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O texto Totem e Tabu de 1913 é a primeira tentativa de Freud em aplicar os

resultados da psicanálise aos problemas equestões sociais ainda não


compreendidas em seu tempo relativas a psicologia dos povos e avaliou a
ambivalência de sentimentos como geradora de um sentimento de culpa no
homem civilizado.

Portanto, Freud percebeu que havia forte relação entre um mundo condenado a
opressão e aos impasses da desorganização social e apresentou em Totem e Tabu
um mito científico para falar da origem da civilização. Importante observar que
para a psicanálise os mitos ganham um valor maior do que o de uma simples
ilustração ou analogia, mas é apresentado como um modelo do pensamento
científico. Isto porque Freud atribui um valor estabelecido entre mito e logos (razão).

Será esse evento mítico que dará origem a uma nova ordem social onde a lei
simbólica é instaurada e conseqüentemente vem suprimir as paixões e os atos de
destruição incompatíveis às premissas da civilidade.O mito criado por Freud
apresenta o momento pré-histórico no qual o homem vagava pelo mundo sob a
existência de um pai tirânico e cruel. Este pai pelo uso da força teria expulsado os
filhos de seu hábitat, tomando para si a posse absoluta de todas as mulheres.
Afetados pelo ódio, esses filhos se rebelam contra seu excesso e, num ato de
violência coletiva, matam aquele chefe selvagem. Em seguida devoram o cadáver
numa tentativa de incorporação da potência do objeto que haviam assassinado.
Assim, ao lado de tão intenso ódio, nasce o amor por aquele por aquele que,
certamente, em se tratando do mais forte do bando, poderia proteger a todos.

Essa ambivalência de sentimentos acabou gerando intensos remorsos, um


sentimento de culpa avassalador nos filhos que, negando o parricídio pela operação
do recalque primário, ou seja, aquilo que deve permanecer esquecido e dão
partida a uma nova ordem social.

Portanto, Freud concorda que os valores morais são necessários para conter os
impulsos agressivos e individualistas e o recalque dos impulsos incestuosos
marcariam os humanos dentro de sua forma de se organizar no Complexo de
Édipo.

Lacan relê o Complexo de Édipo desde Totem e Tabu extrai os fundamentos para a
inscrição do Nome-do-Pai e entende que o inconsciente freudiano fala de uma
verdade traumática da qual devemos ousar nos aproximar, maneira de fazer com
que o traumático diga não ao excesso insuportável. Dessa forma, a formação dos
grupos sociais surge a partir do recalque primário sendo o tabu do incesto a primeira
norma universal que se estabelece na cultura.

Desse momento do nascimento da civilização, em diante, ficou terminantemente


proibido a qualquer um dos filhos ocupar o lugar do pai da pré-história. Aquele que
por ventura ousasse transgredir essa lei era imediatamente morto. Então o que se
observa em Totem e Tabu quanto ao controle social do estado de violência e
agressividade? Que a civilização foi organizada a partir da instauração de lei e
organização de grupo em torno do tirano sacrificado que passou a constituir um
lugar vazio, em torno do qual, todos partilham de uma identificação imaginária
pautada no amor coletivo e na proibição que o grupo se impôs em nunca mais um
dos seus membros vir a encarnar o poder arbitrário do pai dos tempos da horda
primitiva onde apenas um ganhava a liberdade sem limites e o gozo ilimitado das
mulheres.

Por esta razão, instauram o totem como um primeiro representante simbólico do pai
morto, no plano mítico, para aliviar o peso da consciência e do remorso e se
obrigam a solidificar a fratria e manter o lugar vacante do pai e adorá-lo. O
assassinato do pai é o ato que instaura a cultura.

Conseqüências na cultura:

- supressão de qualquer poder excessivo;

-Obediência às leis da linguagem e do laço social;

Trata-se nas sociedades primitivas do animal totêmico que era, uma vez por ano,
sacrificado e comido em representação inconsciente a figura do pai o gozo.

Entretanto, o que Totem e Tabu vêm apresentar é exatamente que embora o


homem civilizado esteja sob uma lei do Estado e da religião que partir de então se
organizaram, não ocorreu a eliminação da parcela destrutiva da civilização que
o assassinato do pai veio promover.

As leis do Estado proíbem o indivíduo de praticar o mal, mas não porque deseja
extinguir o mal, mas para obter um poder ilimitado sobre o grupo. Freud demonstra
que o Estado, promovendo ações violentas que, sob sua vigência, não se
configuram como tal, faz da exceção sua regra: acima da Lei, encontra-se livre para
suprimir as paixões e perpetrar atos de destruição, exclusão e crueldade,
incompatíveis e contrários às premissas de civilidade. Portanto, Totem e Tabu
apresenta uma tentativa de inscrever o real como resto da operação simbólica
que funda do sujeito no plano coletivo e individual.

Mas o que isso tem a ver com as crianças? Será em totem e tabu que Freud
retomará o caso do pequeno Hans para falar da relação entre as crianças e o
homem primitivo com os animais. Freud dirá no capítulo 4:

Há uma grande semelhança entre as relações das crianças e dos homens primitivos com os animais.
As crianças não demonstram sinais da arrogância que faz com que os homens civilizados adultos
tracem uma linha rígida entre a sua própria natureza e a de todos os outros animais. As crianças não
têm escrúpulos em permitir que os animais se classifiquem como seu plenos iguais. Desinibidas
como são na admissão de suas necessidades corporais, sem dúvida sentem-se mais aparentadas
com os animais do que com seus semelhantes mais velhos, que bem podem constituir um mistério
para elas. Não raramente, porém, uma estranha lenda ocorre nas excelentes relações existentes
entre as crianças e os animais. Uma criança de repente começa a ter medo de uma determinada
espécie de animal e a evitar tocar ou ver qualquer exemplar daquela espécie. Surge o quadro clínico
de uma fobia de animal - uma forma muito comum, talvez a mais antiga, das doenças
psiconeuróticas que ocorrem na infância. Via de regra, a fobia está ligada a animais pelos quais a
criança até então tinha mostrado um interesse particularmente vivo e nada tem a ver com qualquer
animal em particular. Não existe uma grande escolha de animais que possam tornar-se objetos de
fobia para crianças que vivem em cidades: cavalos, cães, gatos, com menos freqüência pássaros, e,
com notável freqüência, bichos muito pequenos, como besouros e borboletas. O medo insensato e
imoderado mostrado nessas fobias está às vezes ligado a animais que a criança só conhece de livros
de figuras e contos de fadas.

Em algumas raras ocasiões, é possível descobrir o que levou a uma escolha desse tipo tão fora do
comum e sou grato a Karl Abraham por me ter contado um caso em que a própria criança explicou
que seu medo de vespas era porque a cor e as listras faziam-na lembrar-se de tigres, que, segundo
todos os relatos, constituíam animais a serem temidos. Ainda não se fez nenhum exame analítico
pormenorizado das fobias de animais em crianças, embora esse estudo fosse grandemente
compensador. Essa negligência, deve-se, sem dúvida, à dificuldade de analisar crianças de tão tenra
idade. Assim, não se pode dizer que conheçamos o significado geral dessas perturbações, e eu
mesmo sou de opinião que estas podem mostrar não ser de natureza uniforme. Mas alguns casos de
fobias desse tipo dirigidas no sentido de animais maiores mostraram-se acessíveis à análise e
revelaram assim seu segredo ao investigador. Era a mesma coisa em todos os casos: quando as
crianças em causa eram meninos, o medo, no fundo, estava relacionado com o pai e havia
simplesmente sido deslocado para o animal. Qualquer pessoa com experiência psicanalítica sem
dúvida alguma já encontrou casos desse tipo e teve deles a mesma impressão. Entretanto, posso
citar apenas umas poucas publicações pormenorizadas sobre o assunto. Esta pobreza de literatura é
uma circunstância acidental e não se deve supor que nossas conclusões se fundamentem em umas
poucas observações esparsas. Posso citar, por exemplo, um autor que estudou as neuroses da
infância com grande compreensão, o Dr. M. Wulff, de Odessa. No relato da história clínica de um
menino de nove anos, ele conta que, aos quatro anos, o paciente sofrera de uma cinofobia. ‘Quando
via passar um cão correndo na rua, chorava e gritava: “Cachorrinho querido, não me morda! Eu vou
ser bonzinho!”. Por “ser bonzinho” queria dizer “não mexer no pipi”, ou seja, não se masturbar.
(Wulff, 1912, 15.) ‘A fobia de cachorro do menino’, explica o autor, ‘era na realidade o medo do pai
deslocado para os cães; pois sua curiosa exclamação “Cachorrinho, eu vou ser bonzinho!” - isto é,
“não me masturbarei” - dirigia-se ao pai, que o havia proibido de ser masturbar. ’ Wulff acrescenta
uma nota de rodapé que está totalmente de acordo com minhas opiniões e, ao mesmo tempo, dá
testemunho da freqüente ocorrência de tais experiências: ‘Fobias desse tipo (fobias de cavalos, cães,
gatos, aves e outros animais domésticos) são, em minha opinião, pelo menos tão comuns na infância
quanto o pavor nocturnus e, na análise, quase invariavelmente mostram ser um deslocamento para
os animais do medo que a criança tem de um dos genitores. Não estou preparado para afirmar que o
mesmo mecanismo se aplica às disseminadas fobias de ratos e camundongos.’ [Ibid., 15.] Publiquei
recentemente (1909b), uma ‘Análise de uma Fobia num Menino de Cinco Anos’, cujo material me foi
fornecido pelo pai do pequeno paciente. O menino tinha uma fobia de cavalos e, como
conseqüência disso, recusava-se a sair à rua. Expressava o temor de que o cavalo entrasse no quarto
e o mordesse e viu-se que isso seria o castigo por um desejo de que o cavalo caísse (isto é,
morresse). Depois de ter sido removido o medo do menino pelo pai através de uma confiança
renovada, tornou-se evidente que ele estava lutando contra desejos que tinham como tema a idéia
de o pai estar ausente (partindo para uma viagem, morrendo). Encarava o pai (como deixou bem
claro) como um competidor nos favores da mãe, para quem eram dirigidos os obscuros prenúncios
de seus desejos sexuais nascentes. Desse modo, estava situado na atitude típica de uma criança do
sexo masculino para com os pais a que demos o nome do ‘complexo de Édipo’ e que em geral
consideramos como o complexo nuclear das neuroses. O fato novo que aprendemos com a análise
do ‘pequeno Hans’ - fato com uma importante relação com o totemismo - foi que, em tais
circunstâncias, as crianças deslocam alguns de seus sentimentos do pai para um animal. A análise
pode reconstituir os caminhos associativos ao longo dos quais esse deslocamento se passa - tanto os
fortuitos como os possuidores de um conteúdo significativo. A análise também nos permite
descobrir os motivos do deslocamento. O ódio pelo pai que surge num menino por causa da
rivalidade em relação à mãe não é capaz de adquirir uma soberania absoluta sobre a mente da
criança; tem de lutar contra a afeição e admiração de longa data pela mesma pessoa. A criança se
alivia do conflito que surge dessa atitude emocional de duplo aspecto, ambivalente, para com o pai
deslocando seus sentimentos hostis e temerosos para um substituto daquele. O deslocamento, no
entanto, não pode dar cabo do conflito, não pode efetuar uma nítida separação entre os
sentimentos afetuosos e os hostis. Pelo contrário, o conflito é retomado em relação ao objeto para o
qual foi feito o deslocamento: a ambivalência é estendida a ele. Não pode haver dúvida de que o
pequeno Hans não apenas tinha medo de cavalos, mas também se aproximava deles com admiração
e interesse. Assim que sua ansiedade começou a diminuir, identificou-se com a criatura temida:
começou a pinotear como um cavalo e, por sua vez, mordeu o pai. Em outra etapa da resolução de
sua fobia, não hesitou em identificar os pais com alguns outros animais de grande porte. Pode-se
com justiça dizer que nessas fobias de crianças reaparecem algumas das características do
totemismo, mas invertidas para o negativo. Devemos, entretanto, a Ferenczi (1913a) uma
interessante história de um caso isolado que só pode ser descrito como um exemplo de totemismo
positivo numa criança. É verdade que no caso do pequeno Árpád (sujeito da comunicação de
Ferenczi), seus interesses totêmicos não surgiram em relação direta com o complexo de Édipo, e sim
baseados em sua pré-condição narcisista, o temor da castração. Mas qualquer leitor atento da
história do pequeno Hans encontrará provas abundantes de que ele também admirava o pai por
possuir um pênis grande e temia-o por ameaçar o seu. O mesmo papel é desempenhado pelo pai
tanto no complexo de Édipo quanto no complexo de castração, ou seja, o papel de um inimigo
temível dos interesses sexuais da infância. O castigo com que ele ameaça é a castração, ou o seu
substituto, a cegueira. Quando o pequeno Árpád tinha dois anos e meio de idade, tentara certa vez,
nas férias de verão, urinar no galinheiro e uma galinha: bicara ou dera uma bicada na direção de seu
pênis. Um ano depois, quando de volta ao mesmo lugar, ele próprio transformou-se numa galinha:
seu único interesse era o galinheiro e o que lá se passava, tendo trocado o falar humano por
cacarejos e cocoricós. Na ocasião em que a observação foi feita (quando estava com cinco anos),
tinha recobrado a fala, mas seus interesses e sua conversa relacionavam-se totalmente com galinhas
e outros tipos de aves domésticas. Eram os seus únicos brinquedos e somente entoava cantigas que
fizessem menção a aves de quintal. Sua atitude para com o animal totêmico era superativamente
ambivalente: mostrava tanto ódio quanto amor num grau exorbitante. Seu jogo favorito era brincar
de matar galinhas. ‘A matança de aves domésticas constituía para ele um festival regular. Dançava
em volta dos corpos dos animais por horas a fio, num estado de intensa excitação.’ A seguir, porém,
beijava e alisava o animal morto ou limpava e acariciava as aves de brinquedo que ele mesmo tinha
maltratado. O próprio pequeno Árpád cuidou para que o significado de seu estranho
comportamento não permanecesse oculto. De tempos em tempos, traduzia seus desejos, da
linguagem totêmica para a da vida cotidiana. ‘Meu pai é galo’, disse em certa ocasião, e, noutra:
‘Agora sou pequeno, sou um frango. Quando ficar maior, serei uma galinha e quando for maior
ainda, serei um galo.’ Em outra ocasião, disse subitamente que gostaria de comer um pouco de
‘fricassée de mãe’ (por analogia com o fricassée de frango). [Ibid., 249.] Era muito generoso em
ameaçar outras pessoas com a castração, tal como ele próprio fora por ela ameaçado, por causa das
atividades masturbatórias. Não há dúvida ,segundo Ferenczi, quanto às fontes do interesse de Árpád
nos acontecimentos do galinheiro: ‘a contínua atividade sexual entre galos e galinhas, a postura de
ovos e o nascimento da nova ninhada’ gratificavam a sua curiosidade sexual, cujo objeto real era a
vida familiar humana. [Ibid. 250.] Mostrou ter formado sua própria escolha de objetos sexuais
segundo o modelo da vida no galinheiro, porque certo dia disse à esposa do vizinho: ‘Vou me casar
com você, com sua irmã, minhas três primas e com a cozinheira; não, com a cozinheira, não; em vez
dela, casarei com minha mãe.’ [Ibid., 252.] Mais tarde poderemos apreciar mais completamente o
valor desta observação. De momento, enfatizarei apenas dois aspectos dela que oferecem valiosos
pontos de concordância com o totemismo: a completa identificação do menino com seu animal
totêmico e sua atitude emocional ambivalente para com este. Essas observações, em minha opinião,
justificam nossa substituição desse animal pelo pai na fórmula do totemismo (no caso de indivíduos
do sexo masculino). Vai-se observar que não há nada de novo ou particularmente ousado nesse
passo à frente. Na verdade, os homens primitivos dizem a mesma coisa e, onde o sistema totêmico
ainda se acha em vigor atualmente, descrevem o totem como sendo seu ancestral comum e pai
primevo. Tudo o que fizemos foi tomar no sentido literal uma expressão utilizada por essas pessoas,
da qual os antropólogos muito pouco souberam extrair e, por essa razão, contentaram-se em
manter em segundo plano. A psicanálise, pelo contrário, leva-nos a dar uma ênfase especial ao
mesmo ponto e tomá-lo como ponto de partida de nossa tentativa de explicar o totemismo. A
primeira conseqüência de nossa substituição é notabilíssima. Se o animal totêmico é o pai, então as
duas principais ordenanças do totemismo, as duas proibições de tabu que constituem seu âmago -
não matar o totem e não ter relações sexuais com os dois crimes de Édipo, que matou o pai e casou
com a mãe, assim como os dois desejos primários das crianças, cuja repressão insuficiente ou
redespertar formam talvez o núcleo de todas as psiconeuroses. Se essa equação for algo mais que
um enganador truque de sorte, deverá capacitar-nos a lançar luz sobre a origem do totemismo num
passado inconcebivelmente remoto. Em outras palavras, nos permitirá provar que o sistema
totêmico - como a fobia de animal do pequeno Hans e a perversão galinácea do pequeno Árpád - é
um produto das condições em jogo no complexo de Édipo. A fim de verificar esta possibilidade,
teremos, nas páginas seguintes de estudar uma característica do sistema totêmico (ou, como
poderíamos dizer, da religião totêmica) que até aqui mal tive oportunidade de mencionar.

O cavalo totêmico é falado por Freud antes de trazer o banquete totêmico em seu
mito da horda primitiva. E conclui dizendo que o animal totêmico é o pai.

Depois, Freud retorna ao caso Hans em Inibição, sintoma e angústia para discutir
sobre a formação do sintoma. Freud já havia trabalhado essas questões relativas ao
sintoma nas conferências 17 (o sentido do sintoma) e 23 (os caminhos das
formações do sintoma) em 1915.

Agora, em inibição, sintoma e angústia, quetiona: Qual o verdadeiro sintoma de


Hans? Ele irá distiguir a partir dessa interrogação a angústia e o sintoma. Onde há
um sintoma há um conflito. Será esse conflito que dará origem a formação de
um sintoma. Então, em qualquer caso clínico, sempre temos que nos perguntar:
Qual foi o conflito que desencadeou o sintoma? Isso porque há sempre uma luta
defensiva do sujeito contra a angústia. A angústia invade o eu e esse eu tem que se
defender daquilo que está causando desprazer então é esse sintoma que vai fazr o
sujeito se defender contra a angústia. Já havia algo que o sujeito portava e que não
incomodava, mas em algum momento isso começa a incomodar. Temos sempre
que ver caso a caso na singularidade de cada um como isso ocorre.

No caso de Hans, ele possuía um sintoma histérico e se recusa a andar na rua


porque lhe surge uma angústia diante dos cavalos que passam.

Entende que a limitação dos movimentos de Hans em direção a rua é uma inibição.
A angústia não é indeterminada frente ao cavalo e sim uma angústia causada por
uma expectativa ansiosa como Freud diz que é que o cavalo o morda. Hans diz: “o
cavalo vai me morder”. Não é uma angústia qualquer. Mas vejamos, essa frase de
Hans não é a primeira coisa que ele diz quando sente medo de sair para a rua. É
somente depois que alguém pergunta para ele que o menino pode formular essa
resposta. Então isso é uma indicação clínica valiosa, sempre indagar ao paciente
sobre o que lhe causa angústia.

A Rosane trouxe um exemplo da clínica dela muito interessante. Um adolescente de


16 anos chega ao seu consultório após passar por várias terapias devido ao seu
pânico diante dos estudos. Haviam cortado suas glândulas sudoríparas para evitar
que suasse desesperadamente diante da matéria. A família consegue encontrar um
fator desencadeador para esse pânico. Teria ocorrido aos 11 anos de idade quando
era um bom aluno e gostava de fazer redações e repentinamente começou a não
querer ir à escola. A família lembra que foi o período em que mudou de escola e
isso teria sido a razão do surgimento do sintoma. Na análise Rosane desloca o
rapaz dessa certeza ao lhe dizer que seu sintoma não havia iniciado ali, aos 11
anos, mas era algo mais antigo. Como Freud diz, trata-se de uma lembrança
encobridora. Então o rapaz diz ue não tem nada antes desse evendo e a analista
insiste “trate de lembrar”. Na sessão seguinte o rapaz volta dizendo que havia a
morte de Airton Sena. Claro que não era isso ainda, mas apontava para alguma
coisa. A analista pergunta “quem mais morreu?” O rapaz lembra do avô e a analista
pede para que ele fale desse avô. Tratava-se de um avô “matador”. Era a morte
desse avô matador que trazia essa série associativa que levava ao entendimento de
que a morte desse avô lhe deixava uma herança maldita de vingança dessas
pessoas que haviam sido assassinadas. O avô não estava mais lá para protegê-lo e
esse ainda não era o pior pensamento que ele possuía. Havia uma identificação
com esse avô de também vir a ser um assassino e era esse o traço herdado. Isso
não vinha ao acaso. Os tios, filhos desse avô, já tinham matado pessoas em
legítima defesa e sua mãe guardava a arma desses crimes em sua casa. A analista
pergunta se nesse tempo todo não tinha associado ess seu problema com o avô. A
isso, o rapaz responde que não, que isso nunca havia lhe ocorrido antes porque
ninguém nunca havia lhe perguntado sobre isso.

Daí a importância do analista investigar e perguntar e é somente das perguntas


feitas à hans que ele pôde construir sua frase “tenho medo que o cavalo me morda.
Então ele localiza a angústia, mas por trâs do medo do cavalo tem o pai. Hans está
me pleno complexo edipiano. Além do nascimento de sua irmã Hanna havia o fato
que após terem voltado da viagem à casa de campo o pai o proibiu de dormir da
cama deles. Há um impedimento que o leva a não poder ficar mimando com sua
mãe. Aí existe um conflito de ambivalência em relação ao pai.A fobia, ou seja, o
medo de ser mordido pelo cavalo, tem como objetivo solucionar o conflito. Esse é o
sintoma. Onde tem um sintoma já tem um conflito e o sintoma é uma formação
substitutiva para resolver o conflito.

Haveria outra forma de resolver o conflito? Haveria. Ele poderia ter superinvestido
seus sentimentos de amor pelo pai o que Freud chama de formação reativa. Mas
ele não fez isso. Então o que surgiu daí? A pulsão hostil pelo pai não aparece por
força do recalque, mas é deslocada para o cavalo. Na casa de veraneio ele já havia
visto um cavalo cair e havia brincado de cavalinho. Então surge a frase “tenho medo
que o cavalo caia”. Freud diz que essa frase indica que ele desejava que o cavalo
caísse, como desejava inconscientemente eliminar o pai. O desejo que o cavalo
caísse estava recalcado. Tratava-se de um desejo de eliminação que equivale a
moção assassina do complexo de édipo. Assim, ele não tem angústia na frente do
pai e é por isso que surge a fobia. É uma substituição, como freud diz a respeito do
sintoma, uma formação substitutiva do pai pelo cavalo que designa o sintoma.Com
Lacan, podemos trabalhar isso por meio do matema, onde um um significante que
substitui outro irá nomear. Para Lacan cabe ao pai nomear o filho enquanto uma
operação simbólica. O nome próprio tem a ver com o desejo do Outro e a
possibilidade de entrada na fala e na linguagem fazendo nascer o sujeito e que
produza a marca de pertencimento pela transmissão da falta. Ou seja, a entrada na
linguagem é a entrada em uma cadeia significante que comporta um furo, que não
diz tudo e o impossível de ser dito retorna como enigma como no sintoma fóbico.

Se o nome próprio é um significante que o sujeito pode usar para se representar ele
não tem como dar significado total ao sujeito pois há uma inscrição de um traço
anterior do nome próprio. Então lacan vai falar do pai do nome. O complexo de
édipo é o ponto de basta a partir da leitura de Lacan pela linguística. O nome do pai
afivela o significante ao significado. Assim, a metáfora paterna tem a sua função
simbólica a partir de totem e tabu onde o pai se transforma depois de morto em um
significante, ou seja, ele se torna um nome. O que ficou do pai foi o nome como
função simbólica que organiza a partilha dos sexos. Para justificarmos o
inconsciente como estruturado como linguagem temos a metáfora e a metonímia.
Então o nome-do-pai permite que a criança saia desse lugar de objeto da mãe que
tinha o desejo da mãe como enigma. Ou seja, faz um ponto de basta para levar o
sujeito a se ligar em seu desejo.

Outra caracerística do sintoma naquilo que o sintoma encena para o sujeito é aquilo
que é desagradável ao eu, algo que não pode ser aceito pelo eu (uma
representação intolerável) que não pode ser admitida pelo eu. Tem algo a mais
além da agressividade dirigida ao pai. Para além dessa agressividade ele tinha esse
medo de ser “mordido”. É a isso de temer ser modido pelo pai que Freud dá
indicações importantes sobre o tempo pré-edípico, o de ser devorado pelo pai. Ser
mordido, ou comido como no mito de Cronos que engolia os filhos ou no reino
animal onde os filhotes podem ser devorados pelos pais. Tem questões bem
arcaicas e pré-edípicas que estão na origem da fobia. Isso faz parte da constituição
do sujeito e das consequências de nascermos no antro do Outro e todas as
consequências que advém disso.

O Nome-do-Pai
Freud, em seu desenvolvimento teórico, utiliza-se do mito do Édipo na tentativa de
explicar a constituição e a estruturação do sujeito, ou seja, sua posição frente ao
desejo e à lei paterna. Para Lacan, a operação da castração não diz respeito
apenas à ameaça de castração ditada por um adulto, mas principalmente a
uma ameaça cujo efeito deve ser compreendido como uma cisão do vínculo
imaginário e narcísico estabelecido entre a criança e a mãe.
Assim, como solução da angústia causada por essa mudança de lugar, temos o
sintoma fóbico, que se apresenta como uma maneira de relativizar a demanda
imperiosa do Outro. Hans não sabe o que o Outro quer, mas isso não o dispensa de
tentar responder.
No decorrer de seu ensino sobre as psicoses, Lacan elabora a construção do
conceito do Nome-do-Pai, trazido para o campo do significante. A partir
do Seminário 3: as psicoses (Lacan, 1954-55), o significante do Nome-do-Pai passa
a ser o eixo das articulações lacanianas a respeito da função paterna.
A instauração do Nome-do-Pai se faz estruturante para a criança, na medida em
que permite a ela se situar enquanto sujeito submetido à lei, à castração e, por isso,
desejante, e não mais como objeto do desejo do Outro. Nesse momento o peso do
simbólico recai sobre o pai, enquanto a mãe é dada como natural. A questão do
significante, da linguagem, da lei, da ordem simbólica, vem com o pai. E é
justamente aí que podemos entender em quê o pai do pequeno Hans hesitou. Ao
apresentar-se como uma voz fraca, não operou como agente da castração,
deixando, assim, que o menino tivesse um irrestrito acesso à mãe.
Se a mãe não se instala de forma a permitir ao filho fazer uma produção
organizadora, a fobia surge como saída. O pai se apresenta claudicante na
sustentação do desejo da mãe e este é reafirmado e não dialetizado pela lei da
castração. A saída encontrada pelo sujeito é, então, utilizar-se das insígnias
paternas que lhe restam para improvisar uma metáfora do Nome-do-Pai, dando
origem ao significante fóbico. Essa metáfora porta uma referência ao falo.

O falo é um representante do desejo, um vetor do desejo, direciona o sujeito em


direção ao seu desejo. O desejo inconsciente (que não deve ser tratado como uma
vontade consciente), é sempre enigmático e por isso mesmo ele apela ao saber,
constituindo assim o sujeito articulado a um desejo de saber. Lacan (1998 [1958])em
“A significação do falo” demarca bem que o falo tem uma função constitutiva, pois
tem uma função de simbolizar a diferença sexual introduzindo o sujeito em
sua existência e em sua posição sexual. Isso só pode ser apreendido, diz ele, se
o tomarmos como um significante indispensável pelo qual o desejo do sujeito é
reconhecido como tal, quer seja homem ou mulher. O falo, portanto, não está no
corpo, mas na linguagem. O falo se desloca na cadeia significante do paciente
dando a direção do seu desejo. Lacan chamará o falo de significante da falta
no Outro: S(A).Será em torno do falo - enquanto possibilidade de perdê-lo ou na
vontade de tê-lo - que Freud organizará a questão da sexualidade humana,
procurando, por meio dos complexos de Édipo e de castração, explicar como o
sujeito acede ao posicionamento subjetivo feminino ou masculino.
A partir de uma formulação em três tempos não cronológicos, mas lógicos, nas
quais assistimos a hipótese edípica ser amarrada à inscrição do registro simbólico.
No primeiro momento, temos o falo como objeto com a qual a criança se identifica,
visto que deseja o desejo da mãe. A criança está na posição de ser o falo - objeto
do desejo do Outro. Já no segundo tempo, a criança é desalojada do lugar de ser o
falo para ter ou não ter o falo, podendo vir a se constituir como um sujeito desejante,
e isso guarda profunda ligação com a mensagem que o pai dirige à mãe. O falo
passa de objeto imaginário do desejo da mãe a significante do desejo do Outro.

Lacan, ao efetivar a leitura do complexo de Édipo freudiano, estabelece uma importante


noção teórica — o Nome-do-Pai. O autor (1957-1958/1999) analisa os efeitos simbólicos do
Édipo e produz a desvinculação entre mito e psicanálise à medida que destaca o que há de
estrutural no mito edípico.

No primeiro tempo, a criança é identificada ao objeto de Desejo da Mãe na


construção lógica possível devido à equivalência simbólica bebê=falo, oriunda do complexo
de Édipo da mulher, que permite à criança ser colocada em posição de identificação com o
falo materno. A mãe, como ser falante, é submetida à lei simbólica, e a criança dela recebe
a incidência dessa lei.
O segundo tempo corresponde à inauguração da simbolização. Ao apresentar o
Nome-do-Pai em seu estatuto simbólico nos Seminários 4 e 5, Lacan expõe, através da
metáfora paterna, que falasexistem em torno do sujeito desde sua infância. Mas a essência
da metáfora paterna consiste na tríade, criança, mãe e pai.
No esquema L, Lacan mostra que tudo o que se realiza no sujeito (S) depende do
que se coloca de significante no Outro (A). O Outro é o lugar do significante, ele tem que
trazer algum reflexo do significante essencial, o significante do Nome-do-Pai. A função do
pai está no centro da questão do Édipo, na questão do desejo recalcado entre a criança e a
mãe (LACAN, 1957-1958/1999).
É preciso que o Desejo da Mãe seja barrado pelo Nome-do-Pai. A barra é o
recalque, efeito da castração, e o recalque ocorrem quando algo interdita a mãe. Isso é a
operação da metáfora paterna, o pai simbólico. O pai entra não como o pai que procria, mas
em sua função, agindo com seu nome de pai. O pai no registro simbólico é uma metáfora,
um significante que surge no lugar de outro significante o que introduz, na simbolização, o
significante materno. A metáfora paterna constitui a simbolização primordial entre a criança
e a mãe.

Pai Mãe
.
Mãe x

O pai vem no lugar da mãe. A mãe já


estava ligada ao enigma do significado na relação do sujeito com a mãe. A presença e
ausência da mãe leva à simbolização. O significado das idas e vindas da mãe é o falo.

A criança pode conseguir vislumbrar, desde muito cedo, o que é o x imaginário, e,


uma vez tendo compreendido, se faz de falo, pois é preciso que a criança se aliene aos
significantes do Outro, encarnados pela mãe, para mais tarde se separar. A criança se
identifica ao falo que gera todo o polimorfismo da perversão (LACAN, 1957-1958/1999, p.
181). Na via simbólica, metafórica, a mãe é substituída pelo pai como significante na
medida em que a metáfora paterna pode nomear o Desejo do Outro materno. Como
significante primordial, S1, o Nome-do-Pai fornece o movimento dialético dos significantes e
instala o S2 para que a linguagem se estabeleça e retroativamente simbolize o Desejo da
Mãe transformando-o em um significante.

Esse tempo é marcado pelo jogo do carretel, do Fort-da descrito por Freud no “Além
do princípio do prazer” (1920/1996), em que a criança repete por meio de brincadeira o
desaparecimento e aparecimento da mãe enunciando os vocábulos que representam
sucessivamente seu afastamento e seu retorno.

A criança passa a mediar o desejo do Outro, mantendo-o à distância ao simbolizá-lo


através do significante fálico. Assim teremos o sujeito desejante em ação. A ação de
destruir o objeto fazendo-o aparecer e desaparecer negativiza o campo das forças
do desejo “para se tornar, em si mesma, seu próprio objeto” (LACAN, 1953/1998, p.
320).
NeNo terceiro tempo do Édipo, o pai deixa de ser a lei e passa a ser o
representante dela. A castração não é portanto apenas dupla (da criança e da
mãe) mas também do pai. Ninguém é mais o falo, assim como também ninguém
é mais a Lei.
O que ocorre é que a criança não se identifica mais com o falo, ou seja, com a
imagem de perfeição narcísica que possuía de si mesma.
Agora ela irá se identificar com o pai enquanto representante da Lei.
Identificação com o supereu do pai e interioriza a lei constituindo-se como
sujeito.
É o momento em que a criança, ao ser separada da mãe pelo interdito paterno,
toma consciência de si mesma como uma entidade distinta e como sujeito e é
introduzida na ordem da cultura. Esse é também o momento inaugural da família
simbólica.
sse terceiro tempo, o pai eixa de ser a lei e passa a ser o

Freud vai trabalhar junto com o caso do homem dos lobos em inibição, sintoma e
angústia.

Relato do sonho:
“Sonhei que é noite e que estou deitado em minha cama (ela ficava com os pés
para a janela, diante da janela havia uma fileira de velhas nogueiras. Sei que era
inverno quando sonhei, e era noite). De repente a janela se abre sozinha, e vejo,
com grande pavor, que na grande nogueira diante da janela estão sentados alguns
lobos brancos. Eram seis ou sete. Os lobos eram inteiramente brancos e pareciam
antes raposas ou cães pastores, pois tinham caudas grandes como as raposas e
suas orelhas estavam em pé como as dos cães, quando prestam atenção a algo.
Com muito medo, evidentemente, de ser comido pelos lobos, gritei e acordei. Minha
babá correu até minha cama, para ver o que tinha acontecido. Demorou algum
tempo até eu me convencer que tinha sido apenas um sonho, tão nítida e tão
natural me pareceu a imagem da janela se abrindo e os lobos sentados na árvore.
Finalmente me tranquilizei, me senti como tendo escapado de um perigo, e tornei a
dormir. “A única ação do sonho era a abertura da janela, pois os lobos estavam
sentados bem quietos nos galhos da árvore, sem qualquer movimento, à direita e à
esquerda do tronco, e olhavam para mim. Era como se dirigissem para mim toda a
sua atenção. Acho que este foi meu primeiro sonho angustiado. Na época eu tinha
três, quatro, no máximo cinco anos de idade. Desde então, e até os onze ou doze
anos, sempre tive medo de ver algo terrível nos sonhos.”
Aí Freud vai tentar dar conta da fantasia sádico-anal de ser mordido. No
desenvolvimento da libido estaria aí aquilo que Freud irá definir no texto sobre o
masoquismo. Existe uma posição hostil de eliminar o pai e uma posição passivam
frente ao pai de ser devorado pelo Outro. Vamos ver Lacan trabalhar essa questão
ao falar da incorporação do significante e falar sobre o efeito da incorporação
significante pensando o pai como um significante, o significante do nome-do-pai. O
pai é um nome, o totem é um nome, pai morto em Totem e Tabu. Tem algo além na
pulsão hostil dirigida ao pai e que está relacionada ao tempo lógico do sujeito do
inconsciente. Esse tempo lógico é uma coexistência de tempos o que foge a lógica
desenvolvimentista de passagem por fases libidinais. Existem alguns momentos da
libido nos quais ocorreu maior investimento e podemos retornar a eles como nesse
caso onde algo da angústia levoou a uma regressão pré-edípica a esse medo de
“ser modido”, ou “ser devorado pelo Outro”. Freud dirá que é uma regressão tópica
da libido às fases pré-genitais. Ele segue falando da super-ternura que Hans possui
pela mãe e a angústia de castração que levou à saída do quadro fóbico.

Esse substituto do pai, o cavalo, precisou entrar em ação na fobia para que o sujeito
tenha um efeito de castração. O cavalo totêmico é uma construção desse sujeito
diante de algo que sozinho ele não poderia resolver. Ele precisou recorrer a um
annimal totêmico para elaborar a castração. No final do capítulo 4 de Inibição,
sintoma e angústia, Frued diz que o sujeito tenha que criar recursos para se
defender dessa angústia, que é um perigo real, uma angústia de castração frente às
exigências da pulsão. A angústia nasce no eu e se constitui como uma defesa frente
à exigências da pulsão como tentativa de conter os excessos da pulsão. Esse
excesso nos leva ao entendimento do conceito de gozo para o qual o sujeito nasce
sem recursos para isso. O significante é o recurso necessário como nos diz Lacan,
como forma de aparelhamento do gozo e sua possível extrusão de gozo pela
intrusão do significante. Houve aí uma castração do gozo que permite uma
metabolização disso que é avassalador para o sujeito se ele não tem recursos para
lidar com isso.

Hans em Totem e Tabu e o menino das galinhas. O menino cacarejava e imitava as


galinhas. Esse traço de imitação e incorporação das características do animal
totêmico é o que Freud descreve nos sistemas totêmicos. O menino com dois anos
e meio vai para a casa de praia onde encontra as galinhas e se identifica com elas.
As galinhas bicam o seu pênis. Um ano depois retorna para essa casa e começa a
matar as galinhas e diz que quando crescer será uma galinha e quando crescer
mais será um galo. Dirá que o galo é o papai e ele é um pintinho. Após matar a
galinha ele faz carinho nas galinhas mortas em sua ambivalência afetiva. Quando
ele vai se tratar com Firenze já voltou a falar. A curiosidade sexual é o que faz ela
se interrogar o que está acontecendo ali. A criança satisfazia seu apetite sobre o
enigma sexual ao invés de questionar a família desloca para a comunidade das
galinhas. Ele diz para uma vizinha “vou me casar com você, com a sua irmã e
também com as três primas e a cozinheiras, não eu acho que ao invés da cozinheira
eu vou preferir minha mãe”. A relação entre o totemismo e o complexo de Édipo
leva Freud a concluir que ele queria ser dono de todo o galinheiro. Ele queria todas
as mulheres. Quem atende crianças se depara com essas intenções infantis de
querer ser o galo. Em um caso da Rosane Melo era o caso de uma menina que
tinha medo de núvens. A partir dos 4 anos e meio começa a desenvolver a fobia de
núvens e começa a análise aos 5 anos e no desenrrolar do caso a analista conclui
que ela chega a descrição da cena de que tem medo de núvens de tarde quando
fica na janela esperando a mãe chegar. O desencadeamento da fobia tem essa
cena. A associação é da mãe com a núvem, um deslocamento, um temor que se
refere a aproximação materna. Com quinze anos essa menina retorna para a
análise. No primeiro momento ficou somente 6 meses. Com 15 anos a questão era
a invasão materna na vida dessa filha. Essa menina passa mais um anos em
análise para se desvencilhar da autoridade materna, dessa invasão materna em
todos os campos da vida dela no sufocamento que ela vivia com essa mãe. Como o
caso hans é muito paradigmático localizamos um pai que funciona como um
“banana” um pai que não barra o crocodilo materno que não consegue segurar essa
boca. O banana está sempre caindo. Tornou-se um caso de devastação ao desejo
da mãe que não chegou a ser trazido na infância quando a fobia cedeu, mas não
houve a elaboração que dissesse respeito a essa posição que a mãe tivesse em
relação a essa filha. Aí está a função do significante que vem por meio da fobia a
esse apelo a função paterna. A relação do traumático e a função do significante. O
caso apresentado pelo lacan no seminiário de um Outro ao Outro. É um caso que
lacan comenta da Helen Doite.
A fobia do caso começou com o irmão mais velho forçando a ser o galo que subia
na galinha. O paciente na época com 7 anos gritava que não seria a galinha. Assim
ele fica com fobia diante da angústia de servir de objeto para o irmão. Ele vivia em
uma fazenda onde tinha galinhas e ia no galinheiro com a mãe e ela apalpava as
galinhas para ver se tinha ovos e ele pedia que o apalpasse como fazia com as
galinhas. Depois começou a fazer ovos para a mãe porque colocava coco pela casa
e a mãe ficava com repugnãncia enquanto ela ficava feliz com o ovos colocados
pela galinha. O que é interessante é que nesse momento da eclosão da fobia nos
três casos, hans, pequeno homem galo e esse da helene Deutche. No hans Freud
volta a isso e temos o advento do corpo que é uma ereção que vai iniciar a
emergência da angústia. Se formos pensar naquilo que é aquilo o advento desses
três fóbicos colocaremos a ereção em Hans como um pênis traumático. No homem
galo ele é surpreendido pela galinha que o bica, ele é bicado no pênis como algo
que o surpreende. Nesse caso da helen ele é submetido a um outro que é colocado
em uma posição de submissão e ele grita não e é depois desse não que ele começa
a desenvolver a fobia. Clinicamente temos uma indicação importante que implica
uma surpresa por alguma experiência para a qual naquele momento ele não tem
recursos simbólicos para lidar. A fobia é uma sentinela avançada que permite o
sujeito deslocar essa angústia. Efeito dessa situação que foi traumática para o
sujeito e para a qual o sujeito não se sente amparado. Então ele precisa construir
um anteparo por meio do significante o que vem através de um animal totêmico que
no caso de Hans é o cavalo.

O medo de baratas ou outro animal na vida adulta só mostra a relação entre a


infância e o infantil daquilo que resta da infância que é o nosso infantil. É por isso
que estamos apresentando esse quadro da fobia sobre a estruturação do sujeito e
como algo que define as defesas com a emergência da angústia. A neurose é uma
defesa, a fobia é uma defesa. Freud tem essa expressão da função desse
significante. Embora seja prevalente os casos de animais mas o importante é a fobia
que pode ser de uma núvem porque é o deslocamento dessa relação do desejo do
Outro sobre o sujeito. É através de um significante qualquer eleito pelo sujeito
enquadrar a angústia na medida em que o significante totêmico permite o sujeito
localizar um perigo real. Esse perigo é passível de alguma elaboração, de algum
deslocamento pelo jogo dos significantes através da fobia. A ideía que Freud coloca
é que diante de um perigo real o sujeito vai com as armas que tem para poder
localizar esse perigo. É isso que a fobia permite, a localização de um perigo e a
partir daí o sujeito pode entrar em uma rede de significantes para que o perigo não
se torne um promotor de defesas.

Isso poderia se deslocar para o medo de entrar no avião ou no elevador? Sim, se


pensarmos o trauma e a angústia para pensarmos nisso.

Esse objeto fóbico é algo acessível que está próximo do sujeito. Tem que ser de
fácil acesso ou poderia ser como no caso do homem do lobo poderia ser o medo do
lobo que vem das histórias infantis? Essa é uma pergunta. De qualquer forma
precisa receber do campo do Outro. Todo sintoma tem um sentido e tem que ser
procurado na história do sujeito. Se você pega um caso de um adulto você tem que
fazer um trabalho de historicização para que ele busque nos capítulos censurados
de sua história para que ele consiga construir essas associações que aparecem
deslocadas e metaforizadas no sintoma. Na criança a obra em progresso com
menos deslocamentos e com o que os pais falam de recolher esses elementos. Por
isso o trabalho de transferência com os pais é que voce vai poder compor esses
cacos que surgem nos sintomas da criança. Isso é uma vantagem no trabalho com
crianças. E talvez por isso um tratamento mais curto e soluções mais rápidas.

Articulando a fobia com a angústia. Quando acordamos angústiados o recalque


ocorre e a angútia passa. Na análise é que a angústia perdura. A fobia como uma
formação substitutiva é uma primeira forma de dar um tratamento significante para a
angústia, mas ela não elimina a angústia. O perigo está no avião, nas núvens, nas
galinhas e fazemos um trabalho significante em torno desse perigo mas traz uma
proximidade muito grande da angústia. Não são quadros que permitem a eliminação
da angústia a angústia existe mas ela está enquadrada.

A angústia é entendida como um verdadeiro sinal de alarme, uma defesa


contra um perigo que se aproxima. Que perigo é esse? De perder o seu lugar
no amor de sua mãe. 
O que se produz? Uma regressão como explica Lacan no Seminário 4.  A
criança apodera-se novamente do objeto oral, seio. Ocorre um medo de ser
devorado pela mãe. Essa é uma primeira forma de fobia nos diz Lacan. Na vida
real, a criança quando nasce, tem a proteção de sua mãe, sendo totalmente
dependente de seus cuidados, este período de alienação a priori é necessário,
porém, em contrapartida traz a angústia de não poder dizer sobre si, de estar
alienado, conectado ao desejo alheio. A angústia acarreta a falta de palavras, a
falta de possibilidade de simbolização. E por isso o pai é convocado como pai
simbólico da lei do desejo. Há um apelo, feito através da fobia infantil para que
o pai possa efetivar a necessária separação da criança dessa relação dual com a
mãe.
Portanto, Lacan irá colocar que a angústia não é sem objeto porque é o
excesso da presença materna que causa a angústia. Lacan em Seminário 10
(2005) ainda coloca sobre em Inibição, Sintoma e angústia:
A angústia é a reação-sinal ante a perda de um objeto. (...) Vocês não
sabem que não é a nostalgia do seio materno que gera a angústia, mas a
iminência dele? O que provoca a angústia é tudo aquilo que nos anuncia,
que nos permite entrever que voltaremos ao colo. (...) O que há de mais
angustiante para a criança é, justamente, quando a relação com base na
qual essa possibilidade se institui, pela falta que a transforma em desejo, é
perturbada (...) Não se trata de perda do objeto, mas da presença disto:
de que os objetos não faltam (p.64).

Nesse caso, não se trata de um objeto do mundo sensível, mas de um


objeto que não é representável, do registro real, confiado como causa atrás do
desejo. Podemos dizer que a angústia possui um objeto, mas esse objeto é a
Coisa, ou seja, o desejo do Outro sob o qual a criança precisa obrigatoriamente
alienar-se em sua entrada na linguagem.
No seminário 17 Lacan apresenta a dimensão de gozo na qual a
metáfora paterna deve atuar. O Real e a o gozo são revistos através do mito do
pai da horda primitiva e a apresentação da metáfora da “Mãe-crocodilo”
sempre preste a fechar a boca sobre o filho. É o pai que une o desejo e a Lei,
que permite ao sujeito escapar dos caprichos maternos (QUINET, 2015: p. 35).

O sintoma é o uso estravagante do corpo em inibição tem que falhar pra que o
sujeito possa pedir análise e o sintoma não dá mais conta de fazer o antepara
contra a angústia. O delicado da fobia é que o sujeito tem uma angústia constante e
o sujeito só cria algumas evitações mas tá muito próximo da angústia. A fobia é um
anteparo precário contra a angústia como uma formação sintomática. As defesas
são erguidas contra a pulsão é da pulsão e das exigencias pulsionais que o sujeito
se encontra sem recurso inicialmente e tem toda essa questão do desamparo
fundamental. Por isso que a fobia nos ajuda a pensar nesse aparelhamento psíquico
que a linguagem permite contra o gozo. Sempre tem algo que não passa pela
linguagem mas é um recurso e é por isso que Freud está marcando desde Totem e
Tabu um significante que substitui o pai, mas a função do pai do complexo de pai na
função de amarração dos três registros, amarração da angústia e aí a função do pai.
Então o pai é um significante do pai morte, do significante encarnado que permite
uma identificação que o significante permite como saída a uma primeira
identificação ao objeto. Estamos falando de tempos. Iremos continuar a falar da
questão da angústia amarrada ao objeto para pensar na função do significante
totêmico.

Função da localização do perigo real que o significante fálico permite.

Falta uma aula

No seminário 16 de lacan de um Outro ao Outro, no capítulo 19 “Saber e Poder” e


no capítulo seguinte “Saber e gozo”. No caso de de hellen Doithy o rapaz é
encaminhado pela família quando tinha 20 anos de idade e era homossexual e a
família achava que ele tinha que se tratar por causa disso e chega na análise muito
bem resolvido com a sua questão da homossexualidade e relata para a análise um
período intenso da vida dele em que ele passou por dois momentos de episódios
fóbicos. Lacan quando apresenta o caso já apresenta com umas elocubrações mas
vamos ver o caso tal qual Helen D construiu. Então ela conta que o rapaz nasceu
em uma fazenda e essa fobia o atingiu de tal forma que ele teve que abrir mão da
vida dentro da fazenda e mudar-se para a cidade e não assumir os negócios da
família. Ela localiza logo no início da construção do caso que a homossexualidade
dele tem a ver com o irmão mais velhos e o desencadeamento da fobia também tem
a ver com um episódio que acontece entre ele e o irmão mais velho. Ele diz que
antes dos sete anos de idade não tinha nenhum problema, ele não lembra de ter
nenhum tipo de impedimento e vivia na fazenda sem problemas. Ele é o mais novo
de três irmãos mas ele passa aos 7 anos pelo que a analista considera uma
experiência traumática. Ele estava brincando com o irmão mais velho que tinha
cerca de 12 anos e repentinamente ele estava agachado brincando com o irmão e o
irmão monta em cima dele e o prende dizendo a frase “eu sou o galo e você é a
galinha”. Ele tenta se desvencilhar do irmão porque o irmão é mais forte e ele aos
berros grita “eu não vou ser uma galinha” porque o irmão continuou segunrando
ele. A partir desse episódio ele começa a desenvolver uma fobia de galinhas de tal
modo que ele mal saída de casa se não tivesse uma série de precauções de afastar
as galinhas do campo visual. Ele associa que isso tudo acontece quando nas
brincadeiras com o irmão toda vez que o irmão passava por uma galinha e ele
estava perto ele dizia “é você”. E aí ele foi se afastando não só das galinhas mas da
zombaria do irmão e isso leva um bom tempo. A analista diz que era um sadismo do
irmão mais velho. Por cerca de 2 anos ele fica paralizado dentro de casa assim
como Hans. Se ele visse nesse período uma galinha entrar na casa ele tinha uma
crise de angústia. Essa fobia cede e aí ele associa em análise, quando o irmão sai
de casa pra estudar fora.

Quando ele já era um jovem vai ter um episódio com a governanta que faz com que
a família decida que ele teria que sair de casa para ir estudar em outra cidade. Ele
vai e fica morando com um professor mas em um retorno para casa ele encontra o
irmão e tem a ter uma fobia e vai aos poucos melhorando e quando chega na
cidade a fobia desaparece completamente. Aí a analista se pergunta o que
aconteceu antes do período traumático? Essa é a mesma pergunta que Freud faz
no caso de Hans. O que havia antes do desencadeamento da fobia? Bom, esse
jovem era considerado o queridinho da mãe e a acompanhava em tudo e sobretudo
nas idas dela no galinheiro. Quem tem familiaridade com ambiente de fazenda sabe
que é comum que ao coletar os ovos das galinhas apalpe a cloaca das galinhas
para ver se tem um ovo para sair. E ele via a mãe fazer isso nas galinhas e quando
ele ia tomar banho começa a pedir para a mãe apalpa-lo para ver se ele tinha um
ovo assim como as galinhas. Ele adorava ser apalpado pela mãe e pedia para que
ela apalpasse o períneo dele com os dedos e com o tempo ele mesmo passa a
enfiar os seus dedos no ânus e vai segurar as fezes e fazer bolinhos de cocô como
se tivesse colocando oviinhos e ficava muito decepcionado quando percebia que a
mãe não ficava tão feliz com os cocôs dele como ficava quando as galinhas
colocavam ovos. Os pais passam a repreendê-lo e ele passa a desenvolver o hábito
masturbatório do erotismo anal e dava um jeito de massagear o períneo. Ele vai
contando em análise essa relação com a história das galinhas e seu erotismo anal.
Nessas fantasias masturbatórias tinha fantasias com a mãe e que a mãe tinha um
pênis. Hellen doithy tem uma visão desenvolvimentista das fases da libido que se
chegaria a genitalidade o que difere do entendimento de Lacan. Nessas fantasias
com a mãe o seu próprio pênis era um dos órgãos da mãe. A análise mostra,
segundo essa analista ao ver o galo montado na galinha ele se identifica com a
galinha e para ela o “não vou ser uma galinha” significava uma recusa inconsciente
do desejo de estar no papel passivo. Então ele estava fantasiando quando se
masturbava ou pedindo para a mãe o apalpa-lo. Sua resistência significava a
repulsa pela satisfação do desejo do que se manifesta na fobia de galinhas assim
como hans e o homem dos lobos o paciente desloca o perigo interno para o perigo
externo. Então na puberdade ele foi mandado para um colégio interno e o incidente
com a governanta foi o fato de ter descoberto que o irmão mais velho estava tendo
um caso com a governante e ele vai querer ter um caso com ela e ela se recusa e
ele não aceita a recusa dela e tem um ataque de fúria e monta em cima dela
fazendo o que o irmão fez com ele para tentar violar ela naquela posição. Aí a
família decidiu que ele não podia ficar em casa e é aí que ele vai para uma escola
na cidade longe da família. A analista considera que o que o liberou dessa fobia foi
que em um desses retornos para a casa ele descobre que o irmão é um
homossexual declarado. Saber que o irmão era homossexual foi importante para
que a fobia retrocedece. Foi nessa mesma ocasição que ele teve esse episódio
fóbico quando ele volta para casa e o irmão se declara homossexual e ele tem uma
crise fóbica e quando vai para a cidade tudo passa, então essa frase “não preciso
mais ter medo do ataque do meu irmão porque sou eu que agora ataco”. Ele sempre
se interessava por rapazes jovens como ele porque ele passa para uma posição
ativa fazendo o que o irmão fez com ele.

O que o Lacan dirá sobre esse caso no seminário 16? Ele destaca o que estava
acontecendo antes do desencadeamento da fobia.As galinhas não eram
insignificantes para esse jovem como o cavalo não era para Hans. Não é um
significante qualquer. Ele via a mãe apalpando a cloaca das galinhas e queria ser
apalpado e se designava ali como aspirante a fornecer o objeto do que constituía o
interesse para a mãe. Colocar ovos era produzir um objeto que causava o interesse
da mãe. Afinal aquele que nasce se encontra no lugar do ovo porque é ali a criança
se colocando como objeto do desejo da mãe. Quando o irmão mais velho que sabe
perfeitamente o que acontece no galinheiro e o segura por trás e diz eu sou o galo e
você é a galinha ele grita e diz “não” como se dissesse “não quero sesr uma galinha
qualquer desse galinheiro” porque queria ser uma galinha de ouro para a mamãe. E
Lacan se pergunta “então porque ele vai dizer não para o irmão se ele gostava de
fantasiar ser uma galinha para a mãe?” A não ser que haveria ali uma relação
narcísica que se instala nessa relação com o irmão e como toda relação de
rivalidade traz uma relação de poder e começa a ter essa outra tensão que se
inscreve nesse registro. Aquilo que era investido com uma certa significação
imaginária tropeça. Aí entra a função do significante fóbico, a função da fobia. O que
tropeça? Se ele estava ali no jogo imaginário com a mãe de ser o objeto da mãe
estava ok, mas o que causa angústia foi esse domínio que o irmão exerce sobre ele
e monta sobre ele e faz com que essa posição de ser dominado e ser possuído seja
para ele insuportável. Ser objeto no jogo com a mãe, ser uma galinha de ovos de
ouro para mamãe tinha uma função imaginária mas isso tropeça quando essa outra
vertente de objeto possuído e dominado aparece. Isso dá um susto e traz um perigo
que é o que Freud já havia ensinado em Totem e Tabu. Essa é a verdadeira
função da fobia então e a galinha passa a ter uma função significante e lhe dar
medo. A função da fobia substitui a angústia em medo. A fobia substitui um
objeto da angústia por um significante que causa medo porque frente ao
enigma da angústia a sensação de perigo é tranquilizadora. É melhor ter medo
de alguma coisa do que ficar angustiado porque se consegue localizar a angústia e
o sujeito pode dialetizar sobre isso. Essa função é o que Freud vai destacar em
Totem e Tabu e localiza a tribo. Se passa a ter tabus e tem o totem como um
significante que é da ordem de uma organização, uma localização pois sempre há
tabus vinculados aos totens. Então sempre há uma possibilidade que o significante
traz de tornar legível uma experiência e sair da vivência dos afetos enigmáticos.
Assim reconstruímos esse totemismo na infância. Então em Totem e Tabu Freud vai
falar da zoofobia para pensar naquilo que retorna na infância como sistema totêmico
e a relação com o totem é sempre ambivalente de horror ao sagrado e que no final
do capítulo 4 Freud discute o banquete totêmico que embora tenha a proibição de
matar o guardião é possível em determinados momentos matar o totem de fora a
reviver esse momento que se assassinou o guardião da tribo. A associação entre a
fobia e o sistema totêmico e sua função disso para Hans foi pela via da identificação
ao pai em totem e tabu Freud destaca que uma das função da eleição do totem é
permitir a identificação com o totem de tal maneira o sujeito nos rituais se vistam
como o animal totêmico encarnando os traços do animal da tribo então nos
perguntamos porque uma criança precise eleger um animal totêmico para ser um
significante temido mas que ao mesmo tempo permite localizar o perigo porque os
tabus também orientam os laços sociais dentro da tribo e algumas limitações. Nós
sabemos que ao final dessas elocubrações dessas relações de objeto é o grande
perigo do sujeito permanecer na posição de objeto que vai ser reincorporado ao
grande Outro como a mãe bocarra de crocodilo sempre ameaçando reacoplar o
sujeito ao seu próprio corpo. Esse é o verdadeiro perigo porque aí há uma
destituição subjetiva, um objeto que entraria nessa relação com o outro despossuído
das suas possibilidades e das suas potências. Aí é que encontramos a fobia como
uma sentinela avançada como um sistema de proteção do sujeito porque se ele fica
nessa posição de ser o ovo de luxo da mãe o que há é o aniquilamento do sujeito
que ele de alguma maneira vive quando se vê totalmente dominado pelo irmão. No
caso do “homem galo” foi que ele viu tudo o que acontecida no galinheiro e tinha
uma curiosidade sexual no que acontecia ali e vem um galo e pica o pênis dele
quando ele ia fazer um xixi. Alí aparece uma fobia e Freud relaciona essas primeiras
ereções que tomam de assaltam o sujeito porque trazem uma primeira vez desse
evento porque o sujeito se vê ali dominado por um gozo que ele não domina. Ele ali
despossuído da sua potência e se deparando em uma posição de subjulgado pelo
outro ou pelo próprio órgão no caso da ereção de um pedaço de carne que fica
ereto sem que o sujeito saiba exatamente o que está acontecendo ali é traumático e
está se vendo ali na posição de estar sendo dominado por algo que ele não domina.
Essa é uma função importante em relação a fobia. No momento do
desencadeamento da fobia temos esses acontecimentos nesse casos relatados que
assustam e remetem a criança a essa posição de objeto. Mas porque o totemismo?
O animal totêmico permite que a gente construa um sistema de orientação das
ações e permite colocar no lugar do gozo um significante que carrega uma
significação com a qual o sujeito pode se identificar porque essa é uma das funções
do totem e permite manter esses sentimentos ambivalentes que se tem em relação
ao totem. Freud diz que o totem é um substituto do pai. Se ele é um substituto do
pai e falamos no complexo de édipo de modo a não encarnar o pai da realidade mas
na função paterna o que importa é que se encontre aí um significante que o sujeito
possa a vir a se identificar para além de ser um objeto do desejo da mãe. Na
medida em que o totem coloca em questão o poder, quem pode o que dentro desta
tribo e ao mesmo tempo legisla o desejo. O sistema totêmico então permite a
criança a ter acesso a uma significação do desejo. Essa é uma questão muito
importante no texto “A significação do falo”. Um significante que possa colocar em
jogo a significação dada ao desejo da mãe que não restrinja a significação atribuida
ao sujeito de que ela me quer. O falo é algo que marca que o desejo da mãe está
para além do filho e por isso o falo é a estaca na boca do crocodilo. Então um
sistema totêmico que permite uma significação para além do significado atribuido
pela mãe num primeiro tempo que “o cavalo quer me comer”. Esse significado que o
que a mãe quer é me comer tem que ser dialetizado pela criança na medida que a
criança consegue reconhecer que o desejodela aponta para além dele como objeto.
O falo tem essa função de estaca na medida em que permite que a boca de
crocodilo não se feche sobre a criança e permite que o falo entre em um outro jogo
o da significação fálica, quem tem e quem não tem quem pode e quem não pode.
Com isso certas restrições advém com essa possibilidade de atribuir uma
significação fálica e poder desejar que não apenas de poder desejar ser o objeto
que sirva à mãe. Essa é a função do totem como substituto do pai e o pai como um
significante fálico fazemos essa tentativa de compreender essas armadilhas que
uma criança pode se envolver com esse outro materno sem conseguir dialetizar
com o significado do desejo da mãe. A importância do significante fálico e
desdobrando na função da castração simbólica que envolve essa referência à
significação fálica. Isso é importante para pensarmos o trabalho psíquico da posição
desejante do sujeito porque é isso que vai mudar a relação do saber e do poder.

Lacan define a fobia como uma sentinela avançada para salvaguardar o sujeito do
desejo. Então temos como cenário o complexo de édipo e se o totem é o substituto
do pai estamos com tudo o que temos como o complexo de édipo. Porque o sujeito
precisa ficar ali se defendendo do falo que complementaria o desejo materno e o
sujeito precisa criar um recurso para conseguir fazer esse enfrentamento dessa
tentação de se colocar como falo imaginário que daria conta do desejo da mãe. Se o
cenário é o complexo de édipo que ações importantes. O totem representa uma
nomeação de um tribo e um pertencimento caso esse sujeito consinta com esse
traço identificatório com o totem. A função de nomeação do pai está no tabu.
Sabemos que um dos desdobramentos da teoria lacaneana em torno do pai é o “pai
do nome” e não do pai da castração porque é comum encontrarmos em alguns
textos que o pai do freud seria o pai agente da castração e o pai em lacan seria o
pai da nomeação, mas vemos que o pai da nomeação está em Freud e que traz ali
uma linha de descendência. No totemismo temos assim como na fobia o recurso a
um símbolo e que permite uma ação simbólica como na substituição na metáfora
paterna de um significado por um outro significado é preciso dialetizar esse
signficado do desejo da mãe. A mãe recorre a um animal colocado em uma posição
de um significante que substitui um significado e que permite que ela solucione, leve
ao naufrágio do complexo de édipo, porque fica submerso. De um significado do
desejo da mãe que precede mas que traz o enigma da existência para a criança. O
totemismo permite erguer e dá um trabalho psíquico enorme. Quanta coisa o sujeito
tem que produzir da eleição de um animal totêmico. Uma outra vertente do totem
bastante importante é o totem porque ele permite uma orientação ele traz a função
da lei porque todo totem traz os tabus que nada mais são do que proibições,
limitações que o sujeito poderia fazer dentro da tribo e fora da tribo aquilo que
orienta e que trabalha essa primeira frase da fobia quando uma conduta que permite
o sujeito evitar algo. O incesto não diz respeito a proibição de se dormir com a mãe,
mas servir de objeto da mãe é ser colocado nessa posição que se acopla ao corpo
materno, mas que Lacan sempre acentua que essa proibição deve estar inscrita no
imaginário materno porque é uma tentação também ao lado da mãe. Isso traz uma
série de questões para a mãe, que mulher é essa que está por trás da mãe e na
clínica com crianças muitas vezes precisamos fazer um trabalho com essas mães
para verificar o lugar da criança no desejo materno. A neurose é uma defesa e é
preciso que alguma coisa aparelhe o gozo e o coloque como metabolizado,
aparelhado. Caso contrário o sujeito fica a mercê desse gozo.

A operação simbólica deixa restos e por isso temos inibiição, sintomas e angústias,
mas é disso que se tenta defender. Ou seja, já uma renúncia pulsional necessária e
por fim essa relação que Freud aponta a fobia como um quadro inerente à infância e
cumprir sua função sem grandes barulhos em alguns sujeitos um tempo maior para
essa operação. A fobia como um quandro inerente à infância devido ao retorno do
totemismo na infância e alguns precisam de mais tempo para essa elaboração e é
quando surge uma eclosão de uma fobia. Na vida adulta isso não dá notícias
quando temos medo de barata está recalcando, mas dá notícias. Algum acidente de
percurso no contexto familiar faz com que o animal totêmico a ser temido precisa de
um tempo maior pressa cena e nos perguntamos na clínica que conjuntura familiar
está acontecendo ali para quem poderia estar na posição paterna que o sujeito
possa forjar a sua defesa.

Casos clínicios de crianças e mesmo de adultos em crises de pânico nos remetem a


isso para podermos pensar em como esses conceitos no instrumentalizam na
clínica. O pai tem que incidir para levar o sujeito a dialetizar sobre esse gozo.

Portanto, Lacan irá colocar que a angústia não é sem objeto porque é o
excesso da presença materna que causa a angústia. Lacan em Seminário 10
(2005) ainda coloca sobre em Inibição, Sintoma e angústia:
A angústia é a reação-sinal ante a perda de um objeto. (...) Vocês não
sabem que não é a nostalgia do seio materno que gera a angústia, mas a
iminência dele? O que provoca a angústia é tudo aquilo que nos anuncia,
que nos permite entrever que voltaremos ao colo. (...) O que há de mais
angustiante para a criança é, justamente, quando a relação com base na
qual essa possibilidade se institui, pela falta que a transforma em desejo, é
perturbada (...) Não se trata de perda do objeto, mas da presença disto:
de que os objetos não faltam (p.64).

Nesse caso, não se trata de um objeto do mundo sensível, mas de um


objeto que não é representável, do registro real, confiado como causa atrás do
desejo. Podemos dizer que a angústia possui um objeto, mas esse objeto é a
Coisa, ou seja, o desejo do Outro sob o qual a criança precisa obrigatoriamente
alienar-se em sua entrada na linguagem.
No seminário 17 Lacan apresenta a dimensão de gozo na qual a
metáfora paterna deve atuar. O Real e a o gozo são revistos através do mito do
pai da horda primitiva e a apresentação da metáfora da “Mãe-crocodilo”
sempre preste a fechar a boca sobre o filho. É o pai que une o desejo e a Lei,
que permite ao sujeito escapar dos caprichos maternos (QUINET, 2015: p. 35).
Esse enigma sobre o desejo do Outro que o constitui é um resto, um
objeto que escapa à imagem especular que Lacan chama de objeto a. É dele
que se trata quando Freud fala da angústia.O objeto que se trata na angústia é
esse objeto que é apenas um lugar, objeto evanescente, sem consistência, que
tem um estatuto especial de causa do desejo: o objeto a. Quando algo surge
no lugar da castração imaginária, é isso que provoca angústia, uma vez que a
falta falta. É isso que dá o verdadeiro sentido do que Freud designa como
perda de objeto em relação à angústia. A angústia introduz a função da falta,
no sentido de que ela é para a psicanálise radical.
O lugar da Coisa pode ser ocupado por aquilo que Lacan denomina como
o Outro primordial, isto é, a Mãe, em sua vertente de Outro real. É certo que
não se trata da mãe, senão do que é produzido por um ineludível efeito de
estrutura (Lacan, 2005, p. 177).

Da alienção à separação – a brincadeira infantil e o lugar de objeto de gozo do


Outro

As infâncias mais doces são aquelas em que se cultivam as histórias mais


horríveis com uma enxurrada de fadas más e madrastas bem malvadas. Existe
uma função de inspirar a obediência das crianças, mas também porque os
adultos acreditam no Outro. O suspense dá emoção, um substituto do desejo.
Assim, brincar de assustar é divertido, uma excitação de brincar com o medo,
mas com toda a segurança.
Na brincadeira do Fort-da em Além do Princípio do Prazer (1920), a
criança brinca de fazer desaparecer o pião jogando-a para a beira do berço.
Qual a interpretação disso? Freud reconhece inicialmente, a mãe, que se
ausenta com regularidade sem provocar protestos na criança assumindo de
forma ativa, aquilo que sofre na realidade. O ponto alto do jogo é quando o
pião some, ou seja, a criança joga com a perda, joga com o objeto ‘a’. O que
torna o jogo possível é a simbolização por dois significantes, Fort-da. (Soler,
2015, p.48).
Então, no jogo do Fort-da, vemos a incidência do simbólico e do que de
real se apresenta como ausência de imagem trazendo a presença da angústia.
Se o carretel é, por um lado, a demonstração de que “o homem pensa com seu
objeto”, é também, “a libra de carne” que o sujeito deve perder para se
inscrever na tradição do desejo.
Será ao Outro simbólico, ocupado pela função paterna que caberá
oferecer as coordenadas do efeito de separação da criança. Assim, a fobia é
um sintoma positivo na medida em que é um apelo ao Nome-do-Pai que venha
operar como separador da criança diante do gozo materno, do excesso relativo
ao desejo do Outro. Por isso, a fobia é o sintoma neurótico infantil por
excelência por trazer, no objeto do qual se teme, as marcas significantes da
constituição do sujeito do inconsciente.

O falo: neurose ou perversão?

no Seminário 16: de um Outro ao outro, que Lacan vai voltar a falar


sobre a fobia, com ênfase ainda maior à problemática fálica. Ele promove o
falo ao campo do irrepresentável estando do lado do que causa o desejo.
Nesse Seminário Lacan recoloca a questão da diferença sexual na dimensão do
impossível. Essa nova perspectiva o permitiu estreitar a ligação entre fobia e
perversão, já que tanto uma quanto a outra revelam impasses do sujeito com
relação à castração.
A fobia não deve ser vista, de modo algum, como uma entidade
clínica, mas sim como uma placa giratória. [...] Ela gira mais do que
comumente para duas grandes ordens de neurose, a histeria e
neurose obsessiva, e também realiza a junção com a estrutura da
perversão [...] (Lacan, 1968-69, p. 298)

Poderíamos pensar Hans como um pequeno perverso? Lacan (1956-57)


por diversas vezes se pergunta o que fez com que Hans finalmente fosse
neurótico, e não perverso. O jogo com a mãe: as calcinhas desta só eram de
interesse para o filho se elas estivessem vestidas, exercendo sua função de
véu. Fora do corpo, elas lhe provocavam nojo e ele cuspia em cima. Logo, não
constituíam um objeto fetiche que denegaria a castração materna.
Todo o jogo perverso em torno da função do véu concerne à função do
falo. Enquanto a mãe está vestida com a calcinha, Hans tem a possibilidade de
continuar no logro imaginário do falo que falta à mãe. 
Freud escreve que Hans, com sua atitude, marca que as calças da mãe
têm para ele funções diversas quando estão sendo usadas e quando não.
Precisando fazer uma difícil passagem para a simbolização, Hans utiliza-se do
véu. Através de seu jogo de exibicionismo e voyeurismo com a mãe, ele a
observa por debaixo da camisola, supondo o falo enquanto velado. Para ele,
sua mãe está nua e está de camisola ao mesmo tempo. Para seu pai, todavia, é
realmente muito difícil entender o menino, uma vez que a mãe deve ou estar
nua ou de camisola, numa alternativa excludente.
Por outro lado, Lacan se vale do nojo que Hans demonstra ao ver a
calcinha da mãe fora do corpo para marcar a diferença entre o objeto fóbico e
o objeto fetiche. Ele marca que o objeto fóbico, rigorosamente falando, não é
um objeto, mas um significante.
É a questão do falo simbólico que está em jogo na fobia e no fetiche. Na
eficácia da fobia podemos verificar a passagem da criança do engodo
imaginário com a mãe ao falo simbólico. Fobia e fetiche tentam, de algum
modo, suprir a marca da castração que se impõe ao imaginário. O fetiche toma
valor de símbolo ao se fixar como aquilo que lhe traz satisfação francamente
sexual, enquanto na fobia o objeto que limita a angústia também causa medo.
Fobia e fetichismo compartilham certa utilização do objeto, já que em
ambas há a eleição de um objeto que tem uma função simbólica: no caso da
fobia, o de “sentinela avançada” e, na perversão, de “condição absoluta do
desejo”.
Freud indica que o fetiche deve ser decifrado como um sintoma, ainda
que ele esteja situado no campo das perversões e que sua questão diz respeito
à denegação, e não ao recalque. Ele aponta para a denegação da castração
materna, pois o fetiche se faz presente enquanto substituto do falo, que a
criança acreditou existir. Ela não quer renunciar a essa idéia, já que isso
poderia levar à perda de seu órgão, em que está narcisicamente investido.
Freud (1909) nos relata a participação de Hans nas funções
excrementícias da mãe, e o que isso comporta de jogo de ver e não ver, ou
seja, o lance da lógica fálica, ter ou não ter, que é notável realmente. As calças
trazem o tema do véu, da dissimulação da fantasia da mãe fálica. Trata-se do
esconder e negar a ausência do pênis materno.

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