Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A queda da RDA atingiu-me duramente, mas, tal como muitos outros companheiros de luta,
não perdi a convicção de que o socialismo é a única alternativa para uma sociedade mais
humana e mais justa. Desde a existência do capitalismo que os comunistas pertencem aos
perseguidos neste mundo, mas não pertencem aos sem futuro.
Hoje é considerado moderno etiquetar comunistas íntegros de estalinistas.
Erich Honecker, Memórias da Prisão [1]
Esta cena faz evocar a euforia, com raias de histerismo, que percorreu as hostes anti-
marxistas desde a extrema-direita a uma dita extrema-esquerda (do anarquismo ao
trotsquismo) juntando-os num triunfalismo inconsequente. Na realidade, tal como em
Munique se preparou a entrega aos nazis do domínio sobre a Europa, o derrube do Muro de
Berlim preparou a entrega aos EUA, como líder do grande capital transnacional, do domínio
mundial.
Sem o mínimo de contraditório as massas foram submersas pela propaganda que prometia a
"economia social de mercado" ou a "economia de mercado com justiça social".
Nos países ex-socialistas toda uma série de oportunistas, de especialistas neoliberais, ONGs ao
serviço do imperialismo, de indivíduos educados nos EUA, alguns obtendo dupla
nacionalidade, apossarem-se desses países, tal como o crime organizado. Foi então imposta a
democracia oligárquica que se traduziu numa inaudita regressão civilizacional.
Por detrás do derrube do Muro de Berlim, está patente a atitude de traição de Gorbatchov,
citando Lenine para melhor destruir o seu partido, assumindo-se depois como social-
democrata e confessando serem aquelas citações uma estratégia. No seu discurso do 70º
aniversário da Revolução de Outubro, Gorbatchov caracterizou a industrialização socialista, a
colectivização da agricultura e a revolução cultural como acontecimentos de dimensão
histórica para o reforço da potência soviética. Mais tarde denegriu e renegou o que dizia
defender. [1]
Gorbatchov, desprezado no seu país, publicou recentemente, um livro "New Russia", fazendo
coro com o "ocidente" (leia-se NATO) contra Putin. Aí cita Lenine: "não se pode ultrapassar o
povo". Foi o que ele e outros como ele fizeram.
Quando a URSS foi dissolvida e o socialismo liquidado, de 70% a mais de 80% da população
(conforme as Repúblicas) desejavam a manutenção da URSS; 85% o socialismo. Também o
povo da RDA não foi consultado sobre a anexação da sua pátria pela RFA, que Gorbatchov
acordou nas costas do povo e dos órgãos soberanos da RDA.
Na fronteira de Berlim foram mortas 74 pessoas, cidadãos aliciados nas redes organizadas
pelos serviços secretos ocidentais para fugirem, por razões políticas ou por delitos comuns. E.
Honecker lamentou-o até ao fim. Porém quantos trabalhadores, estudantes, etc, foram
mortos pelas polícias em manifestações na Europa Ocidental? Nos EUA foram mortas 500
pessoas só em 2015, alegadamente por não acatarem ordens da polícia. ( US Police Killed
Over 500 People This Year ). Quantos foram e são mortos ao tentar passar a fronteira entre os
EUA e o México? Isto, sem contar com os milhões de vítimas do colonialismo, das guerras de
agressão, ditaduras, para impor o capitalismo.
O socialismo não é uma sociedade perfeita, nunca o marxismo o afirmou, representa a natural
evolução e progresso da sociedade humana. É construído por homens imperfeitos em
circunstâncias muitas vezes dramáticas. De facto, em parte alguma é possível uma
democracia perfeita enquanto houver imperialismo.
Após o fim da RDA Honecker, foi preso, simbolicamente regressando à mesma prisão, Berlim-
Moabit, onde em 1935 os nazis o tinham encarcerado.
Doente, com cancro, em Moscovo, o traidor Ieltsin revelou mais um traço da baixeza do seu
carácter ao extradita-lo para a Alemanha. Pretendia-se apresenta-lo, debilitado e vergado ao
infortúnio, perante o capitalismo triunfante.
Tal não aconteceu, Honecker em 1993 perante o tribunal que o julgava, fiel aos ideais pelos
quais lutou desde a juventude, assumiu todas as responsabilidades pela defesa da RDA como
Estado soberano, demonstrou a superioridade do socialismo e denunciou o julgamento como
mais um episódio nos "quase 190 anos de perseguições da burguesia alemã aos comunistas, a
todos os lutadores pela paz e pelo socialismo"; transformou os acusadores em réus.
Acerca do socialismo
A RDA não pode ser apagada da História. As realizações da RDA ficarão na memória do povo e
influenciarão no futuro. A comparação com a democracia burguesa também devia ser
abertamente discutida a partir dos exemplos da RDA e da RFA. Na RDA não havia desemprego
em massa, mas sim pleno emprego, não havia sopa dos pobres, mas sim comida para todos,
não havia falta de vagas na formação profissional ou na educação.
Na RDA havia 9,5 milhões de postos de trabalho. A desindustrialização destruiu metade.
Foram vítimas do lucro que encheu abundantemente os bolsos do grande capital. Muitas
pessoas encontraram-se na pobreza e em situação de necessidade em consequência desta
barbaridade. Depois da anexação pela RFA, desapareceu o que era querido aos trabalhadores
da RDA: a segurança em matéria social garantida pelo socialismo.
A RDA era um país com uma indústria e uma agricultura modernas, dispondo de uma ampla
rede de proteção social. A agricultura da RDA conseguia assegurar o abastecimento alimentar
interno e exportar alimentos.
Não há nenhuma razão nem ninguém tem o direito de denegrir as realizações dos
trabalhadores, por muitos erros e insuficiências que tenham afectado o socialismo e que
foram objecto de debates. Como os desequilíbrios no desenvolvimento económico, os
problemas quanto a produtos de consumo, a escassez de matérias-primas, a incapacidade da
indústria ligeira dar resposta às necessidades, os problemas de abastecimento de bens de
consumo, a política de preços, a qualidade dos produtos.
Foi um erro não se ter dado rápido seguimento às propostas apresentadas no Plenário
realizado em 1988, no sentido de uma maior participação das pessoas na gestão direta da
sociedade, das empresas, dos bairros. Contudo, pretender que não havia democracia no
socialismo ou até mesmo afirmar que a democracia burguesa é superior à democracia
socialista não corresponde nem à verdade nem às realidades da sociedade capitalista, que
estão à vista de todos.
É necessário romper o véu da conversa sobre uma democracia acima das classes. Só pode
haver uma verdadeira democratização se as pessoas que criam riqueza forem as proprietárias
dos principais meios de produção e da terra. A democracia burguesa, onde funciona, reduz-se
a espaços de liberdade conquistados ao capital pela luta dos trabalhadores. Quando o poder
está nas mãos do capital, o povo é tutelado.
A RDA sempre defendeu uma política de paz e coexistência pacífica, deu um grande
contributo para afastar o perigo guerra na Europa. Com a sua liquidação, Honecker
perguntava então de forma premonitória: quanto tempo durará esta paz? Será que a França se
deixará esmagar pelo abraço da Alemanha?
Apesar dos bem pagos hinos entoados ao capitalismo, ninguém pode negar seriamente a
situação extremamente difícil em que se encontram milhões de operários e empregados,
cientistas e artistas, sejam eles defensores ou adversários da "economia de mercado".
A Treuhand, organismo criado "para a boa administração das empresas" estatais não foi senão
uma instituição para desbaratar o património do povo, entregando as empresas do Estado a
preços de saldo aos trusts capitalistas ou destrui-las para eliminar concorrentes. A liquidação
das empresas públicas da RDA foi um polpudo negócio para os capitalistas
O desemprego é uma tragédia para todos. Ninguém o conhecia na RDA. Imagine-se qual teria
sido o resultado se então o chanceler Kohl tivesse declarado abertamente aos eleitores que
haveria quatro a cinco milhões de desempregados, as rendas de casa aumentariam de três a
dez vezes e que grande parte das prestações sociais seria eliminada.
Não estava em causa derrotar um "poder pessoal", derrotar "a dominação do Politburo", mas
sim expropriar as empresas pertencentes ao povo, liquidar as cooperativas agrícolas, restituir
as terras aos grandes proprietários, eliminar a propriedade socialista. Tratou-se da liquidação
da RDA, das suas instituições científicas, dos equipamentos de saúde, de tudo o que estava
relacionado com o Estado da RDA.
O poder do capital foi pura e simplesmente restaurado. Era isso que estava em causa.
Ninguém pode negar que o guião seguido em todos os países socialistas consumado na contra-
revolução foi dirigido a nível internacional. O mesmo guião levou à destruição dos partidos
marxistas nestes países.
As traições
Como qualificar de outro modo aqueles que trabalharam para a restauração do sistema
político e económico do capitalismo sob a capa da democracia burguesa? Dê-se a volta que se
der, tratou-se da reconquista do poder da burguesia perdido 40 anos antes.
Sob a bandeira da luta contra o "estalinismo" conduziu-se a luta contra o socialismo. Todos os
"reformadores" renunciaram ao socialismo, dando ouvidos ao "grande reformador" que, em
seis anos, conseguiu desarmar o seu partido, o PCUS, de que era secretário-geral, e conduzir
a URSS à sua aniquilação.
A RDA foi sacrificada no altar da "casa comum europeia", pela qual Gorbatchov lutava com
tanto afinco. Isto só foi possível porque houve elementos dirigentes da RDA que
objectivamente contribuíram para a eliminação do socialismo. Entre estes havia traidores
conscientes, que se vangloriaram de terem aberto o caminho à anexação da RDA, utilizando
os seus contactos com a RFA em concertação com o círculo de Gorbatchov. A "renovação" da
RDA traduziu-se apenas na sua anexação pela RFA capitalista.
Porém, continua sem se saber o que seria o tão invocado "socialismo democrático". O
afastamento decisivo do comunismo significa não só a negação dos ideais comunistas, mas a
negação das necessárias transformações das relações de propriedade.
Numa nova sociedade tem de haver um lugar para cada um dos seus membros, não obstante
todas as evoluções tecnológicas e outros condicionalismos. Antes de mais isso significa um
posto de trabalho para cada um. O capitalismo é incapaz de o garantir, isso é hoje mais
evidente do que nunca. A corrida aos lucros fixa os limites à sociedade capitalista. Quer se
queira quer não, no mundo capitalista atuam as leis que Marx e Engels revelaram e provaram
cientificamente em toda a sua obra.
Com a fé infantil de que "o mercado tudo soluciona" não se resolve nenhum dos problemas da
Humanidade. Por isso inevitavelmente novas forças sociais, alcançarão e organizarão novas
relações sociais.