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Artigo Pós
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RESUMO: Tem sido cada vez mais frequente a ocorrência de processos éticos na área de
Psicologia, sobretudo no contexto de Avaliação Psicológica. O crescente índice está
diretamente relacionado à ausência de compromisso por parte de alguns profissionais, com a
ética. A presente pesquisa aborda acerca de tais aspectos, envolvidos na prática profissional
do psicólogo, especialmente na área de Avaliação Psicológica, no que diz respeito à
importância de uma atuação pautada no cumprimento das devidas normas éticas que regem a
profissão. Objetiva-se compreender a importância da realização do exercício legal da
profissão, com enfoque na referida área e seus diversos contextos de atuação, apontando os
benefícios em todos os níveis de alcance, de uma conduta ética por parte do psicólogo, assim
como possíveis consequências negativas de uma postura inadequada no mercado de trabalho.
A pesquisa tem natureza básica e abordagem qualitativa, de caráter exploratório e descritivo,
com base em levantamento bibliográfico, através de livros, artigos e sites de divulgação
científica, utilizando-se o método científico indutivo. A pesquisa conclui que a ética deve
estar atrelada à práxis do profissional de psicologia desde a sua formação acadêmica,
acompanhando-o por toda a sua carreira. Como obrigação de todo psicólogo, o exercício ético
da profissão deve ser realizado individual e coletivamente, de modo que a categoria se una no
sentido de proteger a sociedade e a classe profissional daqueles que infrinjam os preceitos
éticos do fazer psicológico.
professional practice from their education, accompanying him throughout his career. As an
obligation of every psychologist, ethical practice must be performed individually and
collectively, so that category to join in the effort to protect society and the professional
category of those who violate the ethical principles of psychological work.
1 INTRODUÇÃO
2 ÉTICA E PSICOLOGIA
Fala-se muito em ética ao redor do mundo, porém este é um campo ainda marcado
pelo discurso do senso comum, que tende a relacionar a ética diretamente à moral do ser
humano, sem distingui-las. Contudo, faz-se necessário compreender sua real definição, para
então, poder exercer qualquer prática fundamentando-se em preceitos éticos. De acordo com
Rios (1995) apud Nascimento (2004, p. 195): “enquanto a moral é o conjunto de princípios
que norteiam a ação dos homens, chama-se ética a reflexão crítica sobre estes princípios”. De
posse de tal conceito, pode-se compreender que a moral relaciona-se ao cumprimento de
normas e costumes sociais estabelecidos culturalmente, enquanto a ética fundamenta tais
ações, de modo a definir os comportamentos adequados para o convívio em sociedade.
Segundo Skinner (1982), o desenvolvimento do comportamento ético é uma questão
de aprendizagem, porém, esta não se restringe às instituições de ensino formais, pois tal
repertório comportamental pode ser adquirido em diversos contextos, visto que ademais, trata-
se do respeito aos direitos de cada um. O autor expressa que a conduta ética advém das
construções sociais, provenientes de um consenso quanto aos princípios morais necessários
para o convívio coletivo.
De acordo com Bernardi (2010, p. 3): “[...] o significado de ética está
predominantemente construído, em nosso contexto educativo e também social, pela ideia de
dever”. A autora faz referência ao pensamento do filósofo alemão Immanuel Kant, quando
menciona o termo “dever”, que transmite a ideia de algo que possui rigidez e, portanto,
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obrigatoriedade em ser seguido. Em outras palavras, nesta perspectiva, a ética é tida como
sinônimo de compromisso e/ou obrigação.
A ética é um saber crucial em todos os campos de atuação profissional e quando
cumprida de forma adequada há benefícios tanto para quem pratica, quanto para quem recebe
os serviços oferecidos. Em quaisquer profissões encontra-se regras que delimitam a prática
profissional, reunidas conforme os princípios morais e éticos, formando o Código de Ética
Profissional, que é o instrumento normativo que regulamenta a atividade de determinado
profissional dentro da sua respectiva categoria, neste caso, do psicólogo (REIS, RODRIGUES
& MELO, 2010).
Segundo o Conselho Federal de Psicologia (2014), o Código de Ética Profissional do
psicólogo busca estimular a autorreflexão constante exigida de cada sujeito acerca da sua
prática, de modo a responsabilizá-lo, pessoal e coletivamente, por ações que são dinâmicas, e
suas decorrências no exercício profissional. Tanto que, a primeira missão do Código de Ética
Profissional não é de criar normas para a natureza técnica do trabalho, e, sim, a de garantir,
dentro de valores indispensáveis para a sociedade e para as ações desenvolvidas, um padrão
de conduta que fortaleça o reconhecimento da importância social daquela categoria.
A padronização citada anteriormente é também importante no sentido de proteger a
sociedade de profissionais que adotem condutas inadequadas dentro do mercado de trabalho,
distorcendo o real papel da ciência psicológica. À vista disso, constata-se a necessidade de
haver tal ferramenta, delineando as diretrizes que irão orientar os profissionais, assim como
penalizar aqueles que não venham a se enquadrar devidamente aos seus regimentos. Oliveira
& Camões (2002, p.2) destacam que: “[...] o Código de Ética será a condensação das
reflexões constantes do ser humano, como sujeito de mudanças, e por outro lado, a
cristalização de normas e condutas comportamentais do agir psicológico”.
O Código de Ética Profissional do psicólogo permite que este desempenhe suas
funções de maneira íntegra, tendo em vista a amplitude do seu campo de atuação e as diversas
possibilidades do seu exercício profissional. Tal amplitude torna o seu trabalho criterioso e
árduo, pois se faz necessário atentar para as implicações éticas existentes em cada contexto.
Bernardi (2010, p. 8) explicita acerca dos desafios enfrentados pelo psicólogo em seu
campo de trabalho:
É a realidade que se apresenta que nos desafia: são as pessoas com suas narrativas,
seus problemas; é a realidade social com suas contradições e crueza que nos afronta
e nos exige posicionamentos e intervenções, laudos, pareceres e projetos de trabalho
nas áreas da saúde, da educação, jurídica, do esporte, comunitária e em tantos outros
espaços que estão surgindo como locais possíveis de intervenção do psicólogo.
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Quantos lugares, quantas áreas hoje estão abertas aos psicólogos e o quanto essas
mesmas possibilidades também trouxeram desestabilidade à profissão?
semelhante, à sua dor e às obrigações de causar o menor dano possível com a nossa
intervenção (MACHADO & SOUZA, 2000).
Anache & Reppold (2010) esclarecem que, as diversas formas de planejar e executar
uma avaliação psicológica trazem consigo a compreensão que o psicólogo avaliador tem
sobre o ser humano, a ciência, a sociedade e a Psicologia. Essas concepções possuem um
impacto significativo na vida das pessoas, uma vez que amplia ou mesmo restringe
possibilidades, desmistifica ou mistifica, abrindo ou delimitando o campo de ação de seus
usuários, tudo irá depender das ações adotadas pelo profissional de psicologia.
Faz-se necessário compreender que o raciocínio adotado pelo psicólogo na condução
de uma avaliação é, por natureza, imbuído de um conjunto de normas, valores, crenças,
conhecimentos, permeados de racionalidade e afetos, que se transformam em consonância
com as mudanças ocorridas na sociedade. Assim, os aspectos éticos e estéticos da prática
deste profissional, não podem ser avaliados senão por comportamentos, os quais incluem as
trocas realizadas entre os indivíduos.
Desta forma, compreende-se que a avaliação psicológica não é um processo simples, e
nunca é isenta de consequências que podem ser muito sérias, tanto para os usuários dos
serviços oferecidos quanto para a classe profissional. Hutz (2002, p.7) afirma, acerca da
necessidade de profissionais capacitados, atuantes na área:
Independente do local onde o psicólogo atue e dos objetivos de sua avaliação, não é
possível a prática de aplicações e correções de testes sem a consciência e compreensão
necessárias acerca da complexidade deste trabalho. É visando nortear esse trabalho realizado
na avaliação psicológica, que o Código de Ética Profissional permite perceber a infinidade de
cuidados e preocupações que devem ter enquanto profissionais que buscam, principalmente e
acima de tudo, o respeito e a “construção” daquele que os procura para se submeter a um
processo de Avaliação Psicológica (MACHADO & SOUZA, 2000).
É necessário atentar para as tomadas de decisão enquanto profissional, de modo a
determinar cautelosamente as ações que irá realizar durante o processo, evitando infringir o
Código de Ética Profissional e acima de tudo, evitando causar quaisquer danos ao avaliando.
Oliveira & Camões (2002, p.5) acerca da obrigação moral e ética do psicólogo, concluem:
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“[...] o profissional precisa ter consciência do poder e da influência que ele exerce sobre a
vida do cliente, seja casal, família, grupo, instituição, comunidade [...] uma dessas
manifestações de poder é a forma como utiliza o diagnóstico”.
O processo da Avaliação Psicológica, independente da área em que é realizado e do
seu propósito, é rico em termos de conteúdos capazes de ser levantados após a integração de
todos os dados obtidos, porém, para a obtenção de um resultado fidedigno, é imprescindível
que a avaliação siga todos os padrões necessários para a sua realização, e segui-los constitui
uma conduta ética. Hutz (2002, p.7) pontua:
infração ética. Qualificado, até esse momento, como um processo disciplinar, que é dirigido
ao Plenário do CRP para decisão, podendo ser objeto de arquivamento (e recurso) ou de
instauração de processo ético.
No campo da Avaliação Psicológica não raro surgem novos processos éticos a serem
julgados pelo Conselho Federal de Psicologia, por conta da inadequação das condutas por
parte de alguns psicólogos. Tais processos têm sido mais frequentes no que tange ao uso
inadequado de técnicas, encaminhamentos incoerentes, a falta de respaldo teórico em laudos e
a elaboração inadequada de outros documentos, e tudo isso acontece porque muitos não
seguem os critérios necessários para a sua apresentação às partes interessadas. Há também
ocorrências de infrações éticas relacionadas à quebra de sigilo profissional, no que tange à
apresentação de documentos (laudos, pareceres, etc.) à terceiros (ANACHE & REPPOLD,
2010).
Na pesquisa realizada por Frizzo (2004), a autora menciona sobre as principais faltas
éticas cometidas pelos profissionais da psicologia inscritos no Conselho Regional 08 no
período de 1994 a 2003 e verificou-se que a maioria (46,15%) das infrações denunciadas ao
Conselho faz referência ao exercício da Avaliação Psicológica (conforme tabela 1). Avaliação
esta que na maior parte das vezes requer apresentação de laudos, pareceres ou outros
documentos oficiais, o que facilita muito para a formalização da denúncia, ao contrário de
outras atividades profissionais.
Tabela 1:
profissionais, ao realizar tal função. Esse quadro reforça a ideia citada anteriormente, que para
realizar uma avaliação não é necessário apenas saber aplicar instrumentos e corrigi-los com
base em seus manuais. É imprescindível saber discernir as informações encontradas, assim
como uni-las aos dados colhidos durante as entrevistas, para compreender adequadamente os
resultados. Tal habilidade requer conhecimento teórico e técnico, assim como experiência na
área de trabalho.
Sendo importante relatar que essa maior incidência de processos éticos ligados à
atividade de avaliação psicológica deve-se ao fato de que esse serviço oferecido tem forte
influência em situações que podem impactar a vida das pessoas que são avaliadas, como a
seleção em empresas privadas, concursos públicos, manutenção de pátrio poder, guarda de
menores, habilitação para condução de veículos automotores, etc. Em decorrência disso,
frequentemente os candidatos entram com recursos contra os psicólogos avaliadores, pois eles
se veem prejudicados pela não aprovação ou por qualquer resultado apresentado na avaliação
(ANACHE & REPPOLD, 2010).
Observa-se deste modo que, os documentos elaborados pelos psicólogos possuem
extrema responsabilidade, pois tratam-se de instrumentos que podem determinar grandes
transformações na vida dos indivíduos, gerando sérias consequências. Outro frequente
gerador de denúncias é o uso de instrumentos de avaliação sem a devida validação, ou sem
levar em consideração as instruções de aplicação, correção e interpretação contidas em seu
manual. Segundo Almeida, Prieto, Muñiz e Bartram (1998) apud Noronha (2002, p.136):
Os problemas mais frequentes na prática dos testes são: xerocar material de testes;
usar testes inadequados para algumas situações; não estar em sintonia com as
modificações da área; avaliações incorretas; não usar folhas de respostas
padronizadas; não ter clareza das limitações dos instrumentos, quanto às normas;
aplicação de testes por leigos; não adaptar os instrumentos para os determinados
países ou regiões; não arquivar os instrumentos e não dar o devido seguimento aos
estudos dos testes e fazer interpretações que extrapolam o instrumento.
Tais condutas, assim como outras mais, podem acarretar consequências negativas e
desastrosas tanto para o sujeito avaliado, quanto para o profissional responsável pela
avaliação. É visando evitar esse tipo de situação que o Código de Ética Profissional
regulamenta a atuação do psicólogo, e a sua violação noticia a crença de que este não atuou de
acordo com os princípios e as normatizações de sua profissão.
Diante dessas situações apontadas, identifica-se a existência ainda da falta de preparo
por parte de muitos profissionais de psicologia, o que assinala a necessidade de uma formação
contínua, tendo em vista os avanços teóricos e técnicos no ramo da ciência psicológica. Além
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de tudo o que foi exposto, verificou-se que o Código de Ética Profissional tem
um papel fundamental na atuação do psicólogo, seja este de quaisquer área da Psicologia.
Porém, o seu trabalho não deve ser pautado apenas no cumprimento do Código de Ética.
Realizar um trabalho ético significa também possuir empatia pelo outro, possuir a capacidade
de colocar-se no lugar do outro e compreender a existência da sua subjetividade. O psicólogo
realiza um ofício de extrema responsabilidade, por lidar com o universo particular de cada ser
humano e suas idiossincrasias, portanto, exige que se utilize também de seus próprios recursos
éticos e morais, respeitando a individualidade de cada um.
Outro ponto fundamental observado através da pesquisa, é a necessidade de um maior
comprometimento por parte dos profissionais da categoria, de modo a atuar buscando o
desenvolvimento da Psicologia e defendendo os objetivos da mesma. A forma pela qual isto
pode ser feito, é através do engajamento dos psicólogos, atuando como um agente
transformador, não se omitindo ao presenciar o exercício ilegal da profissão. Infrações que
venham a ser observadas, devem ser devidamente denunciadas ao Conselho. Desse modo, o
profissional defende não apenas a própria classe, mas principalmente a sociedade, daqueles
que transgridem os preceitos éticos.
Uma formação de qualidade tem a capacidade de conscientizar os acadêmicos da área
de Psicologia, acerca da importância da ética para o exercício da sua profissão em todas as
áreas de atuação, e este ponto é fundamental para prevenir a ocorrência de novas infrações e
processos éticos, modificando o cenário atual.
A área de Avaliação Psicológica ainda sofre preconceitos dentro da própria Psicologia,
e isso se deve a um histórico marcado por uma prática realizada sem a devida qualificação,
que vem gerando consequências um tanto desastrosas na sociedade. Essa realidade pode ser
modificada com um maior investimento a nível de conhecimento teórico e prático,
qualificação e capacitação por parte dos profissionais. Somente dessa forma a Avaliação
Psicológica obterá seu espaço, minimizando os preconceitos com relação à referida área.
Por fim, observa-se também a necessidade de uma atuação mais rígida, por parte do
Conselho, no que concerne à fiscalização do exercício da profissão, assim como maior
efetividade quanto aos processos que já se encontram em tramitação, de modo a demonstrar a
sua eficácia enquanto instância protetora e reguladora da categoria.
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REFERÊNCIAS