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A primeira pessoa queria sepultar seu pai antes de seguir esse chamado.
Particularmente não creio que o pai já houvesse morrido e o velório estivesse em
andamento; penso ser um costume onde o filho (normalmente o mais velho) tinha a
sua saída de casa liberada somente depois da morte do pai. Porém, independente
de qualquer interpretação ou especulação do assunto, temos alguém dando uma
desculpa ao chamado de Jesus, demonstrando estar presa a algo e, assim,
impedida de atender prontamente ao Senhor.
De acordo com a afirmação do Senhor Jesus, não podemos hesitar em atender seu
chamado, nem sermos encontrados presos a coisas ou valores que nos impeçam
de seguir adiante em obediência a Ele. A verdade é que todos temos dificuldades
de abrir mão de determinados valores. Ficamos presos à algumas coisas de nossa
vida. Mas quando se trata de seguir a Cristo, não podemos ter nada que nos prenda.
Não podemos mais olhar para trás.
Quem põe a mão no arado, precisa olhar para frente, focar sua meta. Se olhar para
trás não será bem-sucedido no que faz. Semelhantemente, se queremos servir ao
Senhor, a opção de olhar atrás não deve existir, uma vez que quem assim procede
não é considerado “útil” para o Reino de Deus.
Recordo-me que, anos atrás, assisti o filme “Fogo contra fogo” (1995), considerado
por muitos um ícone entre os filmes de ação e enredo policial. Na trama, o ator
Robert De Niro interpreta a personagem Neil McCauley, um bandido que lidera uma
gangue que vem realizando roubos ousados; já o ator Al Pacino interpreta a
personagem Vincent Hanna, o detetive que está à frente da caçada a esse bando
de criminosos. Num determinado momento, o detetive aborda o criminoso e o
convida para tomarem um café. Nessa conversa eles, de forma discreta, medem
forças e fazem ameaças. Quando o detetive menciona estar com seu casamento
por um fio por ter que perseguir bandidos como o McCauley, ele imediatamente
responde ao policial que quem está nesse tipo de vida não pode pensar num
casamento. Isso faz o detetive questionar se ladrão não tinha mulher. Ele diz que
sim, mas menciona um conselho que recebeu de outro bandido: “Não se deixe
envolver com nada que você não possa abandonar em três segundos exatos, se
perceber os tiras na sua cola”. Em outras palavras, ele estava dizendo: “Não posso
ter que nada que me prenda, que me faça hesitar na hora de que tiver que largar
tudo para trás”.
A mulher de Ló
Quando o Senhor tirou Ló e sua família de Sodoma, advertiu-lhes claramente a que
não olhassem para trás:
“Havendo-os levado fora, disse um deles: Livra-te, salva a tua vida; não olhes
para trás, nem pares em toda a campina; foge para o monte, para que não
pereças”. (Gênesis 19.17)
Temos uma figura aqui. Sodoma e Gomorra figuram este mundo perdido e devasso
que há de ser julgado por Deus. Mas o livramento de Ló e sua família figuram nossa
salvação e livramento do juízo e condenação deste mundo. Mas para não ser
julgado com o mundo, não basta apenas sair geograficamente dele. É preciso que
nosso coração também saia de lá!
Ao ordenar que não olhassem atrás, Deus estava dizendo que seria o fim de tudo
aquilo, e que o coração deles deveria estar totalmente desprendido. Mas a mulher
de Ló desobedeceu a ordem divina.
Há muita gente que não consegue se desprender das coisas das quais Deus os
libertou. Aquilo que um dia te prendeu, potencialmente ainda é um perigo. Por isso
Paulo advertiu aos gálatas dizendo:
“Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não
vos submetais, de novo, a jugo de escravidão”. (Gálatas 5.1)
O apóstolo nos revela que o mesmo jugo de escravidão que nos oprimiu um dia,
tentará pesar sobre nossos ombros novamente.
É por isso que nossa primeira mensagem deve ser sempre o arrependimento. Esta
era a mensagem de Jesus (Mc 1.15). Era a mensagem que ele deu aos apóstolos
(Lc 24.47). É um dos rudimentos da doutrina de Cristo (Hb 6.1,2). Quando
mostramos a alguém que ele é um pecador, qual sua condição em consequência
disto, bem como o preço colhido do pecado, estamos levando-o a uma possível
quebra de vínculos com seu passado.
Sem um profundo arrependimento e dor pelo pecado, o crente pode ter saudades
daquilo que deixou e olhar para trás.
“É este Moisés quem esteve na congregação no deserto, com o anjo que lhe
falava no monte Sinai e com os nossos pais; o qual recebeu palavras vivas
para no-las transmitir. A quem nossos pais não quiseram obedecer; antes, o
repeliram e, no seu coração, voltaram para o Egito, dizendo a Arão: Faze-nos
deuses que vão adiante de nós; porque, quanto a este Moisés, que nos tirou
da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu. Naqueles dias, fizeram
um bezerro e ofereceram sacrifício ao ídolo, alegrando-se com as obras das
suas mãos”. (Atos 7.38-41)
A frase: “no seu coração voltaram ao Egito” revela a atitude de olhar para trás e
desejar aquilo que foi antes deixado. Eles não voltaram literalmente ao Egito, da
mesma forma como muito crente não chega a abandonar a Igreja, mas no seu íntimo
viviam lá, como muito crente faz, sem se desligar das práticas (ou fantasias)
mundanas.
“E o populacho [povo misto] que estava no meio deles veio a ter grande
desejo das comidas dos egípcios; pelo que os filhos de Israel tornaram a
chorar e também disseram: Quem nos dará carne a comer? Lembramo-nos
dos peixes que, no Egito, comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos
alhos silvestres, das cebolas e dos alhos. Agora, porém, seca-se a nossa alma,
e nenhuma coisa vemos senão este maná”. (Números 11.4-6)
Tem muito crente assim na Igreja. Gente que sente saudades da bebida, das drogas,
do sexo ilícito, das festas e de toda sujeira mundana e do pecado do qual foram
libertos por Jesus. Eu acho isto muito, muito curioso. Não se lembram que antes
eram escravos, que sofriam, que era um tempo difícil e de perseguição. Conseguem
ter saudades apenas do que eles achavam que era bom. Esta atitude interior de
saudade do que foi deixado, é olhar para trás como a mulher de Ló olhou. É voltar
ao Egito, ainda que não seja de modo literal.
No coração, estão voltando para lá. Na verdade, acredito que antes do desvio que
envolve o abandono de tudo, a pessoa começa se desviando em seu coração. Por
isso a experiência de conversão não deve ser banal. A pessoa tem que saber
valorizar aquilo que está abraçando e saber rejeitar para sempre o que está
abandonando. O arrependimento genuíno produzirá este tipo de atitude em nós.
COMO GUARDAR-SE DE VOLTAR ATRÁS
O que podemos fazer, de forma prática, para não incorrer no erro de olhar atrás?
Consciência espiritual
O Senhor Jesus instituiu a Ceia da Aliança com o propósito de nos manter
conscientes da sua morte e redenção por nós (1 Co 11.24,25). Isto nos faz perceber
que devemos alimentar a gratidão e o compromisso através da lembrança do que
foi feito por nós.
Esquecer-se do que éramos e do Cristo fez por nós é pura ingratidão. Pedro se
refere de forma negativa àqueles que se esqueceram da purificação de seus
pecados de outrora:
“mas aquele em quem não há estas coisas, é cego, vendo só o que está perto,
porque se tem esquecido da purificação dos seus pecados antigos”. (2 Pedro
1.9 – TB)
Para olhar para trás é preciso se esquecer do que éramos e do preço que foi pago.
Portanto, uma boa forma de nos guardar é manter o nosso coração consciente
destes fatos em todo o tempo. Assim, não mais olharemos atrás e nos
conservaremos firmes em nossa fé.
Firmeza
Alguns acham que nada devemos fazer por nossa firmeza, mas o fato é que as
Escrituras nos ensinam que devemos intencionalmente fazer mais firme a nossa
vocação, evitando assim de tropeçar, ou voltar atrás.
“Por isso, irmãos, ponde cada vez maior cuidado em fazer firme a vossa
vocação e eleição; porque fazendo isto, não tropeçareis jamais. Pois assim
vos será dada largamente a entrada no reino eterno de nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo. vinda de Cristo”. (2 Pedro 1.10,11 – TB)
Somos ordenados pela Palavra do Senhor a vigiar e cuidar de nossa própria firmeza.
Contudo, muitos crentes vivem como se nunca tivessem recebido esta ordem.
Transferem o cuidado de si sobre outros, mas o fato é que isto é responsabilidade
nossa, e de mais ninguém:
“Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não
suceda que… descaiais da vossa própria firmeza”. (2 Pedro 3.17)
Prevenir-se. Acautelar-se. São palavras que indicam uma atitude (e
responsabilidade) que Deus nos deu. E o propósito e não descair da própria firmeza.
Ao falar assim, o Senhor nos mostra que a queda é uma possibilidade, mas nos
mostra que pode ser evitada por prevenção e cuidado.
Voto de compromisso
Acredito que em nosso coração devemos firmar um compromisso formal com Cristo
de não deixá-lo jamais. Ele prometeu que estaria conosco todos os dias (Mt 28.18).
Também prometeu não nos abandonar:
Penso que cada cristão deveria se comprometer a não mais voltar atrás. Prometer
isto em seu coração e também com sua boca, da mesma forma como um cônjuge
se compromete com outro: sabendo que é para sempre e que não se pode mais
voltar atrás. Imagine uma noiva dizendo ao seu noivo, no dia do casamento, que
não poderia garantir se conseguiria ser fiel ou não, que seria melhor não prometer
nada para não correr o risco de quebrar uma promessa…
Não devemos ter medo do compromisso, pois isto seria o mesmo que entrar já não
acreditando na duração de um relacionamento. Devemos pensar bem antes de
entrar, e então entrar para não mais voltar atrás.
Deus está nos chamando a renovar nosso compromisso e aliança com Ele, e
firmarmo-nos cada dia mais em nossa fé e andar n´Ele. Como você responderá a
Ele?