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Uma história da Providência Divina

Dr. John Billings - Abril de 2000

Ao dar uma longa olhada para o futuro é conveniente começar revendo o passado. É isso que me proponho
a fazer, para avançar rapidamente no desenvolvimento, validação e promoção do Método de Ovulação
Billings®. Muitos eventos nesta história são bem conhecidos de vocês, mas nenhum de vocês conhecerá
todos. De qualquer forma, uma visão em ordem cronológica, proporciona uma perspectiva particular, parte
da qual é um confronto com o trabalho da Providência, que é a essência, o destilado que existe para ser
reconhecido e reconhecido com a mais profunda gratidão de que o coração humano é capaz.

No seu excelente livro, “The Art of Praying”, Romano Guardini, dedica um capítulo à Divina Providência que
nos ele diz, “Abraça toda existência e, ao mesmo tempo diz respeito a cada pessoa individualmente. De
acordo com isso tudo o que acontece no mundo é dirigido pelo amor, sabedoria e poder do Pai, para o
benefício dos fiéis”. Quando um indivíduo deseja que o Reino de Deus e a santa justiça venham ao mundo,
a partir desse entendimento, Cristo nos diz: “O curso dos eventos se encaixará em torno dos fiéis” O curso
dos eventos não é predeterminado, mas é “cheio de potencialidades e pronto a submeter à vontade que é
capaz de governá-la”.

A Providência de Deus trabalha com as decisões dos indivíduos nas situações variáveis em que eles se
encontram. Deus exige algo de nós que pertence ao Seu Reino e governa o destino humano, para que o
coração humano que compartilha com Ele o cuidado sagrado de Seu Reino lembre-se de que como
escreveu São Paulo “Tudo acontece para o bem daqueles que amam a Deus” (Rom 8,28). Observava-se,
de tempos em tempos, situações em que intervenção pessoal pode promover o bem e se opor ao mal, e
torna-se então uma questão de saber se existe um pedido de Deus pessoal para si mesmo. Neste ponto é
importante analisar a motivação da decisão que pode ser tomada, a graça de ver o que é à vontade de
Deus e não tomar uma decisão baseada em qualquer outra consideração. Guardini diz: “É uma graça
infinita ver ‘o que ainda não é’”, isto é, o resultado que pode surgir por nossa própria ação. Às vezes, é
apenas em retrospecto que essa graça nos guia através de nossa própria cegueira.

Essa história em particular realmente começou na faculdade de medicina da Universidade de Melbourne. Eu


estava no terceiro e Lyn no segundo ano do curso de medicina e, naquela época, os dois anos foram
agrupados na sala de dissecação do departamento de anatomia. Um dia aconteceu que, olhando através da
sala de dissecação por uma fileira de cadáveres, eu vi essa linda garota trabalhando e imediatamente me
apaixonei por ela. Foi o mais próximo que se pode chegar para o que talvez seja uma irrealidade no nível
humano, “amor à primeira vista”. Lyn respondeu posteriormente à minha sugestão de que eu sucumbira ao
amor à primeira vista, dizendo que, de onde eu estava olhando para ela, ela realmente não tinha muita
concorrência. No entanto, como Shakespeare nos disse: “O amor não olha com os olhos, mas com a
mente”.

Depois de projetar uma apresentação a ela, rapidamente nos tornamos bons amigos e essa amizade
continuou a se aprofundar nos anos seguintes do curso de medicina. Todos os estudantes universitários da
época eram mais dependentes financeiramente dos pais do que são hoje; decidimos que nos casaríamos
depois da formatura. Não me ocorreu naquela época que nós dois médicos provássemos ser tão
importantes.

Os cursos de medicinas foram encurtados em alguns meses durante a guerra, e nos formamos em agosto,
em vez de novembro do último ano. Lyn em 1942 e eu em 1941. O encurtamento do curso foi para
aumentar o número de médicos para as forças armadas. Seis meses depois da formatura de Lyn, nos
casamos em 1943. Eu já havia me alistado nas Forças de Infantaria da Austrália na expectativa de concluir
meu treinamento em residência hospitalar dentro de poucos meses e em agosto eu fui enviado para Papua,
Nova Guiné como membro do corpo médico e fiquei lá até outubro de 1944, sendo finalmente dispensado
do exército em 1946. Fomos então para a Inglaterra para estudos de pós-graduação, retornando no início
de 1948 para ingressar na prática de consultas médicas, Lyn em Pediatria e eu em Neurologia.

Nós sempre quisemos ter uma família numerosa, e gradualmente o tamanho da nossa família aumentou.
Lyn descobriu que ela não poderia continuar na clínica pediátrica particular, em face da demanda de
cuidados pediátricos domésticos, então reduziu o seu envolvimento médico a meio dia por semana em
ambiente hospitalar, para continuar exercendo a pediatria. Foi apenas depois que todas as nossas crianças
atingiram a idade escolar que ela aumentou sua atuação para meio período toda semana e realizou estudos
adicionais em um cargo na Universidade, ensinando histologia e embriologia no Departamento de Anatomia
da Universidade de Melbourne.
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Foi em 1953 que fui atraído com relutância a trabalhar uma noite por semana como consultor médico do
Frei Maurice Catarinich, que havia sido nomeado pelo Arcebispo Daniel Mannix como conselheiro de casais
da Arquidiocese de Melbourne. Depois de recusar o convite, eu havia concordado mais tarde em realizar
esse trabalho por três meses, até que um novo médico pudesse assumir o cargo. Esses três meses hoje se
transformaram em 47 anos.

Eu estava lá especialmente para ajudar casais que tinham a necessidade de evitar a gravidez, e tudo o que
tínhamos para oferecer era o Método do Ritmo (Tabelinha). O trabalho também envolveu a participação nas
Conferências Caná de fim de semana para pessoas casadas e uma oportunidade foi aproveitada nessas
Conferências para convidar alguns casais que não tivessem conseguido obter sucesso com o Método do
Ritmo para uma entrevista. E logo se tornou óbvio que muitos deles falharam em retardar uma gravidez
porque o método lhes fora ensinado de maneira incorreta, uma lição que nunca foi esquecida. O segundo
impacto dessa experiência foi à extraordinária bondade de muitos desses casais. Muitos deles me contavam
que estavam enfrentando problemas realmente sérios, especialmente problemas médicos. Eles diziam
então: “Meu médico nos disse que nós devemos usar anticoncepcionais, ou que um de nós deve ser
esterilizado, mas nós somos católicos e sabemos que isso é errado de modo que nós não seguiremos esse
conselho. Agora, o senhor pode nos ajudar?”. Como eu estava sentado com eles, ouvindo a história de suas
dificuldades, eu frequentemente refletia por qual motivo eu não tivera essas dificuldades. Então tudo o que
eu podia fazer era responder a questão dizendo: “Eu vou tentar”.

Havia um certo número desses casais, a minoria, os quais eu reencontrei alguns meses depois e soube que
eles decidiram não mais usar o método da tabelinha e passaram a usar anticoncepcional. O que aconteceu
foi que naqueles poucos meses de uso de anticoncepcionais, um ou ambos os cônjuges tinham sido infiéis,
de modo que o casamento estava agora numa crise muito séria que na entrevista anterior. Isso foi o
princípio do entendimento do fato de que há uma diferença muito significativa no efeito sobre o casamento
entre o planejamento natural da família e as técnicas que afastam ou rejeitam o dom da fertilidade.

Assim foi que muitos anos antes do Papa Paulo VI publicar a sua encíclica, “Humanae Vitae” nós já
tínhamos plena certeza de que a contracepção nunca seria aprovada pela Igreja Católica. Nós também
decidimos que se o Papa aprovasse o uso da contracepção, nós aceitaríamos sua decisão, e nos
dedicaríamos a orar para que pudéssemos entender por que ele decidira daquela forma.

Nós tivemos sorte, pois vivendo na Austrália nós estávamos de certa forma protegidos da oposição aos
ensinamentos da Igreja Católica, que logo se tornaram evidentes pelo mundo. Mais do que isso, eu não
demorou muito tempo para descobrir que o gentil Frei Catarinich provou ser feito de aço quando qualquer
ensinamento oficial da Igreja estava sob ataque. Como eu comecei a procurar um método melhor para
regular a natalidade ele costumava dizer: “Você deve continuar esse trabalho, Deus não deixará essa gente
sem ajuda”.

Por muitos anos nós usamos o método da temperatura juntamente com o método da tabelinha, mas
novamente descobri que ele também tinha alguns pontos fracos inevitáveis, e mesmo em algumas
circunstâncias comuns, como amamentação, ele não oferecia nenhuma informação adicional, às vezes por
vários meses. Assim foi então que eu comecei a procurar a literatura médica na biblioteca da Universidade.
Quanto mais eu lia mais eu fiquei convencido de que a atividade da cérvix durante o ciclo era a mais
constante e positiva indicação de fertilidade e do momento da ovulação, e que ali nós deveríamos encontrar
a solução.

Sabendo então que a cérvix produz uma secreção especial na época da ovulação eu comecei a questionar
as mulheres para obter ajuda. Eu fiquei surpreso ao descobrir que todas elas respondiam positivamente
quando eu as questionava acerca da ocorrência de um fluxo no ciclo separado da menstruação. Quando
elas anotavam os dias desse fluxo, a menstruação vinha cerca de duas semanas depois. As pesquisas de
Ogino e Knnaus tinham demonstrado que a ovulação ocorre cerca de duas semanas antes da menstruação
seguinte. Então agora eu sabia que, guiado pela Providência Divina, eu tropecei num elemento da Criação
de Deus, que é de grande significado, precisamente porque as mulheres são capazes de percebê-lo. Eu me
lembro muito bem do dia em que eu informei ao Frei Catarinich que eu havia coletado nos textos médicos
referências chaves que remontam mais de cem anos e que apesar de variações individuais, havia uma
consistência definida nas descrições das observações dadas pelas mulheres. E disse ainda “As mulheres
sabem tudo sobre isso, então nos estamos com” alguma coisa “a qual nós devemos estudar mais de perto”.

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Frei Catarinich foi de tremenda ajuda nos vários anos que se seguiram, conversando com as mulheres,
ajudando a desenhar cartazes e passando tempo comigo para discutir todas as informações que as
mulheres nos davam tão generosamente. Sendo de família de médicos, seu pai, dois irmãos e uma irmã,
todos médicos qualificados, ele crescera com uma atitude científica, de modo que ele estava pronto para
procurar a verdade. Ele havia me pedido ajuda no primeiro momento porque sabia que eu era feliz no
casamento e que tinha filhos felizes; ele não queria como associado nesse trabalho um médico que tivesse
problemas matrimoniais. Tampouco ele quis um ginecologista porque muitas das mulheres haviam tido
sérios problemas médicos, frequentemente associados à gravidez e parto, e ele suspeitou que um problema
ético poderia surgir se ele tivesse um outro ginecologista envolvido na discussão da história médica dessas
mulheres.

Em 1962 eu tinha começado a escrever um livro sobre o progresso do nosso trabalho e foi então que James
Brown veio para Melbourne. Um brilhante químico endócrino, ele estivera trabalhando numa unidade de
pesquisa em Edimburgo e tinha recebido a tarefa de desenvolver um método para medir o nível de
estrógeno no sangue e na urina e foi muito bem-sucedido. Consequentemente o método Brown passou a
ser usado no mundo inteiro. Foi justamente nessa época que os anticoncepcionais estavam sendo
comercializados e ele foi em seguida direcionado na unidade de pesquisa para estudar os padrões
hormonais das mulheres que usavam anticoncepcionais. Ele foi capaz de demonstrar que os níveis de todos
os hormônios envolvidos no mecanismo da ovulação, provenientes da hipófise ou do ovário, eram
suprimidos pela medicação, e ele estava seriamente perturbado pelo fato de ter percebido uma grande
ruptura de um importante mecanismo biológico, e imediatamente formou a opinião de que isso certamente
seria causa de danos.

Pouco tempo depois ele viu um anúncio de emprego para uma pessoa com qualificações similares às suas
para trabalhar no “Royal Women’s Hospital”, na Universidade de Melbourne; ele se candidatou à vaga e foi
aprovado. Logo após de sua chegada à Melbourne eu o visitei, disse-lhe o que nós havíamos feito e pedi
que submetesse as nossas conclusões à avaliação que as suas técnicas de laboratório poderiam
proporcionar. Eu me lembro que ele pareceu um tanto quanto estupefato quando eu coloquei essas
informações ante ele, e ele me disse que desde que começara a estudar as mulheres usuárias de
anticoncepcionais sempre tivera em mente que um dia as suas técnicas de laboratório poderiam ser úteis
para desenvolver e validar um método natural de regulação da fertilidade. Ele sempre manteve essa
valiosíssima colaboração conosco, e fez cerca de 750.000 medições dos níveis dos hormônios ovarianos
nos ciclos menstruais e em outras situações onde a atividade ovariana pode estar envolvida. Como
resultado desse brilhante trabalho, ele recebeu a Cadeira Cativa, isto é, uma posição pessoal como
professor na Universidade de Melbourne. Ele também recebeu o prestigioso diploma de Doutor em Ciência.
O Professor Brown é um verdadeiro cientista, e eu estou certo de que ele procura pela verdade e a aceita,
ele jamais deixaria de aceitar a verdade, mesmo que esta contradissesse uma teoria que ele tivesse
formulado antes de concluir os estudos necessários para avaliá-la.

Na manhã em que as notícias sobre a “Humanae Vitae” foram publicadas, as manchetes nos jornais
destacavam a decisão do Papa Paulo VI de que os anticoncepcionais eram moralmente inaceitáveis.
Naquela manhã o Professor Brown veio à nossa casa feliz e entusiasmado. Ele nos lembrou de que há
apenas uma verdade, e ele viu que sua percepção dos anticoncepcionais como errados de acordo com os
princípios científicos tinha sido confirmada pelo reconhecimento de sua imoralidade pelo Papa.

Frei Catarinich aconselhou que a publicação de um livro deveria ser adiada para incluir alguns dos estudos
do Professor Brown e isso foi decidido assim. Durante 1963 eu continuei escrevendo o livro e foi nessa
época que Lyn se familiarizou com a natureza desse trabalho e o progresso alcançado, fazendo a revisão
do livro antes de sua publicação em 1964. Isso marcou um novo salto porque logo ficou óbvio aos homens
que o ensino dos detalhes íntimos dos padrões de muco é comunicado melhor numa conversa de mulher
para mulher. Os homens cederam espaço, convidando Lyn para treinar tantas mulheres quantas fossem
possíveis para conduzir o trabalho de ensino. Uma outra importante contribuição dada por Lyn foi o estudo
especial dos ciclos longos nos quais a ovulação era adiada por semanas ou meses. Ela trabalhou nos
detalhes da natureza da secreção a qual poderia indicar infertilidade durante o período antes da ovulação
de modo que não eram apenas os dias secos que estavam disponíveis para o coito nesse período, sem
temer a gravidez. A natureza essencial de tal secreção, como vocês todos sabem, e que ela não muda de
um dia para o outro nos quais ela é observada.

Entre as muitas bem-aventuranças que tivemos o privilégio de receber, e muito vezes inadequadamente
descritas como coincidências, está a história de como Kevin Hume decidiu trabalhar conosco. Aconteceu
nos anos 60, na clínica de Medicina de Família em Sidney, Kevin teve um paciente rico, que sofria de um

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distúrbio neurológico angustiante, para o qual não havia cura completa disponível. Esse homem decidiu
doar dinheiro para a Pós Graduação da Fundação de Medicina da Universidade de Sidney e a Federação
Australiana de Pós Graduação em Medicina para estabelecer um grupo de estudos na Austrália sobre
doenças orgânicas do sistema nervoso e também promover relações mais próximas com os Estados Unidos
no campo da medicina. Foi estabelecido um comitê especial para o qual Kevin foi designado a pedido do
doador, e para o qual eu fui nomeado pelo “Royal Australian College of Physicians”. O comitê tinha a
responsabilidade de recomendar pessoas para fazer intercâmbio cultural com os Estados Unidos por
períodos de três meses, para trocar conhecimentos mais recentes sobre os avanços no campo da
neurologia. Eu encontrei Kevin nessas reuniões e uma forte amizade se desenvolveu, particularmente,
porque logo ficou claro que nós compartilhávamos uma devoção à Igreja Católica e ao ensino da sua
Doutrina. Assim depois que o meu livro foi publicado, eu dei um exemplar, e depois da leitura ele decidiu
estabelecer uma relação de trabalho na promoção desse novo método de planejamento natural da família,
ao qual eu dei o nome de Método de Ovulação.

Exceto por algumas palestras que eu dei na Índia em 1965, quando estava numa viagem de estudos de
pós-graduação em neurologia, a primeira vez que o método foi ensinado no exterior ocorreu quando Lyn e
eu fomos convidados para ir à Nova Zelândia em 1968. Depois de aceitarmos o convite para falar na
Conferência da Associação Médica Católica, a “Humanae Vitae” foi publicada e provocou uma considerável
reação emocional ao documento antes de nós chegarmos. Os médicos envolvidos em práticas gerais de
medicina estavam temerosos de que sua vocação para cuidar do doente não poderia sobreviver se não
continuassem a prescrever os anticoncepcionais; não demorou muito para que o contrário fosse provado e
suas práticas permaneceram.

Em 1969 nós fizemos juntos, uma viagem de trabalho para a Hong Kong, Singapura e Malásia. Em Hong
Kong nós tivemos a felicidade de encontrar um padre de vocação tardia, Frei Jake Kelly, que havia
estudado no Colégio Beda em Roma, após sua dispensa da Marinha Americana, onde ele fora um oficial de
alta patente, envolvido em assuntos financeiros e jurídicos. Eu me lembro que ele nos disse que ele era
capaz de assinar cheques de um milhão de dólares sem precisar pedir autorização. Ele era de um ótimo
caráter e nos disse que ele estaria brevemente voltando a trabalhar em Los Angeles nos Estados Unidos,
nos pedindo que o informasse acerca de qualquer visita que pudéssemos fazer aos Estados Unidos, pois
ele nos colocaria em contato com uma pessoa que poderia ser capaz de promover o nosso trabalho lá.

Foi no ano seguinte que nós fomos trabalhar em todos os países da América Central e a viagem
necessitava uma passagem por Los Angeles. Nós conseguimos, entretanto, encontrar Frei Kelly, ele nos
apresentou outro padre maravilhoso, Monsenhor Robert Deegan que era o pároco da Igreja dos Mártires
Americanos em Los Angeles e também Diretor do Departamento de Saúde e Hospitais. Los Angeles é uma
Diocese Católica muito grande, perdendo apenas para Chicago nos Estados Unidos. Monsenhor Deegan
dirigiu uma série de Institutos Internacionais do Método de Ovulação nos próximos anos, atraindo muitos
visitantes, não apenas dos Estados Unidos como também da América Latina e Europa. Muitos de vocês se
lembrarão dele por sua contribuição para a nossa conferência “Humanae Vitae” em Melbourne em 1978.

Quando nós fomos para a América Central, um dos nossos primeiros compromissos foi uma grande reunião
pública na prefeitura municipal da Cidade da Guatemala, em Guatemala. Ao final da nossa apresentação
nós recebemos uma considerável quantidade de críticas hostis, particularmente de vários médicos
presentes, cujos comentários revelaram uma quase total ignorância acerca do que nós lhes disséramos.
Entretanto suas perguntas não eram particularmente difíceis, mas eles não queriam realmente mudar suas
atitudes. Depois que a longa sessão havia terminado, um médico de meia idade desceu os degraus do setor
elevado onde estava o público e falou conosco. Ele disse “Apenas continue o seu trabalho e sempre ensine
sobre a ciência”. Lyn ainda tende a acreditar que ele era realmente São Miguel disfarçado.

Nós soubemos do trabalho de outro grande cientista, Professor Erik Odeblad, do Departamento de Biofísica
Médica da Universidade de Umea, na Suécia, no início dos anos 70 e ele também foi orientado a conhecer
o Método de Ovulação de uma maneira surpreendente. Ele iniciara seus estudos universitários em
Estocolmo, no Departamento de Ciências, tendo física como seu principal assunto. Depois de se formar em
Ciências ele assumiu estudos na área médica e continuou seu curso na escola de medicina se
especializando em obstetrícia e ginecologia, depois do que ele foi nomeado para a Universidade de
Estocolmo. Entretanto ele foi informado que a aceitação do cargo significaria que ele seria chamado para
fazer a sua cota de abortos no Hospital Universitário, o que ele se recusou a fazer. Então ficou claro que ele
não poderia esperar promoções dentro do Departamento da Universidade. Ele renunciou ao cargo e decidiu
assumir estudos avançados em Física. Felizmente e providencialmente, obteve uma bolsa de pesquisas no

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Departamento dos cientistas que logo após a chegada do Professor Odeblad, receberam o Prêmio Nobel
pelo desenvolvimento do que hoje nós chamamos de Ressonância Nuclear Magnética.

Depois de passar alguns anos nos Estados Unidos ele retornou à Suécia e então, decidiu combinar os seus
conhecimentos especializados em ambas as áreas, Ginecologia e Física concentrando seus estudos nas
secreções produzidas pela cérvix durante o ciclo menstrual, usando instrumentos físicos muito modernos
sobre os quais ele aprendera muito. A princípio seu trabalho foi largamente ignorado pelos seus colegas da
Universidade, mas então aconteceu que ele foi convidado a ir a Sidney dar uma palestra para um grupo de
veterinários.

Nossa atenção foi direcionada para esse trabalho durante uma conferência da qual nós participamos na
Colômbia, América do Sul, em 1976, e recebemos um livro, produzido pela Organização Mundial da Saúde
contendo um artigo de Erik Odeblad sobre dois tipos de muco cervical, o muco estrogênico (E) e o muco
gestogênico (G). Nós conseguimos outros exemplares desse livro, através da Organização Mundial da
Saúde e enviamos um a Kevin Hume.

Passados poucos anos após o nosso primeiro conhecimento acerca do trabalho de Erik Odeblad, Kevin
Hume viu em Sidney a notícia que ele estava vindo para lá, e nos telefonou para passar a informação. Nós
ajudamos fortemente o plano de Kevin de se encontrar com o Professor Odeblad e apresentar a ele alguns
dos nossos materiais de pesquisa publicados sobre o método da ovulação. Com sua cautela exemplar,
novamente a manifestação do verdadeiro cientista, Professor Odeblad estudou esses materiais e as
informações que Kevin Hume dera a ele após a palestra, correlacionando-as com as descobertas que ele
fizera em vários anos de pesquisa na Suécia. Nós não ouvimos nada dele, até aproximadamente dois anos
após sua visita a Sidney quando ele anunciou que havia uma total correlação entre o seu trabalho e o
trabalho que havia sido feito na Austrália. Ele proclamou então publicamente, e em muitas outras ocasiões
posteriores que todas as regras do MOB estavam corretas.

Foi então combinado que ele seria convidado a participar num Congresso Internacional de Planejamento
Natural da Família no México, onde sua apresentação recebeu um aplauso extraordinário e lançou sua
excelente pesquisa ao cenário mundial. Se ele não tivesse se recusado a fazer abortos, esta saga jamais
teria existido. Nós sempre lhe dissemos que sem dúvida que ele poderia ter sido um ginecologista muito útil
atuando na Suécia, mas ao invés disso seu trabalho tem beneficiado mulheres do mundo todo.

Mais tarde em 1976, Lyn e eu fomos indicados para o que foi chamado Comitê dos Especialistas da
Organização Mundial da Saúde e participamos de reuniões em Genebra, Suíça. Retornando para casa, de
Genebra para Austrália, após uma reunião, nós fomos primeiro para Roma, e na nossa chegada fomos
informados que o Papa Paulo VI queria nos ver no dia seguinte. Isso significava que nós teríamos uma
audiência privada com o Papa, a única outra pessoa presente seria um Monsenhor Auxiliar, que seria o
intérprete, caso necessário.

O Papa nos disse que ele estava ciente do trabalho que nós havíamos feito e ele queria nos dar os seus
agradecimentos pessoais por isso. Então ele disse ainda “Eu agradeço a vocês também em nome de Nosso
Senhor Jesus Cristo”. Ele nos deu exemplares de suas encíclicas “Humanae Vitae” e “Populorum
Progressio”. Ele também deu a cada um de nós um Rosário, um dos quais nós posteriormente demos de
presente ao Dr. Thomas Hilgers para quem nós ensinamos o método da ovulação no início dos anos 70.
Nós lhe demos o Rosário vários anos atrás, como um tributo pela sua coragem ao estabelecer o Instituto
Paulo VI para o estudo de reprodução humana em Omaha, Nebraska, USA.

O Papa nos exortou a continuar esse trabalho pelo resto de nossas vidas. Nós dissemos a ele que tínhamos
uma família internacional maravilhosa nos ajudando e que nós acreditávamos que todos os membros dessa
família gostariam que nós o agradecêssemos pela sua encíclica “Humanae Vitae”, que foi uma inspiração
para todos nós. Ele então disse: “Eu pensei e rezei muito sobre isso. Eu consultei homens sábios e santos e
agora eu estou em paz”. Foi maravilhoso ouvir aquelas palavras porque ele sofrera muito após a publicação
da encíclica, mas sabia que ele estava certo. Nós também lhe dissemos sobre a ajuda que sempre
recebemos do Frei Maurice Catarinich. Ele nos questionou detalhadamente acerca dele; foi só naquele
momento que ele solicitou a ajuda do intérprete para ter certeza de que ele entendia completamente todos
os detalhes do que nós estávamos dizendo. Nós estávamos conscientes do fato de que ninguém poderia
saber melhor que o Papa quanto bem um bom Padre pode conseguir. Ele nos deu uma medalha, destinada
a comemorar o seu pontificado para levarmos, com seus agradecimentos pessoais, ao Fr. Catarinich.

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Em 1980 nós éramos membros de um pequeno grupo de Leigos Católicos participando do Sínodo dos
Bispos em Roma discutindo “A Papel da Família Cristã no Mundo Moderno”. Nós ficamos lá cerca de um
mês trabalhando com mais de 200 Cardeais, Arcebispos e Bispos de todo o mundo, muito do trabalho, seria
discussões em pequenos grupos de mesma língua, com sessões plenárias adicionais, durante as quais nós
éramos convidados a apresentar detalhes do nosso próprio trabalho. Foi Lyn quem sugeriu que nós
deveríamos nos descrever como o menino com a cesta contendo uns poucos pães e peixes,
complementando que com a ajuda das orações e do encorajamento de todos aqueles prelados quem sabe
quantos podem receber o alimento.

Durante o nosso tempo no Sínodo nós pudemos em uma ocasião ir à Missa matinal celebrada pelo Papa
João Paulo II e tomamos o café da manhã com ele após a celebração. Nós o encontramos muitas outras
vezes em várias conferências, reuniões do Pontifício Conselho para a Família, a Pontifícia Academia de
Ciência, a Pontifícia Academia para a Vida e também nas Conferências de Planejamento Natural da Família
em Roma, organizadas pela Dra. Anna Cappella e suas colegas da Universidade do Sagrado Coração. Ele
sempre nos recebia calorosamente e nos agradecia pelo nosso trabalho, enfatizando a necessidade de
continuarmos com ele tanto tempo quanto fosse possível.

A primeira vez que nós encontramos Madre Teresa de Calcutá foi quando ela veio a Melbourne para o
Congresso Eucarístico nos anos 70. Quando nós tivemos uma Conferência Internacional na Universidade
de Melbourne em 1978 para comemorar o décimo aniversário da “Humanae Vitae” ela foi uma das nossas
conferencistas convidadas. Nós a encontramos novamente no Sínodo dos Bispos e depois disso ela nos
convidou inúmeras vezes para ir a Calcutá para orientar o treinamento das suas Irmãs e Noviças no MOB,
para que em qualquer lugar onde elas estivessem trabalhando posteriormente, entre os mais pobres dos
pobres, elas seriam capazes de ajudá-los a controlar o tamanho de suas famílias e evitar as medidas
prejudiciais usadas em vários programas governamentais.

Nós lembramos bem a primeira visita que fizemos a Calcutá por convite dela. Depois de assistir a Missa da
manhã na capela do convento nos estávamos tomando o café da manhã na pequena sala de recepção,
quando a Madre Teresa veio para nos cumprimentar. Ela disse: “Bem, agora que vocês descobriram esse
conhecimento vocês devem passar o resto de suas vidas levando-o às pessoas que necessitam” Naquela
época Lyn e eu estávamos muito atarefados em nossa vida profissional na Austrália, tínhamos um
empréstimo bancário a pagar e ainda tínhamos que cuidar da nossa família, temporariamente assistida
pelos esforços combinados das duas avós. Eu disse a ela “Madre Teresa, eu não sei como eu consegui
chegar até aqui.” Ela não deu importância ao meu comentário e com um movimento de sua mão disse “Este
é um segredo que vai permanecer com Deus” - a resposta simples e direta de uma pessoa que nós temos
dito, será em breve Canonizada. Alguns sempre se lembram da ajuda de tantos Bispos e Padres por todo o
mundo e especialmente a generosa devoção de centenas e centenas de instrutores do MOB, sem cuja
ajuda nós dificilmente teríamos sobrevivido. Nós também expressamos publicamente nossa gratidão aos
mais de trinta anos de amizade, solidariedade e assistência tão generosamente oferecida a nós pelo Dr.
Kevin Hume e Dr. Joseph Santamaría.

Mensagens de encorajamento nos foram dadas frequentemente no curso das nossas atividades de ensino.
Alguns se lembram de uma senhora africana que uma noite apareceu da escuridão no final da palestra para
dizer: “Este método é Amor”, e então ela foi embora. Depois de nossas duas curtas apresentações para
introduzir o método para esse público africano, as mulheres se conscientizaram da verdade que para ajudar
as pessoas casadas a viver como Deus planejou pela sua Criação, nós estávamos lutando para promover
um “reino de amor”, isto é o “reino do coração” que é de Cristo.

Esta é a nossa tocha, a Luz de Cristo carregando uma mensagem de Fé, Verdade e Amor, cuja
comunicação é um privilégio que continuaremos a compartilhar enquanto nós lutamos e oramos com todas
as nossas forças.

Um casal na América do Norte veio do fundo do enorme auditório na universidade onde havíamos falado,
para o homem nos dizer: “Este método salvou nosso casamento e me trouxe de volta à fé”, e sua esposa
disse também: “Isso é verdade e não é fácil para ele dizer isso”.

Muitos de vocês já ouviram a história de Teresa, uma mulher maravilhosa vivendo na pobreza em uma das
ilhas do pacífico, lutando com os problemas de um marido alcoólatra e as necessidades dos seus doze
filhos. Um dia uma freira missionária ensinou-lhe o MOB. Teresa começou então a se esconder na vila
todas as noites durante o período fértil, depois de colocar as crianças mais novas para dormir, antes de seu
marido chegar de volta em casa, bêbado como sempre; ela retornava cada manhã para dizer-lhe o que ela

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havia feito e porque ela o fizera. Quando começavam os dias de infertilidade ela generosamente
demonstrava o seu amor por ele de todas as formas possíveis. Nós acompanhamos aquela família por
muitos anos. O marido deixou de beber e conseguiu um nível muito mais alto de emprego, de modo que a
paz e a felicidade retornaram à família.

Havia um homem no Quênia que disse “Eu costumava bater na minha esposa, mas quando nós
aprendemos este método eu vim a compreender que ela é uma criatura maravilhosa e agora eu a amo. E
algo maravilhoso está agora acontecendo no meu país”.

A Ir. Dra. Leonie McSweeney, na Nigéria está nos dizendo como seu programa de treinamento ativo,
fortemente implementado por repetidos cursos no circuito nacional de televisão fez com que um grande
número de casais se tornassem usuários do método. A influência resultante nas relações conjugais é
demonstrada pela proteção desse grupo de casais contra o alto índice de infecção com o vírus da AIDS,
muito frequente na comunidade como um todo.

A história na China ainda não se desdobrou na medida em que continuamos trabalhando, mas está claro
que o método é calorosamente recebido pelos casais chineses, que ele está protegendo as mulheres dos
efeitos nocivos dos métodos tecnológicos de controle da natalidade e que tem sido capaz de evitar muitos
abortos.

Shakespeare escreveu:

“Os olhos do Poeta...


Olha do céu para a terra, da terra para o céu;
E, como a imaginação se desenvolve
A forma de coisas desconhecidas
Que, se eles pudessem apenas aprender alguma alegria,
Eles compreenderiam um pouco de quem traz essa alegria.”

Dentro dos limites do nosso entendimento humano nós temos visto lampejos do céu para a terra e da terra
para o céu, os quais são certamente manifestações do amor de Deus e a alegre resposta do amor humano.

Nosso Santo Padre, o Papa João Paulo II nos disse que o marido encontra em sua esposa um elemento da
natureza de Deus que ele mesmo não possui.

Meu coração transborda de gratidão quando eu reflito acerca dos privilégios que Lyn e eu temos desfrutado.
Minha mente volta no tempo, agora 62 anos atrás, quando eu vi uma linda e jovem mulher sorrindo para
seus amigos na sala de dissecação da Escola de Anatomia na Universidade de Melbourne e pensei
imediatamente: “Eu adoraria passar a minha vida com aquela mulher se ela pudesse vir a me amar”. Agora
juntos nós chegamos ao outono de nossas vidas. Como Shakespeare escreveu: “Meu estilo de vida é cair
no “sere”, a folha amarela”. Nós podemos dizer um ao outro as palavras de Robert Browning (Rabino
adolescente Ezra, i)

“Envelheça comigo!
O melhor ainda está por vir,
O fim da vida, para o qual o início é feito:
Nosso tempo está em suas mãos
Quem disse ‘O todo eu planejei,
Juventude mostrou apenas a metade’ Confie em Deus: veja tudo sem temer”.

E eu posso repetir as palavras do poema de Jhon Donne “O outonal”

“Nem a beleza da primavera nem a beleza do verão tem tal graça,


Como eu tenho visto numa outonal face”.

Muitos dos australianos aqui esta noite estão familiarizados com o trabalho do grande poeta australiano
James McAuley o comunista que se tornou católico e mais tarde escreveu vários lindos hinos os quais são
frequentemente cantados durante as Missas. Ele se tornou um grande amigo e admirador de Bob
Santamaría, quem sabe o maior australiano que nós jamais conhecemos, que devotou sua vida a lutar
“contra a maré”, como ele mesmo colocou, trabalhando por Deus e pela Igreja, pela vida e pelo amor e
contra o comunismo e outras ideologias ateias. McAuley escreveu e dedicou a ele um poema, do qual as

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últimas poucas linhas eu devo reproduzir para vocês, para lembrá-los da verdade a qual McAuley
reconheceu, que quando nós assumimos uma tarefa que é boa ela vai alcançar o bem na Divina
Providência, embora talvez não da maneira que esperávamos, mas de um modo melhor:

“O bem que nós escolhemos e nos propomos a fazer


Prospera se Ele deseja assim,
Se não, então falhamos.
No entanto, o fracasso não é nossa desgraça,
Por caminhos que não podemos saber
Ele guarda os méritos em Suas mãos,
E de repente, como ninguém planejara,
Vê o Reino crescer”.

Bibliografia
(1) “The Art of Praying by Romano Guardini”, Sophia Institute Press, Manchester, New Hampshire, USA
Shakespeare W., A Midsummer-Night’s Dream Act 1, Sc.

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