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VARIABILIDADE DA

COMPOSIÇÃO QUÍMICA
Profª DAYSE CASSIANO
Farmacêutica Bioquímica Clínica
Fitoterapeuta e Aromaterapeuta
Msc e Dr em Biotecnologia
PORQUE AS PLANTAS PRODUZEM METABÓLITOS
SECUNDÁRIOS

 Os metabólitos secundários são fundamentais à adaptação da


planta ao meio ambiente
 Torna vida da planta mais fácil
 É uma resposta adaptativa ao meio no qual está inserida
 Os óleos essenciais são uma resposta química às contínuas
interações da planta com o reino animal, com o clima e com
outras plantas
FUNÇÕES DOS ÓLEOS ESSENCIAIS PARA AS PLANTAS
 Defesa contra microorganismos
 Evitar a perda de água
 Comunicação e troca de informações
 Inibidores da germinação
 Atrair polinizadores
 Proteger da radiação UV
 Proteção contra herbivoria e predadores
 Proteção contra temperaturas baixas (-40º C em Florestas de
Coníferas)
ARMAZENAMENTO DOS ÓLEOS ESSENCIAIS
 FOLHAS (Eucalipto, Melaleuca, Hortelã, Alecrim)
 TRONCO (Sândalo)
 RESINA DO TRONCO (Copaíba, Olíbano, Breu)
 CASCA (Canela)
 RAIZ (Vetiver) A composição do óleo essencial pode
 RIZOMA (Gengibre) variar de acordo com sua localização

 FLORES (Gerânio, Camomila, Lavanda) Ex: óleo essencial de canela


casca: rico em aldeído cinâmico
 PERICARPO DO FRUTO (Laranja, Limão) Folhas: eugenol
 FRUTO (Anis estrelado , Funcho) Raízes: cânfora

 SEMENTES (Noz moscada)


ESTRUTURAS DE ARMAZENAMENTO
 Tricomas glandulares, Células oleosas, Dutos e cavidades secretoras e
canais oleíferos encontradas no tecido da planta.
https://brasilescola.uol.com.br/biologia/tricomas.htm

http://cbv.fc.ul.pt/PAM/pdfsLivro/LiaAscensao.pdf
MÉTODOS DE EXTRAÇÃO DOS ÓLEOS ESSENCIAIS

 Maceração (oleato) – método antigo


 Destilação por arraste a vapor
 Hidrodestilação
 Prensagem a frio
 Extração por solventes orgânicos
 Extração por fluido supercrítico
 Enfloração (Enfleurage) https://www.femarrels.cat/es/2017/09/14/como-hacer-un-oleato/
ANÁLISE QUÍMICA DOS ÓLEOS ESSENCIAIS

 CG-EM
 Cromatografia gasosa
acoplada a espectrometria
de massas

https://www.slideshare.net/vitadermitaquera/aromaterapia-cap-1/10
CROMATÓGRAFO GASOSO
 Gás inerte: He, N2 ou H2
 Forno: T constante ou rampa de
aquecimento
 Detector: Ionização de chama (FID)
ou Espectrômetro de massas (EM)

Coluna capilar (paredes internas recobertas


Forno com um filme fino de fase estacionária
líquida ou sólida)
 Diâmetro: 0,1 a 0,5 mm
 Comprimento: 5 a 100 m
CROMATOGRAFIA GASOSA
 Separação de mistura por interação diferencial dos seus componentes entre
uma fase estacionária (sólida) e uma fase móvel (gás)

FASE ESTACIONÁRIA
FASE MÓVEL

A separação da mistura depende:


 Estrutura química
 Tipo de coluna (fase estacionária)
 Temperatura da coluna
Área do pico (concentração do
componente do OE)
Intensidade do sinal

Tempo de retenção (em minutos)


ANÁLISE QUÍMICA DOS ÓLEOS ESSENCIAIS

 Existe uma sinergia entre os componentes de um óleo


essencial

IMPORTÂNCIA
Conhecer a composição química do óleo
essencial ajuda a entender seu efeito biológico
VARIABILIDADE NA COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS
ÓLEOS ESSENCIAIS

QUANDO SE TRATA DE PRODUTOS NATURAIS:

 O metabolismo secundário de plantas pode variar


consideravelmente (EM QUALIDADE E QUANTIDADE)
dependendo de vários fatores
 A constância de concentrações de metabólitos secundários é
praticamente uma exceção
VARIABILIDADE NA COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS
ÓLEOS ESSENCIAIS

 Influência ambiental (Fatores abióticos) GEOTIPOS

 Influência genética (Fatores bióticos) QUIMIOTIPOS

 Influência técnica (Processamento pré e pós colheita)


 Influência do processo extrativo (método de extração e
cortes da extração – ‘frações’)
INFLUÊNCIA GENÉTICA (Fatores Bióticos)

 As variações quimiotípicas são pequenas variações genéticas que


fazem a planta produzir um conjunto diferente de moléculas
voláteis.
 Para ser considerado um quimiotipo, este conjunto deve ser
ESTÁVEL, independente da época ou local de produção.
 Logo, é uma PROPRIEDADE DA PRÓPRIA PLANTA e não
dependente das condições ambientais ou do método extrativo.
 Influência genética – a rota metabólica majoritária escolhida é
diferente
QUIMIOTIPOS - QT

 Quando óleos essenciais de uma mesma espécie (plantas


taxonomicamente idênticas) plantadas na mesma região
apresentam componentes majoritários diferentes
 Nem todas as plantas possuem diferentes quimiotipos
 Estes diferentes quimiotipos não são considerados subespécies,
por isso devem ser nomeadas especificando o quimiotipo
(verificado através de análises quantitativas por CG/MS)
 Cada QT pode ter uma molécula ativa diferente, resultando
em propriedades diferentes
ÓLEO ESSENCIAL DE ALECRIM
(QT 1,8-cineol) (QT cânfora) (QT verbenona)

C
Quim. Nova, Vol. 30, No. 2, 374-381, 2007
INFLUÊNCIA AMBIENTAL (Fatores abióticos)
 Sazonalidade (qual o melhor período para coleta?)
A composição química do óleo essencial pode variar durante o ano
Aumento das concentrações de alguns componentes nas estações quentes
(verão)
 Ritmo circadiano (qual o melhor horário para a coleta?)
O teor dos componentes do óleo essencial pode variar durante o ciclo
dia/noite
 Idade e desenvolvimento da planta (e diferentes órgãos vegetais de
armazenamento dos OEs)
Há um decréscimo na produção de metabólitos secundários em períodos de
crescimento tecidual rápido
INFLUÊNCIA AMBIENTAL (Fatores abióticos)

 Temperatura
A formação de OE’s, em geral, parece aumentar em temperaturas mais
elevadas (apesar de dias muito quentes levarem a uma perda excessiva
desses metabólitos)
Exceto as florestas de coníferas que produzem óleos essenciais para
protegerem a seiva contra o congelamento nas estações frias
 Radiação ultravioleta (luminosidade ou sombra?)
Influencia a concentração e/ou composição dos terpenoides porque afeta
diretamente o processo de fotossíntese e o desenvolvimento dos tricomas
glandulares (luz-dependente)
INFLUÊNCIA AMBIENTAL (Fatores abióticos)

 Altitude
A influência da altitude é variável sobre a produção dos óleos essenciais
 Nutrição
O efeito dos macronutrientes não são totalmente previsíveis, portanto,
não é possível estabelecer regras sólidas e estáveis para todas as espécies
 Disponibilidade hídrica
O estresse hídrico geralmente induz um aumento na produtividade de
alguns terpenoides
INFLUÊNCIA AMBIENTAL (Fatores abióticos)

 Poluição atmosférica
Poucos estudos
 Estímulos mecânicos
 Insetos e animais herbívoros
 Ferimentos e danos nas folhas
 Ataques de patógenos
 Fungos
 Parasitas
GEOTIPOS (Origem)

 Denomina a influência do território (e consequentemente do


ambiente) na composição aromática da planta.
 Este conceito é muito utilizado para os vinhos (terroir)

 Devido aos fatores ambientais a produção de moléculas voláteis na


planta se diferencia.
 Normalmente essa diferença (no teor) não é grande o suficiente para
se classificar em um diferente quimiotipo, mas perceptível
olfativamente e talvez leve a diferentes propriedades terapêuticas.
GEOTIPOS (Origem)

 É comum a utilização de termos que denominam especificações


geográficas
Ex: Lavanda da França
Lavanda Fina da Bulgária (o termo “Fina” especificando que é de altas
altitudes)
Lavanda Buena Vista (cultivada em uma região específica do Oregon, EUA)
 Mesma espécie (Lavandula angustifolia), produzem teor e
composição diferentes devido a estarem expostas a diferentes
ambientes.
ÓLEO ESSENCIAL DE MELALEUCA

(GT AUSTRÁLIA) (GT BRASIL) (GT ÍNDIA)


INFLUÊNCIA TÉCNICA

PROCESSAMENTO PRÉ COLHEITA


 Período do ano e horário da coleta
 Condições operacionais da coleta (manual ou automatizado)

PROCESSAMENTO PÓS COLHEITA


 Estabilização (secagem)
 Estocagem
 Tempo até o início da extração do óleo essencial
INFLUÊNCIA DO PROCESSO EXTRATIVO
MÉTODO DE EXTRAÇÃO
 Destilação por arraste a vapor ou Hidrodestilação
 Prensagem a frio (presença de Furanocumarinas ou LFC)
 Extração por solventes orgânicos (presença de triterpenos e
carotenoides) - Absolutos
 Extração por fluido supercrítico (não utiliza temperatura) – CO2
(são mais representativos dos OE’s originais, porém $$$$)
INFLUÊNCIA DO PROCESSO EXTRATIVO

 Variações no teor de camazuleno no óleo essencial de camomila-alemã


(Matricaria recutita) dependendo do método de extração
 Na planta não encontramos camazuleno e sim matricina (altas temperaturas
promovem clivagem do éster e desidratação – eliminação de H2O)
INFLUÊNCIA DO PROCESSO EXTRATIVO
MÉTODO DE EXTRAÇÃO
 OE’s Raros ou difíceis de obter – requerem uma quantidade muito
grande de plantas e o rendimento é extremamente baixo (isso
encarece o produto)
 OE’s absolutos ou CO2 podem ser vendidos diluídos a 10% quando
são muito caros e sua comercialização na forma pura seria inviável
economicamente
 São diluídos a 10% em miristato de isopropila (um éster obtido do
ácido mirístico – extraído do óleo vegetal de coco babaçu ou coco
palmiste)
INFLUÊNCIA DO PROCESSO EXTRATIVO
CORTES DA EXTRAÇÃO (FRAÇÕES)
 Fase inicial ou final (variações na composição do óleo essencial)
 Existe diferença na composição do óleo essencial ao longo do processo
extrativo
Ex: Numa extração que dura 4h podem ser feitas coletas a cada 30 minutos –
para comparar o OE dos primeiros 30 minutos com o OE do final da extração
 As frações podem ser coletadas e vendidas separadamente para
aumentar a concentração de determinado componente.
Ex: Óleo essencial de Ylang Ylang (Fração extra, I, II, III, COMPLETO)
INFORMAÇÕES NO RÓTULO DOS ÓLEOS ESSENCIAIS

 Nome científico da espécie


 Parte ou órgão da planta (de onde se extraiu o OE)
 Origem (Região de cultivo da planta)
 Método de extração
 Componentes majoritários
 Cromatografia – laudo analítico por lote (site do
distribuidor ou fabricante)
QUALIDADE DOS ÓLEOS ESSENCIAIS

 Por que tanto cuidado com a qualidade dos OE????

Influências que afetam a composição química e


o teor dos componentes dos óleos essenciais

AFETAM A ATIVIDADE TERAPÊUTICA


CONTROLE DE QUALIDADE E PADRONIZAÇÃO

 A fonte e a qualidade das matérias-primas têm um papel central na


obtenção de produtos com constância de composição e propriedades
terapêuticas reprodutíveis

 Compreender a influência dos fatores ambientais na regulação da


biossíntese de metabólitos secundários podem contribuir para um
aumento na produção dos componentes de interesses nestas espécies

AUMENTO DO VALOR AGREGADO AO PRODUTO ($$$$$)


CONTROLE DE QUALIDADE E PADRONIZAÇÃO

Ao invés do uso de plantas selvagens coletadas diretamente no campo

 Aprimoramento e investimento em estudos de domesticação


 Produção biotecnológica
 Melhoramento genético de plantas medicinais

MATÉRIAS-PRIMAS UNIFORMES E DE ALTA QUALIDADE


CONTROLE DE QUALIDADE DOS ÓLEOS ESSENCIAIS

ADULTERAÇÕES E FALSIFICAÇÕES:
 Adição de componentes sintéticos de baixo preço (ex. álcool
benzílico, ésteres do ácido ftálico e hidrocarbonetos)
 Mistura de óleos de boa qualidade com outro de menor valor
(a mistura de lotes da mesma espécie é permitida)
 Adição de substâncias sintéticas que são os componentes
principais do óleo em questão
 Falsificação completa do óleo através de misturas de substâncias
sintéticas dissolvidas num veículo inerte

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