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Visõa de estudantes de psicologia sobre o suicídio

INTRODUÇÃO

A palavra suicídio ( do latim suicadere – a morte do próprio), foi utilizada pela


primeira vez por Desfontaines, em 1737 e significa morte intencional auto-infligida,
com evidência , explícita ou implícita, isto é, quando a pessoa, por desejo de escapar de
uma situação de sofrimento intenso, decide tirar sua própria vida.
Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS o suicídio é um Problema de
Saúde Pública em âmbito mundial, conforme dados publicados no Informe mundial
sobre La violência y La salud para Las Américas. No prólogo deste documento, consta
o registro do pensamento de Nelson Mandela que descreve o surgimento do suicídio
numa escala nunca vista e nunca pensada na história da humanidade (1).
O suicídio constitui-se um comportamento humano universal cujos índices
epidemiológicos em uma comunidade constituem um dos indicadores indiretos de saúde
mental.
Para Cassorla (1991) as motivações que levam o indivíduo a buscar pelo
suicídio como sua última forma de arte no mundo estariam associadas a motivações de
aspectos sociais que transcenderiam a esfera da vida pessoal e dependeriam de forças
exteriores ao indivíduo, as quais estariam presentes na dinâmica de valores e padrões da
cultura de determinada sociedade.
Segundo Manhães (1990) o objetivo do suicida em si, não é a morte. Ela é
apenas um instrumento utilizado para alcançar um objetivo. O suicida está assim
buscando uma saída para uma situação de conflito e vê na morte o instrumento mais
potencial para alcançar o que ele deseja. O suicida é um homicida que elimina um
objeto interno ameaçador, torturante, agressivo, enfim, que o molesta e o perturba.
É muito difícil compreender por que um indivíduo toma a decisão de cometer
suicídio, ao passo que em situação similar a dele, outras pessoas não o fazem. O que
muitos afirmam e consideram é que há fatores emocionais, biológicos, genéticos,
psiquiátricos, religiosos, ambientais e socioculturais, que ajudam a compreender a
situação de vida deste indivíduo, o sofrimento que ele carrega e, por isso, a busca que
ele tem pela morte. Alguns autores como vimos, até dizem que, por vezes a pessoa nem
quer se matar. Quer, antes, eliminar sua dor, diminuir seu sofrimento, e por isso, busca
de repente ou lentamente depende do caso, um método que o leva a morte.
Para Botega (2000) dentre as circunstâncias que sugerem alta intencionalidade
suicida, temos: a comunicação prévia de que a pessoa iria se matar, mensagens ou cartas
de adeus, planejamento detalhado, precauções para que o ato não fosse descoberto,
ausência de pessoas por perto que pudessem o socorrer, não procurou ajuda após a
tentativa de suicídio, método violento ou uso de drogas mais pesadas e perigosas e a
afirmação clara de que queria morrer.
Através da observação no levantamento bibliográfico para esta pesquisa, pode-se
constatar que há certos fatores que estão relacionados a uma maior ou menor
probabilidade de cometer o suicídio. Por exemplo, as mulheres tentam o suicídio quatro
vezes mais do que os homens, mas os homens o cometem (isto é, morrem devido a
tentativa) três vezes mais do que as mulheres. Isso se explica pelo fato de que os
homens utilizam de métodos mais agressivos e potencialmente mais letais nas suas
tentativas do que as mulheres. Os homens se utilizam mais frequentemente de armas de
fogo ou enforcamento, ao passo que as mulheres tentam suicídio com métodos menos
agressivos e assim com maior chance de serem ineficazes, como tomar remédios ou
venenos.
As doenças físicas, tais como câncer, epilepsia e AIDS ou doenças mentais,
como alcoolismo, drogadição, depressão e esquizofrenia, são fatores relacionados a
taxas mais altas de suicídio. Além disso, uma pessoa que já teve tentativa anterior de
cometer o suicídio tem maior risco de cometê-lo.
No Brasil, a cada 45 minutos, duas pessoas tentam se matar, nesse mesmo
espaço de tempo, uma delas com certeza conseguirá dar cabo a sua própria vida. A
média brasileira é de 6 a 7 mortes por 100 habitantes, bem abaixo da média mundial,
mas ainda assim é um dado assustador em se tratando de jovens com idades entre 13 e
14 anos.
Segundo Botega, para avaliarmos o risco de o evento efetivar-se, exige-se
descobrir: qual foi a circunstância de sua vida que motivou tal decisão; em que
momento de sua história essa experiência surgiu; a quem ou o que ele pretende atingir
com isto; qual é o sentido que essa pessoa acredita poder atribuir a esse seu ato; qual é
sua verdadeira determinação em conseguir efetuar esse auto-ataque.
O suicídio é apontado como um assunto tabu dentro dos lares e da mídia, a
discussão sobre o tema fica ainda mais restrita ao universo de médicos psiquiatras,
psicólogos e estudantes da área.
O Conselho Federal de Psicologia (CFP), lançou em 2013 a publicação
“Suicídio e os desafios para a Psicologia”. Nele consta que a ideia de se fazer o livro
surgiu da grande repercussão de dois debates online, realizados pelo Conselho Federal
de Psicologia (CFP), que chamaram atenção de milhares de psicólogos (as) em todo o
Brasil para um assunto que foi, por muitos anos, absolutamente velado.
O Conselho Federal de Psicologia (CFP), assumiu então a responsabilidade de
promover o acesso público e profissional às informações sobre os aspectos de prevenção
e comportamentos de suicídio e possibilitou através da obra a promoção de serviços de
apoio e reabilitação de pessoas afetadas por este tipo de ocorrência.
A preparação dos estudantes de psicologia deve se dar ainda na sua formação
acadêmica, uma vez que os estudantes representam um grupo de futuros profissionais
que precisam estar aptos a atender estes pacientes além de atuar na prevenção de
tentativas de autoextermínio.
Para os estudantes de psicologia, durante o período de formação profissional,
percebemos a necessidade de formação no decorrer do curso, pois esses estudantes não
dispõem de uma disciplina específica que os orientem a lidar com a realidade do
paciente com tendência suicida. Portanto, nesta pesquisa buscou-se verificar como se dá
a orientação e preparação acadêmica, bem como se há a necessidade de se promoverem
estudos complementares durante o período de formação profissional sobre o
atendimento a pacientes com sofrimento psíquico de risco suicida, englobando os
fatores de risco, os sinais de alarme, as características do paciente, os métodos
adequados para o tratamento. A realidade clínica nos aponta para a existência de
demanda para os casos de atendimentos a pacientes com este tipo de risco, na clínica
escola e que, por conseguinte, exigem do profissional em formação, o conhecimento
teórico sobre o suicídio, a adoção de técnicas e procedimentos específicos para o
manejo clínico da situação e uma permanente reflexão acerca de até que ponto vai nossa
responsabilidade perante o paciente e a sociedade, pois trata-se de um envolvimento
entre estagiário, supervisor, talvez o psiquiatra que atenda ao paciente e, sobretudo, a
família deste na busca pela sua recuperação.
Desta maneira, conhecer as atitudes de estudantes de psicologia frente ao
suicídio, permitirá compreender as lacunas existentes frente à temática, além de ser útil
na prevenção do suicídio, já que atitudes negativas estão fortemente associadas à falta
de conhecimento e influenciam diretamente a qualidade do cuidado prestado.
Portanto, o objetivo deste estudo será conhecer as atitudes dos estudantes de
psicologia em relação ao comportamento suicida e avaliar se ocorrem mudanças nas
atitudes dos alunos ao longo do curso.

DESENVOLVIMENTO.

Trata-se de uma pesquisa exploratória e qualitativa. A população considerada


para fins deste estudo será constituída dos alunos do curso de Psicologia do Instituição
de Educação Superior, regularmente matriculados, de ambos os sexos e cursando
disciplinas onde o tema suicídio é de alguma forma tratado. Desta maneira, desejamos
desenvolver um estudo que permita conhecer as atitudes dos estudantes de psicologia
desta digna instituição de ensino superior frente à tentativa de autoextermínio de seus
pacientes na clínica escola ou não e compreender a percepção dos mesmos acerca desta
ação. Conhecer as atitudes e percepções dos estudantes de psicologia, se torna
importante para identificar as possíveis lacunas existentes em sua formação e propor
possíveis ações que visem o atendimento às pessoas que tentaram o suicídio.
Inicialmente buscou-se embasamento teórico junto à literatura existente para
ampliar os conhecimentos acerca da temática que servem de apoio na formação e
atuação do futuro psicólogo. Os participantes deste estudo serão abordados
pessoalmente pelas estagiárias, que serão as responsáveis pela coleta dos dados e
informados acerca da voluntariedade de sua participação, confidencialidade e anonimato.

METODOLOGIA.
Este trabalho é uma replicação de parte da tese de doutorado de Liliane Lourdes
de Oliveira Silva, que avalia o comportamento de profissionais da enfermagem frente ao
comportamento suicida, ficando alterados a quantidade e sujeitos amostrais, senso estes
alunos do curso de Psicologia.
MÉTODO.
Para o presente estudo foi aplicado o questionário de atitudes frente ao
comportamento suicida (QUACS), validado por Neury José Botega, em 2004.
Participaram 23 alunos do 9o período, noturno, do curso de Psicologia de uma
Instituição de ensino superior, que responderam voluntariamente ao questionário.

CRITÉRIOS DE INCLUSAO E EXCLUSAO.

Participaram os alunos do 9o período regularmente matriculados, que aceitaram


responder as perguntas, ficando excluídos os alunos que se recusaram fazer parte da
pesquisa e alunos de outros períodos.

CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

Aplicação foi coletiva e todos os alunos participantes receberam o termo de


consentimento livre e esclarecido, o qual continha todos as questões éticas inerentes ao
trabalho.
Este estudo atende a Resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde, que
versa sobre diretrizes regulamentadores de pesquisas com seres humanos.

INSTRUMENTO

O QUACS compreende uma escala de 21 itens abordando crenças, sentimentos e

reações em relação às pessoas com comportamento suicida. Os itens foram selecionados

e reações em relação às pessoas com comportamento suicida e frases sobre as atitudes

geradas a partir de grupos focalizados. Cada questão corresponde a uma escala visual de

10 cm. A pontuação das questões é realizada por meio de uma marcação na escala, que

pode variar de 0 a 10, onde 0 é igual a discordância total e 10 a concordância total.


RESULTADOS

Tabela 1: caracterização da amostra de alunos


GÊNERO
Quantidade %
FEMININO 15 71,42
MASCULINO 5 23,8
NÃO INFORMADO 1 4,78

IDADE MÉDIA

IDADE 32
DESVIO 8

RELIGIÃO

CATÓLICO 11
EVANGÉLICO 4
ATEU 3
ESPÍRITA 3

FREQUÊNCIA RELIGIOSA

UMA VEZ POR SEMANA 10


UMA VEZ POR MÊS 3
UMA VEZ POR ANO 2
QUASE NUNCA 6

A maioria dos estudantes que participaram da pesquisa, 71,42%, é do sexo feminino.

78,26 % se consideram uma pessoa religiosa , sendo a religião católica mais frequente

(47.82%). 43.47% relataram frequentar a igreja 1 vez por semana. A média de idade foi

de 32 anos, com o mínimo de 22 e o máximo de 45.

Tabela 2: Análise descritiva dos fatores


QUESTÕES
média desvio
QUESTÃO 1 5,17 2,83
QUESTÃO 2 3,95 3,20
QUESTÃO 3 4,81 3,01
QUESTÃO 4 4,76 3,08
QUESTÃO 5 5,19 1,99
QUESTÃO 6 3,19 2,42
QUESTÃO 7 5,62 3,20
QUESTÃO 8 5,62 3,26
QUESTÃO 9 2,86 2,46
QUESTÃO 10 5,24 2,47
QUESTÃO 11 3,38 2,89
QUESTÃO 12 3,90 3,65
QUESTÃO 13 4,48 2,60
QUESTÃO 14 3,24 2,26
QUESTÃO 15 4,86 3,42
QUESTÃO 16 5,81 2,06
QUESTÃO 17 4,10 2,57
QUESTÃO 18 4,33 2,83
QUESTÃO 19 3,38 2,36
QUESTÃO 20 3,90 3,94
QUESTÃO 21 5,24 2,47
QUESTÃO 22 4,52 2,56
QUESTÃO 23 2,95 2,20
ANALISE DE DADOS

As perguntas contidas no QUACS foram agrupadas em três fatores:


“Sentimentos negativos perante o paciente suicida”, “percepção de capacidade
profissional” e “direito ao suicídio”. Em “sentimentos negativos perante o paciente”,
quanto maior a pontuação maior a presença de tais sentimentos, os quais podem
dificultar o auxílio ao indivíduo que incorreu em comportamento suicida. Em relação ao
fator “percepção de capacidade profissional”, quanto maior a pontuação, mais confiante
o estudante se sente para lidar com indivíduos com comportamento suicida. No fator
“direito ao suicídio”, uma maior pontuação pode significar uma atitude mais “moralista”.
A população do estudo foi de vinte alunos, estudantes de psicologia, sendo a
maioria do sexo feminino. Devia a baixa amostragem não podemos generalizar os
resultados.

No fator “sentimentos negativos perante o paciente suicida”, a média foi de


22,03% com desvio padrão de 9,08%. O gráfico teve uma leve inclinação para direita
indicando uma visão mais radical em respeito ao paciente suicida.

Fator 1
6

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9

Figura 1: Sentimentos negativos em relação ao paciente suicida.


No fator “Capacidade profissional”, a média da amostra foi de 24,3% com
desvio padrão 6,01%, indicando de modo geral a insegurança dos alunos frente a um
paciente com ideação suicida.

Fator 2
8

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9

Figura 2: Capacidade profissional.

No fator “Direito ao suicídio”, a média da amostra corresponde a 23,04% com


desvio padrão de 9,02%, indicando um perfil conservador e uma visão altamente
moralista pelos estudantes.
Fator 3
7

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9

Figura 3: Direito ao Suicídio.

DISCUSSÃO.

Segundo os resultados analisados, o estudante de Psicologia do nono semestre


tem uma visão bem humanista sobre o caso, porém, se sentem inseguros para lidar com
a situação. A grande parte da amostra não demostra tanto sentimento negativo, mas foi
claramente constatado a falta de preparo para lidar com essa situação.
Com relação ao fator “Sentimentos negativos em relação ao paciente”, os alunos
demonstraram uma visão humanista, no entanto, uma leve inclinação para a direita da
curva mostra que uma parcela de 8,6%, quase 1/10 da amostra, mostrou ter uma visão
radical a respeito do suicídio. Considerando que o pensamento e os sentimentos são
capazes de influenciar o comportamento, é necessário abordar o tema suicídio de forma
mais ampla e com mais densidade com os alunos.
Em relação a capacidade profissional, apesar de disciplinas anteriores que
abordaram o tema, (porcentagem) demonstra que os estudantes possuem um sentimento
de insegurança ao lidar com pessoas com ideação suicida.
Em relação ao direito ao suicídio, 17,49% são altamente moralistas em relação
ao tema mostrando a carência de conhecimento acerca do suicídio influenciando na
visão sobre o assunto e as pessoas que tentaram ao ato.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

O suicídio ainda uma temática que nós necessitamos aprofundar mais no nosso
processo formativo. Nós estudantes, nos sentimos ainda inseguros para lidarmos com os
pacientes que tentam o suicídio embora abordemos a temática em algumas disciplinas
no nosso curso, percebemos ainda que temos a necessidade de aprofundarmos amis nas
discussões se leituras a respeito do assunto. A falta de discussão e debates sobre o tema,
contribui para que tenhamos segundo os dados levantados atitudes moralistas e
sentimentos negativos em relação ao indivíduo que tanto necessita de orientação.
Para mudarmos essa perspectiva seria necessárias atividades extracurriculares
tais como, debates, mesas redondas, palestras, minicurso, projeto de extensão
seminários e pesquisa. Talvez fosse uma das formas que nos dariam embasamento
teórico e nos possibilitasse ter uma maior segurança e assertividade para lidarmos com
um tema que é considerado tabu.
A inclusão desse tema em disciplinas de interesse pode provocar mudanças nas
atitudes e sentimentos nossos enquanto estudantes, para nos dar mais segurança na
nossa vida profissional para lidar com o suicídio e sabermos cuidar dos pacientes em
situações de crise e risco. Isso deve ser feito de uma forma que não se torne um
problema, levando em consideração os valores sociais, bioéticas, familiares, religiosos e
culturais.

REFERÊNCIAS

1. CASSORLA, R.(1991). O Suicídio. Estudos brasileiros. Campinas:


Papirus Editora.
2. MANHÃES, M.P.(1990). O enigma do suicídio. Rio de Janeiro: Imago.
3. BOTEGA, N.(2000). Suicídio e tentativa de suicídio. In B. Lafer; O.
Almeida; R. Fráguas Jr; E. Miguel. Depressão no ciclo da vida. (pp.
157,165). Porto Alegre: Artes Médicas Sul.
4. OMS. Organização Mundial de Saúde. Organizacíon Panamericana de
la saludador. Informe mundial sobre la violência y la salud para las
Americas. Washington: OMS. 2003
5. http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/BUBD
-9VZJ4H/tese_final.pdf?sequence=1

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