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Classe Operária vai ao Paraíso.

A década de 70 foi um período de profundas transformações no capitalismo do mundo todo, em que se inclui a Itália.
Depois de um período de conquistas para a classe trabalhadora, o padrão de acumulação taylorista-fordista entra em
plena decadência. O resultado seria que muitos dos direitos conquistados seriam postos em xeque pelas burguesias da
época, que objetivando diminuir os custos introduzem inovações tecnológicas poupadoras de força de trabalho. Seria
o predomínio pleno da subsunção real sobre a formal 3, da mais-valia relativa sobre a absoluta, que já vinha desde a
eclosão da Revolução Industrial. O homem cada vez mais se torna um apêndice da máquina, não é mais a ferramenta
que é construída para adaptar-se a mão do homem, é o homem que tem de adaptar-se à máquina. O papel do
trabalhador na geração de riqueza passa a ser questionado, a crise capitalista faz com que a organização dos
trabalhadores se depare com o aumento do desemprego, a carestia e a convivência com a reestruturação do trabalho
na fábrica.

A partir de todas estas transformações que o mundo do trabalho vivenciava, uma pergunta ecoava na época: para
onde estará indo a classe trabalhadora? O filme “A classe operária vai ao paraíso” de 1971 com direção de Élio Petri
busca responder a essa pergunta: vai depender da própria classe trabalhadora, do despertar ou não de sua consciência
de classe.

O filme tem como cenário principal a BAN, uma fábrica que produz peças para motores. Ela utiliza o sistema de
metas de produção, sendo que o desenvolvimento tecnológico que leva ao aumento da produtividade do trabalho não
tem sido acompanhado do acréscimo salarial. Como diz o discurso de um líder sindical: “quando faziam 1000 peças
por dia ganhavam 300 liras de salário, agora produzem 3000 peças e o salário é o mesmo”. A postura que os
operários devem manter no trabalho é sempre em pé, nunca sentados, o que faz com que um operário veterano com
problemas de próstata tenha incontinência urinária. Ao mesmo tempo, numa época em que a moda era os homens
usarem cabelos compridos, estes são forçados a usarem toucas como as da força de trabalho feminina, o que seria
caracterizado hoje como uma atitude típica de assédio moral.

Os operários iniciam sua jornada de trabalho ao som de um alto-falante que busca incentivá-los ao bom desempenho
no trabalho, alertando para que cuidem da manutenção da máquina, e mais do que isso, no mais puro exemplo de
relação fetichista entre homem e máquina, pede aos trabalhadores que tratem esta com amor o que não é seguido ao
menos pelos mais politizados, que chegam a cuspir na máquina em atitude de desabafo.

Nem todos os trabalhadores, no entanto, tem esta atitude de revolta. Lulu Massa (Gian Maria Volonté) é o que no
Brasil comumente se chamaria de “operário-padrão” 6, um operário braçal que devido a sua alta produtividade passa a
ser o parâmetro para todos os demais trabalhadores da fábrica BAN. É Lulu que com sua grande destreza e
impressionante poder de concentração dita o ritmo de trabalho para os demais operários, estabelecendo as metas a
serem atingidas pelos colegas.

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