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Pensamento computacional x Artes: contraponto entre

disciplinas gera debate na educação


gazetadopovo.com.br/parana/aulas-de-artes-e-pensamento-computacional-geram-debate-na-educacao

| Foto: Pixabay

A grande maioria dos gestores de escolas públicas


brasileiras (81%) considera que o uso
de tecnologias digitais no ambiente educacional
pode impactar positivamente os
processos de ensino e aprendizagem, além de
melhorar a qualidade e a equidade
educacional. Porém, entre estes mesmos gestores,
quase metade deles (47%) reconhece
que não há nenhum projeto de tecnologia implementado
na escola sob sua gestão.

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Este é um dos cenários nacionais identificados pelo Relatório Guia Edutech – Diagnóstico
do Nível de Adoção de Tecnologia nas Escolas Públicas Brasileiras. O documento,
publicado pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB) no final de 2022,
mostra como a adoção da tecnologia na realidade das escolas ainda é um desafio a ser
superado no país, ainda que haja pleno entendimento de que as ferramentas tecnológicas
têm potencial para promover a equidade e qualidade na educação, além de aproximar a
escola do universo do aluno.

No Paraná, secretaria de Educação propôs retirar aulas de Artes e


incluir Pensamento Computacional

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O Estado do Paraná passou recentemente por uma importante
discussão sobre esse tema.
No final do ano letivo passado, a Secretaria de
Estado da Educação (Seed) publicou uma
resolução retirando a disciplina de
Artes das turmas de 8º e 9º anos das escolas estaduais.
No lugar dessas aulas,
a Seed propôs a inclusão da disciplina de Pensamento
Computacional.

Entidades representativas dos professores fizeram protestos e criticaram a medida


tomada pela secretaria. Para a Associação Paranaense das Instituições de Ensino Superior
Público (Apiesp), “a Arte é um eixo estruturante na formação do estudante em todas as
fases do seu percurso escolar, pois é por meio do conhecimento e da vivência das
diferentes linguagens artísticas que se desenvolve o pensamento complexo, a
sensibilidade, a criatividade, a percepção de si e do outro e a noção de grupo social”.

Por sua vez, o Estado defendeu a adoção da nova disciplina de Pensamento


Computacional por ser esta “uma forma de capacitar os estudantes na busca pela
compreensão, utilização e criação de tecnologias digitais de informação e comunicação de
forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais, incluindo as
escolares”.

Com mais destaque, a Seed apontou que tal formação é


essencial porque permite ao
estudante “se comunicar, acessar e disseminar informações;
produzir conhecimentos,
resolver problemas, exercer protagonismo e autoria na
vida pessoal e coletiva”.

Medida foi revertida e as duas disciplinas serão ofertadas em 2023


Após um encontro entre representantes dos professores e do
Estado em janeiro, a Seed
confirmou que das 1,8 mil escolas estaduais que
oferecem o ensino fundamental, em mil
delas as aulas de artes estariam mantidas;
para as restantes seria estudada uma forma de
ofertar uma aula adicional da disciplina.

O Ministério Público entrou na discussão, e no último dia 12 expediu uma recomendação


para que as aulas de artes não fossem retiradas. No dia seguinte a Seed reformou a
decisão e manteve as aulas de artes em todas essas escolas, além das novas aulas de
Pensamento Computacional. Em nota, a secretaria afirmou que essa medida “alinha o
currículo paranaense às mais modernas práticas pedagógicas e prepara os nossos
estudantes para as profissões do futuro”.

Adoção de tecnologia em sala de aula é marca da Educação no


Paraná

À Gazeta do Povo, o secretário de Educação, Roni Miranda, já havia confirmado que a


adoção de soluções tecnológicas seguirá sendo um dos focos da pasta. O modelo foi uma
das marcas da gestão de seu antecessor, Renato Feder, de quem Roni Miranda era diretor
de Educação, e é tido pela gestão da pasta como uma das ferramentas para manter o
Paraná entre os líderes do Ideb.

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Para Miranda, a crescente adoção de tecnologias digitais em
sala de aula e a oferta de
aulas de Pensamento Computacional nos anos finais do
Ensino Fundamental são uma
forma de reverter um cenário identificado pela
secretaria ainda durante os piores
momentos da pandemia. Em 2020, o ensino
mediado por tecnologia foi a saída
encontrada para que os estudantes, impedidos
de frequentarem as salas de aula,
mantivessem o aprendizado mesmo fora do
ambiente da escola. A teoria, porém, se
mostrou outra na prática.

Estudantes eram consumidores passivos de tecnologia, aponta


secretário
“No nosso senso comum, o pensamento era de que os nossos
estudantes dominavam a
tecnologia. Na verdade, não. Esses estudantes eram meros
consumidores de conteúdos de
redes sociais, em sua maioria. Esse diagnóstico
nós formamos durante a pandemia, de
que os nossos estudantes não dominavam
tanto assim essas tecnologias. Nosso
investimento tem um objetivo claro, que é
tirar esse estudante desse lugar de consumidor
digital passivo para o
protagonismo do processo. A secretaria quer que os estudantes
atinjam autonomia
no ambiente digital e estejam preparados para alcançar oportunidades
que exijam
habilidades nesse meio. É mais um passo no nosso projeto principal: preparar
os
nossos estudantes para as profissões do futuro”, detalhou o secretário.

Miranda negou que haja qualquer tipo de conflito entre o


ensino de Artes e o de
Pensamento Computacional, ao lembrar que no Ensino
Médio, ambas as disciplinas se
encontram nos conteúdos de Mídias Digitais. “O
diálogo entre Artes e Pensamento
Computacional formará uma geração de estudantes
capazes não apenas de consumir
conteúdo digital, mas também de produzi-los”,
afirmou.

Novas tecnologias potencializam a aprendizagem criativa


A ênfase da gestão pública do Paraná nas aulas de Pensamento
Computacional está
intrinsecamente ligada a um dos principais desafios atuais -
e mundiais - na educação: o
impulso à aprendizagem criativa. Diferente do
proposto décadas atrás, quando a
concentração e a própria forma de raciocínio
dos estudantes eram diferentes, hoje busca-
se introduzir o aprendizado de
conhecimento por meio da resolução de problemas
práticos.

Esse é o entendimento de Vinícius de Oliveira, editor do portal do Instituto Porvir,


uma das principais plataformas de conteúdos e mobilização sobre inovações educacionais
do Brasil. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele defendeu que a integração entre Artes e
Pensamento Computacional, como proposto pelo Estado do Paraná, pode ser uma janela
para que o pensamento criativo se propague nas outras áreas do conhecimento abordadas
dentro das salas de aula.

“Professores de Arte e de Pensamento Computacional podem e devem


realizar trabalhos
em conjunto com os docentes de Matemática, Ciências, História
ou Língua Portuguesa. É
uma forma de desencaixotar esses conhecimentos. Em
outras gerações, essas

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interconexões, que são necessárias desde sempre, só eram
reconhecidas quando a pessoa
não era mais estudante, e sim já na vida adulta.
Isso precisa ser trabalhado desde as
primeiras idades escolares”, defendeu.

Mudança não pode ser imposta pelo Estado


Ele reconhece que a tecnologia não substitui os professores,
mas aponta que trabalhar o
uso da tecnologia como algo realmente inovador, e
não uma mera adaptação de antigas
metodologias de ensino, leva tempo. Para
Oliveira, essa mudança não pode ser encarada
com um fardo pelos educadores, e
nem de forma impositiva pelo Poder Público.

“Isso precisa ser feito de uma forma a mostrar e capacitar o professor de forma prática
para usar essas novas ferramentas, e não só jogar essa responsabilidade sobre os ombros
deles da noite para o dia. E aos professores cabe entender e aproveitar essas tecnologias,
como a programação por exemplo, de forma a facilitar o trabalho deles dentro da sala de
aula. Há muitas reações negativas, porque muitos desses professores vêm pensando de
uma mesma maneira desde que foram formados, há algumas décadas, e se veem diante de
uma situação de mudança impositiva. Se não houver uma formação colaborativa entre
Estado e docentes, esses pontos de atrito tendem a se manifestarem cada vez mais”,
concluiu.

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