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Pe.

CARLOS ORTIZ FINALIDADE DESTE OPÚSCULO

Este opúsculo foi escrito para os jovens militantes e dirigentes, e ainda


para os assistentes de grupos juvenis de Ação Católica.
Uma experiência não pequena nos tem feito compreender a importância
do tema deste livro. A ação no meio é a própria medula da Ação Católica.
Temos visto mais de um grupo juvenil de Ação Católica vegetando,
paralisado em seus élans de conquista, porque seus mentores e responsáveis
não compreenderam e não souberam resolver o problema da ação no meio.
Temos visto secções de juventude emprazadas, por longo tempo, no seu

PRESENÇA
Princípios de ação no meio
entusiasmo apostólico, revigoraram-se como por encanto, quando se lhes
infundiu o espírito largo e a mentalidade libertadora de um empolgante ideal
de conquista e de penetração.
Não duvidamos que este trabalho suscite dissenções e polêmicas. Mas
“Pai... eu não vos peço que os é preciso reconhecer o papel da polêmica, na agitação e fixação das ideias. É
tireis do mundo, mas que os
preserveis do mal”. (Jo 17,15) na forja de calorosos debates que se tempera o aço de duradouras convicções.
Queira Deus possa este livro ajudar a criar em todos os grupos
paroquiais e diocesanos de Ação Católica uma envolvente “mística de
conquista” e uma sede inquietante de espaços vitais para o Cristo e para a
Igreja.
P. C. O.

Edições “FLAMA”
Distrib.
Livraria Católica I
Cx. Postal, 2177 – São Paulo
O CRISTÃO E O MUNDO Alguns assumem, a-priori, uma atitude de desprezo. Interpretando a seu
VÁRIAS ATITUDES modo o evangelho, numa exegese apresada, eles costumam repetir que o
de desprezo;
de temor e de fuga; mundo foi amaldiçoado por Cristo. Gostam de dizer que “o mundo está
de melodrama; colocado na maldade”; que Jesus Cristo “não ora pelo mundo”; que a melhor
de compreensão.
coisa que Ele poderia ter feito, Ele o fez, isto é, preveniu os seus: “Mundus vos
O DEVER DA PRESENÇA odit” – o mundo vos odeia.
O PECADO DA AUSÊNCIA
Outros há que assumem diante do mundo uma atitude de temor e de
À medida em que a Ação Católica se desenvolve e inquieta nas almas fuga. Tem medo da contaminação. E então fecham-se. Organizam-se em
as reservas apostólicas adormecidas, uma questão vai se pondo a cada dirigente pequeninos grupos impermeáveis e compactos. Fazem suas “capelinhas”, a que
e a cada militante: Qual o papel do cristão no mundo? Paul Dabin, S. J., denomina de pequenos “ghettos católicos”.
Pois, se a Ação Católica, como disse o Pio XI, é “Vida Católica”, e se Outros, ainda, tomam diante do mundo e das coisas atrapalhadas que
vida é expansão, desdobramento, generosidade, é claro que o Cristão não pode vão por lá, aquela atitude que Felix Morlion, O. P., qualifica de
ser misântropo, um tipo enclausurado no pequenino caramujo de seu cômodo “melodramática” (1)1. Põem-se a lamuriar das coisas inutilmente. Dizem de
egoísmo, mas há de informar cristãmente toda a vida que o cerca. tudo e para todos: “O mundo vai mal”.
Daí porque, em função da Ação Católica, os teólogos já começam a Não lhes passa pela cabeça, no entanto, que irá de mal a pior, enquanto
situar e resolver com mais carinho um problema que até aqui não os preocupara os homens, capazes de saneá-lo ou purificá-lo, insistirem em sua política de
tanto. É o problema da relação entre o católico e a vida temporal, entre o cristão avestruz ou na sua comodíssima tática de ausência.
e o mundo. Há, felizmente, uma atitude digna do cristão diante do mundo. Atitude
que não é a do desprezo fariseu, nem a da fuga covarde, nem a do melodrama
VÁRIAS ATITUDES pueril. É a atitude de compreensão, para a transfiguração do mundo. O cristão
Se observarmos os católicos modernos, vamos ver que eles assumem pode e deve compreender o mundo, para sublimá-lo. E isto, por várias razões.
várias atitudes diante do mundo.

1 . Cf. Metodologia da Ação Católica – Ap. R. E. B., setembro de 1941.


Primeiramente, porque o mundo é obra de Deus. O artista imprime na ainda o mesmo autor – só se acha na consagração deste duplo compromisso:
sua obra mais modesta uma semelhança de seu gênio. Deus imprimiu também estar presente em si mesmo e estar presente no mundo (4)4.
nas coisas, traços de sua grandeza e de sua semelhança. “O cristão deve estar presente em toda parte – escreveu Maritain – e em
Obra de Deus, o mundo é ainda enriquecido pela onipresença divina. toda parte permanecer livre” (5)5.
Deus está em tudo em toda parte, di-lo São Tomás, pela sua potência, pela sua Não foi outro o desejo que Jesus formulou na hora arqui-solene de sua
presença, pela sua essência (2 2). Deus tudo envolve, tudo circunda, tudo prece sacerdotal. Falando dos seus e recomendando-os ao Pai, o Mestre Lhe
penetra. Na cerimônia tocante da sagração de um templo, o bispo canta os diz: “Pai, eu não vos peço que os tireis do mundo, mas que os guardeis do mal”
louvores da presença penetrante e invasora de Deus: “ó bem-aventurada e santa (6)6.
Trindade, que purificais tudo, que santificais tudo, que embelezais todas as
coisas! Ó bem-aventurada majestade de Deus, que encheis tudo, que contendes O DEVER DA PRESENÇA
tudo, que tudo dispondes! Ó bem-aventurada e santa Mão de Deus, que A presença consciente e eficaz do cristão no mundo é mais do que uma
santificais tudo, que semeais em profusão todas as coisas!”. conveniência. É uma necessidade e um dever.
Obra de Deus e enriquecido da divina ubiquidade, o mundo foi ainda Antes, um dever de apostolado. É preciso restaurar tudo em Cristo. É
remido por Jesus Cristo. Muitos dirão, é verdade, que o mundo criado por Deus preciso salgar. É necessário levedar. Mas só pode salgar o sal dentro da sopa.
foi transtornado pelo pecado do homem. Foi-o, em parte. Mas a redenção Leveda o fermento no seio da massa. Aliás, os escolásticos costumam repetir
copiosa de Jesus Cristo é capaz de restaurar os transtornos da malícia humana. que não há ação à distância – “non datur actio in distans”. E isto vale também
O mundo pode e deve ser transfigurado. Só o será pela presença no campo do apostolado cristão, especialmente em nossos dias de apostasias
consciente e eficaz do bom fermento do Cristo dentro dessa massa terrena. coletivas e trágicas.
Daniel Rops escreveu que “a afirmação do ser é uma total presença” O cristão deve estar presente em toda parte e sempre, para testemunhar
(3)3. Eis porque vimos há pouco como Deus, Plenitude do Ser, é também a a fé. Em toda parte a descrença campeia ativa ou se insinua venenosa. Onde
presença total, invasora, envolvente. E a salvação para o mundo – continua falta e fé, reina a descrença, a indiferença ou a crendice. É preciso, pois, que

2 6
Sum. Teol. p. 1, q. s, arts 1 e segs...0 Jo 17,15.
3
Ce qui meurt et ce qui naft. Plon, Paris.
4
Ce qui meurt et ce qui naft. Plon, Paris
5
Ap. Questions de conscience - La liberte du Chrétien.
haja testemunhas de Cristo – testes Christi – por toda parte, como os houve nos no mundo e de sua situação social, ou aí não vivem de modo integralmente
primeiros tempos de cristianismo. E no mundo neo-pagão de hoje essas cristão, nunca seria demais repetir aquelas palavras memoráveis de Leão XIII,
testemunhas vivas da mensagem divina serão o que foram os cristãos dos que valem por um slogan: “A covardia dos bons fomenta a audácia dos maus”.
séculos rubros da fé. Recuamos um passo, nossos adversários avançam dois. Vivemos nos
Porque lhe falta fé, também falta ao mundo a esperança. Há um tédio queixando de que nossos inimigos têm tudo nas mãos. Os inimigos têm a
por toda a parte. Por toda a parte, um cansaço de viver. Mesmo os jovens, não imprensa, o rádio, o cinema; têm as escolas, os salões, os clubes, os teatros, o
raro, são derrotados e pessimistas. Há meninos que maldizem o mundo e esporte.
rapazes que lastimam a vida como se fossem velhos vencidos em todas as Os inimigos têm tudo, sim. E se não têm tudo, têm quase tudo, e terão
pelejas. ainda muito mais, enquanto a nossa tática for a de desprezar platonicamente o
É preciso que haja por toda parte novos arautos da eterna esperança. E adversário, de fugir dele ou a de lamuriar sobre os destroços da derrota. Seria
ao cristão, presente em si mesmo e presente no mundo, essa tarefa apostólica necessário que os cristãos lá estivessem, onde eles lastimam que esteja o
de anunciar a esperança. adversário. E que lá estivessem, não fazendo a manobra do adversário, como
E, finalmente, ao mundo falta amor. Por mais que se fale de amor, o tanta vez sucede, ou prestando-se aos seus intentos. Mas que estivessem
mundo não sabe amar. E isto porque o amor é “vis unitiva” - é uma força de coesos, convictos de suas responsabilidades sociais e apostólicas de presença.
união – e o mundo dissociado de Cristo e de Deus perdeu o centro de sua Repetiremos: Presença consciente e eficiente.
unidade espiritual e interior. Falta ao mundo, dizia Bergson, uma efusão de
amor. O cristão deve estar presente, para derramar nas chagas doloridas do O PECADO DA AUSÊNCIA
mundo o bálsamo da caridade cristã. Há, pois, um dever de presença para o cristão. Dever que decorrer
Mas não é só por uma obrigação apostólica de testemunhar a fé, espontaneamente, naturalmente, de sua condição de batizado e de confirmado.
anunciar a esperança e difundir o amor, que o cristão deve estar sempre Batizado, cidadão da pátria sobrenatural da Igreja e futuro cidadão do
presente. É ainda por um dever militar de defesa de sua fé. céu – o cristão deve provar sua fidelidade e seu amor à sua vocação. Todo
Uma coisa é certa: De onde se retiram os bons, lá penetram os maus. cristão tem de realizar um destino, uma vocação. É necessariamente um
Os maus são audazes. E aos audazes – diz o adágio – a sorte ajuda. Audaces chamado, um convocado. A Igreja, em cujo organismo divino o batismo o
fortuna juvat. Eis porque aos cristãos que desertam covardemente de seu posto
articulou, a Igreja – do grego ekklesía – quer dizer vocação. Daí, é preciso que Há. Chamamos pecado de ausência a omissão do dever sobrenatural da
todo batizado recorde a sua vocação: “Videte vocationem vestram” (7 7). presença. A omissão consiste em deixar um bem possível e devido. O cristão
A vocação definitiva e última do batizado é realizar, na glória da visão, pode ir à Missa dominical. Deve, pois a Igreja lhe impõe tal obrigação. Faltar,
a sua eterna beatitude. Mas há pequenas vocações intermediárias dentro dessa pois, à Missa dominical é um grave pecado de omissão, um grave pecado de
grande vocação final. O cristão precisa demonstrar amor e fidelidade à sua ausência.
vocação eterna e à sua pátria definitiva do céu. E para provar-lhe tal amor e tal Suponhamos um ambiente de vida escolar, uma classe ginasial ou
fidelidade. Deus deu a cada cristão a sua pequenina pátria terrena. Esta pátria universitária. O jovem católico que convive com os colegas sem fé e sem Deus
terrena – dí-lo – Peguy – é uma miniatura do céu. E é na dedicação do cristão pode fazer alguma coisa, pelas suas atitudes, pela sua palavra e pelo seu
à sua pátria temporal, ao mundo que o cerca, que se prova o seu amor e a sua exemplo, para dar um pouco de sentido cristão àquele ambiente. Deve fazê-lo,
dedicação à pátria definitiva e celeste. pois o batismo e a confirmação fizeram dele a testemunha viva de Cristo. O
Dentro da Vocação, pois, há vocações. E esta vocação terrena do cristão dever da caridade cristã exige sua dedicação, sua influência ali dentro, pois é
é algo de bem concreto, de bastante objetivo. Consiste em ele continuar, no incrível que não se omita um dever de caridade quando há gente ferida à
mundo em que vive, em que labuta, em que sofre e em que rir, continuar a margem do caminho e nós não nos queremos dar ao trabalho cansativo de
tarefa de Cristo e da Igreja, isto é, continuar chamando, convocando. samaritanos.
Chamando e convocando tudo para a Igreja, para o Cristo e para o Pai. Pois bem. Aquele jovem passa toda a sua vida colegial e universitária
Este dever cívico sobrenatural ainda é mais explícito e exigente para o sem irradiar um lampejo de fé, sem comunicar um raio de esperança nem uma
confirmado. Para este o dever de presença é ainda uma questão de brios gota de amor. Presente em sua classe, nas rodas de seus condiscípulos, é ele
militares. Ele é o soldado do evangelho. Ele tem de assegurar e alargar espaço um grande ausente. O estudante está ali. O cristão ficou longe. Ele pode influir.
vital para o Cristo. E espaço vital para o Cristo é tudo, pois “tudo consta n’Ele”, Ele deve influir. Não o faz. Não houve um pecado de ausência e de omissão?
é todo âmbito de vida social em que haja almas que precisem de Redenção. E assim se diga do cristão em todos os âmbitos naturais de sua vida. No
Se há um dever preciso, concreto, de presença, haverá então um pecado meio em que trabalha, em que ganha o seu pão, em que se diverte, em qualquer
de ausência? meio em que ele pode atuar, porque é do meio e em que deve influir, porque é

7
I Cor.,1,26.
cristão, se o não faz, trai de algum modo, com mais ou menos consciência, com A MISSÃO SOCIAL DE JESUS CRISTO
maior ou menor responsabilidade, os seus compromissos sobrenaturais de Conversando com os homens.
Refúgios de Jesus.
presença e o seu dever apostólico de agir.
Missão social do cristão.
Adsum!

CONVERSANDO COM OS HOMENS


O profeta Baruc teve uma visão luminosa da missão social de Jesus
Cristo. E vaticinou-a: “Ele foi visto na terra e conversou com os homens” (8) 8.
Na Suma Teológica, São Tomás estuda cuidadosamente as razões da
sociabilidade de Jesus (9)9.
Para desmanchar as objeções que pretenderiam fazer de Jesus um
homem inacessível e arredio, o Doutor Angélico apresenta as razões pelas
quais o Mestre deveria ser social.
E isto, primeiramente, porque Ele devia ensinar. E é evidente que um
mestre não ensina, se não convive com seus alunos. E sobretudo numa escola
ideal, numa escola ativa, como a escola do Divino Mestre, se impõe uma
convivência muito mais viva e mais eficaz de quem leciona com seus
discípulos.
O sistema pedagógico de Jesus é o de se integrar na vida dos seus
discípulos. Ele se faz pequenino com as crianças, camponês com o homem do
campo, pescador á beira do lago. Suas parábolas são vivas e eternamente
II

8 9
Baruc 3,38. Sum. Teol. p.3, q. 40, art. 1 e segs...
instrutivas, porque foram colhidas da vida quotidiana, das labutas e alegrias Mas Jesus também consagrou, na sua vida azafamada de missionário,
diárias de cada homem. alguns instantes ao retiro. Ele se retirou mais de uma vez. E o evangelho narra
São parábolas como a do joio e do trigo, da dracma perdida, da ovelha que foram seus retiros a montanha, o deserto e a barca.
desgarrada, das bodas, tudo inspirado em cenas caseiras e em pequenos gestos Mas o retiro do Mestre não era uma fuga. Era, antes, uma consciência
quotidianos. de sua divina tarefa de presença. Ele se retira para a nossa instrução. E três
Ainda, Jesus deverá ser social por causa da sua missão libertadora. Ele coisas Jesus nos quis ensinar, diz São Tomás, retirando-se por vezes do
veio para libertar. Suas parábolas prediletas e mais comovedoras são as que burburinho da plebe e da lufa-lufa apostólica.
lembram sua missão libertadora. É a parábola do bom pastor, que dá a vida Ele quis ensinar que o missionário tem direito ao seu descanso corporal.
pelas ovelhas; que deixa noventa e nove ovelhas sós, para buscar a que se São Marcos narra que Ele convidou seus discípulos: “Vinde para um lugar
perdera; é o filho pródigo; é o bom samaritano; é tudo quanto acentua, afinal, separado e deserto e descansai um pouco, pois aqueles que iam e vinham eram
que “o Filho do homem veio para salvar o que perecera” (10)10. tantos que nem davam tempo aos discípulos para comerem” (12) 12.
E, finalmente, Jesus veio para unir, para restabelecer os laços rompidos O apóstolo deve orar. E embora sua vida toda possa e deva converter-
entre o homem e Deus. Daí porque Ele se quis revestir de nossa roupagem. se numa prece incessante, ele tem de reservar algum tempo de sua agitada
Fez-se carne. E desde esse momento é impossível considerar o mundo sem a tarefa para mergulhar-se naquilo que é especificamente oração.
Encarnação. E todo autêntico humanismo tem de ser teocêntrico e E ainda, enfim, quem trabalha e se afoba no campo da missão cristã
cristocêntrico, visto que o Filho de Deus se fez homem e foi exaltado da terra terá, sem dúvida, muita gente para cercá-lo de admiração e louvores. É preciso
para atrair tudo a Ele – “omnia traham ad meipsum” (11)11. não se envaidecer aos aplausos da classe e com o entusiasmo dos fãs. Daí
porque Jesus, vendo que as turbas o queriam aclamar e fazê-lo Rei, sumiu
REFÚGIOS DE JESUS prodigiosamente do meio delas.
A missão definitiva de Cristo, destinada, pois, a ensinar, a libertar e a
unir, deveria ser preparada. E a preparação remota de sua tarefa apostólica
foram seus trinta anos de vida silenciosa e oculta em Nazaré. A MISSÃO SOCIAL DO CRISTÃO

10
Mt., 18,11.
11
Jo. 12,32.
12
Marcos, 6,31.
O cristão é um outro Cristo. Ele prolonga como membro místico de seu Crisóstomo, sem sair do seu lugar, “todavia Ele não o fez, deixando-nos o
Corpo adorável, a Encarnação e a Redenção. exemplo para que andemos e busquemos o que perece, como o pastor busca a
Católico e apostólico, a todo cristão cabe uma parcela, ao menos, das ovelha perdida, como o médico procura o enfermo”. (14)14.
responsabilidades apostólicas da Igreja. Hoje, na Ação Católica, os leigos, O apostolado leigo, portanto, subtende o dever sagrado da presença,
convocados à participação do apostolado hierárquico, unem-se muito mais que decorre da missão social do cristão.
intimamente à missão apostólica da Igreja, que é a mesma apostólica missão
de Jesus Cristo. ADSUM!
Daí, pois, a missão social do cristão. O evangelho da missão dos Claudel vê a encarnação simbólica da aristocracia nesta divisa: Adsum!
discípulos é rico desses deveres sociais. “Ide” – diz Jesus. É o dever do contato. Adsum quer dizer presente! Daniel Rops comenta: “Presente em si,
Não há ação à distância. O apóstolo recebe a incumbência de procurar, de presente no mundo – no mundo como em si mesmo, em si mesmo como no
buscar, como o pastor, as suas ovelhas. mundo. Não há fórmula de vida pessoal mais rica nem mais imperiosa. Não há
“Ensinai todas as nações”. É o magistério divino comunicado aos Doze preceito mais fecundo para que nasça, de nossas ruínas, uma sociedade melhor”
e é a catolicidade de sua missão que aí se exprime. (15)15.
“Batizando-as...” – É o ministério sagrado para a comunicação da vida
de Deus aos homens. ADSUM! Presente!
“... ensinando-lhes a observar tudo quanto eu vos mandei” (13)13. – É a Aqueles que adotam diante do mundo e da vida a atitude de desprezo
vida cristã, e a harmonia da vida com a fé, ou antes, é a vida toda informada ou de fuga, blasfemam secretamente contra a obra de Deus. Desconhecem o
pela fé. valor eterno da missão de Cristo e ultrajam a Redenção.
Outro Cristo, o apóstolo leigo deve continuar e prolongar a tarefa de “O mundo e o tempo – escreveu Maritain – tem seu valor próprio, como
Cristo. Deve também, como Cristo, ensinar, libertar, unir. Para cumprir essa tem o seu próprio ser, e não se anulam pela eternidade... O que se pede ao
tríplice missão, disse o profeta que o Messias “foi visto na terra e conversou cristão não é que ele se refugie no espiritual, mas que ele tenha uma seiva pura
com os homens”. E embora Ele pudesse atrair tudo para si, comenta São João

13 14
Mt. 28,18-20 Ap. Sum. Teol. p. 3, q. 40, art. 1
15
Cf. op. cit..
para infundir no mundo; o que se lhe pede é a santificação da vida profana” III
(16)16. O DEVER DA PRESENÇA E O PERIGO DA FÉ
Oxalá compreendessem isso todos os nossos católicos. Veríamos então O que dizem por aí.
O que diz São Tomás.
brotarem vocações de apostolado por toda parte. Mas enquanto entendermos e
O que dizem os Pontífices.
dissermos que a vida católica importa uma mutilação de legítimos valores de O exemplo dos primeiros cristão.

vida e uma ruptura irrestrita com o mundo, nós fecharemos os espaços da


Redenção. Antipatizaremos os homens com a fé. O QUE DIZEM POR AÍ
“Morremos de ausência” – exclama Daniel Rops. Diz-se que os adágios ou provérbios são a sabedoria popular. É preciso
Viveremos de presença! – respondam todos os batizados conscientes de verificá-los de perto. Quando se submetem à análise certos provérbios, é fácil
seus votos. averiguar como há muitos deles que condensam antiquíssimas tradições de
Adsum! – diga cada cristão. Estou presente, Senhor, para fazer a vossa estupidez, e como há outros que apenas contêm verdades parciais.
vontade e apressar o vosso Reino. Leon Bloy escreveu uma “exegese dos lugares comuns”. Muitas dessas
ditas máximas da sabedoria burguesa já foram escalpeladas por ele.
Quando se apela ao sentido social e às responsabilidades apostólicas da
fé, surgem comumente os velhos rifões da sabedoria pacata. “Cada qual para
si, Deus para todos” – diz o burguês displicente. “Deus não pede tanto” –
repetem outros, esquecidos do que disse Maritain: “Chegou o momento em que
Deus pede tudo” (17)17.

17
16
Ap. Dominique Auvergne – Régards catholiques sur le monte. Ap. Dominique Auvergne – op. eit...
Acenai ao católico comodista e pacato com a tragédia das massas Isto, porém, é o que dizem e o que vai por aí.
apóstatas, das multidões descrentes ou supersticiosas, ele vos dirá, à queima-
roupa: “Exagero!” – nem se quer suspeitando do que disse Hello: “Se a palavra O QUE DIZ SÃO TOMÁS
exagero não existisse, o homem medíocre a teria inventado”. Ou talvez ele vos São Tomás estuda a questão da comunicação dos cristãos com os infiéis
receite a cômoda prudência da carne, condensada neste adágio: “Não somos a (18)18. Há casos em que se interdiz aos fiéis a comunicação com os infiéis. E
palmatória do mundo” – ignorando, ou fingindo ignorar que devêramos ser, no isto, diz ele, em duas hipóteses. Ou para castigo dos infiéis, ou para acautelar
entanto, “o sal” e “a luz”. os fiéis.
Convidai esse personagem para um trabalho de penetração e de No primeiro caso, a Igreja interdiz a convivência dos cristãos não com
conquista. Dizei-lhe que é preciso por um pouco da “seiva pura” do evangelho os pagãos, mas com os apóstatas e hereges, isto é, com aqueles que, depois de
nessa planta chagada do mundo. Ele rirá de vossos utópicos intentos. terem abraçado a fé, se tornaram perjuros e renegaram seus compromissos
É impossível tratar do mundo canceroso – diz ele – sem se contaminar. batismais. Estes são excomungados, isto é, são excluídos da comunhão e
Zombando das palavras da Escritura, ele fará delas um manto de preguiçoso, convivência dos cristãos por uma sentença da Igreja, para opróbrio e castigo
para vos dizer: “Quem ama o perigoso, perece nele”. Ou então, ele vos de sua infidelidade.
sussurrará a palavra do salmo: “Como o santo serás santo, perverter-te-ás com No segundo caso, diz São Tomás, por vezes se interdiz aos fiéis a
o perverso”. Ou recordará a velha sentença de seu caderno de caligrafia: “Dize- convivência com os infiéis, para acautelar o tesouro da fé. Aqui, porém, não há
me com quem andas e te direi que és”. É fértil, a seu modo, o egoísmo humano. rigor tão grande, segundo o Angélico, mas se levam em conta as circunstâncias
E diante dessa “sabedoria” em conversa, muita gente se recusa a de pessoas, negócios e de tempos.
cumprir os seus deveres sagrados de apostolado e foge às responsabilidades da Quanto às pessoas, é necessário distinguir aqueles que são robustos na
presença. fé e aqueles que são débeis em suas convicções. Às pessoas robustas na fé,
Hábeis “desninhadores de heresia”, eles denunciam nos que correm e nada impede que tenham contato e convívio com os infiéis, antes este convívio
se agitam a famigerada “heresia das obras”, e não se pejam de cruzar os braços pode ser benéfico para eles e encaminhar-lhes a conversão. Não se dá o mesmo
em sua deliciosa “heresia da contemplação”.

18
Sum. Teol. 2-2, q. 10, art. 9. Acerca da convivência com os pecadores, veja-se ainda a luminosa
distinção de São Tomás na 2-2, q. 25, a. 6 ad 5. É a justificativa da ação no meio, segundo o espírito da
Ação Católica.
com os débeis em suas convicções, que no contato com os infiéis teriam mais Católica, então é necessário consultar os documentos pontificais. O que dizem
probabilidade de serem conquistados do que de conquistar. os soberanos pontífices, guardas zelosos da fé e dos costumes cristãos, a cerca
Ainda as circunstâncias de negócios e de tempos poderiam justificar, deste dever social e apostólico da presença?
segundo São Tomás, o comércio dos cristãos com os infiéis. Ouçamos Pio XI e compreendamos como são largas, ilimitadas, as
Há, pois, bastante largueza e compreensão nessa teologia de São fronteiras do apostolado leigo: “Até aonde deve ir o apostolado? Pode-se dizer
Tomás. Coisa que não sucede em certas teologias de aspecto sistematicamente sem receios que ele deve penetrar em toda parte. Noutros termos, seu campo
odioso e proibitivo. São Tomás concede, dadas as circunstâncias de pessoas, de ação está em toda parte, em toda parte onde estiver em jogo a glória de Deus,
tempos e negócios, a possibilidade e a legitimidade de um cristão conviver com o bem das almas, a razão, o julgamento autorizado entre o bem e o mal, a lei
infiéis. Há quem negue o direito de cristãos conviverem com cristãos. de Deus e a aplicação da lei de Deus.
Com efeito, esse mundo chagado que aí está, à espera de um médico, é “Evidentemente, não se pode falar em limites de tempo e lugar, pois
um mundo habitado por cristãos. Cristãos cujo senso divino se embotou, seja. não se lhe pode fixar limite material. D’onde se pode afirmar: Em toda parte e
Cristãos em cujas almas não palpita mais a vida sobrenatural da graça, sempre!
concedamos. Mas são cristãos de reservas talvez mais ricas do que certas “Em toda parte e todas as vezes que se trata de coisas, de problemas
ovelhas crescidas no aprisco. Apesar de viverem numa atmosfera neo-pagã, morais; cada vez em que for questão do bem ou do mal, da lei divina e da lei
ainda se distingue neles a fisionomia batismal, e na sua alma ainda não se do mundo, da moralidade ou da imoralidade, do bem ou do prejuízo das almas.
apagou de todo a luz da fé. Em toda parte e em todas as vezes em que for preciso penetrar o apostolado;
Que direitos discricionários temos nós de excomungar quem a Igreja em toda parte e todas as vezes em que deva surgir, chamada pelo próprio
ainda não excomungou? apostolado, deve ser encontrada a cooperação da Ação Católica” (19)19.
Mas o Papa não ficou no texto desse documento insistente. Na sua carta
O QUE DIZEM OS PONTÍFICES notável aos Bispos das Filipinas, que é o seu testamento em matéria de Ação
Quando se trata de definir os campos da atividade apostólica do cristão Católica, sua derradeira palavra de ordem, Pio XI escreveu assim: “Instruídos
em nossos dias, máxime se este é um leigo militante nas hostes da Ação pelos sacerdotes que asseguram sua formação espiritual, vivendo integralmente

19
Disc. às associações católicas de Roma, 19 de abril de 1931.
a vida cristã, esses leigos preparam caminho à luz da verdade e à ação tática inteligente de fermentar lentamente o mundo pagão em que insinuaram
santificadora da graça, nos meios afastados da Igreja ou hostis à sua ação” o levedo providencial do evangelho.
(20)20. E não há dúvida que a tática foi feliz. É ler Tertuliano, para se ver como
Pio XII falou, no começo de seu pontificado, às Ligas Femininas de depois de alguns anos toda a vida social estava envolvida pelas novas falanges
Ação Católica, reunidas em Roma num congresso internacional de estudos. Eis conquistadoras. É com indisfarçável altivez que o apologista escreve: “Somos
o que disse o Papa: “Houve um tempo – talvez – em que a atividade apostólica de ontem, e enchemos as vossas cidades, castelos, municípios, tribos, decúrias,
da mulher podia limitar-se a salvaguardar e entreter a vida cristã do lar. Não é palácio, senado e foro. Só deixamos vazios os vossos templos” (22) 22.
assim em nossos dias, em que toda a vida familiar sofre necessária e Realmente, a ocupação não pudera ser mais hábil nem mais perfeita.
imediatamente a influência do meio social no qual se desenvolve. Desta Mas só a explica uma mentalidade larga e arejada, um espírito conquistador e
ambiência social dependerá, em larga escala, a temperatura espiritual da compreensivo, um agudo sentido social-cristão. Era, sem dúvida, o que
família, portanto sua vida moral e religiosa. Eis porque a mulher católica de animava os nossos antepassados na fé.
hoje toma consciência de seus deveres sociais” (21)21. Esse espírito largo e compreensivo dos primeiros cristãos era-lhes
infundido pelos santos e solenes padres da Igreja, os doutores imortais da fé.
O EXEMPLO DOS PRIMEIROS CRISTÃOS Assim é que Santo Inácio, escrevendo a Diogneto, ainda na madrugada da
É fácil compreender que os primeiros cristãos tiveram de enfrentar o cristandade, já louvava os costumes dos cristãos.
paganismo, de viver cristãmente num clima pagão, e deveram realizar o E é interessante notar como o santo Bispo não louvava a vida antissocial
prodígio de purificar sobrenaturalmente a atmosfera pagã, envolvente, em que ou excêntrica dos fiéis. Mas louvava exatamente, pelo contrário, o fato de eles
viveram. viverem no mundo, sem se agarrarem à terra. Viviam para o céu, peregrinando
Eles tinham mais fé, provavelmente, na virtude infinita da graça. E humilde e corajosamente no mundo. Ouçamos essa voz tão nova, quanto
ainda por que eram poucos, de início, nem mesmo humanamente poderiam ter perene, de eterna sabedoria cristã: “Os cristãos não são diferentes dos outros
sonhado em fechar-se em “capelinhas” estreitas, mas tiveram, ao contrário, a homens, nem pela sua terra, nem pela sua língua, nem pelos seus costumes.
Não habitam cidades próprias, não usam de insólita linguagem nem levam vida

20 22
Pio XI aos Bispos Filipinos, 18 de janeiro de 1939. Apologeticum, 37, 7-12.
21
Dia 14 de abril de 1939.
singular... Quer habitem cidades gregas ou bárbaras, como a sorte lhes tenha que encerrados no mundo; são eles que contém o mundo... Por isso, Deus os
designado, seguem os costumes dos indígenas no trajar, na alimentação e em alistou num exército, de que lhes não é lícito desertar” (24)24.
tudo mais, levando, conforme testemunham todos, um admirável gênero de Michel Christian escreveu coisas curiosas sobre o esporte na Igreja
vida. Cada qual vive na sua pátria, mas como inquilino. Participam de tudo primitiva (25)25.
como cidadãos e tudo suportam como peregrinos. Toda região é pátria deles, e Recordando o martírio de São Policarpo, bispo de Esmirna, o autor cita
toda pátria é peregrina” (23)23. um trecho da carta de Santo Inácio, encorajando Policarpo. Carta de atleta para
Profunda e comovedora compreensão da dupla realidade transcendental atleta. Ei-la: “Avança ainda com mais ardor em tua carreira. Leva, como atleta
e peregrinal da Igreja! É pena que em nossos séculos egoístas os devotos perfeito, as enfermidades de todos, pois quanto maior a pena, maior a
modernos desafinem dessa concepção primitiva e genuinamente cristã das recompensa. Pratica a sobriedade, como um atleta de Deus, pois o prêmio que
coisas e do mundo. se nos oferece é a incorruptibilidade da vida eterna. Um verdadeiro campeão
O desprezo que o devoto moderno, instalado na sacristia da matriz, sabe triunfar, apesar de todos os golpes que dilaceram sua carne. Com maior
manifesta contra o mundo, não tem nada dessa concepção largamente cristã da razão devemos suportar tudo por nosso Deus”.
vida, mas tem hálito forte de jansenismo, tem cheiro maniqueu. Prefaciando a obra de M. Christian, o cardeal Baudrillard sugere o
Santo Inácio vai adiante. Ele ensina o dever sagrado da presença. O nome de São Paulo para patrono dos esportes e dos sportmen. E com muita
cristão, porém, não estará no mundo agarrado ao mundo e envolvido por ele, razão, pois, “incessantemente os termos de estádio, pista, arena, atleta, carreira,
mas o cristão há de informar o mundo, como a alma informa o corpo. Ouçamo- combate, prêmio e coroa voltam nas epístolas de São Paulo. Ele admitia a vida
lo: “Em resumo: o que é a alma para o corpo, isto são os cristãos no mundo. A de seu tempo, associava-se a ela, usava sua linguagem, mas vivificava e
alma se distribui por todos os membros do corpo; os cristãos, pelas cidades do transfigurava tudo ao sopro da fé, pela flama de seu zelo. Tal foi o Apóstolo
mundo. Embora habite no corpo, a alma não é do corpo; os cristãos, residindo dos gentios”.
no mundo, não são do mundo. A alma invisível guarda-se no corpo visível; a E foram assim os nossos antepassados na fé.
piedade invisível dos cristãos permanece, embora entretidos com o mundo. A
alma, embora encerrada no corpo, ela é que contém o corpo; os cristãos, como

23 25
Ep. Ad Diognetum, c. V. 1-17. L’esprit carétien dans le spot – Desclée et Brouwer, Paris.
24
Ap. G. Rauschen – Florilegium Patristicum – fasc. Primus, Bonnae, 1904.
Pio XI disse textualmente que “a Ação Católica renova e continua o que
IV se fez nos primeiros dias do cristianismo.... São magistrados, soldados,
AÇÃO NO MUNDO mulheres e crianças que vêm em auxílio dos apóstolos, que multiplicam a
Objetam os apressados. atividade destes, dando-lhes meios de ir a toda parte, e fazer essa obra de
A tese apostólica.
A tese individualista. penetração em todos os meios, tanto nas massas como nos palácios dos
O conceito do meio. Césares” (26)26.
O meio e o homem.
Resumindo. E porque a Ação Católica requer hoje essa penetração nos meios
sociais? Exatamente porque hoje, “como em outras épocas da história da Igreja,
OBJETAM OS APRESSADOS
nós enfrentamos um mundo engolfado no paganismo” – explica ainda Pio XI.
Sem uma autêntica “mística de conquista”, os grupos de Ação Católica
Os apressados que objetam contra a ação no meio, alegando a
vegetarão inutilmente. Sem o sentido agudo das responsabilidades apostólicas
descristianização ou a paganização dos ambientes sociais, por certo não
de penetração e de presença, sem a preocupação absorvente de levedar os
entenderam ainda o abecê da Ação Católica especializada.
meios sociais, a Ação Católica não teria razão de ser. Seria uma irmandade a
Pois, se os ambientes sociais fossem puros, fossem sadios e cristãos,
mais. E Pio XI teria perdido seu tempo.
não haveria necessidade de se levar lá dentro o fermento evangélico. Se na
Não basta tornar um manual de Ação Católica e ler-lhe as linhas
formação que se dá aos grupos especializados de Ação Católica se insiste tanto
mestras e os princípios gerais de técnica. É preciso ir além. É preciso estudar
sobre o dever sagrado e apostólico da ação no meio, é precisamente porque
os documentos pontificais. É preciso palpar, nas revistas dos movimentos
esses meios são descristianizados ou pagãos, organizados sem Deus ou contra
especializados, o espírito de cada movimento. É preciso conviver com núcleos
Deus.
de Ação Católica, conhecer-lhes a vida palpitante e segurar nas mãos os
Quem desconhece o ambiente pestilento da maioria das fábricas
dolorosos problemas que neles se suscitam.
modernas, das quais, segundo a expressão lapidar de Pio XI, “a matéria prima
Então é possível a gente se convencer de que, com efeito, a ação no
sai sublimada e almas corrompidas?” Pois bem. É nesse ambiente
meio deve caracterizar a Ação Católica especializada e dar-lhe a sua razão de
descristianizado e paganizante que se tem de exercer a ação apostólica do
ser.
militante jocista.

26
Disc. de 12 de junho 1929.
Quem não sabe qual é, geralmente, o clima moral das grandes escolas A Ação Católica é visceralmente apostólica, essencialmente
secundárias e superiores? Pois é nesse ambiente saturado de laicismo, de conquistadora. Ou ela é isso, ou não é nada!
materialismo ou de paganismo, que se há de exercer a ação do jovem estudante, Eis como se exprime a respeito, com especial veemência, o cônego
do jovem universitário. Tiberghien: “A Ação Católica não é uma obra pia, nem uma organização de
Quem não sabe o que seja o meio tipicamente burguês? Esse ambiente defesa, nem mesmo um grupo educativo. Certamente, ela é educativa na base.
profano da vida burguesa, dos salões, dos clubes, dos passatempos e das Mas seu fim é a conquista das almas que escaparam até aqui à ação da Igreja.
diversões burguesas? Pois é ai, dentro dessa atmosfera naturalista ou pagã que É a conquista das almas que não estão no redil. É, essencialmente, ação
deve atuar e influir a jovem ou o moço burguês de Ação Católica. missionária” (27)27.
E ainda mais. Todo alheiamento, toda ausência sistemática à vida do Para o Cardeal Pizzardo, igualmente, a razão da A. C. é “a conquista
seu meio é uma atitude artificial, é um individualismo nefasto e uma traição à ou a reconquista das almas” (28)28.
sua classe e ao seu meio. Por ser uma ação de conquistas, a A. C. é necessariamente, uma ação
É, por conseguinte, num perfeito desconhecimento de causa que no meio. Ouçamos ainda a palavra autorizada de Tiberghien: “A. C. é uma ação
objetam os apressados. conquistadora, ação que não se faz dentro da obra, mas fora, pela obra, em
pleno meio pagão a recristianizar... Eis o paradoxo que um jocista exprimia,
A TESE APÓSTOLICA dizendo: Interessante! Antigamente nos diziam que misturando uma pera podre
Já dissemos que a ação no meio é a razão de ser da Ação Católica com peras boas, necessariamente as boas viriam a apodrecer. Hoje dizem-nos
especializada. Cercear aos grupos de Ação Católica suas possibilidades de o contrário” (29)29.
penetração, tolher a conquistas dos ambientes sociais com mil dispositivos E quanta gente rotineira e simplista ainda não calunia hoje os métodos
proibitivos e antipáticos, é transformar a Ação Católica em uma simples da A. C. especializada com o sediço argumento das peras boas e da pera podre!
irmandade. É falsificar o conceito das especializações expô-las à morte por
inanição. A TESE INDIVIDUALISTA

27 29
Ap. Lelotte, s. j. – Pour réaliser l’A. C. Ap. Doctrine Commune.
28
Disc. de 29 de março de 1934.
A tese da ação no meio tem de enfrentar uma mentalidade. É a Ouvimos falar com frequência em meios operários, meio burguês, rural,
mentalidade individualista, que se traduz na lei do menor esforço. militar, marinheiro, estudante, funcionário, etc.. Afinal, o que é meio?
É pasmoso como nas rodas mais piedosas o individualismo cavou Poderíamos chamá-lo, com Lelotte, “uma comunhão de interesses e de
sulcos tão fundos! No evangelho, a mulher toma o fermento e mete-o na massa, vida, que se traduz em atitudes comuns” (30)30.
para que toda a massa se levede. O individualista diz: Ora! O que importa a O conceito do meio é, portanto, mais elástico do que o conceito de
massa! A massa já está perdida! Salvemos o fermento! classe. Assim é que, quando dizemos meio burguês, meio operário, meio rural
No evangelho, a mulher sai atrás da dracma perdida. Procura-a com – isto não coincide exatamente com a classe burguesa, classe operária, classe
ânsia. Acha-a, com intraduzível satisfação e chama a vizinhança para se alegrar rural.
com ela. O individualista comenta: Mulher tola! Para que toda essa correria? A classe caracteriza-se pela profissão. A noção de meio, mais ampla e
Por causa de uma dracma?!... envolvente, caracteriza-se por uma soma de interesses comuns de atitudes
No evangelho o Bom Pastor larga as noventa e nove ovelhas fiéis e vai comuns, em face dos problemas e da vida.
da ovelha tresmalhada. O individualista critica: Que afobado, esse pastor! A As classes não se interpenetram, visto que se caracterizam pela
ovelha perdida que se dane, se não quiser achar, por conta própria, as portas do profissão. Os meios podem interpenetrar-se. Nas pequeninas cidades do
redil! interior, de tipo rural, a vida do campo cria uma mentalidade camponesa. O
A A. C. tem o sentido evangélico das parábolas do fermento, da dracma, meio dominante daquela cidade, daquela aldeia, é o meio rural. E deste meio
da ovelha tresmalhada. O individualista tem o senso agudo das coisas feitas, rural são tributários os possíveis burgueses que ali residiam como o professor,
tem a psicologia camarada do menor esforço. o médico, o farmacêutico e outros mais.
O estudante, filho de operário, embora estudante por profissão, é
O CONCEITO DO MEIO todavia tributário de dois meios, o meio estudante e o meio operário.
A palavra meio não é velha em sociologia. Antes, é tão velha quanto a
própria palavra sociologia. Há poucos anos esses termos – meio, sociologia – O MEIO E O HOMEM
completaram cem anos de idade. Foi Augusto Comte quem os vulgarizou.

30
Cf. op. cit..
É fácil compreender a influência do meio na vida de uma pessoa. “Os lá dentro, nos elementos indígenas, nativos de cada meio. Cortar o contato
meios são, para cada homem – escreve Desbuquois – uma verdadeira quinta- destes com o seu meio é a maior prova de inépcia que se possa dar um dirigente
essência da sociedade; meios que tem seus interesses próprios, permanentes, ou um assistente de grupos de Ação Católica.
seu modo de conceber a vida, envolvendo e penetrando o indivíduo; é o meio Discutiu-se muito, há alguns anos atrás, nos movimentos especializados
que o obriga, quer queira, quer não, a agir em um determinado sentido, da Ação Católica europeia, se o problema do apostolado moderno é uma
definindo, literalmente, seu estado de vida interior e exterior” (31)31. questão de preservação ou de conquista. Hoje, assistentes eclesiásticos e
“O meio – prossegue Lelotte – envolve literalmente os indivíduos; dirigentes leigos consideram liquidada a questão. O apostolado moderno é,
envolve-os de tal modo, que prevê as sanções sociais contra aqueles que eminentemente, um apostolado de conquista. O apóstolo preserva-se, no seu
ousassem atacar de frente a atitude tradicional do grupo, ou que quisessem élan generoso de conquista.
singularizar-se, recusando dobrar-se aos seus reflexos e preconceitos” (32)32. A propósito, mais estas ricas considerações de Louis Berne, s. j.: “Hoje,
“É o meio que forma e é o meio que deforma – escreve Bayart. É o meio menos do que nunca, não nos é permitido fechar sob chaves o pequenino
que é paganizante ou cristianizante. É o meio que é corruptor ou é educador” rebanho de almas boas. Essas boas almas vivem num mundo cuja atmosfera as
(33)33. penetra. É preciso que elas ganhem o mundo, ou que o mundo as ganhe. Todos
Mas... se concedemos tudo isso; se admitimos que o homem é, em tão os preservativos são vãos. Todas as barreiras isolantes têm algo de ilusório,
larga escala, um produto do meio, damos então a mão à palmatória dos exceto uma só, que é o entusiasmo, o zelo interior das almas.
adversários de nossa tese sobre a ação do meio. “Quando se tem essa preocupação de dar Deus às almas, tem-se então
Devagar! Não é bem assim. Se concedemos, com Desbuquois, que “o o preservativo contra todos os ambientes. É possível preservar-se, sem nem
meio é uma verdadeira necessidade biológica”; se admitimos que o meio é sequer pensar nisso. Há uma só defesa verdadeira, é ter Cristo consigo. E só se
envolvente; se aceitamos a ação corrosiva ou educadora do meio – tudo foi tem o Cristo de verdade, com a condição de O comunicar”.
para dar peso a nossa argumentação. “Almas preservadas... sem dúvida; preservadas como o diamante... mas
É exatamente por ser o meio um “hortus conclusus”, impermeável aos preservadas pela conquista. Não há outro método” (34)34.
exóticos e intrusos, que toda possibilidade de recristianização dos mesmos está

31 34
Em Doctrine Commune. Pour la conquête.
32
Cf. op. cit..
33
Action Catholique specialisée.
Não reduzamos, pois, a Igreja, às humilhantes condições de um “ghetto
católico”, diz-nos o P. Dabin. E como é triste verificar que há tantos
inconscientes comprometidos nessa ingrata tarefa de limitar os espaços da
Redenção!

RESUMINDO
Retomando tudo quanto foi dito, pesamos que se pode condensar em
três itens a matéria deste capítulo:
A Ação Católica é, essencialmente, um trabalho de conquista, ação V
missionária, interna. AÇÃO NO MEIO E TÉCNICA DE CONQUISTA
A Ação Católica especializada é, por natureza, a conquista do meio por
apóstolos indígenas, nativos de cada meio. PREÂMBULOS À CONQUISTA:
Ser do meio.
A conquista ou reconquista de um meio não se opera em terreno nosso, Contato com seu meio.

em terreno cristão e sadio, mas em pleno terreno pagão. Compreensão do meio.


Domínio do meio.

RECURSOS DE CONQUISTAS:
O apostolado da palavra.
O apostolado do exemplo.
O apostolado da alegria.
O apostolado da oração.
O apostolado do sacrifício.

PREÂMBULOS À CONQUISTA
A Ação Católica, segundo exigências de sua própria natureza, destina-
se, como já foi dito, à penetração e à conquista. Não há conquista sem ação no
meio. E a ação no meio subentende uma técnica.
Quando falamos em técnica de conquista, não se pense que nós de ideias tão cristalinas. No entanto, esta especialização de apóstolos segundo
fazemos apologia dos processos mecânicos no mundo insondável das almas. a diversidade específica de ambientes é a riqueza da Ação Católica. Pio XI
Reconhecemos que o problema da conquista é, sobretudo, um problema da chamou a essa especialização uma “questão vital” para a Ação Católica, e Pio
graça. Mas, como a graça não destrói a natureza nem a deforma, antes, supõe XII denominou-a sua “regra de ouro”.
e sublima a natureza, é claro que a conquista implica uma preparação, o Pollet, o. p., dá-se ao trabalho de estudar mesmo as razões profundas
conhecimento de umas tantas táticas de ordem psicológica e pedagógica, que da especialização em Ação Católica (35)35. A especialização é mais do que
vulgarmente se denomina técnica de conquista. uma simples convenção técnica. É uma dedução espontânea de riquíssimos
princípios.

Ser do meio É conhecido o adágio “similis simili gaudet”. É natural de que a gente
Antes de tudo, quem quer conquistar deve ser do meio. Não é ocioso conviva melhor com quem nos é mais próximo pelos elos tão naturais da
voltar a este tema, depois do que ficou estabelecido no capítulo precedente. mesma vida familiar ou social.
Aplicamos aqui os princípios gerais que já foram desenvolvidos. E não é só. É dos planos magníficos da Providência divina servir-se das
O apóstolo deve ser do seu meio. Seria ingênuo o estudante que criaturas superiores para conduzir os inferiores. Assim é que Deus se serve dos
quisesse realizar a conquista do meio operário, ou o operário que se julgasse anjos mais eminentes para iluminar os anjos menores. Os anjos conduzem os
capaz de influir no meio estudante. Um rapaz que nunca teve vocação esportiva homens. Entre os homens que foram assinalados por Deus e que pertencem à
ou social, por exemplo, que nunca frequentou salões e nem clubes, não seria sua Igreja, há a hierarquia que conduz os fiéis. Entre os fiéis, os mais
um elemento apostólico para atingir tais ambientes. Seria ali dentro um peixe favorecidos pela graça e pelas luzes de Deus hão de auxiliar a Providência
fora d´água. divina, conduzindo os outros que não foram assim tão ricamente aquinhoados.
É bastante conhecida a diretriz lapidar de Pio XI. “O primeiro e Eis a sabedoria dos planos providenciais pedindo, pois, de todo cristão
imediato apóstolo do operário é o operário; do industrial, o industrial, do consciente, sua generosidade apostólica. O cristão é, por conseguinte, um
comerciário, o comerciário” – e assim por diante. Isto parece não ser difícil de responsável.
compreender. É, todavia, notável a confusão que por vezes que se faz em torno

35
L’ A. C. à la lumiére de la théologie thomiste.
Gratry dizia que “um cristão é um homem responsável por todos os Daí para o militante, a necessidade do contato com o seu meio. Não um
homens”. Este senso de responsabilidade e essa generosidade apostólica, vimo- contato apenas material, mas um contato inteligente e afetuoso com o seu
la traduzida, certa vez, no cartaz de uma sede de juventude: “Ter é dar. Saber ambiente. Um contato de presença viva, consciente e eficaz.
é ensinar. Poder é fazer”.
Ainda há mais. A caridade tem ordem. “Tudo o que é de Deus é Compreensão e amor do meio
ordenado” – disse o Apóstolo, pois Deus fez tudo “com ordem, peso e medida”. É necessário fazer compreender ao apóstolo o sentido providencial do
Ora, é da ordem da caridade que amemos mais àqueles que nos são mais meio na sua vida e na sua vocação divina. Deus quer que os homens se
próximos, quer pelos laços de sangue, quer pelos elos da mesma vida cívica e santifiquem nos meios providenciais em que foram colocados. E o cristão há
social. Daí, os laços e os compromissos de caridade fraterna entre os indivíduos de santificar-se NO seu meio, PELO seu meio, não APESAR do seu meio.
do mesmo meio social são, necessariamente, mais estreitos e urgentes. Mais, o cristão há de santificar-se, SANTIFICANDO O SEU MEIO.
Contato com o meio
Compreensão não só do destino providencial do meio, mas
Como condição preliminar para a conquista não basta, porém, que o
compreensão, ainda, das realidades quotidianas do seu meio. É preciso aceitar
apóstolo seja do meio. É preciso ter contato com o seu meio. É conhecido o
os dados quotidianos da experiência, obtidos nos grupos de Ação Católica, e
adágio da Escola: “non datur actio in distans” – não há ação à distância.
concluir que há muita gente que vive num determinado meio sem ter dele
Não negamos a ação sobrenatural de alma sobre alma, no mistério
consciência alguma. São bem poucos, por exemplo, os operários que entendem
profundo da comunhão dos santos. Antes, assentamos, em outro trabalho, as
realmente o meio operário, que tenham uma concepção clara dos problemas,
leis de solidariedade, de reversibilidade e de substituição que regem a
das angústias da vida operária. Bem poucos são capazes de apontar as
economia do Corpo Místico de Cristo (36)36.
qualidades e os defeitos do meio em que vivem.
Queremos, porém, recordar que essa ação misteriosa e profunda que os
É certo, entretanto, que todo meio tem defeitos e qualidades. Há
cristãos se entre exercem, mesmo à distância, no organismo sobrenatural do
qualidades e defeitos no meio operário, no meio estudante. Há qualidades e
Corpo Místico, não dispensa os recursos naturais e técnicos de aproximação e
defeitos no meio camponês, no meio militar, no meio burguês. Cultivar as
de conquista, como a graça não dispensa, antes, supõe a natureza.

36
O Cristo Total – Liv. Editora Inconfidência – Belo Horizonte.
qualidades do seu meio e corrigir-lhes os defeitos, eis a tarefa do militante.
Para tudo isso é preciso VER, é necessário COMPREENDER. RECURSOS DE CONQUISTA
E o apóstolo que compreendeu isto, ama o seu meio e procura realizar Depois de preâmbulos à conquista, resta estudar os recursos de
dentro dele os Planos redentores da vontade Divina. conquista.
O apostolado da palavra
Domínio do meio O apostolado da palavra, sem dúvida, é o recurso mais natural e
Finalmente, é necessário dominar o seu meio. Entram aqui aquelas espontâneo para a conquista. Deus fez o homem racional, e fê-lo social. Deu-
considerações judiciosas de Maritain sobre o duplo aspecto, um tanto lhe por isso, o dom da palavra. Mas saber falar não é apenas um dom. É uma
paradoxal, “o da transcendência e o da imanência do cristianismo” (37) 37. O virtude. Virtude que se adquire e se treina, como as demais virtudes morais. E
cristianismo transcendente ao mundo, visto “que não temos aqui residência essa virtude, que São Tomás anexa à virtude da justiça, chama-se
permanente”; mas o cristianismo é o fermento mergulhado na massa do mundo, AFABILIDADE (39)39. AFÁVEL, do latim affari, é aquele que sabe falar, que
pois Jesus pedira ao Pai, pelos seus, que os não tirasse do mundo, mas que os dá à sua palavra o tom amigo e quente que arrasta e conquista.
livrasse do mal. E se São Tomás anexa à virtude cardial da Justiça a virtude moral da
Daí, a fórmula densa de Maritain: “O cristão deve estar em toda parte, afabilidade, fá-lo com muita sabedoria. Pois, realmente, sendo o homem social,
e em toda parte permanecer livre. Sua liberdade é uma liberdade ele é obrigado por certo dever de Justiça, a conviver amigavelmente com os
EMPENHADA” (38)38. outros. E como o recurso mais espontâneo e natural que o homem tem para
E para dominar o seu meio e nele permanecer livre, da santa liberdade conviver é o dom da palavra, recusá-la, quando se pode e se deve falar, é, com
dos filhos de Deus, o apóstolo deve ter influência. Há de ter influência moral, efeito, alguma injustiça.
que se conquista com uma conduta ilibada, por uma vida coesa com a fé. Para o militante, a palavra é mais que um simples dever de convívio
Influência intelectual, conquistada pelo estudo, pela mentalidade larga e social. É o mais manejável instrumento do seu zelo. A palavra do militante é o
receptiva, pela facilidade e esforço de compreender. Influência social, que se caminho da graça de Deus nas almas. Sabemos, do Apostolado, que a fé vem
conquista com a ação no meio, pelo desejo eficaz de SERVIR.

37 39
La liberte du Chrétien, ap. Questions de conscience. Sum. Teol. 2-2, q. 114 arts. 1 e 2.
38
La liberte du Chrétien, ap. Questions de conscience.
do ouvido que escuta a palavra de Cristo. E quanta gente privada da luz e da Neste trabalho surdo de penetração de ambiente, o que importa, por
vida de Deus, porque ainda não teve oportunidade de ouvir falar um apóstolo! conseguinte, não é a publicidade, mas é a presença sempre alerta e sempre
O apostolado da palavra, falada ou escrita, será um apostolado delicado, consciente de militantes capazes de TESTEMUNHAR.
discreto. É preciso saber entrar e saber quando entrar. É engano pensar também
que só se fala cristã e sobrenaturalmente a uma alma, quando se lhe fala O apostolado do exemplo
diretamente de coisas de Deus e da Igreja, quando se conversa sobre confissão, O apostolado do exemplo completa o apostolado da palavra. Não pode
sobre comunhão ou sobre a santa Missa. haver na vida do apóstolo um hiato entre a doutrina que ele prega ou sugere e
Todo trabalho de tornar alguém ou algum ambiente mais cristão ou a vida que leva. Sua vida tem de ser doutrina vivida. É preciso que haja por
menos pagão, é autêntico trabalho de conquista. Suponhamos um salão em que toda parte grupos de apóstolos cheios de convicção e transbordantes de vida,
as diversões são pagãs, em que o ar seja pagão, em que é pagão o modo de ver capazes de contagiar pelo seu exemplo, pela coesão de suas atitudes e harmonia
as coisas, o modo de pensar e de concluir. Suponhamos alguns apóstolos de suas convicções. Votos idênticos formulava Stanislau Fumet: “Se alguns
heroicos desse ambiente trabalhando ali dentro para tornar tudo, pelo menos, homens completos, santos, florescessem cá e acolá, formar-se-iam em redor
MENOS pagão. Se o conseguirem, houve progresso, sem dúvida. Houve deles, espontaneamente, novos grupos de cristãos que procurariam antes de
autêntica conquista. tudo o Reino de Deus e se desdobrariam para realizar a sua Vontade” (40)40.
Provavelmente esses militantes nunca tenham tocado, num ambiente Maritain escreveu, no mesmo sentido: “É preciso, antes de tudo, que os
desses, em questões relacionadas diretamente com a Religião ou com a fé. cristãos vivam totalmente seu cristianismo. Não é uma questão de apologética,
Procuraram apenas insinuar-se nas rodas empestadas por conceitos tortos ou de propaganda, mas de sinceridade e de vida. O povo é exigente. (Deus
por conversas erradas. Procuraram achar, jeitosamente, um rumo cristão para também). Ele pede que um cristão TESTEMUNHE” (41)41.
as palestras mais desconcertantes. Retificaram conceitos. Suscitaram ideias Testemunha-se pela palavra, com efeito. Mas o exemplo é que tem a
nobres e criadoras. E todo um nível de mentalidade foi subindo, subindo força específica de testemunhar. Essa influência surda, mas eficaz e constante,
lentamente, até o dia em que pode ser definitivamente informado por um que o apóstolo tem de exercer no seu ambiente, pela palavra e pelo exemplo,
autêntico espírito cristão. ele a vai exercendo à medida da formação apostólica que recebe. Ele não
cindirá a sua vida em duas fases distintas, uma para adquirir e outra para

40 41
Ap. Dominique Auvergne – op. cit.. Ibidem.
comunicar. Mas à medida do que recebe, o militante deve ir aprendendo a dar. Eles acreditam, por vezes, que somos gente sorumbática e triste, e
“Ter é dar”. pensam, não raro, que para ser cristão e agir como cristão, é necessário
Um exemplo esclarecerá nosso pensamento. Um jovem é o conquistado renunciar a tudo o que a vida oferece de risonho, de belo e de grande.
de um meio social paganizante, pelo Ideal envolvente da Ação Católica. Ele E muitos dos nossos são literalmente culpados dessa mentalidade
não romperá com o seu meio. Continuará a ser do seu meio. Procurará, porém, maniquéia que se fez e se propalou. Realmente, muitos dos nossos insistiram,
à medida da formação que recebe, conhecer melhor, amar mais eficazmente e de modo excessivo e unilateral, no aspecto negativo da fé. Cercou-se a vida
dominar apostolicamente o seu meio. Antes, quando ele ali estava e nenhuma cristã de uma intransponível muralha de proibições, e apresentou-se a liberdade
formação possuía, era peso morto. Com zero de formação, ele dava zero de dos filhos de Deus, ao catecúmeno angustiado, como um penoso regime
influência. Adquirindo cinco de formação, ele dará cinco de influência. Com dietético: “É proibido.... é proibido....”. Para quem deseja penetrar no palácio
cinquenta de formação, dará cinquenta de influência. No dia em que ele tenha encantado da fé, tudo é proibido.
cem de formação, sua influência será de cem por cento. Nisto, como em muitas coisas mais, não houve aquele sábio e apical
equilíbrio que São Tomás sempre receitou. Os estoicos disseram que todos os
O apostolado da alegria prazeres são maus. Disseram os epicuristas que todos os prazeres são bons, e
O militante aprenderá ainda a exercer o apostolado da alegria. ordenaram toda a vida humana para o prazer. Poucos souberam dizer, com o
Sobretudo na juventude e em ambientes juvenis, é de capital importância que Angélico, que há prazeres bons e há prazeres maus, e que o fim da vida não é
haja apóstolos afáveis e joviais. o prazer, mas que os prazeres legítimos são MEIOS para o fim (42) 42.
A mocidade é cheia de seiva, transbordante da vida. Daí porque se É preciso, portanto, restaurar o sentido cristão do prazer casto e das
movimenta e se agita. Vida é movimento imanente e CONTÍNUO. Há, nas diversões sadias. É necessário semear raios de sol e por um pouco de verdadeira
rodas juvenis, um preconceito muita mais sério do que se pensa, contra o ideal alegria na alma de tantos jovens que nos chamam de “tristes”, mas que não
cristão de vida. E esse preconceito consiste em que essa mocidade arredia da sabem ainda qual é o talismã da autêntica alegria. E esta tarefa compete aos
fé sequiosa de vida e ávida de prazeres, está ciente de que nós hostilizamos a jovens apostólicos da Ação Católica. Sem abandonarem os meios sociais de
alegria e somos desmancha prazeres. suas diversões, eles têm de estudar e executar planos de ação capazes de

42
Sum. Teol. 1-2, q. 34 art. 1 e segs.
transfigurar o clima dos salões em que convivem e dos clubes que frequentam. Formemos, pois, jovens eutrapélicos. Eles dirão por toda parte que há
É necessário saber se divertir e ensinar como se diverte. uma virtude em saber de divertir. Eles dirão que também os santos souberam
É uma virtude, saber se divertir. Aristóteles chamou-lhes se divertir. Os santos não foram larvas de gente. Eles gozaram. E gozaram na
EUTRAPELIA, e São Tomás classificou-a entre as partes potenciais da virtude vida de todos os prazeres castos e legítimos que o mundo lhes ofertou, e
da temperança (43)43. gozaram ainda, muito melhor, dos prazeres sobrenaturais de que só o santo é
O home que trabalha, física ou intelectualmente, cansa-se e se esgota. capaz de desfrutar.
Mesmo que se trate de um trabalho intelectual, o homem se cansa, visto que a Eles foram santos por causa de suas virtudes. E as virtudes são
alma exerce a sua atividade utilizando-se dos órgãos corporais. Daí porque o entrelaçadas, “concatenadas” – diz São Tomás. De sorte que é permitido dizer
repouso se impõe. E o repouso natural do corpo exausto ou da mente fatigada que os santos foram tais, porque foram eutrapélicos, isto é, porque também eles
são as legítimas e saudáveis diversões. souberam se divertir.
São Tomás não esconde que pode haver pecado em se divertir. E há
pecado contra a virtude da eutrapelia, quer quando alguém se diverte com O apostolado da oração
palavras ou ações perniciosas, quer quando se diverte sem levar em conta O apostolado da oração é o orvalho divino de toda a vida apostólica. O
circunstâncias de lugar ou de tempo, ou ainda quando faz das diversões não um apóstolo deve saber rezar. Ouçamos a palavra de Pio XI: “Se há alguma coisa
MEIO, mas toda a finalidade de sua vida como aqueles de que fala o livro da que pertença à Ação Católica, é esta, com efeito, e é perfeitamente esta: o
Sabedoria, que “julgaram ser a vida um brinquedo” (44)44. apostolado da prece. O que é a Ação Católica? Nós a definimos desde a sua
São Tomás concede que pode haver pecado em se divertir. Mas ele está origem, a participação e colaboração dos leigos no apostolado da hierarquia.
de acordo também que o pode haver em não se divertir. Tudo aquilo que é Ora, no apostolado hierárquico a oração entra em primeira linha. Quando se
contra a razão humana, é vicioso – comenta o Angélico. Ora, é contra a razão ordenam os neossacerdotes ou se consagram os bispos, os textos litúrgicos são
humana que alguém seja oneroso aos outros, e isto, ou porque nunca demonstra repletos desse pensamento que a prece deve ocupar na sua vida o primeiro
aos demais a sua alegria, ou porque impede e desmancha as alegrias alheias. E lugar. E tanto isto é verdade que os próprios sacerdotes são constituídos
esse vício, que segundo Aristóteles torna os homens “duros e agrestes” é pontífices para oferecer ao Senhor o holocausto da prece, de sua prece e da
também, por deficiência, um pecado contra a eutrapelia. prece do povo cristão. E já que o apostolado da oração, é por felicidade, o mais

43 44
Sum. Teol. p. 2-2, q. 168, arts. 1 e segs. Sab. 15,12.
fácil e o mais poderoso de todos, ele se enquadra por sua própria natureza, no a vida na miséria, num tugúrio da “Esquina do Diabo”, Mickie foi crismada em
terreno do apostolado hierárquico, e, por conseguinte, no da Ação Católica” casa, pelo próprio Núncio e recebeu do cônego Cardin o distintivo jocista. E
(45)45. daí, o resto de sua via-sacra, ela o ofereceu à JOC e à conversão de seus
Os jovens militantes das novas falanges da Ação Católica saberão, pois, inolvidáveis “Falcões Vermelhos”.
qual a virtude conquistadora da oração. Saberão REZAR. Não rezar naquele Violaine, leprosa, compreendeu também um dia que suas carnes
“multilóquio” farisaico, que Nosso Senhor causticou, mas rezar, sobretudo, a chagadas seriam capazes de conquistar. “Será possível que sare a minha lepra?
grande prece social e coletiva da Ecclesia Orans, na Liturgia. Não, enquanto houver ainda uma parcela de carne para devorar. Será possível
mitigar o amor em meu coração? Nunca, enquanto houver uma alma imortal a
O apostolado do sacrifício quem eu deva fornecer alimento (46)46.
E, finalmente, o apostolado do sacrifício. A oração orvalha a semente Saibam também os nossos jovens militantes dar aos pequeninos e
da graça que o apóstolo atirou nas almas. Mas o sacrifício rega de lágrimas e grandes sofrimentos da vida um sentido piacular e redentor. É o meio mais
de sangue a planta que germina. E sacrifícios não faltam na vida de quem quer excelente de lhes “infundir aço no sangue moço” – como diria Von Keppler, e
que seja, nem mesmo na vida dos jovens, por mais eutrapélicos que sejam. É de prepará-los para a grande conquista do apostolado moderno.
preciso aproveitá-los. Aproveitar com alegria essas gotas de pequenos Olhando a vida que os circunda e lhes sorri, pés na terra e olhos fitos
sacrifícios e sofrimentos quotidianos, físicos ou morais, e transfigurá-los em no céu, esses jovens preparados para a vida com a fibra dos primeiros cristãos,
pérolas que resgatam. em face do paganismo novo, poderiam repetir com Georges Bernanos estas
Jocista belgas infundiram essa ideia em um pobre rapaz tuberculoso. palavras repassadas do mais puro espírito cristão e do mais fino otimismo:
Esse rapaz morreu num sanatório, dizendo: “Sou feliz de morrer. Não chorem “Nós seguramos o temporal em plenas mãos. Nós seguramos em plenas mãos
por mim. Minha vida, dou-a pela JOC, pelos meus companheiros de trabalho... o reino temporal de Deus. Nós guardamos a herança dos santos. Porque, depois
Tenho tristeza de só poder dar a minha vida. Daria mais, se mais tivesse”. Esse que foram abençoados conosco a vinha e o trigal, a pedra de nossas soleiras, o
rapaz chamava-se Carlos Bouchard. teto em que se aninham as pombas, nossos pobres leitos cheios de sonho e de
Mickie foi uma dirigente comunista num bairro operário de Bruxelas. saudade, o caminho em que gritam os nossos carros, nossos garotos de riso
Fez amizade com um jocista que a converteu e que com ela noivou. Acabando duro e nossas filhas que choram à beira da fonte, depois que o próprio Deus

45 46
Ap. Guerry – L’Action Catholique. Ap. Paul Claudel – L’annonce falte à Marie.
nos visitou, haveria alguma coisa neste mundo que os santos não pudessem Já vimos que o meio não é a profissão. Nem é mesmo a classe social.
retomar ou que eles nos não pudessem dar?” (47) 47. É uma ideia mais ampla, mais larga, que inclui a ideia de classe, de profissão,
e de alguma coisa mais. O meio é a mentalidade média de um grupo social
diante dos problemas comuns de sua vida.
As diversões criam também um clima social e constituem meio social.
Como em todo meio, também nos ambientes de diversões é preciso que haja
apóstolos capazes de os levedar.
As diversões criam um clima social. ninguém o duvida, depois de terem
estudado seriamente o assunto. Cinemas, bailes, espetáculos, praias – tudo isso
não atinge apenas um pequenino ou mesmo grande grupo de fãs ou de
“habitués”. Isso tudo – acentua sabiamente P. Andrien Dewitte – cria um clima,
uma ambiência perversa (48)48.
VI Nos lares, os meninos falarão do último campeonato, da última corrida,
A CONQUISTA DOS MEIOS DE DIVERSÕES do derradeiro cowboy. Nas escolas, as meninas comentarão as novidades do
Diversões e clima social. último espetáculo, do derradeiro baile. Nas fábricas, os operários conversarão
Diversões e meio social.
Conquista difícil. sobre os acontecimentos carnavalescos, sobre o fervor esportivo da véspera.
Conquista possível. E assim é que as diversões criam e generalizam uma ambiência, um
Conquista necessária e urgente.
Como conquistar? clima, um modo médio e comum de encarar os mesmos fatos. Isto não fica nos
É pecado dançar? salões e nos clubes. Isto passa aos lares. Vai à escola e vai à fábrica. Entra pelas
Diversões confessionais.
A eutrapelia nos grupos de Ação Católica. portas da sacristia e invade a própria Igreja.
E o pároco, o assistente e os dirigentes que pensavam ingenuamente
DIVERSÕES E CLIMA SOCIAL
solucionar todos os problemas afastando o seu grupinho predestinado desses

47 48
Jeanne, relapse et sainte – Lib. Plon, Paris, 1934. Lettre aux aumôniers, março de 1938
ambientes malsãos, acabarão verificando que ar viciado dos meios das Diremos daqui a pouco. Por ora, fale-nos ainda o mesmo articulista:
diversões empestou o seu grupinho também. “Para isso – para a penetrar de cristianismo esse meio de diversões, para dar a
essas diversões o seu verdadeiro sentido providencial, não basta oferecer ou
DIVERSÕES E MEIO SOCIAL assegurar algumas distrações sadias a alguns jovens operários, criar
As diversões constituem meio social? agrupamentos recreativos católicos, criar cinemas católicos. Pois tudo isso,
Não há dúvida. Já tivemos ensejo de ver que o meio se caracteriza por embora possa produzir algum bem, fica sempre de lado, fora e à margem dos
uma mentalidade média e comum. Escutemos M. Pomeau, assistente da diversos meios em que essas diversões se realizam”.
federação jocista de Limoges, que pôs esse problema com grande realismo e Em resumo.
senso de objetividade, no estudo que “Lettres aux aumôniers” publicou em As diversões constituem um meio. As diversões criam um clima, uma
abril de 1938. ambiência social.
Tem a palavra o assistente jocista: “Olhando mais de perto, verificamos É impossível uma ação recristianizadora do meio, sem uma ação
que as diversões dos jovens operários constituem um meio tão real quanto o recristianizadora das diversões desse meio.
meio de trabalho, um conjunto de relações naturais entre jovens de um mesmo É impossível recristianizar as diversões de um meio social, fora e à
quarteirão, de uma mesma cidade, e com isto, uma maneira de conceber a margem dessas diversões.
utilização de suas diversões, uma conduta comum em todas elas”. Então o que resta? Resta realizar o vasto programa de A. Dewitte: “O
Mas o autor não para aí. Ele prossegue: “As diversões não são Reino de Cristo NAS diversões e PELAS diversões”.
unicamente as horas passadas no seio deste ou daquele agrupamento musical Programa escandaloso! – dirão as beatas.
ou esportivo”. Para M. Pomeau, as diversões não são unicamente as leituras; Mas é preciso ter coragem para romper com as beatas, se não quisermos
as audições de rádios; os ajuntamentos dos bairros e quarteirões operários, dos sacrificar aquilo que o P. Chenu denomina “a dimensão da cristandade”.
clubes e salões; as corridas de bicicleta, etc.. As diversões são, com efeito, tudo
isso, e mais um conjunto de coisas que “constituem um meio real, vasto e CONQUISTA DIFÍCIL
complexo, que é preciso penetrar e cristianizar”. Não somos ingênuos. Não negamos que a conquista dos meios das
E penetrar como? diversões seja difícil. Tão difícil quanto a conquista de um meio fabril, de um
meio estudante, de um ambiente militar. O laicismo invadiu tudo. De toda parte Estes, e talvez outros fatores, ainda, tornaram difícil, com efeito, a
expulsaram o Cristo e em tudo negaram o direito a Deus e à Igreja de intervir. reconquista de tais meios.
Mas o pior não foi a consumação desse despotismo. O pior foi nós nos
termos conformado com esse despotismo. E essa conformação de muitos CONQUISTA POSSÍVEL
católicos foi tão edificante, que até hoje muita gente acha que assim mesmo é Se a reconquista é difícil, não é, porém, impossível, como dizem
que está certo. Nosso lugar é mesmo na sacristia e nas imediações do salão apressadamente os derrotistas. A priori, se poderia demonstrar que é possível
paroquial – pensam eles com os seus botões. O que é que temos que fazer na reconquistar um ambiente, por mais descristianizado ou pagão que ele seja. E
escola, na fábrica, na caserna, nos salões e nos clubes? isto porque os ambientes sociais são ambientes humanos. São, pois, o que são
E assim é que os ambientes das diversões, que começam pelo laicismo, os homens que o fazem. Os homens criam o ambiente e os homens o estragam.
acabam hoje pelo paganismo. Por que então os homens o não poderiam restaurar?
Acresce ainda o aspecto comercial de não poucas sociedades esportivas Nós não somos deterministas. Acreditamos na liberdade humana e na
e meios de diversões. As diversões tornaram-se lucrativas, mercantilizaram-se. graça divina. Não aceitamos, de olhos fechados e sem ressalvas, o princípio
Daí as empresas, açambarcadoras de estádios e de clubes, enriquecendo-se à segundo o qual “o homem é produto do meio”. Supondo a influência do meio,
custa das horas vagas de seus fregueses. influência penetrante, envolvente, que já estudamos, acreditamos, todavia, na
Outro fator que sem dúvida concorreu para a descristianização de tais sua possibilidade de restauração.
meios, foi a ausência progressiva de espírito familiar. Os pais, idosos, cansados E se argumenta a posteriori, vai-se ver que essa restauração é um fato.
ou doentios, perderam o espírito eutrapélico dos filhos. Enquanto as diversões Nas crônicas dos movimentos especializados da Ação Católica, esse fato é
eram no lar, na família vizinha, na redondeza, enfim, eles acompanhavam os mesmo o que existe de mais impressionante. Quando um grupo de autênticos
filhos às diversões. apóstolos, formados numa escola de zelo clarividente e coesos num
Estas, porém, se divorciaram por completo da vida familiar e se empolgante ideal de conquista se atiram na massa, vê-se a massa levedar.
localizaram em clubes por vezes distantes. Os pais não foram mais com os Mas é preciso ter paciência. É preciso esperar. Se nos resignamos com
filhos. E os meios de diversões ficaram exclusivamente entregues ao ardor da tantos anos de paganização, como pretendemos exigir agora que alguns
idade juvenil e a ganância comercial de seus empresários. heróicos militantes concertem numa semana o que deixamos que séculos
estragassem? Essa reconquista é, pois, “um trabalho de longo fôlego” – disse-
o Adrien Dewitte, e “em Ação Católica – informa-nos o cônego Cardin – o Depois de conseguir alguns, poucos elementos, lá de dentro, formá-los
principal é aquilo que não se vê”. para a ação lá dentro. Formação cristã. Quem diz formação cristã, diz formação
integral, portanto diz também formação apostólica. E com esta, a formação
CONQUISTA NECESSÁRIA E URGENTE técnica, visando o apostolado lá dentro, no meio especial que esses apóstolos
Difícil, mas possível, essa restauração dos ambientes das diversões é deverão influir. E à medida dessa formação, se irá desenvolvendo a ação no
ainda necessária e urgente. Necessária e urgente, porque lá dentro vivem meio.
homens e vivem cristãos. E onde uma alma periga, é lugar do apóstolo. Onde Poderão acenar-nos para o pecado original, de que nos vimos
uma ovelha se enlaça, lá deve estar o pastor. esquecendo no correr deste estudo. Nós diremos que não estamos esquecidos
Dissemos, ainda, que os ambientes paganizantes das diversões do pecado original. Aceitamos o fato lamentável e as lamentáveis
emprestam toda a vida da cidade. É necessário penetrá-los, portanto, “Ou consequências da “feliz culpa”. Conhecemos, com São Tomás, aquelas “quatro
penetrar, ou penetrar-se” – é o dilema irrecusável de Mons. Bruno de Solages. chagas da natureza”, que decorrem da culpa original, a saber, a enfermidade, a
ignorância, a malícia e a concupiscência (49) 49.
Mas nós acreditamos piamente que a graça de estado escuta um
militante, e o apóstolo tudo pode Naquele que o conforta.

COMO CONQUISTAR? É PECADO DANÇAR?


Conquistam-se os meios das diversões, do mesmo modo e com os Eis nos perguntam com frequência os jovens bailarinos, em cuja
mesmos recursos com que se conquistam os demais meios sociais. Recorde-se consciência se fez um duelo entre o Cristo e o mundo. E eles não sabem para
o que dissemos em nosso capítulo sobre a técnica da conquista. quem pender. “Entre les deux mon coeur balance”.
É preciso, por conseguinte, obter elementos dos próprios meios das Os moralistas, que geralmente não levam em conta, em sua casuística,
diversões. Em cada lugar, não nos iludamos, a Providência deixou alguém para as exigências de apostolado e de penetração, resolvem, todavia, esse quesito,
realizar os seus Planos divinos. Há almas de apóstolos em cada salão, em cada com muito mais benignidade e clarividência do que certos assistentes
clube. Há muita generosidade em mais de um coração de dançarina. eclesiásticos e dirigentes.

49
Sum. Teol. p. 1-2, q. 85, arts. 3.
Abramos um compêndio de teologia moral. Aertnys-Damen, por É inegável, porém, que existem casos inúmeros em que as danças não
exemplo. Traduzamos os três princípios gerais em que o autor assenta a questão oferecem nenhum perigo próximo de ofensa a Deus. Todo sacerdote que já
da moralidade dos bailes: conviveu em rodas juvenis, é capaz de testemunhar que há rapazes e moças que
1 – As danças, mesmo entre as pessoas de sexo diverso, em si, afastadas podem, de consciência tranquila, comungar na manhã que segue à noitada de
as más circunstâncias, não são ilícitas. E isto porque em si, não são ações de um baile. E estes são os elementos providenciais deixados ali por Deus para a
libido, mas de alegria. transformação de tais ambientes. É preciso aproveitá-los. É necessário formá-
2 – Três principais circunstâncias podem tornar as danças gravemente los e organizá-los para o apostolado lá dentro.
ilícitas, a saber, um fim desonesto ou libidinoso; o perigo de pecar; o escândalo. E é possível influir num salão de bailes?
3 – Se o perigo constituído pelas danças é próximo e não há nenhuma Sim. Sempre é possível a um apóstolo influir no seu ambiente. Como
causa grave de a elas comparecer, então as danças devem ser evitadas, sob sempre, é preciso ter antes consciência do que é possível realizar. É preciso
pecado grave. Se há perigo apenas remoto ou há causas graves que escusem, ainda, saber como realizá-lo.
então haverá pecado leve, ou nenhum pecado (50)50. Consideremos qual a influência possível de um grupo de jovens no
Como se vê trata-se de um assunto complexo, e ainda muito mais ambiente em que dançam e se divertem.
complexo hoje em dia, dadas as circunstâncias da vida moderna e as exigências É possível mitigar a loucura e o fanatismo pela dança. É relativamente
do apostolado leigo. E se os princípios dos moralistas já são tão largos e fácil fazer compreender que a dança não é a única diversão, nem é a diversão
imprecisos, imagine-se a aplicação dos mesmos em cada caso totalmente melhor. É possível espaçar os bailes semanais, substituí-los por diversões ao ar
individual, completamente à parte. Pois, afinal não se medem os pecados com livre, moral e fisicamente mais sadias.
fita métrica. É possível influir no ânimo dos sócios e dos diretores dos clubes, no
Haverá, pois, casos perfeitamente individuais, em que a dança ofereça sentido de adiar ou de abreviar, ao menos, os bailes dos sábados, que
perigo próximo relativo do pecado. Compete ao confessor clarividente e amigo prolongando-se pela madrugada, impedem aos jovens a assistência à Missa
resolvê-los, com todos os recursos de sua teologia pastoral, no silêncio do seu dominical.
confessionário.

50
Theologia Moralis – tomus II – Ed. Marietti, Turim, 1928.
Moças cristãs e convictas, organizadas em equipes coesas, serão Contra essa mentalidade fragmentária e separatista do tempo, a A. C.
capazes de transformar os figurinos imodestos, e quem sabe, torpes, que por tem de criar uma mentalidade integralmente cristã. Pio XI disse que “a A. C.
vezes se exibem em certos salões de bailes toma o homem todo”. Ela é envolvente. Ela toma o homem de estado, o
Devidamente formadas e unidas em ação conjunta, elas serão capazes político, o economista, o técnico, o sábio. Ela envolve o home de negócios, o
de exigir dos rapazes mais respeito e delicadeza, menos liberdade em palavras estudante, o militar, o poeta, o beletrista. E se ela envolve o jovem todo, em
e gestos, durante a dança ou nos intervalos dela. todas as suas faces da vida individual, familiar e social, como não tomaria o
Estejam, além disso, presentes os pais. Volte-se a dar aos salões um jovem que brinca, que baila e se diverte? Como é que um jovem seria cristão
ambiente familiar. A só presença dos pais constituirá uma proteção à até à porta de entrada do seu clube, e pagão, portas a dentro?
delicadeza e ao pudor das filhas, e será capaz de imprimir nova tonalidade à Queremos apóstolos, sim. Mas apóstolos para cada meio, para cada
alegria dos jovens. ambiente social. Precisamos do apóstolo estudante, para a restauração cristã do
Nada disso é utópico nem irrealizável. meio estudante. Precisamos do apóstolo operário, do apóstolo rural, do
É utópico e irrealizável eliminar os salões de bailes ou proscrever a apóstolo militar, para recristianizar o meio operário, a vida rural e o ambiente
dança. É, ainda, mais utópico e irrealizável transformar à distância o ambiente militar. Porque não precisaríamos, então, do apóstolo bailarino, para a
pagão de tais clubes, ou impedir que sua ação deletária venha, amanhã ou restauração cristã de seus ambientes de diversões?
depois, dissolver a vida cristã de uma paróquia inteira. O que A. C. pretende não é, pois, formar bailarinos nem abrir cursos
A esta altura, objetar-nos-ão, talvez: “Queremos apóstolos, não de dança. Ela quer é formar os bailarinos e transformá-los em apóstolos de
bailarinos!” seus ambientes.
Objeção fragílima, que parte do suposto falso que é impossível ser E que isto é realizável, demonstram-no os fatos e o bom senso.
simultaneamente apóstolo e bailarino.
Com efeito, o homem moderno é um homem de mentalidade DIVERSÕES CONFESSIONAIS
fragmentada, estilhaçada. Ele acha difícil estabelecer um nexo entre o bailarino Não são poucos os que, diante dos males sociais, pretendem “entreter”
e o apóstolo, como já teve dificuldades em estabelecer um nexo entre o católico apenas umas rodinhas de privilegiados e dos eleitos, abandonando ao léu a
e o político, o católico e o homem de negócios, o católico e o homem de ciência grande massa perdida – a massa damnationis.
e de letras.
No caso das diversões paganizadas essa preocupação de “entreter” se se despreocupem por completo da sorte temporal e eterna de seus colegas do
manifesta na organização do que se convencionou denominar diversões mundo.
confessionais. Em torno desse assunto gastou-se muita tinta. Há belos estudos Cautelosamente preservados dos males e do contágio que as diversões
sobre o problema das diversões, viciadas por esse unilateralismo separatista. mundanas oferecem, esses rapazes e moças fecham-se sobre si mesmos.
São assim os estudos de Narciso Noguer (51)51 e de Michel Christian (52)52. Percam-se os demais, com tanto que eles se salvem. Com essa despreocupação,
Hoje as ideias são mais claras e a posição definida nos meios de Ação alimenta-se o mais pernicioso e abominável dos individualismos, qual é o
Católica. individualismo religioso.
Os defensores das diversões confessionais pretendem organizar clubes E como o individualismo anda às léguas do espírito generoso da Ação
contra clubes. Contra os clubes pagãos, clubes católicos. Contra as distrações Católica!
paganizadas, diversões cristãs ou confessionais. Não parece uma tática Além disso, as diversões confessionais ficam à margem, fora e ao lado
acertada e um recurso sincero? dos meios sociais que se quer recristianizar. O problema da reconquista será
Talvez seja um recurso sincero, mas M. Pomeau, no seu brilhante insolúvel, sem a ação no meio. Já insistimos suficientemente neste assunto. As
estudo sobre diversões, que citamos abundantemente, previne-nos diversões católicas, destinadas a “entreter” nossos jovens, cortariam o contato
cautelosamente contra essa “tentação”, que ele reputa “erro grave”, de necessário destes com os meios que se requer sua influência social.
“consequências lamentáveis”. Ainda, as diversões confessionais arriscariam transformar em clubes os
Adrien Dewitte considera essa estratégia das diversões confessionais, grupos juvenis de Ação Católica. A organização eficiente dessas diversões iria
organizadas sistematicamente como concorrentes às diversões profanas, “uma pesar financeiramente e fisicamente aos dirigentes e militantes de Ação
tática apostólica desastrosa”. É fácil compreender porque. Católica, absorvendo-os e distraindo-os de sua missão específica e apostólica
As diversões confessionais criam a despreocupação apostólica dos dentro dos grupos a que presidem.
militantes de Ação Católica. Quando os jovens têm os seus clubes, seus salões Ainda mais, as diversões confessionais iriam abrir concorrência, e
católicos, onde acham habitualmente toda a atração dos esportes e diversões inutilmente, com os clubes e organizações esportivas existentes no lugar.
oferecidas pelas associações profanas congêneres, é natural que esses jovens

51 52
La Acción Católica, 2ª ed., tomo II, c. 8. Ed Razón y Fé, Madrid. Cf. op. cit..
Finalmente, e é o que mais nos deve impressionar, as diversões corpos vigorosos”, ou de preparar “corpos atléticos, fortes e nervosos... para
confessionais constituem uma modalidade da famigerada e nefasta tática de servir”.
ausência. E enquanto vivermos ausentes do mundo sem Deus; enquanto Parece-nos, pois, de máxima importância o serviço de diversões e
adotarmos, por sistema ou por capricho, a política do alheiamento das coisas e esportes nas juventudes de Ação Católica. Supomos, no entanto, que tal serviço
do mundo – cessa a esperança de uma autêntica Restauração. se organize, não em sentido separatista ou com mentalidade isolacionista; não
em sentido de concorrência ingênua às diversões ditas profanas; que se
A EUTRAPELIA NOS GRUPOS DE AÇÃO CATÓLICA organize sempre como recursos de formação e de conquista.
Não eliminemos, porém, todas as diversões dos grupos especializados
da Ação Católica. É preciso conservar sempre eutrapélicos os movimentos
juvenis. Para isto, é necessário criar ambientes de alegria, de jovialidade, de
sadias e proveitosas diversões na vida do movimento.
Essas diversões, porém, não terão, como as ditas diversões
confessionais, o fito exclusivo de “entreter”, o que vem a ser o mesmo que
isolar. Nos organismos da Ação Católica, as diversões serão destinadas a
favorecer ou a criar ambiente de alegria. Serão destinadas a educar, física e
moralmente, seus militantes e estagiários. Terão a inestimável vantagem de dar
aos jovens uma visão global do problema pedagógico em Ação Católica.
Servirão para despertar-lhes ideias e iniciativas. Serão ótimo recurso de
conquista, como já foi dito, pois grupos eutrapélicos são grupos
conquistadores.
A JOC belga e francesa, e hoje a JOC mundial, dá uma importância
capital à educação esportiva de seus estagiários e militantes. Abram-se suas Vamos finalizando aqui nosso trabalho.
revistas de massa e seus boletins de chefes, leiam-se os seus esplêndidos Um opúsculo semeado de otimismo, terá visto o leitor, e cheio de confiança

manuais de diversões, e ver-se-á o empenho jocista de criar “almas grandes em nas possibilidades recristianizadora do jovem laicato.
Mas se é cheio de otimismo, temos certeza de que não é ingênuo. Não MARITAIN – Questions de conscience – Desclée de Brouwer, Paris.
esquecemos, antes, tivemos o cuidado de acentuar as grandes dificuldades inerentes MARITAIN – Humanismo integral – Trad. Afránio Coutinho, Ed.
ao moderno tema da reconstrução cristã dos ambientes sociais. Nacional, 1941.
A reconstrução do mundo que nós estragamos. Deus a confia a nossas pobres
MARITAIN – Religion et culture - Desclée de Brouwer, Paris.
mãos. É de boa doutrina tomista a tese na qual os homens são os executores da
BERNANOS – Jeanne, relapse et sainte – Lib. Plon, Paris, 1934.
Providência de Deus (53)53.
ROPS – Ce qui meurt et ce qui nait – Ibidem.
Daí, a profunda agudeza destas esplêndidas considerações do P. Doncoeur, s.
CIVARDI – Apostoli nel próprio ambiente – Vicenza, 1938.
j.: “O de que me convenço cada vez mais é que o nosso futuro está nas mãos de nós
AB. GLORIEUX – Corps mystique et apostolat – Ed. Ouvriéres,
todos. Somos sempre tentados a interrogar os astros, a interrogar os nossos
adversários, em vez de nos interrogarmos a nós mesmos. É preciso interrogar nossos Paris.
corações, nossas mãos, nossos cérebros... Costumamos perguntar: O que fará Hitler? AB. GLORIEUX – L’Êglise à l’oeuvre – Ibidem.
O que farão os comunistas? Isto não é digno de um homem. Perguntemos: O que NÓS AB. GLORIEUX – Ars artium – Ibidem.
somos capazes de fazer?” (54) . 54
CARDIN, LIAGRE, etc. – Face au nouveau paganisme - Lib.
Mãos à obra, pois. Abramos bem as janelas das nossas sedes juvenis. Jeunesse Ouvriérex, Paris.
Arejemos o coração e a mentalidade dessa juventude a que a Igreja confia uma MICHEL PFLIEGER – Le vrai Chrétien em face du monde réel –
tarefa de importância inédita nas páginas de sua história.
Ed. Salvator, Mulhouse.
Não temos a missão de formar beatos rabugentos, mas de criar uma mocidade
BARBEAU – Les Chrétien et le monde – Ed. Desclée de Brouwer.
“altiva, pura, jovial, conquistadora”.
ROCHE, S. J. – Chrétien dans le monde – Ed. Bloud et Gay, Paris.
Mocidade cheia de Deus, gente cheia de vida e de sol, capaz de preparar um
LOUIS BERNE, S. J. – Pour la conquête - Ed. Ouvriéres,
futuro mais risonho e mais feliz.
Paris.
DOMINIQUE AUVERGNE – Régards catholiques sur le monde –
Desclée de Brouwer.
BIBLIOGRAFIA
MICHEL CHRISTIAN – L’esprit Chrétien dans le sport – Ibidem.
S. TOMÁS – Suma Teológica.
PRADEL - Pour leur beau métier d’homme – Ibidem.
RAUSCHEN – Florilegium Patristicum, Bonnae, 1904.

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Sum. Teol. p. 1, q. 22. Ap. Dominique Auvergne – op. cit..
JEUNESSE FORTE – Manuel des loisirs (3 vols.) – Lib. Jeunesse Ouvriéres, Várias atitudes: De desprezo – De temor e de fuga – De melodrama – De
Paris. compreensão – O dever da presença. O pecado da ausência.
DOCTRINE COMMUNE – Rapport présenté aux journées d’aumôniers de II – A MISSÃO SOCIAL DE JESUS CRISTIO.
l’A. C. J. F., 1935. Conversando com os homens – Refúgios de Jesus – Missão social do
AB. FABRE – L’aumônier jociste – Lib. Jeunesse Ouvriéres. cristão – Adsum!
MORLION – Metodologia de A. C. – Ap. Revista Eclesiástica Brasileira, III – O DEVER DA PRESENÇA E O PERIGO DA FÉ.
vol. 2, 1941. O que dizem por aí – O que diz São Tomaz – O que dizem os Pontífices
Lettres aux aumôniers - Números de março e abril de 1938 - Lib. Jeunesse – O exemplo dos primeiros cristãos.
Ouvriéres, Paris. IV – AÇÃO NO MEIO
Documentos pontificais (diversos). Objetam os apressados – A tese apostólica – A tese individualista – O
Conceito do meio – O meio e o homem – Resumindo.
V – AÇÃO NO MEIO E TÉCNICA DE CONQUISTA.
Preâmbulo à conquista: Ser do meio – Contato com o seu meio –
Compreensão do meio. Domínio do meio – Recursos de conquista:
O apostolado da palavra. O apostolado do exemplo – O apostolado da
Alegria. O apostolado da oração – O apostolado do sacrifício.
VI – A CONQUISTA DOS MEIOS DE DIVERSÕES.
Diversões e clima social – Diversões e meio social – Conquista difícil –
Conquista possível – Conquista necessária e urgente – Como conquistar?
- É pecado dançar? – Diversões confessionais – A eutrapelia nos grupos
de Ação Católica.
SUMÁRIO

I – O CRISTÃO E O MUNDO.

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