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ESCOLA JUDICIÁRIA ELEITORAL PAULISTA

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SÃO PAULO

YANA PIVA – TURMA 03

6º Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” – Especialização em Direito Eleitoral e


Processual Eleitoral
Módulo II – Direito Eleitoral e Processual Eleitoral
Disciplina A – Registro de candidatos, condições de elegibilidade, hipóteses de
inelegibilidade e procedimento eleitoral
Tema 01 – Registros de candidatos. Elementos, pressupostos e requisitos.
Impugnações e recursos aos registros e indeferimentos.
Palestrante: Des. Jeferson Moreira de Carvalho

Seminário: 23/06/2021 Palestra: 28/06/2021

FICHAMENTO

Registro de Candidatura:
Para participar das eleições, os partidos políticos devem ter seu estatuto registrado no
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até um ano antes da eleição e possuir, até a data das convenções
partidárias, órgão de direção constituído na circunscrição em que acontecerá o pleito.
Cada partido ou coligação poderá solicitar registro de:

 um candidato a presidente da República e do respectivo vice;


 um candidato a governador em cada estado e no Distrito Federal, com seu respectivo
vice;
 um candidato a prefeito em cada município e do respectivo vice;
 um ou dois candidatos a senador em cada unidade da Federação, a cada quatro anos,
alternadamente, e dos respectivos suplentes;
 candidatos a deputado federal, deputado distrital, deputado estadual e vereador, de
acordo com os critérios de proporcionalidade estabelecidos na CF/1988, no Código Eleitoral e na Lei
n° 9.504/1997.

Os pedidos de registro de candidato devem ser entregues até às 19h do dia 15 de agosto
do ano eleitoral. Para candidatos a presidente e a vice-presidente da República, as solicitações serão
feitas no TSE; para senador, deputado federal, governador e vice-governador, deputado distrital e

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deputado estadual, nos TREs; e, para vereador, prefeito e vice-prefeito, nos juízos eleitorais. Não será
admitido registro de um mesmo candidato para mais de um cargo eletivo.

O pedido de registro deverá ser apresentado obrigatoriamente em meio magnético gerado


pelo Sistema de Candidaturas – Módulo Externo (CANDex), desenvolvido pelo Tribunal Superior
Eleitoral, acompanhado das vias impressas dos formulários Demonstrativo de Regularidade de Atos
Partidários (Drap) e Requerimento de Registro de Candidatura (RRC), emitidos pelo sistema e
assinados pelos requerentes.
O Drap deverá ser entregue com a cópia da ata da convenção partidária digitada, assinada
e acompanhada da lista de participantes com as respectivas assinaturas.

O pedido de registro deverá ser assinado:


• pelo presidente do diretório nacional, regional ou municipal, ou
 pelo presidente da respectiva comissão diretora provisória ou
 pelo delegado municipal registrado.

No caso de coligação, o pedido deverá ser assinado:


 pelos presidentes dos partidos políticos coligados, ou
 pelos seus delegados, ou
 pela maioria dos membros dos respectivos órgãos executivos de direção ou
 pelo representante da coligação ou delegados designados pelos partidos que a integram

Caso o partido político ou a coligação não solicite o registro dos candidatos escolhidos
durante a convenção, estes poderão fazê-lo no prazo máximo de 48 horas seguintes à publicação da
lista dos candidatos pelo tribunal eleitoral competente, apresentando o formulário Requerimento de
Registro de Candidatura Individual (RRCI) juntamente com os documentos requeridos.

Condições de elegibilidade e hipóteses de inelegibilidade.

De volta ao direito positivo de nosso País (laico, porém teísta), na esfera constitucional as
condições de elegibilidade expostas no §3º do art. 14 da CF/88 são as seguintes:

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 a nacionalidade brasileira;
 o pleno exercício dos direitos políticos;
 o alistamento eleitoral;
 o domicílio eleitoral na circunscrição;
 a filiação partidária e
 a idade mínima de 35 anos para Presidente da República, Vice-Presidente da
República e senador; a idade mínima de 30 anos para governador e vice-
governador de Estado e do Distrito Federal; a idade mínima de 21 anos para
deputado (federal, distrital ou estadual), prefeito, vice-prefeito e juiz de paz; e a
idade mínima de 18 anos para vereador.

De acordo com o §4º do artigo 14 da CF/88 são inelegíveis para qualquer cargo
(inelegibilidade absoluta) os inalistáveis e os analfabetos.
Os inalistáveis são aqueles que não detêm capacidade eleitoral ativa, devendo-se observar
que a Constituição Federal de 1988 adota o sistema de sufrágio universal, o qual outorga o direito de
se alistar e votar à grande maioria daqueles que detêm a capacidade civil e preenchem os requisitos
básicos previstos na Constituição, sem limitações decorrentes do grau de instrução, do poder
econômico, do sexo ou da convicção religiosa.
Noutros dizeres, são inalistáveis os menores de 16 anos (até a data da eleição), os
estrangeiros, os conscritos (aqueles que, regularmente convocados, prestam o serviço militar
obrigatório ou serviço alternativo) e os privados definitiva ou temporariamente dos seus direitos
políticos

QUESTÕES

1) Nos termos do art.15 da Constituição Federal é vedada a cassação de direitos


políticos, cuja perda ou suspensão só se dará, entre outras hipóteses, no caso
de condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos.
Havendo condenação criminal transitada em julgado a suspensão dos direitos
políticos é efeito imediato, diante da redação constitucional? Há necessidade
de outro Poder declarar a suspensão dos direitos políticos, quando a redação

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constitucional expressa que haverá a suspensão? Se um Deputado Federal


tem sentença condenatória que impõe a suspensão dos direitos políticos,
pode continuar exercendo o mandato?

Determinada por decisão judicial irrecorrível, a suspensão dos direitos políticos constitui
efeito automático da sentença penal condenatória (decorrente da simples imposição da pena
principal), sendo irrelevante o regime prisional fixado na sentença ou eventual substituição da
pena privativa de liberdade por restritiva de direitos ou multa, bem como a concessão
de sursis ou livramento condicional.
A suspensão condicional do processo (sursis processual), prevista no art. 89 da Lei nº
9.099/95, dá-se antes da condenação definitiva. Por isso, não acarreta a suspensão dos direitos
políticos. Por outro lado, de acordo com o § 4º do art. 1º da LC nº 64/90 (na redação da LC nº
135/2010), que amplia a interdição da capacidade eleitoral passiva, “a inelegibilidade prevista
na alínea e do inciso I deste artigo não se aplica aos crimes culposos e àqueles definidos em lei
como de menor potencial ofensivo, nem aos crimes de ação penal privada”
Outrossim, há quem defenda que, inexistindo incompatibilidade física ao exercício dos
direitos políticos – por não se encontrar o condenado recolhido ao cárcere – não é cabível a sua
suspensão, eis que aludida restrição vai de encontro ao ideal desencarcerador delineado pela
Constituição Federal de 1988.
Para Pontes de Miranda, contudo, a motivação do legislador não está atrelada à privação
da liberdade, mas sim à ordem ética, consoante se extrai do voto do Ministro Moreira Alves, no
Recuso Extraordinário 179.502-6:

“De feito, tem razão Pontes de Miranda (Comentários à Constituição de 1967, tomo IV,
p. 569, Revista dos Tribunais, São Paulo, 1967) ao salientar que a ratio dessa suspensão
não é a privação da liberdade, mas de ordem ética. Diz ele:
‘Na Constituição Política do Império do Brasil, o art. 8º, 2º, entendia suspenso o
exercício dos direitos políticos por sentença condenatória à prisão ou degredo. A
Constituição de 1946, art. 135, § 1º, II, falou de condenação. Idem, a de 1967. Ali,
atendia-se à restrição à liberdade: preso, ou degredado, não poderia votar, nem exercer
direitos políticos; em consequência, bastariam os efeitos adiantados. Aqui, não:

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qualquer sentença condenatória basta; o fundamento é ético; em consequência, é preciso


o trânsito em julgado’.”
Assim, diante da relevância dos direitos políticos no sistema democrático vigente, é
imperiosa a suspensão dessa garantia constitucional para os cidadãos que infringem a legislação
penal, evitando-se a interferência de tais indivíduos na estrutura estatal através do voto,
enquanto durarem os efeitos da condenação, independentemente da sanção penal que lhes seja
aplicada.
Com relação ao caso do Deputado Federal, contudo, a Constituição contempla uma
exceção à regra geral, no art. 55, § 3º1, no tocante à perda imediata do mandato na hipótese de
condenação criminal transitada em julgado.
Nessa situação diferenciada, a perda do mandato não será automática, embora seja
vedado, desde logo, aos parlamentares atingidos pela condenação criminal, enquanto durarem
os seus efeitos, disputar novas eleições, porquanto perderam a condição de elegibilidade.

2) O registro de candidato perante o Poder Judiciário tem natureza jurídica


administrativa ou judicial? Trata-se de um processo de registro ou
procedimento de registro?

José Jairo Gomes ensina que “sobre sua natureza, uns entendem que esse processo tem
cunho administrativo, ao passo que outros afirmam constituir um misto administrativo e
jurisdicional” (GOMES, José Jairo. 2010, p. 203).
Entendo ser de natureza jurisdicional voluntária, por não haver o contraditório, vez que
não existe polo passivo. Assim, não há conflito de interesse a ser solvido, devendo o Juízo ou
Tribunal Eleitoral conhecer ex officio as questões de elegibilidade, às causas de inelegibilidade
e ao atendimento de determinados pressupostos formais.
O art. 7º da Lei Complementar nº 64/90 é expresso ao autorizar o órgão judicial a formar
“sua convicção pela livre apreciação da prova, atendendo aos fatos e às circunstâncias
constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes.”, sendo que, é nessa oportunidade
que os requisitos necessários à concretização da candidatura são analisados.

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Não se deve confundir, ainda, o momento de aferição com a existência das condições de
elegibilidade e causa de inelegibilidade.
Nas palavras de José Jairo Gomes (2010, p. 204): “para algumas pessoas, relevante é
que se apresentem na data da eleição. Nesse sentido, prescreve o art. 9º da Lei nº 9.504/97 que
o alistamento e o domicílio eleitorais e a filiação partidária sejam aferidos tomando-se por
base o dia do pleito. No tocante à idade mínima exigida para certos cargos, essa condição de
elegibilidade deve ser pesquisada no momento da posse.”
A qualidade de candidato só é alcançada com a efetivação do registro, operado em
virtude de sentença constitutiva prolata em processo de pedido de registro de candidatura.

3) A certidão de quitação eleitoral, documento exigido para o pedido de registro


de candidatura, atinge o fim de realmente certificar que o candidato está quite
com a Justiça Eleitoral, quando teve contas desaprovadas em eleição
anterior? Uma certidão como esta está em desacordo com o princípio
constitucional da moralidade?

O princípio constitucional da moralidade está disposto na CF/88, e impõe aos agentes


públicos o dever de observância da moralidade administrativa. Nota-se que, quando a
Constituição de 1988 definiu a moralidade como padrão de comportamento, não houve
juridicização de todas as regras morais vigentes na sociedade, assim, cumprindo a lei,
automaticamente a moralidade seria atendida.
O princípio jurídico da moralidade exige respeito a padrões éticos, de boa-fé, decoro,
lealdade, honestidade e probidade na prática diária de boa administração.
Nessa via, acredito que a certidão de quitação eleitoral não atinge o fim exigido, que é de
certificar que o candidato está quite com a justiça, pois, em tese, o candidato que teve suas
contas desaprovadas não está quite com a justiça eleitoral.
Ainda que o entendimento atual do TSE seja no sentido de que a desaprovação das contas
não enseja a falta de quitação eleitoral, a meu ver, a desaprovação das contas deveria impedir
que a certidão de quitação eleitoral fosse emitida, e consequentemente, impedir que o registro
do candidato fosse deferido, isso porque, se o candidato não tem capacidade de levar a sério a

1
§ 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante
provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla
defesa.
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prestação de contas da sua própria campanha eleitoral, que garantia o eleitor tem de que o
candidato sabe conduzir o orçamento público?
Cumpre destacar também que a falta de penalidades severas em relação a desaprovação
das contas dos candidatos, vai em caminho oposto ao do princípio da moralidade, tendo em
vista que esse existe para que haja respeito a padrões éticos, de boa-fé, de honestidade e
probidade nos atos cometidos, que nitidamente um candidato que teve suas contas
reprovadas não seguiu, ou tampouco se importou em cumprir seu dever de forma
límpida.

4) Interprete no sistema a disposição legal que expressa que as condições de


elegibilidade e as causas de inelegibilidade devem ser aferidas no momento da
formalização do pedido de registro da candidatura.

As causas de inelegibilidade são aferidas no momento do registro de candidatura,


conforme art. 11 §10 da Lei nº 9.504/97 e jurisprudência consolidada do TSE:

“[...]. Registro de candidatura. [...] Prefeito. Indeferimento. Inelegibilidade.


Rejeição de contas. Ausência de interesse. Art. 224 do Código Eleitoral.
Renovação. Eleição. Condições de elegibilidade. Causas de inelegibilidade.
Aferição. Momento. Novo pedido de registro. [...]. 1. A jurisprudência desta Corte
Superior consolidou-se no sentido de que, no caso de renovação de eleições, as
condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidades serão aferidas no
momento do novo pedido de registro, haja vista tratar-se de novo processo
eleitoral, não se levando em consideração, portanto, a situação anterior do
candidato alusiva ao pedido de registro da eleição anulada. [...]” (Ac. de
18.12.2012 no AgR-REspe nº 27990, rel. Min. Luciana Lóssio.)

“[...] As condições de elegibilidade reclamam a quitação eleitoral em toda a sua


plenitude, sendo esta aferida no momento do registro de candidatura. [...]”
(Res. nº 22788 na Cta nº 1574, de 5.5.2008, rel. Min. Marcelo Ribeiro.)

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