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Nuon Chea (sentado sozinho no canto esquerdo da foto) liderando um grupo de estudos da escola de
quadros do Partido Comunista do Kampuchea em meados dos anos 70.
Desde o início acreditávamos que era necessário ter um partido guiado pela classe
trabalhadora e nos basear nas contradições da sociedade kampucheana. Naquela
época, em 1960, a sociedade kampucheana era neocolonial e semifeudal. A
contradição entre a nação kampucheana e o imperialismo norte-americano era muito
aguda. Essa era a contradição externa. Como contradição interna, estava entre as
mãos da classe trabalhadora e os capitalistas além dos camponeses pobres e a classe
feudal. Ao mesmo tempo os capitalistas e os reacionários unidos oprimiam nosso
povo. Com base nestas contradições, o partido determinou suas tarefas
revolucionárias: Fazer a revolução nacional-democrática; Lutar contra o
imperialismo norte-americano e as classes feudais; Libertar a nação kampucheana e
os camponeses pobres. Esta linha estratégica foi abreviada para revolução nacional
democrática:
(1) O partido guiando a revolução teria que ser um partido da classe operária. Teria
que guiar a revolução diretamente e não permitir que outras classes guiassem a
revolução ou o partido. O partido teria que definir as forças da revolução;
primeiramente, as forças estratégicas na revolução, e segundo, as forças táticas na
revolução.
(2) As forças estratégicas são os operários, camponeses e alguns elementos da
pequena burguesia. Desses, nós vemos a classe operária como classe fundamental
enquanto que a pequena burguesia era como uma força aliada. Os capitalistas
nacionais eram forças suplementares. Além disso nós consideramos algumas
personalidades das classes dominantes, alguns grandes capitalistas, oficiais no
serviço civil no governo e alguns monges budistas como forças suplementares.
Aqueles que tinham uma visão patriótica, progressista e nacional, isto é, progressista
em relação aos reacionários. Baseados nessas classificações de forças nós tentamos
construir uma frente nacional-democrática como proposta de luta contra o
imperialismo norte-americano e seus lacaios. Nós desejávamos que todas estas
forças dependessem da liderança da classe operária e do partido.
(3) Nosso partido escolheu duas formas de luta: luta política e luta armada. Estavam
inter relacionadas. A luta política era promovida através da luta legal e da luta ilegal,
com a ilegal sendo a forma básica de luta. Agora nós lutamos abertamente e em
segredo com a luta secreta sendo a base da nossa luta. Nós definimos as formas de
luta desse jeito como resultado da nossa experiência. Defendendo, expandindo e
construindo nossas forças requeridas pela classe operária nesse caminho.
(5) A luta na zona rural era fundamental, especialmente nas áreas mais remotas e
afastadas.
(6) Nós reconhecemos que deveríamos conduzir a guerra popular, superar todos os
obstáculos, fazer algum sacrifício, e finalmente conquistar a vitória e lançar uma
ofensiva final. Nós nunca resolvemos colocar em defensiva, mas sempre tomar a
ofensiva.
(8) Nossa luta era baseada na solidariedade internacional com os partidos irmãos no
mundo, com os povos e países no mundo que se opõem ao revisionismo,
imperialismo, neo-colonialismo e colonialismo de todo o tipo. Estes princípios e
práticas não são novos. Eles foram reconhecidos em todo o mundo, mas nós os
revisamos com vocês porque refletem em suas próprias experiências. Nós temos
seguido estes princípios em nossa luta e temos aprendido a partir destes. Esta linha
foi adotada no primeiro congresso do nosso partido em 30 de setembro de 1960. Eu
gostaria de enfatizar que assumir essa linha na prática não era fácil. Especialmente
antes de 1970. Em 1960, nós fomos cruelmente afetados pelo vigésimo congresso do
Partido Comunista da União Soviética. O Vietnã também se opôs a nossa linha
partidária, especialmente na luta armada, assim também como a nossa linha de
independência, soberania, autoconfiança. Os vietnamitas disseram que nós tínhamos
de fazer a revolução nacional-democrática com base nos documentos do vigésimo
congresso do Partido Comunista da União Soviética. Eles disseram que não estava
clara a forma como as classes no Kampuchea teriam que ser divididas. Eles
acreditavam que a classe feudal tinha função progressista no Kampuchea e isso
poderia torná-los aceitáveis para fazer a revolução conosco. Além disso, eles
pensavam que a revolução poderia ser feita pelo parlamento com base na cooperação
entre diferentes classes. Então agora eles continuaram e continuam a ver nossa linha
como “putchista” e muito à esquerda. Mas nós defendemos nossa linha partidária.
Tendo definido corretamente a nossa linha partidária e as atividades do nosso
partido, nós enviamos a maioria dos nossos quadros para trabalharem no campo.
Nós mantivemos apenas uma minoria nas cidades. Nosso exército foi construído a
partir da estaca zero, de um exército pequeno para um grande exército. No começo
nós criamos alguns corpos secretos de auto-defesa. Nós selecionamos os melhores
jovens. Quase todos faziam o trabalho ilegal naquela época. Somente uma minoria
atuava na legalidade; alguns no parlamento, alguns na administração, alguns na
imprensa. O trabalho legal era para ir mobilizando as forças populares, mas o
trabalho fundamental era baseado nas zonas rurais e em torno dos operários, isso
teria que ser feito ilegalmente e secretamente. Isso significava que nossos inimigos -
o imperialismo norte-americano seus lacaios e as classes reacionárias não puderam
encontram quem estava liderando nossa revolução. Eles sabiam o nome de alguns
poucos camaradas como Khieu Samphan ¹. Eles pensavam que esses camaradas
eram os verdadeiros líderes da revolução. Mas eles não sabiam dos líderes
verdadeiros. E como eles só podiam agir contra as pessoas que eles sabiam, a
maioria dos nossos líderes pôde trabalhar em segurança.
Entre 1960-67, nós organizamos e consolidamos muitas bases nas zonas rurais. O
movimento em favor da produção e contra os latifundiários estava bem forte. Os
camponeses juntaram suas forças contras as classes dominantes. Eles não tinham
nada, mas usaram de tudo: pedras, facas, bastões, lâminas. Algumas esposas dos
camponeses pobres participaram levando seus filhos para mostrá-los em frente a
Assembléia Nacional. As forças revolucionárias nas zonas rurais estavam bem
fortes. Nós colocamos os membros da classe operária para irem trabalhar entre os
camponeses pobres e médios. Nas cidades, havia um movimento entre operários e
estudantes. Eles exigiam que o governo cortasse o apoio aos Estados Unidos e
mandasse embora o embaixador norte-americano. Os manifestantes queimaram a
bandeira e a embaixada. ²
-Na zona rural, o movimento popular eclodia. Aqueles que estavam famintos se
levantaram contra os traidores, reacionários e agentes da administração. O slogan era
“Fazer a Revolução Nacional Democrática”, que significava, lutar contra o
imperialismo norte-americano. O espírito de patriotismo estava em alta. Todo
mundo sentia que deveriam lutar contra o imperialismo norte-americano. Porém nós
dividimos a luta em duas partes: a luta nacional e a luta democrática. Por último, nós
levantamos slogans exigindo direitos aos estudantes, operários e camponeses;
salários altos; terras aos camponeses; preços melhores para o arroz, feijão de corda e
carne e melhores condições de vida para o povo. A luta abarcou grandes e pequenos
assuntos, e envolveu todas as regiões e meios. O inimigo tentou nos suprimir, mas
acabou derrotado porque nós lutávamos legalmente e secretamente, grandes e
pequenas batalhas ao mesmo tempo. Nesse caminho nós estávamos prontos para
defender e fortalecer as forças revolucionárias passo a passo.
-Através da luta, nós construímos a liderança do partido, recrutando bons quadros
entre os operários, camponeses, servidores civis na administração, monges budistas
e mulheres. Na luta nós estávamos prontos para forjar os quadros a partir de todas as
classes. Assim as contradições em nossa sociedade aumentaram, as contradições
entre trabalhadores e capitalistas, entre camponeses e latifundiários, entre
trabalhadores e oficiais do governo. O inimigo tentou duramente suprimir nosso
movimento. Nesta situação, confrontando estas contradições agudas, nós tivemos
uma conferência entre o Comitê Central. Decidimos que não poderíamos mais
continuar a luta legal. E o que deveríamos fazer era iniciar o levante. Isto foi em
Janeiro de 1968. O embaixador soviético em Phnom Penh se opôs a nós. Os
soviéticos disseram que o nosso partido estava fora de si em lançar a luta armada.
Eles começaram a construir um novo partido voltado contra nós, reunindo pessoas
que se renderam ao inimigo e que eram traidores, oportunistas e vagabundos. O
Vietnã também se opôs a nossa luta armada. Os quadros vietnamitas tomaram ação
contra nós, desestimulando, distribuindo panfletos como a obra de Lênin
:”Esquerdismo: a doença infantil do comunismo”. Eles disseram que estávamos
muito à esquerda. Nós dissemos: o Vietnã não nos ajudou! Um monte de pessoas
não entendem isso. Era um momento tático em que nosso partido consolidava sua
posição como independente e soberano. Nós nos damos conta de que nosso caso era
diferente. Tínhamos que tomar conta da situação concreta para resolver nossas
contradições sociais. A situação estava favorável para a luta armada. Estávamos
unidos neste princípio e nessa linha e nosso povo apoiou a revolução de todo o
coração, o levante contra as classes dominantes iniciou em 17 ou 19 províncias. Por
falar nisso, não tínhamos armas e nem ajuda de fora. Tínhamos apenas algumas
carabinas capturadas do inimigo. Algumas vezes tínhamos armas, mas não tínhamos
munição. Algumas vezes enquanto não tínhamos munição levávamos os rifles
apenas para assustar o inimigo. Passo a passo estávamos prontos para expandir
nossas forças porque nós seguimos a linha partidária da guerra popular.
Está escrito no programa do nosso partido que nós devemos continuar nossa
revolução socialista e avançar para o comunismo depois da revolução nacional
democrática, mas não entraremos em detalhes. Nós trabalhamos para as presentes
tarefas da construção socialista após a libertação [4]. Nossas principais tarefas são
defender o poder do nosso estado, continuar a revolução socialista e a construção
socialista. Nós temos defendido nosso território e a soberania desde a libertação em
uma feroz, e complicada luta, especialmente contra o Vietnã. Pensamos que esta luta
levará um bom tempo enquanto o Vietnã tiver enormes ambições. Quer forçar o
Kampuchea para uma Federação Indochinesa e prosseguirá com seus objetivos
expansionistas em todo o sudeste da Ásia. Como condições de sobrevivência, nós
temos basicamente resolvido nossos problemas pelos projetos dos meios de
irrigação. Estamos acumulando capital para o desenvolvimento de nosso país com
base na independência e autonomia.
Possuir uma linha política certa ainda não era suficiente para assegurar a vitória.
Nosso partido tinha que ter um firme ponto de vista revolucionário. Particularmente
isso é porque muitas de nossas lutas eram ilegais. Assim, algumas vezes, se nossos
quadros não estivessem comprometidos ideologicamente, eles poderiam se render ao
inimigo ou, uma vez capturados poderiam revelar segredos aos inimigos. Para
prevenir isso, nós enfatizamos a educação ideológica. Durante a luta, nós
encontramos muitas dificuldades. Por exemplo, quadros separados das suas famílias
e ideologicamente fracos poderiam algumas vezes decidir voltar para suas famílias
para longe da revolução. E algumas vezes os quadros que estavam trabalhando
ilegalmente e na administração inimiga estavam recebendo altos salários. Faltando
uma visão revolucionária, eles poderiam ser comprados. Assim nosso partido pode
ver que a ideologia era o ponto-chave na implementação da linha política assim
como a linha organizacional. A construção ideológica do partido encontrou dois
caminhos: pela destruição da linha ideológica incorreta e pela construção dos
corretos ponto de vista revolucionários do partido. Por exemplo, nós tivemos que:
Para esclarecer a natureza dessa luta dentro do partido, sim, existem ambos os
perigos. Dentro do partido, existe uma contradição entre os pontos de vista da
propriedade privada e a propriedade coletiva. Se não tomarmos cuidado, pode se
tornar antagônica. A outra contradição e externa. O Vietnã em particular, está
tentando minar nosso partido por meios militares, econômicos e ideológicos. Os
vietnamitas também tentam se infiltrar no nosso partido. Não estamos preocupados
sobre agressões externas ou militares. Nos preocupamos mais sobretudo com o
inimigo interno.
Nesse período, após a libertação, o trabalho secreto é fundamental. Nós não usamos
muito os termos “legal” ou “ilegal”; usamos os termos “secreto” e “aberto”. O
trabalho secreto é fundamental em tudo o que fazemos. Por exemplo, a eleição de
camaradas para guiarem o povo são secretas. Os lugares onde nossos líderes vivem
são secretos. Mantemos tempos de visita e lugares secretos, e assim por diante. Por
um lado, isto é um assunto de princípio geral, e por outro lado, é um meio de
defender a nós mesmo do perigo de infiltração inimiga. Onde houver luta de classes
ou imperialismo, o trabalho secreto permanecerá fundamental. Somente através do
segredo poderemos ser mestres da situação e obter a vitória sobre o inimigo que não
conseguirá saber quem é quem. Isto também se aplica em assuntos estrangeiros. Por
exemplo, a União Soviética queria vir para Phnom Penh durante a libertação. Eles
estavam se preparando para enviar pessoas para a embaixada. Dissemos que não
seria possível recebe-los e ele ficaram furiosos. Baseamos tudo no segredo. Estes
são interesses da classe trabalhadora.
Dentro do partido lutamos resolutamente contra a União Soviética, mas nós temos
muitos inimigos agora. O imperialismo norte-americano, Tailândia, Vietnã? E por
motivos táticos devemos limitar nossos inimigos o máximo possível. Isto poderia
ficar claro que nos opomos à União Soviética e ao revisionismo, mas nossa linha
deveria ser diferente da linha tomada pela China porque somos um país pequeno.
Tome outro exemplo: a nossa atitude em torno dos “três mundos”. Temos o mesmo
ponto de vista, exatamente o mesmo, mas como fazemos, temos que levar em mente
os interesses concretos do nosso país.
Operando secretamente, a nossa organização tinha regras para seguir. Três membros
são requeridos para formar uma célula, por exemplo numa fábrica. Se há mais que
três membros, um secretário da célula deve direcionar o trabalho do partido. Se há
mais de seis pessoas, formamos duas células separadas, sem ter contato uma com a
outra. Ainda com cinco pessoas, organizamos duas células separadas do partido, que
podem trabalhar secretamente e separadamente. Se o inimigo descobre uma célula, a
outra pode continuar seu trabalho. Não há contato direto entre as células. Em cada
fábrica, existe um quadro liderando. Só ele conhece isso. Ele pode ir diretamente
para a liderança. Esses procedimentos também se aplicam a outros setores como os
estudantes. Formamos células sem terem conhecimento uma das outras e estão
incapazes de se contatarem. O mesmo se aplica aos contatos entre quadros
designados e a liderança. Contatos são arranjados através de uma terceira pessoa. Se
o inimigo captura o quadro líder, ele não estará apto a identificar a liderança,
somente os intermediários. Esta é a nossa organização secreta. A partir da nossa
experiência, o sigilo é somente um aspecto da construção da organização. De grande
importância é o nível ideológico dos quadros líderes designados. Eles devem
mostrar grande disciplina. Temos que ser especialmente cuidadosos quando o
trabalho tiver que ser realizado nas cidades. Os quadros podem ser forçados a
fugirem às pressas. Eles não devem viver com seus familiares. Quando eles o fazem,
as coisas ficam complicadas. Tornam-se demorados para fugir. Tivemos alguma
experiência amarga com estas coisas. Depois disso, decidimos observar mais
estritamente a disciplina do partido. Permita-me dizer que estamos falando de
experiências concretas e condições em nosso país. Está com você decidir o que
vocês podem aprender com essas experiências fora dos sentimentos de amizade
revolucionária. Sigilo significa evitar a lei. Por exemplo, temos que fazer nossos
próprias carteiras de identidade ou então nossos nomes não aparecerão nos registros.
Se o inimigo capturou carteiras de identidade verdadeiras, fotos e permissões de
trabalho, isto tornará bem fácil de nos encontrar. Além do mais, se os
revolucionários não fazerm qualquer trabalho, o inimigo nos notaria fortemente.
Abrimos uma livraria para nós mesmo, mas para evitar deixar ver nossos nomes, nos
escondemos atrás de uma terceira pessoa e do seu nome. Durante a guerra muitos
quadros tiveram que deixar os seus trabalhos periodicamente e tínhamos que
protege-los. Contatos e visitas eram durante a noite; eram aulas de treinamento
político. Nos trancamos em uma sala por dois ou três dias até estarmos prontos.
Contatos entre líderes publicamente conhecidos, como aqueles que trabalhavam no
parlamento e líderes secretos eram arranjados através de duas ou três pessoas.
Empregamos várias táticas para superar a opressão do inimigo. Para visitas em uma
casa, por exemplo, usávamos sinais, como um lenço na frente da casa. Se o lenço
estava no lugar, era seguro de entrar; se não estivesse, é porque o inimigo estava lá.
No início nós perdemos muitas pessoas para o inimigo porque o inimigo conhecia os
sinais secretos. A partir disso, aprendemos a não ir diretamente para a casa, mas
caminhar em volta da vizinhança, talvez ir para uma loja, beber alguma coisa e
perguntar sobre o que estava acontecendo na casa. Algumas vezes pessoas boas nos
contavam segredos sobre o inimigo. Algumas vezes os vizinhos não eram
revolucionários, mas eles podiam nos alertar se espiões e agentes estavam lá.
Também usamos mensageiros para mensagens, cartas, carregar munição, etc. Aos
mensageiros não era permitido saber nossos verdadeiros locais de residência. De
outra forma, os mensageiros capturados poderiam ser forçados a revelar. Tínhamos
que usar uma ponte de duas ou três pessoas. Se um mensageiros falhasse em
aparecer, não fazíamos nada por dois ou três dias. Mas após isto, tínhamos que nos
mover para outro lugar. Quando o inimigo aprendia isso, eles torturavam
mensageiros capturados para nos capturar imediatamente. A partir da experiência
amarga, aprendemos a abandonar a casa segura de uma só vez se um mensageiro
estivesse duas ou três horas atrasado. O inimigo veio de imediato poucas vezes e
tivemos que usar armas para permitir a fuga dos quadros líderes. Isso pode lhe dar
uma ideia das nossas experiências. As táticas e técnicas são de importância
secundária somente; o mais importante é o ponto de vista de classe dos quadros.
Desde a libertação, nossa experiência relata para atividades anti-partido realizadas
dentro do nosso partido. Elas geralmente envolvem a CIA, vietnamitas e agentes da
KGB. Nossas experiências nessa área são muito recentes, mas aparentam a partir do
que pudemos aprender que a CIA, agentes vietnamitas e agentes da KGB estavam
trabalhando dentro do nosso partido por um longo tempo. Quando observamos que
alguma coisa estava errada, pensamos que era uma contradição interna e tantamos
resolver por meios de persuasão, autocrítica, etc. Por exemplo, o partido tinha
diretivas para uma ramo relativo às condições de vida do povo. Quando nada
mudou, imaginamos que alguma coisa estava errada. Havia aí desvios para a
esquerda ou para a direita, observamos cuidadosamente a experiência dos quadros.
Também buscamos a opinião das massas. Estavamos portanto prontos para descobrir
os agentes inimigos, passo por passo. Geralmente desobríamos quando eles estavam
engajados e atividades inimigas por um longo tempo. Algumas vezes bons
camaradas foram aprisionados e torturados e depois se rendiam ao inimigo. Após a
libertação, eles serviram como agentes. Nós os recebemos de volta, aceitamos, sem
olhar o que aconteceu na prisão. E agora nós percebemos que se tornaram agentes do
inimigo. Está mais amplamente conhecido que os EUA planejaram nos tirar do
poder seis meses após a libertação. O plano envoveu a ação conjunta por parte dos
EUA, KGB e Vietnã. Era para ser uma luta combinada por dentro e por fora. Mas
nós esmagamos o plano. Imediatamente após a libertação, nós evacuamos as
cidades. A CIA, KGB e os agentes vietnamitas estavam indo para o campo e
estavam incapazes de implementar o plano. As pessoas que infiltraram-se no partido
não puderam reagir imediatamente, mas nós os descobrimos depois que eles
planejaram golpes de estado. Estas pessoas não eram fortes; suas intenções eram a
de explorar a oportunidade provida pelos ataques do Vietnã para assassinar nossos
líderes e tentar anunciar isto ao mundo. Embora dizemos que os planos foram
quebrados, não vemos que o inimigo se entregou. Temos que continuar a construir e
defender nosso partido, nossa liderança e apreender as pessoas que estão infiltradas
no nosso partido. Sabemos que os atuais planos envolvem não só agentes
vietnamitas, mas teve alguma coisa a ver com o imperialismo norte-americano e a
KGB. Todos eles! Algo similar ocorreu no Iemen, tanto do Norte como do Sul. E no
Afeganistão. Mas como estas coisas acontecem, a face dos soviéticos torna-se cada
vez mais clara.
Pergunta: Existe uma cooperação entre a CIA e a KGB ou há uma rivalidade pelo
controle do Kampuchea?
Ambos. De um lado eles coperam; de outro, eles são rivais. Por exemplo, o Vietnã
nos atacou no último mês de outubro a dezembro enquanto que operações foram
conduzidas pelos EUA com seus agentes da CIA próximo das nossas ilhas na costa e
na fronteira com a Tailândia. Eles competem pelo controle ao mesmo tempo. Esta é
uma forma aberta de cooperação. Quanto a uma forma secreta, alguns agentes da
CIA aderiram aos vietnamitas para irem ao Kampuchea. Isto porque os EUA
estavam incapazes de virem ao Kampuchea, então tiveram que confiar no Vietnã. Os
vietnamitas não discriminam ao escolher agentes. Eles aceitam qualquer um que luta
contra o Partido Comunista do Kampuchea. Inclusive agentes da CIA! O aparato da
liderança deve ser defendido a qualquer preço. Se perdermos membros mas retermos
a liderança, continuaremos a obter vitórias. Defender a liderança do partido é
estratégico. Tanto tempo sendo líder – “o barco está aqui”, o partido não irá morrer.
Pode não haver comparação entre perder dois ou três quadros e 200-300 membros.
Em vez do anterior. Caso contrário, o partido não terá cabeça e não poderá liderar a
luta. Isto foi demonstrado pela experiência do Partido Comunista da Indonésia. Sua
liderança foi 90% destruída. Isto tomou um longo tempo para se restabelecerem.
Treze anos se passaram desde 1965 e o partido ainda não está reconstruído. Não
sabemos quanto tempo isto irá levar para eles retomarem o poder de ofensiva que
eles tinham anteriormente. Construir uma boa liderança é estratégico. Leva uns 10-
20 anos para construir uma boa liderança comunista. Se você perde um, você perde
um monte. E o sigilo do partido pode se perder.
O que fizemos para que Sihanouk se juntasse a nós? Eramos capazes de mobilizar
forças após o golpe de estado porque tínhamos feito preparações por um longo
tempo. Éramos mestres da situação. Tínhamos um exército; tínhamos algumas
armas. Ainda, eramos capazes para formar uma frente unida. Nós ainda permitimos
ao Rei Sihanouk tornar-se presidente da frente. Não significava nada porque éramos
os mestres da situação. Após o golpe, Sihanouk estava reduzido de tudo ao nada
enquanto para nós não era o oposto? Nas cidades assim também como no campo. A
forças das camadas básicas da sociedade eram essenciais para alcançar a adesão dos
de níveis mais altos a nós. Esta é a primeira lição. A segunda lição e experiência
concerne às atividades da frente. Não tivemos sequer um instante fácil nisto. O
inimigo tentou corromper Sihanouk? Os EUA, a França, os revisionistas soviéticos?
E separá-lo da frente. Sihanouk não saiu porque ele obteve vitória após vitória no
nível básico. Sihanouk poderia ter nos deixado, especialmente em 1973 quando o
Vietnã sentou na mesa de negociações com os EUA. Sihanouk estava assustado por
estar sozinho; ele vivia perguntando se éramos capazes de continuar a luta. Ele quis
negociar mas dissemos a ele que poderíamos continuar a luta até o fim. Terceira,
descobrimos que tínhamos que lutar dentro da frente com Sihanouk ao mesmo
tempo em que nos unimos com ele externamente. Sihanouk perguntou por coisas;
fizemos ele tê-las o máximo possível desde que não contrariasse nossa política
estratégica. Tínhamos que ser bem flexíveis com ele. O slogan do partido era: “Não
empurre alguém para o inimigo”.
Nossa luta nas cidades teve dois componentes: a luta legal e a luta secreta. A luta
urbana não era tão importante como a luta no campo, mas seu impacto era sentido
em todo o país e em nível internacional. Além do mais, a luta teve um efeito
importante no nível médio da classe dominante, mesmo apesar do fato da cidade ser
o quartel general da classe dominante e do seu aparato de repressão. Algum trabalho
legal foi realizado na Assembléia Nacional. Nós não tentamos obter assentos;
usamos as personalidades patrióticas para fazer propaganda. Estes dignatários não
agiam em nome do partido, mas o partido em essência estava sob a propaganda. O
trabalho era limitado. Só fizemos o nosso povo usar sloganas estratégicos para
despertar o povo. Ao mesmo tempo, usávamos jornais, promovíamos rumores e
pergutanvamos ao povo para seguir deputados que conseguiram entrar na
assembleia. Neste caminho, trabalhamos até o topo, fazendo o povo nos seguir
enquanto ao mesmo tempo trabalhávamos nos níveis básicos. Apesar de sermos
capazes de trabalhar legalmente na Assembléia Nacional, nossos deputados estavam
algumas vezes sujeitos à repressão. Nós poderíamos então tentar colocar nossas
ideias em outros deputados ao dizer a eles: “se vocês disserem isso e isso, o povo irá
segui-los e o elegerão novamente”. E algumas vezes eles tentaram isto. Quando os
nossos slogans eram usando antes, o povo, o povo aplaudia. Os deputados ficavam
encantados. Depois eles puderam perguntar-nos sobre o que dizer e se poderíamos
passar mais de nossos slogans para eles. Alguns de nossos camaradas não
conseguiram entender e pensavam que fazendo isso, poderíamos estar fortalecendo a
influência das classes dominantes. Mas não pudemos achar que isto fez algum
prejuízo. Se podíamos captar algumas coisas da essência de nossas ideias para o
povo, então podíamos pegar algumas destas do povo para nós. Havia dificuldades na
luta com os nossos jornais. Quando a classe dominante percebia que um jornal
particular era secretamente estabelecido pelo partido, ele poderia acabar fechado em
menos de três meses. Nós pudemos então fazer os camaradas escrever
anonimamente para jornais de natureza mais neutra. Algumas vezes o papel teria
metade das letras cortadas. Fizemos isto no entanto; para colocar algumas ideias
para fora. Também fizemos o nosso pessoal responder a artigos de jornais
reacionários, escrevendo cartas para o editor pedindo para o editor parar de imprimir
visões reacionárias. No case dos jornais mais reacionários, não poderiam ser
restringidos por algum meio, nós convocávamos protestos em seus escritórios. No
caso do Phnom Penh Presse, um jornal da CIA e o mais reacionário de todos, nós
fizemos as pessoas saquearem o local. Entre outras das nossas atividades nas
cidades, promovíamos performances artísticas entre o povo e arranjávamos viagens
para áreas rurais nos festivais, cerimônias, e assim por diante. Estávamos então
prontos para tornar nossas forças cada vez mais fortes em todos os níveis da
sociedade. Escolhendo o slogan correto, o slogan que expressava a situação?
Perguntando não muito, não muito na situação? Era crucial para o nosso trabalho nas
cidades. Não conseguimos usar palavras como “revolucionário”, “comunista”, ou
“vermelho”, por exemplo. Ao invés usamos palavras que todo mundo poderia
aceitar como por exemplo “lutar contra o imperialismo norte americano”, “lutar por
soberania”, etc. O povo estava especialmente assustado com as palavras
“comunista” e “revolucionário”. Mas as fizemos adotar a nossa linha partidária? As
pessoas que estavam de outra forma com medo de “revolução” e “comunismo”?
Então essas pessoas, apesar de seus medos, estaam prontas para levantar a bandeira
do nosso partido. Nós ainda trabalhamos com o movimento dos monges budistas,
fazendo-os nos seguir dizendo que poderíamos defender o país e a religião. Se o país
iria se tornar dominado por estrangeiros, não haveria mais alguma religião. Então os
monges, também, levantaram a nossa propaganda ainda que eles não gostassem do
comunismo. Nós trabalhamos não somente entre os monges rasos? Eles não eram
tão reacionários em todo caso? Mas também entre os monges de alta graduação que
controlavam partes vastas do país. Usavamos slogans de oposição à supressão
cultural do Kampuchea. Os monges então se tornaram patrióticos, apoiando-nos sem
estarem cientes disso. Tambem trabalhamos com grandes personalidades como Penn
Nouth. Aqui, tivemos que ser cuidadosos. Tínhamos que solicitar suas ideias, não
fazer proposições, não propagar. As personalidades patrióticas de alto nível não
eram uma força importante mas estávamos tentando reunir todas as forças em apoio
à nossa luta, especialmente nas cidades. Perguntamos por exemplo, “o que vossa
execlencia pensaria se os EUA atacassem o país?” Ele poderia então pensar sobre
isto e poderia incutir ideias sobre o que deveria ser feito. Os dignatários então nos
ouviam e falavam para os outros sob sua influência. Assim, Penn Nouth não sabia
que ele propagandeava para os comunistas. Estas eram formas formas de diferentes
de luta legal nas cidades. Entretanto, colocamos maior ênfase na luta secreta. Sem a
luta secreta, a luta legal não poderia ter sido bem-sucedida. Estas duas formas de
lutas interagidas e complementadas umas com as outras, mas o trabalho secreta era o
mais importante. Tínhamos que educar os nossos quadros sobre o trabalho secreto
assim como o trabalho legal. Quando a situação era fácil, os quadros procuravam
trabalhar legalmente assim como ter a chance de ganhar um título, dinheiro, etc.
Quando a situação era difícil, eles preferiam ao invés de trabalhar secretamente.
Consequentemente eles tinham que ser educados continuamente, assim como
ficarem prontos para permanecer firmes em seus postos ainda com risco em suas
vidas. Eles poderiam não assumir novos deveres por si mesmos, sem antes o partido
dar autorização. Isto era o trabalho ideológico. Antecipando dificuldades, nós
tomamos precauções. Criamos bases no campo que poderiam receber pessoas
engajadas no trabalho secreto das cidades. Ainda que o trabalho secreto fosse
quebrado, entretanto, não estavam permitidos trabalhar secretamente no campo.
Ainda fora no meio aberto? Sempre trabalho aberto. Tínhamos que ser cuidadosos
onde as pessoas eram enviadas para que ninguém soubesse antecipadamente. Se não,
o inimigo poderia encontrar. Quando os quadros tinham problemas, eles
frequentemente pediam para serem enviados para o campo ainda quando o segredo
continuava intacto. Por causa disso tínhamos que trabalhar passo-a-passo em seus
pontos de vista ideológicos, e tínhamos que ficar de olho naqueles que estavam
trabalhando nas cidades? Ou o trabalho secreto ou o legal? Observando
especialmente suas condições de vida, e circunstâncias pessoais. Aqueles que
estavam trabalhando secretamente não poderiam sustentar trabalhos que as pessoas
comuns faziam, então tínhamos que dar assistência a eles para encontrarem
trabalhalhos até certo ponto. De acordo com a correta linha do partido, estávamos
prontos para erguer e defender nossas forças. Alguns eram destruídos pelo inimigo,
mas para a maior parte estávamos prontos para protege-los; Especialmente após o
golpe em 1970 quando tínhamos vastas áreas libertadas. As localizações de nossas
bases mais importantes eram um segredo. Nem mesmo os eletrônicos norte-
americanos puderam descobri-los. Apesar dos bombardeios norte-americanos terem
destruído um monte, eles não eram muito efetivos porque estávamos vidrados na
nossa linha secreta de luta. As forças vietnamitas no Vietnã eram bem menos
clandestinas e menos secretas do que nós eramos, e por causa disso a maioria deles
foram destruídos. Ainda os vietnamitas aqui foram foram mais atingidos do que nós.
O nosso povo e soldados chamavam os B-52 de “os cegos”. Quando eles vinham,
eles jogavam bombas sem olhar. Ele não davam bola em quem iriam ou não acertar.
O nosso povo não estava muito assutado com os B-52. Aprendemos que o quanto
mais preservarmos o nosso segredo, nossa luta poderia continuar o enquanto fosse
necessário. Ainda que a artilharia de origem norte-americana fosse ineficiente
quando não sabia quem ou onde estávamos. Dentro dos limites. Alguns de nós
fomos atingidos, mas não dissemos aos nossos quadros que não se assustassem, para
que se mantivessem bem escondidos e assim seríamos todos capazes de interromper
os imperialistas norte-americanos.
Nuon Chea
http://grandedazibao.blogspot.com/2018/04/declaracao-do-pck-por-nuon-chea-
1978.html