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olavodecarvalho.org/da-fantasia-deprimente-a-realidade-temivel
Olavo de Carvalho
A sentença de Hugo von Hofmannsthal já citada nesta coluna – “Nada está na realidade
política de um país se não estiver primeiro na sua literatura” – é tão verdadeira e
profunda, que pode ser aplicada à análise das situações políticas desde vários ângulos
diferentes, sempre rendendo algum conhecimento.
Vejam, por exemplo, o que aconteceu na Rússia entre a metade do século XIX e a queda
da URSS. Por volta de 1860-70 a cultura russa, até então raquítica em comparação com as
da Europa ocidental, começava a tomar impulso para lançar-se a grandes realizações. A
inspiração que a movia era sobretudo a confiança mística no destino da nação como
portadora de uma importante mensagem espiritual a um Velho Mundo debilitado pelo
materialismo cientificista. Preservada da corrosão revolucionária por um regime político
fortemente teocrático em que as crenças oficiais da côrte e a religiosidade popular se
confirmavam e se reforçavam mutuamente, a Rússia contrastava de maneira dramática
com as nações ocidentais onde a elite e as massas viviam num divórcio ideológico
permanente e que por isso só se modernizavam à custa de reprimir e marginalizar os
sentimentos religiosos da população. O regime tzarista, não obstante o peso da sua
burocracia emperrada, havia conseguido encontrar o caminho para reformas que não iam
contra os ensinamentos da igreja ortodoxa, mas, bem ao contrário, nasciam deles. O
futuro da Rússia parecia emergir diretamente do messianismo cristão das duas figuras
máximas da intelectualidade russa, o romancista F. M. Dostoiévski e o filósofo Vladimir
Soloviev.
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abaixo da geração anterior. Hoje em dia já não se pode lê-lo senão como documento
histórico. Nem é preciso dizer que o mesmo se aplica à literatura produzida sob os
governos de Lênin, Stálin, Kruschev e tutti quanti. Até os melhores romances do período
– os de Sholokhov – se tornaram ilegíveis por excesso de babaquice revolucionária. Nem
falo dos filósofos e ensaístas, uma multidão subsidiada que o tempo de encarregou de
jogar na lata de lixo. O pensamento russo só sobreviveu no exterior, integrado na cultura
européia ou americana, com Berdiaev, Chestov, Sorokin. A imaginação literária só veio a
se recuperar a partir anos 50, mas no subterrâneo, longe da cultura oficial, com
Soljenítsin, Bukovski, Zinoviev. E não é preciso dizer que a inspiração para isso veio
principalmente do antigo messianismo de Dostoiévski e Soloviev.
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razão de que a imaginação vem antes da ação. Se há uma “lei histórica” que funcione, é
essa. Digo-o entre aspas porque não é uma lei histórica, é um dado estrutural da ação
humana que nenhuma mutação histórica pode alterar.
Se o leitor compreendeu isso, com muita facilidade perceberá a loucura suicida que foi
confiar os destinos do Brasil a uma corrente político-ideológica que, dos anos 70 até hoje,
se empenhou sistematicamente em destruir a cultura superior do país e de modo especial
a sua literatura, mediante a submissão de tudo às exigências estratégicas e táticas da
“revolução cultural” de Antonio Gramsci.
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mãos de esquerdistas como Cláudio Abramo, Luiz Alberto Bahia, Alberto Dines, Luiz
Garcia e outros tantos, de modo que a diferença com os nanicos era antes de estilo que de
conteúdo. Hoje, os jornalistas “de direita” estão todos na mídia nanica. Os poucos que
ainda aparecem nas páginas dos grandes jornais são apenas colaboradores contratados.
Nem entram nas redações.
O total domínio da cultura por uma corrente política, qualquer que seja, constitui já um
mal em si. Mas o que aconteceu no Brasil foi muito mais grave:
5 Uma vez amortecida a capacidade de distinção, foi fácil disseminar por toda a sociedade
os contravalores que deram forma ao Estatuto da Criança e a outros instrumentos legais
que protegem os criminosos contra a sociedade, criando propositadamente o estado de
violência, terror e anomia em que hoje vivemos, e do qual a própria esquerda se aproveita
como atmosfera propícia para o comércio de novas propostas salvadoras.
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A esquerda brasileira — toda ela — é um bando de patifes ambiciosos, amorais,
maquiavélicos, mentirosos e absolutamente incapazes de responder por seus atos ante o
tribunal de uma consciência que não têm.
Está na hora de o país retirar de uma vez o voto de confiança que deu a essa gente num
momento de fraqueza fabricado por ela própria.
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