PRECONCEITO LINGUÍSTICO: A COMUNICAÇÃO E A GRAMÁTICA NORMATIVA.
Na contemporaneidade, nota-se que os direitos e princípios resguardados na
Declaração Universal dos Direitos Linguísticos, criada em Barcelona em 1996, não são inteirados conforme deveriam, isso é nitidamente evidenciado no preconceito linguístico bastante difuso nas diversas classes socioeconômicas, que constituem a sociedade brasileira. Em uma primeira análise, sabe-se que o “embate” entre a língua falada no dia a dia dos brasileiros e a gramática normativa cotidiana, encaixasse muito bem como um dos pilares da problemática. Já em uma segunda análise, apresenta-se o linguajar como forma de dominação, sobreposição e exclusão social. Diante dessa perspectiva de observação, cabe avaliar os fatores preponderantes que acabam por favorecer esse quadro. Nesse contexto, segundo Bechara, membro da Academia Brasileira de Letras e autor renomado de diversas gramáticas tidas como referência no meio da escrita, o mesmo explicitou que, “a língua e a gramática normativa diferem, pois o falar é inegavelmente diferente do escrever”. Há de se considerar que a fala compõe-se também de elementos exteriores a mesma, como; o meio de fala, o canal de comunicação, a intensidade/entonação e o destino final da mensagem, fatores esses que acabam influenciando como o receptor do conteúdo capta a mensagem emitida. Portanto, entende-se que não é necessário pensar em correções e incorreções, e sim em adequações às situações de fala. Um exemplo conciso, a maneira que um “explicador” ou palestrante emite o conteúdo em uma palestra destinada a pessoas de profissões mais bem instruídas, difere da forma que o mesmo emite o conteúdo a um público menos instruído. Contudo, o maior inimigo desse pressuposto é o hábito da sociedade trazer para si, a gramática normativa como forma intrínseca e exclusivamente correta do falar, certamente, isso acarreta o prejulgamento do linguajar daqueles indivíduos que não seguem às normas da gramática em seu ato de fala, acabando por serem excluídos, diminuídos ou até perdendo momentos e espaços futuros de fala. De tal que maneira que a linguagem vá de encontro a ideia primordial da sociolinguística, que defende como fator principal “a comunicação entre indivíduos” e não a fala seguindo os preceitos da escrita de acordo com a gramática normativa da língua. Além disso, conforme Marcos Bagno disse em seu livro Preconceito Linguístico lançado em 1999; os indivíduos das “esferas” mais cultas da sociedade usam o linguajar da gramática normativa como instrumento de distinção e dominação de sua classe sobre as classes sociais marginalizadas, excluindo-os e discriminando-os, assim criando o preconceito linguístico propriamente dito. Evidenciado, como no caso que aconteceu em Serra Negra – SP, no ano de 2016, onde o médico Guilherme Cape debochou do paciente em suas redes sociais porque o mesmo falou “peleumonia” e “raôxis”, o paciente ou vítima é membro de uma classe socioeconômica menos favorecida, o mesmo atuava como mecânico e não teve as oportunidades necessárias para se tornar uma pessoa melhor instruída, tendo cursado somente até as fases finais do ensino fundamental. Ademais, pode-se usar como base a área da docência, pode-se dar o exemplo do professor de Português que se baseia fundamentalmente na gramática tendo como principal objetivo corrigir os erros dos alunos. Infelizmente, na escola, muitas vezes, a escrita e a fala de acordo com a gramática normativa é basicamente a preocupação de muitos professores, com isso contribuindo apenas para reafirmar a exclusão social referente à língua falada pela maioria dos brasileiros. Infere-se, portanto, que o prejulgamento do linguajar é algo sólido na sociedade, o que dessa forma o mesmo acaba por influenciar e instigar atos e ações preconceituosas em diversos níveis das classes sociais, com isso criando situações desconfortáveis e constrangedoras, quando não exclusivas. Assim sendo é notório que meios de combate e controle ao mesmo devem ser criadas. Dessa forma, esperasse que no mínimo a língua ou forma de fala possa superar mais esse obstáculo, criando assim um maior bem estar social e tornando a linguagem um instrumento de inclusão e não o inverso.