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0 ESTRUTURA CRISTALINA DOS O átomo de sódio tem 11 pró-


METAIS tons, 12 nêutrons e 11 elétrons.
Então teremos
1.1 Estrutura dos Átomos n0 atômico Z = 11
n0 de nêutrons N = 12
Até uma certa época, acreditava- n0 de massa = A = Z + N
se que o átomo era a menor unidade em que A = Z + N= 11 + 12 = 23
a matéria podia ser subdividida. Entretanto, Massa atômica= 23=A
posteriormente, tornou-se conhecido que o Um elemento químico é o con-
átomo é composto de unidades ainda meno- junto de todos os átomos com o mesmo nú-
res. Atualmente, é possível subdividir o á- mero de prótons, ou seja, com o mesmo nú-
tomo e explorar a sua estrutura interna. mero atômico.
O átomo é composto por um nú- Notação geral de átomo é:
cleo circundado por elétrons. O núcleo é
A (massa atômica)
composto por prótons e nêutrons. Os elé- (n atômico)zX
trons são partículas carregadas negativamen- Por exemplo: o 17C35 tem 17
te. Sabemos que um próton possui uma car- prótons e 18 nêutrons no núcleo. Seu núme-
ga numericamente igual a do elétron, só que ro de massa é 17 + 18 = 35.
sinal oposto. O fato do nêutron ser eletrica- Quanto ao número de elétrons ,
mente neutro sugere que o mesmo pode ser no átomo normal, ele é igual ao número de
considerado como uma combinação de um prótons.
próton e um elétron. Porém, um átomo pode perder
O número de prótons, nêutrons e ou ganhar elétrons sem alterar seu núcleo:
elétrons constitui dados importantes para resultam daí partículas denominadas íons.
caracterizar um átomo. Por causa disso, va- Quando um átomo ganha elé-
mos definir alguns conceito, que estão dire- trons, torna-se um íon negativo também
tamente relacionado aos números dessas chamado de Ânion.
partículas. Por exemplo: o átomo normal
Chama-se o número atômico tem 17 prótons, 18 nêutrons e 17 elétrons.
(Z), o número de prótons de um átomo. Num Ele pode ganhar um elétron e transformar-se
átomo normal, cuja carga elétrica é zero, o em ânion cloreto (Cl-) que terá 17 prótons,
número de prótons é igual ao número de 18 nêutrons e 18 elétrons. A figura 1.1.1
elétrons. Quando se diz que o átomo de só- mostra a estrutura atômica do cloro.
dio (Na) tem número atômico 11, isto quer
dizer que no núcleo desse átomo, existem 11
prótons.
Onde temos que Z=P=N com P
sendo número de prótons e N o número de
nêutrons. Figura 1.1.1- Estrutura atômica do Cloro.
Chama-se massa atômica (A), a
soma do número de prótons (Z) e do número
de nêutrons (N). Quando o átomo perde elétrons,
A = Z + N; torna-se um íon positivo também chamado
É o número de massa, que nos de cátion.
informa se um átomo é mais leve ou mais Por exemplo: o átomo de sódio
pesado que outro átomo. Isto é muito lógico, (Na) tem 11 prótons, 12 nêutrons e 11 elé-
porque são apenas os prótons e os nêutrons, trons. Ele pode perder 1 elétron tornando-se
que realmente contribuem para dar massa ao um cátion (Na+) com 11 prótons, 12 nêu-
átomo. trons e 10 elétrons. A figura 1.1.2 mostra a
Vejamos o exemplo: estrutura atômica do sódio.

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- Seja a distribuição atômica do
átomo de cálcio de Z = 20. Temos:
- K=2, L=8, M=10 (primeira eta-
pa) mais que 8;
- Fica então: K=2, L=8, M=8,
N=2
Figura 1.1.2 - Estrutura atômica do sódio.
-
Exemplo 2:
Se observarmos as figura 1 e 2 - Para o iodo temos Z=53, então
podemos ver que quando um átomo ganha teremos uma distribuição atômica da seguin-
elétron, seu tamanho aumenta, e quando te forma: K=2, L=8, M=18, N=25
perde elétron ele diminui de tamanho. - Fica então: K=2, L=8, M=18,
De acordo com Bohr, os elétrons N=18, O=7.
possuem órbitas bem determinadas, que são
como aviões que devem voar numa determi- Exemplo 3:
nada direção e altitude, ou seja numa aero- - - Para o frâncio temos Z = 87
via. Estas órbitas estão em regiões que rece- então teremos uma distribuição atômica da
beram o nome de camadas. Nos átomos, seguinte forma: K=2, L=8, M=18, N=32,
existem 7 camadas possíveis: K, L, M, N, O, O=27.
P Q. Cada camada admite um número má- - Fica então: K=2, L=8, M=18,
ximo de elétrons. Assim constatou-se que o N=32, O=18, P=9.
máximo de elétrons que cada camada com- - Fica então: K=2, L=8, M=18,
porta é: N=32, O=18, P=8, Q=1.
A figura 1.1.3 mostra o máximo Esta regra é bastante simples e
de elétrons em cada camada. Porém, o má- muito cômoda, rapidamente, ela dá o total
ximo de elétrons na camada mais externa de de elétrons em cada camada.
um átomo é de apenas 8. Os átomos, até
hoje conhecidos, tem de 1 próton até 103
prótons. Como estão distribuídos os elétrons
para cada um desses átomos? Existe uma
regra prática, que é válida para muitos des-
ses átomos.
Regra:
a) Preencha as camadas na ordem
K, L, M, etc. Vá colocando o máximo de Figura 1.1.3 - Máximo de elétrons que a camada
elétrons, que aceita cada camada, até com- comporta.
pletar o total de elétrons do átomo.
b) Verifique o número de elétrons 1.1.1 Ligações Interatômicas
na camada mais externa até então preenchi-
da. Se ela tiver mais de 8 elétrons deve-se: Como a maioria dos materiais
Cancelar esse número e deixar apenas 8 ou usados pelo engenheiro ou técnico é sólido
18 elétrons (aquele que for imediatamente ou líquido, é desejável conhecer as atrações
inferior). A diferença entre o número calcu- que mantém os átomos unidos nesses esta-
lado e 8 ou 18 deve ser escrito na camada dos. Nas condições gerais as forças que
seguinte. mantém átomos unidos são fortes. Se tal
c) Se a nova camada ainda estiver fenômeno não ocorresse, os átomos se sepa-
mais de 8 elétrons, repete-se a operação do rariam facilmente. Um fato importante é que
item b. os átomos ligados são mais estáveis do que
sozinhos. O metal se deformaria sob peque-
Exemplo 1: nas solicitações e as vibrações atômicas as-

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sociadas à energia térmica provocaria uma
gaseificação dos átomos em baixa tempera-
tura.
As atrações interatômicas são
consequência da estrutura eletrônica do á-
tomo. Os gases nobres (inertes ou quimica-
mente inativos), tais como He, Ne , apresen-
tam uma pequena atração pelos átomos por-
que eles tem um arranjo muito estável de
oito elétrons (2 para o hélio) na sua camada Figura 1.1.4 – Comprimento de ligação. A liga-
mais externa ( camada de valência, ao mes- ção entre dois átomos adjacentes correspondente
mo tempo que são eletricamente neutros, à energia mínima é o comprimento da ligação.
pois possuem igual número de prótons e Este comprimento é igual à soma dos dois raios.
elétrons). A maior parte dos outros elemen- (a) Em um metal puro, todos átomos possuem o
tos, ao contrário de gases nobres, deve ad- mesmo raio. (b) Em um sólido iônico , os raios
quirir a configuração altamente estável de são diferentes.
oito elétrons na camada mais externa, atra-
vés de: Ligação Iônica
- recebimento A ligação que é mais fácil de ser
- perda descrita é a ligação iônica, que resulta da
- compartilhamento do elé- atração mútua entre íons positivos e negati-
trons. vos. Átomos de elementos como sódio e
Energia de aproximadamente cálcio, com um ou dois elétrons. O aspecto
100 Kcal/mol são requeridas para romper as essencial da ligação iônica é a simetria ele-
ligações. trônica. Na ligação iônica, as partículas são
ligadas como sistemas esféricos, possuindo
uma carga líquida positiva ou negativa.
Configuração de mínima Energia. Substâncias iônicas compreendem basica-
A distância de equilíbrio entre o mente de sais, bases e óxidos básicos e hi-
centro de dois átomos vizinhos pode ser dretos metálicos. A ligação iônica também é
considerada como sendo a soma de seus encontrada nos compostos dos elementos
raios (fig. 1.1.4). No ferro metálico por e- muito eletropositivos, como os metais alca-
xemplo, a distância média entre os centros linos; com elementos eletronegativos, como
dos átomos é 2,48A0 (angstrom+ 10-8 cm), halogêneos. Os metais possuem baixa ener-
em temperatura ambiente . Como os átomos gia de ionização (pouca energia de ionização
são iguais, o raio do átomo de ferro é de para retirar elétrons de seus átomos). Os não
1,241 A0. Muitos fatores podem alterar esta metais apresentam alta afinidade eletrônica.
distância. O primeiro é a temperatura. Qual- A transferência de elétrons dos átomos de
quer aumento na energia acima do mínimo, baixa energia de ionização para átomos de
aumentará a distância interatômica. A va- alta afinidade eletrônica produz íons com
lência do íon também influencia na distância cargas opostas, cuja atração coulombiana
interatômica. mútua conduz a um cristal estável. Resu-
mindo a ligação iônica ocorre entre um me-
tal e um não metal.

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compartilhados entre si, ao invés de ocorrer
uma transferência de elétrons. A ligação
covalente consiste no compartilhamento de
pares eletrônicos entre dois átomos. Como já
foi dito anteriormente, a estrutura eletrônica
de um átomo é relativamente estável se o
mesmo contém oito elétrons na camada de
valência. Muitas vezes, um átomo pode ad-
quirir estes oito elétrons compartilhando
com um átomo adjacente. Um exemplo mais
simples deste compartilhamento é encontra-
do na molécula de hidrogênio, H2. Como
indicado esquematicamente na figura 1.1.6
(a e b), os dois elétrons se localizam entre os
Figura 1.1.5 - Ionização. A transferência de elé- prótons e assim, formam a ligação entre os
trons na formação do NaCl produz camadas dois átomos de hidrogênio. Um tanto mais
externas estáveis. Os íons negativos e positivos especificamente a figura 1.1.6 c mostra a
que se formam se atraem mutuamente através de distribuição probabilística para os elétrons.
forças coulombianas, formando a ligação iônica. Portanto a ligação covalente pode ser consi-
derada como uma ligação de elétrons carre-
gados negativamente entre núcleos positi-
Exemplos: vos.
Seja a ligação entre os átomos
de cálcio e bromo. O átomo de cálcio tem
Z=20 e o átomo de bromo tem Z=35.
Ca: K=2, L=8, M=8, N=2 (2 elé-
trons serão cedidos).
Br: K=2, L=8, M=18, N=7 (1 e-
létron será recebido) Figura 1.1.6 - Ligação covalente do hidrogênio.
Serão necessários 2 átomos de As partes (a) e (b) são representações simplifi-
bromo para receber os dois elétrons libera- cadas. A parte (c) mostra a distribuição de pro-
dos para o átomo de cálcio. Os íons resultan- babilidades para os dois elétrons que formam a
tes terão formado seus octetos. ligação covalente na molécula de hidrogênio.
A fórmula do composto será: Embora as ligações covalentes
Ca++ Br2-- . sejam muito fortes, nem todos os materiais
com ligações covalentes apresentam pontos
de fusão e ebulição elevados ou alta dureza.
Para o Al e o S; O metano por exemplo, tem muitas ligações
Al: K=2, L=8, M=3 ou seja cede covalentes , mas a molécula resultante tem
3 elétrons; uma pequena atração pelas moléculas adja-
S: K=2, L=8, M=6 ou seja rece- centes, porque as camadas eletrônicas exter-
be 2 elétrons; nas já estão preenchidas. Portanto a molécu-
A fórmula será Al2 O3. la do metano, assim como os átomos dos
gases nobres, atuam quase que independente
uma das outras moléculas, conforme pode
Ligação Covalente ser visto na figura 1.1.7 (CH4).
Outra ligação muito forte é a li-
gação covalente que ocorre quando os dois
átomos tem a mesma tendência de ganhar e
perder elétrons, portanto, os elétrons ficam

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Figura 1.1.7-Molécula de metano.

Propriedades da Ligação Cova-


lente:
No H2 os dois elétrons comparti-
lhados são igualmente compartilhados pelos Figura 1.1.8 - Ligação metálica. Representação
dois núcleos. Estas ligações são ligações esquemática dos elétrons livres em uma estrutura
apolares (ligações entre 2 átomos idênticos). de íons positivos .
No HF a densidade eletrônica é
concentrada em torno do átomo de flúor
Ligações onde a distribuição eletrônica é Em resumo as ligações metálicas são
assimétrica são referidas como polares. A aquelas que ocorrem entre os metais, isto é,
figura 1.1.6 é um bom exemplo de uma liga- átomos de baixa eletronegatividade. No só-
ção covalente apolar e na figura 1.1.9 é um lido os metais são formados por agregados
exemplo de ligação covalente polar. atômicos geometricamente ordenados, dan-
do a origem às grades ou reticulados crista-
linos, que serão vistos mais a frente.
Ligações Metálicas Embora a descrição seja muito
Ao lado das ligações iônicas e simplificada, ela permite uma explicação
covalentes, um terceiro tipo de força intera- útil para muitas propriedades dos metais.
tômica forte, a ligação metálica, é capaz de Por exemplo, o arranjo cristalino dos átomos
manter átomos unidos. O modelo e de liga- em um metal sólido ajuda a determinar as
ção metálica não é tão fácil de ser construí- propriedades mecânicas do metal. Os elé-
do como aqueles da iônica e da covalente. trons livres dão ao metal sua condutividade
Entretanto, se um átomo apresenta apenas elétrica elevada, característica, pois podem
uns poucos elétrons de valência , estes po- mover-se livremente sob a ação de um cam-
dem ser removidos com relativa facilidade, po elétrico. A condutividade térmica elevada
enquanto que os demais elétrons são firme- dos metais também é associada a mobilidade
mente ligados ao núcleo. Isto origina uma dos elétrons de valência, que podem transfe-
estrutura formada por íons positivos e elé- rir energia térmica de um nível de alta tem-
trons livres. Conforme pode ser visto na peratura para outro de baixa temperatura.
figura 1.1.8. Os metais tem como caracterís-
ticas a maleabilidade onde quando estes são
submetidos a uma carga os íons do reticula-
do cristalino podem deslocar-se uns sobre os
outros, adotando novas posições dentro do
arranjo cristalino, isto explica o fato dos
metais serem dúcteis e maleáveis ( defor-
mam). O metal que possui maior maleabili-
dade é o ouro, onde pode-se obter lâminas
com espessura da ordem de 0,000001 cm.

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A maior parte das forças de atra-
1.1.2 Ligações Intermoleculares ção de Van Der Waals se origina de dipolos
As ligações intermoleculares são elétricos o que pode ser ilustrado com sim-
as que resultam da interação entre molécula, plicidade em uma molécula de fluoreto de
no estado líquido e no estado sólido. São hidrogênio conforme pode ser visto na figu-
essas ligações que mantém as moléculas ra 1.1.9 (a) Onde, há dois elétrons disponí-
unidas num líquido e num sólido. veis para a camada hidrogênio e oito para a
Toda substância molecular apre- camada mais externa L do flúor. Entretanto,
senta uma determinada temperatura na qual dentro da molécula há um desbalanceamento
a agitação molecular é suficientemente para elétrico, porque o par eletrônico comparti-
vencer as forças intermoleculares. Nessa lhado circunda mais eficazmente o núcleo
temperatura (ponto de ebulição) as molécu- positivo do flúor do que o núcleo do hidro-
las separam-se uma das outras e a substância gênio. Consequentemente, o centro de carga
passa para o estado gasoso. positiva não coincide com o centro de carga
As ligações intermoleculares negativa e tem-se a formação de um dipolo
podem ser classificadas em: elétrico (b). Um dipolo elétrico é formado
- Forças de Van Der Waals em toda molécula assimétrica, tornando pos-
- Ponte de Hidrogênio sível um mecanismo de ligação entre molé-
- Interação Dipolo Permanente culas. Em (c) é possível observar as atrações
- Dipolo Permanente. polares entre moléculas adjacentes.

Forças de Van Der Waals


As três ligações anteriores (inte-
ratômicas) correspondem, todo as em liga-
ções muitos fortes. As mais fracas que tam-
bém contribuem para a atracão interatômica,
são agrupadas aqui sob o nome genérico de
Figura 1.1.9 – Polarização. (a) Nas assimétricas
forças de Van Der Waals, embora realmente
com HF, ocorre um desbalanceamento elétrico
existam muitos mecanismos diferentes en- denominado polarização. (b) Este desbalancea-
volvidos. mento produz um dipolo elétrico com uma ex-
Em um gás nobre como hélio, a tremidade positiva e outra negativa. (c) Os dipo-
camada mais externa que tem dois elétrons, los resultantes são forças de atração secundárias
está completa , e os outros gases nobres, entre as moléculas. A extremidade positiva de
como o neônio e o argônio, tem todos oito um dipolo é atraída pela negativa do outro.
elétrons na última camada. Nestas situações
de estabilidade, nenhum dos tipos de ligação
já citados pode ser efetivo, já que tanto a Ponte de Hidrogênio
ligação iônica , como a metálica e a covalen- As propriedades anormais do
te requerem ajustes nos elétrons de valência flúor, do oxigênio e do nitrogênio resultam
. Como conseqüência, os átomos destes ga- da presença destas substâncias de uma força
ses nobres têm pouca atração uns pelos ou- intermolecular excepcionalmente forte. As
tros e, com raras exceções, os K permane- forças de atração, entre o átomo de hidrogê-
cem monoatômicos nas temperaturas ordiná- nio de uma molécula e o átomo de flúor,
rias. Somente em temperaturas muito baixas, oxigênio e nitrogênio da outra, é suficiente-
quando as vibrações térmicas estão drasti- mente singular para receber um nome espe-
camente reduzidas, é que estes gases se con- cial, as pontes de hidrogênio. Há duas ra-
densam. É justamente esta condensação que zões para que as pontes de hidrogênio sejam
torna evidente a existência de ligações fra- mais fortes do que as forças dipolares co-
cas que tendem a manter os átomos unidos. muns:

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- pequeno tamanho do átomo líquida faz com que assim que se forma o
de hidrogênio permite que os átomos de gelo ele sobe para a superfície.
flúor, oxigênio ou nitrogênio de uma molé-
cula se aproximem muito do átomo de hi-
drogênio da outra. Isso significa que a ponte Forças Dipolares
de hidrogênio parece estar limitada a com- O efeito da polaridade sobre as
postos contendo estes 3 elementos, todos os propriedades físicas das substancias molecu-
quais têm comparativamente pequenos raios lares é prontamente explicado em termos da
atômicos. maneira pela qual as moléculas polares se
- Devido a diferença de ele- alinham uma em relação a outra. O arranjo
tronegatividade do hidrogênio, flúor, oxigê- mais estável é aquele no qual o pólo positivo
nio e nitrogênio serem grande o suficiente de uma molécula está tão próximo quanto
para causar nos elétrons de ligação do HF, possível do pólo negativo da molécula vizi-
H2O e NH3 um deslocamento marcante do nha. Sob estas condições, há uma atração
átomo de hidrogênio. Ocorre consequente- eletrostática conhecida como força dipolar
mente aos átomos de hidrogênio, nestas mo- entre moléculas adjacentes.
léculas, no que diz respeito a sua interação A atração eletrostática entre as
com moléculas vizinhas, se comportam qua- moléculas vizinhas dentro de um cristal de
se como prótons. cloreto de iodo é semelhante em origem
Muitas das propriedades da água aquele entre íons de cargas opostas no clore-
líquida são conseqüência das pontes de hi- to de sódio sólido. Entretanto, as forças di-
drogênio. Por exemplo, o alto calor específi- polares entre moléculas polares no ICl são
co da água em relação à outros líquidos ou de uma ordem de grandeza menor que as
sólidos é reflexo da grande quantidade de ligações iônicas no NaCl. No caso anterior,
energia necessária para quebrar as pontes de as eletronegatividades desiguais entre o iodo
hidrogênio, as quais se tornam menos nume- e o cloro produzem somente cargas parciais
rosas à medida que a temperatura se eleva. + dentro da molécula. No NaCl por outro
Quando a água congela, forma lado, uma completa transferência eletrônica
um modelo hexagonal aberto de moléculas. leva os íons a cargas completas +.
Cada átomo de oxigênio no cristal de gelo Quando o cloreto de iodo é a-
está ligado a quatro átomos de hidrogênio, quecido a 270C, as forças dipolares relati-
dois pelas ligações covalente e dois pelas vamente fracas não são capazes de manter as
pontes de hidrogênio. A grande proporção moléculas em um alinhamento rígido e o
de espaço vazio na estrutura do gelo explica sólido funde. As forças dipolares permane-
porque o mesmo é menos denso do que a cem significativas em fase líquida, na qual
água líquida. Na verdade a água inicia a ter as moléculas polares estão entretanto relati-
sua densidade diminuída se resfriada abaixo vamente próximas uma das outras. Somente
de 40C, o que indica que a transição de uma em fase gasosa, onde as moléculas estão
arranjo compacto para uma estrutura aberta muito afastadas uma das outras, as forças
ocorre gradualmente durante a variação de elétricas se tornam desprezíveis.
temperatura ao invés de ter lugar abrupta- Consequentemente os pontos de fusão e
mente no ponto de congelamento Acredita- ebulição de compostos polares tais como Icl
se, que o mesmo na água na temperatura são mais elevados do que os de substâncias
ambiente, algumas das moléculas estão ori- apolares de peso molecular comparável.
entadas segundo um modelo aberto seme-
lhante ao do gelo. Este fenômeno é de ex-
trema importância , pois do contrário não 1.2 Estruturas Cristalinas
existiria vida submarina. O fato do gelo (á- 1.2.1 - Reticulado cristalino
gua sólida) ter menor densidade que a água Todos os metais, incluindo-se neste
caso o ferro puro, possuem o que se conven-

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ciona chamar de estrutura cristalina. Para adiante, se pode associar a esta rede espacial
entender do que se trata, considera-se uma uma série de átomos distribuídos regular-
rede de pontos que se prolonga infinitamen- mente pelo espaço, não necessariamente
te nas três direções do espaço como mostra- localizados nos pontos de intersecção, mas
do na figura 1.2.1. respeitando a regularidade determinada pe-
las distâncias e pelos vetores. Desta forma
fica caracterizada uma estrutura cristalina,
que nada mais é do que uma rede de pontos
regularmente espaçados com uma distribui-
ção regular dos átomos. Muitos materiais
possuem uma distribuição característica e
regular dos seus átomos sendo chamados
então de materiais cristalinos. Como existe
esta regularidade, uma estrutura cristalina de
um material não precisa ser representada por
todos os seus átomos mas apenas por um
conjunto de átomos que possam definir a sua
Fig. 1.2.1 - Representação de uma rede de pon- distribuição no espaço. Este conjunto de
tos que serve de base para o estudo das estrutu- átomos deve ser escolhido de tal forma que
ras cristalinas (Guy )
uma vez repetidas as suas posições nas três
direções do espaço, tem-se a representação
Se todas as retas que formam a rede de toda a estrutura cristalina do material.
estiverem regularmente espaçadas em cada Esta pequena porção do reticulado cristalino
uma das direções, os pontos de intersecção que tem a propriedade de representar todo o
estarão também regularmente espaçados e cristal chama-se célula unitária. Uma célu-
neste caso fica caracterizada uma rede espa- la unitária terá sempre associada uma figura
cial de pontos. Observando-se a figura 1.2.1 geométrica ( as distâncias a, b e c e os veto-
vê-se que a geometria da rede espacial fica res α, β e γ ) e a distribuição característica
perfeitamente caracterizada se forem utili- dos átomos. No estudo das estruturas crista-
zados três vetores para defini-la. Assim, linas são utilizadas apenas sete figuras geo-
tomando-se por base o comprimento dos três métricas, caracterizando sete sistemas cris-
vetores como sendo a, b e c e se conside- talinos e estes produzem um total de apenas
rando o ângulo entre estes mesmos vetores quatorze distribuições características dos
como sendo α, β e γ tem-se o que se con- átomos, produzindo quatorze estruturas
venciona chamar de constantes de rede. Es- cristalinas. Embora alguns materiais pos-
tas constantes permitem definir exatamente sam apresentar distribuições mais comple-
como os pontos se distribuem no espaço, xas, apenas estas quatorze células unitárias
pois, repetindo-se o comprimento de um são suficientes para permitir o estudo dos
vetor, por exemplo a, segundo a direção materiais cristalinos. Na tabela 1.2.1 são
dada por α, encontra-se uma nova interse- mostrados os sete sistemas cristalinos com
ção, ou seja um outro ponto de rede. Simi- as suas características geométricas e as es-
larmente, a combinação da distância b com truturas cristalinas geradas a partir dos mes-
mos.
o ângulo β, e da distância c com o ângulo γ,
A figura 1.2.2 caracteriza os 14 retí-
encontra-se pontos a cada repetição. Deve-
culos de Bravais que definem os sistemas
se entender, ainda, que em um enfoque pu-
cristalinos. Os retículos se repetem espaci-
ramente geométrico, tanto as distâncias
almente nas três direções.
quanto os ângulos podem ter o mesmo valor
ou serem diferentes entre si, o que permitiria
uma série de combinações. Indo um pouco

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considerações a respeito das mesmas a se-
guir serão feitas.

Fig. 1.2.3 - Representação esquemática das célu-


las unitárias das estruturas cúbica de corpo cen-
trado, cúbica de faces centradas e tetragonal de
Fig. 1.2.2 – Representação dos sistemas cristali- corpo centrado (Guy)
nos.

Dentre os sistemas apresentados os


que mais interessam para o estudo dos tra-
tamentos térmicos de aços são o sistema
cúbico e o sistema tetragonal. Na figura
1.2.3 pode-se ver as células unitárias das
estruturas cúbicas de corpo centrado ( CCC
), cúbica de faces centradas ( CFC ) e tetra- Fig. 1.2.4 - Representação do modelo de esferas
gonal de corpo centrado ( TCC ). Por uma das estruturas cúbica de corpo centrado e cúbica
questão de simplicidade os átomos em um de faces centradas (Avner)
reticulado cristalino são representados como
esferas perfeitas mas isto não implica em
diferenças muito grandes em relação ao caso 1.2.2 - Estrutura cúbica de corpo centra-
real. Uma representação deste tipo está a- do
presentada na figura 1.2.4 para as estruturas A estrutura cúbica de corpo centrado
cúbica de corpo centrado e cúbica de faces é uma estrutura que possui os seguintes pa-
centradas. râmetros geométricos: a=b=c e α=β=γ=90o.
Ao olhar mais atentamente para estas Estes valores fazem com que a célula unitá-
figuras pode-se retirar outros valores que ria seja caracterizada pela figura de um cu-
são úteis para comparação entre as várias bo. Além disso os átomos estão localizados
estruturas. Os parâmetros característicos nos vértices e no centro da célula, como
mais utilizados são as medidas característi- pode ser visto nas figuras 1.2.2 e 1.2.3. Ob-
cas dos vetores, chamado parâmetro de serve-se que os átomos dos vértices tem
rede, o número apenas um oitavo do seu volume ocupando
de átomos por célula unitária, o número de espaço na célula unitária. Neste caso o pa-
vizinhos que cada átomo possui râmetro de rede, representado pelo lado do
(átomos que distam entre si dois raios atô- cubo, vale 4 R 3 , o número de átomos por
micos), chamado número de coordenação célula unitária é 2 (um átomo corresponden-
e a relação entre o volume ocupado pelos do à soma dos oito oitavos dos átomos dos
átomos e o volume da vértices e mais
célula unitária, chamado de fator de empa-
cotamento. Para que se possa entender um
pouco melhor estas estruturas, mais algumas

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Tabela 1.2.1 - Classificação das estruturas cristalinas dentro dos sistemas cristalinos
Sistema cristalino Parâmetro de rede e ângulo entre os eixos Estrutura cristalina
Cúbico Três eixos iguais em ângulo reto Cúbica simples
a=b=c, α=β=γ=90° Cúbica de corpo centrado
Cúbica de faces centradas
Tetragonal Três eixos em ângulo reto, dois iguais Tetragonal simples
a=b≠c, α=β=γ=90° Tetragonal de corpo centrado
Ortorrômbico Três eixos desiguais em ângulo reto Ortorrômbico simples
a≠b≠c, α=β=γ=90° Ortorrômbico de corpo centrado
Ortorrômbico de bases centradas
Ortorrômbico de faces centradas
Romboédrico Três eixos iguais, ângulos iguais Romboédrico simples
a=b=c, α=β=γ≠90°
Hexagonal Dois eixos iguais a 120°, terceiro eixo a 90° Hexagonal simples
a=b≠c, α=β=90°, γ=90°
Monoclínico Três eixos desiguais, um ângulo diferente Monoclínico simples
a≠b≠c, α=β=90°, γ≠90 Monoclínico de bases centradas
Triclínico Três eixos desiguais, ângulos desiguais Triclínico simples
a≠b≠c, α≠β≠γ≠90

o átomo localizado no centro da célula), faces), número de coordenação de 12 e um


número de coordenação de 8 e um fator de fator de empacotamento de 0,74. Compa-
empacotamento de 0,68, onde R é o raio rando-se o fator de empacotamento das duas
atômico. Deve ser lembrado que, embora estruturas pode-se ver que a estrutura CFC é
estes parâmetros tenham sido retirados da mais compacta do que a estrutura CCC, isto
célula unitária, eles são válidos para toda a é, os seus átomos ocupam de maneira mais
estrutura cristalina. Isto significa que, inde- eficiente o espaço. Considerando-se o mes-
pendente da célula unitária escolhida e do mo raio atômico, pode-se dizer que os áto-
átomo tomado como referência, deve-se mos organizados segundo uma estrutura
encontrar sempre os mesmos valores. CFC ocuparão menor volume o que condu-
zirá a uma maior densidade.

1.2.3 - Estrutura cúbica de faces centra- 1.2.4 Estruturas Hexagonais


das A figura 1.2.5 mostra os sistemas
cristalinos hexagonais simples. Deve ser
A estrutura cúbica de faces centradas considerado que o volume da figura 1.2.5a é
possui os mesmos parâmetros geométricos três vezes o volume da figura 1.2.5b, mas o
que a estrutura cúbica de corpo centrado, número de átomos também é três vezes mai-
porém, a distribuição dos átomos é um pou- or fazendo com que o número de átomos por
co diferente. Neste caso existem átomos unidade de volume seja o mesmo para as
localizados nos vértices e no centro de cada duas figuras.
uma das faces do cubo, conforme as figuras Devido ao fator de empacotamento
1.2.2 e 1.2.3. Isto faz com que os átomos das desta estrutura ser bastante baixo, os metais
faces tenham apenas metade do seu volume não cristalizam neste sistema (hexagonal
ocupando espaço na célula unitária. O parâ- simples), mas sim outros compostos com
metro de rede vale 4 R 2 , o número de mais de um tipo de átomo.
átomos por célula unitária é 4 (um átomo
correspondendo à soma dos oito oitavos dos
átomos dos vértices e mais três átomos cor-
respondentes aos átomos localizados nas

11
Fig. 1.2.7 – Visualização do número de coorde-
Fig. 1.2.5 – Células unitárias hexagonais sim- nação 12 em uma estrutura hc.
ples. Em (a) tem-se a representação hexagonal
em (b) a representação rômbica. Ambas são 1.2.5 - Interstícios
equivalentes com o parâmetro a diferente de c,
um plano basal de 120o e ângulos verticais de Em qualquer estrutura cristalina o
90o. fator de empacotamento é sempre menor do
que um, isto é, os átomos não ocupam todo
A estrutura hexagonal compacta (hc) o espaço disponível na célula unitária. Este
é mostrada na figura 1.2.6. O magnésio tem fato implica em que existam espaços vazios
esta estrutura. É caracterizada pelo fato de entre os átomos da estrutura. Estes espaços
que cada átomo de uma dada camada está vazios recebem o nome de interstícios e
diretamente abaixo ou acima dos interstícios exercem um papel muito importante nos
formados pelos três átomos das camadas tratamentos térmicos dos aços como será
adjacentes. Portanto, cada átomo tangencia visto mais adiante. Normalmente existem
três átomos na camada acima do seu plano, vários interstícios em uma estrutura cristali-
seis átomos no seu próprio plano e três áto- na e quanto menor o fator de empacotamen-
mos na camada de baixo do seu plano. Ob- to maior é o volume destinado aos interstí-
serve a figura 1.2.7. cios, embora o tamanho de cada um dependa
O fator de empacotamento para um do raio atômico e da estrutura cristalina.
metal hc pode ser facilmente determinado e Deste modo uma estrutura CFC possui in-
vale 0,74, idêntico ao empacotamento de terstícios maiores do que uma estrutura
uma estrutura cfc pois os dois possuem nú- CCC, embora o seu fator de empacotamento
mero de coordenação 12. seja maior. A principal conseqüência disto é
que, quando se tiver uma solução em que os
átomos do soluto se colocam em posições
intersticiais, como é o caso da liga ferro-
carbono, a estrutura que tiver os maiores
interstícios apresentará uma maior solubili-
dade do que aquela que possui interstícios
menores. Nas figuras 1.2.8 e 1.2.9 estão
representados os interstícios das células
(a) (b) CCC e CFC.
Fig. 1.2.6 Estrutura hexagonal compacta. Um interstício sempre é denominado
pela figura poliédrica formada pelos átomos
que estão em volta do espaço vazio e desta
forma vamos encontrar interstícios tetraédri-
cos e insterstícios octaédricos. Tanto a estru-
tura CCC quanto a estrutura CFC possuem
estes interstícios, no entanto estes são maio-
res na estrutura CFC.

12
sim, a direção [100] corresponde a um vetor
paralelo ao eixo x, enquanto que a direção
[010] corresponde a um vetor paralelo ao
eixo y. No caso dos planos, os índices cor-
respondem ao inverso do valor das interse-
ções do plano com os eixos. Deste modo um
(a) (b) plano (100) corresponde a um plano paralelo
aos eixos y e z enquanto que um plano (010)
Fig. 1.2.8 - Interstícios octaédricos (a) e insters- corresponde a um plano paralelo aos eixos x
tícios tetraédricos (b) em uma estrutura cúbica e z.
de corpo centrado (Leslie)

(a) (b)

Fig. 1.2.9 - Interstícios octaédricos (a) e insters-


tícios tetraédricos (b) em uma estrutura de faces
centradas (Leslie)
Fig. 1.2.10 - Direções cristalinas em uma estru-
tura cúbica (Van Vlack)
1.2.6 - Índices de Miller

A disposição característica dos áto-


mos na estrutura cristalina de um material
faz com que existam direções e planos ca-
racterísticos para cada estrutura. Estas dire-
ções e planos tornam-se importantes pelo
fato de influírem no comportamento do ma-
terial como é o caso da deformação. Sempre
que tivermos deformação esta se dará se-
gundo determinadas direções e planos parti-
culares para cada estrutura. Isto se deve
principalmente ao fato de que existe uma Fig. 1.2.11 - Planos cristalinos em uma estrutura
maior densidade de átomos em determinadas cúbica (Avner)
direções gerando planos de escorregamento
quando ocorre deformação plástica. Para a
determinação exata das direções e planos foi 1.3 Defeitos na estrutura cristalina
criada uma notação apropriada que é cha-
mada de índices de Miller. Nas figuras Embora até aqui tenha-se representa-
1.2.10 e 1.2.11 são mostradas direções e do uma estrutura cristalina como uma rede
planos característicos para as estruturas de pontos que se distribui regularmente pelo
CCC e CFC. espaço com átomos a ela associados e tam-
Os índices de uma direção estão relaciona- bém regularmente distribuídos, isto não a-
dos com as coordenadas de um ponto com contece nos materiais cristalinos reais. To-
relação à origem do sistema de eixos. As- dos os materiais cristalinos possuem um

13
certo número de defeitos os quais podem tipo de defeito é o que é chamado de discor-
influir decisivamente em suas propriedades. dância em cunha, o qual é mostrado na figu-
Abaixo relaciona-se alguns dos principais ra 1.3.2. Neste caso uma discordância em
defeitos para que se tenha idéia de como os cunha pode ser vista como um plano extra
mesmos se apresentam no reticulado crista- de átomos, produzindo um efeito de cunha
lino. no reticulado. Por envolver um grande nú-
a. Lacunas. mero de átomos uma discordância envolve
Este defeito é caracterizado pela au- um acúmulo de energia muito maior do que
sência de um átomo em uma posição que um defeito de lacuna ou intersticial.
deveria ser ocupada na estrutura cristalina. As discordâncias exercem um papel
Isto gera uma deficiência de ligações entre muito importante na deformação plástica
os átomos fazendo com que os mesmos ten- pois são elas que permitem o escorregamen-
dam a se aproximar, o que provoca uma to de planos cristalinos que produzem a de-
distorção na rede e produz um acúmulo de formação. Se a discordância estiver livre
energia naquele ponto. A figura 1.3.1 repre- para se deslocar pelo reticulado cristalino a
senta este defeito. deformação se produz facilmente, ao passo
que se existirem defeitos como os interstici-
ais ou a presença de precipitados, o deslo-
camento será dificultado restringindo a de-
formação. Isto irá se refletir em um aumento
do limite de escoamento do metal.

Fig. 1.3.1 - Representação dos defeitos de lacu-


na, defeito auto-intersticial e defeito de impureza
intersticial (Guy) Fig. 1.3.2 - Representação de uma discordância
em cunha (Guy)

b. Defeitos intersticiais.
Caracteriza-se pela presença de um d. Contorno de grão
átomo em um interstício da estrutura crista- Em um material real, não existe uma
lina. Neste caso o átomo pode ser do próprio estrutura cristalina com uma única orienta-
elemento que forma a estrutura, sendo cha- ção. Observando-se a orientação da estrutura
mado de defeito auto-intersticial, ou por um de um material constata-se que ela é subdi-
átomo estranho, chamado defeito de impu- vidida em um grande número de zonas, cada
reza intersticial. Pelo fato dos interstícios uma delas com uma orientação diferente,
em uma estrutura serem pequenos com rela- isto é, cada uma das zonas forma um cristal
ção aos átomos que abrigam, um defeito independente. Estes cristais que possuem
intersticial produz uma distorção e um acú- uma orientação particular são chamados de
mulo de energia muito maior do que uma grãos. Na figura 1.3.3 tem-se uma represen-
lacuna. A figura 1.3.1 representa estes dois tação da disposição dos átomos no interior
defeitos. dos grãos. Todos os grãos de uma mesma
fase do material possuem a mesma estrutura
c. Discordâncias. cristalina, diferindo somente na orientação.
Uma discordância é um defeito pla- A conseqüência desta orientação diferente é
nar que envolve o posicionamento de uma que na fronteira entre os grãos existe uma
série de átomos. O caso mais comum deste zona de transição entre duas orientações e,

14
por isso, os átomos que fazem parte desta 1.3.1.2 Solução do carbono no ferro
fronteira estão mal organizados e com um A aplicação mais importante da
nível mais alto de energia. Esta região é o transformação alotrópica do ferro se encon-
contorno de grão. tra nas ligas ferro-carbono. O carbono forma
O contorno de grão exerce um papel uma solução sólida intersticial com o ferro,
importante nas transformações de fase, onde isto é, os átomos de carbono se colocam nos
a maior energia dos átomos favorece a nu- interstícios da estrutura cristalina do ferro. A
cleação e na deformação plástica, onde tem conseqüência prática deste tipo de solução é
a função de restringir o movimento das dis- a de ter-se uma liga de baixo custo e com
cordâncias. possibilidades de uma grande variação nas
propriedades dependendo do teor de carbono
e do tratamento térmico utilizado.
Nas figuras 1.3.4 e 1.3.5 são mostra-
dos os interstícios tetraédricos e octaédricos
que ocorrem nas estruturas CCC e CFC.
Estes interstícios variam de tamanho de a-
cordo com a estrutura, isto é, os interstícios
da estrutura CCC são menores do que os da
estrutura CFC. Isto significa que de acordo
Fig. 1.3..3 - Representação da distribuição dos com o tamanho do interstício, um menor ou
átomos em um material policristalino (Van
maior espaço estará disponível para que um
Vlack)
átomo de uma solução intersticial venha se
colocar naquela posição. Como os átomos
1.3.1 Estrutura do ferro puro
que entram em solução são sempre maiores
1.3.1.1 Alotropia
do que os interstícios, cada átomo interstici-
Alotropia é a propriedade que têm
al produzirá uma certa quantidade de distor-
certos materiais de mudarem de estrutura
ção do reticulado cristalino e quanto menor
cristalina dependendo da temperatura em
for o interstício maior será a distorção. No
que estiverem. O ferro puro possui esta pro-
caso da estrutura CCC os raios atômicos
priedade, podendo ter os seus átomos orga-
máximos possíveis para que não haja distor-
nizados em uma estrutura CCC ou em uma
ção correspondem a 0,29R para os interstí-
estrutura CFC. Desde a temperatura ambien-
cios tetraédricos e 0,15R para os interstícios
te até 912 °C o ferro apresenta uma estrutura
octaédricos, onde R é o raio atômico do á-
cristalina CCC e nestas condições é chama-
tomo que forma a estrutura. Na estrutura
do de ferro α. De 912 °C até 1394 °C apre- CFC estes valores correspondem a 0,23R
senta estrutura CFC e é chamado de ferro γ. para os interstícios tetraédricos e 0,41R para
Finalmente de 1394 °C até o ponto de fusão os interstícios octaédricos.
a 1538 °C volta a apresentar estrutura CCC, No caso da liga ferro-carbono estes
sendo chamado de ferro δ. Estas alterações valores correspondem a 0,36 ângstrons e
na estrutura cristalina produzem uma série 0,19 ângstrons para a estrutura CCC, onde o
de implicações tanto nas transformações do raio atômico do ferro é 1,24 ângstrons, e
ferro puro quanto nas ligas de ferro. Por 0,29 ângstrons e 0,52 ângstrons para a estru-
exemplo, anteriormente foi citado que a es- tura CFC, onde o raio atômico do ferro é
trutura CCC tem um fator de empacotamen- 1,27 ângstrons. Como o raio atômico do
to de 0,68 enquanto que uma estrutura CFC carbono é de aproximadamente 0,77 ângs-
tem um fator de empacotamento 0,74. trons é fácil notar que em qualquer situação
Quando o ferro passa de CCC para CFC a tem-se uma distorção do reticulado sempre
912 °C, esta diferença no fator de empaco- que um átomo de carbono se colocar em um
tamento provoca uma redução no volume e interstício. Nas figuras 1.3.4 e 1.3.5 pode-se
um aumento na densidade. ver uma representação desta situação.

15
Quando se forma a solução ferro-carbono os
átomos de carbono irão se alojar nos inters-
tícios octaédricos, pois estes propiciam uma
melhor acomodação, o que implica em uma
menor energia de distorção.
Do acima exposto pode-se entender
facilmente que deverá haver uma menor
solubilidade do carbono no ferro α do que
no ferro γ. No caso do ferro α a solubilidade
máxima do carbono é de aproximadamente
0,025% em peso ou 0,1% em número de Fig. 1.3.6 – Representação de uma vista superior
átomos, na temperatura de 727 °C, enquanto do plano basal de uma estrutura hc.
que no ferro γ a solubilidade máxima é de
2,1% em peso ou 9% em número de átomos, Como pode ser observado, estão nu-
na temperatura de 1148 °C. merados os 6 interstícios existentes. Em uma
estrutura hc, os átomos estão posicionados
nos interstícios 1, 3 e 5, tanto no plano supe-
rior como no inferior. Já na estrutura cfc, os
átomos do plano superior estão localizados
nos interstícios 1,3 e 5, enquanto os átomos
do plano inferior estão localizados nos in-
terstícios 2, 4 e 6.
A figura 1.3.7 mostra as estrutura hc
(a) e cfc (b) em uma vista explodida.
Fig. 1.3.4 - Relação entre o tamanho do átomo
de carbono e o interstício octaédrico em uma
estrutura CCC (Van Vlack)

(a) (b)
Fig. 1.3.7 – Esquema de empilhamento das es-
Fig. 1.3.5 - Relação entre o tamanho do átomo trutura hc e cfc.
de carbono e o interstício octaédrico em uma
estrutura CFC (Van Vlack).
Nota-se que as linhas que passam pelos cen-
1.3.2 Empilhamentos tros dos átomos do plano superior passam
Como citado anteriormente, as estru- continuamente em três interstícios alterna-
turas cfc e hc possuem o mesmo fator de dos e chegam no centro dos átomos do plano
empacotamento de 0,74 e o mesmo número inferior. Isto denota uma seqüência de empi-
de coordenação. A diferença entre as duas lhamento do tipo A B / A B.... . Já na estru-
estruturas está no que se chama de seqüência tura cfc, em (b), nota-se que as linhas que
de empilhamento dos planos compactos. A partem do centro dos átomos superiores não
figura 1.3.6 mostra uma vista superior do é contínua até os átomos inferiores. Os áto-
plano basal de uma estrutura do sistema he- mos superiores estão localizados, por exem-
xagonal. plo, nos interstícios 1, 3 e 5, que são os in-

16
terstícios que as linhas chegam. Note que as onde :
linhas do centro dos átomos inferiores, che-
gam nos outros interstícios, ou seja, nos de λ é o comprimento de onda, d é a
número 2, 4 e 6. Isto denota uma seqüência distância interplanar e θ é o ângulo de inci-
de empilhamento do tipo A B C / A B C ... dência. O valor n representa o número de
Logo, a seqüência de empilhamento ondas que cabem na distância
define a principal diferença entre as estrutu- MH''P.
ras cfc e hc.
Nas estruturas hc podem ser defini-
dos quatro eixos cristalográficos, dos quais
três são coplanares e um quarto na direção
[0001] que é a direção em que a estrutura
está explodida na figura 1.3.7. Já na estrutu-
ra cfc, tem-se três direções e a estrutura está
explodida na direção [111] na figura 1.2.18.
1.2.7
Figura 1.4. - Difração de Raio X.

1.4 Difração de Raio X

Através da análise pôr Raio X as


estruturas de reticulado podem ser determi-
nadas experimentalmente, que também reve-
lam a estrutura cristalina.
Quando átomos espaçados regu-
larmente são atingidos pôr um feixe de raios
X, estes raios refletidos sofrem interferência,
ou seja quando um feixe de raio X é dirigido
através de um material cristalino, esses raios
são difratados pelos planos dos átomos ou
íons dentro do cristal. O ângulo de difração
depende do comprimento de onda dos raios
X e das distâncias entre os planos adjacen-
tes. Considerando os planos paralelos con-
forme pode ser visto na figura 1.4, vemos
onde as ondas são difratadas. As ondas po-
dem ser refletidas por um átomo em H ou
em H' e permanecem em fase no ponto K.
Entretanto, os raios X não são apenas refle-
tidos pelos planos da superfície mas também
pelos planos subsuperficiais. Para que estas
reflexões permaneçam em fase, a distância
MH''P deve ser igual a um múltiplo inteiro
do comprimento de onda dos raios. A lei que
governa o fenômeno é conhecida como lei
de Bragg.

nλ = 2dsenθ

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