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SOI IV – APG 05

Complicações Agudas da Diabetes


OBJETIVOS

1. Complicações agudas do diabetes: cetoacidose, hipoglicemia e


hiperglicemia.
2. Discutir a importância do código de ética quanto a
automedicação (estudante e profissional médico).

COMPLICAÇÕES AGUDAS

CETOACIDOSE

 É uma complicação aguda do diabetes mellitus e estão


associadas a alta taxa de mortalidade.

 A CAD ocorre caracteristicamente em portadores de
diabetes tipo 1 (DM1), como quadro inicial ou como
consequência de situações de estresse, como infecções,
grandes cirurgias, traumas graves etc.
 Vem sendo crescentemente descrita também em portadores de
diabetes tipo 2 (DM2) em condições de estresse extremo ou
como quadro de apresentação (10% a 30% dos casos de
CAD).
 Podemos definir pragmaticamente a CAD como um
FISIOPATOLOGIA
 CAD define-se basicamente como um evento emergencial de
descompensação aguda do DM com as seguintes alterações  Uma perda profunda de atividade da insulina leva não só a
laboratoriais: níveis séticos de glicose aumentados devido ao aumento do
1. acidose metabólica (pH < 7,3) efluxo hepático de glicose e à diminuição da captação de
Melissa Menezes Tolentino,
2. bicarbonato plasmático <4P15mmol/L glicose por tecidos sensíveis à insulina, mas também leva à 1
3. glicemia plasmática > 13,9mmol/L (> 250mg/dL) cetogênese.
4. cetonúria positiva ++ (cetonemia > +)  Na ausência de insulina, lipólise é estimulada, fornecendo
ácidos graxos que são preferencialmente convertidos em
corpos cetônicos no fígado pela ação do glucagon sem
FATORES PRECIPITANTES oposição.
 Em 30% dos casos a infecção (pneumonia, infecção do trato  Inicialmente, quando níveis elevados de glicose causam um
urinário, gastrenterite, sepse) é um fator precipitante. aumento de osmolalidade, um desvio de água do espaço
 Outro fator precipitante frequente é o erro na administração intracelular para o extracelular e o aumento da ingestão
(omissão ou dose inadequada) de insulina (20%). de água estimulado pela sede ajudam a manter o volume
 Pode também ser precipitada por cirurgia, trauma, drogas intravascular.
(cocaína) ou gravidez.  Acetoacetato e P-hidroxibutirato, os principais corpos
 A terapia com bomba de infusão contínua subcutânea de cetônicos produzidos pelo fígado, são ácidos orgânicos e,
insulina pode aumentar a incidência de CAD por mau portanto, causam acidose metabólica, diminuindo o pH do
funcionamento da bomba ou por deterioração metabólica sangue e o bicarbonato sérico.
rápida devido à falta de insulina de reserva.
SÓDIO
 A recorrência de CAD, mais frequente em pacientes jovens
com DM1, pode ser atribuída a problemas psicológicos,
 O sódio sérico medido está reduzido como consequência do
agravados por distúrbios alimentares.
desvio de fluidos causado pela hiperglicemia (redução de 1,6
 Um cenário clínico comum é o paciente com DM tipo 1 que
mEq para cada elevação de 5,6 mmol/L [100 mg/dL] na
suspende erroneamente a administração de insulina em função
glicose sérica).
de anorexia/falta de alimentação causada por uma doença
 Além de água, Na+ é perdido durante a diurese osmótica
intercorrente, seguida por lipólise e cetose progressiva,
que acompanha a cetoacidose diabética.
levando à CAD.
 O Na+ corporal total é exaurido.
 Os níveis séricos de Na+ geralmente são baixos devido à
PATOGÊNESE atividade osmótica da glicose elevada, que puxa água para
 A anormalidade metabólica resulta da combinação da dentro do espaço extracelular e, dessa forma, diminui a
deficiência absoluta ou relativa de insulina e do excesso de concentração de Na+ (o Na+ sérico cai aproximadamente 1,6
hormônios contrarreguladores. mmol/L para cada 100 mg/dL de aumento da glicose).
 A CAD resulta de uma deficiência de insulina com um
POTÁSSIO
aumento relativo ou absoluto no glucagon.
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 Os estoques corporais totais de K+ também são exauridos por TRATAMENTO
diurese e vômitos.
 É tratada por reposição de água e eletrólitos (Na+ e K+) e
 Contudo, acidose, insulinopenia e níveis elevados de glicose
administração de insulina.
causam um desvio de K+ para fora das células, mantendo
níveis séricos de K+ normais ou mesmo elevados até que  Com a reposição de líquidos e eletrólitos, a perfusão renal é
acidose e hiperglicemia sejam corrigidas. aumentada, restaurando a depuração renal da glicose
sanguínea elevada, e a produção de hormônios
 Com administração de insulina e correção da acidose, o K+
contrarreguladores é diminuída, reduzindo a produção
sérico cai à medida que K+ se move de volta para dentro das
hepática de glicose.
células.
 A administração de insulina também corrige a hiperglicemia
 Sem tratamento, o K+ pode cair a níveis perigosamente
por restabelecer a captação de glicose sensível à insulina e
baixos, levando a arritmias cardíacas potencialmente letais.
inibir o efluxo hepático de glicose.
 Por isso, suplementação de K+ é administrada rotineiramente
 Administração de insulina também é necessária para inibir
no tratamento da cetoacidose diabética.
lipólise adicional, eliminando substratos para cetogênese, e
FOSFATO para inibir cetogênese hepática, corrigindo a cetoacidose
 Reidratação é um componente essencial do tratamento da
 A depleção de fosfato acompanha a cetoacidose diabética, hiperosmolalidade. Se insulina for administrada na ausência
embora acidose e insulinopenia possam causar a normalização de reposição de líquidos e eletrólitos, a água se moverá do
dos níveis séricos de fósforo antes do tratamento. espaço extracelular de volta para as células com correção da
 A reposição de fosfato só é fornecida em casos de depleção hiperglicemia, levando ao colapso vascular.
extrema, dados os riscos da administração de fosfato.
 O fosfato intravenoso pode complexar com Ca2 +, resultando
em hipocalcemia e depósito de fosfato de Ca2 + em tecidos
moles.

HIPERGLICEMIA
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
 Os sintomas iniciais da CAD incluem anorexia, náuseas,  Quando níveis elevados de glicose excedem o limiar renal
vômitos, poliúria e sede. para reabsorção de glicose, resulta glicosúria.
 A náusea e vômito contribuem para desidratação adicional.  Isso causa uma diurese osmótica manifesta clinicamente por
poliúria, inclusive noctúria.
 Se poliúria continuar e esses mecanismos compensatórios
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não puderem acompanhar 4P as perdas de líquido -  O resultado é desidratação, estimulando a sede, o que causa 2
particularmente ingestão diminuída resultante de náusea e polidipsia.
perdas aumentadas pelos vômitos que acompanham a  Uma perda significativa de calorias pode resultar da
cetoacidose -, a depleção de volume intravascular leva a glicosúria, porque as perdas urinárias de glicose podem
fluxo sanguíneo renal diminuído. A capacidade do rim de exceder 75 g/d.
excretar glicose é, portanto, reduzida.  Polifagia também acompanha a hiperglicemia descontrolada.
 A seguir, pode haver dor abdominal, pode ser causada por  As três "polis" do diabetes - poliúria, polidipsia e polifagia -
estase gástrica e distensão, função mental alterada ou coma são sintomas comuns de apresentação, tanto em pacientes tipo
franco. 1 quanto em tipo 2 sintomáticos.
 Os sinais clássicos da CAD incluem respirações de  Perda de peso também pode ocorrer em consequência tanto
Kussmaul, quando o pH sanguíneo é inferior a 7,20, de desidratação quanto da perda de calorias na urina.
ocorrendo respirações rápidas, profundas.  Perda de peso acentuada é mais provável de acontecer em
 O odor de cetônico no hálito do paciente ocorre devido a pacientes com insulinopenia grave (DM tipo 1), e deve-se
produção de acetona na cetogênese. tanto à perda calórica quanto à atrofia muscular.
 A depleção volêmica pode resultar em membranas mucosas  O catabolismo proteico aumentado também contribui para o
secas, taquicardia e hipotensão. atraso de crescimento observado em crianças com DM tipo 1.
 Hipertrigliceridemia acentuada também pode acompanhar a  Alterações no conteúdo de água do cristalino do olho em
cetoacidose diabética em virtude da produção aumentada e resposta a mudanças de osmolalidade podem causar visão
depuração diminuída de VLDL que ocorre em estados de turva.
deficiência de insulina  Em mulheres, a glicosúria pode levar a uma incidência
 Pode haver também febre e hipersensibilidade abdominal. aumentada de vulvovaginite por cândida.
 A amilase está elevada (90% dos casos), em parte em virtude  Em homens não circuncidados, a balanite por cândida (uma
de elevações da amilase salivar, mas geralmente não está infecção similar da glande do pênis) pode ocorrer.
associada com sintomas de pancreatite.  Hipertrigliceridemia acentuada também pode acompanhar a
 Leucocitose muitas vezes está presente, e não indica cetoacidose diabética em virtude da produção aumentada e
necessariamente presença de infecção. depuração diminuída de VLDL que ocorre em estados de
 A avaliação laboratorial revela hiperglicemia, cetose (β- deficiência de insulina.
hidroxibutirato > acetoacetato) e acidose metabólica (pH
arterial de 6,8 a 7,3) com aumento do anion gap. HIPOGLICEMIA
 O déficit de líquidos costuma ser de 3 a 5 L e pode ser ainda
maior.  Complicação do tratamento com insulina tanto no
DM tipo 1 quanto no tipo 2, mas também pode
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ocorrer com fármacos hipoglicemiantes orais que  Além disso, episódios recentes de hipoglicemia
estimulam a secreção de insulina glicose- reduzem a resposta suprarrenal de adrenalina à
independente (p. ex., sulfonilureias). hipoglicemia subsequente, e causam falta de
 Hipoglicemia pode ocorrer com frequência após percepção da hipoglicemia por reduzir a resposta
jejum prolongado ou exercício físico, situações que simpaticossuprarrenal e os sintomas neurogênicos
habitualmente são ralacionadas a aumento na associados por meio de mecanismos desconhecidos.
liberação de hormônios contrarreguladores e  A insuficiência autonómica induzida por hipoglicemia,
redução relativa dos níveis de insulina. que é distinta da neuropatia autonómica diabética, é
 Em circunstâncias habituais, os níveis de insulina revertida pela evitação da hipoglicemia, mas exacerbada
nestas situações, ainda que menores, são permissivos por exercício ou sono, e ambos podem diminuir de
para a manutenção de substratos energéticos por modo semelhante a resposta simpaticossuprarrenal a um
meio da liberação de hormônios contrarreguladores, determinado nível de hipoglicemia.
liberação de glicose pelo fígado para seu aumento na
corrente sanguínea e inibição de seu aporte para os TRATAMENTO
tecidos periféricos.
 Além disso, a redução compensatória na secreção do  O tratamento agudo da hipoglicemia em indivíduos
pâncreas normal em resposta à diminuição dos diabéticos consiste em administração oral rápida de
níveis de glicose é um estímulo potente para a glicose nos sintomas de aviso ou administração de
secreção de glucagon pelas células beta do pâncreas. glucagon exógeno intramuscular por outros quando
 Em geral, essas respostas restauram a queda da sintomas neuroglicopênico.
glicose.
 Em pacientes diabéticos, entretanto, não são efetivas AUTOMEDICAÇÃO
quando os níveis séricos de insulina em relação à  Automedicar-se é o ato de ingerir remédios para
glicose são elevados, tanto devido a excesso de insulina aliviar sintomas, sem qualquer orientação médica no
exógena quanto a excesso na estimulação da liberação diagnóstico, prescrição ou acompanhamento do
de insulina glicose-independente. tratamento.
 A resposta aguda à hipoglicemia é mediada pelos  No Brasil, cerca de 35% dos medicamentos são
efeitos contrarreguladores de glucagon e catecolaminas. adquiridos nas farmácias por essas pessoas que estão se
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 Entretanto, a resposta ao glucagon pode ser automedicando.
inadequada no diabetes, aumentando a importância da  A disponibilidade de informações médicas na internet
secreção suprarrenal de adrenalina. cria um ambiente propício para a pessoa fazer
diagnóstico e se medicar por conta própria.
CARACTERÍSTICAS CL~INICAS  De acordo com a OMS, a automedicação responsável é
 Quando mecanismos contrarreguladores falham, a “prática dos indivíduos tratar seus próprios sintomas e
males menores com medicamentos aprovados e
sintomas neurogênicos iniciais de hipoglicemia
ocorrem secundariamente à descarga disponíveis, sem prescrição médica, e que são seguros
quando usado seguindo as instruções”. Porém, como
simpaticossuprarrenal mediada pelo SNC, resultando
em: defende o CRF, “é importante que seja praticada com a
orientação de um profissional habilitado”.
1. respostas adrenérgicas: tremores, palpitações,
ansiedade  Segundo a OMS, a automedicação responsável pode:
2. colinérgicas: sudorese, fome 1. Ajudar a prevenir e tratar sintomas e distúrbios que
 Essas respostas encorajam o comportamento de buscar não necessitam de consulta médica;
carboidratos. 2. Reduzir a crescente sobre o sistema de saúde, para
alívio de males menores;
 Quando a glicose cai mais ainda, sintomas
3. Aumentar a disponibilidade de cuidados com a
neuroglicopênicos também ocorrem pelos efeitos
saúde para populações que moram em áreas rurais
diretos da hipoglicemia sobre a função do SNC
ou remotas.
(confusão, coma).
 Um conjunto característico de sintomas como: sudorese POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES DE SE AUTOMEDICAR
noturna, pesadelos, cefaleias matinais, também
acompanha os episódios hipoglicêmicos que ocorrem a) Intoxicação: usar doses inadequadas de remédios
durante o sono (hipoglicemia noturna), com episódios pode causar diversos impactos na saúde, desde a
sintomáticos ocorrendo várias vezes por semana. ineficácia do tratamento, até overdose da
 Os diabéticos tipo 1 são especialmente propensos à substância no organismo, que leva a intoxicação.
hipoglicemia devido a uma resposta praticamente b) Interação medicamentosa: há risco de um
ausente do glucagon à hipoglicemia. medicamento ingerido reagir em contato com outro
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que a pessoa usa de forma contínua. Neste caso, um Art. 22 Assinar receitas médicas, prescrições ou fornecer
pode anular ou potencializar os efeitos do outro. atestados médicos sem a supervisão e assinatura do médico
c) Alivio dos sintomas que mascara o diagnóstico que o orienta.
correto d doença: usar remédios para aliviar
imediatamente dor e mal-estar pode esconder a real Art. 29 Deixar de assumir responsabilidade pelos seus atos
causa daqueles sintomas. Dessa forma, a doença ou atribuir, indevidamente, seus erros ou insucessos ao outro
não é tratada corretamente e pode se agravar. ou às circunstâncias.
d) Reação alérgica: ingerir medicamentos que não
foram prescritos por um profissional da saúde pode CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA
causar reações não esperadas no organismo.
e) Dependência: algumas substâncias proporcionam RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL
mais chances de vício quando tomadas em doses
incorretas e por tempo além do indicado por um Art. 1º Causar dano ao paciente, por ação ou omissão,
médico. caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência.
f) Resistência ao medicamento: o uso
Art. 11 Receitar, atestar ou emitir laudos de forma secreta
indiscriminado pode facilitar o aumento da
ou ilegível, sem a devida identificação de seu número de
resistência dos microrganismos àquela substância.
registro no Conselho Regional de Medicina da sua
jurisdição, bem como assinar em branco folhas de
CÓDIGO DE ÉTICA ESTUDANTE
receituários, atestados, laudos ou quaisquer outros
documentos médicos.
RESPONSABILIDADE DO ESTUDANTE COM
SEUS ESTUDOS/FORMAÇÃO Art. 13 Deixar de esclarecer o paciente sobre as
determinantes sociais, ambientais ou profissionais de sua
Art. 33: O estudante de medicina não pode receber doença.
honorários ou salário pelo exercício de sua atividade
acadêmica institucional, com exceção de bolsas
regulamentadas.

Art. 34: ÉMenezes


Melissa permitido o uso de
Tolentino, 4P plataformas de mensagens 4
instantâneas para comunicação entre médicos e estudantes
de medicina, em caráter privativo, para enviar dados ou tirar
dúvidas sobre pacientes, com a ressalva de que todas as
informações passadas tenham absoluto caráter confidencial e
não possam extrapolar os limites do próprio grupo,
tampouco circular em grupos recreativos, mesmo que
compostos apenas por médicos e estudantes.

Art. 36: Ao estudante de medicina cabe valorizar a


compreensão da determinação social do processo saúde-
doença.

Art. 37: Ao estudante de medicina cabe buscar uma


formação que valorize o princípio de equidade na atenção à
saúde, que garante o tratamento diferenciado, baseado nas
necessidades específicas do paciente.

RELAÇÃO DO ESTUDANTE COM A


SOCIEADADE
Art. 39: É dever do estudante de medicina agir de forma
solidária e respeitosa com as pessoas, a instituição e as
normas vigentes, valorizando atitudes e medidas que
beneficiem o crescimento coletivo.

É VEDADO AO ESTUDANTE DE MEDICINA

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