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Em meio a surto de
coronavírus, orientais no
Brasil relatam preconceito e
desconforto
Em SP, condomínio pede que moradores que voltaram da China
fiquem em casa por duas semanas

19

3.fev.2020 às 8h00 Matheus Moreira receba notícias da folha

Atualizado: 5.fev.2020 às 15h32
Marie Okabayashi de Castro Lemos, 23, é estudante de direito
SÃO PAULO Digite seu e-mail
EDIÇÃO IMPRESSA da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e descendente de
japoneses. Na linha 1 do metrô, no Rio de Janeiro, ela foi xingada de relacionadas
Ouvir o texto “chinesa porca” por uma mulher. 
Dez dias após início da
A situação mostra o preconceito e o desconforto que já começam a ser construção, hospital
chinês para pacientes
vivenciados pela comunidade oriental no Brasil conforme cresce no de coronavírus fica
mundo o surto do novo coronavírus chinês, que já causou, até segunda pronto
Sua
(3), 426 mortes e mais de 17assinatura vale muito.
mil infecções. ENTENDA

Brasileiros no epicentro do coronavírus na

“Ela falou que eu ficava espalhando doenças para todos e me chamou China retornarão ao Brasil, diz governo
de nojenta. Teve um momento em que eu já estava indo para a escada
rolante e ela ficou me acompanhando pela janela do metrô e me Brasileiros em Wuhan gravam apelo a
mostrando o dedo do meio, aparentemente berrando várias coisas. Ela Bolsonaro por retirada da China
estava em total estado de fúria e descontrole apenas com a minha
presença”, disse. veja também
A estudante conseguiu filmar algumas das ofensas com o celular. No
Twitter, Lemos conta que, antes de começar a gravar, ouviu a mulher
dizer coisas como “quando eu vejo um chinês eu atravesso a rua”, “não
compraria uma coca fechada desse povo, porque eles contaminam
tudo”, “os coreanos, tailandeses e esse resto também são um horror, CALCULADORA
invadem nosso país, roubam os empregos do nosso povo e espalham Ferramenta ajuda a avaliar a sua saúde e
doenças”.  aponta como melhorar

21 / 28 Novo coronavírus saiu da China e se espalhou pelo mundo

HIV

Pílula para prevenção de HIV não precisa

ser usada diariamente, afirma OMS

Pessoas usam máscara em Pequim após o alerta sobre um novo vírus infectar centenas de
pessoas na Ásia Nicolas Asfouri - 22.jan.2020/AFP

Em São Paulo, a professora de mandariam Si Liao, 32, que vive no

Brasil desde 2011, queria comprar máscaras descartáveis para guardar
em caso de necessidade, mas não teve coragem de ir à farmácia. Ela
teme a reação das pessoas devido ao surto do novo coronavírus. 

“Li que nos Estados Unidos as máscaras estão acabando e quis comprar
uma para mim. Mas tenho medo de entrar na farmácia e, por ser
chinesa, as pessoas acharem que eu tenho o coronavírus”, afirma.

Na capital paulista, as farmácias já estão sem estoque de máscaras. A

solução foi comprar uma caixa pela internet. 

Segundo ela, por enquanto a orientação nos grupos de chineses que

vivem em São Paulo é de não usar máscaras para não assustar as
pessoas na rua.

Aqueles que voltam agora de uma temporada no país de origem estão

seguindo as orientações de ficarem em casa por duas semanas, mesmo
sem apresentar sintomas. “Eu também fiquei com um pouco de medo,
mas todo mundo está colaborando”, diz.

A professora, que tem um canal no YouTube voltado para brasileiros, já

publicou quatro vídeos com informações sobre o coronavírus. Ela
estudou em Wuhan, epicentro do surto da doença, e diz que está
preocupada com os amigos e parentes que vivem na região.

“As pessoas estão tendo que ficar dentro de casa, saem só para
comprar comida. Eles disseram que a situação está grave, mas com eles
por enquanto está tudo bem.”

Sisi, como é conhecida, disse ainda que a comunidade chinesa paulista

está se organizando para comprar máscaras e enviar como doação para
a China, mas há barreiras. “O preço das máscaras aumentou e em
várias cidades da China não está tem mais frete internacional. Estamos
vendo como podemos fazer.”

Na centro da capital paulista, o condomínio Meridian divulgou na

última semana um comunicado interno pedindo que os moradores que
voltaram recentemente da China "procurem evitar contato com outras
pessoas durante duas semanas".

A medida foi tomada antes mesmo de a Embaixada da China no Brasil

recomendar que cidadãos chineses que viajaram ao país fiquem em
suas casas durante esse período, para impedir uma possível
disseminação do coronavírus.

Casos confirmados
por país

Casos
confirmados
da infecção
De 1 a 5
De 6 a 20
De 21 a 100
De 101 a 3 mil
Acima de 3 mil
Onde ocorreram as mortes
39.761 China continental 2.835
pessoas se recuperam da doença
Irã 43
79.251 China continental; 3.150 Coreia do Sul; 1.128 Itália;
705 Cruzeiro Diamond Princess; 593 Irã; 241 Japão; 102 Singapura; Itália 29
100 França; 94 Hong Kong*; 79 Alemanha; 68 EUA; 45 Espanha; Coreia do Sul 16
45 Kuwait; 42 Tailândia; 41 Bahrein; 39 Taiwan; 25 Austrália;
25 Malásia; 23 Reino Unido; 21 Emirados Árabes; 18 Suiça; 16 Canadá; Cruzeiro Diamond Princess 6
16 Vietnã; 13 Iraque; 12 Suécia; 10 Macau*; 9 Áustria; 7 Israel;
7 Noruega; 6 Croácia; 6 Holanda; 6 Omã; 4 Grécia; 4 Líbano; 4 México; Japão 5
4 Paquistão; 3 Dinamarca; 3 Filipinas; 3 Finlândia; 3 Índia; 3 Romênia; França 2
2 Brasil; 2 Rússia; 1 Afeganistão; 1 Argélia; 1 Azerbaijão; 1 Belarus;
1 Bélgica; 1 Camboja; 1 Egito; 1 Estônia; 1 Geórgia; 1 Irlanda do Norte; Hong Kong 2
1 Islândia; 1 Lituania; 1 Luxemburgo; 1 Macedônia do Norte; 1 Mônaco;
1 Nepal; 1 Nigéria; 1 Nova Zelândia; 1 Qatar; 1 San Marino; 1 Sri Lanka Estados Unidos 1
Filipinas 1
Taiwan 1
*Regiões administrativas especiais da China
Atualizado às 18h de sábado (29)

O comunicado foi escrito em português e em mandarim. "Esse foi um

caso à parte, normalmente os comunicados são feitos em português",
explica Gisele Guimarães Pires, gerente responsável pelo Meridian. 

Pires disse que o síndico solicitou o informativo à administradora Loyd

e insistiu na sua divulgação mesmo após ressalvas da empresa de que o
texto elaborado por ele pudesse ser mal interpretado. 

"O síndico fez o pedido à administração predial devido à alta

quantidade de chineses no prédio. Nós alertamos que poderia haver
algum tipo de preconceito, mas ele insistiu. O comunicado é mais para
alertar, tentamos não dizer que é por culpa deles [chineses]. Eu tinha
feito um texto mais genérico, falando da doença, com informações de
outros jornais, mas ele mandou esse texto e pediu para usar o que
mandou”, afirma. 

A Folha tentou contato com o síndico do condomínio Meridian, mas

não obteve resposta até a publicação desta reportagem. 

Enquanto o mundo assiste ao aumento de relatos de discriminação

racial contra asiáticos e descendentes de orientais, no Brasil
comentários provocaram a reação de usuários que lutam contra o
preconceito contra orientais e seus descendentes.

O youtuber católico Bernardo Küster, seguidor de Olavo de Carvalho e

diretor de opinião do portal de direita Brasil Sem Medo, compartilhou
em seu Twitter uma montagem feita com uma ilustração do cartunista
e ilustrador surrealista Joan Cornellà. 

Bernardo P Küster
@bernardopkuster

Hi!
BYE!

1.533 14:29 - 30 de jan de 2020 · Londrina, Brasil

247 pessoas estão falando sobre isso

Publicações como a de Küster têm constrangido chineses e

descendentes que vivem no Brasil, segundo Sisi. “Eu vi muito
preconceito na internet. Comentários muito tristes. Eu estou tossindo,
mas evito tossir em público porque tenho medo que as pessoas me
vejam, com cara de chinesa, e pensem que estou infectada”, disse em
vídeo publicado no seu canal, o Pula Muralha.

MORCEGO, FAKE NEWS E PRECONCEITO (coronavírus) | Pula Mural…

Mural…

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) classifica

orientais e seus descendentes, com base em autodeclarações, como
amarelos. De acordo com o Censo populacional de 2010, os amarelo
representam 1,1% da população brasileira urbana e rural, o equivalente
a pouco mais de 2 milhões de pessoas. 

Em países que já tiveram casos da doença confirmados, o preconceito

ganhou força. Na Malásia, por exemplo, uma petição assinada por mais
de 400 mil pessoas até a última quarta (29) pedia que a entrada de
cidadãos chineses no país fosse banida. No texto que acompanha a
petição, os criadores culpavam o "estilo de vida sem higiene" dos
chineses pelo espalhamento do vírus. Petições similares surgiram em
Singapura e na Coreia do Sul. 

No Canadá e na França, comunidades chinesas criaram campanhas em

redes sociais para combater a discriminação. Asiáticos na França
usaram a hashtag  #JeNeSuisPasUnVirus (eu não sou um vírus) nas
redes sociais para identificar casos de abuso e discriminação.

Não há registros de casos no Brasil, mas o Ministério da Saúde

investiga 12 casos suspeitos de coronavírus, sete deles em São Paulo,
dois no Paraná e um caso em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e
Ceará.

Em São Paulo, o governador do estado, João Doria, e o prefeito da

capital, Bruno Covas, anunciaram um plano de ação para a eventual
confirmação de casos do novo coronavírus.

Cronologia do coronavírus

31 Primeiro alerta
dez. Autoridades chineses emitiram o
primeiro alerta à OMS (Organização
19 Mundial da Saúde) sobre uma série de Pequim
casos de pneumonia de origem
desconhecida na cidade de Wuhan CHINA
Wuhan
Província
de Hubei

500 km

1º A agência americana para a Vigilância e Prevenção de Doenças (CDC) afirma que um grande
mercado de peixes e mariscos em Wuhan, aparentemente ligado às primeiras infecções, foi
jan. fechado

9 As primeiras análises sequenciais do

vírus realizadas por equipes chinesas
jan. apontam que a pneumonia foi
causada por um novo coronavírus
Medical News Today/Divulgação

11 Primeira morte
Autoridades chinesas de saúde anunciam a primeira morte de um paciente com o vírus
jan.

13 Primeiro caso fora da China

A OMS notificou o primeiro caso de uma
jan. pessoa infectada fora da China, na
Tailândia. Trata-se de uma mulher com
pneumonia leve que voltava de uma
viagem a Wuhan
Tailândia

Nos dias seguintes, novos casos foram

registrados em outras partes da Ásia
Japão
Coreia do Sul

Taiwan

17 Primeiro caso nos EUA

Os Estados Unidos anunciam que fariam
jan. exames de detecção em três aeroportos
americanos importantes, inclusive um em
Nova York, que recebe voos diretos de
E UA
Wuhan. No dia 21 os EUA confirmaram o
primeiro caso da doença, em Washington

500 km

20 Transmissão humana provada

Cientistas confirmam transmissão do
jan. vírus entre humanos, e o temor em
relação ao surto cresce diante do Ano-
Novo Lunar chinês, em 25 de janeiro,
quando centenas de milhões de
pessoas viagem pelo país

A doença se espalha pela China

Na China, a doença é registrada
em Pequim (norte), Xangai (leste)
e Shenzhen (sul) Pequim
CHINA
Wuhan Xangai

Shenzhen

500 km

22 Maior controle
O uso de máscara
Londres e Roma anunciam medidas
jan. para monitorar passageiros passa a ser
provenientes de Wuhan obrigatório nos
espaços públicos em
Wuhan

23 Wuhan isolada do mundo

Trens e aviões partindo de Wuhan foram suspensos, e as rodovias, bloqueadas. Várias outras
jan. cidades da província de Hubei são isoladas do mundo

Fechamento de pontos turísticos

Pequim anuncia o fechamento da Cidade Proibida e de outros pontos que recebem muitos
turistas após o cancelamento das festividades de Ano-Novo na capital

OMS nega emergência global

A OMS reconhece a emergência na China, mas considera muito cedo para falar em
“emergência de saúde pública de alcance internacional”

24 Wuhan é isolada RÚ S S I A
Mais de 40 milhões de pessoas
jan. foram confinadas na província de Heilongjiang
Hubei, habitada por quase 60
milhões de habitantes
Pequim
Primeiras mortes fora CHINA
do berço da epidemia
Uma ocorreu em Hebei, e a outra, Wuhan
Hubei
em Heilongjiang, uma província
na fronteira com a Rússia

Três casos são confirmados na

500 km
França, os primeiros na Europa

25 No dia 25, o governo chinês ordena medidas nacionais de detecção de coronavírus em trens,
jan. ônibus e aviões
 
Xi Jinping diz que avanço de epidemia de coronavírus se acelera e pede o fortalecimento da
autoridade do regime comunista

27 A OMS (Organização Mundial da Saúde) corrige a avaliação de risco diante do coronavírus de

jan. "moderado" para "alto"
 
O vírus deixa um primeiro morto em Pequim
 
O prefeito de Wuhan admite ter escondido dados sobre o vírus e oferece sua renúncia
 
A Mongólia fecha suas fronteiras terrestres com a China e vários países, incluindo Estados
Unidos, França e Japão, preparam-se para a evacuação de seus cidadãos em Wuhan

28 Alemanha e Japão relatam os primeiros casos de infecção em pessoas que não viajaram para
jan. a China
 
O Brasil eleva seu risco de alerta, indicando risco iminente de o vírus chegar ao país, e
desaconselha viagens para a China
 
O vírus agrava a crise política em Hong Kong, que limita entradas via China

29 Brasil monitora nove casos de suspeita de coronavírus

jan.

30 Emergência global
OMS declara que novo coronavírus é emergência internacional diante de risco de
jan. disseminação
 
EUA têm primeiro caso de transmissão em território americano

19

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RICARDO FERNANDES 4.fev.2020 às 13h23

esse bernardo kuster é católico? pensei que no catolicismo se pregava o amor, o perdão,
coisas assim. mas o que esperar de um sujeito que segue olavo de carvalho e não lê o
novo testamento, embora seja católico?

RESPONDA 1 DENUNCIE

CARMEN LIGIA PENNA 4.fev.2020 às 7h21

....e a máscara cai novamente e nosso lado sombrio reaparece, sim, o Brasil é um país
preconceituoso e se alguém ainda tinha dúvidas, após as últimas eleições, a negação faz
parte. Muito triste tudo isso...

RESPONDA 2 DENUNCIE

CLOVES OLIVEIRA 3.fev.2020 às 19h39

As sociedades e os governos tendem a tratar cada nova doença infecciosa como uma
crise independente, mas a realidade é que elas são um sintoma de como o mundo está
mudando. Quanto mais mudamos o ambiente, maior a probabilidade de perturbar
ecossistemas facilitando a emergência de doenças. Somente cerca de 10% dos
patogênicos do mundo são documentados, portanto é razoável crer que muitas outras
doenças desconhecidas ainda estão porvir.

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