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ISSN: 1806-4892
gestnegocios@fecap.br
Fundação Escola de Comércio Álvares
Penteado
Brasil
Vieira de Oliveira, Oderlene; Arruda Cavalcante Forte, Sérgio Henrique; Araújo Aragão, Lindenberg
Fusões e Aquisições sob a Perspectiva da Vantagem Competitiva: o caso da Perdigão Agroindustrial
S.A.
Revista Brasileira de Gestão de Negócios, vol. 9, núm. 24, maio-agosto, 2007, pp. 91-108
Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado
São Paulo, Brasil
Endereço dos autores: Av. Washington Soares, 1321, Fortaleza – CE Cep. 60811-341 - Caixa Postal: 1258
normally measured be the expectation of return encontrar una respuesta para el problema el es-
of the invested capital. This article, however, tudio tuvo como objetivo constatar si el proceso
pondered the results from a manager’s point trajo ventajas competitivas, separándolo en dos
of view. We understand by result any tangible fases: (i) la integración y (ii) el gerenciamiento
or intangible effect on the organizational de la adquisición (asimilación). El caso fue in-
environment and the company’s position facing vestigado en diecisiete filiales por medio de en-
the market. Thus, we have attempted to answer trevistas (cara a cara o por teléfono) y material
the following question: did the acquisition of secundario. La colecta de datos se dio en 2006
Batavo Frios generate competitive advantage y 2007. El estudio fue de carácter exploratorio,
to Perdigão Agroindustrial S.A.? Searching con abordaje cualitativo. Para la consolidación de
for an answer to the problem, the study has los datos la técnica de análisis de contenido espe-
aimed at checking if the process of acquisition cíficamente el análisis temático (BARDIN, 1977)
has brought competitive advantage while se mostró más apropiado. Puede concluirse que
focusing on two phases (i) integration and (ii) la operación de adquisición de Batavo Frios, ge-
acquisition management (assimilation). The neró ventajas competitivas relativas para Perdigão
case was investigated in 16 branches through Agroindustrial S.A.
interviews (face-to-face and on the telephone),
and secondary material. The gathering of data Palabras-clave:
took place in 2006 and 2007. The study was of Fusiones y Adquisiciones. Ventaja competitiva.
exploratory nature with a qualitative approach. Recursos.
To the consolidation of data the content analysis
technique, especially the theme analysis has 1 INTRODUÇÃO
proven most appropriate. We can conclude that Até os anos 80, eram raros os processos
the acquisition of Batavo Frios has generated de Fusão e Aquisição (F&A) envolvendo grandes
relative competitive advantage to Perdigão empresas no Brasil. Com a globalização, essas
Agroindustrial S.A. práticas passaram a ser mais comum no mer-
cado. Barros, Souza e Steuer (2003) explicam
Key-words: que o número de operações começou aumentar
Fusions and Acquisitions. Competitive Advantage. em decorrência da redução das barreiras de en-
Resources. trada de capital estrangeiro e da inserção do país
no mercado global. Estudo da KPMG (2007)
RESUMEN revela que no ano de 1994 foram realizadas 172
Las organizaciones que tengan interés en nue- operações de fusões e aquisições no Brasil. No
vos segmentos de mercado, pueden optar por ano de 2006, essas operações passaram para
estrategias de fusión y adquisición. El éxito de 4.032, ou seja, houve um crescimento de mais
esas transacciones es normalmente definido por de 2.200% em doze anos.
la expectativa de retorno sobre el capital inverti- Essas transações de F&A apresentam-se
do. Este artículo identificó otra forma de medir como elementos de destaque nas estratégias adota-
los resultados de las adquisiciones a partir de la das pelo setor de alimentos, bebidas e fumo, o que
percepción de los administradores. Definiéndo- pode ser constatado no ranking da KPMG (2007),
se como resultados, cualquier efecto tangible o no qual esse setor ocupa o primeiro lugar.
intangible en el ambiente organizacional y el po- Quando se trata dos processos de F&A
sicionamiento de la empresa frente al mercado. é comum se falar também em vantagem com-
Se buscó responder la siguiente cuestión orien- petitiva. Afinal, esses processos proporcionam
tadora: ¿la transacción de adquisición de la em- às empresas fontes importantes de diferencia-
presa Batavo Frios generó ventajas competitivas ção ou liderança de custos (PORTER, 1995),
para Perdigão Agroindustrial S.A.? Tratando de gerando assim aumento na competitividade.
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Fusões e Aquisições sob a Perspectiva da Vantagem Competitiva: o caso da Perdigão Agroindustrial S.A.
Fica claro que as corporações ao busca- processo de aquisição da Batavo Frios pela Perdi-
rem novas organizações no mercado, fazendo gão Agroindustrial trouxe vantagem competitiva,
aquisições, com o objetivo de ampliar ou modi- focando duas fases do processo de aquisição: (i)
ficar seus portfólios de negócio, buscam obter Integração, e (ii) o gerenciamento da aquisição
vantagens competitivas, visto que é incomum (assimilação). Para tanto realizou-se um estudo
nessa estratégia que uma corporação desenvolva de caso de caráter exploratório, com abordagem
novos produtos internamente, uma vez que evi- qualitativa, na qual se utilizaram técnicas de en-
dências sugerem que a aquisição é uma maneira trevistas semi-estruturadas com questões abertas.
mais rápida e fácil de se modificar ou ampliar os Para a consolidação dos dados a técnica da análise
portfólios de negócios. de conteúdo, especificamente a análise temáti-
Na visão de Churchil e Peter (2000) ca, mostrou-se mais apropriada, sendo aplicada
vantagem competitiva é a capacidade competi- conforme os critérios de análise, codificação e
tiva de uma firma ter um desempenho melhor categorização descrita por Bardin (1977).
que o dos concorrentes na oferta de algo que o Alguns trabalhos têm sido desenvolvidos
mercado valorize. focando F&A no Brasil, mas nenhum foi lo-
Segundo Hitt, Ireland e Hoskisson calizado focando F&A na abordagem vantagem
(2005), uma empresa desenvolve uma vantagem competitiva. Com o abordagem em F&A desta-
competitiva por meio de uma estratégia de aqui- cam-se os trabalhos de Barros (2003); Barros e
sição somente quando essa transação gera sinergia Cançado (2003); Wood Jr, Vasconcelos e Cal-
privada, a qual é criada quando a combinação e das (2004); Casali (2006) e com a abordagem
integração dos ativos das firmas adquirente e ad- em vantagem competitiva destacam-se os tra-
quirida produzem capacidades e competências es- balhos de Ferreira (2006), Oliveira (2007), e
senciais que não poderiam ser desenvolvidas com- Forte, Moreira e Moura (2006) que constituem
binando-se e integrando-se os ativos de qualquer importantes estudos e que contribuíram para a
uma das firmas com os de outra companhia. realização deste pesquisa.
Uma aquisição é uma estratégia por meio Este artigo apresenta-se estruturado da
da qual uma firma compra uma participação de seguinte forma: a primeira seção apresenta o pa-
controle, ou 100%, de outra firma com a inten- norama dos processos de fusões e aquisições no
ção de utilizar uma competência essencial mais Brasil, a classificação e motivos que levam a pro-
eficiente, tornando a firma adquirida um negó- cessos de F&A, as fases do processo de aquisição.
cio subsidiário dentro do portfólio da adquiren- A segunda parte foca a vantagem competitiva e os
te (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2005). recursos e fala-se repentinamente em sinergias de
Apesar de crescentes, os processos de uma F&A. A terceira parte apresenta a metodo-
F&A não vêm apresentando os resultados espe- logia utilizada. O quarto item explica o estudo de
rados. Pesquisa conduzida no Brasil por Barros caso e as análises teórico-empírico. Finalmente a
e Rodrigues (2001), com executivos de grandes quinta parte traz a conclusão do estudo.
empresas, revelaram como problemas: avalia-
ção incorreta do negócio (34,3%), expectati- 2 FUSÕES E AQUISIÇÕES NO BRASIL
va de mercado não atendida (32,8%) e ques- No Brasil, como em muitas outras eco-
tões culturais (19,4%). Diante da incerteza de nomias emergentes, o crescimento do número
tais resultados, buscou-se responder a seguinte de fusões e aquisições acompanhou o proces-
questão orientadora: a transação de aquisição da so de liberação econômica. Este fator favoreceu
Batavo Frios pela Perdigão, para a inserção no os processos de F&A de três diferentes modos:
mercado de derivados de peru, trouxe vantagem primeiro, a desregulamentação dos mercados lo-
competitiva para a adquirente? cais, associadas às tendências internacionais em
Buscando encontrar uma resposta a esse direção à globalização, permitiu que as empre-
questionamento, objetivou-se constatar se o sas estrangeiras adquirissem empresas brasilei-
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Oderlene Vieira de Oliveira / Sérgio Henrique Arruda Cavalcante Forte / Lindenberg Araújo Aragão
Para Evans, Pucik e Barsoux (2002), as ra- alvo (due diligence); fechamento do negócio;
zões para a aquisição podem estar ligadas a domí- elaboração do contrato e do plano de integração
nio de mercado para ganhar economia de escala estratégica da nova organização.
e controle sobre canais de distribuição; expansão Ashkenas, Demonaco e Francis (2001)
geográfica; aquisição e ou alavancagem de compe- apresentam o modelo “Pathfinder Model” (Figu-
tências; aquisição de recursos; ajuste ao mercado ra 1), elaborado pelos consultores da “GE Capi-
competidor; e desejo irracional de executivos. tal Services” como exemplo de um guia gerencial
Rourke (1992) aponta como razões para para detalhar as etapas de desenvolvimento de um
aquisição a necessidade de diversificação pura; a processo de aquisição e integração.
melhoria de posição no mercado; aquisição de Esses consultores dividem o processo
tecnologia; e o aproveitamento de situações de em quatro “estágios de ação”, que são: pré-
reestruturação, quando a empresa tem proble- aquisição, construção de fundamentos, in-
mas de performance. tegração rápida e assimilação. Tais estágios
Em síntese, embora possam ser listados possuem sub-processos e incluem as melho-
vários motivos, F&A são estratégias usuais na res práticas de cada organização. Embora o
busca de crescimento, diversificação e criação modelo seja simples e sistemático, os auto-
de valor para os acionistas. res salientam que nem todos os processos de
aquisição e integração são iguais, pois cada
2.2 Fases do processo de aquisição situação apresenta novos e únicos aspectos.
Segundo Meirelles e Gonçalves (2001), de Como em outros processos de mudança, é
maneira geral, F&A iniciam com um plano de ex- preciso adaptar o modelo às características
pansão dentro do planejamento estratégico da ad- específicas de cada caso. O modelo é um guia
quirente, pois estratégias representam a adequação de planejamento do processo, impedindo que
da organização ao seu ambiente. Para Rasmussen F&A se desenvolvam de forma improvisada
(1989) F&A constituem estratégias que evoluem (CASALI, 2006). Aborda-se nesta pesquisa
passando assim por várias etapas, que são: pesquisa apenas as fases da integração e assimilação.
e seleção de candidatos para a aquisição; investi- A fase de integração é fundamental para
gação detalhada e sistematizada das organizações- garantir o sucesso da operação. Segundo Hitt,
Início
4 1
Melhores Práticas
3 2
Integração Construção de
Implementação Lançamento
rápida Fundamentos
Avaliação e ajuste Exercício de integração
em andamento Formulação da estratégia
pectiva, a quantidade de valor econômico resultan- des para atuar num ambiente competitivo, entre-
te da F&A depende: (1) da qualidade de recursos tanto, eles não representam vantagem competitiva
obtidos pela empresa em relação à quantidade total sustentável.Com recursos competitivos as organi-
presente na economia; (2) da disponibilidade de zações obtêm valor agregado. Os fatores que tor-
oportunidades para utilizar esses recursos. Quanto nam esses recursos competitivos são recursos de
mais recursos escassos puderem ser utilizados, ce- tecnologia e conhecimento, patentes, vantagem de
teris paribus, maior a expectativa de valor que pode localização, reputação e marcas. Já os recursos es-
potencialmente ser criado. Uma empresa que ob- tratégicos são os que se referem aos recursos únicos
tém retornos financeiros superiores dentro do seu de uma organização que, quando utilizados pela
setor em longo prazo goza da vantagem competitiva empresa, dificultam a utilização dos concorrentes.
sobre os seus rivais, adquirindo assim, uma fonte O limite entre os recursos estratégicos e os recur-
de vantagem competitiva (BAUMEIR, 2002). sos competitivos não é bem definido, contudo,
Para Peteraf (1993), as fontes de van- corresponde a uma divisão entre os recursos que
tagem competitiva das organizações estariam, representam vantagem absoluta e os recursos que
portanto, primeiramente nos recursos e, de representam vantagem relativa, respectivamente.
modo secundário, na indústria em que estives- Para Dierickx, Coll e Barney (1989), Bar-
sem competindo. ney (1991, 2002), e Grant (1991) os recursos são
De acordo com Marino (1996), os ges- determinantes da vantagem competitiva susten-
tores têm como desafio classificar os recursos tável de uma organização, entretanto, nem todos
essenciais da firma para manutenção da vanta- os recursos podem gerar altos níveis de ganhos
gem competitiva. Com esse propósito, a Figura econômicos ou, mesmo que os gerem, talvez não
2 apresenta uma classificação hierárquica dos sejam defensáveis contra a competição, portan-
recursos proposta por Chaharbaghi e Lynch to, nem todos os recursos são estratégicos, pois,
(1999), os recursos podem ser: (1) periféricos; para que os sejam, devem ser simultaneamente:
(2) básicos; (3) competitivos; e (4) estratégicos. valiosos, raros, imperfeitamente imitáveis e não
substituíveis (BARNEY, 1991, 2002). Recur-
sos valiosos permitem melhorar o desempenho,
aproveitar oportunidades e neutralizar ameaças
Recursos provenientes do ambiente externo. Os recursos
Estratégicos
raros são os que a demanda por ele é alta, ou seja,
Recursos não estão sendo utilizado simultaneamente por
Competitivos
outras empresas. Os recursos não-imitáveis ou
Recursos Básicos imperfeitamente imitável são os que são fonte de
vantagem competitiva sustentável e outras orga-
Recursos Periféricos
nizações não podem obtê-los. Os recursos não-
substituíveis ou difíceis de imitar são essenciais e
Figura 2 – Classificação dos recursos. não devem possuir equivalentes estratégicos que
Fonte: Chaharbaghi e Lynch (1999). não sejam raros e imperfeitamente imitáveis.
Barney (2002) ampliou com o framework
Os recursos periféricos mesmo não sen- VRIO (Value, Rarity, Imitability, e Organization)
do fundamentais para a organização são, contu- a percepção dos recursos e competências distintas
do, necessários. Podem ser facilmente obtidos por como forma de estabelecer vantagem competiti-
meio de aluguel ou compra. Recursos básicos são va para as empresas (Quadro 3). Em outras pa-
fundamentais para a organização, pois a empresa lavras, os procedimentos são representados pela
não pode funcionar sem esses recursos, contudo, estrutura formal, pelo modelo de gestão, pelos
eles são mais utilizados na entrada em mercados sistemas explícitos de controle, pelas políticas de
competitivos ou requerem o mínimo de capacida- compensação e pelo papel da liderança.
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Fusões e Aquisições sob a Perspectiva da Vantagem Competitiva: o caso da Perdigão Agroindustrial S.A.
Recursos ou Capacidades
Implicações
Imperfeitamente Organização (explorado Performance econômica
Valioso Raro competitivas
imitáveis pela empresa)
Não - - Não Desvantagem Abaixo da média
Sim Não Não Paridade Equivalentes a média
Sim Sim Não Temporária Equivalentes e superiores a média
Sim Sim Sim Sim Sustentável Acima da média
Para Pettigrew (1987, p.649) o papel da li- Os recursos identificados na pesquisa foram
derança apresenta-se como crucial na articulação inicialmente classificados como periféricos, básicos
de recursos, capacidades e competências internas, e competitivos (representam vantagem relativa) e
muitas vezes constituindo por si só na real fonte de recursos estratégicos (que representam vantagem
vantagem competitiva das empresas. Complemen- absoluta), segundo Chaharbaghi e Lynch (1999).
ta dizendo: “em tempos de incerteza, é confortável Posteriormente foram divididos de acordo com a
crer que indivíduos em posição de liderança podem conseqüência competitiva (BARNEY, 1991) ou im-
fazer a diferença”. Bowditch e Buono (1992) defi- plicações competitivas (BARNEY, 2002), poden-
nem liderança como um processo de influência, a do ocorrer: desvantagem competitiva, igualdade ou
partir do qual os indivíduos são orientados para o paridade competitiva, vantagem competitiva tem-
estabelecimento e alcance de objetivos comuns. poral, e vantagem competitiva sustentável.
Para o estudo, adotou-se o modelo de
análise utilizado por Forte, Moreira e Mou- 4 ASPECTOS METODOLÓGICOS
ra (2006) composto pela união dos conceitos Como metodologia utilizou-se de um
de recursos apresentados por Chaharbaghi e estudo de caso exploratório, no qual se bus-
Lynch (1999) e por Barney (1991, 2002), con- cou constatar o sucesso presente no proces-
forme Figura 3. so de aquisição da Batavo Frios pela Perdigão
Recursos Igualdade
Vantagem Relativa Paridade
Básicos Competitiva
Recursos Desvantagem
Desvantagem
Periféricos Competitiva
Agroindustrial S.A à luz das amplo teorias so- os diretores, gerentes ou supervisores dos centros
bre fusões e aquisições, vantagem competitiva e de distribuição. Todas as entrevistas foram gra-
recursos. Como objetivo de pesquisa, a impor- vadas com o consentimento dos entrevistados (as
tância do estudo de caso exploratório descri- efetuados por telefone utilizou-se a secretária ele-
tivo, surge da necessidade de se compreender trônica para a gravação). Posteriormente, foram
fenômenos sociais complexos. É um método transcritas na sua integralidade, possibilitando
que, ao aumentar a base empírica de coleta de análises para atingir os objetivos da investigação.
dados aliados ao conhecimento acumulado até Salienta-se que foi garantido aos respondentes
então, amplia a capacidade de análise de pro- que toda informação seria tratada com sigilo não
blemas e tomada de decisão, influencia a for- sendo divulgado o nome do entrevistado.
mação de atitudes e, a partir da riqueza do tra- Os dados secundários foram obtidos por
tamento científico dessas novas informações, meio de publicações, tais como: home page das
gera novos conhecimentos. Utilizado dentro empresas, matérias jornalísticas publicadas na
de parâmetros bem definidos e rigorosos, o imprensa eletrônica e a revistas interna.
estudo de caso se constitui num grande instru- Os dados coletados foram analisados por
mento de pesquisa científica (YIN, 2001). meio da análise de conteúdo. A aplicação des-
Segundo Yin (2001), existem algumas sa técnica segundo Bardin (1977), consiste no
possibilidades para se conduzir estudos de caso, seguinte: pré-análise, exploração do material,
ao combinar alternativas a partir de duas dimen- tratamento dos dados, inferência e interpreta-
sões. A primeira está relacionada à quantidade de ção. A pré-análise é a fase da organização pro-
casos a serem trabalhados (único ou múltiplos), priamente dita. Geralmente, esta primeira fase
e a segunda à quantidade de unidades de análise possui três missões: a escolha dos documentos a
(única (holístico) ou múltipla (enraizados)). serem submetidos a análise, a formação das hi-
Neste estudo, o desenho de pesquisa se póteses e dos objetivos e a elaboração de indi-
enquadra no estudo de caso exploratório des- cadores que fundamentem a interpretação final
critivo de um único caso e de múltipla unidade (BARDIN, 1977, p. 95). No estudo em questão,
de análise (enraizados). os documentos escolhidos para a análise foram
A escolha da empresa pesquisada deu-se as transcrições das entrevistas, material do site e
pela sua importante participação no mercado de algumas publicações em revistas e jornais. Par-
alimentos, por optar por transações de aquisi- tiu-se da hipótese de que o processo de aquisi-
ções como forma de estratégia e pela facilidade ção da Batavo Frios pela Perdigão Agroindustrial
e disponibilidade no acesso às informações. S.A. trouxe vantagem competitiva. Esta hipótese
Os dados primários foram coletados por fundamentou-se no conhecimento prévio dos
meio de entrevistas (face a face e por telefone) pesquisadores em relação ao processo de aquisi-
apoiadas em um roteiro semi estruturado. Esse ção. Quanto aos indicadores que fundamenta-
roteiro sofreu um refinamento após o pré-teste ram a interpretação da análise temática, encon-
em uma das unidades pesquisadas. A coleta ocor- tram-se relacionados no Quadro 4.
reu em dois momentos diferentes. O primeiro O tratamento dos resultados obtidos e a
momento foi em 2006 e o segundo momen- interpretação são onde os resultados brutos são
to em 2007, que se justifica pela busca de uma tratados de maneira a serem significativos (fa-
maior validação do conteúdo. As entrevistas fo- lantes) e válidos. (BARDIN, 1977, p.101). Essa
ram aplicadas em 16 filiais. Tinha-se a pretensão fase favoreceu o entendimento de como foram
de aplicar a entrevista com os gestores das deze- construídas as opiniões acerca do resultado das
nove filiais presentes em vários estados do Brasil fases do processo de aquisição e possibilitou fa-
(AM,BA, CE, DF, ES, GO, MG, PA, PE, PR, zer inferências e adiantar interpretações a pro-
RJ, RS, SC, SP), mas não se conseguiu manter pósito do objetivo previsto e até mesmo de des-
contato com as demais. Os entrevistados foram cobertas inesperadas.
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Fusões e Aquisições sob a Perspectiva da Vantagem Competitiva: o caso da Perdigão Agroindustrial S.A.
Em setembro de 1999, a Batávia iniciou Perdigão já havia se utilizado, com sucesso, de pro-
o abate e a industrialização de perus por meio cessos de aquisição como estratégia para se manter
de um investimento de cerca de R$ 23 milhões. em um mercado competitivo ou expandir-se.
Este investimento foi aplicado em equipamen- Em janeiro de 2000, a Perdigão adqui-
tos modernos para todas as etapas de produção; riu 51% das ações do Frigorífico Batávia (Batavo
e também na instalação de uma moderna linha Frios), com direito à utilização da marca Batavo.
industrial em Carambeí/PR. Em 16 março de 2001, a Perdigão adquiriu os
Em dezembro de 1999, deu-se a separação 49% restantes das ações representativas do capital
dos negócios de carne e de leite da Batávia S.A. social do Batavo Frios, passando a deter a totali-
dade das ações da empresa e preservando a marca
5.3 Entendendo as fases do processo e a Batavo com equipe de vendas independente.
geração da vantagem competitiva Para a análise dos componentes das fases
Na década de 90, a Perdigão estava experi- do processo de aquisição e classificação dos recursos
mentando um forte processo de crescimento. Um que contribuem para a identificação da existência
crescimento ainda maior dependeria de sua inser- da vantagem competitiva, elaborou-se dois mapas
ção no mercado de derivados de peru. Em 1999 de associação de idéias, um para a fase de integra-
foi definido como estratégia para a inserção nesse ção e outro para a fase da assimilação. O Quadro
nicho de mercado a aquisição de uma empresa que 5 apresenta os trechos das entrevistas que melhor
já estivesse consolidada no mercado. Em outras representa a categoria estrutura e que demonstra a
iniciativas semelhantes – expansão de mercado – a presença da vantagem competitiva no processo.
Classificação Implicação
Categoria Componente Trecho da Entrevista
Competitiva Competitiva
[...] O motivo principal dessa aquisição foi à
Motivo ou entrada no mercado de derivados de peru [...]
Razão a pretensão era trabalhar o mercado interno e
expandir pra o mercado externo.
Quando se pensou na empresa que seria
adquirida se estabeleceu alguns critérios e os mais
Seleção das
importantes seriam: a estrutura física e a marca
Candidatas
associada a longevidade da empresa no mercado e
a Batavo Frios preenchia o pré-requisito.
A aquisição possibilitou otimizar nossos recursos
operacionais e administrativos reduzindo Recursos Igualdade
substancialmente alguns custos e proporcionando à Básicos Competitiva
Integração empresa o acesso com alta tecnologia ao mercado e e Vantagem
de derivados de peru (disse Carlos Grandin, vice- Recursos Competitiva
presidente de operações a Celestino Vivian, editor Competitivos Temporal
adjunto da Folha News (FOLHA ONLINE, 2001)).
Criação de Com a aquisição foi possível iniciar as exportações
Valor para mercados internacionais exigentes, como a
Comunidade Européia e o Oriente Médio, além de
fornecer matéria prima para a linha Light & Elegante
da Perdigão. E tudo foi possível graças a marca Batavo,
que já tinha uma forte presença de mercado. Naquele
primeiro momento havia uma preocupação em
manter a visibilidade de atuação nesse novo segmento
e a marca preenchia essa função.
De acordo com os dados assentados no cado, fosse aplicado uma outra estratégia para
Quadro 5, a classificação competitiva em rela- a inserção da Perdigão no segmento de deri-
ção a implicação competitiva contribui para a vados de peru.
existência da vantagem competitiva no proces- A Perdigão havia feito outras aquisições,
so de aquisição. mas todas até aquele momento tinham sido ab-
Para Porter (1995) fatores de produção sorvidas pela área comercial como sendo uma
sofisticados (alta tecnologia) são considerados empresa só, ou seja, a gestão era feita por um
como recursos avançados e constituem fonte único diretor nacional e pela mesma equipe de
real de vantagem competitiva. Chaharbaghi e vendas já existente. Com a aquisição da Bata-
Lynch (1999) classificam recursos de tecno- vo Frios essa situação mudou, a empresa conti-
logia e marca como recursos competitivos que nuou sendo uma só – Perdigão - , mas foi criada
segundo Barney (2002) são valiosos e raros, uma divisão de vendas separada, com um diretor
podendo ou não ser insubstituíveis, gerando nacional e uma equipe de vendas independen-
assim vantagem competitiva temporal para a te. Com a criação dessa nova divisão de vendas
empresa detentora. houve a necessidade de um processo de análise
Para os entrevistados, não seria possí- da qualificação das pessoas dessa área da empre-
vel que, dado a urgência de entrar nesse mer- sa adquirida para o devido enquadramento.
Classificação Implicação
Categoria Componente Trecho da Entrevista
Competitiva Competitiva
[...] o grande diferencial nesta fase foi a vinda do
Alcione (era gerente de vendas da Batavo lácteos)
para liderar a nova equipe de vendas Intitulado
como diretor nacional ele fez pessoalmente a
seleção de cada gestor em cada região
O crescimento no mercado está diretamente
relacionado a conhecimento e experiências da
gestão que possibilitou a empresa imprimir suas
estratégias competitivas no mercado com sucesso.
Gestão
A influência dele (Alcione) nos gestores é
incrível. As ações (campanhas de vendas) por ele
implementadas anualmente são coisas do outro
mundo [...] Ele consegui trazer pro nosso
mundo (vendas) a estória contada em um filme Vantagem
Recursos
Assimilação (ficção) e tudo sai redondinho (perfeito) [...]. Competitiva
Competitivos
Temporal
A Perdigão foi muito feliz com a aquisição que
fez [...] a empresa cresceu se tornando mais
importante (relevante) no mercado.
A aquisição significou uma guinada
estratégica para a companhia [...] havendo
um crescimento visível na participação de
mercado (No momento da entrevista face a
Posicionamento face o entrevista mostrou a Figura 4, tentando
(mercado) comprovar o que dizia).
[...] os acionistas seriam as pessoas ideais para
responder sobre o sucesso da aquisição [...].
A demanda por nossas ações, após a aquisição,
tornaram-se bem maiores.
Haspeslagh e Jemison (1991) argu- mo gera para a empresa uma vantagem com-
mentam que apesar da adequação estratégica petitiva temporal (BARNEY, 2002).
ser a base da potencial criação de valor, é o Conforme publicação dos vários autores
bom gerenciamento que leva a efetiva criação da VBR (BARNEY, 1991, 2002; ; FAHY, 1998;
de valor. Segundo Porter (1995), a vantagem PETERAF, 1993; PRAHALAD; HAMEL, 1990;
competitiva surge fundamentalmente do valor SHARMA; ERRAMILLI, 2004 WERNER-
que uma empresa tem condições de criar para FELT, 1984) os atributos do ambiente interno,
os seus clientes. Chaharbaghi e Lynch (1999) entre os quais a liderança estratégica, são deter-
resumem conhecimento e experiências em minantes de uma competição bem sucedida nas
reputação e diz que a reputação em relação ao organizações. E esta variável em específico, se-
gestor pode ser um dos principais fatores para gundo os entrevistados, esteve presente ao longo
a obtenção da vantagem competitiva. O papel de todo o processo, condicionando ao resultado
da liderança (PETTIGREW, 1987) constitui de sucesso da aquisição.
recurso competitivo estratégico que é repre- A relevância, o crescimento na parti-
sentado no framework VRIO pelo “O”, e em cipação de mercado, a demanda pelas ações da
sendo um recurso competitivo (CHAHAR- empresa, mostram o quanto bem posicionada
BAGHI; LYNCH, 1999) a detenção do mes- está a empresa.
Faturamento Bruto
R$ milhões 5873
5567
2837
2727
4371
1838
3342
2789 1206
3036
1035 2840
2066 2533
1801
512 2136
1268 1415
517 1754
1017 1554
847 1284
1108
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773
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1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
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Fusões e Aquisições sob a Perspectiva da Vantagem Competitiva: o caso da Perdigão Agroindustrial S.A.
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