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A ESTABILIDADE PROVISÓRIA COMO IMPORTANTE

INSTRUMENTO PARA EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS

ANTÔNIO EDSON LINO GOMES


DENISE ELLEN SIEBRA PIRES1
MÁRIO SOARES DE ARAÚJO NETO

Resumo: o presente trabalho objetiva fazer uma análise do ordenamento jurídico brasileiro quanto a
estabilidade provisória garantida àqueles que exerçam a representação de trabalhadores. A estabilidade
provisória é uma medida de proteção – a partir do preenchimento das condições legais- para que os
representantes de trabalhadores, ou aqueles sob condição especial, não sofram despedidas arbitrárias. Tal
garantia foi tratada na Convenção 135 da OIT, ratificada pelo Brasil em meados dos anos noventa. A
Constituição Federal e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) garantem essa proteção aos trabalhadores,
que por condições especiais, não podem ser despedidos, salvo, apuração de falta grave, caso em que constatada,
levará a demissão.
Palavras-chave: Estabilidade. Despedida. Falta grave. Dirigente sindical.

INTRODUÇÃO

É de suma importância a proteção jurídica dada ao pleno emprego contra a dispensa


arbitrária, pois garante a valorização do trabalho em suas duas vertentes: a oferta de trabalho
e a continuidade da relação trabalhista. De pouco ou nada adianta dar ao acesso ao emprego,
mas não mantê-lo. Em contrapartida, um país que não flexibiliza sua legislação para tornar o
trabalho mais estável, em algumas situações, está desvalorizando e precarizando a mão de
obra e o desemprego é uma consequência natural que os trabalhadores podem vir a sofrer.
A convenção 135 da OIT foi uma das precursoras no que tange a estabilidade
provisória conforme podemos extrair do seu artigo 1°:

Os representantes dos trabalhadores na empresa devem ser beneficiados com


uma proteção eficiente contra quaisquer medidas que poderiam vir a prejudicá-
los, inclusive o licenciamento, e que seriam motivadas por sua qualidade ou
suas atividades como representantes dos trabalhadores, sua filiação sindical, ou

1 Faculdade Luciano Feijão- Curso Direito. E-mail: denisesiebra95@gmail.com


participação em atividades sindicais, conquanto ajam de acordo com as leis,
convenções coletivas ou outros arranjos convencionais vigorando. (Grifo nosso).
O referido dispositivo traz uma proteção contra práticas antissindicais ou outra
qualidade como representante de trabalhadores, que ficam protegidos até finda a atividade.
É o caso, por exemplo, do dirigente sindical, conforme explica (Delgado 2014, p. 1410): “A
restrição é significativa: somente por meio de falta grave do obreiro (resolução contratual),
apurada em ação judicial de inquérito, é que se poderá consumar-se a extinção contratual do
sindicalista”. Ou seja, o Dirigente é um dos casos mais exponenciais de estabilidade, esta é
garantida desde o registro da candidatura, e caso ganhe a eleição, durante todo o período do
exercício do cargo, até um ano após o mandato. A demissão deste só poderá se efetivar caso
haja verificação de falta grave por meio de um inquérito judicial.
A citação de Delgado se consubstancia no artigo 494 da CLT o qual diz que a
despedida só será efetiva caso o empregador impetre uma ação judicial para apuração de falta
grave. Há empregados em que se faz obrigatória a abertura do inquérito Judicial para que
haja demissão. O Dirigente Sindical é o cargo mais citado quando se é falado sobre isso.
Todavia não é o único que possui essa benesse. O dirigente de cooperativa (art.55 da lei
5.764/71), membros eleitos pelos empregados de comissão de conciliação prévia, (art.625-B
da CLT) são mais alguns exemplos dos necessitam de inquérito para apuração de falta grave.
Caso seja julgada improcedente a ação de apuração de falta grave o empregado deve ser
readmitido no emprego e poderá pleitear até uma indenização.
Nosso trabalho objetiva entender a importância da estabilidade provisória no Direito
do Trabalho Brasileiro e como um desdobramento da dignidade da pessoa humana e na
efetivação de do princípio da continuidade da relação trabalhista.

METODOLOGIA

Em nosso trabalho, foi possível chegar ao objetivo desejado por meio da pesquisa
bibliográfica, a partir de um estudo analítico de obras jurídicas, artigos científicos, legislação
pertinente, sites e jornais. Compilamos um arcabouço teórico, legal e principiológico e
condessamos no presente trabalho.
RESULTADOS E DISCUSSÕES

A ESTABILIDADE PROVISÓRIA: CONCEITO, SURGIMENTO E ENTRAVES

Segundo Delgado (2014), a estabilidade provisória é definida como:

Vantagem jurídica de caráter transitório deferida ao empregado em virtude de


uma circunstância contratual ou pessoal obreira de caráter especial, de modo a
assegurar a manutenção do vínculo empregatício por um lapso temporal definido,
independentemente da vontade do empregador.
A primeira estabilidade incorporada no Direito do Trabalho Brasileiro foi prevista no
artigo 492 da CLT, que ficou conhecida como estabilidade decenal. Trata-se de uma espécie
de estabilidade que é concedida ao empregado que trabalha por dez anos para o mesmo
empregador. Posteriormente outros tipos de estabilidades foram contempladas pela
legislação: como a do dirigente sindical, a do dirigente de cooperativa, a da gestante, a do
acidentário de trabalho, que serão analisadas posteriormente.
A garantia de emprego serve para que o empregado não seja demitido
arbitrariamente. A estabilidade só restará prejudicada, caso provado falta grave. Inexistindo
falta grave o empregado não poderá ser demitido, e caso isso se proceda, o mesmo poderá
ajuizar uma ação no órgão trabalhista competente para que seja indenizado quantos aos dias
em que esteve suspenso das atividades laborais e pedir a reintegração ao emprego e
indenização compensatória ao pagamento do salário pendente. Pode ser que o empregado
não tenha mais interesse na reintegração ao serviço, se a demissão tiver se dado por motivo
de preconceito ou motivo semelhante que devastou os laços emocionais do empregado na
empresa, nesse caso ele poderá optar pelo pagamento de indenização.
Devemos frisar que nosso trabalho tem por objetivo o estudo da estabilidade
provisória na relação trabalhista do setor privado, tendo em vista que para o serviço público,
em regra, não há incidência da CLT, e a estabilidade provisória atinge somente aos
empregados celetistas.
A ESTABILIDADE PROVISÓRIA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, NA
LEGISLAÇÃO E NAS SÚMULAS

A estabilidade provisória tem previsão constitucional, legal e em súmulas do TST.


Algumas funções, devido as particularidades, autorizam essa medida como é o caso do
dirigente sindical- a Constituição Federal assegura estabilidade a sete dirigentes sindicais e
igual número de suplentes, totalizando quatorze membros que podem gozar da garantia. Já
o artigo 543 § 3º da CLT formaliza a estabilidade legal do dirigente. com previsão na súmula
369, I do TST, que assegura a estabilidade desde do registro da candidatura até um ano após
o mandato, caso eleito, mesmo que como suplente. Além desse há o exercente de cargo de
direção na CIPA (artigo 10, inciso II, alínea A do ADCT da CF), cuja estabilidade é
semelhante a do dirigente sindical, a empregada gestante (artigo 10, inciso II, alínea b, do
ADCT da CF), que se prolonga do início da gravidez até cinco meses após o parto. Por
acidente de trabalho, que é a estabilidade a que o segurado tem direito no caso de sofrer
acidente de trabalho que se prolonga por doze meses após a cessação do auxílio doença
acidentário (art. 118 da lei 8.213//91). Os membros da comissão de conciliação prévia
também são assegurados com estabilidade de até um ano após o término do exercício do
cargo. Do mesmo modo, membro curador do FGTS, Consoante art. 3º, parágrafo 9º da Lei
8.036/90, assim como os membros do Conselho Nacional da Previdência Social e os
Empregados eleitos diretores de sociedade cooperativa. Há ainda as estabilidades previstas
em lei ou convenções coletivas como a garantia de emprego quando se está em via de
aposentadoria e no período do aviso prévio trabalhado.

Existem algumas formas do empregado perder a estabilidade, além do cometimento


de falta grave, como quando ele pede demissão - artigo 500 da CLT- por motivo de força
maior, por aposentadoria ou por morte do empregado.

CONCLUSÃO

Com a revolução industrial houve um favorecimento a demissões em massa,


principalmente devido o apogeu do maquinário em relação à mão de obra humana. E com
isso as relações de trabalho se tornaram líquidas, o que obriga muitas vezes ao empregado
realizar esforços além do que está previsto para se manter no empregado. E com isso surgiu
os sindicatos e os representantes de empregados nas empresas para que houvesse um
equilíbrio na relação de emprego. O Direito do Trabalho promoveu algumas modificações
na relação de trabalho privada de modo a favorecer o polo hipossuficiente da relação: o
empregado.
Diante disso, a estabilidade provisória emerge para os representantes de empregados,
que são aqueles que estão em constante conflito com os empregadores e são os que mais
correm riscos de sofrerem uma demissão, de modo a protegê-los de despedidas arbitrárias.
Quando a legislação pertinente prevê estabilidade para representantes de trabalhadores está
se protegendo o emprego, um dos bens mais preciosos do ser humano, tendo em vista que
garante a sua dignidade e sua subsistência, já que dele provem o salário - de natureza
alimentícia.
A estabilidade provisória foi uma grande conquista dos empregados na relação de
emprego, apesar de todos os percalços e de todas as limitações a que este direito está
permeado, é um direito a ser respeitado pelos patrões sob pena de sobre eles recaírem ações
trabalhistas.
A finalidade da estabilidade é não deixar o empregado, que luta em prol dos seus
semelhantes por melhores condições de trabalho, desamparado no âmbito laboral. Não é
do interesse do empregador manter um empregado sindicalista e que está, a todo tempo, a
litigar em busca de melhorias salariais e laborais. Todavia, é dever do legislador proteger esses
empregado nas suas atividades laborais, tendo em vista que o pleno emprego abrange não
somente a oferta, mas também a continuidade na relação trabalhista. Deve-se levar em
considerar que os interesses econômicos do patrão não devem se sobrepor a busca por
melhores condições trabalhistas do empregado.
Por fim, podemos afirmar que a estabilidade provisória no Brasil muito evoluiu ao
longo do tempo garantindo a alguns empregados a permanência no emprego mesmo sob a
não anuência do empregador. É de fato uma grande conquista trabalhista, mas que precisa
estar sob constante vigília para que seja efetivada.
REFERÊNCIAS

AZUMA, João Carlos; MARTIGNAGO, Gisella et al. Provisórias- Revista Jus Navigandi, Teresina, ano
18, n. 3776, 2 nov. 2013. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/25689>. Acesso em: 19. 05.17.

BRASIL.Constituição Federal de 1988. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em 20.05.17.

BRASIL. Decreto-lei 5452- Consolidação das Leis Trabalhistas. Disponível em


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm > Acesso em 21.05.17.

Cairo Junior, José. Curso de Direito do Trabalho. 10. ed. Salvador: juspodivm, 2015.

Convenção 135 da OIT. Disponível em <http://www.oitbrasil.org.br> Acesso em: 20.05.17

Delgado, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr, 2015

VIEIRA, Fernando Borges. Estabilidade da gestante é provisória e não absoluta. Disponível em <
http://www.conjur.com.br/2013-fev-21/fernando-borges-vieira-estabilidade-gestante-nao-absoluta > Acesso
em 20.05.17

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