Em contrapartida, durante a etapa de carga as reações
se invertem seguindo percursos inversos tanto para a condução iônica como eletrônica.
Em uma bateria eletroquímica, o produto de duas grandezas importantes fornece a
quantidade de energia armazenada por esse dispositivo. Estas grandezas são: tensão
elétrica, medida em Volts (V) e capacidade, medida em Ampère-hora (Ah).
Teoricamente, uma bateria de 50 Ah pode fornecer 5 A durante 10 horas ou 50 A durante
1 hora. Entretanto, na prática, observa-se que as operações de descarga de uma bateria

Figura 2. Estrutura básica de uma célula eletroquímica.

Por: Caio Moraes


são influenciadas por efeitos não-lineares, os quais influenciam diretamente o seu tempo
de vida [10].

3. CLASSIFICAÇÃO DAS BATERIAS

As baterias são classificadas em não recarregáveis (primárias) e em recarregáveis


(secundárias), de acordo com o tipo das células que as compõem. As células primárias
não são capazes de serem efetivamente recarregadas e, por isso, são descartadas quando
sofrem uma descarga completa. Geralmente, esse tipo de bateria é utilizado em aplicações
de baixa potência, tais como relógios de pulso, calculadoras, entre outros aparelhos
portáteis [11]. Por outro lado, as células secundárias podem ser recarregadas às suas
condições iniciais, ao se aplicar uma corrente no sentido oposto à corrente de descarga.
Em razão disso, as baterias recarregáveis são conhecidas como baterias de
armazenamento, ou acumuladores, e são utilizadas na maioria das aplicações por longos
períodos, como em sistemas fotovoltaicos [12].
Segundo [13], as baterias recarregáveis também podem ser classificadas de acordo
com os materiais ativos usados em sua construção, diferenciando-se os acumuladores de
chumbo-ácido dos acumuladores alcalinos. Atualmente, as principais tecnologias de
baterias secundárias são:
1. Chumbo-ácido;
2. Níquel-Cádmio (NiCd);
3. Níquel-Hidreto Metálico (NiMH);
4. Íon de Lítio (Li-ion).

A Tabela 1 compara as particularidades das quatro tecnologias mais comuns, a


partir da qual é possível observar uma superioridade das baterias Li-ion em relação às
demais. De fato, esse tipo de bateira é o mais usado atualmente na maioria dos
equipamentos eletrônicos, desde pequenos reprodutores de música até notebooks, além
de aplicações militares, aeroespaciais e veículos elétricos. A sua popularidade e seu uso
crescente em diversas aplicações se justificam por diversos fatores, com destaques para a
sua densidade energética e pelo fato de não apresentarem efeito memória. Outro fator
muito importante de se considerar é a sua tensão nominal que pode atingir 3,60 V por
célula, o que requer menos células para se obter tensões maiores em comparação com
outros tipos.

Por: Caio Moraes


Tabela 1. Comparação entre as principais tecnologias de baterias recarregáveis.

Especificamente com relação às baterias de chumbo-ácido, existem ainda outros


tipos de classificação. Segundo [3], é possível diferenciá-las quanto à forma de
confinamento do eletrólito em: baterias abertas e baterias seladas. As primeiras, também
conhecidas como baterias ventiladas, possuem um eletrólito liquido e livre (não é
confinado no separador). Em razão disso, essa tecnologia necessita de verificação
periódica e eventual correção do nível do eletrólito. Por outro lado, as baterias seladas
possuem um eletrólito confinado no separador ou sob a forma de gel. Estas também são
conhecidas como “livres de manutenção”, pois não necessitam de reposição de água.
(Outra maneira de denominá-las é “baterias reguladas por válvula”).
Quanto ao tipo de aplicação, as baterias de chumbo-ácido podem ser classificadas
em: acumuladores estacionários, acumuladores tracionários, acumuladores de arranque e
acumuladores para aplicações específicas (por exemplo, aqueles utilizados em sistemas
fotovoltaicos ou em veículos elétricos).

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No geral, ao trabalharmos com baterias recarregáveis, precisamos levar em
consideração alguns parâmetros, tais como capacidade, eficiência, vida útil, taxa de
autodescarga, etc. Muitas vezes o carregamento é feito de maneira incorreta,
comprometendo muito o desempenho e a vida útil das baterias. Os fatores que mais
afetam o desempenho, a capacidade e, consequentemente, a vida útil, são: profundidade
de descarga, número de ciclos, temperatura de operação, controle de carga/descarga, entre
outros. Para um melhor entendimento sobre esses parâmetros, apresento a seguir uma lista
dos principais termos técnicos relacionados às baterias.

4. PRINCIPAIS TERMOS TÉCNICOS

Os seguintes termos foram escritos com base em [11] e [12], onde uma lista mais
completa pode ser consultada.

Autodescarga
A autodescarga é o processo de descarregamento espontâneo das baterias, devido
às perdas nos processos químicos internos, quando elas não estão sendo utilizadas.
Normalmente, a taxa de autodescarga é especificada como uma porcentagem da
capacidade nominal que é perdida mensalmente. Esta taxa aumenta com o aumento da
temperatura, por este motivo, é aconselhado abrigar as baterias em locais arejados.

Capacidade
A capacidade indica quantos amperes de corrente é possível retirar de uma bateria
num dado período de tempo. Esse termo é normalmente representado em Ampere-hora
(1 Ah = 3600 coulombs), mas também pode ser representado em Watt-hora (Wh), quando
nos referimos a energia que se pode extrair do dispositivo. Por exemplo, uma bateria de
42 Ah é capaz de fornecer 4,2 A durante 10 horas (4,2 A x 10 h = 42 Ah), 21 A durante
2 horas, 42 h durante 1 hora, e assim por diante. Destaca-se ainda que capacidade
disponível depende de um conjunto específico de condições, como taxa de descarga,
temperatura, estado inicial de carga, etc.

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Carga
Processo de carregamento da bateria, no qual a energia elétrica provinda de uma
fonte externa é convertida em potencial eletroquímico no interior das células, restaurando
assim a sua energia química.

Ciclo
Corresponde à sequência de descarga e carga de uma bateria. A vida útil das baterias
também é definida por uma determinada quantidade de ciclos completos.

Densidade de Energia e Densidade de Potência


A densidade de energia representa a quantidade de energia armazenada por unidade
de massa (Wh/kg) ou volume (Wh/m³). Já a densidade de potência representa a rapidez
com que determinada quantidade de energia pode ser transferida pelo dispositivo por
unidade de massa (W/k) ou volume (Wh/m³).

Descarga
A descarga corresponde a retirada de corrente elétrica de uma bateria, por meio de
uma carga (dispositivo elétrico ou eletrônico que drena energia quando conectado à
bateria), através da conversão de energia química em energia elétrica. Normalmente, uma
descarga profunda ocorre quando a descarga ultrapassa 50% da capacidade da bateria.

Eficiência
A eficiência pode ser determinada pela razão entre a quantidade de carga elétrica
(Ah) retirada da bateria durante a descarga e a quantidade necessária para restaurar o
estado de carga inicial, conhecida como eficiência coulômbica ou de ampere-hora.
Alternativamente, é possível relacionar a energia (Wh) retirada da bateria durante a
descarga com a energia total característica do estado de carga inicial. Nesse caso, obtemos
a eficiência global ou de watt-hora, também conhecida como eficiência energética.

Estado de Carga
Popularmente conhecido como SOC (do inglês State of Charge), é a capacidade
disponível na bateria em um determinado momento, expressa em porcentagem da carga
nominal. Por exemplo, se 20 Ah foram retirados de uma bateria de capacidade nominal
de 100 Ah completamente carregada, significa que o novo estado de carga vale 80%.

Por: Caio Moraes


capacidade remanescente na bateria (Ah)
estado de carga (%) = 100 ×
capacidade nominal da bateria (Ah)

Estado de carga de 100% indica que a bateria está totalmente carregada, enquanto
que 0% indicia que a mesma está totalmente descarregada.

Estado de Vida
Também conhecido como SOH (do inglês State of Health), é a medição percentual
da condição atual da bateria comparada com as condições iniciais. Esse valor é 100%
quando a bateria está nova e diminui de acordo com o seu uso, pois a cada ciclo de carga
ou descarga uma pequena quantidade de massa ativa se desprende das placas reduzindo
a capacidade da bateria.

Profundidade de Descarga
Este parâmetro indica, em termos percentual, o quanto da capacidade nominal foi
retirado no processo de descarga. No exemplo do estado de carga, a profundidade de
descarga corresponde a 20%, ou seja, é o valor complementar ao estado de carga.

profundidade de descarga (%) = 100 − estado de carga (%)

Sobrecarga
Fornecimento de corrente a uma bateria após o término do processo de carga
completa. A sobrecarga não aumenta a disponibilidade de energia na célula e pode
resultar em gaseificação ou sobreaquecimento, ambos possuindo reflexos negativos na
vida útil do dispositivo.

Taxa de Carga (C-rate)


É o valor de corrente elétrica aplicado a bateria durante o carregamento. Essa taxa
é definida como uma fração da capacidade nominal da bateria. Por exemplo, uma bateria
de 150 Ah de capacidade nominal, submetida a um intervalo de carga de 10 horas a
corrente constante, tem sua taxa de carga definida da seguinte forma:

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Capacidade Nominal 150 Ah
= = 15 A = taxa C/10
Intervalo de Carga 10 h

Analogamente, podemos definir diferentes taxas, como C/100 (100 h), C/20 (20
h), entre outras. Assim, para carregar a bateria do exemplo acima com uma taxa de C/20,
seria necessária uma corrente de 7,5 A (150 Ah / 20 h).

Taxa de Descarga
De maneira oposta ao item anterior, esta taxa corresponde ao valor de corrente
elétrica durante o processo de descarga. Também é normalizada pela capacidade nominal
da bateria.

Tensão de Circuito Aberto


Tensão medida nos terminais da bateria para um determinado estado de carga e a
uma determinada temperatura, na condição em que não há corrente sendo drenada do
dispositivo.

Tensão de Corte
Tensão de final de descarga, a partir da qual podem ocorrer danos irreversíveis a
bateria.

Tensão de Final de Carga


Limite de tensão em que o processo de carga é interrompido, considerando-se que
a bateria atingiu um nível de carregamento suficiente ou atingiu plena carga.

Tensão Nominal
Tensão média da bateria durante o seu descarregamento com uma determinada taxa
de descarga a uma determinada temperatura.

Vida Útil
Pode ser especificada pelo número de ciclos ou período de tempo, dependendo da
aplicação. Indica até quando ou quantas vezes a bateria pode ser usada antes de apresentar
falhas em satisfazer as especificações. Fatores como temperatura e profundidade de
descarga estão inversamente relacionados com a vida cíclica da bateria, ou seja, quanto

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maior a temperatura de operação ou a profundidade da descarga, menor será a vida útil.
Nas baterias de chumbo-ácido, por exemplo, o fim de sua vida útil é geralmente tomado
como o instante em que a célula, estando totalmente carregada, pode fornecer apenas 80%
da sua capacidade nominal.

5. PROBLEMAS MAIS COMUNS

Devido aos processos químicos internos e ao uso incorreto das baterias, muitos
problemas podem surgir com o tempo, principalmente em baterias de chumbo-ácido.
Dentre estes, podemos destacar:

Corrosão e oxidação das partes metálicas


Mais comum em baterias abertas (ou ventiladas), a corrosão é causada pelo excesso
de abastecimento e consequente vazamento do eletrólito. O acúmulo de material ativo em
contato com a caixa de ferro causa a corrosão da mesma. Com a caixa corroída, o risco
de vazamento de eletrólito é muito grande. Além disso, o rendimento da bateria também
diminui devido à fuga de corrente, que ocorre com a corrosão da pintura eletrostática da
caixa.

Estratificação
A água e o ácido utilizados no eletrólito possuem densidades diferentes. Por esse
motivo, se a bateria ficar por muito tempo sem uso, essa mistura irá se separar em
camadas, ficando o ácido na parte inferior e a água na parte superior. Desse modo, os
eletrodos serão corroídos por ficarem em contato com o ácido puro e, consequentemente,
a capacidade da bateria será reduzida. Esse efeito é mais significante em baterias de
chumbo-ácido.

Gaseificação
Pode ocorrer em baterias de chumbo-ácido e corresponde à produção de gás em um
ou mais eletrodos. Este fenômeno ocorre em situações de sobrecarga, na qual toda
corrente elétrica passa a ser consumida no processo de eletrólise da água contida no
eletrólito, resultando na formação de bolhas de hidrogênio e de oxigênio. A liberação de
gases leva à perda do eletrólito e ao aumento da resistência interna da bateria. No caso

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das baterias de chumbo-ácido, é possível repor a água perdida, no entanto, a persistência
deste processo pode causar danos irreversíveis.

Oxidação dos componentes


A oxidação dos componentes também é causada pelo contato com o ácido, em
decorrência do excesso de abastecimento. Os componentes oxidados sofrem um aumento
da sua resistência, dificultando a passagem da corrente e causando a perda da eficiência
da bateria.

Sedimentação
Durante os ciclos de carga-descarga ocorre o desprendimento de material ativo dos
eletrodos e sua sedimentação no fundo do vaso. Uma sedimentação acumulada pode levar
ao curto-circuito das placas, inutilizando a bateria.

Sulfatação
Este problema ocorre tipicamente em baterias de chumbo-ácido, em condições
normais de operação. Durante um processo de descarga forma-se uma camada de sulfato
de Chumbo na superfície das placas, o que impede o contato entre a parte ativa e o
eletrólito, diminuindo assim a capacidade da bateria. Se a bateria permanecer por muito
tempo descarregada ou se não for devidamente carregada, os pequenos cristais de sulfato
de chumbo juntam-se formando cristais maiores. Estes, por sua vez, se tornam
irreversíveis e a capacidade da bateria é reduzida permanentemente.

6. MÉTODOS DE CARREGAMENTO DAS BATERIAS

Do ponto de vista da análise de circuitos elétricos, recarregar uma bateria consiste


em restabelecer a energia que foi previamente removida, isto é, restabelecer a carga do
“capacitor interno” por meio da injeção de corrente. Apesar de parecer simples, este
processo requer atenção, pois o carregamento inadequado pode causar severa diminuição
de vida útil, sobreaquecimento e, em certos casos, explosões [14].
O principal objetivo de um sistema de carregamento é carregar a bateria
eficientemente, evitando os efeitos prejudicais do carregamento excessivo ou reduzido
[11]. A Figura 3 mostra um exemplo de curvas típicas de carga e descarga de uma bateria.
O perfil da tensão depende de fatores como temperatura, taxa de carga/descarga, das

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características construtivas da bateria, entre outros. Por esse motivo, cada tipo de bateria
requer um método de carregamento particular. Como pode ser visto a seguir, diferentes
métodos são utilizados pelos carregadores.

Figura 3. Exemplo de curvas típicas de tensão durante a carga e a descarga.

2.1. Corrente Constante

Este método é muito eficaz para diversos tipos de baterias. Consiste em aplicar uma
corrente de valor fixo ao acumulador, desconectando-o quando sua tensão atingir o valor
de final de carga. A Figura 4 mostra o comportamento da tensão da bateria durante o
carregamento. Apesar de ter um bom desempenho, essa técnica pode provocar
sobretensões e, consequentemente, gaseificação e sobreaquecimento, principalmente no

Figura 4. Características da corrente e da tensão durante o carregamento com corrente constante.

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final do processo. Uma forma de contornar esse problema é adotar uma corrente de carga
mais baixa (i.e. taxa de carga menor), o que torna o processo mais lento.

2.2. Tensão Constante

Neste tipo de recarga, utiliza-se uma tensão constante com valor igual ao da tensão
de carga máxima da bateria, a qual é especificada pelo fabricante. Trata-se de um método
muito simples de ser implementado e controlado, porém, alguns aspectos devem ser
considerados ao utilizá-lo. Um deles é o fato da corrente inicial de carga ser muito
elevada, podendo chegar a 5 vezes o valor da corrente nominal da bateria, conforme
ilustrado na Figura 5. O outro ponto negativo é o fato de não se garantir um
balanceamento de carga entre as células. Consequentemente, algumas podem estar
sujeitas a sobretensão e sobreaquecimento.

Figura 5. Características da corrente e da tensão durante o carregamento com tensão constante.

2.3. Tensão Flutuante

O carregamento por tensão flutuante é utilizado em aplicações onde a bateria se


descarrega muito pouco. Esse método envolve uma tensão de carregamento constante
com amplitude mais baixa do que a do método anterior, a fim de se evitar sobrecarga.
Inicialmente, aplica-se uma tensão de valor fixo nos terminais da bateria e observa-se a
corrente - quando esta chegar ao limite inferior, diminui-se a tensão. A partir do momento
em que a bateria começa a se descarregar, o controlador entra em ação elevando a tensão

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novamente. Um controle desse tipo garante que a bateria fique sempre carregada. No
entanto, nem todas as baterias suportam esse método de carga, sendo mais utilizado em
baterias de chumbo-ácido.
Uma outra opção para o modo flutuação consiste no uso do carregamento por
histerese, o qual desconecta a bateria sempre que ela entra no modo standby. Então, de
tempos em tempos a conecta novamente no modo tensão constante para repor a energia
perdida em função da autodescarga, ou quando uma carga é acionada.

2.4. Carregamento Multiestágios

Uma forma de minimizar os problemas relacionados aos métodos anteriores é


carregar a bateria em diferentes estágios. Geralmente, utiliza-se o método de corrente
constante como estágio inicial, eliminando assim o pico de corrente visto no método de
tensão constante. Em seguida, aplica-se o método de tensão constante para que a bateria
atinja plena carga, sem riscos de sobretensão. No caso de baterias de chumbo-ácido, é
comum utilizar ainda o controle de tensão flutuante como um terceiro estágio. A Figura 6
exemplifica o uso desse método de carga.

Figura 6. Processo de carregamento multiestágios.

Existem ainda outros métodos mais inteligentes e sofisticados, baseados no estado


de carga e na temperatura. Não cabe a este artigo entrar em detalhes, mas diversos
trabalhos a respeito podem ser encontrados na literatura.

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Ademais, destaca-se que as baterias podem ser carregadas em diferentes taxas
dependendo da aplicação. Em razão disso, existem quatro tipos de carregamento: carga
lenta, com duração de 14-16 horas a uma taxa de 0,1 C; carga rápida, com duração de 3-
6 horas a uma taxa de 0,3 C; carga super-rápida, com duração de 1 hora a uma taxa de
1 C; e carga ultra-rápida, com duração de 10 a 60 minutos a uma taxa de 1 até 10 C. A
Tabela 2 resume as principais características desses métodos de carregamento [15].

Tabela 2. Características de carga para diferentes taxas.

Tipo Química C-rate Duração Temperaturas


NiCd
Carga Lenta 0,1 C 14-16 h 0ºC a 45ºC
Chumbo-ácido
NiCd,
Carga Rápida NiMH, 0,3 – 0,5 C 3-6 h 10ºC a 45ºC
Li-ion
NiCd,
Super-rápida NiMH, 1C 1 h+ 10ºC a 45ºC
Li-ion
NiCd,
Ultra-rápida¹ NiMH, 1 – 10 C 10-60 min 10ºC a 45ºC
Li-ion
¹A carga ultra-rápida só deve ser aplicada até 70% do estado de carga da bateria. Apenas alguns
tipos especiais de baterias suportam esse método de carregamento.

7. CONCLUSÃO

As baterias desempenham um papel fundamento no contexto atual da eletrônica de


potência, estando presente em aplicações emergenciais, aeroespaciais, veículos elétricos
e híbridos, sistemas de geração distribuída, entre outras. Diante disso, este artigo visou
abordar, de forma sucinta, os principais aspectos relacionados a esse tipo de dispositivo,
a fim de familiarizar o leitor com o tema.
Como foi visto, as baterias recarregáveis podem ser classificadas de acordo com os
materiais ativos usados em sua construção. Devido às particularidades das diferentes
tecnologias (chumbo-ácido, li-ion, etc), torna-se necessário adotar uma técnica de carga

Por: Caio Moraes


específica para cada uma delas, e é exatamente esse o assunto da segunda parte dessa
série. Nela irei abordar mais a fundo cada uma dessas tecnologias, bem como os métodos
de carga normalmente empregados.

REFERÊNCIAS

[1] Hussein Ibrahim, Adrian Ilinca, and Jean Perron. Energy storage systems
characteristics and comparisons. Renewable and sustainable energy reviews,
12(5):1221{1250, 2008.
[2] Y. Wang, K. T. Tan, X. Y. Peng, and P. L. So. Coordinated control of distributed
energy-storage systems for voltage regulation in distribution networks. IEEE
Transactions on Power Delivery, 31(3):1132{1141, June 2016.
[3] M. Zeraati, M. E. Hamedani Golshan, and J. M. Guerrero. Distributed control of
battery energy storage systems for voltage regulation in distribution networks with high
pv penetration. IEEE Transactions on Smart Grid, 9(4):3582{3593, July 2018.
[4] Carl D Parker. Lead-acid battery energy-storage systems for electricity supply
networks. Journal of Power Sources, 100(1-2):18{28, 2001.
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[7] S. M. Lukic, J. Cao, R. C. Bansal, F. Rodriguez, and A. Emadi. Energy storage
systems for automotive applications. IEEE Transactions on Industrial Electronics, v. 55,
n. 6, pp. 2258-2267, June 2008.
[8] C. M. D. Porciuncula, “Aplicação de modelos elétricos de bateria na predição do
tempo de vida de dispositivos móveis,” (Dissertação), Universidade Regional do
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - Unijuí, 2012.
[9] Eduardo T. Serra et al, “Armazenamento de Energia: Situação Atual, Perspectiva e
Recomendações”. Comitê de Energia da Academia Nacional de Engenharia, Dezembro
2016.
[10] M. Jongerden and B. R. Haverkort. “Battery modeling”. Technical Report, 2008.
Disponível em:

Por: Caio Moraes


<https://www.researchgate.net/publication/239851603_Battery_Modeling>. Acesso em:
11 de abr. 2020.
[11] J. T. PINHO e M. A. GALDINO. “Manual de Engenharia para Sistemas
Fotovoltaicos”. Rio de Janeiro, 2014.
[12] D. LINDEN and T. REDDY. “Handbook of Batteries”. 3ª edição. McGraw-Hill
Education, 2001.
[13] M. W. P. CHAGAS. “Novas Tecnologias para Avaliação de Baterias”. Dissertação
(Mestrado) - IEP-LACTEC, 2007.
[14] LI-ION Battery Charger solution using the MSP430. Application Report: SLAA287.
Texas Instruments, Dezembro de 2005. Disponível em:
<http://www.ti.com/lit/an/slaa287a/slaa287a.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2020.
[15] Battery University. “BU-401a: Fast and Ultra-fast Chargers”. Disponível em:
<https://batteryuniversity.com/learn/article/ultra_fast_chargers>. Acesso em: 12 abr.
2020.

Por: Caio Moraes

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