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Introdução da monografia

Tema: Globalização e Democracia.

A evolução da globalização da economia mundial, durante o último quartel do


século XX e início do século XXI, coincidiu com a disseminação da democracia
política entre os países, as economias se tornaram globais, os processos
produtivos cada vez mais lineares, porém a política continua sendo nacional.
No aspecto econômico, a globalização se refere a expansão das transações
econômicas de caráter comercial, com a expansão dos fluxos de comércio
entre os países, mas principalmente, de caráter financeiro, dando origem ao
fenômeno denominado de financeirização internacional, em um espaço em que
a organização das atividades econômicas se realiza através dos estados-
nação.
Diretamente, o processo pode ser definido como de abertura econômica,
através da desregulamentação econômica e financeira, uma crescente
interdependência e aprofundamento econômico na economia mundial. Mas a
globalização não é apenas um fenômeno econômico. Ela se mostra
multidimensional, com implicações e consequências que se estendem também
à política e a sociedade.
Frente à expansão da globalização e da ideia de um mundo sem fronteiras,
temos, no início do século XXI, uma crise da ideia de Estado e da própria
concepção de democracia. Palavras, como nação, soberania, e interesse
nacional se tornaram quase expressões ultrapassadas.
Keniche Ohmae teórico da “globalização”, disse no início dos anos 1990, que,
os Estados-nações tinham se tornado pouco mais que “atores coadjuvantes” do
mundo global pois tinham perdido “seus papéis como unidades significativas de
participação na economia global do atual mundo sem fronteiras”. O lugar até
então ocupado pelos Estados-nações foi ocupado pelas “forças do mercado”,
motivado pelo processo de internacionalização da produção capitalista, do
avanço tecnológico da tecnologia e das comunicações, da redefinição da
divisão internacional do trabalho, do aumento exagerado do poder das as
Empresas transacionais e dos gigantes conglomerados financeiros, que,
segundo Keniche Ohmae, passaram a ser os verdadeiros agentes do
desenvolvimento econômico, quase que como um ente de vontade absoluta.
Sendo assim pretende-se discutir a articulação existente entre o processo de
globalização e suas implicações sobre o Estado nacional, buscando identificar
a influência da globalização como um componente impulsionador de imposição
de natureza econômica, o que mostra o distanciamento da ideia original de
democracia, podendo ser esse o paradigma de mudança e transformação do
mundo em globalização. Para isso, discutiremos algumas concepções teóricas
sobre a globalização e o papel do Estado nacional hoje. Diante dessa
contradição entre globalização e democracia, se faz nascer a necessidade de
repensá-los, pois o Estado se mostra ineficaz no cumprimento dos motivos
pelos quais ele foi estruturado, como a garantia da liberdade, da propriedade,
da soberania nacional e dentre outros direitos. Uma sociedade que se mostra
engajada em garantir que seus membros tenham plenas oportunidades e
sejam livres para fazer suas próprias escolhas, almeja o ideário de que a
democracia possa significar a liberdade de mercado e a liberdade de
desenvolvimento de capacidades individuais, ao mesmo passo, em que o
Estado cumpra o papel importante na defesa dos interesses nacionais e na
manutenção da soberania nacional.

Diante dessa breve análise, propõe-se explorar a relação entre globalização e


democracia, que inicia com uma construção analítica simples derivada da
economia que sugere “trade-off’s” entre globalização, estado-nação e política
democrática. Posteriormente, se analisa a relação entre economia de mercado
e democracia política em um contexto nacional e internacional mostrando a
interação entre ambas as partes. Isso nos leva a uma discussão sobre como a
globalização pode restringir a liberdade dos estados-nação e espaço para
políticas democráticas O próximo passo e essencial é considerar se a
democracia política nos países pode exercer alguns freios e contrapesos nos
mercados e na globalização. Em síntese, o argumento é que a relação entre
globalização e democracia é dialética e não se limita apenas aos exageros
ideológicos.

O Estado-nação

As origens históricas do Estado nacional datam ao século XII, onde se deu à


formação do primeiro Estado nacional: Portugal. Naquele momento de
desenvolvimento das relações típicas do sistema capitalista em sua fase
mercantilista, se deu a necessidade de formação de um poder político,
econômico e social centralizado e organizado através de um sistema
burocrático, que marcou o surgimento de tarifas e tributos cobrados para
sustentar as despesas públicas. A formação do Estado foi essencial para o
processo de acumulação inicial de capital através do comércio e das
expansões marítimas-comerciais. De outra forma, esta organização
hegemônica, planejada e organizado através de um aparato burocrático,
representa uma racionalização indispensável ao desenvolvimento do
capitalismo como sistema econômico-social, desta forma aponta Weber

O próprio "Estado", tomado como entidade política, com uma


"constituição" racionalmente redigida, um Direito racionalmente ordenado,
e uma administração orientada por regras racionais, as leis, administrado
por funcionários especializados, é conhecido, nessa combinação de
características, somente no Ocidente, apesar de todas as outras que dele se
aproximaram. O mesmo ocorre com a força mais significativa de nossa vida
moderna: o Capitalismo. [grifos nosso] (1995, p. 2).

No decorrer da História se apresenta alguns exemplos de formação e


organização de Estados nacionais. De forma simplificada, apresentamos
alguns exemplos, desde a revolução industrial (1850) até os dias atuais:
 Estado liberal (1850 - 1929), seu principal estudioso foi Adam Smith, que
em seu livro “A riqueza das nações”, acreditava que o mercado é livre
quando regula a si próprio sem qualquer interferência estatal, deixando
desta forma que as relações econômicas ficassem a cargo da
concorrência capitalista. É o modelo oposto ao Estado intervencionista,
marcado por uma regulação exaustiva de todas as áreas da economia,
incluindo o setor privado. A Grande Depressão (crise de 1929), que
desestabilizou diversos Estados nacionais, causando uma crise sem
precedentes na história do capitalismo, mostrou a necessidade de
reformulação desta forma de organização e concepção do papel do
Estado;
 Estado Keynesiano (1945 - 1975), idealizado por Keynes no livro “A
teoria geral do emprego, do juro e da moeda”, escrito durante a grande
depressão e publicado em 1936, defendia a intervenção estatal, através,
de políticas monetárias para diminuir problemas socioeconômicos
durante ciclos de crises econômicas. Esse modelo de organização do
Estado ficou conhecido como “Estado de bem-estar social”, período
conhecido como” A Era de Ouro” na história das sociedades
desenvolvidas, pois foi uma fase de intenso desenvolvimento de
políticas sociais, trabalhistas, e de distribuição de rendas;
 Estado Socialista (1922 - 1991), União Soviética, criada após a
revolução Russa de 1918. Tinha como características principais: a
economia totalmente planejada, poder político extremamente
centralizado, estatização de todas as formas de produção econômicas-
sociais e a ausência de competição e lucro;
 Estado Neoliberal, que surge a partir 1975,  com base em teorias
formuladas por teóricos, como os economistas Ludwig von Mises
Friedrich Hayek. Ganha força diante de um período de crise das
principais economias ocidentais, como resposta a forma de organização
do Estado Keynesiano. Apresenta uma nova leitura
do liberalismo clássico, tendo como base uma visão econômica
conservadora que pretende diminuir ao máximo a participação do
Estado na economia. o Estado neoliberal, tem por características a
desregulamentação e liberalização máxima da atividade econômica e
por consequência o enfraquecimento da atuação do Estado enquanto
fiscalizador, guardião e fomentador do desenvolvimento na sociedade
capitalista. Entre outras características como: cobrança mínima de
impostos e a privatização de serviços e empresas públicas;
 Por fim o Socialismo de Mercado, que surgiu na China a partir de 1978
após as reformas econômicas chinesas feitas por Deng Xiaoping. Que
teve como características,  incorporar a economia de mercado
na economia planificada daquele país, permitindo a privatização de
empresas estatais, ingresso investimentos estrangeiros, liberalização do
comércio e dos preços. Por outro lado  prevalece a autoritária filosofia
política, o que evita as noções ocidentais de democracia, os direitos
individuais, e o Estado de Direito.
Segundo ARRIGHI (1996) as etapas que caracterizam o sistema capitalista ao
fim do século, como a, sobreposição da lógica financeira à lógica produtiva,
num dado momento, fizeram parte de todos os ciclos capitalistas anteriores,
desde o período genovês (mercantilista), passando pelo holandês (de
expansão marítima-comercial), inglês (revolução industrial) até pôr fim no ciclo
de desenvolvimento americano (fordista). A ideia de uma necessidade de
articulação de um poder econômico e político sob um mesmo Estado
demonstra como historicamente o sistema capitalista necessitou de uma forma
ou de outra, de um Estado organizado e minimamente burocrático.

Abordagem teórica da globalização e da relação com o


Estado- nação

A globalização pode ser definida como um "novo tipo de sujeito social e


político" que atua de forma independente das políticas democráticas; em
resumo, a globalização é uma resultante única e exclusiva das forças de
mercado. “Um movimento de caráter estrutural do capitalismo, que junto com a
reestruturação produtiva intensifica ao máximo características presentes desde
os primórdios do Capitalismo”. (DRUCK, 1997; FILGUEIRAS, 1997)

A Globalização econômica pode ser definida como a crescente inserção


das economias nacionais na economia internacional, através do comércio,
do investimento direto estrangeiro (pelas empresas e, em especial, pelas
empresas multinacionais ou transnacionais), pelos movimentos de capital
de curto-prazo, pelos fluxos internacionais de trabalhadores da humanidade
em geral e pelos fluxos da tecnologia”. (Jagdish Bhagwati,2004, p. 3)

Origem Histórica

É possível observar o mundo em processo de globalização pelo menos desde


do períodos das grandes navegações, dos descobrimentos dos portugueses e
espanhóis nos séculos XV e XVI. Avançando para o período entre século XIX e
início do século XX, ligado aos avanços da revolução industrial e marcado pela
enorme expansão e modernização da produtividade e do comércio
internacional, essa, chamada de um segundo período do processo de
globalização. Por fim ao final do século XX, se inicia uma nova etapa do
processo de globalização, numa velocidade nunca antes vista, com diferentes
processos e dimensões jamais registrada anteriormente:
 Globalização das finanças e do capital: Liberalização e
desregulamentação dos mercados financeiros, mobilidade do capital, e
avanço dos movimentos de fusões e aquisições no campo empresarial.
 Globalização dos mercados e das estratégias, em particular da
concorrência: Integração das atividades de negócios à escala
internacional, estabelecimento de operações no estrangeiro em qualquer
parte do globo, estratégicas de grandes corporações multinacionais
orientadas não por razões de Estado, mas pelo desejo e necessidade de
servir mercados atraentes onde quer que existam e explorar
concentrações de recursos onde quer que estejam.
 Globalização da tecnologia, da P&D e conhecimento: A tecnologia como
motor da dinâmica global e do desenvolvimento industrial e da
competitividade, surgimento e aperfeiçoamento de tecnologias de
informação e comunicação possibilitando o aparecimento das redes
globais.
 Globalização do modo de vida e dos padrões de consumo:
Transferência e influência direta dos modos de vida dominantes,
padrões de consumo similares.
 Globalização das capacidades reguladoras dos Estados: Diminuição do
Papel dos governos e parlamentos nacionais na fiscalização da
atividade econômico/financeira, perdas no funcionamento da democracia
à escala nacional; tentativas e desenhos para projetar uma nova
geração de instituições de governação global.
 Globalização das percepções e da consciência: Processo sociocultural
centrado no conceito de uma Terra, movimento globalista, a ideia de
cidadãos globais.
A agenda político-econômica mundial sofreu profundas alterações a partir da
década de 1970 com o avanço das políticas neoliberais, e principalmente na
década de 1990 com o avanço da tecnologia da informação e da internet. As
discussões que outrora estava em torno de questões como transição,
viabilidade ou necessidade de regimes democráticos, mudaram para o grande
tema que orienta tanto as discussões cientificas político-econômicas, quanto as
propostas de governo, que é dado pela adoção de projetos e políticas de
desenvolvimento econômico, face o processo de globalização.
O papel do Estado frente a globalização é uma questão que então ganhou
força, e tem por objetivo, entre outras questões, a de repensar as funções do
Estado, e de outras instituições democráticas, diante dessa nova etapa de
desenvolvimento do capitalismo internacional.
Identifica-se duas vertentes que analisam a relação entre o Estado-nação e
globalização. A primeira estabelece que o Estado-nação foi ultrapassado pela
nova ordem mundial: a globalização; pois as relações sociais, econômicas e
políticas já saíram do controle e da intervenção do Estado, a globalização
sendo assim, superou o Estado existindo agora um só caminho, a inserção
nesta nova ordem mundial. A segunda vertente em contrapartida, afirma que o
Estado apenas mudou os seus papéis, resultado de uma articulação entre a
globalização, a reestruturação produtiva impactada sobretudo pelo avanço
tecnológico e do processo de financeirização internacional e por fim o
neoliberalismo, que fez com que o Estado redefinisse o controle sobre as
políticas econômicas, financeiras e comerciais, no sentido de desregulamentar
e estimular a lógica financeira com uma política de cunho econômico
financeirista.
A difusão do capital aconteceu sobre bases internacionais, e as diversas e
decisivas modificações que aconteceram recentemente na sociedade mundial,
onde as fronteiras econômicas desaparecem progressivamente, mudaram a
equação econômica global fundamentalmente. A dinâmica econômica e o
funcionamento global dos mercados de capitais reduziram significativamente o
papel de intermediário dos Estados-nações, diminuindo sua capacidade de
controlar taxas de câmbio ou de proteger suas moedas e seus mercados
internos, tornando-os vulneráveis a disciplina imposta por opções econômicas
feitas em outros lugares por pessoas e instituições sobre os quais ele não
possui nenhum controle.

Construção Analítica
É plausível considerar uma relação entre o processo de globalização na
economia mundial e a democracia política nos estados-nação em torno de uma
construção analítica simples, que é o trilema padrão da macroeconomia da
economia aberta. 

O trilema macroeconômico original diz que não é possível que os países


mantenham, simultaneamente, políticas monetárias independentes, taxas de
câmbio fixas e contas de capital abertas. Esse trilema da economia aberta é
descrito por vezes como a "trindade impossível", porque é impossível manter
os três simultaneamente. Se uma economia escolhe a mobilidade do capital e
as taxas de câmbio fixas, deve abrir mão da autonomia na política
monetária. Se uma economia deseja taxas de câmbio fixas e autonomia na
política monetária, deve desconsiderar a mobilidade do capital. Se uma
economia deseja ter autonomia na política monetária com mobilidade de
capital, então ela não pode ter taxas de câmbio fixas.

Tais alternativas possíveis são, de fato, observáveis na economia mundial em


diferentes momentos. Desde o final do século XIX até a Grande Depressão, o
Gold Standard combinou taxas de câmbio fixas com mobilidade de capital, mas
os países sacrificaram a autonomia da política monetária. De meados da
década de 1940 até o início da década de 1970, o padrão de câmbio de ouro
criado em Bretton Woods combinou taxas de câmbio fixas com autonomia de
política monetária, porém (mais ou menos) descartou a mobilidade de
capital. No período desde meados da década de 1970 até agora, a atual era da
globalização, a maioria dos países procurou combinar autonomia de política
monetária com mobilidade de capital, abandonando taxas de câmbio fixas para
um regime de taxas de câmbio flutuantes.

Nesse contexto, alguns teóricos da globalização propõe uma construção


analítica feita a partir de uma relação com o trilema político da economia
mundial. Os três aspectos derivados são a globalização, o estado-nação e a
política democrática. Nesta descrição, a globalização descreve uma integração
imponente das economias nacionais na economia mundial, o estado nacional
refere-se à jurisdição soberana em termos de leis e instituições, enquanto a
política democrática trata de democracia eleitoral, liberdades políticas e
mobilização política. Como no trilema original, é possível sustentar apenas dois
dos três aspectos. Se um país deseja a total autonomia do Estado-nação e da
política democrática, não pode manter uma profunda integração econômica
internacional. Se um país quer combinar a globalização com a soberania plena
do Estado-nação, precisa manter a política democrática. Se um país deseja ter
políticas democráticas em um mundo de globalização, teria que passar sem o
Estado-nação em sua essência. Esse argumento é desenvolvido ainda mais,
em extensão muito maior, em (RODRIK,2011), onde ele sugere que os países
não podem buscar simultaneamente a soberania nacional, a democracia
política e a globalização econômica, onde os países podem ter dois em
qualquer combinação, mas não os três.

As razões implícitas não são claras. A essência da hipótese de Rodrik é que


economias nacionais altamente integradas com a economia global entrariam
em conflito com as interrupções regulatórias e jurisdicionais criadas por leis e
instituições nacionais heterogêneas, enquanto leis e instituições harmonizadas
que eliminam a importância das fronteiras nacionais conflitam com os
fundamentos da política democrática, onde os governos eleitos são
responsáveis perante o seu povo a defesa do “interesse nacional”. A ideia
fundamental é ilustrada com uma descrição caricatural da realidade no
passado. O argumento é dito da seguinte forma. Desde o final da década de
1940 até meados da década de 1970, a era de ouro do capitalismo, o sistema
econômico multilateral tornou possível aos países permanecer com o Estado-
nação e a política democrática, limitando o grau de integração econômica
internacional. Pois então do final da década de 1970 até o final da década de
2000, a era da globalização, que buscava harmonizar políticas, instituições e
leis entre os países, possibilitou aos países combinar a globalização com o
Estado-nação, mas à custa da política democrática. Nesse processo, é
considerável contemplar um futuro, por mais improvável que seja, para os
países combinar política democrática com a globalização, abrindo mão do
Estado-nação e optando por um governo mundial ou federalismo global.

O segundo argumento do conjunto desse enredo também é enfatizado por


Thomas Friedman, de uma perspectiva ideológica um tanto quanto
diferente. Sua convicção na força dos mercados e da globalização não deixa
de ter suas limitações e falhas (Chang, 2007), mas sua explicação das
consequentes restrições aos governos descreve aspectos de uma
realidade. Thomas Friedman usa o "Golden Straitjacket" como uma menção
para descrever como os governos ao redor do mundo, nesta era da
globalização, competem entre si para canalizar e harmonizar políticas para
ganhar a confiança de empresas multinacionais, mercados e investidores
internacionais. 

À medida que seu país veste a camisa de força dourada, duas coisas
tendem a acontecer: sua economia cresce e sua política encolhe [...]
(diminui) a política e a economia. Escolhas políticas daqueles que estão no
poder [...] (para que) é cada vez mais difícil encontrar diferenças reais entre
os partidos no poder e da oposição [...] as escolhas políticas são reduzidas a
pequenas nuances [...] da Pepsi e da Coca-Cola [...]. (Friedman, 1999,
p.  87) 

Porém, na realidade o que houve foi uma expansão da democracia política no


mundo, em vez de uma redução, durante a época em que Friedman descreve e
reverencia.

Portanto, percebe-se que, essa caracterização de tal enredo não apresenta a


complexidade da realidade daquele momento. A era de ouro do capitalismo
evidenciou uma rápida liberalização do comércio internacional e do
investimento internacional para fornecer as bases da globalização, mesmo que
as restrições à mobilidade do capital significassem que não se estendesse às
finanças internacionais. Além disso, a era da globalização testemunhou uma
disseminação, e não um sacrifício, de políticas democráticas entre países,
mesmo que a ascensão da democracia política fosse desigual e incompleta. E
esse movimento em direção a uma maior democracia em um mundo em
globalização não foi atribuído a nenhuma governança da economia mundial em
termos de instituições e regras e muito menos de um governo mundial.
Ademais o sucesso ou a expansão da globalização só foi possível pelo avanço
também da democracia pelo mundo. Os principais países industrializados, não
apenas os Estados Unidos, mas também países como Grã-Bretanha,
França, Alemanha, Japão e China (caso mais específico dado o fato de não se
tratar de uma democracia), são capazes de combinar o estado-nação e a
política democrática com a globalização (exceto por alguma consideração nos
mercados financeiros internacionais), claro que em níveis de autonomia
diferentes do tempo da velha economia do início do século XX, agora tem-se
um novo ator, a globalização, e ela sugere caminhos que são colocados em
face de uma demanda insistente e agora bem-informada. A capacidade dos
Estados-nações de impor as opções econômicas individuais ficaram menores,
e caso tentam fazê-lo de forma demasiadamente restritiva, sem considerar
esse novo ator, os fluxos de capital tomarão outro rumo, penalizando suas
moedas e deixando sem recursos para investimento.

Há, no entanto, um problema ainda mais sério de transitividade, ao passar da


economia no trilema original para a política no trilema derivado. Cada um dos
três nós, integração econômica internacional, estado-nação ou política
democrática, pode representar um intervalo em vez de um único ponto único, o
que significa que pode haver opções dentro de cada um.  Em outras palavras,
poderia haver mais opções dentro e entre os três nós, enquanto o trilema
permite apenas escolher dois entre três. De fato não se perdeu totalmente a
autonomia nas políticas democráticas, ou a soberania dos Estados-nações, a
diferença é que a partir de agora tais opções continuam disponíveis porém em
proporções diferentes, nações com maior poder econômico podem gozam de
mais autonomia nas suas políticas democráticas enquanto nações com menor
poder econômico gozam de menor autonomia, com a globalização sugerindo
caminhos em direção aos fluxos de capitais. Certamente, na realidade, existem
conflitos entre objetivos desejados. E, onde quer que haja conflitos, é provável
que haja trade-offs. Portanto, existem escolhas a serem feitas. Mas estes não
devem ser reduzidos a "escolha dois, dois", e sim, deve considerar os novos
caminhos que a globalização propõe.

Nesse contexto, há algo a aprender de uma perspectiva histórica. A


globalização no final do século XX e no início do século XXI, tanto quanto na
era anterior da globalização durante o final do século XIX e o início do século
XX, não representa nem o fim da história nem o fim da geografia
(Nayyar,2006). Não é o fim da geografia e da história agora, como não era
anteriormente, mudanças sempre ocorreram durante a história com velocidade
e graus diferentes, porque os mercados e a globalização podem não ser o
modo dominante para a economia mundial em perpetuidade. Pode ter sido uma
guerra mundial na época e agora é a crise econômica que criou dúvidas sobre
a sabedoria e a necessidade de aprofundar a integração econômica na
economia mundial, de fato a crise de 2008 mostrou a necessidade de
ferramentas de controle e fiscalização mais eficientes e objetivas
principalmente sob os mercados financeiros, que floresceram sob a mesma
força que as economias democráticas.  E houve vida após a globalização,
então como haverá agora. Não é o fim da geografia, porque os estados-nação
não podem existir no vácuo e a maioria deve se esforçar para melhorar as
condições econômicas de seu povo a quem os governos prestam contas. Além
disso quando o bem-estar dessas sociedades anteriormente dependia apenas
de sua capacidade de explorar seus recursos naturais escassos, o interesse
nacional era claro: proteger seus recursos e controlar seu uso. Porém na atual
economia global voltada para o conhecimento e informação o interesse
nacional passou a ser a maior atração de empregos, investimentos e a
manutenção da renda per capita cada vez maior, proporcionando maior
qualidade de vida as populações.

Sendo assim fica claro que o Estado-nação é uma realidade bastante


evidente. Houve uma deterioração em seu espaço econômico, mas não em seu
espaço político. Essa realidade foi trazida pela crise econômica global
(Nayyar,2011). Ao mesmo tempo, maior autonomia de política democrática é
uma aspiração que está aumentando em todos os lugares. A expansão da
democracia política coincidiu com o advento da economia de mercado. Existem
menos regimes autoritários e mais regimes democráticos. O Estado-nação é
uma realidade embutida na história que emergiu mais forte da crise econômica
global. A política democrática, que ganhou força e força em um passado
recente, é cada vez mais uma prioridade, pois existe uma consciência de
direitos entre os cidadãos. Por outro lado, o grau de integração econômica
internacional é uma questão de escolha estratégica em termos de velocidade,
sequência e engajamento. Depende de escolhas feitas pelo Estado-nação
onde, em última instância, os governos podem decidir apenas de acordo com
as preferências das pessoas. 

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