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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

Embrapa Mandioca e Fruticultura


Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Citricultura brasileira
em busca de novos rumos
Desafios e oportunidades
na região Nordeste

Clóvis Oliveira de Almeida


Orlando Sampaio Passos
Editores Técnicos

Embrapa Mandioca e Fruticultura


Cruz das Almas, BA
2011
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:

Embrapa Mandioca e Fruticultura


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Sônia Maria Sobral Cordeiro – Membro convidado

Coordenação editorial: Clóvis Oliveira de Almeida


Orlando Sampaio Passos

Revisão de texto: Léa Cunha


Normalização bibliográfica: Lucidalva Ribeiro Gonçalves Pinheiro
Projeto gráfico, editoração eletrônica e capa: Anapaula Rosário Lopes
Foto da Capa: Orlando Sampaio Passos

1ª edição
1ª impressão (2011): 500 exemplares

Todos os direitos reservados


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Embrapa Mandioca e Fruticultura

C581

Citricultura brasileira: em busca de novos rumos desafios e oportunidades na região Nordeste /


Clóvis Oliveira de Almeida, Orlando Sampaio Passos, editores; autores, Clóvis Oliveira de
Almeida ... [et al.]. − Cruz das Almas : Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2011.
160p. : il. color.; ; 21 cm.

ISBN: 978-85-7158-027-5
1.Citricultura . I Almeida, Clóvis Oliveira de ... II Passos, Orlando Sampaio

CDD 641.343 04 (21.ed.)
© Embrapa, 2011
Autores

Clóvis Oliveira de Almeida


Engenheiro agrônomo, D.Sc. em Ciências (Economia Apli-
cada), pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura,
Cruz das Almas, BA, calmeida@cnpmf.embrapa.br

Orlando Sampaio Passos


Engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Mandio-
ca e Fruticultura, Cruz das Almas, BA, orlando@cnpmf.
embrapa.br

Almir Pinto da Cunha Sobrinho


Engenheiro agrônomo, MSc. em Fitotecnia, pesquisador
aposentado da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Cruz das
Almas, BA, apcsobrinho@hotmail.com

Walter dos Santos Soares Filho


Engenheiro agrônomo, D.Sc. em Melhoramento Gené-
tico, pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura,
wsoares@cnpmf.embrapa.br
Apresentação

A citricultura brasileira, hegemônica na produção e exporta-


ção mundial de suco congelado de laranja, vem enfrentando
desafios tão grandes quanto a sua importância para a
economia do País. A forte concentração na região Sudeste,
a implantação em áreas contínuas e extensas, bem como
a grande dependência do mercado externo de suco, talvez
estejam na origem da ameaça pela qual passa a citricultura
no momento atual.

A multiplicidade de climas e solos existentes no vasto


território nacional torna quase que natural a necessidade
de melhor distribuição espacial e de espécies da produção
nacional de citros – uma lenta mudança que deve passar
da concentração à diversificação. A região Nordeste, pelos
seus variados ecossistemas, apresenta-se como uma das
maiores oportunidades para a expansão da citricultura e o
desencadeamento do processo de diversificação.

Na presente obra são abordados temas relacionados ao


setor produtivo e de processamento de citros no Brasil,
mercados externo e interno de frutas cítricas de mesa e
novas variedades e regiões de produção. As possibilidades
para a expansão da citricultura em terras nordestinas, de-
tentoras de condições adequadas ao cultivo de diferentes
espécies e variedades, são amplamente discutidas.

A Embrapa Mandioca e Fruticultura e o Banco do Nordeste


têm a satisfação de trazer ao público o livro “Citricultura
brasileira em busca de novos rumos – desafios e oportu-
nidades na região Nordeste”, com a esperança de estar
contribuindo para um entendimento atualizado da ativida-
de e o seu desenvolvimento em bases mais sustentáveis
no País.

Domingo Haroldo Reinhardt


Chefe Geral da Embrapa Mandioca e Fruticultura
Sumário

Introdução............................................................................................ 9

Capítulo 1: Produção brasileira de citros de uso industrial................ 11


Vulnerabilidade na produção...........................................................................13

Capítulo 2: O setor de processamento de suco................................. 21


Tendências do setor de processamento de suco............................................23
Tendências do mercado externo de suco........................................................24

Capítulo 3: O mercado externo de frutas cítricas de mesa................ 33

Capítulo 4: O mercado interno de frutas cítricas de mesa................. 39

Capítulo 5: Necessidade de diversificação


e alternativa de produção................................................................... 59
Produção de citros em áreas tradicionais da região Nordeste....................... 63
Áreas potenciais para produção de citros de mesa na região Nordeste.........66

Capítulo 6: Seleção de cultivares


porta-enxertos para o Nordeste brasileiro.......................................... 73
Uso de porta-enxertos na região do Nordeste do Brasil................................ 76

Capítulo 7: Comportamento de variedades cítricas na região


da Chapada Diamantina, Estado da Bahia, Nordeste do Brasil....... 101
Laranjas doces..............................................................................................105
Tangerinas e híbridos....................................................................................129
Limas e Limões.............................................................................................149

Referências...................................................................................... 157
Introdução

As espécies cítricas são originárias das áreas subtropicais


e tropicais da Ásia, de onde se disseminaram a outras
partes do mundo de forma tal que, para Webber (1967),
a sua história poderia ser lida como se fosse um romance.
Fora do seu habitat original, os cítricos encontraram as con-
dições mais favoráveis na faixa subtropical, embora seja nos
trópicos onde se verificou a maior evolução no seu cultivo.

Os portugueses introduziram sementes de laranja doce


nas ilhas da Madeira, nas Ilhas Canárias e em outras colô-
nias do Atlântico leste. Cristóvão Colombo, na sua segunda
viagem, em 1493, levou sementes desta espécie, que se
encontravam nas ilhas Canárias, à ilha do Haiti, em 1518.
Depois, a laranja doce se dispersou pela América Central e
pela América do Norte, introduzindo-se assim pela primeira
vez no Novo Mundo. Na América do Sul, especificamente
no Brasil, a laranja doce foi introduzida pelos jesuítas por-
tugueses por volta do ano 1530 nos estados da Bahia e de
São Paulo, onde permaneceu por mais de quatro séculos
sem constituir uma atividade econômica.

Atualmente o Brasil é o primeiro produtor mundial de citros


e o maior exportador de suco concentrado e congelado de
laranja doce – principal produto do complexo agroindustrial
da citricultura brasileira. Embora tenha desfrutado e con-
tinue desfrutando de inegável importância econômica, as
condições internas de produção e as recentes mudanças

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 9


na demanda externa por suco concentrado e congelado
têm contribuído para o aumento da vulnerabilidade do setor
citrícola nacional.

Nas páginas seguintes deste livro, realiza-se um breve


diagnóstico dos principais desafios associados à produção
de citros no Brasil e, em especial, na região Nordeste -
área com grande potencial de expansão da citricultura no
País. Uma vez identificados os desafios, são apresentados
novos rumos, tendências e oportunidades que se apre-
sentam a esse importante setor do agronegócio brasileiro,
especialmente aqueles relacionados ao grupo das laranjas
doces, das limas ácidas e das tangerinas.

10 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


1
Capítulo 1

Produção brasileira
de citros de uso industrial

Clóvis Oliveira de Almeida


Orlando Sampaio Passos
Vulnerabilidade na produção

A produção brasileira de citros está distribuída por todas


as regiões do País, mas com uma notória concentração na
região Sudeste, especialmente no Estado de São Paulo,
cujos pomares estão demasiadamente concentrados na
laranja doce, vindo a seguir as tangerinas e as limas ácidas.
A Tabela 1 traz a distribuição geográfica da produção bra-
sileira de citros e especialmente de laranja doce, principal
espécie frutífera cultivada no Brasil, seja em área plantada
ou colhida, quantidade produzida, valor da produção ou
geração de emprego.

Além da concentração espacial, a produção brasileira de


laranja também apresenta expressiva concentração com
respeito às variedades copas e porta-enxertos utilizadas.
Estima-se que o limoeiro Cravo responda por mais de 85%
dos porta-enxertos, sendo a laranjeira Pera, à exceção
do Rio Grande do Sul, a variedade-copa predominante.

Tabela 1. Distribuição geográfica da produção de laranja doce, tangerina


e lima ácida no Brasil, média percentual do período 2000 a 2009.

Participação na produção
Região (%)
Laranja doce Tangerina Lima ácida
Sudeste 84,76 56,96 87,50
Nordeste 8,31 3,26 6,73
Sul 4,79 37,92 3,34
Norte 1,39 0,59 1,25
Centro-Oeste 0,75 1,27 1,18
Fonte: IBGE, 2011.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 13


Quanto ao destino da produção, mais de 70% são destinados
à indústria de suco, o que explica a atual preferência pelas
variedades-copa mais exploradas. A Tabela 2 apresenta
uma estimativa da predominância de variedade porta-
enxerto nos principais estados produtores de laranja no
Brasil. Diferentemente de países como Argentina, Espanha
e Estados Unidos, no Brasil a utilização de espécies e
variedades-copa é bastante restrita (Tabela 3).

Tabela 2. Variedades porta-enxerto predominantes nos principais


estados brasileiros produtores de citros, em porcentagem.

Variedades porta-enxerto
Estados Limoeiro ‘Cravo’ Limoeiro ‘Rugoso’ Trifoliata
(Citrus limonia (C. jambhiri Lush.) ‘Poncirus
Osbeck) trifoliata (L.) Raf.’
São Paulo 85 – –
Bahia 90 – –
Sergipe 50 50 –
Minas Gerais 90 – –
Paraná 90 – –
Pará 90 – –
Rio de Janeiro 98 – –
Rio Grande do Sul – – 92
Fonte: Passos et al. (2005).

Tabela 3. Variedades-copa predominantes nos principais estados


brasileiros produtores de citros.

Estados Variedades-copa

Laranjeira Pera
São Paulo
Laranja Valência
Continua...

14 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Tabela 3. Continuação.

Estados Variedades-copa

São Paulo Tangerineira Ponkan


Laranjeira Pera
Bahia Limeira ácida Tahiti C. latifolia (Yu. Tanaka)
Tanaka
Sergipe Laranjeira Pera
Minas Gerais Laranjeira Pera
Rio Grande do Sul Laranjeira Valência (C. sinensis)
Paraná Laranjeira Pera
Pará Laranjeira Pera
Rio de Janeiro Laranjeira Seleta

A estreita base genética, tanto das variedades-copa como


porta-enxerto atualmente utilizadas, torna a citricultura al-
tamente vulnerável, podendo se repetir o que aconteceu
no final da década de 30 e início dos anos 40, quando,
por introdução do vírus da tristeza, o Brasil perdeu mais de
10 milhões de plantas, ou seja, a quase totalidade da sua
citricultura à época. Isso ocorreu, justamente, porque havia
um único porta-enxerto em uso: a laranjeira ´Azeda`. Ainda
hoje, a monocitricultura e a falta de uma eficiente barreira
que possa evitar a rápida proliferação de pragas e doenças
nos principais pomares de laranja do País expõem a citri-
cultura brasileira a uma situação de vulnerabilidade e de
alto custo de manutenção. Essa situação é especialmen-
te observada no Estado de São Paulo, onde a produção
cresceu, por décadas, de forma acelerada e orientada
para a indústria de suco e, impulsionada, principalmente,

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 15


pela expansão da área de plantio1. Não é por acaso que os
gastos com defensivos já representam a maior parcela do
custo operacional de produção nos pomares do Estado de
São Paulo (Figuras 1, 2 e 3).

A distribuição percentual de custos de produção apresen-


tada nas Figuras 1 e 2 leva em consideração somente um
número mínimo de pulverizações realizadas pela maioria
dos pequenos e médios citricultores do Estado de São
Paulo. Tais pulverizações têm por objetivo o controle das

Figura 1. Distribuição percentual do custo operacional total relativo à cultura


da laranja [Citrus sinensis (L.) Osbeck] para indústria. Pomar em produção,
1 ha, 300 pés, produção de 600 caixas de 40,8 kg, Norte do Estado de
São Paulo, safra 2003/2004.
Fonte: Ghilardi et al., 2004.

1
Recentemente a área plantada com laranja no Estado de São Paulo vem diminuindo, ao tempo
em que se observa um incremento de produtividade decorrente da adoção de um conjunto de
tecnologias: adensamento de plantio, variedades melhoradas e adaptadas, mudas de boa qualidade
e irrigação. Cerca de 17% a 20% dos pomares do estado são irrigados, o que tem proporcionado,
por si só, um incremento médio de 35% de rendimento em relação aos não irrigados.

16 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Figura 2. Distribuição percentual do custo operacional relativo à
cultura da laranja [Citrus sinensis (L.) Osbeck] para indústria. Pomar
em produção, 1 ha, 300 pés, produção de 600 caixas de 40,8 kg, Sul
do Estado de São Paulo, safra 2003/2004.
Fonte: Ghilardi et al., 2004.

Figura 3. Distribuição percentual do custo operacional total ampliado


relativo à cultura da laranja [Citrus sinensis (L.) Osbeck] para indústria.
Pomar em produção, 1 ha, 300 pés, produção de 600 caixas de
40,8 kg, Norte do Estado de São Paulo, safra 2003/2004.
Fonte: Ghilardi et al., 2004.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 17


principais pragas e doenças: ácaros da leprose e da ferru-
gem, mosca-das-frutas, Colletotrichum, formigas, além do
controle de plantas infestantes por meio de herbicidas e da
aplicação de macro e micronutrientes (Ghilardi et al., 2004).

A Figura 3 traz a distribuição percentual do custo de produção


ampliado para a região Norte, uma das principais produtoras
de laranja no Estado de São Paulo. Nesta estimativa estão
incluídas as despesas com defensivos para controle de
outras pragas e doenças como bicho-furão, ortézia, pinta
preta e podridão floral. As despesas com o controle do
cancro cítrico, clorose variegada dos citros, morte súbita
(problema de natureza provavelmente viral) e da mais
recente e ameaçadora doença, o huanglongbing (HLB),
também conhecido por greening, não foram incluídas.
Na última década, essas quatro doenças provocaram
a erradicação de 39 milhões de plantas dos pomares
citrícolas dos estados de Minas Gerais e São Paulo (Neves
et al., 2011). Se adicionadas as perdas provocadas por
pragas, o total de plantas erradicadas chega a 40 milhões
de plantas, atestam os mesmos autores. Neves et al. (2011,
p. 62) também retratam a crescente pressão das despesas
com pesticidas sobre os custos de produção da citricultura:
“a maior pressão do greening e do CVC tem aumentado
exponencialmente o custo de inseticida na citricultura.
De 2003 até os dias atuais houve um crescimento de cerca
de 600%”.

Os problemas fitossanitários merecem especial atenção


porque podem pressionar o custo médio unitário de pro-
dução de duas formas: aumentando o custo variável com

18 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


a compra e aplicação de defensivos e reduzindo a produ-
tividade do pomar.

Nos últimos anos, os custos de produção também têm sido


pressionados pela elevação dos preços de outros insumos
no mercado interno, a exemplo dos preços de mudas,
fertilizantes e máquinas. A pressão sobre o preço das
mudas também decorre de acertadas medidas preventivas
contra problemas fitossanitários. Por força da lei, desde
2001, a produção de mudas no Estado de São Paulo
somente é permitida sob proteção em viveiros telados.
Mais recentemente o Estado de Sergipe também estabe-
leceu a obrigatoriedade de produção de mudas cítricas
em viveiro telados; caminho esse que também vem sendo
trilhado pela Bahia, na qual a lei que determina a produção
de mudas cítricas de forma protegida está prevista para
entrar em vigor a partir de 2013.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 19


2
Capítulo 2

O setor de processamento de suco

Clóvis Oliveira de Almeida


Orlando Sampaio Passos
Como relatado no primeiro capítulo, o principal destino da
produção de laranja na região Sudeste do Brasil é a indústria
de suco, a qual é voltada essencialmente para o mercado
externo. Portanto, as transformações ocorridas no setor de
processamento e no mercado externo de suco são refletidas
sobre os demais elos da cadeia produtiva do suco de laranja
no Brasil. A seguir são apresentadas as principais tendências
em andamento no setor.

Tendências do setor de processamento de suco

Nos últimos anos, as indústrias de suco vêm aumentando a


produção própria de laranja no sentido de assegurar parte
do suprimento de matéria-prima e assim manter a regula-
ridade na produção. No início da atual década, a produ-
ção própria de laranja já respondia por aproximadamente
35% das necessidades da indústria (Neves et al., 2011).
Essa estratégia diminui o risco das indústrias associado ao
suprimento de matéria-prima, mas simultaneamente pode
enfraquecer o elo da produção (representado pelos agri-
cultores) no estabelecimento, manutenção e/ou renovação
de contratos.

O segmento de processamento e exportação de suco


também tem manifestado, nas últimas décadas, uma
nítida tendência de concentração em torno de um pequeno
número de entidades privadas: em 1998 as quatro
principais empresas processadoras e exportadoras de suco
respondiam por 66% do volume total de suco exportado
e em 2003 chegaram a 78%. Com a venda da Cargill
para Cutrale e Citrosuco, essas duas maiores empresas

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 23


brasileiras do setor passaram a responder pela maior
parcela do processamento e das exportações brasileiras
de suco (Boteon, 2004). A mais recente iniciativa, ainda
não concluída, em busca de fusão ocorreu em 2010, entre
a Citrosuco, do grupo Fischer, e a Citrovita, do grupo
Votorantim. A concentração potencializa o ganho de escala
das empresas processadoras e exportadoras de suco,
porém enfraquece a cadeia de produção porque restringe
sensivelmente as opções de venda e, consequentemente,
de negociação do produtor de laranja.

Concomitantemente ao processo de concentração aqui


relatado, também adveio o aumento do risco da capacidade
ociosa das indústrias de processamento, o que não só
eleva o custo unitário médio de produção como igualmente
inibe a entrada de novas indústrias no setor.

Tendências do mercado externo de suco

Até a década de 1980 o mercado cativo norte-americano


de suco concentrado e congelado de laranja levou o Brasil
à negligência tanto da produção de laranja típica de mesa
quanto da produção de suco pronto para beber (Boteon,
1999). O mais importante, entretanto, não foi deixado de
lado: a busca de novos mercados para o escoamento das
exportações de suco, principal produto do complexo agroin-
dustrial da laranja, do qual o País desfruta de reconhecida
vantagem competitiva (Almeida, 2004). A década de 1980
distinguiu-se como aquela em que os preços internacionais
do suco concentrado e congelado de laranja registraram os
melhores níveis históricos.

24 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


A partir da década de 1970, enquanto a produção de laranja
no Brasil aumentava continuamente, ano após ano, a pro-
dução norte-americana também exibia uma impressionan-
te capacidade de reação às condições adversas do clima.
Graças ao redirecionamento, estrategicamente planejado e
executado ao longo de décadas, dos plantios de laranja da
região Norte para as regiões Central e Leste (Indian River)
do Estado da Flórida, menos suscetíveis à incidência de
geadas, os Estados Unidos passaram a registrar consi-
deráveis aumentos de produção nos anos 1990 (Passos,
1990; Boteon, 1999). A Tabela 4 traduz em números o
histórico esforço do citricultor do Estado da Flórida no
sentido de escapar das adversidades climáticas impostas
por rigorosas e sucessivas geadas que aconteceram nas
décadas de 70 e, principalmente, 80.

Tabela 4. Área cultivada, perdas provocadas pelas geadas e novos


plantios de citros no Estado da Flórida, 1966-1988.

Ano Área total Perdas Novos Diferença


(ha) (ha) plantios
(ha)
1966 347.265 – – –

1968 376.876 5.629 35.240 29.611

1970 381.013 10.568 14.705 4.137

1972* 355.334 33.569 7.890 -25.679

1974 349.700 16.261 10.627 -5.634

1976 344.953 16.397 11.650 -3.099

1978* 336.400 19.881 11.328 -8.553

1980 342.082 10.491 16.177 5.686


Continuação...

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 25


Tabela 4. Continuação.
Ano Área total Perdas Novos Diferença
(ha) (ha) plantios
(ha)
1982* 343.127 21.020 22.062 1.041

1984* 308.124 64.638 29.635 -35.003

1986* 252.731 75.111 19.719 -55.393

1988 282.451 21.141 50.861 29.720


*Geadas em janeiro de 1971, 1977, 1981, 1982, 1985 e 1986 e em dezembro de 1983 e 1985.
Embora não conste na Tabela, a primeira geada de grande intensidade ocorreu em 1962
(Passos, 1990).
Fonte: Flórida Agricultural Statistics Service, 1988, citado por Passos (1990).

Essa estratégia permitiu a recuperação da produção


norte-americana de laranja, interrompendo o período de
queda provocado pelas geadas que ocorreram na década
de 1980 (Almeida, 2004). Ao mesmo tempo, diminuiu a
dependência norte-americana da importação de suco,
especialmente do Brasil (Boteon, 1999). A Tabela 5 traz as
taxas de crescimento da produção de laranja nos Estados
Unidos, em que se pode observar os períodos de expansão,
declínio e recuperação.

Tabela 5. Taxa geométrica de crescimento, média anual, da produção


de laranja nos Estados Unidos.

Período Taxa geométrica de crescimento


(%)

1961 – 1969 5,20

1970 – 1979 2,32

1980 – 1989 -2,80

1990 – 1989 4,98


Fonte: FAO, 2004. Dados básicos.

26 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Refletindo a nova conjuntura, as cotações internacionais
dos preços do suco de laranja registraram fortes quedas nos
anos 1990 (Figura 4). Igual comportamento foi observado
nos preços da laranja destinada ao mercado doméstico e à
indústria de suco.

Na virada do milênio atual (2000 a 2003), os preços in-


ternacionais do suco concentrado e congelado de laranja
continuaram a trajetória de declínio, agravando a situação
de descapitalização que o setor já vinha enfrentando desde
a década anterior.

Naquele período, aliavam-se à tendência de declínio dos


preços internacionais do suco na Bolsa de Nova York as

Figura 4. Evolução dos preços de suco de laranja [Citrus sinensis (L.)


Osbeck] no mercado internacional, da laranja no mercado doméstico e
da laranja destinada à indústria nacional, 1980 a 1999.
Fonte: Boteon, 1999.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 27


barreiras tarifárias, que até então perduram, impostas
ao suco brasileiro pelos principais países importadores
de suco de laranja. Nos Estados Unidos essas tarifas
sobre o suco brasileiro chegam a ser proibitivas, relati-
vamente àquelas aplicadas a outros países, a exemplo
do México e da Costa Rica (Almeida, 2004). Enquanto
sobre o suco concentrado e congelado de laranja do
Brasil incide uma tarifa, equivalente ad valorem, das mais
altas aplicadas pelos Estados Unidos, as exportações
de suco de laranja realizadas pelo México e pela Costa
Rica gozam de tratamento privilegiado (Brasil, 2003).
O primeiro, em função do Acordo de Livre Comércio da
América do Norte (Nafta) criado em 1994, e o segundo,
em decorrência do Acordo para Recuperação Econômica
da Bacia do Caribe (Cbera), de 1983 (Brasil, 2003). Na
Europa, o tratamento também é discriminatório em relação
ao suco brasileiro: enquanto o suco proveniente do Brasil
é tarifado, estão isentos de tarifas os sucos de laranja ori-
ginados do México e dos países do Caribe e do Norte da
África (Neves et al., 2011).

Mesmo diante de uma conjuntura externa desfavorá-


vel, registrada a partir de meados da década de 1990 –
caracterizada por excesso de oferta de laranja e de suco,
redução das importações norte-americanas e barreiras
tarifárias – o Brasil não só conseguiu preservar, mas au-
mentar a posição conquistada no mercado internacional.
Essa conquista não aconteceu por acaso, mas como
resultado de uma acertada e feliz estratégia de diver-
sificação de mercados e da produção (Almeida, 2004).

28 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Há mais de uma década, a União Europeia passou a ser o
principal mercado de destino das exportações brasileiras
de suco concentrado e congelado de laranja, situando-se
o bloco Nafta, que tem os Estados Unidos como principal
importador, na segunda posição. Em produção, a opção
do Brasil foi pela manutenção e aceleração do processo
de diversificação iniciado em 1980, quando o País também
passou à condição de produtor e exportador de suco de
laranja de maior valor agregado, o suco simples. A manu-
tenção dessa privilegiada posição alcançada ao longo de
décadas depende de uma estratégia que priorize a perma-
nência nos mercados cativos, a busca de novos mercados
e o aumento do poder de negociação do País nos acordos
bilaterais, multilaterais e, especialmente, na Organização
Mundial do Comércio – OMC; como, aliás, já vem ocorren-
do nos últimos anos. Em 2011 o Brasil registrou uma histó-
rica vitória contra os Estados Unidos na OMC, em relação
às medidas antidumping aplicadas às importações do suco
de laranja, as quais foram consideradas incompatíveis com
as normas do comércio internacionais.

Na última década, as cotações internacionais do suco


concentrado e congelado de laranja na bolsa de Nova
York mantiveram a típica trajetória de forte oscilação, ora
com viés de baixa explicado por excesso de produção de
laranja e de estoque de suco concentrado, no Brasil e/ou
nos Estados Unidos, e ora com viés de alta provocado por
redução na produção de laranja e de suco. Trata-se, portan-
to, de um mercado com forte viés de ajuste do lado da oferta.
Nos últimos anos, as temporadas de furacões na Flórida,

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 29


principal região produtora de laranja de uso industrial nos
Estados Unidos, têm contribuído para aumentar as incerte-
zas no mercado internacional de suco. Os danos causados
pelos furacões certamente não serão capazes de mudar
a tendência de longo prazo das cotações internacionais
de suco concentrado e congelado de laranja, e de redução
da dependência de importações norte-americanas do suco
brasileiro – especialmente se mantido o recuo na demanda
per capita e global nos principais mercados importadores,
e a forte concorrência com outros sucos mais baratos e/ou
menos calóricos2. Uma outra fonte de incerteza, no entanto,
que age em sentido oposto ao movimento de acomodação
da demanda de suco de laranja, é ainda mais “nebulosa” e
preocupante: a crescente incidência do HLB nos pomares
da Flórida, nos Estados Unidos, e em São Paulo, no Brasil,
principais produtores mundiais do suco da fruta. Esse é um
problema capaz de mudar não só a tendência nas cotações
dos preços internacionais do suco, como também todo o
cenário atual da citricultura mundial.

2
Neves et al. (2011, p. 06) atestam que “Nos Estados Unidos, principal consumidor mundial, a
demanda per capita de suco de laranja decresceu 23% nos últimos sete anos, saindo de 23 litros
para 17 litros per capita. Nos 14 principais mercados da Europa Ocidental, a retração foi de 13
para 12 litros per capita. Na Alemanha, o primeiro em consumo na Europa, a diminuição foi de
26%”. Recentemente, a revista Globo Rural divulgou um “estudo encomendado pela CitrusBR,
com dados da Tetrapack e Euromonitor copilados pela consultoria Markestrat” evidenci-
ando que no período de 2003 a 2010, a retração no mercado global de suco de laranja chegou a
127 mil toneladas, o equivalente ao consumo total da França em um ano. As maiores retrações
aconteceram nos Estados Unidos, 194 mil toneladas (19%); Alemanha, 58 mil toneladas (22,8%);
Japão, 23 mil toneladas; e Reino Unido, 3 mil toneladas (2,5%). No entanto, com base na mesma
fonte, o consumo cresceu na Rússia, 84 mil toneladas (63,8%); China, 88 mil toneladas (99%);
Marrocos, 5 mil toneladas (743%); Argentina, 13 mil toneladas (358%); Indonésia, 6 mil toneladas
(212,8%); e Romênia, 4 mil toneladas (162,7%). Apesar disso, o sabor laranja continua sendo o
mais consumido entre as bebidas de frutas prontas para beber (Neves et al., 2011).

30 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Em função da notória vantagem competitiva do Brasil no
mercado internacional de suco, o País deve continuar
priorizando o mercado externo da commodity sem,
contudo, negligenciar o que ainda é secundário: o mercado
doméstico e a produção de frutas cítricas de mesa
(Almeida, 2004). Um mercado doméstico forte, além de
ser uma opção para o escoamento da produção, serve
também como “amortecedor” dos inevitáveis, recorrentes
e na maioria das vezes imprevisíveis, choques externos
(Almeida, 2004). Aliás, o fortalecimento do mercado interno
foi uma das principais estratégias de proteção da economia
brasileira contra as crises externas que ocorreram nos
últimos dez anos – uma lição que também pode e deve ser
aplicada à economia setorial.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 31


3
Capítulo 3

O mercado externo
de frutas cítricas de mesa

Clóvis Oliveira de Almeida


Orlando Sampaio Passos
Assim como as condições naturais, o conhecimento sobre
o mercado também constitui um pilar sobre o qual deve
apoiar-se a decisão do citricultor em relação a qual varie-
dade plantar. Por natureza, a citricultura é um negócio de
médio e longo prazos, que requer e imobiliza um aporte
expressivo de capital inicial para investimento na formação
e condução do pomar. Uma vez instalado, o pomar leva em
torno de três anos para entrar em produção, mas o retorno
econômico só começa por volta do sexto ano. Uma outra
dificuldade afeta ao mercado de produtos agrícolas pere-
cíveis, e especialmente ao de frutos de mesa, é a quase
impossibilidade de estocagem, imposta pelo elevado custo
de aquisição e operação das câmaras frias – inacessíveis
ao pequeno produtor. Portanto, de forma geral, a comer-
cialização de frutos de mesa deve acontecer logo após a
colheita. Cada tempo que se perde entre a colheita e a
comercialização, perde-se também em qualidade interna e
externa de fruto e, consequentemente, em preço.

O mercado de frutas cítricas de mesa é fortemente influen-


ciado pela aparência externa do fruto. Ainda que se tenha
boa qualidade interna, sem uma adequada aparência
não se consegue alcançar os mercados mais exigentes.
Portanto, o conhecimento das principais formas de co-
mercialização e de consumo nos mercados que se deseja
alcançar são condições necessárias na escolha do que
plantar, especialmente se considerada a especificidade das
cultivares (frutos típicos de mesa e frutos de uso industrial).

Nas últimas três décadas, a produção mundial de frutas cí-


tricas aumentou em resposta à demanda global por suco e

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 35


frutas in natura, especialmente nos países desenvolvidos.
A evolução dos meios de comunicação, transporte e emba-
lagens contribuiu, por sua vez, para dinamizar o comércio
a longas distâncias, beneficiando diretamente o setor de
perecíveis, tais como o de frutas frescas.

A produção de citros no mundo está dispersa em vários


países e continentes, mas há uma certa especialização
geográfica na produção e na comercialização. Os dados
da FAO revelam que os países do continente americano
(Brasil, Estados Unidos e Argentina) são dominantes na
produção e comercialização de sucos cítricos enquanto os
países do Mediterrâneo são mais especializados na pro-
dução e comercialização de frutas cítricas frescas, espe-
cialmente laranjas doces e tangerinas. Em limas ácidas,
Brasil e México são os líderes de produção e exportação.
No Brasil, a lima ácida ‘Tahiti’ é predominante enquanto no
México há tanto a ‘Tahiti’ quanto ‘Galego’, chamados de
‘limón Persa’ e ‘lima Mexicana’, respectivamente.

No grupo das tangerinas, com destaque para as Clementi-


nas, e das laranjas doces, o principal exportador é a Espanha.
A citricultura espanhola, embora tradicional no continente
europeu, só conseguiu desenvolver o seu potencial nas duas
últimas décadas. As condições ecológicas adequadas, o
mercado amplo e próximo aos grandes centros de consumo,
bem como o ingresso na União Europeia, foram fatores
que alavancaram o seu crescimento. Decisões de ordem
política, assim como a aliança entre os setores público e
privado, também foram decisivos para o sucesso da ativida-
de no País. A obtenção e a liberação para os agricultores de
material básico certificado foi um dos principais resultados

36 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


dessa aliança. Desde a criação do programa de certificação
nos anos 80, mais de 120 milhões de plantas certificadas
foram utilizadas na citricultura espanhola.

Além da Espanha, outros países do Mediterrâneo também


figuram como exportadores de frutas cítricas de mesa, tais
como: Chipre, Egito, Grécia, Israel, Itália, Marrocos e Turquia.

Outros países que estão fora da área do Mediterrâneo,


mas que também exportam frutas cítricas in natura e estão
situados no hemisfério Norte são: Estados Unidos, China e
México. No hemisfério Sul, os principais exportadores são
a África do Sul, a Argentina, o Chile e o Uruguai, que con-
seguem produzir no período de entressafra dos países do
hemisfério Norte. O Brasil, também situado no hemisfério
sul, tem expressão apenas nas exportações de lima ácida
‘Tahiti’. As exportações de laranja ainda são inexpressivas.

Nas últimas três décadas, o comportamento das expor-


tações de frutos cítricos no mundo evidencia uma clara
tendência de aumento das exportações das laranjas e dos
limões na forma de suco e do pomelo, das tangerinas e de
outras frutas cítricas na forma in natura (Imbert, 2006). Tal
registro corrobora com a afirmação de Neves et al. (2011
p. 30), que constataram nas regiões citrícolas do mundo
especializadas na produção de frutos de mesa uma ten-
dência de substituição da laranja por outros cítricos, espe-
cialmente tangerinas ou “mandarinas”, como são denomi-
nadas na Europa. Segundo os mesmos autores, a principal
motivação dessa gradual substituição é a preferência dos
consumidores por frutos mais fáceis de descascar.

Embora seja normal a renovação das preferências dos


consumidores em relação às variedades demandadas no

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 37


mercado, em geral as mais preferidas são aquelas que
apresentam - além de frutos sem sementes e fáceis de
descascar - ausência de manchas, coloração intensa e
uniforme, acidez equilibrada, resistentes ao transporte e
vida útil de prateleira mais longa.

Em resposta às preferências do mercado, a produção de


tangerinas dos países do Mediterrâneo vem passando, ao
longo do tempo, por um contínuo processo de renovação
de variedades. A Tabela 6 traz as mudanças ocorridas na
produção enquanto a Tabela 7 apresenta aquelas ocorridas
no mercado, em que podem ser observadas as várias fases
de ciclo de vida de um produto (variedade) no mercado:
inicial, crescimento, maturidade e declínio.

Tabela 6. Predominância varietal de tangerinas plantadas em países


do Mediterrâneo, por década.

Década Variedades / híbridos predominantes


80 ‘Satsuma’, ‘Clementinas’ e ‘Mineola’
90 ‘Marisol’, ‘Nova’, ‘Hernandina’ e ‘Ortanic’
2000 ‘Oronules’, ‘Clemenpons’, ‘Nadorcot’, ‘Mor
e Or.’
Fonte: Imbert (2006).

Tabela 7. Fases do ciclo de vida e principais variedades de tangerinas


comercializadas no mercado europeu.

Fase do ciclo de vida no mercado Variedade / híbrido


Inicial ‘Clemen’ e ‘Ruby’
Crescimento ‘Nour’ e ‘Oronules’
Maturidade ‘Nules’ e ‘Nova’
Declínio ‘Marisol’, ‘Oroval’ e ‘Satsuma’
Fonte: Imbert (2006).

38 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


4
Capítulo 4

O mercado interno
de frutas cítricas de mesa

Clóvis Oliveira de Almeida


Orlando Sampaio Passos
Em outra seção deste livro foi mencionado que o desen-
volvimento de um mercado doméstico forte destinado à
citricultura de mesa, além de uma opção para o escoa-
mento da produção, também pode proteger o setor contra
os inevitáveis, recorrentes, e na maioria das vezes im-
previsíveis, choques externos – os distúrbios de mercado
que fogem ao controle da economia doméstica.

A demanda insatisfeita por frutos cítricos de mesa


de boa qualidade, evidenciada pela necessidade de
importações anuais, bem como a vantagem de poder
contar com demanda não concentrada em poucas em-
presas e em poucos países, são razões a mais para
o desenvolvimento da citricultura de mesa no Brasil.
Razões essas que são especialmente válidas para os
pequenos produtores (que não gozam do privilégio de
ganho de escala ou poder de barganha proporcionado
pelo tamanho da área de cultivo), desde que estejam
localizados em áreas geográficas com condições climá-
ticas adequadas.

Atualmente, o mercado brasileiro de frutas cítricas de


mesa ainda é pouco conhecido em dimensão e preferên-
cia dos consumidores quanto às variedades. A histórica
tradição do Brasil na produção de laranja de uso indus-
trial criou, por falta quase absoluta de opção, um hábito
de consumo singular no mercado de citros: o consumo de
variedades de uso industrial como se fossem frutos típicos
de mesa. Na liderança desse processo está a laranja

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 41


‘Pera’, a mais produzida e consumida no País entre todas
as frutas cítricas (Tabela 8).

No Brasil, a multiplicidade de floradas da laranjeira Pera,


combinada com o seu cultivo em diferentes regiões, pro-
porciona uma oferta mais regular durante o ano, principal-
mente no Estado de São Paulo, o que confere vantagens
comerciais a esta variedade relativamente às demais,
especialmente no mercado de suco, que é mais exigen-
te em volume e regularidade de suprimento. No entanto,
observa-se uma recente mudança de preferência em favor
da ‘Valência’ e ‘Natal’.

Depois da laranja, as tangerinas são as mais produzidas no


País mas, diferentemente da laranja, ainda apresentam oferta
pouco regular ao longo do ano. O principal destino das tange-
rias é o mercado interno de frutas frescas.

Assegurada a qualidade do fruto no pomar, a próxima etapa


é a da classificação e beneficiamento, que não só eviden-
cia a qualidade como também agrega valor ao fruto. A falta
de critérios de classificação causa prejuízos principalmente

Tabela 8. Consumo aparente de frutas cítricas frescas no Brasil: média


do período 2000 a 2009.

Fruta cítrica Consumo aparente (milhões de toneladas)a


Laranjasb 3,6
Tangerinasc 0,9
Limas e limões 0,9
a
Não considera as perdas pós-colheita
b
Com desconto de 80% para uso industrial
c
Com desconto de 20% para uso industrial
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal (2011) e Brasil (2011). Dados básicos.

42 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


aos produtores e consumidores. Os produtores tornam-
-se reféns dos compradores imediatos, que geralmente
escolhem as melhores frutas e não pagam um prêmio
por isso na forma de melhores preços. Quando a comer-
cialização é realizada a longas distâncias, a situação é
ainda pior porque o produtor, ao não utilizar um critério ob-
jetivo de classificação nacionalmente aceito, tem seu poder
de contestação praticamente anulado. Os consumidores
também podem ser prejudicados, na medida em que pagam
o mesmo preço por frutas de distintos padrões de qualida-
de. A normatização serve, também, como instrumento de
defesa no processo de comercialização, tanto do produtor
quanto dos atacadistas e varejistas. Nesse processo, os
consumidores são beneficiados em virtude do aumento da
oferta de frutas de melhor padrão de qualidade e da opção
de escolha, a diferentes preços, entre distintos padrões.

Em janeiro de 2000, o que era limitado ao Programa Pau-


lista para a Melhoria dos Padrões Comerciais e de Em-
balagens de Hortigranjeiros transformou-se em programa
brasileiro. Entre as frutas com padrões já definidos de clas-
sificação, embalagem e rotulagem, estão as frutas cítricas
(laranja, limão e tangerina) que possuem normas oficiais
do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
aprovadas e publicadas no Diário Oficial da União. As carti-
lhas com as normas estão disponíveis no site da Ceagesp
(www.ceagesp.gov.br), link “Apoio ao Produtor”. No grupo
das laranjas, a norma é para as variedades mais comuns:
‘Bahia’, ‘Hamilin’, ‘Lima’, ‘Natal’, ‘Pera’, ‘Rubi’ e ‘Valência’.
No grupo das limas ácidas, apenas a ‘Tahiti’, conhecida

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 43


popularmente no Brasil como limão ‘Tahiti’, possui norma.
Entre as tangerinas, a norma também foi elaborada para
as variedades mais comuns, tanto em produção quanto em
consumo: ‘Cravo’, ‘Dancy’, ‘Mexerica Montenegrina’, ‘Mexeri-
ca do Rio’, ‘Satsuma’, ‘Tangerina Ponkan’ e ‘Tangor Murcote’.

O Brasil figura entre os maiores produtores mundiais de


frutas, mas o consumo per capita na forma in natura ainda
encontra-se abaixo dos padrões de outros países emer-
gentes. Na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do
IBGE no período 2008/2009, o consumo domiciliar anual de
frutas por pessoa no Brasil foi da ordem de 28,86 kg, apro-
ximadamente 4,4 kg a mais que o registrado no período
2002/2003, quando cada pessoa consumiu em média
24,49 kg ao ano3. A categoria frutas cítricas apresentou
valor ainda menos expressivo tanto em consumo per capita
anual quanto em crescimento: 7,21 kg em 2008/2009 e
6,41 kg em 2002/2003, contabilizando um incremento em
torno de 800 gramas (Tabela 9).

Nas duas pesquisas a laranja ‘Pera’ foi a fruta cítrica mais


consumida, seguida de outras laranjas, tangerina, limão
comum (limas ácidas e limões) e laranja ‘Lima’. A laranja
‘Seleta’ que ocupava a sexta posição em 2002/2003
passou à sétima em 2008/2009, perdendo posição para a
laranja ‘Bahia’ (Tabelas 9). Entre as frutas cítricas, apenas
a Laranja ‘Seleta’ e outras laranjas apresentaram redução
de consumo em 2008/2009 relativamente ao período
2002/2003.

Para efeito de simplificação considerou-se consumo domiciliar equivalente à aquisição nos domicílios.
3

44 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Tabela 9. Consumo domiciliar per capita anual de frutas cítricas no
Brasil: 2002/2003 e 2008/2009.
Consumo per capita Variação Variação
Fruta cítrica
2002/2003 2008/2009 (kg) (%)
Laranja ‘Bahia’ 0,074 0,183 0,109 147,297
Laranja ‘Lima’ 0,305 0,376 0,071 23,279
Laranja ‘Pera’ 2,194 2,807 0,613 27,940
Laranja 0,120 0,086 -0,034 -28,333
‘Seleta’
Outras 1,999 1,985 -0,014 -0,700
laranjas
Limão comum 0,548 0,589 0,041 7,482
Tangerina 1,170 1,183 0,013 1,111
Total 6,410 7,209 0,799 12,465
Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamentos Familiares (2011). Dados básicos.

Na pesquisa de 2008/2009, o consumo total de frutas cítricas


nos lares brasileiros foi da ordem de 1,4 milhão de tonelada -
uma absorção aproximada de 7% da produção média nacio-
nal de citros do período 2008/2009 (Tabela 10). O consumo
domiciliar por categoria de fruta cítrica também pode ser
observado na Tabela 11, na qual se evidencia que a laranja
‘Pera’ é a fruta cítrica mais consumida nos lares brasileiros,
seguida da tangerina e do limão comum.

Tabela 10. Produção e consumo domiciliar total anual de frutas cítricas


no Brasil: 2008/2009.
Produção média Consumo domiciliar Absorção
Fruta cítrica 2008/2009 2008/2009 (%)
(1000 t) (1000 t)
Laranja 18.078,00 1.037,36 6
Limão 933,00 112,38 12
Tangerina 1.087,00 225,71 21
Total 20.098,00 1.375,45 7
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal (2011) e Pesquisa de Orçamentos Familiares (2011).
Dados básicos.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 45


Tabela 11. Consumo domiciliar total anual de fruta cítrica no Brasil, por
categoria: 2008/2009.

Fruta cítrica Consumo total Participação


(1000 t) (%)
Laranja ‘Pera’ 535,56 38,94
Outras laranjas 378,73 27,53
Tangerina 225,71 16,41
Limão comum 112,38 8,17
Laranja ‘Lima’ 71,74 5,22
Laranja ‘Bahia’ 34,92 2,54
Laranja ‘Seleta’ 16,41 1,19
Total 1.375,45 100,00
Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamentos Familiares (2011). Dados básicos.

A pesquisa permite constatar ainda que o consumo per


capita de frutas cítricas nos domicílios brasileiros cresce
à medida que a renda média mensal familiar também
cresce: 3,033 kg na faixa de renda inferior, até dois salários
mínimos; e 15,269 kg na faixa de renda mais alta, acima de
15 salários mínimos. No entanto, foi a faixa de renda inter-
mediária e de maior número de pessoas, com recebimento
acima de três a dez salários mínimos, que respondeu por
50% do volume total de frutas cítricas consumidas nos do-
micílios brasileiros (Tabela 12). Na pesquisa de 2008/2009,
o valor de referência do salário mínimo foi R$ 415,00 e
a categoria até dois salários mínimos inclui as famílias
sem rendimento.

Com exceção da região Sul do País, onde o consumo per


capita de frutas cítricas nos domicílios apresentou pequeno

46 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


declínio em razão da redução de consumo no Estado de
Santa Catarina, nas demais houve crescimento, especial-
mente nas regiões Centro-Oeste e Nordeste (Tabelas 13
e 14). Na região Nordeste, apenas o Estado de Alagoas
apresentou pequeno recuo no consumo per capita.

Tabela 12. Consumo domiciliar per capita anual de frutas cítricas no


Brasil, por faixa de renda4: 2008/2009.

Faixa de renda Participação no


Consumo per capita
mensal consumo total
(kg)
Salários mínimos (%)
Até 2 3,033 8
Mais de 2 a 3 4,638 11
Mais de 3 a 6 6,851 29
Mais de 6 a 10 9,451 21
Mais de 10 a 15 10,817 11
Mais de 15 15,269 20
Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamentos Familiares (2011). Dados básicos.

Tabela 13. Consumo domiciliar per capita anual de frutas cítricas no


Brasil e regiões geográficas: 2002/2003 e 2008/2009.

Brasil e 2002/2003 2008/2009 Variação Variação


regiões (kg) (%)
Brasil 6,410 7,209 0,799 12,460
Norte 3,933 4,167 0,234 5,950
Nordeste 3,933 4,796 0,863 21,94
Sudeste 8,071 8,799 0,728 9,020
Sul 9,114 9,063 -0,051 -0,560
Centro-Oeste 4,660 7,073 2,413 51,780
Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamentos Familiares (2011). Dados básicos.

4
Nas Tabelas 12, 16, 20, 21, 22, 23, 24, 25 e 26 o valor do salário mínimo de referência é R$ 415,00.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 47


Tabela 14. Consumo domiciliar per capita anual de frutas cítricas nas
unidades da federação: 2002/2003 e 2008/2009.

Unidade da 2002/2003 2008/2009 Variação Variação


federação (kg) (%)
Rondônia 3,104 5,682 2,578 83,054
Acre 1,327 2,913 1,586 119,518
Amazonas 1,973 3,998 2,025 102,636
Roraima 0,816 3,489 2,673 327,574
Pará 3,035 3,813 0,778 25,634
Amapá 2,012 3,272 1,260 62,624
Tocantins 3,069 6,173 3,104 101,140
Maranhão 2,925 3,700 0,775 26,496
Piauí 3,972 5,561 1,589 40,005
Ceará 3,124 3,859 0,735 23,528
Rio Grande do Norte 4,102 5,422 1,320 32,179
Paraíba 4,545 4,739 0,194 4,268
Pernambuco 4,308 5,068 0,760 17,642
Alagoas 2,438 2,418 -0,020 -0,820
Sergipe 3,991 4,369 0,378 9,471
Bahia 4,724 5,949 1,225 25,931
Minas Gerais 8,039 7,534 -0,505 -6,282
Espírito Santo 5,728 5,465 -0,263 -4,591
Rio de Janeiro 7,744 7,584 -0,160 -2,066
São Paulo 8,410 10,165 1,755 20,868
Paraná 8,240 9,031 0,791 9,600
Santa Catarina 9,820 8,124 -1,696 -17,271
Rio Grande do Sul 9,560 9,619 0,059 0,617
Mato Grosso do Sul 5,631 8,747 3,116 55,337
Mato Grosso 3,846 5,249 1,403 36,479
Goiás 4,261 5,921 1,660 38,958
Distrito Federal 5,646 10,346 4,700 83,245
Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamentos Familiares (2011). Dados básicos.

48 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


O aumento de consumo de frutas cítricas nos domicílios da
região Sudeste foi determinado pelo Estado de São Paulo.
Nos demais estados da região ocorreu decréscimo de
consumo. Apesar desse acontecimento, nas duas pesquisas
do IBGE, o consumo per capita anual de frutas cítricas nas
regiões Sul e Sudeste superou a média nacional, enquan-
to nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte o consumo
ficou abaixo da média, refletindo, principalmente, o efeito
renda da população (Tabela 13, 15 e 16).

Tabela 15. Consumo domiciliar per capita anual de fruta cítrica nas
regiões brasileiras, por categoria: 2008/2009.

Consumo domiciliar per capita anual


Fruta (kg)
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Citros 4,167 4,796 8,799 9,063 7,073
Laranja ‘Bahia’ 0,035 0,146 0,087 0,669 0,075
Laranja ‘Lima’ 0,157 0,177 0,552 0,473 0,183
Laranja ‘Pera” 1,121 2,046 3,782 2,605 2,401
Laranja ‘Seleta’ 0,191 0,025 0,134 0,039 0,030
Outras laranjas 1,491 1,632 2,035 2,391 2,808
Limão comum 0,729 0,320 0,832 0,351 0,547
Tangerina 0,443 0,450 1,377 2,535 1,029
Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamentos Familiares (2011). Dados básicos.

Tabela 16. Distribuição percentual da população brasileira por regiões


e faixa de renda: 2008/2009.

Faixa de renda
mensal Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Salários mínimos
Até 2 27 37 11 11 18
Mais de 2 a 3 20 22 14 13 17
Continua...

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 49


Tabela 16. Continuação.

Faixa de renda
mensal Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Salários mínimos
Mais de 3 a 6 31 25 32 34 32
Mais de 6 a 10 12 8 20 20 15
Mais 10 a 15 5 4 10 10 8
Mais de 15 5 4 13 11 10
Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamentos Familiares (2011). Dados básicos.

Na pesquisa de 2008/2009 duas unidades territoriais


da região Centro-Oeste também apresentaram consumo
per capita anual acima da média nacional: Distrito
Federal, com 10,346 kg (maior média do País), e Mato
Grosso do Sul, com 8,747 kg (Tabela 14). Entretanto,
quando se considera o consumo total para o conjunto
dos domicílios, a Nordeste passa à segunda posição em
razão do tamanho de sua população (Tabelas 17 e 18 e
Figura 5). Os maiores centros de consumo total também
estão associados aos maiores centros de produção de
citros: regiões Sudeste e Nordeste.

Tabela 17. Consumo domiciliar total anual de frutas cítricas nas regiões
do Brasil: 2008/2009.
Região geográfica Consumo total Participação
(1000 t) (%)
Norte 64,19 4,67
Nordeste 257,08 18,69
Sudeste 704,31 51,21
Sul 250,00 18,18
Centro-Oeste 97,83 7,11
Brasil 1375,44 100,00
Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamentos Familiares (2011). Dados básicos.

50 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Tabela 18. Participação relativa das regiões no consumo de frutas
cítricas no Brasil, por categoria: 2008/2009.
Participação relativa
Fruta (%)
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Citros 4,67 18,69 51,21 18,18 7,11
Laranja ‘Bahia’ 1,54 22,41 19,94 52,85 2,97
Laranja ‘Lima’ 3,37 13,23 61,59 18,19 3,53
Laranja ‘Pera’ 3,22 20,48 56,53 13,42 6,20
Laranja ‘Seleta’ 17,93 8,17 65,37 6,56 2,53
Outras laranjas 6,06 23,10 43,01 17,42 10,26
Limão comum 9,99 15,26 59,26 8,62 6,73
Tangerina 3,02 10,69 48,83 30,98 6,31
Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamentos Familiares (2011). Dados básicos.

Figura 5. Distribuição percentual da população brasileira por regiões:


2008.
Fonte: IBGE (2011). Dados Básicos.

A laranja ‘Pera’ é a fruta cítrica mais consumida nos


estados das regiões Nordeste, Sudeste e Sul. Nos estados
das regiões Norte e Centro-Oeste, outras laranjas estão
na liderança (Tabelas 15 e 19). Em Sergipe, segundo maior
produtor de laranja da região Nordeste, outras laranjas

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 51


também aparecem na primeira posição, mas nesse caso
o registro de consumo domiciliar do IBGE foge do es-
perado, em virtude de a laranja ‘Pera’ ser a variedade mais
plantada no referido estado. A tangerina ocupa a primeira
posição apenas no Rio Grande do Sul, que destacou-
se também como terceiro maior centro de produção de
tangerina no Brasil em 2009, ficando atrás apenas de São
Paulo e Paraná.

Tabela 19. Consumo domiciliar per capita anual de frutas cítricas nas
unidades da federação, por categoria: 2008/2009

Consumo domiciliar per capita anual (kg)


Unidade da
Federação Laranja- Laranja- Laranja- Laranja- Outras Limão
Tangerina
‘Bahia’ ‘Lima’ ‘Pera’ ‘Seleta’ laranjas comum
São Paulo 0,112 0,569 4,404 0,059 2,191 1,164 1,666
Mato Grosso
0,000 0,045 3,257 0,053 3,448 0,623 1,321
do Sul
Paraná 0,374 0,496 4,034 0,004 2,284 0,410 1,429
Distrito
0,104 0,379 3,558 0,000 3,094 1,487 1,724
Federal
Rio Grande
1,131 0,412 1,302 0,034 2,655 0,198 3,887
do Sul
Minas
0,087 0,206 3,077 0,103 2,672 0,430 0,959
Gerais
Rio Grande
0,123 0,021 3,348 0,034 1,030 0,246 0,620
do Norte
Rio de
0,022 0,972 3,380 0,387 1,025 0,577 1,221
Janeiro
Tocantins 0,035 0,065 2,268 0,371 2,431 0,181 0,822
Goiás 0,079 0,213 1,957 0,048 2,563 0,259 0,802
Santa
0,359 0,540 2,437 0,108 2,107 0,521 2,052
Catarina
Piauí 0,187 0,169 2,019 0,000 2,387 0,183 0,616
Continua...

52 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Tabela 19. Continuação.

Consumo domiciliar per capita anual (kg)


Unidade da
Federação Laranja- Laranja- Laranja- Laranja- Outras Limão
Tangerina
‘Bahia’ ‘Lima’ ‘Pera’ ‘Seleta’ laranjas comum
Mato
0,101 0,069 1,621 0,000 2,542 0,259 0,657
Grosso
Bahia 0,335 0,137 2,492 0,069 1,762 0,492 0,662
Paraíba 0,028 0,170 2,180 0,000 1,724 0,257 0,380
Pernambuco 0,029 0,472 2,439 0,009 1,432 0,308 0,379
Sergipe 0,083 0,222 1,123 0,000 2,374 0,208 0,359
Roraima 0,000 0,000 0,094 0,53 2,254 0,190 0,421
Espírito
0,091 0,436 2,321 0,036 1,100 0,404 1,077
Santo
Ceará 0,109 0,093 1,678 0,018 1,535 0,079 0,347
Acre 0,000 0,000 1,730 0,022 0,292 0,325 0,544
Maranhão 0,058 0,060 1,042 0,003 1,684 0,570 0,283
Amazonas 0,129 0,025 0,911 0,188 1,688 0,886 0,171
Rondônia 0,030 0,555 0,904 0,849 1,710 0,731 0,903
Pará 0,000 0,190 1,075 0,038 1,290 0,817 0,403
Alagoas 0,035 0,150 1,090 0,000 0,999 0,056 0,088
Amapá 0,000 0,000 0,967 0,000 1,124 0,794 0,387
Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamentos Familiares (2011).

Em geral, o maior consumo per capita de frutas cítricas


está associado às famílias de maior poder aquisitivo,
evidenciando um grande potencial de crescimento da
demanda associado ao incremento da renda per capita da
população. Nesse sentido, a inserção de um novo contin-
gente de consumidores na chamada nova classe média,
dita também C, como aliás vem ocorrendo no Brasil desde
a última década, além da classe D, também impulsiona o
consumo de frutas cítricas no País.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 53


À exceção da região Nordeste, que tem a maior parcela
das famílias situadas na faixa de renda de até dois salários
mínimos mensais, as demais regiões do País concentram
o maior número de pessoas com recebimento na faixa de
renda superior a três até seis salários mínimos mensais,
justamente a faixa de renda que responde pelo maior
volume total de frutas cítricas consumidas nos domicílios
brasileiros (Tabelas 16, 20, 21, 23, 24, 25 e 26). A única
exceção acontece em relação à laranja ‘Bahia’, para a
qual as famílias com renda superior a seis até dez salários
mínimos mensais respondem pelo maior volume total de
consumo, aproximadamente 30,87% (Tabela 22).

Tabela 20. Consumo domiciliar de laranja ‘Pera’ no Brasil, por faixa de


renda: 2008/2009.5

Faixa de renda Consumo Participação


Consumo total
mensal per capita no mercado
(1000 t)
Salários mínimos (kg) (%)
Até 2 1,105 42,42 7,94
Mais de 2 a 3 1,709 54,72 10,24
Mais de 3 a 6 2,587 148,41 27,77
Mais de 6 a 10 3,617 109,98 20,58
Mais de 10 a 15 4,346 63,24 11,83
Mais de 15 6,543 115,68 21,64
Total – 534,45 100
Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamentos Familiares (2011). Dados básicos.

5
Obs.: Por efeito de aproximação, o consumo total quando calculado com base nos dados por faixa
de renda difere, ligeiramente, do obtido com base nos dados agregados.

54 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Tabela 21. Consumo domiciliar de laranja ‘Lima’ no Brasil, por faixa de
renda: 2008/2009.

Faixa de renda Consumo Participação


Consumo total
mensal per capita no mercado
(1000 t)
Salários mínimos (kg) (%)
Até 2 0,101 3,88 5,42
Mais de 2 a 3 0,169 5,41 7,56
Mais de 3 a 6 0,382 21,91 30,60
Mais de 6 a 10 0,400 12,16 16,99
Mais de 10 a 15 0,742 10,80 15,09
Mais de 15 0,986 17,43 24,35
Total – 71,59 100
Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamentos Familiares (2011). Dados básicos.

Tabela 22. Consumo domiciliar de laranja ‘Bahia’ no Brasil, por faixa de


renda: 2008/2009.

Faixa de renda Consumo Participação


Consumo total
mensal per capita no mercado
(1000 t)
Salários mínimos (kg) (%)
Até 2 0,085 3,26 9,38
Mais de 2 a 3 0,078 2,50 7,19
Mais de 3 a 6 0,141 8,09 23,27
Mais de 6 a 10 0,353 10,73 30,87
Mais de 10 a 15 0,261 3,80 10,93
Mais de 15 0,361 6,38 18,35
Total – 34,76 100
Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamentos Familiares (2011). Dados básicos.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 55


Tabela 23. Consumo domiciliar de laranja ‘Seleta’ no Brasil, por faixa
de renda: 2008/2009.

Faixa de renda Consumo Participação


Consumo total
mensal per capita no mercado
(1000 t)
Salários mínimos (kg) (%)
Até 2 0,052 2,00 12,14
Mais de 2 a 3 0,046 1,47 8,93
Mais de 3 a 6 0,079 4,53 27,50
Mais de 6 a 10 0,124 3,77 22,89
Mais de 10 a 15 0,079 1,15 6,98
Mais de 15 0,201 3,55 21,55
Total – 16,47 100
Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamentos Familiares (2011). Dados básicos.

Tabela 24. Consumo domiciliar de outras laranjas no Brasil, por faixa


de renda: 2008/2009.

Faixa de renda Consumo Participação


Consumo total
mensal per capita no mercado
(1000 t)
Salários mínimos (kg) (%)
Até 2 1,068 41,00 10,85
Mais de 2 a 3 1,656 53,03 14,03
Mais de 3 a 6 1,922 110,26 29,17
Mais de 6 a 10 2,744 83,43 22,07
Mais de 10 a 15 2,449 35,64 9,43
Mais de 15 3,093 54,68 14,46
Total – 378,04 100
Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamentos Familiares (2011). Dados básicos.

56 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Tabela 25. Consumo domiciliar de tangerinas no Brasil, por faixa de
renda: 2008/2009.

Faixa de renda Consumo Participação


Consumo total
mensal per capita no mercado
(1000 t)
Salários mínimos (kg) (%)
Até 2 0,430 16,51 7,33
Mais de 2 a 3 0,640 20,49 9,10
Mais de 3 a 6 1,254 71,94 31,94
Mais de 6 a 10 1,444 43,91 19,49
Mais de 10 a 15 1,917 27,90 12,39
Mais de 15 2,517 44,50 19,76
Total – 225,25 100
Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamentos Familiares (2011). Dados básicos.

Tabela 26. Consumo domiciliar de limão comum no Brasil, por faixa de


renda: 2008/2009.

Faixa de renda Consumo Participação


Consumo total
mensal per capita no mercado
(1000 t)
Salários mínimos (kg) (%)
Até 2 0,192 7,37 6,57
Mais de 2 a 3 0,340 10,89 9,71
Mais de 3 a 6 0,486 27,88 24,86
Mais de 6 a 10 0,769 23,38 20,85
Mais de 10 a 15 1,023 14,89 13,28
Mais de 15 1,568 27,72 24,72
Total – 112,13 100
Fonte: IBGE – Pesquisa de Orçamentos Familiares (2011). Dados básicos.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 57


5
Capítulo 5

Necessidade de diversificação
e alternativa de produção

Orlando Sampaio Passos


Clóvis Oliveira de Almeida
Walter dos Santos Soares Filho
Em razão da dimensão geográfica e da diversidade cli-
mática do Brasil, dos graves problemas fitossanitários nos
pomares do Estado de São Paulo e da baixa incidência
de doenças em outras regiões do País e das incertezas
no mercado internacional de suco de laranja, torna-se
evidente e urgente a necessidade de se estabelecer um
programa de diversificação de espécies e variedades de
citros no Brasil. Tal programa deve levar em considera-
ção o mercado, as possibilidade de comercialização e os
fatores relacionados com a adaptação das plantas cítricas.
Entre os fatores de adaptação, dois são fundamentais para
a produção de frutos de laranja e tangerina para mesa:
latitude e altitude. Quanto mais distante da linha do
Equador, mais coloridos são os frutos, sendo a amplitude
térmica (diferença entre as temperaturas máxima e
mínima) o fator climático responsável pelas mudanças
químicas operadas no fruto. Situação diversa ocorre com
os limões, as limas e os pomelos: quanto maior a radiação
solar, melhor a qualidade dos frutos.

O mapa de Aziz Ab’Saber mostra as áreas de altitude


(planaltos) e baixas (planícies) no Brasil. Lá estão iden-
tificados os planaltos nordestinos, onde se inserem a
Serra da Ibiapaba (CE), Planalto da Borborema (PB e PE)
e Chapada Diamantina (BA); as serras e os planaltos do
Leste e Sudoeste, onde es­tão localizadas as áreas altas
dos estados de Minas Gerais e São Paulo; e o Planalto
Uruguaio-Sul-Rio Grandense, especialmente na fronteira
com o Uru­guai (Figura 6). As áreas de altitude em todo
o Brasil, com destaque na cor clara, também podem ser

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 61


identificadas no mapa gerado pela Embrapa Monitoramen-
to por Satélite (Figura 7).

Figura 6. Mapa de classi-


ficação de relevo do Bra-
sil de Aziz Ab’Sáberdo.
Fonte: conceitosetemas, 2009.

Figura 7. Mapa de re-


levo do Brasil.
Fonte: Embrapa Monitora-
mento por Satélite, 2009.

62 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Produção de citros em áreas
tradicionais da região Nordeste

Apesar da longa distância em relação à produção de


citros do Estado de São Paulo, na região Nordeste estão
localizados o segundo e o terceiro maiores produtores,
Bahia e Sergipe – posições historicamente ocupadas
pelos estados do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul.
Os estados da Bahia e de Sergipe respondem por mais de
90% da produção de citros da região Nordeste. Na Bahia,
as áreas tradicionais situadas no Litoral Norte e Recôn-
cavo Baiano são as principais produtoras e apresentam
condições favoráveis de clima e solo para a produção de
laranjas, especialmente de uso industrial, e limas ácidas.
O Litoral Norte forma uma área contínua com o Estado de
Sergipe, cujos dados climáticos e edáficos são similares: la-
titude entre 11o e 13o e altitude em torno de 160,0 m. O clima
é seco a subúmido, temperatura média anual de 24,1 oC,
período chuvoso de abril a junho e pluviosidade média de
928 mm. Os solos são Podzólico Roxo Amarelo Distrófico.

Além da Bahia e Sergipe, a produção de citros também


acontece em outras áreas específicas da região Nordeste,
especialmente localizadas nos estados de Alagoas, Ceará
e Pernambuco. O Estado de Alagoas destaca-se como o
maior produtor nacional de laranja ‘Lima’, cuja qualidade
do fruto é diferenciada, embora os pomares apresentem
baixa produtividade em decorrência da ausência de técni-
cas adequadas de plantio e de condução dos pomares –
os quais são comumente instalados em área de elevada

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 63


declividade, que compromete o solo pela ação danosa
e agressiva da erosão. Como peculiaridade regional no
Nordeste são encontradas variedades nativas apreciadas
localmente, a exemplo da ‘Melrosa’ no Piauí, cujo nome
expressa sua desejável característica embora mascarada
pela condição climática, e da ‘Flor’, na Chapada Diamanti-
na (BA), de sabor proeminente mas com frutos de tamanho
pequeno e com muitas sementes.

O Ceará produz uma variedade de laranja nativa denomi-


nada ‘Russas’, ainda cultivada como pé-franco. O estado
também é produtor tradicional de limão ‘Galego’. A Paraíba
tem a maior produção regional de tangerinas, com des-
taque para o cultivo da variedade ‘Dancy’. Mas, assim
como acontece nos demais estados da região Nordeste,
o rendimento dos pomares é muito baixo, em decorrência
do manejo inadequado de solos e plantas, bem como da
incidência de algumas pragas, como cochonilha, ácaro da
ferrugem, larva minadora, entre outras.

Ao longo do tempo, a produção de citros da região Nordes-


te cresceu apoiada principalmente no incremento da área
plantada e nos ganhos de produtividade. O rendimento
médio da produção dos pomares da região ainda está muito
aquém da média nacional (Tabelas 27, 28 e 29), que, por sua
vez, é fortemente influenciada pela média do maior estado
produtor – São Paulo. Entre os fatores que contribuem para
o baixo rendimento da citricultura regional, destacam-se
os seguintes: uso indiscriminado de material propagativo

64 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


de qualidade duvidosa, baixo índice de adoção de tecnolo-
gias e manejo inadequado na condução dos pomares.

O Estado da Bahia, que é o maior produtor regional


de laranja e lima ácida, também apresenta os maiores
rendimentos dessas lavouras na região, mas com de-
sempenho bem inferior à média nacional (IBGE, 2011).
Em tangerina, a Paraíba apresenta o pior rendimento,
embora seja o maior produtor da região. O maior rendimen-
to da cultura da tangerina na região ocorre em Sergipe,
mas ainda assim situa-se bem aquém da média nacional.

O baixo rendimento dos pomares de citros em áreas tra-


dicionais da região, antes de ser uma questão de obser-
vação pontual, constitui um sério problema ainda por
ser resolvido e que vem persistindo ao longo dos anos.
A superação desse histórico problema passa necessaria-
mente pela combinação de tecnologias com organização
da produção e dos produtores.

Tabela 27. Rendimento médio da produção de laranja doce no Brasil e


regiões: período 2005 a 2009.

Regiões Rendimento médio


(t/ha)
Sudeste 24,54
Centro-Oeste 17,98
Sul 17,63
Nordeste 14,86
Norte 13,57
Brasil 22,36
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal (2011). Dados básicos.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 65


Tabela 28. Rendimento médio da produção de tangerina no Brasil e
regiões: período 2005 a 2009.

Regiões Rendimento médio


(t/ha)
Sudeste 23,68
Sul 18,23
Centro-Oeste 13,57
Nordeste 11,97
Norte 8,56
Brasil 20,26
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal (2011). Dados básicos.

Tabela 29. Rendimento médio da produção de limas ácidas no Brasil e


regiões: período 2005 a 2009.

Regiões Rendimento médio


(t/ha)
Sudeste 24,94
Sul 13,44
Centro-Oeste 13,44
Nordeste 12,41
Norte 8,10
Brasil 21,77
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal (2011). Dados básicos.

Áreas potenciais para produção


de citros de mesa no Nordeste

A escolha da espécie ou cultivar é uma das decisões que


interferem diretamente na expectativa de êxito do empre-
endimento agrícola. Em cultivos permanentes, a exemplo
dos citros, tal escolha é ainda mais crítica, tendo em vista
a necessidade de imobilização de áreas e os elevados

66 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


custos das fases de planejamento e instalação do pomar,
além do tempo exigido para o retorno do capital investido.
O equilíbrio entre receita e despesa, em geral, acontece
após o quinto ano no Nordeste.

Em razão da especificidade das espécies cítricas em


relação ao clima, há que se proceder a escolha da culti-
var de acordo com os padrões climáticos exigidos. Para a
produção de frutos de laranja e tangerina tipo mesa, por
exemplo, deve-se optar por áreas de altitude elevada ou
mais distantes da linha do Equador; enquanto que limas
ácidas, limões e pomelos apresentam melhor qualida-
de sob condições semiáridas. Assim, a seleção de áreas
com potencial de produção de frutas cítricas de mesa nos
estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Bahia deve con-
siderar a aptidão para o cultivo, que é determinada por um
conjunto de fatores, tais como: altitude, amplitude térmica,
condições edafoclimáticas e disponibilidade de área.

No Ceará, as mais propícias são as áreas de altitude da


Serra de Ubajara e o maciço de Baturité. A Serra de Ubajara
tem pouca tradição no cultivo de frutas cítricas, mais con-
centrada na produção de rosas. Em Baturité, apesar das
condições climáticas favoráveis, a vocação frutícola está
por ser descoberta.

Na Paraíba, o Brejo Paraibano, com altitude superior a


600 m, oferece condições propícias para frutos de mesa,
especialmente tangerinas. Atualmente a produção é restrita
à variedade ‘Dancy’; de qualidade competitiva, mas produ-
zida sob condições de manejo deficiente. Em Pernambuco,

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 67


na região de Garanhuns, com altitude média de 900 m,
a preferência também seria pelas tangerinas.

Situada na parte central do Estado da Bahia, a Chapada


Diamantina é a região mais atraente do estado pelas
suas serras e altiplanos e pelo aspecto bucólico de suas
cidades. O clima é o fator determinante da distinção dessa
região, pelas baixas temperaturas ocorridas nas noites
de inverno, que podem chegar a 6o C, principalmente nos
meses de junho e julho. Os solos Latossolo Vermelho
Amarelo e Latossolo Amarelo são predominantes, sendo os
de maior potencial para agricultura o Latossolo Vermelho e
Cambissolos. Segundo a Companhia de Desenvolvimento
e Ação Regional - CAR, há nessa microrregião uma
área potencial de 18.690 hectares irrigáveis para uso
principalmente pela horticultura, com disponibilidade de
recursos hídricos. Um fato importante é a predominância
de pequenas propriedades, que constitui, ao lado das
condições climáticas, justificativa para se desenvolver uma
citricultura voltada ao mercado interno de frutos de mesa,
em especial do grupo das tangerinas e, posteriormente,
também ao mercado externo.

Com altitude superior a 1.000 m e disponibilidade de terras


para plantio, a Chapada Diamantina reúne excelentes
condições comparativas para competir com outras áreas
produtoras de citros de mesa do País.

Em decorrência das baixas temperaturas que ocorrem


na Chapada Diamantina, a qualidade das frutas cítricas é
superior à das produzidas em outras regiões do estado.

68 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Esta é razão do sucesso da iniciativa pioneira de alguns
agricultores em cultivar a tangerina ‘Ponkan’, cuja qualida-
de do fruto é evidenciada em peso e coloração. Os frutos
de ‘Ponkan’ produzidos no município de Rio de Contas,
por exemplo, apresentam coloração alaranjada, intensa e
uniforme, polpa também alaranjada intensa e com sabor
agradável, porém sujeitos a granulação.

Visando conhecer o comportamento de espécies e varie­


dades cítricas nas condições da Chapada Diamantina
e selecionar as mais adaptadas, a Embrapa Mandioca e
Fruticultura, com o apoio do Banco do Nordeste, vem reali­
zando pesquisas em parceria com a Bagisa Comércio e
Agropecuária S.A., em Ibicoara, e com o Sítio Recanto dos
Pássaros, em Rio de Contas, avaliando um grupo de laran-
jas doces, tangerinas e outras espécies. A Tabela 30 traz a
relação das principais variedades e espécies testadas nas
condições da Chapada Diamantina. No capítulo 7 podem
ser vistas as fotos e as descrições de algumas variedades
em tais condições. Além da diversificação de espécies,
objetiva-se também a diversificação de variedades, com o
propósito de alongar o período de colheita e tornar a oferta
regular ao longo do ano - condição imprescindível para
acesso e permanência nos principais mercados. Ainda em
busca da diversificação como estratégia para reduzir os
riscos e a vulnerabilidade da citricultura nacional, o capítulo
seguinte dedica-se a cultivares porta-enxerto em processo
de seleção para as condições da região Nordeste do Brasil.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 69


Tabela 30. Principais características de laranjas, tangerinas, limas e
limões cultivados nas condições da Chapada Diamantina.

Qualidade do Fruto
Época Principal
Espécie Variedade
colheita Coloração Aderência Número de uso
Tamanho
da casca da casca sementes

Bahia Precoce Grande C4 Firme 0 Mesa

Baianinha Precoce Grande C4 Firme 0 Mesa

Cara-cara Meia-estação Grande C5 Firme 0 Mesa

Salustiana Meia-estação Médio C4 Firme 0 Mesa

Lima Meia-estação Médio C4 Firme >6 Mesa

Laranja Rubi Meia-estação Médio C5 Firme 0–6 Mesa

Westin Meia-estação Médio C4 Firme 0–6 Mesa


Mesa e
Sincorá Tardia Médio C4 Firme 0–6
indústria
Mesa e
Pera Tardia Médio C4 Firme 0–6
indústria
Natal Muito tardia Médio C4 Firme 0–6 Indústria

Valência Muito tardia Médio C4 Firme 0–6 Indústria

Lee Precoce Médio C5 Solta >6 Mesa

Robinson Precoce Médio C5 Solta >6 Mesa

Clemenules Precoce Pequeno C5 Solta 0 Mesa

Mexerica Meia-estação Pequeno C3 Solta 0–6 Mesa

Page Meia-estação Pequeno C5 Firme 0 Mesa

Nova Meia-estação Médio C5 Firme 0 Mesa


Tangerina
Minneola Meia-estação Médio C4 Solta >6 Mesa

Ponkan Meia-estação Grande C4 Solta 0–6 Mesa

Murcott Tardia Médio C4 Firme >6 Mesa

Piemonte Tardia Médio C4 Firme >6 Mesa

Ortanique Tardia Médio C4 Firme >6 Mesa

Dancy Tardia Pequeno C5 Solta >6 Mesa

Limeira
Limas e
ácida Ano todo Pequeno C4 Firme 0–6 Mesa
limões
Galego
Continua...

70 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Tabela 30. Continuação.
Qualidade do Fruto
Época Principal
Espécie Variedade
colheita Coloração Aderência Número de uso
Tamanho
da casca da casca sementes

Mesa e
Tahiti Ano todo Médio C3 Firme 0
indústria

Limas e Limão Médio a Mesa e


Meia-estaçao C5 Firme 0–6
limões Fino grande indústria

Lima da Médio a
Meia-estaçao C5 Firme 0–6 Mesa
Pérsia grande
Fonte: Dados de campo.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 71


6
Capítulo 6

Seleção de cultivares porta-enxerto


para o Nordeste brasileiro

Almir Pinto da Cunha Sobrinho


Orlando Sampaio Passos
Walter dos Santos Soares Filho
As plantas cítricas podem ser propagadas por semente
ou vegetativamente, por alporquia, estaquia e enxertia
ou ainda pela moderna técnica de cultura de tecidos.
A multiplicação por sementes nem sempre é viável porque
um bom número de cultivares não as têm, são aspérmicas,
enquanto outras são monoembriônicas, resultando em
descendência muito variável, não reproduzindo fielmente
a planta-mãe.

A multiplicação por sementes apresenta ainda outros in-


convenientes sérios, como vigor excessivo, presença de
espinhos e início tardio de produção. Há que se conside-
rar, ainda, a suscetibilidade dos “pés-francos”, como são
chamadas as plantas originadas de semente, à gomose
de Phytophthora spp., o principal inconveniente também
da propagação por alporquia e estaquia. Esses dois
últimos métodos, embora resultem em plantas genetica-
mente idênticas à planta-mãe e sem os inconvenientes
da juvenilidade das plantas oriundas de semente, não
são usados em citricultura porque as estacas de citros
enraizam com dificuldade e não formam bons sistemas
radiculares. Dos métodos citados, o mais empregado é a
enxertia, pelas inúmeras vantagens que apresenta, des-
tacando-se dentre essas a obtenção de plantas uniformes
e praticamente idênticas à planta-mãe e o início precoce
de produção.

O emprego de porta-enxertos adequados favorece o


aumento da produtividade, a obtenção de frutos de melhor
qualidade, a resistência ou tolerância às condições adver-
sas de clima e solo e às pragas e doenças. A enxertia é

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 75


o sistema de multiplicação no qual se provoca a solda-
dura dos tecidos de duas plantas. O porta-enxerto, uma
delas, fornece o sistema radicular e, algumas vezes, parte
do tronco. A outra, chamada de enxerto, copa ou “cava-
leiro”, forma a parte aérea. A parte aérea, resultante do
desenvolvimento de um fragmento da planta fornecedora
da borbulha ou garfo, será geneticamente igual a ela e
produzirá frutos idênticos, com as ressalvas dos efeitos
do porta-enxerto.

Uso dos porta-enxertos


na região nordeste do Brasil

A história do uso de porta-enxertos na região Nordeste


assemelha-se bastante à história desses no País. Seu uso
em escala comercial teve início no século XX, especialmen-
te nos estados onde a cultura dos citros alcançou maior
importância econômica, Bahia e Sergipe. Atualmente,
somente no Estado do Ceará os “pés-francos” ainda fazem
parte do cenário citrícola.

Provavelmente, as primeiras enxertias no Brasil acon-


teceram na Bahia e foi dessa forma que os citricultores
do bairro do Cabula, em Salvador, ainda no século XIX,
multiplicaram a laranjeira ‘Bahia’, variedade sem semen-
tes, surgida de mutação da laranjeira ‘Seleta’ naquele
local. Hoje, nessa região, como uma extensão do que
acontece em todo o País, é utilizado de maneira abusiva
o limoeiro ‘Cravo’ como porta-enxerto de todas as varie-
dades cultivadas, em todos os tipos de solo e de clima.

76 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


A única exceção à regra é o Estado de Sergipe, onde o
limoeiro ‘Rugoso da Flórida’ também é usado, juntamen-
te com o ‘Cravo’, mas em menor porcentagem que esse.
É interessante lembrar que, antes da introdução desse
último, usava-se unicamente o limoeiro ‘Rugoso’. Outros
porta-enxertos, como o limoeiro ‘Volkameriano’ e a tan-
gerineira ‘Cleópatra’, estão sendo usados em proporções
insignificantes, especialmente o primeiro. Como a combina-
ção limeira ácida ‘Tahiti’/Iimoeiro ‘Cravo’ tem mostrado alta
suscetibilidade aos fungos do gênero Phytophthora, cau-
sadores da gomose, tem-se procurado outras alternativas,
como o já citado ‘Volkameriano’, o citrumeleiro ‘Swingle’
e até o P. trifoliata cv. Flying Dragon e seus híbridos.
O primeiro, por sua possível melhor tolerância a esses
fungos e os últimos, pela resistência. A seguir, são descritos
os porta-enxertos de citros utilizados no Brasil ao longo dos
anos, com ênfase no Nordeste.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 77


Fotos: Nilton F. Sanches

Laranjeira ‘Caipira’, C. sinensis

A laranjeira ‘Caipira’ foi o primeiro porta-enxerto usado


em escala comercial no Brasil, tendo sido substituído pela
laranjeira ‘Azeda’ em virtude de sua suscetibilidade à
gomose de Phytophthora spp. e sensibilidade à seca.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 79


As qualidades das laranjeiras doces, de maneira geral,
afora sua sensibilidade à seca e à podridão do pé e das
raízes, conferem a essas cultivares características de
excelentes porta-enxertos. Muitas variedades de laran-
jas doces têm sido testadas como porta-enxertos, mas
todas com suscetibilidade à gomose de Phytophthora spp.
e intolerância à seca. A copa sobre as laranjeiras doces
alcança bom tamanho, apresentando pequena produção
inicial, mas as plantas mais velhas podem se igualar ou
até mesmo suplantar porta-enxertos mais produtivos.
Como cultivares sensíveis à seca, sua produtividade pode
ser satisfatória desde o início, se for empregada irriga-
ção. Os frutos produzidos pelas copas em combinação
com esse porta-enxerto são grandes e de boa qualidade,
comportamento esse semelhante ao da laranjeira ‘Azeda’.
Os porta-enxertos de laranjeiras doces são compatí-
veis com as principais cultivares de laranjas, pomelos
e tangerinas.

80 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Fotos: Nilton F. Sanches

Laranjeira ‘Azeda’ C. aurantium

A laranjeira ‘Azeda’ foi o porta-enxerto mais importante


em quase todas as regiões citrícolas do mundo e, ainda
hoje, é um dos mais amplamente difundidos, a despeito
de sua suscetibilidade à tristeza. A ampla disseminação
dessa cultivar foi devida à sua boa produtividade,
excelente qualidade de frutos que determina às copas

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 81


nela enxertadas, tolerância à Phytophthora spp. e ao frio.
Dentre as várias boas qualidades desse porta-enxerto
está, ainda, a tolerância ao declínio e aos viroides da
exocorte e xiloporose. A tristeza tem se disseminado e
tem reduzido ou eliminado o uso da laranjeira ‘Azeda’.
Contudo, considerando a excelência de suas qualidades
horticulturais, recomenda-se seu uso em áreas onde não
exista a doença ou onde ela é considerada um risco menor
ou como porta-enxerto de limoeiros verdadeiros, que
resulta em combinações tolerantes. A suscetibilidade da
laranjeira ‘Azeda’ ao vírus da tristeza despertou o interesse
em outros porta-enxertos como seus possíveis substitutos.
Existem numerosas seleções de laranjeira ‘Azeda’ de
comportamento variável, o que sugere híbridos ou mutantes
fenotipicamente semelhantes. Algumas dessas são
consideradas promissoras como porta-enxertos, tais como
as laranjeiras ‘Bittersweet’ (C. aurantium L.) e C. taiwanica
Tanaka & Schimada e as variedades ‘Smooth Flat Seville’,
‘Kinkoji’ (C. obovoidea hort. ex I. Takahashi), ‘Gou Tou
Chen’ e ‘Zhu Luan’, provavelmente combinações híbridas
de toranja, laranjas doces e azedas, que despertaram
interesse, principalmente, na Flórida.

82 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Fotos: Nilton F. Sanches

Limoeiro ‘Cravo’ C. limonia

O limoeiro ‘Cravo’ é considerado um híbrido tipo tangeri-


na, tendo sido classificado no passado como C. reticulata
var. austera. No Brasil, onde é o principal porta-enxerto,
recebe os nomes de limoeiro ‘Rosa’, ‘Francês’, ‘Vinagre’,
‘Galego’, ‘Bergamota’, dentre outros. A grande preferência
pelo ‘Cravo’ em nosso país é explicada, especialmente, por

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 83


sua tolerância à tristeza e à seca, excelente produtividade
e precocidade de produção. Além dessas características,
apresenta facilidade de obtenção de sementes, vigor no
viveiro, bom pegamento na enxertia e das mudas no campo,
onde crescem rapidamente. Considerado tolerante à triste-
za dos citros, apresenta caneluras quando infestado por
alguns isolados mais severos do vírus. Suscetível ao declí-
nio, à exocorte e à xiloporose, deve ser enxertado apenas
com borbulhas de matrizes sadias e livres, principalmente,
dos viroides causadores dessas duas últimas doenças.
É suscetível à gomose de Phytophthora spp. e, sobre-
tudo, à morte súbita dos citros. Considerado um dos
porta-enxertos mais tolerantes a solos salinos, tolera
bem os solos calcáreos e pode ser plantado nos solos
arenosos e argilosos. O limoeiro ´Cravo` apresenta des-
vantagem relacionada com a percentagem de poliem-
brionia: de 30% a 50% das plantinhas oriundas de suas
sementes são horticulturamente semelhantes à planta-mãe.

84 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Fotos: Nilton F. Sanches

Limoeiro ‘Rugoso’, C. jambhiri

Também um híbrido natural, embora existam diversos tipos


e variantes dessa cultivar. No Brasil são mais conhecidos
três deles, o ‘Rugoso da Flórida’, o ‘Rugoso Nacional’ e o
‘Mazoe’, também chamado de ‘Rugoso da África’. O limo-
eiro ‘Rugoso’ já foi um dos porta-enxertos mais utilizados
em todo o mundo citrícola, mas é pouco plantado hoje.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 85


Uma das causas de sua aceitação é a adaptação a solos
arenosos profundos, onde outros porta-enxertos se desen-
volvem mal, além da produtividade e do grande tamanho
dos frutos induzidos por ele às copas. No Brasil, à exceção
do Estado de Sergipe, que utiliza o limoeiro ‘Rugoso da
Flórida’ em boa proporção ao lado do limoeiro ‘Cravo’,
esses porta-enxertos têm sido mais usados em caráter
experimental. O limoeiro ‘Rugoso’ é tolerante à tristeza, à
exocorte e à xiloporose, porém é altamente suscetível à
gomose de Phytophthora spp. e ao declínio que, além de
imprimir qualidade de frutos inferior e diminuir o ciclo de
vida das plantas, limita seu uso em determinadas áreas.
Fotos: Nilton F. Sanches

Limoeiro ‘Volkameriano’ , C. volkameriana

O limoeiro ‘Volkameriano’, a exemplo dos limoeiros ‘Cravo’ e


‘Rugoso’, é considerado um híbrido natural, provavelmente
de cruzamento entre limoeiro ‘Rugoso’ e laranjeira ‘Azeda’.
Determina a formação de copas de tamanho médio, de
boa produtividade, com início precoce de produção e frutos
com características semelhantes às dos produzidos sobre

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 87


o ‘Cravo’, sendo indicado para plantio em solos arenosos e
argilosos. Tem mostrado incompatibilidade com a laranjeira
‘Pera’, cuja combinação é pouco produtiva e de vida curta;
é suscetível à doença “galha lenhosa” (woody gall) quando
enxertado com limoeiros verdadeiros portadores dessa
enfermidade. É tolerante à tristeza, à xiloporose e, por ser
também tolerante à exocorte, seu uso é indicado como
porta-enxerto da lima ácida ‘Tahiti’. É suscetível ao declínio
e à morte súbita dos citros, porém é mais indicado que o
‘Rugoso’ como porta-enxerto de laranjeiras doces destina-
das à indústria de suco. Introduzido no Estado de Sergipe
com entusiasmo pelos agricultores, passou a ser refutado
na última década.

88 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Fotos: Nilton F. Sanches

Tangerineira ‘Cleópatra’ C. reshni

A ‘Cleópatra’ é o porta-enxerto mais conhecido dentre as


tangerineiras e tem sido o mais amplamente utilizado como
suporte de copas de cultivares desse grupo de plantas

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 89


cítricas. É usada apenas em pequena escala com copas
de pomelos e laranjeiras doces, a não ser em casos
particulares de produção de frutos de menor tamanho,
destinados a certos mercados, ou quando se visa à
maturação mais tardia, proporcionada pela alta con-
centração de ácidos e sólidos solúveis totais. Como
vantagens de caráter geral incluem-se a tolerância a
doenças transmissíveis por enxertia, à salinidade e a solos
de pH alto. A ‘Cleópatra’ é considerado o porta-enxerto de
maior tolerância à salinidade. Como desvantagens são
apontados o grande tamanho das plantas, o início tardio de
produção de frutos e a intolerância à seca. A experiência
tem demonstrado que essa cultivar é um excelente porta-
enxerto para todas as cultivares de tangerina que têm frutos
grandes, o bastante para que a redução do seu tamanho
não seja considerável. Além da tolerância à tristeza, à
exocorte e à xiloporose, é das mais tolerantes ao declínio.

90 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Fotos: Nilton F. Sanches

Tangerineira ‘Sunki’ C. sunki

A tangerineira ‘Sunki’ é considerada originária da China


e é utilizada amplamente como porta-enxerto naquele
país, assumindo interesse no Brasil por sua tolerância ao
declínio dos citros e pela produção superior de frutos, es-
pecialmente em solos argilosos. A planta enxertada sobre

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 91


‘Sunki’ é tolerante à tristeza e aos sais, embora intolerante
à exocorte. O maior inconveniente seria o baixo número
de sementes por fruto (dois a três). Duas novas seleções
dessa cultivar foram obtidas na Embrapa Mandioca e Fru-
ticultura: a ‘Sunki Maravilha’, de origem nucelar, que tem
número médio de sementes por fruto relativamente alto
(7,7) e apresenta tolerância à gomose de Phytophthora,
e a ‘Sunki Tropical’, que tem número médio de sementes
por fruto especialmente elevado (18,7). Ao lado do número
de sementes, ambas produzem seedlings uniformes, de-
correntes de sua elevada percentagem de poliembrionia,
de cerca de 100%, características altamente interessantes
em porta-enxertos. Ambas têm bom potencial de uso em
programas de diversificação, em especial a ‘Sunki Tropical’
que tem apresentado tolerância à seca e boa produção de
frutos nos estados de São Paulo e Bahia.

92 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Fotos: Nilton F. Sanches

Poncirus trifoliata

O P. trifoliata (comumente chamado de “trifoliata” no Brasil),


apesar de não pertencer ao gênero Citrus, produz frutos
considerados como “frutos cítricos verdadeiros”. O trifo-
liata é um porta-enxerto de uso disseminado pelo mundo
citrícola, especialmente no Japão, China, Austrália e Ar-
gentina. É pouco usado no Brasil, à exceção do Estado

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 93


do Rio Grande do Sul, onde tem participação altamente
expressiva. Normalmente, o tronco das plantas sobre esse
porta-enxerto tem diâmetro menor, o que não significa in-
compatibilidade. Em algumas combinações essa anomalia
se manifesta, afetando a produção e encurtando a vida da
planta, como na laranjeira ‘Pera’ e no tangoreiro ‘Murcott’.
As plantas enxertadas nesse porta-enxerto produzem bem,
considerando-se seu tamanho. Bastante exigente em fer-
tilidade, tem pequeno crescimento e inicia tardiamente a
produção de frutos em solos pobres e ácidos. Desenvolve-
-se bem em solos argilosos e limosos e não se adapta bem
a solos salinos e calcáreos. O P. trifoliata var. monstrosa
‘Flying Dragon’ imprime forte nanismo às plantas nele en-
xertadas em virtude de essa característica na variedade ser
genética, diferentemente da espécie que lhe deu origem.
Levando em conta o grande vigor e a baixa produtividade
dos citros nos trópicos, o uso dessa variedade que, além
de induzir ao nanismo, frutifica precocemente, seria uma
solução para o problema.

94 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Fotos: Nilton F. Sanches

Híbridos de Poncirus trifoliata

Os mais importantes híbridos entre laranjeiras doces e


P. trifoliata são os citrangeiros ‘Troyer’ (figura acima) e
‘Carrizo’, que têm como parental feminino a laranjeira
‘Bahia’. Esses dois híbridos são indistinguíveis e de
interesse considerável como porta-enxertos, em virtude
de sua tolerância à tristeza e à podridão do pé. Na Bahia

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 95


foi constatada a ocorrência de caneluras fortes restritas
ao porta-enxerto sob copa de laranjeira ‘Pera’ em
15 plantas de ‘Carrizo’ e em apenas uma de ‘Troyer’,
em um ensaio experimental. Os frutos produzidos sobre
esses porta-enxertos têm tamanho médio a grande e a
qualidade do suco está entre as melhores. As plantas sobre
citrangeiro são moderadamente vigorosas a vigorosas,
em certa medida similares àquelas sobre laranjeira
‘Azeda’ e geralmente menores que sobre porta-enxertos
vigorosos, como o limoeiro ‘Rugoso’. Os citrangeiros são
compatíveis com todas as variedades de laranjeiras doces,
tangerineiras e pomeleiros, apresentando incompatibili-
dade apenas com limoeiros verdadeiros, especialmente
o ‘Eureka’. Os citrangeiros, assim como o trifoliata e
citrumeleiros, apresentam diâmetro do porta-enxerto
maior que o do tronco da variedade nele enxertada.
De maneira geral, os citrangeiros são tolerantes ao
nematoide dos citros, a fungos do gênero Phytophthora e
aos vírus transmissíveis por enxertia, mas são sensíveis ao
viroide da exocorte. Apresentam suscetibilidade ao declínio
e não há informação sobre seu desempenho em relação à
morte súbita dos citros.

96 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Fotos: Nilton F. Sanches

Citrumeleiros

Os citrumeleiros são híbridos entre pomeleiros e trifoliatas.


Dentre eles o mais conhecido e mais usado comercialmente
é o ‘Swingle’, híbrido de pomeleiro ‘Duncan’ (C. paradisi) e
P. trifoliata, que se expandiu bastante pelo mundo citrícola
desde sua liberação, em 1974, por algumas características
muito interessantes. No Brasil tem sido pouco estudado

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 97


e usado em pequena escala, podendo-se dizer que
proporciona boa produtividade às principais cultivares.
É tolerante ao declínio, incompatível com o limoeiro
‘Siciliano’ e com a laranjeira ‘Pera’ e tolerante à morte
súbita dos citros. Atualmente, sua procura tem aumentado
consideravelmente, especialmente no Sul de São Paulo e
Norte de Minas Gerais, em virtude da ocorrência do mal
conhecido como morte súbita dos citros, que, aparen-
temente, esse porta-enxerto tolera. A escolha do local
do plantio é muito importante e o solo é particularmente
crítico porque, nos solos arenosos, o sistema radicular
do ‘Swingle’ não se expande, as raízes fibrosas não são
tão densas quanto no citrangeiro ‘Carrizo’ ou no limoeiro
‘Rugoso’ e, assim, as plantas requerem manejo cuidadoso
a fim de se evitar estresse hídrico. Em locais adequados,
esse porta-enxerto é excelente para pomeleiros – as plantas
são vigorosas, de boa produtividade e os frutos produzidos
são grandes e de excelente qualidade. Em solos arenosos,
o vigor das plantas é inerente ao vigor da copa.

98 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Fotos: Nilton F. Sanches

Citrandarins

Híbridos de Poncirus trifoliata com tangerineira ‘Sunki’


(C. sunki), oriundos da Estação Experimental de Indio,
na Califórnia, têm apresentado comportamento satisfatório
relacionado a produtividade e vigor das plantas e, especial-
mente, resistência à gomose sob diferentes copas, demons-
trando a possibilidade de sua inclusão em programas de

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 99


diversificação de porta-enxertos. Em 2011, a Embrapa
Mandioca e Fruticultura passou a recomendar os híbridos
de tangerineira ‘Sunki’ x trifoliata ‘English’ 256 e 264 e de
tangerineira ‘Sunki’ x trifoliata ‘Swingle’ 314.

100 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


7
Capítulo 7

Comportamento de variedades cítricas


na região da Chapada Diamantina,
Estado da Bahia, Nordeste do Brasil

Orlando Sampaio Passos


Walter dos Santos Soares Filho
Clóvis Oliveira de Almeida
As informações e as fotos apresentadas neste capítulo
foram obtidos em Ibicoara e Rio de Contas, na Chapada
Diamantina, Bahia, em quadra experimental para avaliação
de variedades-copa, onde o porta-enxerto utilizado foi o li-
moeiro ‘Cravo’ (C. limonia Osbeck).

A área de estudo situa-se a 13o 17’’ 03’’ latitude Sul e


41o 24’ 10’’ longitude Oeste, numa altitude de 1.100 m.
A temperatura média anual histórica é de 20,06o, mas,
dependendo do ano, a temperatura média máxima pode
chegar a 24,93o e a média mínima, a 15,19o. Os meses
mais frios do ano vão de maio a agosto. A pluviosidade
média anual é de 746,4 mm, com concentração nos meses
de novembro a abril. Os solos Latossolo Vermelho Amarelo
e Latossolo Amarelo são predominantes.

Nas condições da Chapada Diamantina, a floração das


frutas cítricas ocorre principalmente em setembro e a fru-
tificação varia de seis meses nas variedades precoces
a 15 meses nas tardias. Os frutos de laranja e tangerina
apresentam coloração externa homogênea, variando de
mediana a intensamente alaranjada, conteúdo satisfatório
de suco e relação sólidos solúveis totais equilibrada, com
ressalva para as laranjas, que apresentam teor maior de
acidez quando comparadas com as produzidas em regiões
de menor altitude. Devido às condições tropicais, mesmo
na Chapada Diamantina, além da colheita principal, podem
ocorrer safras temporãs a depender das chuvas no período
de outubro a março.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 103


Nas descrições das variedades cítricas foram adotadas as
seguintes convenções quanto a porte da planta, tamanho
do fruto e número de sementes por fruto:

1)   Porte da planta: pequeno (abaixo de 1,50 m); médio


  (de 1,50 m a 5,0 m) e alto (acima de 5,0 m);

2)   Tamanho do fruto: pequeno (abaixo de 150 g); médio


  (de 150 g a 230 g) e grande (acima de 230 g);

3)  Fruto sem sementes: máximo de seis sementes


  por frutos.

104 Citricultura brasileira em busca de novos rumos


Laranjas doces
[Citrus sinensis (L.) Osbeck]

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 105


Foto: Orlando Passos
Laranjeira ‘Bahia’

Origem: Salvador, Bahia, provavelmente no final do século


XVIII. Planta com porte alto, copa arredondada e frondosa.
Fruto grande, sem sementes, esférico, ligeiramente achata-
do, sabor doce, com umbigo proeminente. Maturação meia-
-estação (maio a julho). Embora oriunda de região tropical,
a laranjeira ‘Bahia’ tem mostrado comportamento superior
nas condições climáticas da Califórnia, Espanha, Austrália
e África do Sul, onde são cultivadas seleções locais como a
‘Robertson Navel’, ‘Navelina’, ‘Lane Late’ e ‘Palmer’, respec-
tivamente. Pela excelência de seus frutos, tem-se destaca-
do como cultivar predominante no mercado de exportação
de frutos in natura, ao lado da laranjeira ‘Valência’. A laranja
‘Bahia’, batizada, nos EUA, como ‘Washington Navel’ foi
considerada como um dos principais fatores responsáveis
pelo desenvolvimento da citricultura nos cinco continentes.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 107


Foto: Orlando Passos
Laranjeira ‘Baianinha’

Origem: Piracicaba, São Paulo. Planta adulta: porte alto,


copa arredondada, frondosa. Fruto de tamanho médio,
sem sementes, esférico, sabor doce, com umbigo pequeno
ou quase imperceptível. Maturação meia-estação (maio
a julho). Com características semelhantes às da laranja
‘Bahia’, à exceção do umbigo menos proeminente, a laran-
jeira ‘Baianinha’ apresenta vantagens sobre aquela no que
diz respeito à produtividade, podendo atingir níveis compe-
titivos em relação às outras variedades. O direcionamento
da produção brasileira para processamento de suco con-
tribuiu para que essas variedades perdessem espaço para
as variedades ‘Pera’, ‘Natal’, ‘Valência’ e ‘Hamlin’ devido à
sua inadequação para produção de suco.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 109


Foto: Orlando Passos
Laranjeira ‘Cara-cara’

Origem: Carabobo, Venezuela. Planta com porte alto, copa


arredondada e frondosa. Fruto grande, sem sementes,
esférico, ligeiramente achatado, sabor doce, com polpa
avermelhada devida à presença de licopeno e umbigo
proeminente. Maturação meia-estação (maio a julho).
Devido à coloração intensa da polpa, mesmo em condições
climáticas menos favoráveis, a ´Cara-cara` poderá ser
recomendada como uma das alternativas à diversificação
da citricultura de mesa.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 111


Foto: Orlando Passos
Laranjeira ‘Pera’

Origem: desconhecida. Planta de porte médio, copa ereta.


Fruto de tamanho médio, ovalado, sem sementes e de
sabor doce quando colhido de julho a setembro. Matura-
ção tardia (julho a setembro), com produções temporãs
ao longo do ano. É a cultivar mais difundida no País, por
produzir várias safras durante o ano e ser utilizada para
o mercado de frutas frescas e processamento de suco,
chegando a ser quase exclusiva em alguns estados, como
Bahia e Sergipe. É intolerante ao vírus da tristeza (CTV),
devendo ser utilizadas seleções com predominância de
estirpes fracas do vírus, especialmente quando cultivadas
sob temperaturas baixas.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 113


Foto: Orlando Passos
Laranjeira ‘Salustiana’

Origem: Valência, Espanha. Planta adulta: porte alto, copa


arredondada, com ramos sobressaindo no topo. Fruto de
tamanho médio a grande, sucoso, esférico, sem semen-
tes. Maturação meia-estação (maio a julho). Em razão de
ser considerada “sem sementes”, a ‘Salustiana’ apresenta
potencial tanto para o mercado de fruta fresca quanto para
o de processamento de suco, podendo ser comparável ou
superior à laranja ‘Valência’. A alternância de produção, no
entanto, constitui uma desvantagem que pode ser contor-
nada com o uso de podas.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 115


Foto: Orlando Passos
Laranjeira ‘Lima’

Origem: desconhecida. Planta adulta: porte médio, copa


arredondada. Fruto: pequeno, esférico, baixo teor de
acidez e sem sementes. Maturação meia-estação (maio
a junho). A cultivar ‘Lima’, embora com mercado limitado,
tem boa aceitação no Nordeste, especialmente em razão
da ausência de acidez nos frutos. Um clone oriundo do
Egito tem mostrado comportamento bastante satisfató-
rio nessas condições tropicais. O Estado de Alagoas é o
maior produtor de laranja ‘Lima’ no Nordeste e provavel-
mente no País.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 117


Foto: Orlando Passos
Laranjeira ‘Rubi’

Origem: desconhecida. Planta adulta: porte alto, copa arre-


dondada. Fruto de tamanho médio, esférico e sem semen-
tes; casca ligeiramente rugosa, de coloração alaranjada,
uniforme, polpa fortemente alaranjada. Maturação meia-
-estação (maio a julho). Em razão de ser considerada “sem
sementes” e apresentar suco colorido, a ‘Rubi’ tem bom
potencial para o mercado de fruta fresca.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 119


Foto: Orlando Passos
Laranjeira ‘Westin’

Origem: Estado do Rio Grande do Sul. O nome vem de


uma homenagem, em Piracicaba (SP), ao Professor Felipe
Cabral Westin de Vasconcelos. Planta adulta: porte baixo,
galhos mais ou menos eretos. Fruto de tamanho médio,
arredondado, sucoso e sem sementes. Maturação precoce
a meia-estação (maio a julho). Tem mostrado ser mais uma
opção à citricultura de mesa tanto em áreas de altitude como
em outras no Nordeste.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 121


Foto: Orlando Passos
Laranjeira ‘Pineapple’

Origem: Flórida, EUA. Planta de porte alto. copa arredon-


dada, fruto de tamanho médio, esférico com média de 16
sementes. Maturação meia-estação, maio a julho. Varieda-
de tradicionalmente cultivada na Flórida, apresenta elevada
produtividade e excelente qualidade de suco, porém frutos
com número excessivo de sementes.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 123


Foto: Orlando Passos
Laranjeira ‘Sincorá’

Origem: China. Seu nome original é ‘Jinchen’. Planta


adulta: porte médio, copa ereta semelhante à da ‘Pera’.
Fruto de tamanho médio, esférico e sem sementes. Matu-
ração meia-estação a tardia (maio a setembro). Bastante
semelhante à ‘Pera’, tem como vantagem a menor severi-
dade das caneluras causadas pela tristeza (CTV).

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 125


Foto: Orlando Passos
Laranjeira ‘Valência Tuxpan’

Origem: México. Planta de porte alto, copa arredondada.


Fruto de tamanho médio, esférico, com zero a seis semen-
tes. Maturação muito tardia, julho a setembro. Além de pro-
duzir depois da ‘Pera’, essa variedade apresenta elevada
produtividade com bom potencial para processamento e
mercado de fruta fresca.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 127


Tangerinas e Híbridos

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 129


Foto: Orlando Passos
Tangeleiro ‘Lee’

Híbrido do cruzamento tangerineira ‘Clementina’ (C. cle-


mentina hort. ex Tanaka) x tangeleiro ‘Orlando’ (pomeleiro
‘Duncan’ C. paradisi x tangerineira ‘Dancy’ C. tangerina
hort. ex Tanaka). Origem: Flórida, EUA. Planta de porte alto,
copa globosa, não típica de tangerineira. Fruto de tamanho
médio, forma intermediária entre oblata e globosa, casca
lisa e aderente, coloração externa e polpa laranja-aver-
melhada, com média de 18 sementes. Maturação precoce
(abril a junho), podendo ser uma das primeiras a serem
colhidas no pomar, o que recomendaria o seu uso, apesar
do número elevado de sementes por fruto.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 131


Foto: Orlando Passos
Tangeleiro ‘Robinson’

Híbrido do cruzamento tangerineira ‘Clementina’ (C. cle-


mentina hort. ex Tanaka) x tangeleiro ‘Orlando’ (pomeleiro
‘Duncan’ C. paradisi x tangerineira ‘Dancy’ C. tangerina
hort. ex Tanaka). Origem: Flórida, EUA. Planta de porte
alto, copa globosa, não típica de tangerineira. Fruto de
tamanho médio, casca lisa e aderente, coloração externa
e polpa laranja-avermelhada, com média de 17 sementes.
Maturação precoce (abril a junho), sendo uma das primei-
ras a ser colhidas no pomar, o que recomendaria o seu uso,
apesar do número elevado de sementes por fruto.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 133


Foto: Orlando Passos
‘Mexeriqueira’

Origem: provavelmente do Mediterrâneo. A espécie é


C. deliciosa Ten. Conhecida sob diferentes denomina-
ções em muitas partes do mundo, como ´Avana` na Itália,
´Comum` na Espanha`, ´Willow leaf` nos EUA. Planta de
porte médio, folhas lanceoladas, fruto de tamanho pequeno
a médio, sabor doce, com numerosas sementes, casca
rugosa/lisa, pouco aderente (fácil de descascar), coloração
externa e polpa laranja-avermelhada menos intensa do
que nos híbridos. Maturação meia-estação (maio a junho),
com alternância de produção. Bastante difundida no País,
é conhecida também como ‘Mexerica do Rio’. O manejo
inadequado dessa variedade no que tange à poda e raleio
contribuiu para a produção de frutos miúdos, o que tem
acelerado a sua substituição por ´Ponkan` e `Murcott`.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 135


Foto: Orlando Passos
Tangerineira ‘Ponkan’

Origem: Japão. A espécie é C. reticulata Blanco. Planta


de porte médio, copa cônica; fruto de tamanho grande,
achatado, com média de 10 sementes; casca solta e
rugosa. Maturação meia-estação. Apesar de ter boa
aceitação comercial e ser a preferida entre os citricultores,
pelo tamanho e qualidade do fruto, a casca pouco aderente
leva a expressivas perdas pós-colheita no transporte aos
mercados consumidores.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 137


Foto: Orlando Passos
Tangeleiro ‘Page’

Híbrido do cruzamento tangerineira ‘Clementina’ x tange-


leiro ‘Minneola’ (pomeleiro ‘Duncan’ x tangerineira ‘Dancy’).
Origem: Flórida, EUA. Planta de porte pequeno, que permite
o cultivo adensado, e copa arredondada. Fruto de tamanho
pequeno, forma arredondada e sem sementes (se plantada
isolada); casca lisa e aderente, de cor alaranjada intensa,
uniforme, polpa fortemente alaranjada. Maturação precoce
a meia-estação (abril a julho). Apesar do fruto pequeno,
esse híbrido apresenta potencial mesmo em áreas de
baixa altitude devido à qualidade do suco, tanto em relação
à coloração quanto ao sabor. Esses híbridos possuem em
sua constituição genética ¾ de tangerineira e ¼ de pome-
leiro, espécies que encontram no Nordeste boas condições
para seu cultivo, especialmente o pomelo, mesmo em área
de menor altitude. Sob temperaturas baixas essa cultivar
apresenta intolerância ao vírus da tristeza, podendo exibir
fortes caneluras no tronco.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 139


Foto: Orlando Passos
Tangeleiro ‘Nova’

Híbrido do cruzamento tangerineira ‘Clementina’ x tange-


leiro ‘Orlando’. Origem: Flórida, EUA. Planta adulta: porte
médio, copa arredondada. Fruto de tamanho médio, sucoso
mas sujeito à granulação, forma achatada e sem sementes
(quando plantada isoladamente), casca lisa, medianamen-
te aderente, de cor alaranjada intensa, uniforme, polpa
fortemente alaranjada. Maturação precoce a meia-estação
(abril a julho). Na Espanha, essa variedade apresenta,
com frequência, fendilhamento na porção estilar do fruto.
No Brasil, a colheita tem que ser feita de imediato, a fim de
se evitar a granulação dos frutos.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 141


Foto: Orlando Passos
Tangerineira ‘Dancy’

Origem: Flórida (EUA). A espécie é C. tangerina hort. Ex


Tanaka. Planta de porte alto, copa com crescimento ereto.
Fruto de tamanho médio, forma achatada, sabor doce, com
média de 16 sementes, casca lisa e semiaderente, fácil
de descascar, de cor alaranjada intensa, uniforme, polpa
fortemente alaranjada. Maturação meia-estação a tardia
(maio a setembro), com alternância de produção. A tange-
rineira ‘Dancy’ é predominante no Brejo Paraibano, onde
está localizada a maior área cultivada com essa variedade
no Nordeste.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 143


Foto: Orlando Passos
Tangoreiro ‘Murcott’

Híbrido resultante, possivelmente, de cruzamento entre


tangerineira e laranjeira doce. Origem: Flórida, EUA.
Planta de porte médio, de crescimento ereto, fruto de
tamanho médio, globoso e achatado, sabor intermediá-
rio entre laranja e tangerina, com cerca de 20 sementes.
Maturação tardia (junho a setembro). Apresenta casca
lisa e aderente da laranjeira doce e polpa de tangerina.
O número excessivo de sementes no fruto é uma desvan-
tagem na sua comercialização como fruta fresca, compen-
sada, no entanto, pela firmeza do fruto, que possibilita seu
transporte a longas distâncias.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 145


Foto: Orlando Passos
Tangeleiro ‘Piemonte’

Híbrido do cruzamento de tangerineira ‘Clementina’ x


tangor ‘Murcott’ (híbrido natural de tangerineira x laranjeira
doce). Origem: Califórnia, EUA. Planta de porte pequeno a
médio, copa arredondada. Fruto de tamanho médio, forma
globosa a achatada, com média de 20 sementes, casca lisa
e aderente, coloração externa e polpa laranja-avermelhada.
Maturação tardia (a partir de agosto). Essa característica,
aliada à excelente coloração do fruto e facilidade no
transporte, faz com que essa cultivar apresente-se como
real opção à citricultura de mesa.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 147


Limas e Limões

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 149


Foto: Orlando Passos
Limeira ‘da Pérsia’

Origem: desconhecida. A espécie é C. limettioides Tanaka.


Planta de porte alto, copa arredondada. Fruto de tamanho
médio, sabor doce, sem acidez e sem sementes; casca
lisa, com coloração verde-clara, uniforme, polpa amarela-
-pálida. Maturação variável, com concentração nos meses
de junho e julho. A lima ‘da Persia’ é bastante apreciada
no Nordeste.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 151


Foto: Orlando Passos
Limeira ácida ‘Tahiti’

Origem: indefinida entre o Irã e a ilha de Tahiti. A espécie é


C. latifolia (Yu. Tanaka) Tanaka. Planta de porte alto, copa
arredondada. Fruto pequeno, ovalado, sabor ácido, sem
sementes; casca lisa, com coloração de um verde intenso
e uniforme, polpa citrina. Época de colheita concentrada
no primeiro semestre. No grupo das limeiras ácidas e li-
moeiros verdadeiros, é a cultivar mais difundida no País,
estando em fase de expansão no Nordeste dada à sua boa
adaptação às condições climáticas dessa região.

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 153


Limoeiro ´Fino` Foto: Orlando Passos

Origem: Espanha. A espécie é C. limon (L.) Burm. f.. Planta


de porte alto, copa arredondada. Fruto de tamanho médio,
formato ovóide, média de zero a seis sementes por fruto;
casca rugosa, de cor amarela e polpa esbranquiçada.
Maturação meia-estação (maio a julho).

Citricultura brasileira em busca de novos rumos 155


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