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11~lEEXECUTIVA

TREINAMENTO E
GESTAO DA -
QUALIDADE

* Flávio Marcílio Rabelo


* Ettore Bresciani Filho
o Carlos Alonso Barbosa de Oliveira

A organização do treinamento nas empresas


pode afetar o resultado de programas de
melhoria da qualidade.

The organization of fraining function in the


enterprises can affect the results of the quality
improvement programs.

PALAVRAS-CHAVE:
Qualidade, recursos humanos, treinamento, polivalência, desenvolvimento
gerencial, montadoras.

KEYWORDS:
Quality. human resources, training, multifuncional workers, management deve-
lopment, autoparts firms.

* Professor da Faculdade de Ciências


Administrativas da PUC/Camplnas.
Econômicas, Contábeis e

* Professor do Departamento de Engenharia de Materiais, Faculdade


de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas.

O Professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de


Campinas.

Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 35, n.3, p. 13-19 Mai./Jun. 1995 13
EXECUTIVA

H
á um certo consenso presente tan- meio de questionários e de entrevistas
to nas referências de caráter mais abertas com vários níveis gerenciais. Em
normativo de gestão da qualidade! média, foram entrevistadas sete pessoas
quanto nas de natureza mais acadêmica- em cada empresa. En1 todos os casos as
de que o sucesso de um programa de qua- entrevistas foram seguidas de uma ou
lidade não depende unicamente da intro- mais visitas ao chão de fábrica. Construiu-
dução de técnicas estatísticas ou equipa- se uma base de indicadores, baseados nos
mentos avançados de produção / ensaio / critérios do Prêmio Nacional da Qualida-
controle, mas também, e, talvez principal- de, para avaliar a gestão da qualidade e a
mente, de profundas transformações ge- organização do treinamento nas empresas.
renciais. Entre estas últimas, citam-se Além desses dados, a pesquisa levantou
freqüentemente as mudanças na área de um histórico detalhado da implementação
gestão de recursos humanos. Apesar des- dos programas de qualidade em cinco
se consenso, ainda não foi suficientemente empresas da amostra. Foi graças a essa
estudada a maneira como se dá a interação análise mais profunda que se pôde obser-
entre a gestão de pessoal e o programa de var melhor a interação entre o treinamen-
qualidade de uma empresa. Permanece a to e os resultados obtidos com os progra-
questão básica quanto à maneira como as mas de qualidade.
várias funções ligadas à gestão de recur-
sos humanos podem afetar os resultados RESULTADOS OBSERVADOS
de um programa de qualidade.
O treinamento é provavelmente a fun- Situação geral do treinamento: levanta-
ção de gestão de pessoal mais destacada mento de necessidades e avaliação
na literatura teórica e prática sobre melho- Alguns critérios iniciais que permitem
1. DEMING, W E. Oústity, pro- ria da qualidade. Uma hipótese básica é apreciar a importância conferida ao trei-
ductivity and competitive
position. Cambridge, MA: MIT
que a organização sistemática do treina- namento pelas empresas são mostrados na
Center for Advanced Enginee- mento é um fator importante para o su- tabela P. Pode-se observar ai que é
ring Study, 1982; JURAN, J. M. cesso de um programa de melhoria da significante (quase um terço) o número de
Juran on planning for quality
New York: Free Press, 1988; qualidade. O que nos interessa explorar empresas que ainda não quantifica o mon-
FEIGENBAUM, A. V. Total que- aqui são as maneiras como a organização tante gasto em treinamento. Isso nos leva
lity controi. New York: Mc- do treinamento afeta a implementação e o a questionar até que ponto as empresas
Graw-Hill, 1983.
desempenho de programas de qualidade consideram o treinamento uma atividade
2. GARVIN, D. Managing qua- numa empresa. estratégica",
lity - the strategic and com-
petitive edçe. New York: Free
Press, 1988; HILL. S. How do Tabela 1
you manage a flexible firm? The
total quality model. Work. Em- Situação geral do treinamento
ployment and Society, v. 4, n. Foram selecionadas 19 empresas fabri- Empresa N.E.*
3, p. 397-415, __ . Why qua- cantes de autopeças para compor a amos- ACompanha gasto com 13
lity circles failed but total quality tra da pesquisa. Essa amostra não foi es- treinamento
control might succeed, London
School of Economics (mimeo). colhida de forma aleatória. Procuraram-se Faz levantamento sistemático 9
empresas que fossem fornecedoras de pri- das necessidades de treinamento
3. As tabelas 1 a 5 apresentam Monitora eficácia do treinamento 10
o número de empresas da
meira linha das montadoras, uma vez que
amostra onde cada um dos era de se esperar que nelas fosse mais in- *N.E: Número de empresas.
itens listados foi encontrado. tensa a preocupação com qualidade em
Como muitas empresas utiliza-
vam mais de um dos itens lis- função da pressão exercida por esse tipo Chamou a atenção o fato de que mais
tados nessas tabelas, o soma- de cliente. A idéia também foi trabalhar da metade das empresas da amostra não
tório da segunda coluna exce- com empresas com processos produtivos atendia ao requisito presente tanto no Prê-
de o número de observações da
amostra (19 empresas). semelhantes, de modo que a natureza dis- mio Nacional da Qualidades quanto nas
tinta dos processos não influísse nos re- normas ISO 9000 de realizar um levanta-
4. HOLDEN,L. European trends
in training and development. sultados obtidos. Concentrou-se, assim, a mento sistemático das necessidades de
Intemational Joumal of Hu- amostra entre empresas metal-mecânicas treinamento de seus empregados (ver ta-
man Resource Management, v. com produção seriada e em massa. Todas bela 1). Menos da metade das empresas
2, n. 2, p. 113·31, 1991.
as empresas estavam introduzindo progra- (nove), de fato, realizava um trabalho de
5. FUNDAÇÃOPARAO PRÊMIO mas de qualidade quando foram contac- levantamento formal das necessidades de
NACIONAL DA QUALIDADE. tadas, embora os estágios atingidos fossem treinamento. Nas demais, os próprios ge-
Critérios de Excelência - o es-
tado da arte da gestão da qua- distintos. rentes de recursos humanos reconheciam
lidade total, São Paulo, 1983. As informações foram coleta das por que o treinamento tinha um caráter reati-

14 © 1995. Revista de Administração de Empresas / EAESP/ FGV, São Paulo, Brasil.


TREINAMENTO E GESTÃO DA QUALIDADE

vo, sendo ministrado apenas em resposta sabilidades pela qualidade aos trabalha-
a problemas severos ou recorrentes'. dores da produção sem propiciar os meios
Nas nove empresas, nas quais as neces- necessários (treinamento) para que eles
sidades de treinamento foram diagnosti- possam efetivamente controlar a qualida-
cadas, os procedimentos mais usuais para de do que produzem. No que se refere à
esse fim eram informais (ver tabela 2): re- escolaridade, o primeiro ponto a ser ob-
quisições dos funcionários e da gerência servado é que a maioria das empresas não
de linha. Apenas uma empresa procurava possuía um acompanhamento sistemáti-
elaborar seu programa de treinamento a co da escolaridade de seu pessoal. Isso é
partir da análise de seu plano de negócios. grave, à medida que informações sobre
As auditorias de treinamento só foram escolaridade são um dado básico para ali-
encontradas em cinco empresas. O proble- mentar um programa de treinamento.
ma do uso exclusivo desses procedimentos Existe, contudo, um certo consenso entre
informais é que se produz uma avaliação o pessoal de recrutamento da maioria das
pouco sistemática de como o treinamento empresas de que, com o avanço dos pro-
pode ir ao encontro do planejamento estra- gramas de qualidade, haveria uma tendên-
tégico da empresa, aí incluídos os seus es- cia a elevar a escolaridade formal da mão-
forços na área de melhoria da qualidade'. de-obra. Algumas empresas já estavam
exigindo requisitos mínimos de escolari-
Tabela 2 dade (1 º e, até mesmo, 2º grau) para a
contratação de pessoal. Além disso, as de-
Métodos utilizados para levantar
necessidades de treinamento missões recentes tinham se concentrado
l\ilétodos N.E. nos funcionários analfabetos ou com me-
Análise dos planos de negócios 1 nor nível de escolaridade. Finalmente,
Auditorias de treinamento 5 quanto ao item c das 16 empresas que ti-
Requisições da gerência de linha 9 nham esse dado, i{7,5% tinham menos de
Avaliação de desempenho 5 cinco dias/ ano de treinamento para os tra-
Requisições dos funcionários 7 balhadores da produção, 12,5% tinham en- 6. Numa das empresas, por
exemplo, o treinamento em Ma-
tre cinco e dez dias e nenhuma mais do temática e Estatística básica
Quando se observa o comportamento que isso. Holden? encontrou para o Reino para os operadores da produ-
Unido (país que tem uma das médias mais ção só foi realizado quando o
dos gastos com treinamento nas empresas departamento de controle da
que possuem esse dado, verifica-se que as baixas da Europa) os seguintes dados para qualidade informou à direção
maiores ampliações ocorreram no treina- as categorias respectivas: 81,13 e 6%. Isso que o programa de implemen-
tação do Controle Estatístico de
mento gerencial e no treinamento dirigi- é grave, pois no Brasil parte-se de uma ba- Processo corria o risco de fra-
do ao pessoal semi e não-qualificado da se de escolaridade formal bem mais bai- cassar em função da incapaci-
produção. De certo modo, isso aponta para xa, e, além disso, a amostra é composta ba- dade geral do pessoal de pro-
dução de preencher as cartas de
o fato de que as empresas estão conscien- sicamente de empresas líderes do setor de controle.
tes das novas exigências feitas aos geren- autopeças (o que deve retratar, pois, um
quadro otimista da situação do treinamen- 7. HOLDEN, L Does strategic
tes por um sistema de Gestão da Qualida- training policy exist? Some
de Total. A ampliação do gasto em treina- to industrial no país). Já para o treinamen- evidence from ten European
mento para os trabalhadores da produção to gerencial, a média de dias nas empre- countries. Persannel Review, v.
21, n. 1, p. 12-23, 1992.
decorre dos seguintes fatores: a. a sas da amostra não está muito defasada
efetivação dos programas de qualidade em relação ao quadro europeu. O fato de 8. REITSPERGER, W O., DA-
25% das empresas em posse da informa- NIEL, S. J. Dynamic manufac-
envolvendo a noção de autocontrole e o turing: a comparison of attitu-
aumento da responsabilidade para o pes- ção dedicarem mais de dez dias/ ano ao des in the US and Japan. Ma-
soal de produção exige uma ampliação da treinamento gerencial é especialmente sig- nagement Internatianal Re-
view, v. 30, n. 3, p. 203-216,
qualificação desse pessoal; b. a base de nificativo. 1990; TRIBUS, M. Prize-win-
escolaridade formal do pessoal de produ- É pequeno também o número de empre- ning Japanese firms' quality
ção das empresas é bastante fraca compa- sas que realiza um acompanhamento dos management programs pass
inspection. Management Re-
rada com a de países industrializados; c. resultados dos treinamentos ministrados view, p. 31-7, Feb. 1984; GAR-
a média de treinamento dedicada a esse (ver tabelas 1 e 3). Algumas, porém, já in- VIN, O. Quality problems, poli'
troduziram formas mais elaboradas de cies, and attitudes in the United
pessoal pelas empresas da amostra ainda States and Japan: an explora-
é baixa. avaliação da eficácia do treinamento. Em tory study. Academyaf Mana-
Em relação ao item a existe evidência outros casos, a única inovação verificada gement Journal, v. 29, p. 653-
tendia a ser um sistema melhorado de 73,1986.
na literatura" de que grande parte dos in-
sucessos dos programas de qualidade de- armazenamento dos dados de treinamen- 9. HOLDEN, L. Does strategíc
ve-se ao fato de a empresa exigir respon- to. Existem vantagens associadas a um training policy ... Op, cít,

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.1]~~lEEXECUTIVA
bom acompanhamento da eficácia do trei- Tabela 3
namento ministrado'": Métodos utilizados para avaliar
eficácia do treinamento
a. a avaliação do treinamento ajuda a Métodos N.E.
alinhá-lo com o plano estratégico da em- Testes 3
presa. Assegura, pois, que o treinamen- Avaliação formal imediatamente 5
to não se torne uma série de eventos iso- após o treinamento
lados, mas sim parte de um esforço pla- Avaliação formal alguns meses 4
nejado para reforçar o programa de qua- após o treinamento
lidade em toda a organização; Feedback informal dos gerentes 10
b. a avaliação ajuda a rastrear aqueles que de linha
foram treinados e os que necessitam de Feedback informal dos treinados 9
treinamento. Isso é importante, por
exemplo, quando os membros de uma
equipe estão em duas equipes de proje-
to ou numa segunda rodada de projetos isto é, a habilidade do indivíduo de diag-
em equipe; nosticar e solucionar problemas cotidia-
c. os gerentes que participam de um pro- nos, quase que independentemente da na-
cesso de avaliação serão capazes de tureza dos problemas. O segundo princí-
identificar as barreiras que confrontam pio é o da plena utilização das capacita-
as equipes e dificultam seu progresso; ções, ou seja, as únicas limitações sobre
d. a avaliação fornece critérios para reco- quem faz o quê, quando e como são as qua-
nhecimento e recompensa baseados tan- lificações que o indivíduo adquiriu ou
to no progresso quan- pode adquirir, o tempo disponível para
Uma hipótese básica é que to no sucesso dos par- executar quaisquer tarefas novas ou adi-
a organização sistemática ticipantes; cionais, e os requisitos de segurança. Re-
do treinamento é um fator c. a avaliação propor- cursos humanos capacitados dentro des-
ciona uma retroali- ses princípios permitem que uma empre-
importante para o sucesso de
mentação (iccdback) sa trabalhe C0111 uma estrutura" enxuta"
um programa de melhoria sistemática àqueles (já que a mão-de-obra é flexível) e com ní-
da qualidade. que ministram o trei- veis hierárquicos reduzidos.
namento, de modo Num nível teórico mais geral, a
que eles possam empreender um esfor- polivalência está relacionada ao conceito
ço de mel horia contínua do programa de enriquecimento de cargos". O princí-
de treinamento da organização. pio básico que há atrás desse conceito é
que as pessoas só apresentam elevada
Mudanças nas práticas de treinamento motivação e satisfação no trabalho quan-
foram consideradas necessárias em quase do se sentem sob as seguintes condições:
todas as empresas. Os gerentes apontaram a. realizam um trabalho significativo; b.
a necessidade de uma estrutura de treina- têm responsabilidade por este trabalho e
mento mais planejada e de uma real ade- c. recebem uma retroalimentação Uecdbaclc)
são ao planejamento elaborado. quanto ao seu desempenho. Essas três con-
10. HOLCOMB, J. worth every dições, por sua vez, são afetadas por cin-
penny: a process to evaluate Formação de trabalhadores polivalentes co características do próprio trabalho: a.
training ASDC Duallty Con-
gress Transactlons, Nashville,
A polivalência é uma questão de espe- autonomia: a liberdade de executar a tare-
p. 129-35. 1992. cial relevância para o treinamento do pes- fa da maneira que o indivíduo julga me-
soal da produção. Pode-se definir poliva- lhor; b. sistemas de retroalimentaçáo: me-
11. CROSS, M. Changlng job
structures. Butterworth: Hüi- lôncia como uma forma de trabalhar que canismos que permitem ao indivíduo sa-
Il lfld ll , 1990;
ê __ o Moni- busca promover a troca, partilha e proprie- ber o quanto o trabalho está sendo bem
toring multiskilling: the way to
dade comum das tarefas". O resultado es- realizado; c. variedade de qualificaçôes: o
guarantee long-term change.
Personnel Managemenl, p. perado de uma mão-de-obra polivalcntc uso de urna quantidade das habilidades
44-8, Mar. 1991 é tanto o rcarranjo do trabalho cotidiano valorizadas pelo individuo; d. identidade
12. HACKMAN, J. R, OLDHAM, existente quanto a criação de espaço para da tarefa: realizar uma parte completa do
G. R. Work redesign. Reading projetos de melhoria de curto e longo pra- trabalho; e. significáncia da tarefa: uma
(MA) Addison-Wesley, 1980 zos. O desenvolvimento da polivalência tarefa que realiza JIgo significativo.
HERZBERG, F. Work and lhe
nature ot mano Cleveland, Ohio: baseia-se em dois princípios. O primeiro é Um achado importante das pesquisas
World, 1966. a competência dentro do local de trabalho, sobre enriquecimento de cargos é que os

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TREINAMENTO E'GESTÃO DA QUAUDADE

impactos positivos são maiores na esfera para os funcionários da produção, ligan-


da qualidade do que na produtividade". do diretamente a ascensão ao tipo de trei-
A literatura sobre enriquecimento de car- namento realizado. Cada funcionário sa-
gos enfatizou também a relação entre este be assim, de antemão, o que é necessário
conceito e índices de rotatividade, absen- para progredir na carreira, ajudando a cri-
teísmo, motivação e satisfação do empre- ar um clima de trans-
gado com o trabalho". parência nas relações
Uma das deficiências dos projetos tra- com a gerência. A preocupação hoje é
dicionais de enriquecimento de cargos era essencialmente com f!,. constituição
a ênfase no enriquecimento de cargos es- Desenvolvimento
de uma empresa mais flexívele cuja
pecíficos em vez de um enfoque no repro- gerencial
jeto da organização. Em função desse viés, Talvez o ponto mão-de-obra seja capaz de absorver
raramente se realizava o potencial para a crucial em termos de os conceitos modernos de gestão da
redução dos serviços gerenciais e de treinamento para o qualidade e prop:amação e controle
apoio". Nesse ponto, a discussão atual sucesso dos progra- '"
sobre polivalência representa um avanço mas de gestão da qua- da produção.
significativo. A preocupação hoje é essen- lidade seja o desen-
cialmente com a constituição de uma em- volvimento gerencial. Segundo Storey" lia
presa mais flexível e cuja mão-de-obra seja gerência tem sido identificada como o fator crí-
capaz de absorver os modernos conceitos tico, que detém a chave para liberar o poten-
de gestão da qualidade e programação e cial de todos os demais fatores de produção".
controle da produção. O argumento é que Além disso, a maior parte dos problemas
os modernos sistemas de manufatura re- relativos à qualidade são causados por sis-
querem uma mão-de-obra polivalente (e, temas controlados pela gerência, em vez 13. KOPE.LMAN, R. E. Job're-
portanto, flexível) para realizar o seu ple- de estarem relacionados com o desempe- 'design and produstlvíty; a re-
view of the evídence. National
no potencial. Um aumento de eficiência só nho dos trabalhadores". São os gerentes, Productivíty Revtew, v. 4, n, 3,'
pode ser obtido relaxando a divisão do portanto, que têm o poder p, 237-55, 1985; LAWLER, E:.E
trabalho e utilizando a força de tra- para resolvê-los; os traba- Job design and employee mo-
tivation. Personnel Psychology,
balho dentro de uma orga- lhadores da produção v. 22, !lo426-35, 1Q.69; _'~.
nização mais complexa e contribuem menos pa- Hiçti-ítwotvement managli-
ra a geração de proble- ment. San Francisco: Jossey-
integrada. Além disso, a Bas~, i 986. ,
polivalência também é mas e, normalmente,
importante para o funcio- não possuem autorida- 14. DEA{II, Jr., J. W, SNELL, S.
de para resolvê-los. A. lntêgrated manufacturing
namento das equi- and 10b design: moderating x

pes de trabalho. Pode-se definir desen- effe,ct'sof organtzatlonal ínertla,


A polivalência, volvimento gerencial, Academy of Manag.ement
Journal, v. 34, n. 4,Jl. 77lH04,
pois, se encaixa de modo genérico, 1991. ,~."
bem nos esfor- como sendo a função
que cuida de: a. prever 15'. LAWLER, E. E. High-invol·
ços de raciona- vement management. Op. ciL
lização de mui- as necessidades, a
tas empresas". gama de qualificações 1.6. HENDRY, G.,'PETTlGHEW,
e os perfis para as vá- A. Multiskilling in the round:, ss
Em empresas co- Personnel Managemenl, p,
mo as da amostra desta rias posições e níveis 36-4~, Apr, 198E. ~
pesquisa, um operador gerenciais da organiza- "
17. STOREY, J. Manªgemlmt
polivalente necessita de co- ção; b. projetar e reco- tíevelopment; a literature reviaw ,
nhecimentos de usinagem, me- mendar os programas ano implications for future re-
dição de ferramentas, hidráuli- de desenvolvimento ).tsearch (sart I}. P~rsonne-I Re-
vie~ v. 18, n. 6, p. 3-19,1989" '
ca, eletricidade e eletrônica bási- profissional, de carreira e
ca. Só foram constatados esforços pessoal, necessários para as- "18. HODGSON, A. Deming's ne-
segurar a competência requeri- ver-ending road to QualitY.Per-
mais intensos para a constituição de sonnel Managemf!nt. p..AO-4,
uma mão-de-obra da produção poliva- da". O problema, contudo, é que a litera- Ju11987. t,,"
lente em duas empresas, embora a maio- tura recente" questiona até que ponto um "
ria estivesse investindo nesse sentido (só gerente" desenvolvido" é fruto de um pro- ,,19. BEGKHARD, R. Wither ~
manaçerneat d'e'velopment?
cinco empresas não realizavam trabalho cesso planejado. Ou seja, é preciso consi- Joumaf of Maf1aUement De-
no sentido de formar trabalhadores poli- derar os outros caminhos "não-planeja- velopment, v. 4, n; ~'" p. 31- '" '"
valentes). As duas empresas líderes nessa dos" e, possivelmente, informais por meio ~42,' 1985. ~, ~$:~•

área adotaram um sistema de carreiras dos quais as competências gerenciais são 20. STOREY, J. ou cit.

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adquiridas. Como não seria possível tra- renciais. Qualificações no gerenciamento
tar do tema em toda a sua complexidade da mudança, e particularmente em temas
nesta pesquisa, a opção foi concentrar a ligados à gestão de pessoal, são especial-
análise nas ações planejadas das empre- mente necessárias. Foi constatada em qua-
sas para garantir a aquisição das qualifi- se metade das empresas da amostra, so-
cações consideradas importantes pelo cor- bretudo aquelas com os programas de
po gerencial. Um aspecto relevante nessa qualidade mais avançados, uma tendên-
área tem sido a tendência de tratar o de- cia para transferir as funções de gestão de
senvolvimento gerencial como um ele- recursos humanos para os gerentes de li-
mento-chave para promover uma mudan- nha, em vez de deixá-las concentradas
ça organizacional e, em particular, para num departamento central de recursos
transformar uma cultura", Outro tema de humanos. Conforme as tabelas citadas, as
interesse crescente na literatura é o uso do técnicas de desenvolvimento gerenciais
desenvolvimento gerencial como uma fer-
ramenta na busca de qualidade e redução
Tabela 4
de custos",
Mais do que qualquer outro fator isola- Técnicas de desenvolvimento gerencial
utilizadas pelas empresas
do, a implementação vagarosa ou mal-su-
Técnicas N.E.
cedida dos programas de qualidade é lar-
Plano de carreira 10
gamente atribuída, por uma gama varia- Avaliação de desempenho 10
da de estudos, a inadequações gerenciais Planos de sucessão 4
nas seguintes áreas: comprometimento Rotação de cargos 2
estratégico; comunicação, liderança e mo- Planos para executivos de
tivação dos subordinados; e implementa- alto potencial
ção e utilização das ferramentas da quali-
dade. Estas originam-se da falta de domí-
nio tanto técnico quanto gerencial. A isso
Tabela 5
soma-se uma incapacidade de resolver as
diferenças entre ocupações e funções Temas em que pelo menos um terço
dos gerentes foram treinados
departamentais, e de integrar adequada-
Temas N.E.
mente a organização para perceber melhor
Avaliação de desempenho 10
as vantagens do programa de qualidade.
Técnicas de comunicação 7
A tabela 4 contém algumas técnicas
Motivação 6
comumente utilizadas para suprir essas 2
deficiências do corpo gerencial. Apenas o Formação de. equipes 4
treinamento em técnicas para avaliação de
desempenho encontrava-se difundido em
mais de metade das empresas da amostra. mais difundidas entre as empresas da
O treinamento em técnicas para delegação amostra são o plano de carreiras e a avalia-
de mais autoridade e formação de equi- ção de desempenho. Chama a atenção,
pes de trabalho estava ausente, ou muito contudo, o fato de nove empresas não pos-
pouco utilizado, na grande maioria das suírem um plano de carreiras para seu cor-
empresas. Existe, pois, uma evidente la- po gerencial. Isso tem um profundo efeito
cuna em termos de esforço organizado negativo sobre a motivação das pessoas,
para desenvolver as habilidades de rela- que não conseguem enxergar as suas pos-
ção interpessoal e de liderança do corpo sibilidades de progresso dentro da empre-
gerencial da maior parte das empresas (ver sa. Aavaliação do desempenho dos geren-
tabela 4). tes está presente em dez empresas, apesar
Em função disso, buscou-se detalhar de em algumas delas não ter ficado muito
21. MORGAN, G. Riding the nos trabalhos de campo os programas de claro como a avaliação está articulada com
Waves of Change. New York:
Jossey-Bass, 1988. desenvolvimento gerencial existentes nas o treinamento dos gerentes. Planos de su-
empresas (ver tabelas 4 e 5). Embora os cessão, rotação de cargos e planos para
22. NAGLER, B. Curnrnins'
efforts to cu! costs. Managing gerentes não possam ser treinados em to- executivos de alto potencial eram ativida-
Automation, v. 2, n. 7, p. 18- das as possíveis técnicas de qualidade, des marginais nas empresas da amostra.
27, 1987; WAGEL, W. H. Lea- podem ser treinados para ser melhores Nas empresas com os programas de
dership training to a new way
of managing. Personnel, v. 64, gerentes; para ter urna combinação apro- melhoria da qualidade mais eficientes, as
n.12, p.39-51, 1987. priada de qualificações técnicas e ge- entrevistas confirmaram que, com o avan-

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TREINAMENTO E GESTÃO DA QUALIDADE

ço do programa, a alta direção passou a dirigidas para a mudança; os territórios dos


envolver-se diretamente, pela primeira cargas se interceptam, de modo que as outros
vez, na elaboração e implementação dos são tanto afetados por uma ação quanta neces-
programas de desenvolvimento gerencial. sários para ela; e a autonomia local é suficien-
Conseqüentemente, os diretores de recur- temente forte, de modo que os atores podem
sos humanos consideravam que agora prosseguir com ações significativas sem ter de
existia uma ligação forte entre o conteúdo aguardar autorização de superiores".
desses programas e a estratégia de negó- Outro item destacado por Kanter é a ro-
cios das empresas. Era como se agora fos- tação de cargos dos gerentes. Ela conside-
se possível perceber um rumo claro para ra que essa mobilidade é uma condição
esses programas. Antes desse maior en- facilitadora para a constituição de estru-
volvimento da alta direção, organizavam- turas em rede (networks) nas empresas,
se cursos e programas para os gerentes em contribuindo para melhor comunicação e
função de conjunturas específicas ou mes- eliminação de barreiras entre os departa-
mo para manter a rotina, mas sem a noção mentos. O ponto crítico nesse esforço de
de um propósito claro em termos de me- reformar o trabalho dos gerentes é a in-
tas e qualificações a serem desenvolvidas. clusão de urna estrutura de resolução de
A maior dificuldade para o desenvol- problemas que atravesse a hierarquia. Na
vimento gerencial nas empresas da amos- amostra desta pesquisa, apenas duas em-
tra é a estrutura de gestão excessivamente presas praticavam a rotação de cargos.
segmentada e burocratizada, que inibe a
comunicação e a criatividade entre os ge- CONCLUSÕES
rentes. Na verdade, a estrutura organiza-
cional das empresas está muito longe do A análise comparativa entre a pontua-
quadro descrito por Kanter'" relativo a ção conferida às empresas na área de qua-
empresas inovadoras americanas: "Os in- lidade com a pontuação conferida à orga-
centivos para a iniciativa derivam de situações nização do treinamento" mostrou que se
onde a descrição da carga é feita de forma am- chegou a uma classificaçãobastante seme-
pla, as tarefas são ambíguas, não-rotineiras, e lhante (ver tabelas 6 e 7). Mais importante
ainda, nenhuma empresa mal colocada
nos critérios de treinamento obteve uma
boa pontuação para sua gestão da quali-
dade. Apesar da subjetividade envolvida
no processo de avaliação da gestão da qua-
Colocação em lidade e, mais ainda, da organização do
termos de gestão treinamento numa empresa, os dados ob-
da qualidade treinamento
tidos corroboram as relações de causali-
dade desenvolvidas neste trabalho:

a. as empresas mais bem colocadas em ter-


mos de gestão da qualidade foram jus-
tamente aquelas que apresentaram pro-
gramas de treinamento mais desenvol-
vidos;
b. os gerentes entrevistados reconheceram
a importância das políticas de treina-
mento para explicar os resultados (po- 23. KANTER, R. M. The change
sitivos ou negativos) apresentados na masters - corporate entrepte-
área de garantia da qualidade; neur.sat work. London: Unwin,
1984.
c. a história mais detalhada de alguns pro-
gralnas de qualidade evidenciou a in-
fluência do treinamento sobre o desem- 24. Esta análise está desenvol-
vida em RABELD, F. M. Qualida-
penho do programa de qualidade da de e recursos humanos na in-
empresa. O dústria brasileira de autope-
ças. São Paulo: Instituto de
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~ 0950302 dual de Campinas, 1994 (Tese
de Doutorado).

Artigo recebido pela Redação da RAE em fevereiro/1995, avaliado e aprovado para publicação em março/1995. 19

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