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16/12/2020 Benjamin Teitelbaum: “Destruição é a agenda do Tradicionalismo”, a ideologia por trás de Bolsonaro e Trump | Atualidade | EL PAÍS Br…
LETÍCIA DUARTE
Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, a escalada populista com flerte
autoritário dos Governos de Jair Bolsonaro e Donald Trump suscita
comparações com o fascismo. Mas para o pesquisador da extrema direita e
etnógrafo norte-americano Benjamin Teitelbaum, autor do livro Guerra pela
eternidade (Editora da Unicamp, War for eternity: inside Bannon’s far-right Vitória de Biden
circle ―no título original, em inglês), a cruzada em curso contra valores nos EUA deixa
Brasil isolado no
modernos e democráticos nos dois países pode ser melhor compreendida a Ocidente
partir de uma outra doutrina menos conhecida, o Tradicionalismo (com ‘T’
maiúsculo, para diferenciá-lo do conservadorismo tradicional). Não que a
alternativa seja melhor, o autor se apressa em esclarecer.
Os racistas logo
Nesta entrevista concedida por vídeochamada ao EL PAÍS, o professor de
ali
Assuntos Internacionais e Etnomusicologia da Universidade do Colorado
(EUA) explica por que ele considera esta ideologia mais radical em suas
concepções antimodernistas do que o próprio fascismo. “Há um elemento de destruição no
Tradicionalismo que não necessariamente existe no fascismo”, alerta. Mesmo após a derrota
de Trump e a prisão de Bannon (sob acusação de desvio de recursos para a construção do
muro entre os EUA e o México), o autor avalia que as forças que eles representam continuarão
vivas —e testando as instituições democráticas. Também examina como o Tradicionalismo
legitima desde o racismo até a propagação de teorias conspiratórias em relação à pandemia do
coronavírus.
Pergunta Seu livro descreve como o Tradicionalismo que até pouco tempo era considerada
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Pergunta. Seu livro descreve como o Tradicionalismo, que até pouco tempo era considerada
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uma doutrina marginal dentro da própria extrema direita, alcançou influência global. Para
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quem ainda não leu o livro, como o senhor sintetizaria essa doutrina?
R. Vou começar pelo fim. A grande consequência é que o Tradicionalismo acrescenta uma
motivação espiritual para o que poderia ser simplesmente uma agenda política do populismo
de direita, antiglobalista, antiprogressista. As pessoas podem aderir a isso por diferentes
razões, como ressentimento econômico, racismo, antifeminismo… Mas o Tradicionalismo
oferece uma motivação religiosa. E esse é um elemento importante. No caso de Olavo de
Carvalho, por exemplo, ele não expressa apenas um ódio às elites, desprezo à ciência, à mídia,
às universidades. Existe também a visão, um certo mandato espiritual, com o desejo de
destruir grandes organizações, como a União Europeia, as Nações Unidas. A seus olhos, a
destruição é uma coisa boa. Isso é assustador e preocupante. Os tradicionalistas acham que
essas grandes organizações querem unificar e homogeneizar o mundo com o comunismo, ou
com dominação chinesa. Então Olavo quer ver o establishment no Brasil ser quebrado em
peças e fraturado: sejam os militares, a universidade, a mídia. Destruição é a agenda.
O que me surpreendeu é que não sei por que isso aconteceu agora. Olavo, Bannon e Dugin são
bem diferentes. Não conseguem trabalhar juntos, não é um círculo funcional. Mas o estranho é
que essas ideias extremas acabaram vindo à tona basicamente no mesmo momento, e não
pelas mãos de Bolsonaro Trump e Putin mas pelas mãos das figuras atrás deles como uma
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pelas mãos de Bolsonaro, Trump, e Putin, mas pelas mãos das figuras atrás deles, como uma
espécie de Rasputin... os conselheiros místicos, BRASIL
influentes. ASSINE FAÇA LOGIN
P. Desde a publicação do livro nos Estados Unidos, no início deste ano, o cenário político
mudou. Bannon foi para a prisão e Trump perdeu as eleições. Como você interpreta essas
mudanças?
R. Eu sinto quase como se isso pudesse liberar a verdadeira mensagem do livro, porque o real
sujeito do livro não são as ações de Bannon, Olavo e Dugin. É a história mais ampla por trás
disso, para entender por que em lugares diferentes, com trajetórias independentes, vimos essa
ideologia aparecer. A história não é sobre a ação de indivíduos. É sobre o que está por trás
disso tudo, porque nos encontramos em um momento em que as pessoas estão buscando
ideologias que parecem destoar tanto do padrão. E essa ideologia não é o comunismo, não é
liberalismo, não é fascismo. O Tradicionalismo é tão fora do mapa que nenhum cientista
político, nenhuma think tank em Washington, ninguém no Congresso e nenhum candidato à
presidência jamais ouviu falar dele. E esse movimento ainda assim se sustenta. Há tanto
desencanto, tanta frustração com o status quo, que nós vemos atores buscando alternativas
radicais.
P. Vários pesquisadores vêm definindo essa guinada populista de direita que estamos vivendo
em países como Brasil e Estados Unidos como uma retomada do fascismo. Você discorda,
então?
R. Eu discordo, e isso não é pra dizer que eu acho que é melhor. Essa definição é errada, e há
um certo nível de falta de interesse e rigor que leva a essa caracterização como fascismo. Mas
o único jeito de compreender essa ideologia é levá-la a sério e ouvir o que ela realmente diz, em
vez de olhar apenas a fachada. O Tradicionalismo é anti-progressista num nível que raramente
vemos. Muitas pessoas costumam chamar a si mesmas de conservadoras, mas quase todo
mundo no campo conservador é basicamente progressista no mundo ocidental. Elas acreditam
que, se você reduzir as regulações governamentais do capitalismo e aumentar a liberdade
individual sobre a propriedade, você pode criar uma sociedade melhor. Eles não são
nostálgicos. O Tradicionalismo vai na direção diametralmente oposta. Eles não acreditam que é
possível mudar ou melhorar a história, acham que é preciso desfazer todo o mal feito para as
nossas sociedades, e isso não significa voltar apenas décadas para trás, mas séculos.
P. Você descreve no livro que certos autores tradicionalistas, como o italiano Julius Evola,
colaboraram com o fascismo e com o nazismo. Qual o marco dessa separação ideológica?
R. No caso de Bolsonaro, isso parece se justificar por uma oposição ao comunismo. Mas, para
Bannon e Ernesto Araújo, há uma questão mais específica: o fato de a China ser secular,
antirreligião, e ao mesmo tempo massificante, globalizante, por estar eliminando fronteiras.
Isso é um problema para os nacionalistas. Não por acaso, Araújo escreveu em seu blog meses
atrás que o maior problema não era o fato de a China ser um país contra o capitalismo, mas por
ser contra o espírito Então para os tradicionalistas a China não é uma vilã apenas pela
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ser contra o espírito. Então, para os tradicionalistas, a China não é uma vilã apenas pela
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questão econômica, mas é um demônio metafísico. ASSINE FAÇA LOGIN
Jair Bolsonaro ao lado do ideólogo de extrema direita Olavo de Carvalho e do chanceler Ernesto Araújo, em meados de
2019. ALAN SANTOS / AFP
R. Olavo disse que eu era um mentiroso, mas ele nunca respondeu quando eu enviei para ele
um capítulo do livro antes da publicação. Os documentos que reuni mostram basicamente que
Olavo se converteu ao islã, era chamado de Sidi Muhammad. E eu acredito que ele ainda seja,
de acordo com algumas tradições religiosas.
P. Você disse que Olavo foi o “pior” dos seus entrevistados, o que reagiu de forma mais furiosa
à publicação do livro. Por que você acha que Olavo teve a pior reação?
R. Eu acho que há duas coisas: primeiro, que ele ficou um pouco envergonhado de eu expor sua
ligação com a tariqa do Schuon [Frithjof Schuon, herdeiro intelectual de Guénon], porque isso
contradiz a imagem que ele projeta hoje, de um cristão zeloso. E ele fala e escreve melhor
baseado em uma posição de vitimização. É mais fácil me chamar de mentiroso, em vez de ter
revisado os materiais que eu havia mandado para ele com antecedência. E há uma questão de
personalidade. Eu não quero fazer uma psicanálise, mas nenhum dos outros personagens
pareceu tão desapontado.
P. Quando eu entrevistei Olavo, ele me disse que não tinha projeto para a sociedade, que ele só
sabia o que ele era contra, não o que era a favor. Isso parece reforçar essa lógica tradicionalista
de destruição.
R. Interessante você mencionar isso, porque uma das coisas mais perspicazes que o Olavo me
disse durante sua entrevista foi uma frase sobre o tradicionalista René Guénon. Ele disse que
Guénon estava certo em tudo o que ele rejeitava e errado sobre tudo o que ele apoiava. E, de
certa forma, senti quase como se o Olavo estivesse falando de si mesmo quando estava
falando isso. Ele pode criticar , mas não há meta alguma. Não há muito o que construir, é tudo
sobre destruição. E se você pensar historicamente, a crítica é muito fácil. A construção de algo
é que é difícil. Olhando para o pensamento conservador, a crítica que fazem ao marxismo é
justamente o fato de Marx criticar tanto o capitalismo e não conseguir imaginar muito o que
colocar no seu lugar.
R Eu não sei quantas pessoas vão se identificar como tradicionalistas O que eu sei é que
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R. Eu não sei quantas pessoas vão se identificar como tradicionalistas. O que eu sei é que
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muitos republicanos bem posicionados, trabalhando para organizações nacionais,
ASSINE estão
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R. Trump perdeu, mas ele continua sendo incrivelmente popular entre a direita. Não há nada
parecido, nenhum republicano jamais recebeu tantos votos nos Estados Unidos. E além disso
os republicanos ainda foram muito bem nas votações do Senado, no Congresso. Eles têm uma
penetração crescente entre grupos minoritários e pessoas sem diploma. Tenho entrevistado
muitos jovens republicanos e eles seguem a cartilha de Trump. Eles acreditam que Trump
mostrou que, se conseguirem combinar políticas econômicas liberais com políticas sociais
conservadoras, eles podem vencer os democratas. Isso deve manter a ideologia trumpista viva.
P. E como o senhor vê as perspectivas para Bolsonaro, um dos maiores aliados de Trump, após
a vitória de Biden?
R. Bolsonaro tem um problema real, não vejo o mesmo potencial para ele. Me parece que ele se
antecipou ao se aliar aos Estados Unidos e virar as costas para a China. Agora que os Estados
Unidos subitamente se transformaram e não o querem mais como parceiro, quem serão os
amigos de Bolsonaro? Acho que o que salva Bolsonaro é que nem todos os seus subordinados
no setor público levam tão a sério suas ameaças à China e seguem fazendo seu trabalho para
manter as relações. Se tudo o que ele diz fosse levado à risca, o Brasil estaria realmente em
apuros.
Antes também tínhamos Bannon que fazia uma boa interlocução com o governo Bolsonaro
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Antes também tínhamos Bannon, que fazia uma boa interlocução com o governo Bolsonaro.
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Havia um círculo, formado por Araújo, Bannon, Olavo, o embaixador brasileiro,
ASSINE e Gerald Brant.
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Steve Bannon, ex-estrategista, ao deixar a Corte Federal de Manhattan, em 20 de agosto, após ser acusado de fraude e
conspiração. ANDREW KELLY / REUTERS
assim que tomaram o poder queriam transformar sua imagem Então havia uma história ali a
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assim que tomaram o poder, queriam transformar sua imagem. Então havia uma história ali, a
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história de como estavam tentando reconstruir sua imagem não pela política,
ASSINEmas pela música.
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Esse foi o começo, há mais de uma década. O interessante é que quando eu dizia para as
pessoas que era um pesquisador de música, as pessoas falavam comigo. Se eu dissesse que
era jornalista, historiador, ou cientista político, certamente ficariam mais desconfiados. Quando
você chega perguntando sobre sua agenda política, eles se assustam. Mas se você chega
perguntando que tipo de música eles mais gostam, eles se abrem.
P. Uma pergunta que ouço com frequência é por que devemos estudar pessoas como Olavo de
Carvalho, ou Bannon. Há quem diga que são malucos, radicais, e que ao escrever sobre eles
estaríamos dando plataforma. Por que, na sua opinião, é importante estudá-los?
ARQUIVADO EM:
Brasil Jair Bolsonaro Governo Brasil América Governo Presidente Brasil Presidência Brasil
Donald Trump Olavo De Carvalho Joseph Biden Extrema Direita Fascismo Ideologias
Õ
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Médico Alerta: Pare com É assim que você pode fazê- Médico Brasileiro:
Analgésicos! Se sente dores la feliz na cama Sonolência Durante o Dia é
na coluna faça isso em casa Sinal de Alerta
(Assista)
DR. WILSON GARVES - DR. JULIO BENEVIDES DR. RAFAEL FREITAS - MEDICINA
ESPECIALISTA EM DOR NATURAL
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